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Educacional
Adilson Dalben
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CDD 370
Raquel Torres CRB-6/2786
2020
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Sumário
Unidade 1
Tendências e inovação na área educacional����������������������������������������������� 9
Seção 1
Inovação educacional�����������������������������������������������������������������������10
Seção 2
As tendências na área educacional�������������������������������������������������26
Seção 3
As inovações na educação���������������������������������������������������������������41
Unidade 2
As metodologias ativas�������������������������������������������������������������������������������57
Seção 1
Modelos centrados na aprendizagem ativa�����������������������������������59
Seção 2
Alguns modelos de metodologias ativas���������������������������������������75
Seção 3
Aprendizagem ativa e protagonismo���������������������������������������������94
Unidade 3
Personalização do ensino������������������������������������������������������������������������ 114
Seção 1
O ensino adaptado aos ritmos e necessidades
de cada aluno��������������������������������������������������������������������������������� 116
Seção 2
Possibilidades de aprendizagem individualizada���������������������� 131
Seção 3
Projetos educativos personalizados��������������������������������������������� 146
Unidade 4
Inovações pedagógicas ancoradas em tecnologias digitais����������������� 161
Seção 1
Inovação, tecnologia e realidade�������������������������������������������������� 163
Seção 2
Aprendizagens por meio das tecnologias digitais��������������������� 183
Seção 3
Recursos e conteúdos digitais������������������������������������������������������ 200
Palavras do autor
A
disciplina Inovação Educacional é um convite para uma viagem no
tempo. Em alguns momentos dessa viagem iremos para o passado,
a fim de entender o mundo educacional de hoje. Para isso, vamos
refletir sobre os impactos que algumas invenções e propostas metodológicas
de ensino tiveram sobre a educação no passado e que moldam até hoje nossa
forma de agir. Será, também, uma viagem ao futuro, porque teremos que
exercitar o pensamento sobre quais competências e habilidades nossos alunos
deverão ter para começarmos a formá-los hoje; afinal, educar é formar para
o futuro e dar os contornos de como será esse futuro.
Como essa disciplina coloca foco nessa formação para o futuro, você
poderá reconhecer as potencialidades e limitações de muitos recursos
com tecnologia digital já usadas cotidianamente para o acesso, produção
e compartilhamento de informações, mas que são desconsideradas nos
ambientes escolares. Ou seja, são práticas que estão no “tempo presente”
fora da escola, mas que ainda parecem de “um futuro tão distante” dentro
dela. Enquanto professor, seu grande desafio será trazer para a escola toda
a interação mediada pela cultura digital que já existe fora da escola. Uma
cultura que modifica não somente a forma de interação entre as pessoas, mas
também a linguagem e o uso da linguagem. Isso é muito importante para que
toda essa interação com as informações permitam a construção de conheci-
mentos científicos e éticos para as práticas sociais dos mais diferentes campos
de atividade humana.
Nessa disciplina você terá a oportunidade de explorar um novo fazer
pedagógico, criando novas relações entre as pessoas e entre as pessoas e esses
recursos tecnológicos.
Esse novo fazer pedagógico é o significado que damos à Inovação
Educacional, que a cada instante assume um novo significado. Afinal, o que
é inovação agora, deixará de ser daqui a pouco.
Como em toda viagem, você terá acesso a muitas informações e poderá
vivenciar formas de comunicação diferentes – que nesse momento são consi-
deradas novas, mas certamente serão modificadas de uma forma muito
célere. Nessa vivência você colocará em uso essas informações em novos
ambientes virtuais como blogs, plataformas adaptativas e comunidades
virtuais, entre outros.
Ao longo da disciplina serão dadas orientações para que você experimente
essas novas formas de interação, mediadas por alguns dos recursos digitais.
Por isso, esperamos que você siga nossas orientações e se arrisque na busca de
novas experiências. Use as aprendizagens para construir outras aprendizagens.
Nesta disciplina, essa viagem no tempo está dividida em quatro unidades.
Na primeira unidade, Tendências e Inovação na Área Educacional, você
irá ao passado para perceber que a sociedade sempre passou por modifica-
ções devido às demandas sociais, econômicas e culturais. Compreenderá o
quanto a educação, com a Constituição Brasileira de 1988 e com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB/96), é fruto dessas
modificações que, ao mesmo tempo, induzem outras. Nesse início, nossa
intenção é construir um panorama geral sobre o que significa inovar em
educação. Você verá que essa inovação não está necessariamente vinculada
aos recursos digitais. Você também compreenderá o que significa ter como
foco as competências no centro da organização curricular. Vai entender
como o hibridismo e a personificação do ensino está relacionada à equidade.
Na Unidade 2, as Metodologias Ativas serão apresentadas e você perce-
berá a importância de o aluno assumir um papel ativo no processo de sua
própria aprendizagem, deixando no passado o papel de mero receptor. Não
se trata de uma proposta nova, mas sua implementação requer uma postura
inovadora do professor, da escola e do sistema de ensino.
Na Unidade 3, o enfoque passa a ser na personalização do ensino, e
para isso destaca-se o quanto o uso de tecnologias digitais motiva o aluno a
assumir o protagonismo no processo de construção de seu próprio conheci-
mento. A personalização do ensino é importante porque os alunos aprendem
de formas e ritmos diferentes. Nessa unidade você aprenderá a integrar os
recursos digitais ao currículo escolar.
Muitas das tecnologias digitais normalmente usadas fora de escola
serão apresentadas nessa última unidade. Você perceberá que as ações para
trazê-las para o interior da escola são Inovações Pedagógicas ancoradas em
Tecnologias Digitais, título dado a ela.
Após essa viagem, com uma nova experiência e conhecimentos relacio-
nados à cultura digital, você estará apto para acompanhar os avanços tecno-
lógicos, incorporando-os à sua prática pedagógica.
Ao final desta disciplina você estará apto a:
• Compreender as inovações educacionais como possibilidades diversi-
ficadas atreladas ou não às tecnologias digitais, promovendo o desen-
volvimento de indivíduos produtores de inovação de forma criativa,
crítica e ética.
• Atuar no planejamento, desenvolvimento e avaliação de projetos
educacionais inovadores, contribuindo para o desenvolvimento de
conteúdos, atividades e ferramentas e promovendo processos de
aprendizagem mais significativos, interativos e colaborativos.
• Utilizar estratégias de ensino que favoreçam a integração entre conte-
údos e problemas reais, respeitando o ritmo e individualidades e
promovendo o desenvolvimento de competências para a atuação em
uma sociedade plural.
Destaca-se, também, que em diversos momentos faremos referências à
Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), que tem sido chamada
de BNCC. Com isso, a intenção desse componente curricular também será
sensibilizá-lo para as competências gerais da BNCC. Uma delas inclusive está
vinculada à utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais
(incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informa-
ções, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2018). Com essas competências,
certamente, você será um “Inovador Educacional”!
Bons estudos!
Unidade 1
Adilson Dalben
Convite ao estudo
Estudar as Tendências e Inovação na Área Educacional, título dessa unidade,
é muito instigante porque significa perceber o mundo em que vivemos hoje e
projetar o futuro. E nós temos tudo a ver com isso, afinal nós, professores, estamos
sempre produzindo o futuro, mudando a vida das pessoas e da sociedade.
É nessa linha de pensamento que desejamos que mergulhe nos estudos
propostos nas três seções dessa unidade. Iniciaremos pensando sobre o que
é Inovação Educacional, mas antes visitando os significados de inovação e
educação e depois entendendo o quanto ela esteve sempre presente ao longo de
toda a história da educação. A partir disso, vamos refletir sobre as tendências da
área educacional e perceber que ela está totalmente vinculada às tendências da
sociedade. Por fim, na última seção, vamos nos apropriar das inovações as quais
nós, professores, estaremos envolvidos para sermos ao mesmo tempo inovadores.
Ao final dessa unidade, você terá um entendimento mais elaborado de
como as inovações educacionais, por meio dos recursos tecnológicos digitais
ou não, são necessárias para promover a formação de seus alunos a fim de que
eles sejam construam seus conhecimentos por meio da produção e acesso de
informações de maneira criativa, crítica e, principalmente, ética.
Esse seu entendimento sobre as Inovações Educacionais é essencial para
a sua prática docente, envolvendo o planejamento, o desenvolvimento e a
avaliação de projetos educacionais, que necessariamente deverão ser inova-
dores. A inovação deverá fazer parte seus projetos para que eles possam
cumprir o objetivo de garantir a aprendizagem de seus alunos, em um
processo de ensino que seja mais significativo, interativo e colaborativo.
A interação e a colaboração devem ser promovidas nas atuais estratégias
de ensino que você adotará, e os recursos tecnológicos estão disponíveis para
isso. Daí a importância de seu conhecimento sobre essas inovações tecno-
lógicas para que você possa incorporá-las em suas aulas e, assim, favorecer
a integração entre conteúdos e problemas reais, respeitando o ritmo e as
potencialidades de seus alunos.
Aproveite!
Seção 1
Inovação educacional
Diálogo aberto
Atualmente, quando você ouve falar em inovação, é provável que venha
a sua cabeça situações modernas com imagens de telas de computadores,
celulares ou artefatos relacionados à inteligência artificial. E quando se fala
em inovação educacional, é igualmente provável que você imagine aulas
com computadores, celulares e internet ou alguma outra tecnologia. Mas
por que será que são essas imagens que vêm imediatamente à cabeça e não
outras? Será, então, que as inovações educacionais só existem com esses
recursos e artefatos tecnológicos?
É importante lembrar que tecnologia não é sinônimo de artefato tecno-
lógico. É comum as pessoas afirmarem que usam a tecnologia, quando
estão usando computadores ou celulares. Isso é um equívoco. Por exemplo:
o computador e o celular são artefatos tecnológicos. A tecnologia é todo
conhecimento conceitual e de técnicas para a produção de computadores ou
celulares. A melhora da performance dos computadores ou dos celulares é
fruto dos avanços da tecnologia.
Para respondermos a essas perguntas devemos ter em mente que aquilo
que é pensado como inovação em uma época, depois de implementada, logo
se torna algo comum.
Por exemplo: o uso de lousas brancas e das canetas com tinta, no lugar
dos quadros negros e do giz, são ou foram considerados como uma inovação
educacional por alguns, mas não por outros. Já a invenção da máquina de
impressão tipográfica pelo alemão Johann Gutenberg, na década de 1430,
propiciou uma inovação educacional.
Esses exemplos deixam claro que a relação entre os recursos tecnoló-
gicos e a inovação educacional deve ser marcada pelo momento histórico
em que ela ocorreu.
Ou seja, essas imagens que vêm à nossa cabeça nos dias de hoje, quando
falamos em inovação, estão atreladas ao momento presente e jamais ocorre-
riam em outros momentos da história ou do futuro.
Agora, imagine que você está participando de um processo seletivo para
uma vaga de professor. O entrevistador faz o seguinte comentário: “o mundo
mudou muito e continua a mudar cada vez mais rápido. Antes, era possível
10
trabalhar com os alunos sentados em filas, e o objetivo do ensino, em geral,
era fazer com que os alunos memorizassem aquilo que o professor dizia que
estava ensinando. E após as provas quase tudo era esquecido pelos alunos.
Hoje isso não é mais possível. Temos que inovar! ”. Em seguida ele pergunta:
“o que é Inovação Educacional para você e quais seriam as maneiras possíveis
de inovarmos na educação? ”. O que você responderia?
Essa é uma situação hipotética, mas, na verdade, está presente na cabeça
de professores, gestores educacionais, decisores de políticas públicas, editores
de material didático, ou seja, está na cabeça de todo mundo que trabalha com
educação e percebe que ela precisa se atualizar para garantir maiores chances
de os alunos aprenderem.
Nesta seção você terá acesso a informações que ajudarão a responder às
perguntas feitas pelo entrevistador na situação hipotética apresentada. Nela
você vai refletir sobre o que é inovação educacional, sobre as muitas possi-
bilidades de inovar na área educação e quando um avanço deve ou não ser
considerado uma inovação pedagógica.
Reflita
Muitas vezes, a inovação é confundida com o que é novo. Será que sempre
a inovação traz algo de novo? E o que é uma o que Inovação Educacional?
Antes de continuar a ler esse texto, pare um pouco e pense sobre a
seguintes questões que parecem ser básicas: para você, o que é
inovação e o que é educação?
11
O que você entende por esses dois termos é o mesmo entendimento
das pessoas que estão ao seu lado? Será que o que entendemos atual-
mente sobre inovação e educação é o mesmo entendimento dado ao
longo da história?
Exemplificando
Brandão (2007, p. 62) apresentou diferentes definições de educação de
acordo com seus principais teóricos:
“A educação não é mais do que o desenvolvimento consciente
e livre das faculdades inatas do homem. ” (Sciacca)
“A educação é o processo externo de adaptação superior
do ser humano, física e mentalmente desenvolvido, livre e
consciente, a Deus, tal como se manifesta no meio intelec-
tual, emocional e evolutivo do homem. ” (Herman Horse)
“O fim da educação é desenvolver em cada indivíduo toda a
perfeição de que ele seja capaz. ” (Kant).
“É toda a espécie de formação que surge da influência
espiritual. ” (KRIECK)
12
Além dos teóricos citados por Brandão, cabe destacar, também, a
definição do filósofo John Dewey: “A educação é um método funda-
mental do progresso e da reforma social. ” (DEWEY, 1897b, p. 93 apud
WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 21).
13
Para Christopher Freeman (1982), um dos maiores estudiosos sobre o
tema, a inovação é o processo que coloca novas ideias em uso e que não
precisa ser de natureza tecnológica. Peter Drucker (1986), um dos autores
mais reconhecidos da administração moderna, a inovação não pode ser
confundida com invenção. Para ele, a inovação vem da área econômica,
enquanto invenção vem da tecnologia; e a inovação não precisa ser técnica,
tampouco ser necessariamente algo concreto, porque poucas delas são tão
impactantes quanto aquelas que ocorrem no âmbito social.
Exemplificando
Um exemplo é a rede de saneamento básico – tratamento de água,
canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de ruas e
avenidas, coleta e tratamento de resíduos orgânicos (em aterros sanitá-
rios regularizados) e materiais (através da reciclagem) – comum em boa
parte dos centros urbanos, uma inovação na história recente. O direito
humano à água potável e ao saneamento foi reconhecido pela Assem-
bleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 2010. O saneamento básico é
uma das prioridades de desenvolvimento global e é objeto do Objetivo
de Desenvolvimento Sustentável.
14
• Incremental, que se caracteriza apenas pelo aprimoramento do
processo com a inclusão de algum novo recurso tecnológico ou
mudança de procedimentos.
• Semirradical, caracteriza-se pela mudança do processo que se
mantém, com a inclusão de algum novo recurso tecnológico ou
mudança de procedimentos.
• Radical, que se distingue das demais pela proposição de uma
nova infraestrutura implementando uma nova lógica, quebrando
paradigmas e estabelecendo novas relações (inclusive de poder) no
processo educacional.
Agora temos uma noção de que os termos educação e inovação podem
assumir diferentes significados e definições, a depender de quem os define,
de quando e para que são definidos. Assim, neste momento, com o objetivo
de compreendermos o que é Inovação Educacional, nós vamos assumir que:
• Educação pode ser entendida como o conjunto de ações tomadas pelo
ser humano para a constante construção dos conhecimentos, visando
sua integração na sociedade e relação com a natureza.
• Inovação é colocar em uso algum conceito ou artefato tecnológico para
resolver algum problema ou aprimorar algum processo ou produto.
Juntando essas duas definições, finalmente podemos propor o enten-
dimento de que Inovação Educacional é a implementação de um conceito,
procedimentos ou objeto, que leva ao cumprimento de algum novo
objetivo educacional.
Desse entendimento deve estar claro que:
• A inovação significa implementação ou a colocação em uso de algo.
• Aquilo que é colocado em uso na inovação pode ser um conceito, um
procedimento ou um objeto. Esses três itens podem ser novos (uma
invenção) ou não.
• Será o novo objetivo educacional que definirá a finalidade e o
impacto da inovação.
Com esse entendimento, fica claro que as inovações educacionais estão a
serviço da melhoria da qualidade educacional oferecido pelo sistema educa-
cional, que ocorre por meio da escola e do professor.
Esperamos que você perceba, então, que a qualidade educacional é
um dos fatores que determinam a inovação. Veja esse exemplo dado por
15
Cury (2001), quando se referia à nova organização da estrutura do sistema
educacional brasileiro.
16
(defende que o aluno precisa ter consciência do mundo que o cerca, para
poder interpretá-lo e nele intervir), dentre muitos outros.
Assimile
Perceba que estes são apenas alguns personagens da história de
educação, dentre muitos outros, que em diferentes momentos da
história propuseram mudanças para melhorar a educação.
Perceba também que a educação, tal como a conhecemos e a enten-
demos hoje, tem uma ou outra característica de cada uma das propostas
feitas por esses pesquisadores ao longo do tempo.
Ou seja, qualquer que seja a inovação, ela sempre é influenciada,
positiva ou negativamente, por outras que já existiram. Uma inovação
nunca parte do nada, sempre há algo que ela tem o propósito de
aprimorar ou evitar.
Reflita
Vamos deixar o passado para trás e começar a pensar no presente.
Pense em algumas coisas boas e ruins que acontecem nas escolas hoje
em dia. Quais delas você acha que deveriam continuar e quais você acha
que deveriam mudar?
Diante desses elementos que pensou, quais seriam os propósitos das
inovações educacionais necessárias para hoje?
17
alunos temos a clara sensação de que muitas aulas conven-
cionais estão ultrapassadas. Mas para onde mudar? Como
ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectada?
Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas
previstos às necessidades dos alunos, criando conexões
com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a
sala de aula em uma comunidade de investigação. Ensinar
e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade, espaço
temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e
processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma
das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação,
a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da
sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos enges-
sados. Temos informações demais e dificuldade em escolher
quais são significativas para nós e conseguir integrá-las
dentro da nossa mente e da nossa vida. (MORAN, 2018, p.1)
18
2000, 2003) e Saymour Papert (1986) têm as mesmas características daquelas
feitas em outros momentos da história, porém incorporam a tecnologia
digital como um recurso para a inovação educacional.
Esses recursos tecnológicos permitem uma maior interação entre todos
em uma comunidade de aprendizagem, colocando os alunos como prota-
gonistas principais na produção dessas informações e, consequentemente,
na construção de seus conhecimentos. Esses recursos, com as plataformas
adaptativas, podem também resolver o problema do desempenho dos alunos
que têm ritmos diferentes de aprendizagem e, por isso, requerem formas
particulares de ensino.
Tais recursos aumentam as potencialidades formativas do ensino, mas
requerem que o professor e a escola, profissional e instituição responsáveis
pela educação sejam mediadores profissionais nesse processo.
Esse tipo de mediação não é algo de simples de ser realizado porque
requer uma nova forma de relação entre professor, aluno e conhecimentos.
Isso implica mudar nossa forma de ver o mundo e rever nossos valores e
alterar nossas crenças, isto é, requer outra mentalidade (mindset) sobre
a educação.
Todas as decisões que tomamos são influenciadas por nossos valores,
que vamos construindo ao longo da vida na interação com outros, com os
contextos que estamos inseridos. Nossa mentalidade sobre a educação, por
consequência, é que orienta os nossos passos futuros.
De acordo com Dweck (2017), podemos encontrar pessoas com mentali-
dade fixa ou mentalidade de crescimento. As pessoas com mentalidades fixas
se caracterizam por ser pessoas inertes, isto é, aceitam o sistema, confor-
mam-se com o contexto em que vivem e não se arriscam a mudar por não
confiarem em si mesmas. Do lado oposto estão as que têm mentalidade de
crescimento, que acreditam nas mudanças, e que são confiantes em suas
capacidades de fazer ou aprender a fazer. As pessoas com pensamento de
crescimento sabem que diante de algo novo erros são cometidos, e que eles
são importantes para aprender cada vez mais. Essa mentalidade de cresci-
mento é importante para aqueles que acreditam nas inovações educacionais.
Esperamos que com esse texto, você mantenha a sua mentalidade de
crescimento. Usamos apenas o verbo manter nessa oração porque temos
a convicção de que, se você está lendo esse material, é porque você é uma
pessoa com mentalidade de crescimento. Pessoas assim como você são
importantes para a implementação das inovações educacionais que já estão
propostas e aquelas que estão por vir.
19
Sem medo de errar
20
Com a flexibilização presente na legislação educacional vigente, novos
currículos já podem ser colocados em ação para que a aprendizagem dos alunos
seja garantida como um direito que eles têm. Diante desse desafio, em que os
papéis do professor e do aluno são redefinidos e as escolas passam por uma
reorganização, o acesso dos novos recursos digitais se torna um grande aliado.
É difícil prever com detalhes como serão as aulas diante dessas inova-
ções. No entanto, é certo que suas características centrais para esse momento
perpassam por tornar o aluno responsável por sua aprendizagem, devida-
mente orientada e monitorada pelo professor, e também o uso das tecnolo-
gias digitais em projetos.
Tais projetos deverão fazer com que os alunos se sintam capazes de intervir
no mundo que os cercam. Em uma etapa inicial, professores e gestores devem
se juntar aos alunos para elaborarem um diagnóstico para identificar qual é
o problema deverá superado na escola, estabelecerem os objetivos a serem
atingidos e os recursos necessários.
Avançando na prática
Imagine a seguinte situação: você foi fazer um curso de oito horas sobre
Inovações Educacionais e o formador, logo no início, pediu aos partici-
pantes que fizessem um retrospecto em suas vidas, enquanto estudantes
na Educação Básica (ensino Fundamental e Ensino Médio), e dissessem
quais situações daquele período poderiam ser consideradas Inovações
Educacionais. Quando todos terminaram de apresentar suas memórias, o
formador selecionou os seguintes relatos:
“Uma das inovações mais legais foi quando meu professor de português
passou a nos levar à biblioteca. Nunca tínhamos isso lá e durante todo o
segundo semestre ele nos deixava lá por duas horas aulas todas as semanas.
Era muito legal porque ficávamos à vontade, porque ele nos deixava com a
bibliotecária e ia tomar café. Pegávamos um livro e ficávamos conversando
de todos os assuntos. Foi uma das Inovações mais legais porque melhorou o
relacionamento da turma”.
“Eu tinha um professor muito legal de matemática que usava as músicas,
tipo jingle, para ajudar a memorizar algumas fórmulas da matemática. Meus
amigos falavam que ele tinha um jeito inovador em relação aos outros profes-
sores, mas para mim era só um jeito diferente porque eu continuava a não
21
entender de onde as fórmulas saiam. Mas um dia ele propôs a construção
de uma cisterna na escola. Ai sim, para mim foi inovador… Eu finalmente
entendi para que serve a matemática. ”
Como profissional da área, analise essas duas memórias e diga, colocan-
do-se no lugar do formador, se elas são ou não inovações.
Resolução da situação-problema
Em primeiro lugar, é importante perceber que a segunda memória tem
duas situações, ou seja, as memórias trazem três situações. São elas:
• Ida semanal à biblioteca.
• Uso de música para memorizar fórmulas de matemática.
• Construção de uma cisterna.
Nas três situações as respostas podem ser subjetivas por depender do que
é considerado como objetivo de cada uma das propostas consideradas inova-
doras pelos participantes do curso.
A ida à biblioteca poderia ser até ser considerada inovadora se o
objetivo fosse melhorar a relação entre os alunos, ou ironicamente falando,
se fosse para dar trabalho para a bibliotecária. Mas toda proposta educa-
cional deve ter como finalidade a melhoria da educação. No caso, o fato
do professor deixar os alunos sozinhos, sem qualquer orientação, não
provocou mudanças na aprendizagem da turma, pois não havia uma
situação explícita de melhora da qualidade educacional. Portanto, apesar
do novo ser ir à biblioteca, essa situação não deve ser classificada como
uma inovação educacional.
Na proposta do uso de músicas para ajudar na memorização de
fórmulas matemática acontece o mesmo. Houve de fato a inclusão de
um procedimento didático diferente e novo, no entanto, como o próprio
depoimento do participante revela, não cumpre o objetivo de atribuir
significado ao que se pretendeu ensinar de Matemática, não levando,
portanto, à aprendizagem.
Diferentemente do que ocorreu na proposta da construção da cisterna. O
participante evidencia que passou a entender a importância da matemática.
Deve-se destacar que em nenhuma das três situações foi analisado
o uso ou não de recursos tecnológicos digitais. Em todas as situações
as inovações educacionais apresentadas estavam ligadas a procedimentos
didáticos usados.
22
Faça valer a pena
1.
I. O uso dos recursos digitais para o desenvolvimento das pesquisas
escolares, para comunicação e publicação de informações, simula-
dores e jogos, tem a potencialidade de tornar a escola mais interes-
sante para os alunos.
PORQUE
II. As práticas escolares tradicionais precisam ser eliminadas do
cotidiano das escolas, cedendo tempo e espaço para que as inova-
ções educacionais se tornem presentes, pois esses recursos digitais
garantem a interação e a comunicação de forma mais eficiente.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas. A primeira afirmação é
verdadeira, e a segunda falsa.
23
III. Quando o professor substitui o uso da lousa e giz pelo uso de proje-
ções na sala de aula, está promovendo uma inovação pedagógica
porque usa os recursos disponíveis para obter maior atenção e
interesse dos alunos.
IV. Propor o jogo de xadrez com clara intencionalidade pedagógica em
uma sala de aula na qual os alunos nunca tiveram essa experiência
deve ser considerado uma inovação pedagógica, mesmo sendo o
xadrez um jogo milenar.
Considerando o contexto apresentado, é correto apenas o que se afirma em:
a. I e II.
b. I e IV.
c. I, II e III.
d. I, III e IV.
e. II, III e IV.
Segundo ela,
24
a. Há propostas consideradas inovadoras que cumprem o seu objetivo
por serem propostas conservadoras, quando obtém sucesso obtido
na “solução” de problemas educacionais estruturas e complexos.
b. Há propostas consideradas inovadoras porque colocam nova
dinâmica de trabalho na escola.
c. Há propostas consideradas inovadoras que precisam legitimar as
propostas conservadoras para que a educação cumpra seu papel
historicamente definido de mudar as realidades onde são imple-
mentadas.
d. Há propostas consideradas inovadoras que mantêm as caracterís-
ticas da realidade onde foram implementadas, mesmo usando algo
novo, não sendo, portanto, inovadoras.
e. Há propostas consideradas inovadoras que legitimam as conserva-
doras e por isso cumprem o seu objetivo.
25
Seção 2
Diálogo aberto
Vimos, na seção anterior, o que são as inovações educacionais e como elas
podem ter diferentes tipos de impacto na sala de aula, na escola e no sistema
educacional. Muitas vezes, elas são induzidas pelas demandas existentes na
sociedade e sempre vêm com um determinado propósito de aprimoramento
ou resolução de um problema.
Nesta seção, aprofundaremos uma das mais recentes inovações
educacionais brasileiras, que foi a implementação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, em 1996 (LDB/96), a qual, induzida por
inúmeras demandas sociais, econômicas, política, culturais e tecnoló-
gicas, abriu terreno para a indução de outras inovações, como a gestão
democrática das escolas e a flexibilização dos conteúdos, dos tempos e
dos espaços escolares.
Não se trata mais de uma lei tão recente, mas, desde sua promulgação,
vem sendo aprimorada com novas leis e regulamentações e orientando quase
todas as ações educacionais, desde a definição e políticas públicas até sua
ação na sala de aula. Uma dessas ações é a implementação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC).
Na seção anterior, criamos uma situação hipotética, na qual você
estava participando de um processo seletivo para o cargo de professor.
Agora, imaginaremos que você foi convocado para a segunda etapa desse
processo seletivo.
Nessa segunda etapa, você recebeu um texto com a seguinte escrita:
26
No entanto, essas inovações educacionais se consolidam apenas
quando as mudanças são implementadas. Um exemplo dessas mudanças
seria a efetivação de processos de ensino e aprendizagem que superaram
a distância entre o ensino centrado no conhecimento e o ensino centrado
no estudante. Enquanto a primeira perspectiva desses processos valoriza
a reprodução do conhecimento científico, cultural e artístico produzido
ao longo da história, a segunda propõe que a escola deve promover a
construção desse conhecimento pelo aluno.
27
Constituição” (BRASIL, 1988, [s.p.]). No entanto, isso não significa apenas
acesso à educação, mas também a permanência com princípios de ensino
especificados em seu art. 206:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos
seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na
forma da lei, plano de carreira para o magistério público,
com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, assegurado regime
jurídico único para todas as instituições mantidas pela União;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade. (BRASIL, 1988, [s.p.])
28
claramente nas diretrizes educacionais e os documentos que orientam a
elaboração dos currículos escolares, como a BNCC.
Lembre-se
Este artigo da LDB é o dispositivo legal central que abre os caminhos
para as inovações:
Uma das decorrências dessa opção de associar o que se espera que o aluno
aprenda às competências e habilidades é a centralidade que elas passaram a
ocupar no monitoramento da qualidade de ensino oferecido pelas escolas e
redes de ensino, uma vez que os desempenhos dos alunos são medidos por
meio das habilidades, as quais demonstram ter nos exames de larga escala,
como ocorre, por exemplo, na Prova Brasil e no ENEM.
Diante disso, de maneira ainda que superficial, é importante que as
competências sejam reveladas em nossas ações e que mobilizem os recursos
e conhecimentos que temos em situações específicas diante de um fenômeno
da vida, sejam eles no âmbito social, natural ou, provavelmente, de ambos
concomitantemente. Já as habilidades estão mais no âmbito do saber fazer
eminentemente imediato e prático. Diferentes habilidades, quando articu-
ladas, decorrem de competências ou constituem competências, mas sempre
envolvendo algum conhecimento aplicável a algum contexto.
Você deve ter claro que, ao organizar um currículo escolar, se coloca o
desenvolvimento das competências e habilidades como um eixo norteador no
lugar daquela organização que relacionava conteúdos. Isso não significa, em
hipótese alguma, que os conteúdos estão sendo desvalorizados, ao contrário, o
propósito dos espaços escolares é a construção de conhecimentos, e a proposta
dessa organização curricular por competências e habilidades tem por finali-
dade atribuir significado a esses conteúdos. Com essa proposta, esse conheci-
mento é aplicável e problematizado para a construção de outro conhecimento.
Logo, pensar em uma escola com uma organização curricular que consi-
dera o desenvolvimento de competências e habilidades implica o abandono
29
da crença que conhecimentos podem ser transmitidos, e a substituição
desse conhecimento é construído e aplicado pelos próprios alunos em seu
processo de aprendizagem.
Reflita
O parágrafo anterior do texto evidencia uma aparente contradição
em relação à inovação educacional proposta na LDB. Por um lado, ela
valoriza a flexibilização reconhecendo as individualidades dos alunos e
os contextos onde estão inseridos; por outro lado, quando monitora a
qualidade de ensino oferecido pelas escolas e redes de escolas, regula e,
indiretamente, engessa o mínimo ou essencial que os alunos aprendam
de forma generalizada e padronizada. Diante desse contexto, você
acha que essa contradição é aparente ou é real? Seja ela aparente ou
real, qual proposta faria para superá-la? O que você entenderia como
mínimo ou desejável em um currículo escolar?
30
mobiliza as capacidades de observar sinais fisiológicos,
medir a temperatura, administrar um medicamento; e
os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas,
primeiros socorros, terapias, os riscos, os remédios, os
serviços médicos e farmacêuticos. Saber votar de acordo
com seus interesses mobiliza as capacidades de saber
se informar, preencher a cédula; e os seguintes saberes:
instituições políticas, processo de eleição, candidatos,
partidos, programas políticos, políticas democráticas, etc.
Esses são exemplos banais. Outras competências estão
ligadas a contextos culturais, profissionais e condições
sociais. Os seres humanos não vivem todos as mesmas
situações. Eles desenvolvem competências adaptadas
a seu mundo. A selva das cidades exige competências
diferentes da floresta virgem, os pobres têm problemas
diferentes dos ricos para resolver. Algumas competências
se desenvolvem em grande parte na escola. Outras não.
(BENCINI; GENTILE, 2000, [s.p.])
Assimile
Na BNCC, a competência é definida como a “mobilização de conheci-
mentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e
socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do
trabalho” (BRASIL, 2016, p. 8).
Assimile
Na BNCC, as “habilidades expressam as aprendizagens essenciais que
devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares”
(BRASIL, 2016, p. 29).
Para você entender por que a proposta da LDB pode ser considerada uma
inovação, consolidada na BNCC, de especificar o que precisa ser aprendido
pelos alunos por meio da descrição de competências e habilidades, é preciso
31
reconhecer o movimento ocorrido na organização curricular em função
daquilo que foi valorizado no ensino.
Exemplificando
É importante que você conheça a forma como são expressas as compe-
tências e habilidades da BNCC.
A imagem a seguir apresenta a forma pela qual a BNCC é organizada e
como as competências e habilidades são agrupadas.
COMPETÊNCIAS GERAIS
ETAPAS
ENSINO
EDUCAÇÃO INFANTIL ENSINO MÉDIO
FUNDAMENTAL
Direitos de
aprendizagem e
desenvolvimento
Competências Competências
específicas de área específicas de área
Língua
Componentes Matemáti-
Portu-
Curriculares ca
guesa
Competências específi-
cas de componente
Crianças
bem
Crianças Anos Anos
Bebês pequenas
(0-1a6m)
pequenas
(4a-5 iniciais finais
(1a7m-
a11m)
3a11m)
Objetos
Unidades
de Habili-
Objetivos de temáti-
aprendizagem e cas
conheci- dades Habilidades
mento
desenvolvimento
32
A seguir, um exemplo de como algumas delas podem ser desencade-
adas em um primeiro ano dos anos iniciais do ensino fundamental:
Competência Geral
• Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente constru-
ídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender
e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a
construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Competência Específica de Matemática:
• Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto
das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em
diferentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que
contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e
para alicerçar descobertas e construções, inclusive, com impactos
no mundo do trabalho.
Habilidade Específica de Matemática:
• (EF01MA01) Utilizar números naturais como indicador de
quantidade ou de ordem em diferentes situações cotidianas e
reconhecer situações em que os números não indicam contagem
nem ordem, mas, sim, código de identificação.
33
porém, como algo que deve ser construído e reconstruído pelos próprios
alunos, atribuindo, assim, significado com base em seus valores culturais.
Nessa lógica, o aluno passa a ser o construtor de seu conhecimento, e o
professor assume o papel de mediador e facilitador, colocando-se entre o
aluno e o conhecimento.
Na lógica que coloca o aluno como o protagonista na construção de seu
conhecimento, ele faz conexões em uma inserção crítica à realidade que vive,
analisando e propondo intervenções.
Se você comparar os papéis do professor e do aluno nesses dois contextos,
perceberá que eles se modificam significativamente, assim como a organi-
zação e a dinâmica da sala de aula e da escola.
Nessa nova lógica, ao assumir o papel de professor, você deixará de ser
um apresentador de informações e passará a ser um mediador da aprendi-
zagem dos alunos, não se limitando mais a dar as informações para eles,
mas orientando-os sobre como encontrá-las e sistematizá-las a serviço da
construção e do compartilhamento do conhecimento. Esse compartilha-
mento não deverá se restringir apenas à divulgação, mas abranger também
a sua problematização.
Os recursos tecnológicos digitais vêm se revelando um recurso pedagó-
gico potente para o desenvolvimento de competências e habilidades, não
só por facilitar o ensino baseado em projetos e a organização de situações-
-problema, mas também por ser facilmente adaptável às possibilidades de
flexibilização do ensino.
Com a proposta de organizar os currículos com a especificação de compe-
tências e habilidades, o conhecimento deve ser problematizado para que
outros sejam construídos e, quando necessário, sejam aplicados nas inter-
venções sobre a realidade vivida. Por isso, os propósitos da ação do aluno
ganham força e suas competências e habilidades se tornam necessárias para
a análise e resolução de problemas em situações que requerem intervenções.
Diante disso, o papel do professor passa a ser facilitador da reconstrução do
conhecimento, e o aluno, o principal agente.
Para que o aluno seja agente, suas ações dependerão de suas competên-
cias e habilidades e, por isso, um currículo escolar com essa lógica pode ser
denominado como currículo referenciado em competências. Nessa lógica,
o desempenho do aluno é medido por meio do que ele é capaz de fazer.
A construção e reconstrução desses conhecimentos têm se tornado mais
eficientes e eficazes à medida que os recursos tecnológicos digitais têm tido
o seu acesso facilitado.
34
Vocabulário
Eficiência e eficácia não são sinônimos. O conceito de eficiência está atrelado
ao adequado uso dos recursos disponíveis para uma determinada finalidade,
enquanto o de eficácia está associado ao cumprimento dos objetivos.
Assim, um processo pode ser classificado como:
• Eficiente e eficaz quando usou os recursos disponíveis de maneira
adequada e cumpriu os objetivos.
• Eficiente e ineficaz quando usou os recursos disponíveis de
maneira adequada, mas não cumpriu os objetivos.
• Ineficiente e eficaz quando os objetivos foram atingidos, mas sem
a adequada utilização dos recursos.
• Ineficiente e ineficaz quando os objetivos não foram atingidos e
tampouco a utilização dos recursos foi adequada.
Você deve ter percebido que a mudança de foco sobre o que deve ser
ensinado e a sua respectiva forma podem ser consideradas inovações educa-
cionais, porém, quando elas não são implementadas, ficam apenas no estágio
de ser uma proposta.
Pensar em tudo o que precisa ser ensinado, definir objetivos pedagógicos
e escolher as estratégias que serão propostas para que esses objetivos sejam
cumpridos são ações inerentes à prática docente. No entanto, adequar-se a
essas novas demandas que colocam o desenvolvimento de competências e
habilidades nos alunos se consolida como a mais recente tendência pedagó-
gica. Essa adequação é um novo desafio para você e seus colegas. Trata-se de
uma inovação educacional!
Dica
Conheça e se reconheça!
É muito interessante que você conheça as diferentes tendências
pedagógicas existentes para que possa reconhecer em sua própria
prática docente qual delas você tem maior aproximação e possa avaliar
se é realmente a sua opção preferida.
Uma referência disponível é:
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública. São Paulo: Edições
Loyola, 2001.
Lembre-se de que, raramente, qualquer ação educacional segue exclu-
sivamente uma das tendências.
Como você viu ao longo desta seção, a LDB/96 é um dispositivo legal que
possibilita a implementação de inovações pedagógicas. Será na sala de aula
35
que seus propósitos se materializarão, e isso ocorrerá se o foco do professor
passar a ser a aprendizagem dos alunos. A opção por uma organização curri-
cular que expressa as aprendizagens por meio da descrição das competências
e habilidades a serem desenvolvidas nesse processo é uma oportunidade de
atribuir significado a essas aprendizagens, e ela será aproveitada por todos
se os papéis ocupados por alunos e professores, assim como a organização
curricular, forem redefinidos.
36
Essas práticas docentes, nas quais os professores e seu conhecimento
ficam no centro do processo e os alunos ocupam o papel de receptores, ainda
são frequentes. Isso acontece porque somos propensos a ensinar da mesma
maneira que aprendemos. Além disso, a forma de organização escolar, os
livros didáticos e os planos de ensino já feitos são fatores que colaboram para
a manutenção dessas práticas.
As inovações educacionais devem romper com isso e, para isso, pensar
nos currículos escolares tomando a BNCC como referência, e não como
currículo pronto, é uma grande oportunidade. Esse rompimento passa pela
mudança da prática docente.
Antigamente, os alunos com dificuldades em aprender evadiam das
escolas. Hoje, eles permanecem e devem permanecer para que o seu direito de
aprender seja garantido. Para a garantia desse direito, devemos mudar nossa
prática docente, e essa mudança começa com nossa participação na elaboração
ou no aprimoramento da proposta educacional da escola e com a busca por
atender, de forma crítica, àquilo que está especificado na LDB/96 e na BNCC.
Esse processo continua a acontecer quando incorporamos inovações
educacionais em nosso plano de ensino para o ano letivo e quando planejamos
cada aula usando metodologias de ensino que respondam positivamente a
perguntas, como: estou colocando foco nas aprendizagens dos alunos? Estou
propondo uma dinâmica diferente nas aulas em relação à forma que eu
aprendi? Estou usando adequadamente os recursos disponíveis?
Se você responder positivamente a essas questões, terá dado grandes
passos, mas não suficientes. Precisará, ainda, implementar e avaliar o desen-
volvimento dessas aulas. Para esse olhar avaliativo, basta se perguntar: os
objetivos estabelecidos estão sendo cumpridos? As estratégias de ensino
estão permitindo o uso adequado dos recursos disponíveis? As dez compe-
tências propostas na BNCC estão sendo desenvolvidas?
Será dessa maneira que você estará aproveitando as possibilidades de flexi-
bilização e de reorganização dos espaços e das interações que a Constituição
de 1988 e a LDB/96 trouxeram para aprimorar a qualidade da educação. Será
dessa maneira que estará ajudando seus alunos a desenvolver as competên-
cias e habilidades especificadas na BNCC.
37
das escolas, cedendo o tempo e o espaço para que as inovações educacionais
permitam que o foco seja colocado sobre a aprendizagem e sobre o que o
aluno é capaz de fazer com o seu conhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), publicados em 1997, trazem
cinco papéis que precisam ser ocupados pelo professor para que as práticas
educacionais tradicionais sejam eliminadas:
I. Organizador da aprendizagem, para escolher as tarefas, a fim de que
ocorra a construção de conhecimentos considerando as condições
socioculturais, as expectativas e a competência cognitiva dos alunos.
II. Consultor, deixando de lado o papel daquele que expõe as informações e
assumindo aquele que auxilia na obtenção das informações necessárias.
III. Mediador, promovendo o debate entre os alunos e exercitando a
argumentação e a negociação sobre os métodos usados e os resul-
tados encontrados.
IV. Controlador, estabelecendo as condições para o cumprimento das
tarefas.
V. Incentivador da aprendizagem, estimulando a cooperação entre os alunos.
Assinale a afirmativa correta:
a. Assumindo esses papéis, o professor deve permanecer no centro do
processo de ensino-aprendizagem, pois ele deve continuar a dar o
ritmo nas aulas
b. Nesse papel, o professor promove oportunidades para que os alunos
decidam sobre os encaminhamentos a serem adotados durante o
desenvolvimento do trabalho.
c. A confrontação entre os pensamentos dos alunos é importante, mas,
como gasta muito tempo e gera muitos conflitos, deve ser evitada
sempre que possível.
d. A opção por promover a formulação das ideias, dos procedimentos
e dos argumentos se justifica mais pelo desenvolvimento das compe-
tências socioemocionais do que das cognitivas.
e. A interação entre alunos são essenciais para o desenvolvimento de
suas competências e habilidades, por isso, o professor deve controlar
todas as ações deles, a fim de evitar conflitos desnecessários.
38
2. A competência é um atributo das pessoas, exerce-se em um âmbito bem
delimitado, está associada a uma capacidade de mobilização de recursos,
realiza-se necessariamente junto a outros, exige capacidade de abstração e
pressupõe conhecimento de conteúdos (MACHADO, 2002).
Analise cada uma das afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta:
a. É possível observar a competência sem uma ação efetiva.
b. A falta de conhecimento é uma etapa a ser superada com a competência.
c. Abstrair um contexto é uma competência.
d. Quando interagimos com os outros, estamos sendo competentes.
e. Uma ação que revela uma competência é uma ação consciente que
envolve conhecimento e é integrada ao contexto da sociedade e/ou
da natureza.
39
Assinale a alternativa correta:
a. Somente a afirmativa III é verdadeira.
b. Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c. Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
d. Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
e. As afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
40
Seção 3
As inovações na educação
Diálogo aberto
Até agora, nós desenvolvemos a ideia e exemplos de inovação educa-
cional. Vimos que as propostas de inovações educacionais sempre são ações
tomadas que aprimoram o processo de ensino para atender determinados
propósitos. Às vezes elas são induzidas por demandas sociais (universali-
zação do ensino) e por avanços tecnológicos (tecnologia digital) ou, também,
podem induzir mudanças desejadas (LDB/96). De qualquer forma, essas
propostas só podem ser consideradas como inovações quando efetivamente
mudam uma realidade anterior resolvendo problemas identificados ou
cumprindo objetivos preestabelecidos.
Tais mudanças podem ocorrer desde o nível da política educacional até
ao do trabalho em sala de aula.
Para pensar nesse contexto, imagine que você foi aprovado no processo
seletivo para uma vaga de professor e foi convidado para uma entrevista
individual que será a última etapa desse processo.
Ao chegar lá, você foi agradavelmente acolhido pela direção e pela
coordenação pedagógica da escola em uma sala que tinha poltronas confor-
táveis e onde estava sendo oferecido um delicioso café da manhã.
Elas pediram para você se sentar e disseram: “Queremos inovar nessa escola.
Precisamos de modernidades, mas nada com esses modismos. Nossos alunos
já não são os mesmos. Antes, eles ficavam mais quietos e atentos. Atualmente,
são desinteressados, mas não param de mexer no celular e parecem ter uma
energia que nunca se esgota. Nós queremos que essa escola seja reconhecida
pela inovação educacional em um ano, e tem que começar pela sala de aula”.
Como você caracterizaria seu plano de ensino para atender essas expec-
tativas manifestadas pela direção da escola?
Há muitos elementos que precisam ser analisados nessa fala da
diretora que ocorre em um ambiente acolhedor. Um desses elementos se
refere ao perfil do aluno. Segundo a direção, antes era desejado que os
alunos fossem quietos e atentos, hoje, eles têm interesse pelas relações
estabelecidas por meio dos recursos digitais e não por aquelas propostas
da escola. O outro elemento está associado à necessidade de modernizar
com ações e recursos mais permanentes.
41
Nesta seção, vamos analisar propostas metodológicas que poderão ser
incorporadas em suas aulas e as tornem inovadoras. Você poderá notar
que essas inovações perpassam pelo uso adequado dos recursos digitais
para facilitar e potencializar a mudança do papel do aluno no processo da
construção de seu conhecimento. Uma mudança que implica mudar o papel
do professor, da organização do tempo e do espaço escolar, das relações na
sala de aula e na escola.
Essa mudança é justificada diante da heterogeneidade dos perfis dos alunos
presentes nas escolas que têm necessidades educacionais distintas e necessitam
de intervenções educacionais distintas. Dessa maneira, para que todos aprendam
e atinjam os mesmos objetivos educacionais, a escola precisa de equidade, e não
apenas de igualdade. Uma vez que quando o ensino é caracterizado pela igual-
dade, todos os alunos são submetidos aos mesmos tempos de ensino e com os
mesmos recursos didáticos. Em contrapartida, um ensino com equidade é aquele
que cada aluno aprende com ritmo e formas diferentes, tem acesso a oportuni-
dades particulares de aprender, com tempos e recursos distintos, mais adequados
à sua forma individual de aprender. Um ensino equânime é aquele que perso-
naliza o ensino permitindo que os alunos criem sua rota alternativa de apren-
dizagem (DEMO, 2014). Por isso, um ensino equânime requer a flexibilização
curricular (de conteúdos e de tempos e espaços escolares) e a personalização do
ensino (rotas individuais de aprendizagem).
Quando associados às metodologias ativas, os recursos digitais disponí-
veis se tornam muito potentes e auxiliam nessa flexibilização e personali-
zação (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015). Propostas metodoló-
gicas que exploram adequadamente o ensino com recursos digitais e aqueles
do ensino presenciais caracterizam o chamado ensino híbrido e melhoram
a eficiência e a eficácia de outras propostas de metodologias ativas, propi-
ciando, assim, a implementação de inovações educacionais que atendam às
demandas contemporâneas.
Pois é, você perceberá que mudar o papel do aluno implica mudar a
organização curricular, significa mudar a escola!
Enfim, ao final desta seção você poderá elencar os aspectos gerais que
podem estar presentes em seu plano de ensino para que sua aula desperte o
interesse dos alunos, tornando-os protagonistas críticos e éticos.
Para que você possa ter uma ação inovadora em educação, principal-
mente na sala de aula, é necessário antes ter clareza sobre as características de
42
um determinado contexto, sobre o que se deseja modificar e sobre o que será
feito para que essa modificação ocorra. Depois disso, algo igualmente impor-
tante e mais difícil é avaliar em que medida a ação é inovadora, prevendo
realmente quais são os impactos que ela trará.
Nesta seção, vamos sair das questões mais gerais sobre as inovações
educacionais e aterrissar na sala de aula, lugar onde as inovações ocorrem
concretamente. Para isso, vamos focar as inovações educacionais no ensino.
A inovações educacionais, como já visto, sempre existiram na história da
educação. Algumas delas são muito remotas, outras já podem ser classificadas
como seculares, e outras têm acontecido em maior número nas últimas décadas.
Reflita
Diferentes linhas metodológicas podem ser identificadas como propostas
inovadoras no ensino, por exemplo, elas poderiam ser classificadas em
Tradicional, Escolanovista (Movimento da Escola Nova), Libertadora,
Tecnicista e Histórico-crítica. Cada uma delas representou propostas de
melhoria em relação ao que era vigente, dando a ideia de uma substituir
a outra em uma linha do tempo, como se uma substituísse a outra de fato.
No entanto, isso não acontece na prática e nem teoricamente.
Como temos a forte tendência de ensinarmos como aprendemos, é
importante você parar e refletir: quais dessas tendências marcou sua
formação na escola básica?
Reflita
A descrição a seguir caracteriza um modelo inovador para a arquitetura
escolar, proposto para atender aos princípios da conveniência, comodi-
dade e saúde dos alunos, em 1849 por Henry Barnard, responsável pelo
sistema educacional americano.
As carteiras devem ser adequadas ao tamanho dos estudantes e deve
permitir que o docente se aproxime deles. A sala de aula deve ter um
tablado para que o professor possa com apenas um olhar inspecionar
e transmitir seus ensinamentos, com metáforas científicas, nas quais
as leis naturais eram aplicadas à situação educacional. O docente
43
não deve ficar permanentemente em uma mesma posição, pois os
estudantes travessos adaptariam suas próprias posições conforme a
posição do professor para enganar ou se esconder; e uma posição no
fundo da classe, exceto por usa inconveniência para discursar, é melhor
para detectar do que para prevenir a transgressão. Os componentes
didáticos necessários para uma sala de aula são o quadro-negro, lousas,
lanterna mágica (um tipo de projetor para ilustrar as aulas), relógio
para controlar a justa distribuição dos tempos entre as aulas, livros e
recursos didáticos (DUSSEL; CARUSO, 2003).
Atente-se não apenas pelos objetos presentes na sala de aula e sua
distribuição, mas também imagine como era a relação entre o professor
e os alunos, entre os alunos e o papel de cada um deles na sala de aula.
Quais são as semelhanças que você reconhece entre esse modelo proposto
em meados do século XIX e o que observamos nas salas de aula hoje?
44
Há pelo menos quarenta anos com J. Carroll e há mais de
trinta anos com Bloom, Hastings e Madaus (1971): (…) dado
suficiente tempo e apropriadas formas de ajuda, 95% dos
estudantes podem aprender a matéria com um alto grau
de domínio, já diziam eles, ou seja, como dirão, a unificação
dos tempos é responsável pela diversificação dos desempe-
nhos. Vale dizer que, se submetermos os diferentes ritmos
dos alunos a um único tempo de aprendizagem, produ-
ziremos a diferenciação dos desempenhos dos alunos.
(FREITAS, 2005, p. 19)
É importante você perceber com essa citação que uma das possíveis
inovações a serem implementadas na sala de aula se caracteriza por permitir
a diferentes alunos terem tempos de aprendizagem particulares e com acesso
a recursos pedagógicos distintos e diversificados. A universalização do
acesso ao ensino e a busca pela não evasão dos alunos são dois fatos que
aumentam a heterogeneidade do perfil desses alunos dentro da sala de aula e
da escola, implicando turmas que requerem maior número e diversidade de
rotas de aprendizagem, com tempos e recursos distintos. Perceba, então, que
a inovação na sala de aula consiste na adoção de metodologias de ensino que
levem à equidade, ou seja, oferta de tempos didáticos e recursos pedagógicos
ajustados a cada tipo de aluno.
Exemplificando
Para você melhor entender as propostas dessa seção, que serão mais
bem detalhadas ao longo dessa disciplina, é importante que você tenha
claro a diferença entre igualdade e equidade.
Imagine que um casal tem dois filhos e ainda os ajuda financeiramente.
O mais velho, de 17 anos, está no Ensino Superior e mora em outra
cidade, logo precisa pagar aluguel, transporte e alimentação. O mais
novo, com 14 anos, estuda no Ensino Médio, ainda mora com os pais e
tem que se deslocar para outra cidade para estudar.
Se a família perceber que as necessidades desses filhos são diferentes e os
ajudar com aquilo que cada um deles precisa, ela estará usando o conceito
de equidade para ajudar aos filhos. Eles recebem ajudas diferentes.
Se a família, independentemente das necessidades de cada um deles,
oferece os mesmos recursos, essa família estará usando o conceito de
igualdade para ajudar os filhos.
Equidade em educação significa reconhecer as diferenças existentes
entre os alunos no início do processo educacional e oferecer os
45
adequados e necessários recursos pedagógicos e as condições de
acesso a esses recursos para que todos tenham, ao final do processo,
as mesmas aprendizagens esperadas. Igualdade em educação significa
oferecer os mesmos recursos aos alunos.
Atenção
É importante que você perceba que a universalização do acesso ao
ensino e a não evasão dos alunos foram resultados desejáveis de inova-
ções propostas que apenas cumprirão o seu papel quando as metodo-
logias de ensino adotadas nas salas de aula também forem inovadoras
para tornar o ensino equitativo.
Nessa seção é importante você estar atento ao fato de que o uso dos
recursos digitais é algo potente, mas que ele não é suficiente. Ele precisa ser
complementado com outro que está associada a outra característica do atual
contexto: a atribuição de significado ao que precisa ser aprendido e, portanto,
ao que deve ser ensinado para despertar o interesse do aluno.
Para isso, é importante que aquele modelo de aula na qual os conteúdos
são transmitidos pelo professor e pelos livros, os recursos didáticos são
ilustrativos e aos alunos cabe apenas memorizar esses conteúdos precisam
ser abandonados. E, em seu lugar, precisam entrar aqueles modelos nos quais
os alunos têm a oportunidade de acessar os conhecimentos acumulados pela
humanidade, não com a finalidade de memorizar, mas sim contextualizar,
problematizar e aplicar na leitura dos fenômenos naturais e sociais, propondo
soluções para os problemas identificados.
A implementação crítica e consciente da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) é uma oportunidade de colaborar com a implemen-
tação desse novo modelo. Ela expressa o que deve ser aprendido e ensinado
por meio da especificação de competências e habilidades que precisam ser
desenvolvidas e, ao mesmo tempo, devendo ser entendidas como objetivos
pedagógicos e um direito das crianças e jovens. Para que essas prerrogativas
46
sejam cumpridas em sua sala de aula, suas propostas de ensino devem levar
os alunos a construírem os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.
Para os alunos serem os construtores dessa sua aprendizagem, você deve
ter percebido que nessa proposta a inovação está na mudança do papel do
aluno, quando ele deixa de ser um receptor e reprodutor de conhecimentos e
se torna construtor do próprio conhecimento.
Mais uma vez, muitas propostas foram feitas nessa perspectiva ao
longo da história da educação e a inovação pode estar no uso dos recursos
digitais que permitem o acesso, produção e divulgação de informações
está em ser implementada.
O interesse dos alunos existirá quando a escola e a sala de aula os acolhem,
promovendo o seu autoconhecimento e o conhecimento do mundo que o
cerca, tendo a vivência que os possibilita se sentirem potentes na intervenção
desse mundo. Eles precisam se tornar protagonistas nessa intervenção e isto
estará ligado ao seu projeto de vida. Um projeto de vida que é único a cada um.
Assimile
Uma das possíveis propostas inovadoras a serem implementadas na
sua sala de aula pode ser caracterizado por quatro desafios: o primeiro
é implementar propostas de ensino que efetivamente colocam os
alunos como agentes principais na construção de seus conhecimentos,
reconhecendo, problematizando, recriando e aplicando o conheci-
mento acumulado pela sociedade. O segundo está em tornar essas
propostas equânimes que, por reconhecer a diversidade do perfil e
necessidades pedagógicas dos alunos, disponibilizem tempos e recursos
específicos para cada um deles, personalizando o processo de ensino. O
terceiro, decorrente dos dois primeiros, é redefinir os papéis do aluno
e do professor, da organização curricular e dos tempos e espaços da
escola. Finamente o quarto, que consiste na exploração dos recursos
digitais, aproveitando a cultura digital já existente fora da escola, para
facilitar o cumprimento do terceiro desafio.
47
Você já deve ter ouvido falar em metodologias ativas. Elas nada mais são
do que propostas de ensino que colocam a atividade do aluno no centro e é
por meio dessa atividade que ele, ao buscar soluções para problemas reais que
identifica em um contexto, também constrói o seu conhecimento. Alguns
exemplos de metodologias ativas são a Aprendizagem Baseada em Problemas,
Aprendizagem Baseada em Projetos, Metodologia de Resolução de Problemas,
Aulas Investigativas, metodologia STEAM, criação de espaços Makers, Jogos,
processos de gamificação, Sala de Aulas Invertidas e Ensino Híbrido.
Aplicar cada uma dessas metodologias requer a reorganização do currí-
culo, mudanças na postura do professor e dos alunos, mudança nas tarefas
propostas e redefiniçao dos tempos e espaços escolares.
A sala de aula, delimitada em seu espaço físico e pelo tempo em que
os alunos estão nelas, torna-se sem configuração, com a crescente facili-
dade de acesso e uso das ferramentas digitais. Comunidades Virtuais de
Aprendizagem são constituídas por pessoas com um interesse comum
que trocam informações, permitindo que os alunos se tornem coautores e
coaprendentes. Essa participação pode ser ampliada e aprofundada com as
plataformas adaptativas, que permitem aos alunos a colocar foco em deter-
minados conhecimentos.
Esse hibridismo no ensino, que mescla o encontro presencial e o acesso,
produção e divulgação de informações, permitem a personalização do ensino
e estimulam a atividade do aluno. De acordo com o modelo proposto pelo
Clayton Christensen Institute, o ensino híbrido é um programa de educação
formal no qual um aluno aprende por meio do ensino on-line, com algum
elemento de controle do estudante sobre o tempo, o lugar, o modo e/ou o
ritmo do estudo, e por meio do ensino presencial, na escola. (BACICH;
TANZI NETO; TREVISANI, 2015).
São recursos que estão disponíveis. Inove trazendo-os para a sua aula!
Dica
Escolha um tema que seja de seu interesse e que não seja ligado à
educação, como maquiagem, artes, carros, cinema, hortas domiciliares,
pets, esportes etc. Procure por blogues, canais do YouTube, fóruns, salas
de chat, aplicativos e redes de compartilhamento de vídeos, imagens e
textos. Isso não significa que você deva se esquecer dos documentários,
textos acadêmicos e reportagens disponibilizados no mundo digital.
Mergulhe nesse mundo digital e tente começar a produzir e
compartilhar informações.
48
Comece a construir – se ainda não tiver – seus conhecimentos, habili-
dades, atitudes e valores acerca desse mundo digital, afinal, você não
pode ajudar os outros a aprenderem se você não aprender também.
49
prática em um contexto pode levar a uma má experiência em outro. Você
deve analisar quais foram as condições do contexto que levaram à prática ser
boa e identificar as condições de seu contexto.
Você deve estar percebendo que uma inovação começa no seu planejamento,
escolhendo a forma – os digitais ou não –, leve seus alunos a serem produtores
de conhecimento, protagonistas no processo, de maneira crítica, criativa e ética.
Dessa maneira, seu projeto de ensino será inovador e desenvolverá conte-
údos por meio de tarefas e com uso de recursos que promovam aprendi-
zagem de maneira significativa, interativa e colaborativa, com respeito ao o
ritmo e individualidade de cada aluno.
50
e os processos de avaliação pautados nas provas escritas individuais e traba-
lhos escritos. Com base nessa descrição sobre as metodologias ativas, analise
cada uma das afirmações a seguir.
I. O aluno pode estudar sozinho ou em grupo, com ou sem a ajuda do
professor, com acesso ou não à internet, dentro ou fora da sala de
aula, para sistematizar as informações que teve acesso e analisá-las
segundo algum propósito.
II. Antes das aulas, o aluno pesquisa sobre um assunto, elabora
perguntas e seleciona curiosidades para serem levadas à sala de aula.
III. Os alunos devem fazer pesquisas para contextualizar e proble-
matizar as informações, desenvolvendo assim o seu o pensa-
mento crítico, compreendendo os assuntos de maneira mais
aprofundada e abrangente.
IV. Os alunos, em grupos, identificam e propõem soluções para um
problema real.
Considerando o contexto apresentado, é correto apenas o que se afirma em:
a. I e II.
b. II, III e IV.
c. I, II e III.
d. I, III e IV.
e. I, II, III e IV.
3. Com o avanço tecnológico, muitos recursos digitais podem ser acessados por
meio de celulares ou computadores. A democratização do acesso a esses equipa-
mentos modificou as formas de relacionamento entre as pessoas e de acesso,
produção e disponibilização das informações. Com isso, é adequado dizer que
na sociedade há uma parcela da população que tem uma nova cultura digital.
Qual das alternativas a seguir representa um benefício que a cultura digital
pode representar se ela for estabelecida nas práticas escolares:
a. Uma possibilidade de organização menos flexível dos tempos
escolares, uma vez que o acesso às informações e a comunicação com
outras pessoas podem ser feitas a qualquer momento.
b. Uma possibilidade de flexibilização curricular e personalização do
ensino, porque o tempo de aprendizagem e o acesso às informações
devem ser tomados a partir daquilo que é de interesse do aluno.
51
c. Uma possibilidade de fixação dos conteúdos e temas a serem
abordados na escola, uma vez que além daquilo que é esperado que
o aluno aprenda, significa que todos aprendem da mesma maneira.
d. Uma possibilidade de otimização do tempo de ensino, dada a maior
diversidade de recursos disponíveis, adequando-os às necessidades
do professor em criar aulas expositivas,
e. Uma oportunidade de padronização do ensino, porque o tempo
de aprendizagem não mais se limita necessariamente ao tempo de
aula, criando rotas personalizadas de aprendizagem, com acesso
aos recursos e às informações pertinentes, devidamente mediadas e
orientadas pelo professor.
52
Referências
BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem
teórico-prática. Penso Editora, 2018.
BACICH, L.; TANZI NETO; A., TREVISANI, F. M. Ensino híbrido: personalização e tecnologia
na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. Disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9788584290499/epubcfi/6/8[;vnd.vst.idref=ensino-hibrido-2.xhtml]!/4/2/4/2@0:0.
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DF: MEC, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&-
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WESTBROOK, R. B.; TEIXEIRA, A. John Dewey. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2010.
Unidade 2
Adilson Dalben
As metodologias ativas
Convite ao estudo
Nesta unidade vamos nos aproximar da sala de aula e estudaremos as
metodologias ativas, para que você tenha os conhecimentos necessários a
fim de implementá-las em sua prática docente. A proposição do uso das
metodologias ativas não é nova e a busca de sua implementação tem sido
meta há pouco mais de um século, o que permitiu um grande avanço teórico
na didática e na psicologia educacional, dentre outras áreas da Educação.
Atualmente, os resultados desse avanço teórico têm sido usados no aprimora-
mento de diversas técnicas, que associadas aos recursos tecnológicos, sobre-
tudo os digitais, permitem a implementação dessa metodologia de maneira
inovadora. Na Seção 2.1, você perceberá que a implementação das metodolo-
gias ativas quebra alguns paradigmas educacionais porque o papel do aluno é
redefinido, tendo como implicação direta a redefinição do papel do professor
e de toda a escola, reconfigurando os tempos e espaços escolares. Nessa seção
você perceberá de forma prática a relevância do uso dos recursos digitais.
Na Seção 2.2, você terá a oportunidade de conhecer e analisar as potenciali-
dades e limitações de alguns exemplos dessas técnicas: sala de aula invertida,
modelos híbridos de ensino, Design Thinking, Metodologia STEAM, Cultura
Maker, Gamificação na Educação e Jogos Digitais. Na Seção 3.3, você poderá
perceber as diferenças existentes entre as propostas que tornam a apren-
dizagem ativa daquelas que promovem e desenvolvem o protagonismo.
Essas diferenças podem ser percebidas mais recentemente com os avanços
teóricos e são requisitadas com as demandas atuais que a sociedade faz para
a Educação, provocando a necessidade de desenvolver no aluno uma visão
empreendedora, exigindo que ele seja criativo e tenha atitudes colaborativas
no processo educacional. Será nesta unidade que você terá a oportunidade de
desenvolver seu conhecimento para usar em sua sala de aula a cultura digital
já presente fora da escola, como vimos na unidade anterior.
Enfim, nesta unidade você reconhecerá a importância da flexibilização
curricular e das culturas digitais a fim de que suas aulas sejam suficientemente
inovadoras para resgatar o interesse do aluno pela escola. Quando interes-
sado, a despeito das adversidades existentes na vida do aluno fora da escola,
você perceberá que ele é capaz de modificar o mundo que o cerca, porque ele
é modificado com o conhecimento e com os valores que constroem na escola.
Essa formação na escola é importante porque será nela que a criticidade e a
ética poderão se tornar ingredientes no acesso, análise, produção e comparti-
lhamento de informações produzidas, não só no mundo digital, mas também
no mundo acadêmico, no qual o conhecimento científico pode e deve ser
desenvolvido para que o aluno supere sua relação apenas com o conheci-
mento comum. As inovações, que contemplam esses propósitos, permitirão
que os alunos vislumbrem projetos futuros e se sintam estimulados, promo-
vendo, assim, um maior compromisso e responsabilidade.
A atribuição de significado ao que os alunos fazem na escola e ao que é
proposto para eles aprenderem é um dos possíveis caminhos para erradicar
o desinteresse, quando manifestado pelos alunos na escola. Com essa
atribuição de significado, os alunos darão sentido a suas ações dentro – e,
principalmente – fora da escola.
Seção 1
Diálogo aberto
Com o que foi analisado na unidade anterior, agora você tem noção do
que vem a ser uma inovação educacional e sabe que ela tem sua importância
justificada por seus propósitos. Também já sabe que ela não precisa ser neces-
sariamente uma ideia nova ou usar recursos novos, mas deve mudar algo que
anteriormente era feito antes de sua implementação.
Considerando os modelos centrados na aprendizagem ativa, suponha
que você, depois de um exaustivo processo de seleção, finalmente foi contra-
tado e assumiu uma turma na escola, e que a direção chamou você para uma
conversa antes da semana de planejamento do início do ano letivo.
Imagine que nessa conversa a diretora disse que sua contratação foi
feita por sua crença de que as aulas em que impera a mera transmissão de
conhecimentos, nas quais o aluno é um expectador, não mais funciona, e
que uma inovação educacional na sala de aula é aquela que faz o aluno ter
maior participação. Ainda na mesma conversa, ela disse também que durante
o processo seletivo o aspecto que mais chamou a atenção dos entrevistadores
foi sua seguinte fala: “uma das inovações educacionais se caracterizaria por
aulas que envolveriam tarefas as quais os alunos precisariam ler, pesquisar,
criar hipóteses e validá-las, fazer sínteses e tomar decisões para resolver
problemas reais e assim, efetivamente, participariam ativamente do processo
da construção de seu próprio conhecimento”. Diante desse contexto, ela
pediu para você elaborar uma apresentação a ser feita para toda a equipe,
mostrando suas crenças sobre as mudanças que mencionou durante as entre-
vistas de seleção e como você trabalharia em sua sala de aula para torná-las
concretas. Que aspectos deveriam aparecer na sua apresentação?
Nesta seção vamos analisar a proposta de usar as metodologias ativas no
processo de ensino para reverter esse quadro de desinteresse manifestado
pelos alunos em suas atividades escolares, um quadro que infelizmente é
recorrente e que se intensifica ao passar dos anos de escolarização. A análise
dessa proposta envolve sua relação na organização curricular no âmbito
dos conteúdos e dos tempos e espaços escolares, assim como na mudança
das atitudes do professor, ou seja, a organização do currículo e a postura do
professor também serão problematizados.
59
Reconheceremos que, em geral, a escola é desinteressante porque
os alunos não veem significado naquilo que aprendem e menos ainda no
que fazem.
Diante disso, vamos assumir que um dos possíveis propósitos para uma
inovação educacional contemporânea é a implementação de práticas escolares
que atribuam significado ao que o aluno deve aprender e às suas atividades.
Ao final desta seção, você verá que o modelo das aulas busca evitar aquele
no qual o aluno é um mero receptor e reprodutor de informações, que em
geral, não o ajuda a fazer conexão entre os conteúdos e suas experiências fora
da escola. Ao final dela você terá os elementos conceituais e práticos relacio-
nados às metodologias ativas associadas à cultura digital existente fora da
escola em um contexto que o aluno se torna protagonista.
Trabalhar com modelos de aulas com essas características se configura em
mais um desafio para o professor, porque implica mudança de suas crenças
e valores, requerendo muito conhecimento e o rompimento daquilo que ele
esteve, em geral, acostumado a ver como método de ensino.
Romper não é fácil, gera inseguranças no início, mas depois os frutos são
bons!
60
escolares que desempenham essas duas dimensões que ele se formará como
cidadão e se preparará para as exigências do mercado de trabalho.
Diante disso, você deve ter claro que uma metodologia ativa não é apenas
aquela que o professor coloca um desafio para o aluno, mas sim aquela que o
aluno se sinta desafiado a fazer. Assim, uma metodologia ativa começa a partir
de uma tarefa que o aluno efetivamente queira cumprir. A sua motivação
interna está no fato de ele se sentir realizado em cumprir aquela tarefa, de
maneira diversa do que ocorre em relação aos motivadores externos, como
uma nota a ser dada pelo professor.
Professores que desenvolvem a postura investigativa consideram que,
ao participarem de comunidades investigativas, trabalham a favor e contra
o sistema, problematizam hipóteses fundamentais sobre os propósitos
do sistema educacional existente; sendo esse trabalho realizado a partir
do levantamento de questões difíceis sobre os recursos educacionais,
processos e resultados. Conjuntamente, os professores com postura inves-
tigativa questionam o efeito do currículo existente, a instrução e as práticas
de avaliação e as políticas. Sendo assim, consideram como as organizações
do ensino e da liderança escolar desafiam ou sustentam as desigualdades
profundas inscritas no status quo. Como podemos ver, o propósito final da
investigação como postura – sempre e em todos os contextos – é aprimorar
a aprendizagem do aluno e as suas chances na participação e contribuição
para uma sociedade diferente e democrática (COCHRAN-SMITH; LYTLE,
2009).
Por sua vez, a motivação interna ocorrerá quando o aluno perceber que
aquilo que ele faz na escola está conectado aos seus sentimentos, seus desejos
e suas expectativas. Ou seja, a escola deve ser um local onde o perfil dos
alunos e o contexto onde vivem sejam considerados e colaborem para a
elaboração de seus projetos de vida.
Nos modelos tradicionais de ensino há a crença de que os alunos são
capazes de aplicar os conhecimentos memorizados ao longo do processo de
escolarização quando se depararem com os problemas reais da vida, fora da
escola. Essa crença torna o papel da escola uma preparação para a vida, e por
isso raras são as vezes que os alunos sabem para que servem e o porquê dos
conteúdos e tarefas escolares.
Exemplificando
Uma tarefa que tira o aluno do papel de receptor de informações não
significa necessariamente que seja uma metodologia ativa. Por exemplo,
tarefas como aquelas que levam o aluno a realizar um experimento
científico para registrar os resultados obtidos, ou aquelas em que a ele é
61
solicitado a resolução de um problema matemático de forma inédita, ou
ainda aquela em que ele escreve sua opinião sobre algum evento social
ocorrido, a depender do desenvolvimento podem não ser consideradas
pertencente às metodologias ativas, apesar de o aluno não ter tido o
papel de mero receptor de informações. A ideia com esses exemplos foi
mostrar que, mesmo com tarefas diferenciadas do copiar da lousa, os
alunos continuam passivamente a cumprir o que foi determinado a eles.
62
Anísio Teixeira foi um educador brasileiro que trouxe as ideias de Dewey
para o Brasil nas primeiras décadas do século XX. À época, ele já afirmava
que a escola foi se separando da vida real, tornando-se sem significado
ao longo do tempo, com o aumento da complexidade da sociedade. Além
disso, falava da necessidade de a escola padronizar os seus objetos de ensino.
Segundo ele, já naquela época
Você, ao ler essa citação, deve ter tido a sensação de que a fala de Anísio
Teixeira parece ser atual, mesmo se referindo à organização e valores
presentes nas escolas do início do século passado. Mas é dessa época que
vem a proposta de problematizar o contexto real, uma das características das
metodologias ativas.
As metodologias ativas trazem problemas reais para os momentos de
escolarização para que, durante a busca da solução, os conhecimentos sejam
construídos e reconstruídos. Ou seja, a solução do problema e a construção
do conhecimento são processos desenvolvidos ao mesmo tempo, constan-
temente diante do desenvolvimento das tarefas que têm como propósito
resolver os problemas. Por isso, a crença válida quando as metodologias são
aplicadas é que a escola é o espaço para a vida estar presente, de maneira que
o significado é inerente às práticas escolares, e assim, desperte e mantenha o
interesse dos alunos.
Esse processo de construção da solução do problema e da construção do
conhecimento rompe com a ideia de um currículo organizado, no qual os
conteúdos são alinhados sequencialmente, em uma relação ordenada, um
63
após o outro, e coloca o entendimento que essa conexão de um conteúdo é
relacionado ao mesmo tempo com diversos. Ou seja, a organização curri-
cular deixar de ser linear e passa a ser concebida na forma de uma rede.
Esperamos que, com esse muito breve e superficial resgate histórico,
você perceba que para trabalhar com as metodologias ativas, as atividades de
alunos devem ocorrer em meio a suas inserções sociais, refutando qualquer
proposta simplificadora e reducionista, evitando, assim, a perda das poten-
cialidades dessa metodologia de ensino.
Nessa perspectiva de ensino, a redefinição do papel dos alunos é uma
consequência inevitável e desejada, porque suas atividades, em meio às
tarefas que precisa cumprir, são orientadas por ações por eles também plane-
jadas em uma etapa anterior, em parceria com o professor. Esse planeja-
mento pode envolver tarefas com diferentes abrangências e profundidades, a
depender de seus objetivos pedagógicos (cujo foco é a aprendizagem) e seus
objetivos operacionais (cujo foco é o resultado da tarefa que devem cumprir).
Para construir as competências, a incorporação das metodologias ativas
deve permitir que os alunos se apropriem dos dados e os transforme em
conhecimentos durante o processo. Para Machado (2000), acumular dados
não é suficiente para gerar informações. É necessário que as pessoas e seus
interesses selecionem os dados que são relevantes para seus propósitos, e
quando são atribuídos significado e finalidade para esses dados é que eles
se transformam em informações. Já o conhecimento é o resultado da densa
rede de interconexões entre as informações, usada em uma ação dentro de
um contexto. Essa relação proposta por esse autor nos permite entender a
importância das metodologias ativas para a construção do conhecimento,
pois essa significação dos dados e a articulação de informações só podem
ser feitas pelos alunos a partir de seus interesses, nunca algo que se faz de
maneira externa a eles.
Conhecer esse processo epistemológico é importante para que as poten-
cialidades das metodologias ativas sejam devidamente aproveitadas, assim
como sejam colocadas em seu devido lugar, que é o meio para levar à apren-
dizagem, finalidade última da educação. Muitas vezes, o encantamento com
as metodologias ativas leva as práticas escolares a colocarem-na equivocada-
mente como finalidade.
É com essa participação dos alunos não só nas ações, mas também nas
decisões, que seu conhecimento e competências serão desenvolvidos. Nessa
dinâmica, há subjacente um processo de engajamento que pode gerar maior
sentido e compromisso do aluno, tendo em vista que ele terá maior clareza de
onde deve chegar, o que promove a melhora em seu desempenho individual
e também do coletivo.
64
lembre-se
65
argumentar e ouvir, debater para defender sua ideia e ver aplicação dela, e
isso faz com que a escola seja um lugar de produção e divulgação do conhe-
cimento. O professor precisa inicialmente propor tarefas que permitam aos
alunos fazerem tais atividades e, depois disso, ele precisa monitorar o desen-
volvimento para que possa fazer as intervenções adequadas.
Essas intervenções do professor não significam dar as respostas certas aos
problemas, tampouco, mostrar qual seria o melhor caminho para chegar a
elas. Ao professor cabe fazer os apontamentos para que os alunos elenquem
quais são os possíveis caminhos e os critérios que deverão ser usados usar
para escolher, dentre eles, qual será aquele que ele escolherá. Nesse contexto
fica bem exemplificado o real papel do professor, que não deixa de ter a
responsabilidade sobre o processo de ensino, mas também não se torna
aquele que decide ou julga pelos alunos o que é a melhor opção.
No processo de identificar os possíveis caminhos e os critérios as serem
usados para a escolha, um debate consistente precisa ser estabelecido entre
os alunos. O professor precisa estar muito atento tanto à forma quanto
ao conteúdo dos debates para que possa manter os alunos motivados e
apresentar suas ideias, hipóteses argumentações. E é nesses momentos que
surgem os conflitos.
Ser um mediador de conflitos é outro papel importante do professor
no desenvolvimento do trabalho com as metodologias ativas. Os conflitos
estão presentes em qualquer grupo social e sua superação requer o desen-
volvimento de recursos no âmbito pessoal, para que aspectos comuns sejam
reconhecidos e diferenças sejam devidamente tratadas com negociação e não
imposição. Esse exercício permite que os alunos aprendam a conviver uns
com os outros e formem suas identidades, reconhecendo os seus traços de
personalidade. É dessa maneira que as competências socioemocionais são
desenvolvidas e vão ao encontro de uma cultura da paz, inseparável dos
valores e princípios democráticos.
Diferentemente do que é comum acreditar, os conflitos não devem ser
evitados, uma vez que é diante dele que relações são estabelecidas, valores são
questionados e os conhecimentos, habilidades e atitudes são desenvolvidas.
Esse é o momento do exercício e da aprendizagem da democracia.
66
o espiritual. Democracia é um modo de estar entre
outros, entre muitos, entre diversos. Entender a
escola como uma oportunidade de estar junto e como
um lugar privilegiado para aprender a viver junto, eis
o que interessa de imediato a quem se interessa pela
construção do espaço escolar. […] O lugar da experi-
ência democrática é o lugar de estar junto com outros
e de entrar em contato. Lugar de receber o outro
e de ser recebido. Exige mais que aceitar, tolerar,
reconhecer e dominar. Exige entrega ao outro. A
entrega exige ver no outro a possibilidade do próprio
fortalecimento. (CHRISTOV, 2012, p. 5)
Com o uso das metodologias ativas, espaço para a produção coletiva são
abertos ao mesmo tempo em que as trocas de ideias levam a um aprimora-
mento da solução encontrada. E diante das argumentações e contra argumen-
tações, novas relações entre as informações são estabelecidas e, como visto
anteriormente, conhecimentos são construídos e consolidados.
Esperamos que você perceba o quanto os diferentes elementos presentes
nas metodologias ativas são interconectados e convergem para um resultado
comum: o conhecimento.
67
Assimilie
O desenvolvimento das competências socioemocionais de maneira mais
objetiva ainda é muito incipiente e depende da interação entre os alunos
que têm perfis e comportamentos diferentes. Cada um tem a sua indivi-
dualidade, por isso é importante conhecer os cinco traços de persona-
lidades que pesquisadores identificaram em diferentes culturas para
entender melhor como desenvolver as competências socioemocionais.
68
chamamos mundo físico e mundo digital. Não são dois
mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala
de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente.
Por isso a educação formal é cada vez mais blended, mistu-
rada, híbrida, porque não acontece só no espaço físico da
sala de aula, mas nos múltiplos espaços do cotidiano, que
incluem os digitais. O professor precisa seguir comunican-
do-se face a face com os alunos, mas também digitalmente,
com as tecnologias móveis, equilibrando a interação com
todos e com cada um. (MORAN, 2015, p. 16)
Reflita
Há uma forte tendência de ensinarmos da mesma maneira que fomos
ensinados e, em geral, as práticas de ensino a que fomos submetidos
tinham uma organização linear e bastante modular, um módulo após
o outro. Nesta seção você pôde perceber a riqueza e a necessidade do
uso das metodologias ativas, mas também de sua complexidade. Como
você precisaria se organizar para conseguir trabalhar com essas nova
demandas educacionais? Quais seriam os valores que você teria que
repensar?
69
que estruturaria seu trabalho. Os procedimentos a seguir podem ser usados
para exemplificar essa estrutura.
Na fase de planejamento:
1. Adote uma organização curricular em rede em detrimento daquela
linear, na qual em geral as escolas se organizam.
2. Defina um objetivo pedagógico a cumprir. Para isso, é adequado
consultar o projeto pedagógico da escola, o plano de ensino previsto
para o ano letivo que trabalha, as orientações metodológicas e verificar
a adequação desses documentos às atuais diretrizes curriculares e à
BNCC. Atente-se às competências e habilidades que devem ser desen-
volvidas. Se necessário, proponha as adequações nesses documentos.
3. Delimite o trabalho, assim que estiver definido o objetivo, especifi-
cando se será necessária a participação de outros professores, quem
será impactado pelo trabalho (se o aluno, a turma, a família, a escola
ou a comunidade), o tempo que será dedicado ao desenvolvimento da
proposta e os recursos que seriam necessários.
4. Pense em um desafio que motive os alunos, propondo que eles
estudem um determinado contexto e encontrem um problema que
eles consigam resolver dentro dos limites estabelecidos.
5. Especifique, em parceria com os alunos, quais são os resultados
esperados, tanto na aprendizagem quanto na solução do problema.
6. Subdivida o desenvolvimento do trabalho em etapas e defina os resul-
tados parciais para o melhor monitoramento e avaliação.
7. Selecione qual ou quais metodologias ativas pretende propor para o
desenvolvimento do trabalho ou de cada uma de suas etapas.
8. Organize, em parceria com os alunos, a sala de aula, construindo
normas de convivência e regras para o trabalho coletivo, criando,
assim, um ambiente de aprendizagem.
9. Planeje o processo avaliativo, que não deve ter como meta a mera
atribuição de notas. A avaliação a ser realizada nas metodologias
ativas deve ser usada para reorientar o caminho percorrido e dar
as devolutivas para que os alunos possam desenvolver processos de
autoavaliação e, assim, melhor desenvolver suas aprendizagens. As
notas e conceitos deve ser apenas para representar o desenvolvimento
geral do aluno em um determinado instante do trabalho. O impor-
tante é que esse conceito ou nota tenha um significado para a turma e
esteja a serviço da aprendizagem.
70
10. Elabore, quando o trabalho com a metodologia ativa requerer um
tempo letivo maior que uma semana, um esquema gráfico contendo
as tarefas que deverão ser desenvolvidas ao longo do tempo.
Na fase de execução:
11. Comece com uma avaliação diagnóstica, para que os próprios alunos
saibam quais conhecimentos, competências e habilidades têm para o
desenvolvimento de um trabalho com essas características. Para esse
diagnóstico, não basta apenas a aplicação de provas escritas, mas a
observação e registro diante de atividades como dinâmicas de grupo.
Coloque atenção também nas competências socioemocionais dos
alunos e no mapeamento da personalidade de cada aluno (use os
Big5).
12. Registre as evidências do desenvolvimento do trabalho para elaborar
devolutivas adequadas para os alunos e indicar o desenvolvimento
individual e coletivo.
13. Promova, sempre que necessário e adequado, um processo de autoa-
valiação individual, em grupos e com a turma toda.
14. Avalie, diante desses mesmos registros, o desenvolvimento do
trabalho, e faça as intervenções necessárias para que os objetivos
sejam cumpridos.
15. Compartilhe com os alunos sua avaliação e reoriente os trabalhos
quando necessário.
16. Compartilhe sua experiência com outros professores para que eles
possam sugerir melhorias.
Logo após a conclusão:
17. Oriente os alunos a fazerem uma boa apresentação dos resultados do
trabalho, principalmente das conexões que estabelecem com o seu
desenvolvimento pessoal e projeto de vida.
18. Promova exercícios de metacognição para que os alunos percebam
sua evolução e se sintam capazes de enfrentar os desafios do mundo.
Também ao final de sua apresentação seria interessante explicitar:
a. Os aspectos que distinguem sua aula com metodologias ativas das
aulas convencionais, sobretudo as quais os alunos se tornam produ-
tores de conhecimento e não reprodutores.
71
b. A forma pelas quais os recursos digitais podem colaborar, sobretudo
em relação à flexibilização do tempo e espaço, uma vez que os alunos
podem fazer pesquisas e estudar a qualquer momento e lugar que for
adequado a ele.
c. A oportunidade para o desenvolvimento do pensamento crítico e das
competências cognitivas e de natureza socioemocionais, orientados
pela postura responsável, republicana e ética.
d. A ressignificação e seleção dos conteúdos trabalhados em função
dos interesses dos alunos, do projeto pedagógico da escolar e das
diretrizes curriculares oficiais, incluindo a BNCC.
e. A necessidade de o trabalho do aluno ser interativo, coletivo e colabo-
rativo, despertando e mantendo o seu interesse.
72
autonomia e da responsabilidade do estudante são os aspectos mais impor-
tantes do ensino
híbrido.
Analise cada uma das afirmações a seguir:
73
II. Flexibilizam seu currículo combinando tempos individuais e tempos
coletivos; valorizam os projetos pessoais e coletivos, dando uma
nova perspectiva de trabalho para os professores..
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
74
Seção 2
Diálogo aberto
Você, como um futuro professor, deve estar atento ao ritmo acele-
rado em que as mudanças na sociedade ocorrem e a como tais mudanças
podem estimular a participação dos alunos no envolvimento em seu próprio
processo de construção de conhecimento. Ao compararmos os processos de
comunicação e de pesquisa na sociedade fora da escola com aqueles dentro
dela em diferentes momentos do passado, constatamos que fora da escola o
ritmo das mudanças é bem mais célere do que aquelas ocorridas dentro dela.
Apesar disso, será que à medida que os alunos – mesmo aqueles perten-
centes às classes populares com maiores dificuldades financeiras – trazem
em mãos seus celulares, eles não estão de algum modo transformando o
espaço escolar? Será que eles, mesmo com proibições ao uso dos celulares
(tão comuns observadas nos ambientes escolares), não estariam inserindo
o uso das tecnologias nas escolas nas mais diversas perspectivas? Será que,
mesmo não sendo de maneira adequada, os alunos não utilizam os recursos
tecnológicos na escola da mesma forma que fora dela?
Para melhor entendimento dessas questões, analisemos como exemplo as
situações em que os professores possam ter suas aulas gravadas, mesmo que
de maneira não adequada e autorizada: já não seria uma mudança? Sabemos
que essa postura não é adequada pelos mais diversos motivos, no entanto,
essa possibilidade já não representaria uma mudança no interior da escola?
Nesta seção veremos que essas perguntas são exemplos de pressões que
os avanços tecnológicos impõem sobre a escola, mas que não são incorpo-
radas para a construção do conhecimento. E como não são incorporadas
nas práticas escolares a serviço da aprendizagem acabam sendo vistas como
influências antagônicas às finalidades da escola.
Nosso propósito é que, ao final desta seção, você esteja apto a sintonizar o
ritmo dos avanços tecnológicos ao ritmo das mudanças necessárias em suas
aulas, a serviço da aprendizagem.
Como você verá nesta seção, a implementação dessas mudanças depen-
derá de seu domínio não só dos objetos de conhecimento propriamente
ditos, mas também dos conhecimentos de natureza didático-pedagógico.
75
A resolução da situação-problema desta seção requer os conheci-
mentos sobre modelos que articulam as metodologias ativas e os recursos
digitais disponíveis.
Por isso, os modelos aqui apresentados têm por finalidade mostrar suas
estruturas e conceitos inerentes para que você, quando assumir a função de
professor, seja capaz de adaptá-los ao contexto em que serão usados. Esse
cuidado em não compreendê-los como estruturas fixas e imutáveis é neces-
sário porque esses modelos foram aplicados em contextos tão diversos e
adversos quanto o brasileiro, em condições e com recursos específicos de
cada região.
Para conseguir explorar adequadamente as potencialidades dessas
metodologias, você deve se posicionar de maneira a poder acompanhar o
desenvolvimento dos alunos do processo, identificando suas necessidades
(de diferentes dimensões – cognitivas, sociais e emocionais) para melhor
planejar as intervenções que proporcionem maior aprendizagem dos alunos.
No papel de professor, você terá a central importância na condução do
processo porque, afinal, será quem melhor poderá criar soluções para os
desafios que sua escola enfrenta cotidianamente.
A inovação educacional, como visto anteriormente, começa com uma
postura inovadora de quem vai implementá-la, tendo claro o propósito das
futuras ações.
O propósito está na busca da forma de tornar a escola interessante para
os alunos, e alcançaremos esse objetivo se conseguirmos fazer com que
atribuam significado ao que devem aprendem e ao que fazem para aprender.
Para isso, nossa estratégia é usar uma metodologia em que eles identifiquem
um problema que queiram e se sintam capazes de resolver, fazendo pesquisas,
levantando e testando hipóteses e debatendo com quem necessário, em um
constante exercício de argumentar e ouvir. Para tudo isso, os recursos digitais
disponíveis se tornam uma grande ferramenta para os alunos, que permitem
e requerem a flexibilização dos tempos e espaços escolares.
Imagine que você já tenha se formado e foi contratado por uma escola,
estando no momento de elaborar o seu plano de ensino. Você está desen-
volvendo esse trabalho em conjunto com outros professores que lecionam
no mesmo ano em que você trabalhará. Nesse dia, no início dos trabalhos, a
coordenação pedagógica da escola solicitou que os planos de ensino contem-
plem o uso de recursos digitais. Segundo ela, esse cuidado seria importante
por conta dos avanços tecnológicos digitais e a democratização do acesso
a esses recursos, e principalmente por favorecerem a ampliação dos limites
da sala de aula. Após essas instruções, seu grupo conversou brevemente,
76
concordando que o plano de ensino contivesse pelo menos um projeto de
ensino envolvendo cada uma das seguintes metodologias de ensino: sala de
aula invertida (ou outro modelo de ensino híbrido), jogo digital, gamificação,
Design Thinking e Metodologia STEAM. Esses foram algumas das muitas
outras possibilidades que incorporam os recursos digitais às metodologias
ativas que seu grupo elegeu.
Como você bem sabe, essas metodologias devem ser selecionadas em
função dos objetivos pedagógicos a serem cumpridos e de sua possibilidade
de ser executável, por isso você precisa conhecê-las muito bem.
Nesta seção, você conhecerá as potencialidades e limitações de cada
uma dessa opções metodológicas, para que sejam implementadas em suas
futuras aulas.
77
adequadamente os potenciais do ensino presencial e do ensino on-line, em
que os alunos podem acessar os recursos digitais como computadores, tablets
ou os próprios celulares, extrapolando os tempos e espaços da sala de aula.
Para Bacich (2016, p. 5):
78
ocorrem em momentos previamente fixados ou determinados pelo professor.
As outras tarefas podem ser desenvolvidas em projetos em grupos, aulas em
pequenos grupos ou na própria sala de aula; enfim, qualquer tarefa que é
desenvolvida sob a reponsabilidade dos alunos e de forma autônoma. Diante
dessas diferentes possibilidades, os modelos de rotação podem ser subdivi-
didos em:
• Modelo de rotação por estação
Essa estruturação se constitui por estações de trabalho, cujo número
pode variar. Deve haver pelo menos uma delas que requeira o uso de
recursos digitais, não importando sua finalidade – se para pesquisa,
simulação, jogo ou comunicação. Assim como o número de estações,
o número de alunos por estação também pode variar, dependendo dos
objetivos pedagógicos e o contexto em que a tarefa é desenvolvida. É
desejável que cada uma das estações tenha alguém, mesmo que seja
o aluno mais experiente, para apoiar o desenvolvimento da atividade
(BAILEY et al., 2013).
• Laboratório Rotacional
Nele, os alunos usam os recursos independentemente do local pelo
qual acessam os recursos digitais. Nesses espaços os alunos recebem
tarefas para que, de forma autônoma, cumpram os objetivos previa-
mente determinados pelo professor. No laboratório rotacional, enquanto
alguns alunos trabalham sozinhos, o professor acompanha outra turma.
Esse modelo se difere do modelo de estações pela necessidade do uso
dos espaços que tenham os recursos digitais disponíveis.
79
trabalho coletivo. Por exemplo: imagine uma aula em que será usada
a dinâmica do juízo, quando a turma é dividida em três grupos. Um
grupo defenderá uma ideia ou uma posição em um dilema, o outro
grupo defenderá o oposto e o terceiro grupo fará o julgamento. Todo
o trabalho preliminar, como a leitura, pesquisa, levantamento de
hipóteses e proposição de argumentos pode ser feito antes das aulas,
com orientações on-line. Diante disso, o momento da aula é reservado
para o debate, sistematização dos conteúdos do debate e para o debate
propriamente dito.
• Rotação individual
Para Staker e Horn (2012, p. 11), os modelos de rotação individual
são uma implementação do modelo de Rotação na qual “os alunos
alternam em um horário fixo personalizado individualmente entre as
modalidades de aprendizagem, pelo menos uma delas é o aprendizado
on-line”. Neste modelo cada aluno recebe um conjunto de tarefas a
serem cumpridas durante a aula. Para o cumprimento dessas tarefas,
cada aluno passa por uma estação específica, segundo suas necessidades
de aprendizagem. Por ter essa característica de individualizar as tarefas,
a avaliação tem um papel ainda mais importante neste modelo, porque
será por meio dela que o professor poderá propor caminhos particu-
lares para cada aluno.
80
para a devida complementação de seu curso tradicional. Escolas que dispo-
nibilizam cursos organizados dessa maneira permitem que seus alunos
desfrutem de cursos que elas não oferecem. Essa possibilidade está aberta
com a legislação em vigor no Brasil, como nos incisos IV e VI dor Art. 8º
da Resolução Nº 3, de 21 de novembro de 2018, que atualizou as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
IV - organizar os conteúdos, as metodologias e as formas
de avaliação, por meio de atividades teóricas e práticas,
provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades
on-line […]
VI - considerar que a educação integral ocorre em múlti-
plos espaços de aprendizagem e extrapola a ampliação do
tempo de permanência na escola. (BRASIL, 2018, [s.p.])
81
Assimile
A taxonomia dos modelos híbridos proposta pode Staker e Horn (2012)
é a seguinte:
• Modelos de Rotação (Rotation model)
– Modelo de Rotação de Estações (Station-Rotation model)
– Modelo de Rotação Laboratorial (Lab-Rotation model)
– Modelo de Sala de Aula Invertida (Flipped-Classroom model)
– Modelo de Rotação Individual (Individual-Rotation model)
• Modelos Flex (Flex model)
• Modelos à La Carte (Self-Blend model)
• Modelo Virtual Enriquecido (Enriched-Virtual model)
Design Thinking
Esta é uma metodologia que veio da área de Design e consiste em uma
abordagem coletiva e colaborativa para solucionar algum problema real. Sua
origem está nas áreas da Administração, da Engenharia e do Design. O design
aqui deve ser entendido como uma forma de pensar ou visualizar caminhos
para solucionar problemas. À época, uma boa solução de problemas seria
considerada uma inovação se a solução atendesse às expectativas dos benefi-
ciários da solução, sendo desejada por eles; se fosse exequível e tivesse viabi-
lidade financeira para sua execução.
82
descoberta, interpretação, ideação e evolução. A seguir estão descritas cada
uma dessas etapas.
Na primeira etapa, a da descoberta, o foco deve estar na observação e
descrição do problema e no levantamento de dados. Nessa fase o professor,
além de ajudar seus alunos a conhecerem bem o problema que terão de
resolver, deve deixar claro seus objetivos pedagógicos e conhecimentos
basicamente necessários para a busca da solução.
Na segunda etapa dessa metodologia, a da interpretação, é a hora da
busca das soluções, da criação de soluções que devem ser múltiplas e
negociadas internamente aos grupos para a escolha daquela mais adequada
em função dos recursos disponíveis. É nessa etapa que os critérios para a
seleção dos problemas da vida real são usados: solução desejada, exequibili-
dade e viabilidade.
Na terceira fase, a da ideação, as propostas de solução devem começar a
ganhar materialidade, é o momento em que o planejamento e a descrição dos
recursos necessários ganham notoriedade.
Na quarta fase, a da experimentação, é quando efetivamente as soluções
ganham forma e os conhecimentos são usados nas explicações. Nesta fase, os
protótipos são construídos e as aprendizagens são reveladas.
Na quinta e última etapa, a da evolução, é quando, a partir da avaliação
da solução construída, novas ideias são dadas para o seu aprimoramento.
Mas essa avaliação não deve ser feita apenas por meio da observação, mas
também da experimentação da solução, que deve ser aplicada na solução de
algum problema para o qual ela foi criada.
Para o processo avaliativo nessa metodologia, o professor deve negociar
com os alunos indicadores, tanto no que se refere ao desenvolvimento da
solução quanto da aprendizagem. Esses indicadores, associados às evidências
que todos podem coletar, ajudam no constante aprimoramento do processo e
da aprendizagem dos alunos.
Metodologia STEAM
A metodologia permite uma abordagem interdisciplinar ou intradisci-
plinar de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática. As denomi-
nações dessas áreas em inglês compões o nome da metodologia STEAM
(Science, Technology, Engineering, Art e Mathematics). Sua aplicação
pressupõe a busca de soluções reais para problemas também reais, reque-
rendo deles pensamento crítico e criativo, com atitudes científicas. Nessa
busca é que os conhecimentos são construídos.
83
Enquanto metodologia, suas fases também colocam os alunos como
os principais agentes de todo o processo e o professor assume os papéis de
mediador, organizador, planejador e consultor, assim como deve ser em
todas as metodologias ativas.
Suas etapas, também comuns a metodologias ativas, são a identificação
de problemas reais, proposição de diferentes formas de solução, escolha da
solução, construção e aplicação da solução.
Como é um processo que envolve ações individuais e coletivas, a
mediação de conflitos é bastante importante para que eles se tornem algo
desejável, pois será na interação entre os alunos e entre eles e a vida real que
os conhecimentos são construídos, com ou sem o uso de recursos digitais.
O trabalho com o STEAM requer um cuidado bastante especial para
que a diferença de desempenho relacionada à diferença de gênero, que vem
sendo observada há décadas, seja eliminada.
84
A importância desse pensamento não está no fato preparar as pessoas
para trabalharem com computação, mas sim para que consigam viver em
ambientes onde os computadores e automação estão presentes.
Muitas vezes a Metodologia STEAM é confundida com outra metodo-
logia ativa chamada Aprendizagem Baseada em Problemas, uma vez que
ambas usam o problema para desencadear todo o trabalho, motivando e
focando a construção dos conhecimentos. A diferença entre elas está especifi-
camente em escolher um problema cuja resolução passe principalmente pelas
áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática. Obviamente,
sempre conhecimentos das áreas de Linguagem e Ciências Humanas serão
envolvidas.
Cultura Maker
O desenvolvimento da Cultura Maker como uma metodologia ativa
consiste na valorização da aprendizagem por meio da experimentação
bastante concreta. Os projetos nessa perspectiva de trabalho caracterizam
pela presença de oficinas repletas de ferramentas para que os alunos efetiva-
mente construam objetos e equipamentos.
Um exemplo para o uso de espaço maker seria a construção de recursos
manipuláveis para o ensino das representações gráficas das principais funções
matemáticas. O material necessário seria uma tábua, pregos para representar
cada um dos pares ordenados em um eixo cartesiano, pedaços de arame para
serem fixados para a representação de eixo e arames no formato das curvas
(retas, parábolas). Esse material, produzido pelos próprios alunos, poderia
ajudar no ensino de cegos ou deficientes visuais. Outros exemplos mais
complexos, envolvendo a automação (que tem sido explorada nas escolas
com mais recursos financeiros há algumas décadas por meio da robótica
digital, envolvendo até linguagens de programação, como o Arduíno), o uso
de impressoras 3D e equipamentos de corte a laser podem ser desenvolvidos.
Há tantos projetos desenvolvidos no âmbito internacional que comunidades
virtuais foram geradas, criando uma rede mundial na qual perguntas podem
ser feitas, soluções podem ser desenvolvidas coletivamente e projetos e
soluções são compartilhados graciosamente.
A cultura maker permite o desenvolvimento de tarefas nas quais os erros
podem ser percebidos imediatamente pelos próprios alunos, uma ideia
presente no construcionismo defendida por Papert (1986). Segundo esse
autor, à medida que os alunos experimentam e constroem, se deparam com
erros que os levam imediatamente a buscar novos caminhos. É uma oportu-
nidade em que os alunos, via tentativa e erro, deparam-se constantemente
85
com sucessos e fracassos, que ao serem explicados e justificados constroem
seu conhecimento. Os alunos chegam a criar teorias sobre suas práticas.
Há muitas comunidades virtuais existentes no mundo, nas quais os alunos
podem buscar soluções e compartilhar aquelas que encontraram. Ao ser
explicado, esse método é relacionado ao constructo teórico. Na abordagem
“tradicional”, apresenta-se a teoria e depois os problemas a ela associados.
Um cuidado especial com a segurança física dos alunos deve ser
tomado quando essa metodologia é usada. A conscientização para o uso
do Equipamento de Proteção Individual (EPI) é bastante importante; algo
que os alunos devem desenvolver na escola e que hoje é um dos principais
desafios das indústrias.
Blikstein (2013) aponta que a essência do maker está no fazer, na obser-
vação direta dos fenômenos relacionados, na reflexão e problematização
dessas observações, que levam à aprendizagem. Segundo esse autor, trata-se
de uma prática que cria a teoria e a usa para orientar a prática, em ações que
promovem a criatividade e inventividade.
86
Exemplificando
Um exemplo bastante comum da gamificação no cotidiano das pessoas
está nos programas de fidelidade. A pontuação que os consumi-
dores acumulam com suas compras permite que eles recebam níveis
diferentes de status, fornecendo vantagens em outras compras ou
benefícios.
Outro exemplo está em um aplicativo de deslocamento no qual você
pode ser um simples usuário, mas as colaborações com o envio de infor-
mações atribuem a você um status diferente.
Mas a gamificação não deve ser confundida com o uso de jogos. A gamifi-
cação é o uso de elementos e técnicas de projeto do jogo para estimular as
pessoas a permanecerem em um determinado contexto (ZICHERMANN;
CUNNINGHAM, 2011). Na educação, os elementos do jogo são suas carac-
terísticas e lógica que permitem aos jogadores conhecerem sua situação
para avançarem em sua aprendizagem. Logo, usar um jogo em uma aula
não significa que um professor gamificou o ensino. Para gamificar o ensino,
é necessário que no jogo existam elementos pedagógicos que constituam
trilhas de aprendizagem.
87
Reflita
Diante das demandas atuais para a adoção de metodologias ativas e a
flexibilização dos tempos propiciadas pelos recursos digitais, uma nova
relação se estabelece com o tempo de trabalho do trabalho docente.
Alguns teóricos falam “desterritorialização” da escola proporcionada
pela nova lógica de comunicação proporcionada pelos avanços tecno-
lógicos, uma vez que o ensino e a aprendizagem podem ocorrer em
diferentes espaços e tempos.
Como você organizaria sua aula e sua vida para dar conta dessas novas
demandas da sociedade e da Educação? ]
88
um distanciamento desse entrave, falar das potencialidades das
metodologias ativas não é um exercício complicado.
89
Indiscutivelmente, as metodologias ativas e do uso dos recursos
digitais são potentes para atender às demandas atuais colocadas para a
educação, mas, para implementá-las, recursos de diferentes naturezas
são necessários e a ausência deles representam limitações.
90
elaboração dos planos de trabalho docente. Curiosamente, a
implementação das metodologias ativas nas salas de aula requerem
sua implementação também no âmbito escolar, para que as
dificuldades sejam superadas.
1. Até os anos 1980 a internet era conhecida por poucos, mesmo assim
existiam os cursos a distância, pelos quais os alunos recebiam livros e
instruções por meio dos correios. Pelo mesmo meio os alunos enviavam
suas produções aos professores para a avaliação. Caso os alunos passassem,
recebiam um novo material.
Qual dos modelos híbridos a seguir melhor mais se aproxima do contexto
vivido até a década de 1980?
a. Modelos de Rotação.
b. Modelos Flex.
c. Modelos à La Carte.
d. Modelo Virtual Enriquecido.
e. Modelo STEAM.
91
( ) A gamificação é um método eficaz em diversas áreas, inclusive na
Educação, e tem ganhado espaço graças aos recursos digitais para distrair os
usuários enquanto se divertem.
( ) A gamificação deve explorar a competitividade dos alunos de forma
saudável, motivando-os a superar estágios no processo de aprendizagem.
( ) A gamificação é a metodologia que usa os jogos digitais para que os
alunos tenham mais interesse nas aulas..
Assinale a alternativa correspondente a sequência correta:
a. V – F – F – F – V.
b. F – V – V – V – F.
c. V – F – F – V – F.
d. V – F – F – V – V.
e. F – V – V – F – F.
92
d. Somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras.
e. As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
93
Seção 3
Diálogo aberto
Nesta seção, você compreenderá a relevância da ideia de protagonismo
ao perceber a centralidade e enraizamento deste conceito nas propostas que
devem ser consideradas como inovadoras no atual contexto educacional.
Você deve se lembrar de que uma proposta só pode ser considerada
inovadora se ela efetivamente alterar algo vigente e cumprir o propósito que
justificou sua implementação. Na perspectiva do cumprimento dos objetivos
dessa unidade, o nosso propósito é fazer com que a escola deixe de ser consi-
derada desinteressante pelos nossos alunos e, para isso, defendemos o uso de
metodologias ativas associadas ao uso dos recursos digitais para colocar os
alunos no centro do processo no qual ele mesmo constrói seu conhecimento,
de maneira a atribuir significado ao que aprende na escola (e até fora dela) e
às atividades que desenvolve para essa aprendizagem. Por isso, o tema prota-
gonismo é central.
Para que o protagonismo seja um vetor que leve a proposta a ser inova-
dora, ele dependerá do enraizamento que tem com outros conceitos e com os
procedimentos que os alunos fazem no processo.
Um desses enraizamentos é a relação existente entre o protagonismo
e o empreendedorismo. Nesta seção, a relação entre esses dois conceitos é
estabelecida e detalhada para que as propostas de ensino sejam efetivamente
inovadoras, não caindo no senso comum no qual o empreendedorismo se
tornaria mais uma ação conservadora.
Outro enraizamento está na proposta de trazer a prática social de
produção e compartilhamento de informações já existente fora da escola
para as práticas escolares. Você poderá entender que na linguagem presente
World Wide Web (www), que aqui nos referiremos simplesmente como
internet, é de responsabilidade dos profissionais da educação (professores,
gestores escolares, gestores educacionais, produtores de materiais didáticos e
decisores de políticas públicas) que essa produção seja crítica, ética e atenda
aos critérios científicos para que essas informações tenham a veracidade
necessária e favoreçam a produção de conhecimentos. Essas práticas sociais
a que nos referimos são aquelas que reconhecemos nas diferentes formas
de comunicação presentes na internet ,como canais YouTube e podcasts
(arquivos de áudios digitais compartilhados via internet e facilmente acessí-
veis por qualquer dispositivos como celulares, computadores e aparelhos
94
de televisão), ambos abrangendo os mais diversos temas, de maneira que
os interessados podem se inscrever e receber constantemente informações
sobre atualizações. A temática e a linguagem usada na produção desses
vídeos e áudios os tornam muito atraentes e eles se mostram, de alguma
forma, como entretenimento e transmissão de informação, e em geral ambos
ao mesmo tempo. Por isso, associada à facilidade de acesso, essas práticas
têm se tornado muito populares. Na linguagem presente na internet todos
nós somos creators, afinal, todos nós somos produtores e usuários desses
áudios e vídeos.
O jornalismo e o comércio (propaganda e marketing) já incorporaram
tais práticas em seus campos de atividade, e o mesmo deve fazer a Educação.
Este é mais um caminho que pode tornar a escola mais interessante para
os alunos.
A situação-problema que envolve os conhecimentos desenvolvidos na
seção requer que você coloque suas crenças em ação. Imagine que você
precisa preparar uma sequência didática na qual precisa promover a troca de
informações por meio de textos, imagens e vídeos, e assim por diante. Nessa
sequencia didática, você precisa tornar claro para seus alunos que qualquer
pessoa, a qualquer instante e independentemente de onde ela estiver, poderá
produzir e compartilhar informações. Ao mesmo tempo, o aluno precisa ter
a noção de que, da mesma forma, qualquer um poderá compartilhar, criticar,
modificar e aprimorar as informações por eles produzidas, gerando, assim,
um ciclo de produção de novas informações. A sequência didática deverá
mostrar que esse processo de acesso, produção e compartilhamento de infor-
mações é muito veloz e ocorre de maneira muito interativa. Além disso,
essas informações podem representar um resultado bom ou ruim, trazendo
benefícios ou malefícios para as pessoas e para a sociedade.
Você, como professor, precisa trazer esse processo para dentro da sala de
aula ou da escola, porque favorece a configuração de um ambiente de apren-
dizagem criativo, crítico e colaborativo. A sequência didática deve ajudar
seus alunos a construírem essas competências e habilidades, de maneira ética
e responsável.
95
O desafio das escolas é mediar essas práticas sociais para a produção de
conhecimentos, competências, habilidades e valores. As propostas de ensino
devem ser uma oportunidade de potencializar, dando maior abrangência,
profundidade e diversidade às ações dos alunos durante a resolução dos
problemas e a construção de seus conhecimentos.
Mas como inserir na escola essas práticas comunicativas existentes fora
da escola? Quais elementos você traria para esse debate para que as propostas
de ensino possam contribuir para que os alunos construam essas competên-
cias e habilidades de maneira ética e crítica, diferenciando o conhecimento
comum do conhecimento científico, que é um dos papéis da escola?
Vamos agora nos aprofundar um pouco mais sobre uma das muitas
dimensões educacionais presentes em qualquer proposta inovação educa-
cional nas práticas escolares, que é o protagonismo.
Em geral, quando ouvimos o termo protagonista, associamos ao artista
que faz o papel principal em uma novela, filme ou teatro. No sentido figurado,
ser protagonista significa desempenhar o papel principal em um aconteci-
mento e, por isso, na área educacional, quando se diz que o aluno deve ser o
protagonista em seu processo de aprendizagem, significa que deve ser dele o
papel principal.
Mas a ideia de protagonismo, no contexto das inovações educacionais
que incorporam os princípios das metodologias ativas e o uso dos recursos
digitais disponíveis, demanda uma visão um pouco mais abrangente e
detalhada, sobretudo na forma como esse protagonismo deve ser exercido.
Reflita
O termo protagonista tem sua origem no teatro grego, em que cabia a ele
as ações em defesa do bem. Por isso, não fazia sentido existir o protago-
nista sem a existência do antagonista. O antagonista é importante para
justificar a existência do protagonista – lembrando de que o antagonista
é aquele que o protagonista deve combater. As tramas se desenvolvem,
até hoje, em situações em que um tenta impedir que o outro cumpra
com seus objetivos. Nesse contexto, o antagonista não necessariamente
precisa ser uma pessoa, mas pode ser representado por um ambiente com
relações sociais adversas, um fenômeno natural, sentimentos, doenças ou
um objeto. Logo, não faz sentido falar em protagonista sem a existência
do antagonista. Assim, quando falamos que um aluno é protagonista, o
que ou quem assume o papel de antagonista?
96
Agora vamos pensar na seguinte situação: a situação-problema desta
seção requer a explicitação dos elementos necessários para o planejamento
de propostas de ensino, tarefas, sequências didáticas ou projeto, que incor-
porem essa visão mais abrangente e detalhada sobre o protagonismo.
Assim, nessas propostas de ensino você deverá considerar o fenômeno da
democratização do acesso à internet, que facilitou e estimulou a grande troca
de informações entre as pessoas por meio de textos, imagens e vídeos.
Você sabe que, com esse fenômeno, qualquer pessoa em qualquer
momento, independentemente de onde ela estiver, pode acessar, produzir e
compartilhar informações.
Deve saber também que, ao mesmo tempo, qualquer outra pessoa do
mundo poderá compartilhar, criticar, modificar e aprimorar essas informa-
ções. Trata-se de um processo dinâmico, altamente veloz e interativo. É um
processo que produz conhecimentos.
Reflita
Qual é a confiabilidade dos conhecimentos produzidos nesses processos
em que não há qualquer critério científico ou de crítica que valide esses
conhecimentos produzidos?
97
Lembre-se
Lembre-se de que entendemos a metodologia ativa na educação como
sendo uma proposta de ensino na qual a atividade do aluno seja o
centro do processo de busca por soluções ou sugestão de soluções para
problemas reais que ele identifica no contexto em que está inserido,
de maneira que ao mesmo tempo ele atribua significado aos dados,
gerando informações e, ao relacionar essas informações, construa o seu
próprio conhecimento, dando significado ao conhecimento construído
ao longo da história da humanidade.
Lembre-se
Entendemos competências como sendo a
[…] mobilização de conhecimentos (conceitos e procedi-
mentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocio-
nais), atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do
mundo do trabalho. (BRASIL, 2018, p. 8)
98
Na especificação dessas competências e habilidades estão inseridos os
propósitos da formação necessária para o exercício da cidadania e de atender
às demandas do mercado de trabalho.
Agora, vamos colocar a atenção no propósito da formação para o
mercado de trabalho, mas sem perder de vista que isso também é inerente à
formação cidadã.
Exemplificando
Estas são, respectivamente a quinta e sexta competências gerais
descritas na BNCC:
99
outra profissão, elas devem preparar esses alunos para serem, acima de tudo,
políticos e empreendedores.
Deve ser político porque todo ser humano vive em comunidade, o que
significa conviver com o outro e com o ambiente. E conviver é o mais político
dos atos, como afirmam Cortella e Ribeiro (2012). As escolas, assim como as
famílias, clubes, igrejas; enfim, toda instituição social permite o exercício da
política, não se restringindo aqui à partidária, mas à mais ampla possível, e
que não será nosso foco neste momento.
Deve ser empreendedor porque o empreendedorismo na formação dos
alunos não deve se restringir apenas à ideia de aproveitar oportunidades e
gestar empresas, mas eles devem desenvolver atitudes críticas, estimular a
construção do projeto de vida, a iniciativa e a perseverança, sempre orien-
tados pela ética.
Garantir que o aluno aprenda a ser político e empreendedor pressupõe desen-
volver metodologias de ensino em que ele desenvolva suas competências, habili-
dades e valores interferindo, individual ou coletivamente, de maneira criativa e
propositiva, na superação dos problemas que encontra no meio em que vive.
Por isso, nessa perspectiva, o primeiro passo para ser empreendedor é a tomada
de consciência do ambiente, relacionando-o ao seu projeto de vida.
100
Por isso, o tema empreendedorismo precisa ser desenvolvido nas salas
de aula com essa perspectiva, para não se limitar à ideia de combate ao
desemprego juvenil e à produção de um consenso acerca da possibilidade de
criação de formas alternativas de trabalho e geração de renda. Se a formação
para o empreendedorismo se limitar a isso, seria mais um exemplo de uma
ação apontada como inovação, mas, na prática, mais uma nova roupagem
de propostas conservadoras a serviço apenas da adaptação dos indivíduos à
sociedade e não à sua modificação (DREWINSKI, 2009).
Assimile
Preparar o aluno para o empreendedorismo requer desenvolver
propostas em que ele construa os seus conhecimentos, incluindo aqueles
necessários ao exercício profissional, ao mesmo tempo em que desvela a
realidade em que vive. Além disso, identificar e resolver os problemas,
individual e coletivamente, de maneira que ele seja proativo no processo,
com iniciativa e criatividade, e com perseverança e resiliência para
implementar as necessárias mudanças na sociedade.
101
Nesse contexto, até mesmo o uso dos recursos digitais para a troca de
dados e informações tem sofrido muitas modificações. Até recentemente,
as chamadas Tecnologias de Informações e Comunicação (TICs) já permi-
tiam a flexibilização curricular (conteúdos, tempos e espaços) em tarefas
de simulação, pesquisa e comunicação, mas se caracterizavam por serem
textos predominantemente escritos, devido à baixa velocidade e capacidade
da internet.
No entanto, com o avanço tecnológico nessa área, a velocidade e capaci-
dade de processamento e armazenamento dos equipamentos, aparelhos e
da própria internet, está permitindo o uso de imagens e sons. Com isso, a
transmissão de vídeos e fotos tem se popularizado em detrimento de textos
escritos. Como consequência, a produção, armazenamento e comparti-
lhamento de informações também se popularizou, mudando os canais de
comunicação e suas características, estabelecendo uma nova cultura digital.
Antes a comunicação ocorria por meio de e-mails, quando muito por
fóruns (ou chats), caracterizando a comunicação como assíncrona (quando
a interação não ocorre ao mesmo tempo) e síncrona (quando a interação
ocorre ao mesmo tempo), respectivamente. Atualmente, há espaços virtuais
(plataformas) que armazenam vídeos e áudios (podcasts), salas de aulas
virtuais, em que virtualmente é estruturada uma sala igual à convencional,
para postagens de tarefas a serem cumpridas pelos alunos e as produções
por eles realizadas. Enfim, há uma diversidade incrível de possibilidades
de acesso, produção e compartilhamento de informações de uma forma
nada linear.
Segundo Kellner e Share (2008), já foram geradas diversas listas de
conceitos também bastante diversificados, mas que convergem para no
mínimo cinco elementos básicos:
1) o reconhecimento da construção da mídia e da comuni-
cação como um processo social, em oposição a aceitar
textos como transmissores isolados de informações,
neutros ou transparentes;
2) algum tipo de análise textual que explore as linguagens,
gêneros, códigos e convenções do texto;
3) uma exploração do papel das audiências na negociação
de significados;
4) a problematização do processo da representação para
revelar e colocar em discussão questões de ideologia,
poder e prazer, e;
102
5) a análise da produção, das instituições e da economia
política que motivam e estruturam as indústrias de mídia
como negócios corporativos em busca de lucro. (KELLNER;
SHARE, 2008, p. 691)
Todas elas são importantes para a escola, uma vez que são esses elementos
que sustentam a cada vez maior produção e o acesso a informações disponí-
veis na internet. Aqueles que produzem, criam e acessam essas informações
são denominados creators.
Os produtores e criadores de informações na internet, atualmente respon-
sáveis pela quebra de paradigmas da área da comunicação, têm estilo próprio
de interação, que a despeito de já existir uma grande profissionalização na
área, fazem questão de, mesmo assim, manter a aparência na produção para
manter a audiência e fidelização.
Essa não necessidade de profissionalização é a oportunidade de inserir
esse movimento de produção de informações para as práticas escolares, com
conteúdos que mantêm a aparência de entretenimento, geração de polêmicas
sobre um assunto ou emissão de opiniões, mas de maneira ética e científica.
Esse seria um caminho para o combate ou desprezo das fake news (publica-
ções com informações inverídicas). Essa seria a área da Educomunicação.
Assimile
Segundo Soares, a Educomunicação
103
digital ou não, e valoriza a expressão por meio das várias formas de linguagem
das artes. Além disso, tem também a preocupação em fazer a gestão da
produção de informações e dos espaços de armazenamento e disponibili-
zação dessas informações.
É importante que você perceba que nesse processo de produção de infor-
mações por meio de textos ou imagens, ocorrem muitas interações entre os
alunos e, assim, é estabelecida a experiência social da linguagem, que por sua
vez, é apontada por Vygotsky (1984) como sendo um dos fatores com maior
influência na aprendizagem dos alunos. Mais uma vez a inovação está na
implementação de uma prática escolar, mesmo que seja sem novidades em
relação aos recursos tecnológicos e à teoria da aprendizagem.
No contexto das metodologias ativas, a produção coletiva e compartilha-
mento de vídeos, blogues, sites, registrando os passos dados no processo de
resolução de problemas, os resultados parciais e finais obtidos e a aprendi-
zagem ocorrida, motivam os alunos a desenvolver as competências e habili-
dades de natureza cognitivas e as socioemocionais. Por ser um processo
coletivo, a aprendizagem é colaborativa e criativa, em que todos aprendem
e são responsáveis pelas aprendizagens dos outros. É um trabalho de apren-
dentes e coaprendentes e, concomitantemente, autores e coautores.
Para a adequada produção de um vídeo, o processo deve ter:
• Uma etapa preliminar com um planejamento, quando é elaborado
um resumo geral, o roteiro detalhado e o storyboard (representação
gráfica semelhante à das histórias em quadrinhos, para facilitar a
visualização das cenas).
• Produção propriamente dita, quando são feitas as tomadas que
compõem cada uma das cenas que comporão o vídeo.
• Edição.
Você deve ficar ciente que a proposição de práticas escolares que tenham
aderência à cultura digital requer que os professores tenham a mesma dispo-
nibilidade em aprender que eles esperam que seus alunos tenham.
Para uma análise sobre como inserir nas práticas escolares as práticas
comunicativas existentes fora da escola, de maneira análoga como já é
feito em outras áreas como o jornalismo e a propaganda, o ponto inicial é
conhecer as características dessas práticas e estabelecer propósitos aderentes
104
à finalidade da educação: construir conhecimentos, agora com a preocu-
pação de compartilhar esses conhecimentos produzidos.
Quando associados às metodologias ativas, que pressupõem a resolução
de algum problema ou de propostas de sua solução, o compartilhamento
deve contemplar também informações sobre o processo desenvolvido e seus
resultados. Além de blogues e sites, os vídeos e áudios devem ser conside-
rados como formas dessa divulgação e compartilhamento.
Como se trata de uma área em constante inovação – e apesar de os vídeos
terem por opção manter a aparência de produções amadoras –, compe-
tência e habilidades semelhantes àquelas exigidas no mercado de trabalho
são requeridas, como a produção, as fases preliminares de planejamento e
obtenção de recursos, e aquelas pós-produção, que seriam o refinamento da
produção e a manutenção da clientela.
Esse contexto leva à necessidade de envolver os temas empreendedo-
rismo e educomunicação.
Assim como no jornalismo, que ao se apropriar dessas técnicas para o
cumprimento de seus objetivos, manteve os critérios de produção e divul-
gação de notícias existentes nos meios convencionais, a educação precisa
fazer o mesmo, para que o conhecimento comum não seja divulgado como
um conhecimento científico.
Quando vídeos e podcasts são produzidos com base em crenças
populares ou individuais, sem serem analisadas sob uma perspectiva teórica,
crítica e com algum rigor científico em experimentações, muitas vezes são
estabelecidas relações entre causas e efeitos que não são totalmente verda-
deiras. Na escola, a produção e compartilhamento de informações, associada
à resolução de problemas identificados pelos alunos, deve passar por essa
análise e por esses critérios, propiciando informações verdadeiras.
Para isso, professores e alunos devem estar sempre se atualizando para
ficarem pari passu com os avanços tecnológicos – e não somente os digitais
–, para que possam juntos, cada um em seu papel, praticar atividades educa-
cionais que levem os alunos a desenvolver e assumir atitudes autônomas,
criativas, críticas, éticas e responsáveis.
Dessa maneira, alunos e professores, ao produzirem atividades em que os
alunos individualmente constroem seu conhecimento na interação com os
outros, criam na escola um ambiente de aprendizagem colaborativo e criativo.
Nesse processo, os professores conseguem colocar plataformas como
o YouTube, que não é apenas um portal que armazena vídeos, mas que
disponibiliza muitas ferramentas para aumentar sua audiência, a serviço
105
da educação. Na internet, professores que fazem isso chegam a ser denomi-
nados Edutubers.
Uma mudança na sociedade e na educação pode ser observada pelo estran-
geirismo, em especial ao anglicismo (o uso de palavras de origem inglesa como
YouTube, podcast, creators, web, site, blog) presente nesta seção, e professores e
alunos devem estar atentos para os seus significados e, principalmente, ao o uso
que é feito desses termos e recursos.
Não são poucos os exemplos fora das escolas em que pessoas de diferentes
idades e diferentes níveis socioeconômicos desenvolvem ações junto a
comunidades locais, envolvendo intervenções nas áreas ambientais, educa-
cionais, de saúde pública, de esportes e tecnológicas. Uma breve consulta na
internet trará muitos desses exemplos, cujas ações têm impactos positivos,
sendo adequadamente compartilhadas.
Diante de tudo isso, será o resultado do uso desses recursos nas propostas
educacionais que definirá se elas efetivamente serão inovações educacionais
ou apenas novas formas conservadoras de educar.
Analise cada uma das alternativas a seguir e indique qual é a única verdadeira.
a. A Educomunicação tem o propósito de melhorar a comunicação interna
da escola, uma vez que ele é uma das mais complexas instituições sociais.
b. A Educomunicação faz a distinção das práticas educativas e da comuni-
cação, para que possam se complementar nos ambientes escolares.
106
c. A Educomunicação criou conceitos e procedimentos que aprimoram as
práticas escolares com práticas sociais da área da comunicação.
d. A Educomunicação tem o propósito de formar o professor para melhorar
sua prática comunicativa.
e. A Educomunicação tem o propósito de habilitar o comunicador a ser um
professor.
107
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
108
Referências
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teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
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VICKERY, A. Aprendizagem ativa nos anos iniciais do ensino fundamental. Porto Alegre:
Penso, 2016.
Personalização do ensino
Convite ao estudo
Esta seção mostrará o motivo de a temática personalização do ensino, foco
desta unidade, ser tão importante e estar presente em propostas de ensino
que têm pretensão de apresentar uma inovação educacional. E isso com o
propósito de efetivamente melhorar a aprendizagem na sala de aula – em
particular porque será ela que permitirá o efetivo ensino adaptado aos ritmos
e necessidades de cada pessoa, título desta seção.
No decorrer desta primeira seção, você perceberá que enquanto as
metodologias ativas têm sua importância em um aspecto mais abrangente,
permitindo a interrelação de vários elementos de natureza pedagógica para
uma inovação educacional na sala de aula, como se fosse um guarda-chuva
que acolhe todos esses elementos, a temática personalização do ensino é igual-
mente importante por se tratar de um desses elementos, relacionando-se com
os demais.
A segunda seção desta unidade, Possibilidades de aprendizagem individu-
alizada, terá como foco a exploração dos recursos tecnológicos que permitem
à escola romper com as amarras da igualdade, graças às possibilidades que
esses recursos oferecem para a personalização do ensino e à criação de uma
nova cultura de aprendizagem.
Por fim, na última seção, serão analisados Projetos educativos personali-
zados, título da seção, para que a relação entre complexidade e individuali-
dade dos alunos sejam percebidas a fim de que eles, a partir de suas perso-
nalidades particulares e peculiares, possam maximizar suas competências e
habilidades para lidar com o mundo que os cerca.
Ao final da unidade, você estará apto não só a distinguir as inovações
educacionais atreladas às tecnologias digitais ou não, para incluí-las no
planejamento das tarefas educacionais, mas principalmente para identificar
os valores e crenças presentes na cultura educacional vigente.
Essa identificação é um primeiro passo, essencial para o estabelecimento
de uma nova cultura de aprendizagem para que os alunos sejam protagonistas
de seu processo de construção de conhecimento, e sejam críticos, criativos e
éticos na produção e compartilhamento de seus conhecimentos.
Ao romper com a cultura igualitária vigente, que em geral mantém, ao
final do período de formação, os diferentes níveis de conhecimentos identifi-
cados no início desse período, você estará apto a elaborar projetos educativos
realmente inovadores, criando tarefas que promovam aprendizagem signifi-
cativa, interativa e colaborativa.
Será com propostas de ensino adaptadas aos ritmos e necessidades de
cada aluno que você promoverá a personalização do ensino equânime e
inovador, afinal, sua prática educativa respeitará o ritmo e individualidade de
cada aluno, assim como o trabalho coletivo e colaborativo.
Seção 1
Diálogo aberto
Esta é uma seção muito importante para que as práticas em sala de aula
sejam efetivamente inovadoras, considerando o propósito de melhorar a
aprendizagem dos alunos. Nela você perceberá que é pelas ações docentes
que a personalização do ensino ocorrerá e, da mesma forma, a melhoria da
qualidade da aprendizagem.
Personalizar o ensino significa romper estruturas educacionais vigentes,
demandando a reconstrução de muitos valores e crenças consolidados
há muito tempo e que definem a cultura educacional vigente. Para você
entender, vamos discordar da afirmação de que devemos oferecer o mesmo
ensino para todos os alunos, independentemente de seu contexto de vida,
mesmo sabendo que poucos discordariam dela.
Imagine que você está participando de uma mesa redonda de um
seminário a convite de uma faculdade de educação, que conta com a presença
de muitos professores de diversas escolas, incluindo a que você trabalha.
Uma das participantes pede a palavra e afirma: “Com tantos ambientes de
livre acesso que podem produzir conhecimentos de forma colaborativa, nos
quais a autogestão e autorregulação dos espaços são primordiais, a autonomia
dos membros que compõem esses ambientes é inevitável.”
E em seguida ela faz duas perguntas a você, diante do auditório: “Em suas
aulas, como você consegue desenvolver as competências e habilidades dos
alunos para que os espaços virtuais estejam a serviço da aprendizagem ética e
responsável?” e “Como você poderia garantir a interação e os feedbacks sem
que estes ocupem o lugar central nos ambientes virtuais, uma vez que essa
centralidade no processo deve ser dos alunos, afinal eles são os principais
protagonistas?”
Você percebe que essas perguntas são feitas com base na cultura vigente
e que, para respondê-las, é preciso falar de todas as implicações que levam à
personalização do ensino.
Quais seriam os elementos da sua resposta?
Para desvelar as relações da personalização do ensino com esses diversos
elementos conceituais, é necessário, antes de tudo, identificá-los e depois
116
problematizá-los, a fim de que os valores sejam revistos – para sua confir-
mação ou modificação e para a criação e manutenção de uma nova cultura
de aprendizagem. Algumas dessas problematizações perpassam pela reflexão
de como o tempo letivo é um dos elementos que definem o desempenho
dos alunos; pela assimilação de uma realidade em que geralmente – as
escolas oferecem um ensino igualitário enquanto uma das possibilidades
inovadoras deveria ser o ensino para a equidade; pela mudança radical da
cultura de avaliação, em que ela deixa de apontar o certo e o errado e passa
a propor negociações de significados para dar sentido às ações dos alunos;
pelo compreensão de que as aprendizagens individuais se estabelecem com
a aprendizagem criativa e colaborativa e; por fim, pelo entendimento de que
tudo isso tem como base a certeza de que cada aluno aprende de uma forma
e em um ritmo diferente dos demais.
Todos esses elementos serão visitados nessa seção, que é seu conteúdo.
Com isso, você poderá compreender que somente com a personalização do
ensino será possível a personalização da aprendizagem de forma autônoma
e, portanto, protagonista.
Assimile
Para a personalização do ensino é muito importante que você compre-
enda o conceito de equidade, diferenciando-o do conceito de igualdade.
A equidade está presente nas práticas escolares quando elas são plane-
jadas partindo do reconhecimento, a priori, de que os alunos têm conhe-
cimentos, habilidades, competências, valores, crenças, desejos e neces-
sidades diferentes e, por isso, é caracterizada por oferecer aos alunos
oportunidades para que aprendam de formas e em ritmos diferentes.
A igualdade é uma marca presente nas práticas escolares quando as
mesmas oportunidades de aprendizagem são oferecidas aos alunos.
117
Em uma pesquisa realizada entre os anos de 2005 e 2009 (DALBEN,
2014) foi medida a proficiência em Leitura e em Matemática de alunos ao
longo das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental (à época, os alunos
entravam na primeira série aos sete anos de idade) que permaneceram na
mesma escola. Participaram dessa pesquisa os alunos de escolas municipais,
estaduais, privadas e especiais (escolas militares e federais, que apresentam
processos seletivos para sua entrada) escolhidas por amostragem estatística
de cinco grandes cidades brasileiras. Para a análise, esses os alunos foram
dispostos em dez grupos em função de seu nível socioeconômico, e foi calcu-
lada a média de suas proficiências obtidas em cinco coletas. A primeira foi
feita no início da primeira série (Onda 1) e as demais ao final de cada uma das
séries subsequentes (Ondas 2 a 5). O resultado é mostrado na figura a seguir.
Figura 3.1 | Média de proficiências em matemática e leitura
GRÁFICO 1A – MATEMÁTICA GRÁFICO 1B – LEITURA
320 200
300
180
280
260
160
240
PROFICIÊNCIA
PROFICIÊNCIA
200
140
180
160
120
140
120
100
100
80 80
ONDA 1 ONDA 2 ONDA 3 ONDA 4 ONDA 5 ONDA 1 ONDA 2 ONDA 3 ONDA 4 ONDA 5
118
ao contrário, em Matemática, a diferença entre as proficiências médias dos
alunos aumenta.
Nesse contexto, é importante que você perceba que esse gráfico traz os
resultados médios de diversas escolas, obtidos também pela média das profi-
ciências conquistadas pelos alunos nos exames aplicados.
Essa percepção é importante porque essa média oculta escolas que são
equânimes, em relação àquelas que não o são. Ou seja, existem escolas que
recebem alunos com baixa proficiência e, graças ao seu trabalho, conseguem
fazer com que seus alunos tenham, ao final do processo, uma proficiência
média maior do que a comum. Essas escolas têm como resultado de seu
trabalho um alto valor agregado nas proficiências iniciais de seus alunos.
Escolas com alto valor agregado são escolas que promovem um ensino
com equidade.
Figura 3.2 | Desempenho médio da escola em função do valor agregado
DESEMPENHO MÉDIO DA ESCOLA EM FUNÇÃO DO VALOR AGREGADO
II I
NÍVEL DE RENDIMENTO
III IV
BAIXO RENDIMENTO BAIXO RENDIMENTO
BAIXO VALOR AGREGADO ALTO VALOR AGREGADO
GRÁFICO 1B – LEITURA
Fonte: National Research Council and National Academy of Education (2010, p. 7).
119
Atenção
Por tempo letivo entende-se o período de um ciclo de formação,
composto por mais de um ano de escolarização, em cujo ao final o aluno
recebe um parecer, resultado de uma avaliação que o autoriza ou não
continuar seus estudos. Pode ser o período de um ano letivo, quando a
escola opta por uma organização seriada e, ao final desse ano, o aluno
recebe o mesmo parecer com a mesma finalidade. Por tempo letivo
também se compreende o bimestre ou trimestre como sendo tempo
em que, ao final dele, o aluno recebe os mesmos pareceres, porém
parciais. Além disso, o tempo letivo pode ser entendido como aquele
que aluno tem para desenvolver uma determinada tarefa.
120
O esquema a seguir representa essa relação entre a fixação do tempo
letivo, os diferente ritmos e formas de aprendizagem e a necessidade de rotas
personalizadas para que o aluno aprenda.
Figura 3.3 | Demonstração do aprendizado personalizado
HÁ UMA BOA PARTE DOS ALUNOS QUE APRENDEM EM TEMPO E RITMO COMUNS.
OBTÉM DESEMPENHO
HÁ AQUELES QUE APRENDEM EM MENOS TEMPO. ACIMA DO ESPERADO OBTÉM DESEMPENHO
ABAIXO DO ESPERADO
O TEMPO LETIVO FIXO DA ESCOLA FAZ COM QUE ESSES ALUNOS APRESENTEM DESEMPENHOS DIFERENTES,
TORNANDO A INSTITUIÇÃO UMA PRODUTORA DE DESIGUALDADES.
121
necessitam de matrizes de avaliação organizadas por competências e habili-
dades. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação é implantada no decorrer
da década de 1990 e, agora, na década de 2010, ocorrem a publicação da Base
Nacional Comum Curricular e as atualização da legislação educacional.
Reflita
Você notou, pelo que está exposto nos dois últimos parágrafos, um
processo em que uma inovação educacional acarreta a necessidade de
outra, e o tempo que decorre desse processo? Essas são algumas de
muitas outras inovações educacionais ocorridas nos últimos 40 anos e
que são propícias para a melhoria da aprendizagem. Mas, mesmo com
todas as fragilidades técnicas e políticas que circundam as avaliações
externas com itens padronizados (prova Brasil, SAEB, ENEM), mostram
que poucos são os avanços constatados no desempenho dos alunos. O
que ainda falta para que esse quadro seja superado?
Como está exposto, dois vetores nesse contexto estão colocados para a
implementação da personalização do ensino. Um deles é a necessidade, que
o justifica, e o outro é todo o aparato normativo jurídico que o possibilita.
Assim, a questão está em como implementá-lo nas salas de aula. Mas além
deles há dois outros que são fortes aliados nessa implementação: a disponi-
bilização e o acesso aos recursos digitais, que serão tratados mais adiante, e o
uso das metodologias ativas.
Você já sabe que para trabalhar com as metodologias ativas, os papéis de
aluno e do professor foram redefinidos. O aluno é o protagonista (inovador,
empreendedor e comunicador) no processo de solução de problemas reais e
na construção de seu conhecimento, e o professor, o profissional da educação
responsável pela criação desse ambiente de aprendizagem, que deve ser
colaborativo e criativo.
Exemplificando
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em
1996, no trabalho em que o aluno é esse protagonista, o professor
precisa ser:
• Organizador da aprendizagem: para desempenhá-la, além de
conhecer as condições socioculturais, expectativas e compe-
tência cognitiva dos alunos, precisará escolher o(s) problema(s)
que possibilita(m) a construção de conceitos/procedimentos e
alimentar o processo de resolução, sempre tendo em vista os
objetivos a que se propõe atingir.
122
• Consultor: para fornecer as informações necessárias, as quais o
aluno não tem condições de obter sozinho.
• Mediador: promover a confrontação das propostas dos alunos,
ao disciplinar as condições em que cada aluno pode intervir para
expor sua solução, questionar, contestar. Nesse papel, o professor
é responsável por arrolar os procedimentos empregados e as
diferenças encontradas, promover o debate sobre resultados e
métodos, orientar as reformulações e valorizar as soluções mais
adequadas. Ele também decide se é necessário prosseguir o
trabalho de pesquisa de um dado tema ou se é o momento de
elaborar uma síntese, em função das expectativas de aprendi-
zagem previamente estabelecidas em seu planejamento.
• Controlador: ao estabelecer as condições para a realização das
atividades e fixar prazos, sem esquecer de dar o tempo necessário
aos alunos.
• Incentivador da aprendizagem: ao estimular a cooperação entre
os alunos, tão importante quanto a própria interação adulto/
criança. A confrontação daquilo que cada criança pensa com
o que pensam seus colegas, seu professor e demais pessoas
com quem convive é uma forma de aprendizagem significativa,
principalmente por pressupor a necessidade de formulação de
argumentos (dizendo, descrevendo, expressando) e a de compro-
vá-los (convencendo, questionando).
123
Nessa perspectiva, devemos romper com a lógica já naturalizada nos
espaços escolares há séculos e que está a serviço do mero controle, da classi-
ficação e da seleção de alunos. Essa lógica indesejada tem como principal
característica o uso de notas (ou conceitos), usadas como moedas de troca
mediante a apresentação adequado do trabalho do aluno (cujo critério
principal é a reprodução daquilo que lhe foi apresentado). É também instru-
mento de coerção, para impor os comportamentos desejados e controle da
disciplina, estabelecendo uma relação de mando e subordinação. Essa lógica
de avaliação se conforma no período da industrialização, quando o currículo
escolar foi fragmentado, fazendo com que as práticas escolares afastassem
os processos de aprendizagem da vida real (artificializando a aprendizagem
e tornando-a sem significado). Essa avaliação era realizada em momentos
pontuais e dava o veredicto sobre a possibilidade ou não de os alunos
avançarem em seus processos de escolarização. É nesse contexto que surge
o processo de avaliação, cujas marcas permanecem até hoje (FREITAS, 1991;
FREITAS, 2003).
Para a personalização do ensino, assim como qualquer processo de
ensino que envolva as metodologias ativas, essa lógica de avaliação visa, em
detrimento da mera atribuição de notas e conceitos, ao aprimoramento das
ações que levam à melhor resolução de problemas e maior aprendizagem.
Mesmo assim, ela pode ser considerada diagnóstica, formativa e somativa
(HADJI, 1994).
A avaliação na modalidade diagnóstica fornece informações importantes
para as ações e tomada de decisões em relação aos alunos, nas fases iniciais
do trabalho (e até mesmo em cada uma das diferentes etapas que requerem
informações diferentes). Essas informações são importantes para que o
professor possa evitar que alguns alunos dominem o trabalho em grupo,
enquanto outros se submetem a esse domínio. Perceba que a personalização
do ensino perpassa pelas relações no trabalho em grupo, para que o ensino
seja equitativo.
124
aula pode refletir o mundo do pátio da escola, embora a
tarefa seja acadêmica e não tenha nada a ver com brinca-
deiras ou com a vida social. (COHEN; LOTAN, 2017, p. 31)
125
usadas com instrumento de avaliação quaisquer práticas pedagógicas como
as pesquisas, estudos de casos, resolução de exercícios ou de problemas, assim
como também dramatizações e dinâmicas de grupos, que podem fornecer
preciosas informações sobre os aspectos cognitivos e socioemocionais
dos alunos.
Você deve ter percebido as implicações de uma inovação educacional que
leve os alunos a efetivamente aprender.
O uso das metodologias ativas é essencial para uma inovação educacional
que tem como propósito a aprendizagem dos alunos. No entanto, por ela
abarcar um conjunto de elementos que se unem formando uma complexa
rede, a aprendizagem criativa e colaborativa levará ao desenvolvimento das
competências e habilidades desejadas somente se os alunos conseguirem
de forma autônoma se responsabilizar pelo seu processo de aprendizagem
individual. É nesse elemento que a personalização do ensino se mostra como
um traço essencial nesse processo e que depende também da ação avaliativa
do professor e da forma como ele dá o feedback a seus alunos.
Você deve ter percebido que está nas relações entre professor, aluno e
ambiente de aprendizagem a possibilidade do estabelecimento de uma nova
cultura de aprendizagem.
126
O primeiro seria o uso desses recursos orientados pelos valores da cultura
de aprendizagem vigentes, em que todos os alunos devem cumprir as mesmas
tarefas, no mesmo tempo, usando esses recursos e, ao final, seriam avaliados
segundo os mesmos parâmetros, tendo implícito e sendo o certo aquilo que o
professor, a priori, considera certo. Esse caminho representa apenas uma nova
roupagem do ensino convencional dada pelos novos recursos, de maneira tal
que os valores são conservados.
O segundo traz a possibilidade da negociação entre professor e aluno,
que começa com a especificação do objetivo pedagógico do trabalho seguido
de seu planejamento e execução do plano elaborado. A avaliação feita pelo
professor não é usada para apontar o certo e o errado, com propósito conclu-
sivo e de finalização. Ao contrário, a avaliação é feita para que professor e
aluno possam aprimorar os processos pelos quais são responsáveis, nos
quais o erro é tido como uma oportunidade de reflexão para a melhora, e
um objetivo não cumprido não será visto como “objetivo não cumprido”, mas
sim “objetivo não cumprido ainda”. Dessa maneira, o erro não será demar-
cado como “está errado, o certo é assim”. O erro será demarcado como “por
que não deu certo ainda? O que seria o certo? O que deve ser feito para esse
certo ser atingido?”
Obviamente, quando o certo foi mais brevemente atingido, não signi-
fica que a tarefa educacional foi cumprida. Ela pode ser ainda aprimorada,
ou indicar um problema, pois alguns a cumpriram e outros não. A escola
deve ser vista como sendo um lugar em que a tarefa educacional é cumprida
somente quando todos os alunos da turma conseguiram chegar ao mesmo
objetivo. Serão essas duas frentes que levarão ao ensino equânime.
E sendo a equidade a palavra-chave nesse processo, o ensino não pode ser
igual para todos. Deve ser ofertado um ensino que, como dito anteriormente,
respeite os ritmos e as necessidades de cada aluno. A oferta de um ensino
com essas características representa a sua personalização.
Para isso, os recursos digitais, com a adoção do ensino híbrido, permitem
a necessária flexibilização do tempo e do acesso aos recursos necessários a
cada aluno. Escolas que conseguem flexibilizar seu currículo (conteúdos,
tempos, espaços e metodologias) poderão ser reconhecidas como escolas
inovadoras nessa perspectiva. No entanto, as que não conseguirem essa
flexibilização, com os recursos digitais disponíveis, professores com a devida
formação e acesso a esses recursos, também poderão ter suas práticas consi-
deradas inovadoras. Ainda que não sejam tecnológicas, pensar em persona-
lização do ensino envolve romper com as metodologias tradicionais, tendo
como foco o ritmo de aprendizagem e os interesses de cada um de seus alunos.
Como exemplo podemos citar as escolas que se baseiam no desenvolvimento
127
curricular, em projetos de pesquisa. Os estudantes possuem um currículo
a ser cumprido, no entanto, a gestão do tempo e a definição dos projetos
nos quais estarão engajados envolve uma negociação entre estudantes
e professores.
1. Por muito tempo acreditou-se que o ideal e mais justo seria um processo
educativo que garantisse que todos os alunos fossem tratados da mesma
maneira, afinal, igualdade é um direito de todos.
De acordo com essa afirmação, estabeleça a relação entre as seguintes asser-
ções:
I. No entanto, mais recentemente essa crença tem sido questionada, e
esse processo de ensino igualitário tem se tornado um problema.
PORQUE
II. Efetivamente cada aluno tem o seu ritmo e forma próprios de
aprender, podendo ser diferente dos demais.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
128
b. O trabalho em equipe que explore as potencialidades e necessidades
dos alunos, que em geral são comuns.
c. O ambiente de aprendizagem deve permitir que alunos e professores
tenham, com base na negociação, autonomia para desenvolver o
processo de ensino e de aprendizagem.
d. O papel do professor é importante porque ele é o profissional que,
devido à sua formação e experiência, deve escolher os melhores
caminhos para que o aluno aprenda.
e. A incorporação dos recursos tecnológicos é necessária para o aluno
aprimorar o acesso à informação atualizada.
129
d. Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
e. Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
130
Seção 2
Diálogo aberto
Nesta seção, focaremos em dois conceitos importantes, os quais permitem
a operacionalização da personalização do ensino no âmbito dos recursos
digitais e a exploração do ensino on-line, que são a aprendizagem adaptativa
e o design de aprendizagem.
A aprendizagem adaptativa ocorre quando o aluno percorre uma deter-
minada rota personalizada de aprendizagem, composta por tarefas previa-
mente elaboradas, definidas em função de seu perfil e de suas necessidades
para o cumprimento de determinados objetivos pedagógicos. Dentro desses
conceitos, as tarefas selecionadas para as rotas personalizadas de aprendi-
zagem podem ou não ser desenvolvidas nos próprios momentos das aulas,
assim como em período complementar. Da mesma forma, podem ou não
usar recursos digitais.
No entanto, é importante lembrar que os recursos digitais são potentes
para o cumprimento dos propósitos associados à personalização do ensino,
uma vez que eles favorecem a flexibilização do tempo, dos espaços e dos
objetos de conhecimento necessários para cada aluno, ou para um grupo
específico e particular de alunos. Esses recursos digitais facilitam a pesquisa
e melhoram a qualidade, a comunicação e a publicação de informações, além
da possibilidade de serem feitas simulações e exploração de jogos digitais,
entre muitas outras alternativas metodológicas.
Assim, nosso propósito é ampliar o seu conhecimento acerca dessas
possíveis formas de se trabalhar com a personalização do ensino, por meio
das ideias relacionadas à aprendizagem adaptativa, aos sistemas adaptativos
(plataformas adaptativas) e ao design de aprendizagem, as quais, mesmo
sendo comumente usadas em cursos eminentemente on-line, podem ser
transpostas para o ensino presencial ou para aqueles que usam um dos
modelos do ensino híbrido.
Porém, antes de trabalharmos com esses dois conceitos, outro muito
importante para você, que em breve será pedagogo, é o entendimento do
letramento digital e suas relações no campo educacional. Em seguida, as
plataformas adaptativas serão exploradas, para que você conheça, assim
como todo recurso didático, suas potencialidades e limitações nesse contexto
da personalização do ensino.
131
Figura 3.4 | Infográfico da seção
PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO
POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM INDIVIDUALIZADA
LETRAMENTO DIGITAL
PLATAFORMA ADAPTATIVA
Certamente, ao final desta seção, você estará ainda mais apto para ser um
professor inovador e criativo.
A seguir, encontra-se uma situação-problema criada para elucidar uma
hipotética situação que todo professor, mesmo com pouca experiência, já
viveu, ou que, certamente, depois de formado, vivenciará.
Imagine-se em uma sala de aula, na qual você observou alguns poucos
alunos com um desenvolvimento da aprendizagem em um nível inadequado,
isto é, o desempenho das habilidades cognitivas e socioemocionais deles está
aquém do patamar previsto para o momento. Em uma conversa com a coorde-
nação pedagógica da escola, vocês reconheceram que eles têm um ritmo de
aprendizagem diferenciado em relação aos demais e concluíram que o uso de
alguns recursos digitais permitiria, diante das facilidades e dificuldades de
cada um, estabelecer rotas alternativas e individuais de aprendizagem.
Então, a coordenadora pediu para que você elaborasse alguma proposta,
para que esses alunos estabelecessem uma rota personalizada de aprendi-
zagem, usando a ideia da aprendizagem adaptativa.
132
Diante desse contexto, você se viu na necessidade de compreender como
desenvolver esse projeto de maneira que os estudantes saibam quais seriam
essas rotas e como poderiam saber quais conteúdos são adequados, consi-
derando que eles ainda não têm o conhecimento para a devida avaliação do
que lhes seria apropriado.
Perceba que, nesta situação-problema, você está diante de uma situação
que requer a aplicação da personalização do ensino, e o uso das plataformas
adaptativas pode ser um recurso bastante pertinente.
Para a sua melhor compreensão de tudo que será abordado nesta seção, é
importante que você se lembre de que, nesta disciplina, a personalização do
ensino é importante para que os alunos, em um contexto de ensino em que
metodologias ativas estão sendo usadas, possam trilhar caminhos especí-
ficos, os quais os permitam aprender de forma individualizada, complemen-
tando o caminho que a turma, em comum, deve percorrer.
A personalização do ensino é uma das estratégias para que ele seja equita-
tivo, isto é, alunos com diferentes perfis e inseridos em contextos de vida
diferentes possam atingir o mesmo nível de aprendizado esperado para sua
turma em um determinado período letivo.
TAREFAS ESPECÍFICAS
PARA O ALUNO A
TAREFAS ESPECÍFICAS
PARA O ALUNO A
133
Letramento digital
Antes de pensarmos sobre o letramento digital e, posteriormente, sobre
a importância desse conceito para as inovações educacionais, é necessário
delimitarmos o que é letramento e, somente depois, as implicações de
adicionar o termo digital.
O conceito de letramento tem sido desenvolvido em forte conexão com
o de alfabetização, mas sempre se buscando o discernimento entre eles.
Atualmente, buscar uma definição para o conceito de letramento é uma tarefa
minimamente inadequada, um vez que são diversas as definições existentes,
sobretudo diante do número de áreas de pesquisa e de aplicação existentes,
mesmo no interior daquelas inerentes à educação e relacionadas às práticas
de leitura e escrita.
Para o nosso trabalho, entendemos que uma pessoa deixa de ser analfa-
beta quando ela passa a saber ler e escrever, independentemente da forma
com que ela aprendeu e da forma como o faz. É uma definição muito simplista
de entender a alfabetização, que deixa de lado, para os nossos propósitos aqui,
as implicações no analfabetismo funcional.
Com essa ideia sobre alfabetização, a pessoa que sabe ler e escrever
domina as técnicas de leitura e escrita, mas esse fato não significa que ela será
capaz de compreender textos mais complexos, como um contrato, da mesma
maneira que compreende uma placa de sinalização. Logo, uma pessoa que lê
um contrato tem um nível de letramento maior do que aquela que é capaz de
apenas ler a placa de sinalização.
O nível de letramento que uma pessoa se encontra determina o quanto
ela pode atuar na sociedade e o quanto esta pode influenciá-la. Além disso,
reconhecer que a evolução desse nível de letramento ocorre de maneira
contínua, e não em degraus, permite compreender a maneira pela qual esse
desenvolvimento ocorre e que é influenciado pela inserção social e cultura
dessa pessoa.
Uma consequência importante dessa influência para nós está no fato de
que o letramento está sempre em desenvolvimento, porque a sociedade está
sempre expandindo e diversificando suas formas de ler e escrever, assim como
modificando ou substituindo os meios por onde a leitura e a escrita ocorrem.
Os avanços tecnológicos e digitais e a facilidade de acesso aos recursos
digitais tornaram a leitura e a escrita presentes em e-mails, fóruns, chats,
blogs, páginas de internet, sites de busca, entre outros, que seguem uma lógica
diferente dos livros e das cartas, como ocorria até meados da década de 1990
no Brasil.
134
Diante desse contexto, os desafios educacionais se limitavam a alfabe-
tizar e melhorar o nível de letramento, porém, agora, é necessário também
melhorar o nível de letramento digital.
Freitas (2010) traz duas diferentes modalidades de definição para o
letramento digital, classificando-as em restritas e amplas. Ela entende que
as definições restritas são aquelas mais instrumentais, porque desconsi-
deram o contexto sociocultural, histórico e político inerente ao conceito
e ao processo, enquanto que as definições amplas consideram, além do
processo de apropriação das técnicas de uso dos recursos digitais, o pensa-
mento crítico sobre essa apropriação e uso, tornando o letramento digital
semelhante ao desenvolvimento da aprendizagem sobre o discurso ou sobre
uma nova língua.
Reconhecer essas duas modalidades sobre a definição de letramento digital
permitirá a você, enquanto professor, reconhecer se sua ação pedagógica está
se limitando ao ensino do uso das ferramentas ou está também permitindo
que seus alunos desenvolvam o uso crítico e ético dessas ferramentas.
Exemplificando
Para Freitas (2010), são exemplos de:
a. Definições restritas:
• Letramento digital é definido como “usar a tecnologia digital,
ferramentas de comunicação e/ou redes para acessar, gerenciar,
integrar, avaliar e criar informação para funcionar em uma socie-
dade de conhecimento”, conforme a definição do relatório Digital
Transformation (apud FREITAS, 2010, p. 214).
• Letramento digital é entendido como uma série de habilidades
que requer dos indivíduos reconhecer quando a informação faz-se
necessária e ter a habilidade de localizar, avaliar e usar efetiva-
mente a informação necessária, de acordo com a definição elabo-
rada pela Association of College & Research Libraries (2000).
b. Definições amplas:
• Letramento digital se constitui como “uma complexa série de
valores, práticas e habilidades situados social e culturalmente
envolvidos em operar linguisticamente dentro de um contexto
de ambientes eletrônicos, que incluem leitura, escrita e comuni-
cação” (SELFE, 1999, p. 11 apud FREITAS, 2010, p. 238).
• Indicando as competências básicas para o processo de letra-
mento digital, Gilster (1997 apud FREITAS, 2010, p. 247) formula
a definição: “habilidade de entender e usar informação em
formatos múltiplos de uma vasta gama de fontes quando esta é
apresentada via computadores”.
135
É importante que você compreenda a importância dessas definições, para
que perceba que alguns se apropriaram das técnicas necessárias para acessar
esses novos recursos digitais de comunicação, os quais requerem práticas de
leitura e escrita, além do desenvolvimento ou não de uma crítica, favorecendo
um maior nível de letramento e de letramento digital. Entretanto, também
há outros sem acesso a esses recursos, sendo excluídos da sociedade contem-
porânea, porque muitas das práticas sociais são mediadas por tais recursos.
Reflita
Imagine estes diferentes ambientes cotidianos:
a. Escolas ou instituições de Ensino Superior já disponibilizam ambientes
virtuais de aprendizagem (AVA), sistemas on-line para a organização
pedagógica e administrativa.
b. Quase podem ter e-mails ou outros aplicativos para se comunicar, acessar
blogs ou sites de buscas para a realização de pesquisas, consultar livros e
revistas científicas disponibilizados em bibliotecas virtuais.
c. Para se tornar cliente de um banco, fazer uma viagem de avião ou ônibus,
solicitar um carro em uma grande cidade, efetuar uma compra e-com-
merce gratuitamente na internet.
Como você avalia o seu nível de letramento em cada um desses
contextos?
136
Não menos importante é perceber três outros possíveis fenômenos. O
primeiro se refere àqueles que, mesmo tendo um bom nível de letramento,
podem ser incluídos nessa categoria de excluídos digitais; o segundo se refere
àqueles que não dominam as técnicas de letramento, são os duplamente
excluídos, formando outra categoria; e o terceiro fenômeno pode ser obser-
vado quando um determinado nível de letramento digital não necessaria-
mente melhora o nível de letramento.
Assimile
Uma criança ou uma pessoa analfabeta pode não saber escrever, mas
sabe, por exemplo, que há algo em destaque nas manchetes dos jornais
ou sobre o que um site se refere.
Tal como ocorre no uso de escrita em livros para crianças pequenas
ou receitas culinárias, a linguagem imagética ou iconográfica pode
comunicar.
As pessoas podem, mesmo não sabendo ler e escrever, reconhecer a
diferença entre um manual e uma bula.
Reflita
Com base em sua experiência pessoal, qual é o seu nível de letramento
digital? E em qual nível você colocaria as escolas pela qual você tem ou
teve alguma relação, seja ela direta ou indireta?
Aprendizagem adaptativa
Dentro desse escopo que estamos analisando nesta seção, o qual olha
para a personalização de ensino, a aprendizagem adaptativa pode ser
entendida como sendo aquela que ocorre quando a metodologia de ensino
adotada utiliza os recursos digitais, visando às necessidades educacionais de
cada aluno.
137
A aprendizagem adaptativa é uma abordagem inerente aos ambientes
virtuais via web. Ela está associada a sistemas de ensino adaptativo (plata-
formas adaptativas), nos quais a apresentação dos conteúdos é feita de maneira
personalizada, para que cada aluno tenha acesso às tarefas mais adequadas
ao seu perfil, nível de conhecimentos, competências e habilidades. Assim,
essa proposta substitui aquela na qual o professor seleciona tarefas padroni-
zadas e iguais a todos os seus alunos. Para a mais adequada adaptação dessas
tarefas, esses sistemas adaptativos se caracterizam pelo constante processo de
avaliação, de maneira que ele possa selecionar, quase que constantemente, a
tarefa ou um conjunto de tarefa que será proposto aos estudantes.
Segundo Dorça et al. (2011), o processo de personalização desses
sistemas considera os objetivos de aprendizagem, o nível de conhecimento,
os interesses, as preferências, os estereótipos, as preferências cognitivas e os
estilos de aprendizagem como as principais características dos alunos.
Como você pode observar, são os mesmos critérios que são usados (ou
deveriam ser) em qualquer método de ensino que considera as individuali-
dades dos alunos. No entanto, nesses sistemas adaptativos, a seleção é previa-
mente definida por aqueles que o projetam e o produzem.
Não se pode deixar de considerar que, apesar de esses sistemas garantirem
uma significativa personalização, eles têm uma limitação no número de rotas
personalizadas de aprendizagem imposta pelo inevitável limite de tarefas. Tal
limitação também ocorre pelo possível número de questões presentes nos
instrumentos que buscam identificar as características dos alunos, e ela tem
sido diminuída graças à aplicação de processos estocásticos e de sistemas
com inteligência artificial.
Apesar de tais limitações, não se pode deixar de considerar que a corre-
lação entre o estilo de aprendizagem do aluno e a metodologia de ensino
selecionada em função desse estilo têm forte influência na aprendizagem
(COFFIELD et al., 2009) e, por isso, é importante conhecer os limites e as
possibilidades desses sistemas adaptativos.
Design de aprendizagem
O design de aprendizagem, ou learning design, como é conhecido na
literatura internacional, nada mais é do que um método bastante prescritivo
de realizar o planejamento de uma sequência de tarefas para o cumprimento
de um objetivo pedagógico. Consiste em definir cada uma das partes de um
projeto educacional e, depois, elas podem ser subdivididas ou detalhadas.
138
É importante ter em mente que o design de aprendizagem é um termo
trazido do learning design, o qual, por sua vez, possui muitas definições. Para
Phillip e Dalziel (2004), é um conjunto de conceitos inerentes às pesquisas e
aos trabalhos realizados na corrente teórica do e-learming, ou seja, ele tem
suas raízes na aprendizagem que ocorre por meio da internet. No entanto, as
técnicas existentes no design da aprendizagem também têm sido muito usadas
na elaboração de programas de treinamento coorporativos e técnicos quando
se tem um objetivo de formação claro e objetivo, mas tem sido no campo da
produção de cursos on-line que esse conceito encontrou um terreno fértil
para sua aplicação, dadas suas características eminentemente algorítmicas.
Vocabulário
De acordo com Polya (1945 apud POZO, 1998, p. 24), após termos
compreendido o problema, devemos conceber um plano que nos
ajude a resolvê-lo. Em outras palavras, devemos nos perguntar qual
é a distância entre a situação da qual partimos, a meta que preten-
demos chegar e quais são os procedimentos mais úteis para diminuir
essa distância. Polya e outros autores distinguem entre procedimentos
“estratégicos” ou “heurísticos” e outros procedimentos de solução de
problemas, tais como “regras”, “algoritmos” ou “operadores”. Enquanto
esses últimos procedimentos se constituem em conhecimentos adqui-
ridos que permitem transformar a informação de maneira fixa, eficaz e
concreta, embora possam ser utilizados num grande número de situa-
ções, as “estratégias” ou procedimentos “heurísticos” guiam a solução
de problemas de uma forma muito mais vaga e global. Geralmente, os
planos, as metas e as submetas que o aluno pode estabelecer em sua
busca durante o desenvolvimento do problema são denominados estra-
tégias, e os procedimentos de transformação da informação requeridos
por eles são denominados regras, algoritmos ou operações.
139
área), o objetivo pedagógico a ser atingido (performance desejada), a experi-
ência e o conhecimento do aluno. Basicamente, o design de aprendizagem
pode ser considerado um roteiro para a elaboração de cursos que requerem
uma predefinição de sequências de ensino, e ele consiste em:
a. Um diagnóstico, o qual permite analisar as características do aluno,
o que ocorre pela definição de indicadores de performance que se
desejam alcançar, também usados para orientar a avaliação inicial.
Outros indicadores são definidos para obter as características dos
alunos. Nessa fase, é importante conhecer o que os alunos pensam e
sentem em relação ao projeto que estão envolvidos.
b. Definição do objetivo de aprendizagem, tomando como referência a
distância entre onde o aluno está e onde se deseja estar ao final do
curso em que o design de aprendizagem esteja sendo usado.
c. Definição das tarefas, explicitando o conhecimento necessário para
a sua realização e aquele que se pretende construir durante sua reali-
zação.
d. Para cada tarefa, deve ser feito:
– O dimensionamento do tempo necessário para sua realização.
– A relação dos recursos e materiais necessários.
– A descrição das estratégias de ensino que serão empregadas,
tanto para resgatar ou rever os conhecimentos necessários
quanto para o desenvolvimento dos novos conhecimentos.
– A descrição das estratégias para a sistematização dos conhe-
cimentos construídos e para o exercício de metacognição.
Como você percebeu, essa estrutura pode ser usada em cursos presen-
ciais, semipresenciais (ensino híbrido) ou puramente virtuais, em sistemas
adaptativos ou não.
Plataforma adaptativa
A plataforma adaptativa surgiu para oferecer o conteúdo necessário para
cada aluno, mas eliminando aquilo que é desnecessário para ela. Assim,
possui uma oferta de conteúdos e informações muito mais flexível do que,
por exemplo, um livro didático ou um documentário em vídeo, cujos conte-
údos são fixos e iguais para todos os alunos. Logo, são sistemas adaptativos,
também conhecidos, que tornam possível a aprendizagem adaptativa.
Quando os alunos entram em plataformas desse tipo, tudo aquilo que
por ele é feito, assim como a forma pela qual eles progridem nos cursos que
140
estão acessando, elas rastreiam e armazenam todas as informações, permi-
tindo identificar suas características. Essas características serão usadas pela
equipe do design da aprendizagem, para que ela possa elaborar, propor e
produzir as tarefas mais adequadas a eles em função de suas necessidades e
metas pedagógicas. Portanto, torna possível um ensino personalizado ou a
elaboração de uma rota personalizada de aprendizagem.
Essas tarefas podem ser simples e de curta duração, assim como mais
complexas e que demandam mais tempo para sua elaboração. O grau de
complexidade e o período necessário para sua elaboração são definidos em
função das características do aluno, identificadas pelo sistema e complemen-
tadas por instrumentos de avaliação.
Algumas plataformas têm recursos que as permitem, diante de um mesmo
conteúdo, diversificar as estratégias de ensino, por exemplo, sugerir uma lista
de perguntas para orientar a leitura de um texto ou a sugestão de um jogo
digital. A seleção dessa estratégia é feita não apenas com base no conteúdo ou
nos conhecimentos do aluno, mas pela forma que ele mais aprende.
Outra possibilidade encontrada nas atuais plataformas adaptativas é a
apresentação, para cada aluno, dos resultados conseguidos nas avaliações, de
maneira que ele pode decidir sobre quais tópicos ou conteúdos deve dedicar
maior tempo e atenção.
Essas informações sobre os resultados e o desempenho dos alunos
durante os processos por eles desenvolvidos são disponibilizadas para os
professores, para que eles saibam quais foram os conhecimentos e as habili-
dades não desenvolvidos.
Quando os professores identificam que alguns alunos têm as mesmas
dificuldades ou precisam desenvolver os mesmos conhecimentos, podem
também sugerir o trabalho em grupo nessas plataformas.
Em algumas plataformas, é possível encontrar recursos que oferecem
tarefas para que os familiares possam desenvolver com seus filhos em suas
próprias casas.
141
Historicamente, as práticas educacionais foram se adaptando às demandas
sociais, definidas predominantemente pelos vieses econômicos, tal como
ainda acontece atualmente.
Todos esses recursos digitais, cada vez mais aprimorados pelos ainda
constates e rápidos avanços tecnológicos, têm o potencial para dar conta da
complexidade inerente aos processos educacionais (sobretudo, os de ensino
e aprendizagem), mas, ao mesmo tempo, por conta dos processos algorít-
micos, podem tender a eliminar essa complexidade, levando a uma rede de
tarefas muito simplificadas, caracterizando, assim, uma nova aparência para
um ensino ainda prescritivo.
Feito esse alerta, é importante salientar o outro lado dessa moeda: os
recursos podem também ajudar como também podem adquirir um sentido
contrário ao de um ensino meramente prescritivo, tal como ocorre nas
propostas de ensino que usam as metodologias ativas.
Enfim, cada vez mais, há maiores possibilidades de uso dos recursos
digitais, os quais, quando confrontados com as dificuldades, permitem e
exigem o uso da criatividade para que as inovações ocorram.
142
tiveram dificuldades, as quais poderiam classificadas em quatro diferentes
grupos. Diante disso, ele organizou a sala em grupos, tomando como critério
as habilidades dos alunos, e escolheu o modelo de rotação de estações, uma
para cada dificuldade. O professor, portanto, usou de uma estratégia que
pode ser considerada uma proposta de recuperação desenvolvida no próprio
momento de aula.
Esses dois exemplos podem ser entendidos como possíveis respostas à
situação-problema hipoteticamente criada, mas que nada tem de semelhante
com aqueles modelos de recuperação nos quais o professor relaciona os
alunos que não atingiram uma determinada nota ou conceito, convoca-os
para uma aula em período complementar no mesmo modelo da aula regular
e solicita a todos a resolução de uma mesma lista de exercícios. Esse exemplo
é também considerado por muitos uma forma de recuperação, e como todos
provavelmente sabem, com base em sua experiência, tem sido pouco eficaz.
Mas, por que essa forma de proposta de recuperação tem sido pouco
eficaz? Há muitas respostas possíveis, uma vez que são diversos os fatores que
interferem nesta eficácia. No entanto, uma das possíveis respostas é porque,
nesta última situação utilizada como exemplo, não houve um processo de
personalização do ensino, o qual pode ser notado nas duas primeiras situa-
ções. Analisando-as, percebemos que as tarefas foram escolhidas tomando
como referência as dificuldades específicas dos alunos e as suas caracterís-
ticas pessoais, visando ao cumprimento de um objetivo pedagógico. Logo,
podemos considerar que esse foi um processo adaptativo e que propiciou
uma aprendizagem adaptativa. Além disso, em ambas as situações, o professor
identificou as necessidades do aluno, estabeleceu um objetivo pedagógico,
definiu estratégias específicas, determinou um tempo e alocou os recursos
necessários para o cumprimento de tarefas previamente estabelecidas. Então,
podemos dizer que, de alguma forma, esse professor usou de uma técnica de
design de aprendizagem.
As duas primeiras situações foram escolhidas para que você perceba que,
muitas vezes, são atribuídos novos termos a práticas que não são tão novas
assim, logo, por si só, o uso de novas nomenclaturas não deve determinar
uma inovação educacional. Ao mesmo tempo, caso a implementação dessas
técnicas leve a resultados diferentes e desejados, uma inovação ocorreu,
independentemente da técnica ou nomenclatura aplicadas.
De fato, a possibilidade do uso dos recursos digitais amplia considera-
velmente o leque de opções para o professor e para o aluno, e dentre esses
recursos estão as plataformas adaptativas, as quais estão se popularizando e
ficando cada vez mais sofisticadas, graças aos constantes avanços tecnológicos.
143
Como vimos nesta seção, o uso dos recursos digitais requer um adequado
nível de letramento digital de professores e alunos, sendo, portanto, um
conhecimento necessário, que, quando não está consolidado, deve ser
construído. O letramento digital deve superar o limite do conhecimento, do
uso e da aplicação das técnicas ou recursos digitais. É fundamental que uma
crítica sobre ele seja feita. Além disso, será com o adequado nível de letra-
mento que a criatividade de alunos e professores poderá consolidar propostas
de inovação, para que a finalidade maior da educação seja cumprida: a apren-
dizagem dos alunos.
144
ocorrer, os alunos devem acessar sistemas adaptativos, atualmente conhe-
cidos no Brasil como plataformas adaptativas. Elas são acessadas via web
(internet) e possuem um sistema computacional que, com base em dados
coletados sobre os alunos, sugere tarefas específicas a eles.Texto.
Dentre as alternativas a seguir, assinale a única que indica conter dados
adequados sobre o aluno para a melhor eficiência da plataforma adaptativa:
a. Todos os estudantes têm acesso à internet e a computadores configu-
rados para o uso dessas plataformas.
b. Todos os estudantes têm acesso a internet, mas faltam computadores
configurados para o uso dessas plataformas.
c. Os estudantes não têm acesso a internet, mas os computadores estão
configurados para o uso dessas plataformas.
d. Universalizar o acesso para que todos os estudantes tenham compu-
tadores adaptados e acesso à internet ainda é um desafio no Brasil.
e. A partir de feedbacks adequados, o estudante poderá utilizar plata-
formas adaptativas sem receios.
3.
I. Muitas pesquisas mostram que, de acordo com sociólogos, o conceito
de letramento, enquanto um processo de aquisição da aprendizagem
de uma língua, pode ser transposto para o letramento digital
PORQUE
II. Letramento digital implica, além do uso dos recursos digitais, inter-
pretar, compreender, produzir informações e se relacionar, com
pensamento crítico e ético, no mundo virtual.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
145
Seção 3
Diálogo aberto
Nesta seção, além de mostrar como você pode se atualizar para acompa-
nhar os avanços das tecnologias digitais, temos o objetivo de explicitar o
quanto os avanços das tecnologias digitais já inovaram em inúmeras práticas
sociais, graças à intermediação dos recursos digitais e, com isso, garantir sua
percepção da importância em incorporá-las nas práticas escolares.
Imaginamos que já esteja muito claro para você que, na atual sociedade
da informação, os recursos digitais fazem a mediação em quase todas as suas
práticas sociais. No entanto, mesmo com essa inovação, os processos comuni-
cacionais continuaram presentes, afinal, não há interações sem eles.
Mas, lembre-se de que os passos iniciais da migração para essa cultura
digital não foram tranquilos para todos. Os computadores, sobretudo com
sua popularização vinda com a microinformática e com a internet, mudaram
nossa forma de organização e até mesmo nossa noção de tempo. Tudo isso
deve ser objeto de ensino e de aprendizagem, considerando que, provavel-
mente, nosso maior tempo de leitura é em telas, e não mais em papel. Outro
aspecto a ser considerado está no fato de que, da mesma maneira que é muito
fácil entrar em alguma plataforma, independentemente de nossa finalidade
– pesquisa, compra ou fazer uma reclamação de um produto ou serviço –, é
igualmente fácil desistir desse acesso.
Por isso, todos os profissionais que trabalham no planejamento e na
produção dessas plataformas ou páginas de internet, incluindo aquela ligadas
à educação, devem se preocupar em garantir que o usuário tenha interesse
em acessar o objeto digital, seja ele qual for, e concluir a tarefa que o levou ao
seu acesso.
Como fazer isso? Alguma vez você já se percebeu hipnotizado, ou
minimamente atraído, para permanecer em algumas dessas páginas de
internet ou aplicativos? Se isso aconteceu, você acha que esse fenômeno é
uma mera coincidência ou é o resultado esperado por alguém que pensou em
estratégias e as implementou para que isso acontecesse? É isso mesmo! Essas
estratégias são elaboradas por uma área ligada à administração de empresas,
ou ao marketing, mas têm sido aprimoradas graças aos avanços dos recursos
tecnológicos. Trata-se de uma área igualmente interessante para a educação,
como pretendemos mostrar neste espaço.
146
Para concretizar nossa pretensão, imagine uma situação-problema,
na qual você foi contratado por uma escola, onde todas as turmas deverão
desenvolver projetos que usem os avanços dos recursos tecnológicos digitais,
promovendo interações multimodais ou multimídias. Nesse projeto, seus
alunos terão que modernizar seus registros com textos escritos e falados e
com imagens estáticas e dinâmicas, tal como já fazem muitos repórteres,
pesquisadores, alunos e professores.
Você sabia que, para as produções serem reconhecidas nesses meios
digitais, elas precisam ter reputação, autoridade e popularidade? Como
conseguir isso, reconhecendo a complexidade e a individualidade dos futuros
leitores dessas produções?
Os meios usados na internet, muitas vezes, parecem colocar os aspectos
normativos da linguagem em segundo plano, dado o fato de usarem outras
formas semióticas ou adotarem uma forma abreviada para a escrita.
Nesta seção, você encontrará informações que permitirão saber se esses
aspectos normativos realmente estão sendo colocados em segundo plano,
se isso deve acontecer e, ainda, se isso é apenas mais uma das formas de
evolução da linguagem que sempre existiu na história da humanidade. Nela,
você perceberá que muitas das propostas feitas atualmente, apesar de não
serem novidade, tornaram-se inovadoras por estarem associadas aos recursos
tecnológicos digitais, permitindo seu uso inovador em muitas das práticas
sociais, graças ao vertiginoso aumento da capacidade de armazenamento e
processamento de dados, assim como da taxa de velocidade de transmissão
desses dados.
Este material mostra como a user experience (UX) e os novos gêneros
digitais podem ser exemplos de um contexto em que essas não novidades se
tornaram inovações e devem ser ensinadas na sala de aula, para garantir um
uso criativo, empático, crítico e ético. Com a UX, tendo maiores informações
sobre os alunos, as propostas de ensino feitas pelo autor (seja ele um professor
ou um produtor de material ou recurso didático) têm uma tendência de ser
mais criativas, porque é necessária a produção de algo diferente e específico;
empático, porque é preciso estar no lugar do aluno; crítico, para efetivamente
romper com as propostas já existentes; e ético, para que as ações sejam condi-
zentes ao que é proposto.
Todos esses adjetivos levam as propostas a maiores níveis de personali-
zação de ensino em busca do ensino com equidade.
147
Não pode faltar
Exemplificando
Quando você deseja comprar um produto, você o escolhe por quais
critérios, além do preço e de sua finalidade?
Uma empresa que consegue atender aos critérios que você, enquanto
consumidor, escolhe, terá maiores chances de tê-lo como cliente.
148
Por exemplo, antes, no momento de fazer o check-out em um hotel, o
recepcionista fazia algumas perguntas ou entregava um questionário a ser
respondido pelo hóspede. Hoje, quando você chega em sua casa, recebe um
e-mail fazendo inúmeras perguntas, permitindo o melhor aprimoramento
dos serviços. Muitas vezes, essa insatisfação é decorrente, por exemplo, de
alguma demora (que agora significa aguardar alguns poucos segundos)
ou uma relação com a leitura, que se torna longa ou entediante (por isso, a
importância da linguagem imagética ou iconográfica).
Diante de qualquer acesso à internet, qualquer que seja sua finalidade, o
usuário espera que ele seja rápido e fácil. Essa facilidade depende da lógica
interna da organização do site, que permite o usuário navegar de forma intui-
tiva para chegar ao ponto que resolve e permita cumprir seu objetivo, por
exemplo, fazer uma compra, um agendamento ou uma pesquisa.
Logo, a UX coloca os critérios de satisfação do usuário no centro das
preocupações no desenvolvimento de um produto ou de um serviço, podendo
chegar a impactar toda a cadeia de suprimentos (também conhecida como
cadeia logística, ou supply chain) associada a esse produto ou serviço. Ou seja,
a principal meta é fazer que a experiência do cliente nessa interação permita
que ele cumpra o seu objetivo de maneira agradável e, com isso, continue a
usar o meio selecionado para futuras interações e o indique para outros.
No entanto, o termo do UX não deve se limitar aos sites e aplicativos,
tampouco ao trabalho de web designers. Segundo Nielsen e Norman (2014),
para que a experiência do usuário seja aquela desejada por ele, é necessário
um trabalho envolvendo diferentes áreas, como mostra o diagrama a seguir.
149
Figura 3.6 | Diagrama sobre a experiência do usuário
USER EXPERIENCE
DESIGN
ARQUITETURA DA ARQUITETURA
INFORMAÇÃO
CONTEÚDO
(TEXTO, VÍDEO,
SOM) DESENHO
INDUSTRIAL
FATOR
HUMANO
ESTÉTICA
PROJETO DAS
INTERAÇÕES DESIGN
DE SOM
INTERAÇÃO
HOMEM-COMPUTADOR
150
Você deve perceber o quanto a complexidade e a individualidade estão
presentes nesta proposta, porque ambas são inerentes aos seres humanos e,
portanto, as interações entre eles não são menos complexas, mediadas ou
não por meios virtuais, por isso, a UX permite perceber a diferença entre
os diversos estilos de personalidade, uma vez que eles estão associados aos
estilos de aprendizagem e à forma como os alunos interagem diante das
diferentes metodologias de ensino (MYERS; MYERS, 1997).
Trata-se, portanto, de um exercício de empatia, outro viés da implemen-
tação de propostas pedagógicas que usam a UX que é importante estar ciente.
Na comunicação interpessoal, a empatia é entendida como elemento central
para o bom relacionamento entre as pessoas, uma vez que ela promove a
compreensão e aceitação do outro (CALDEIRA; VEIGA, 2011). Isso é funda-
mental para os sistemas educacionais, porque a empatia surge em condi-
ções pré-determinadas, como a intenção de orientar a satisfação do outro.
A importância da UX nesse processo é conhecer e elaborar essas condi-
ções predeterminadas.
Levar em consideração essas questões permite otimizar as possibilidades
de aprendizagem dos alunos e, consequentemente, implica mais uma forma
de implementar a personalização do ensino.
Numa perspectiva de uso da UX em propostas de trabalho que envolvem
as metodologias ativas, suas etapas de desenvolvimento do trabalho, que são
bastante semelhantes às do design thinking, podem ajudar alunos e professores
a melhor identificar as soluções de um problema. Por isso, podem também
ajudar quando o maker space ou a metodologia STEAM forem usados.
De certa forma, estas etapas de uso da UX podem ser descritas da
seguinte forma:
1. Pesquisa: identificar e descrever o problema que se deseja resolver
após uma detalhada análise do contexto em que ele está inserido.
2. Ideação: definir alternativas para resolver o problema selecionado.
3. Prototipação: desenvolver um modelo para a resolução do problema.
4. Validação: verificar se o modelo desenvolvido é eficiente e eficaz a
ponto de gerar uma experiência agradável aos que se beneficiaram
com a solução proposta.
Diante disso, independentemente se a UX estiver sendo usada de maneira
associada a uma metodologia ativa ou em uma proposta para a personali-
zação do ensino, a pesquisa para a coleta de dados sobre o perfil das pessoas
que interagem com tudo aquilo que está sendo feito sempre é de fundamental
importância para orientar as ações e decisões.
151
Ainda considerando os conceitos da UX e o contexto em que os recursos
digitais têm mediado inúmeras das práticas sociais, como informar e
pesquisar, ou comprar e vender, os textos usados para estabelecer as formas
de comunicação também têm se modificado. Basicamente, essa modificação
permite dizer que os textos de gênero digital têm se tornado cada vez mais
comuns em detrimento do uso dos convencionais ou tradicionais.
Reflita
Pense em fazer qualquer coisa agora. Se ela não for mediada por algum
recurso digital, ela não poderia ser aprimorada com o uso deles?
Se você conseguiu chegar a uma reposta positiva, percebe a impor-
tância da UX e da presença de gêneros textuais para facilitar a comuni-
cação e a interação?
Assimile
Textos, sons e imagens são diferentes formas semióticas do texto, e os
gêneros digitais são todos aqueles que se desenvolveram e constante-
mente se desenvolvem em função de sua aplicação nos recursos digitais.
152
Você pode pensar que, por se tratar de gêneros textuais, a responsabilidade
de seu ensino deva recair sobre a área de linguagem. Esse seria um pensa-
mento equivocado, uma vez que eles estão presentes em qualquer processo
de resolução de problemas e, portanto, presentes em qualquer proposta que
envolva metodologias ativas.
Por suas características, de celeridade e dinamismo, os gêneros digitais
despertam o interesse dos alunos e, logo, tem um potencial que precisa ser
explorado pelos professores, tanto de maneira formal quanto de maneira
informal, para que os alunos aprimorem suas habilidades de escrita e leitura.
É importante ressaltar que o uso informal ou formal dos textos, seja no
momento da escrita ou da leitura, depende de sua finalidade e do contexto
onde está inserido. Assim, os gêneros digitais, por serem curtos, por vezes
com ortografia peculiar (fugindo da normalização), incluindo aspectos da
fala, precisam ser trabalhados nas salas de aula com atenção, com muito
critério de discernimento acerca da função social da escrita, pois não signi-
fica que um gênero social deva substituir o outro, e sim adequar o seu uso,
assim como está especificado na BNCC:
153
b. Blog, ou blogue: é uma página na internet, cuja característica é a
constante atualização de informações de forma acumulativa. Seus
autores mais comuns são pessoas conhecidas como blogueiros, que
usam esse espaço virtual para expressar suas opiniões, fundamen-
tadas cientificamente ou não; transmitir informações; fazer diários;
dar dicas técnicas. É um espaço com possibilidades de natureza mais
eclética quanto a criatividade e a intencionalidade dos seus autores
permitirem. É usado também por empresas e empresários para fins
comerciais, informacionais e institucionais. É marcado pela presença
predominante de textos.
c. Vlog: é uma derivação do blogue, no qual vídeos são usados no lugar
de textos escritos. A plataforma mais usada é o YouTube, mas há
outras também gratuitas. Como esses vídeos podem ser editados por
seus autores, eles têm sido os escolhidos pelos grandes influenciadores
digitais e também para finalidades educacionais.
d. Podcasts: são mensagens de áudio que abordam um assunto especí-
fico. Muitos deles são jornalísticos e instrucionais, mas há aqueles que
são para emitir opiniões. Muitas rádios convencionais, que passaram a
transmitir sua programação jornalística, tem produzidos os podcasts.
e. Memes: são mensagens na forma de textos muito curtos ou imagens,
ou ainda a combinação de ambos, que são usadas para satirizar algum
fato ocorrido, por vezes até distorcendo o próprio fato, para colocar
a perspectiva do humor. Um meme de sucesso é aquele que circula
rapidamente pela internet ou, na linguagem dos internautas, viralizou.
Há outros gêneros digitais que dependem da plataforma onde os textos
circulam, como os e-mails, chats, fóruns e salas virtuais.
154
Como conseguir isso, reconhecendo a complexidade e a individualidade
dos futuros leitores dessas produções?
Muitas são as possibilidades de aplicação dos dois conceitos centrais
desta seção: a user experience (UX) e os novos gêneros digitais. Apesar de
eles estarem mais associados aos cursos virtuais e à educação a distância,
podem ser facilmente aplicáveis em qualquer uma das metodologias ativas.
Por exemplo, a identificação de um problema é uma das primeiras etapas de
qualquer proposta de metodologia ativa.
Imagine que, para isso, seus alunos apliquem um questionário para a
identificação desses problemas. Pronto! Uma porta para o uso da UX está
aberta para eles. Como as soluções que eles encontraram efetivamente
solucionam o problema encontrado, ou qual das soluções encontradas é a
mais adequada? Pronto, outra porta aberta.
Mas, como seus alunos poderão melhor aproveitar essas portas? Que tal
você, como futuro professor, aplicar um questionário, seguido de uma entre-
vista individual e, depois, por outra coletiva, para encontrar respostas para
essa pergunta? Pronto, uma porta da UX está aberta para você, professor.
Todas essas informações devem ser devidamente relacionadas em uma
planilha eletrônica e, posteriormente, cruzadas e analisadas para os devidos
encaminhamentos, seja pelos alunos, seja pelos professores.
Essas informações permitem o reconhecimento e uma modelagem sobre
a complexidade e individualidade dos indivíduos envolvidos no projeto,
sejam eles produtores ou usuários dessa plataforma, professores ou alunos.
Evidentemente, essa modelagem é sempre uma aproximação da realidade.
Quanto mais fiel a ela, maiores serão as possibilidades de maximizar as
capacidades de todos os envolvidos.
A apropriação crítica dos diversos gêneros digitais (e-mails, mensa-
gens em chats, discussões em fóruns, postagens de toda natureza em redes
sociais ou blogues, vlogs, podcasts) é uma forma de fazer os alunos acessarem
diferentes dados das mais diversas fontes. A atribuição de significados a esses
dados faz com que eles os transformem em informações e, depois, com a
relação dessas informações, com criatividade, crítica e ética para a solução de
problemas, são caminhos para a construção de conhecimentos.
O compartilhamento desses conhecimentos, dos processos desenvolvidos
e dos resultados encontrados durante o desenvolvimento dos projetos que
envolvem as metodologias ativas deve ser feito também por meio de textos
nos diferentes gêneros digitais, sem excluir os demais, que são igualmente
importantes de serem aprendidos pelos alunos.
155
Estas produções todas, envolvendo os recursos digitais em todas as
etapas, são formas de promover as interações multimidiáticas e multimodais,
as quais colocam o aluno no centro, quando o processo é de ensino e apren-
dizagem, ou os beneficiários da solução do problema, quando o processo se
refere a ela.
Entenda que elaborar projetos de ensino que envolvem essa perspectiva
e, por isso, assumem essas características que os tornam inovadores também
requer práticas de planejamento e uso de recursos também inovadores.
156
I. Estão em constante evolução e, por isso, podem ter sua estrutura
mutável e adaptável para sua aplicação em diferentes mídias.
II. Em sua forma de linguagem, podem expressar as ideias da maneira
mais curta e breve possível.
III. Podem incorporar a forma de expressão característica da oralidade
e uso de imagens para expressão de sentimentos.
IV. Podem estabelecer formatos para uma comunicação síncrona ou
assíncrona.
Assinale a alternativa correta:
a. Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
b. Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c. Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
d. Somente as afirmativas II, III e IV.
e. Todas as alternativas são verdadeiras.
157
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SAFFER, D. Designing for Interaction: Creating Smart Applications and Clever Devices.
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Convite ao estudo
Nesta unidade, teremos dois propósitos ao fazermos um mergulho nas
mais novas tecnologias digitais que estão disponíveis no nosso dia a dia, a
fim de conhecê-las melhor. O primeiro é para que possamos utilizá-las de
maneira mais eficiente em nossas práticas docentes, seja em nossos afazeres
profissionais, seja na aplicação no ensino propriamente dito. O segundo
é para que consigamos tornar nossos alunos também aptos a utilizá-las
como recursos para a construção de sua aprendizagem e para o exercício de
sua cidadania.
Essas tecnologias aprimoraram significativamente as interações e as
formas de comunicação entre as pessoas. E essas mudanças têm grande
potencial para levar a uma maior justiça social, assim como para aprofundar
os abismos que marcam as diferenças sociais.
Interação e comunicação são palavras-chave também na educação. Há
pouco tempo, o conhecimento estava apenas nos professores e nos livros,
agora não mais. Ele era registrado em formas que se caracterizavam pela
estática e, por vezes, em textos enfadonhos, sem significado. Com a inserção
das novas tecnologias digitais, ele pode ser acessado de forma extremamente
dinâmica e atraente.
Logo, se a escola nada fizer, ela se correrá o risco de ser colocada à margem
da produção do conhecimento, e a sociedade precisa da instituição de ensino
para que essa construção seja feita de forma criativa, crítica e ética. Se ela
não se modernizar para a devida orientação dos processos de construção
de conhecimento, pode ficar do lado diametralmente oposto daquilo que a
qualificaria como dinâmica e atraente, perdendo seu significado e impor-
tância social.
Para que isso não aconteça, os profissionais da educação que nela desen-
volvem suas práticas precisam também se tornar conhecedores dessas tecno-
logias e, assim, se tornarem aptos a usarem os recursos digitais de modo
criativo, crítico e ético. Será por meio dessa formação que esses profissionais
da educação, em especial, os professores, serão os efetivos agentes sociais
que colocam a escola como referência na sociedade do conhecimento, a
qual ainda precisa caminhar muito para que seja também uma sociedade de
justiça social.
Por isso, nesta unidade, na primeira seção, aprenderemos sobre as inova-
ções tecnológicas e sua interação com a realidade. Abordaremos as lingua-
gens de programação, a realidade virtual e a realidade ampliada, a hiper-reali-
dade e a inteligência artificial. Na segunda seção, trataremos especificamente
da aprendizagem nos ambientes virtuais e os cuidados necessários para que
o ensino seja um potencializador desses aprendizados. Finalmente, na última
seção, compreenderemos mais a respeito das normativas relacionadas ao uso
dos recursos digitais e dos conteúdos neles colocados.
Diante desse contexto, você, enquanto futuro professor, será o agente
potente para essa adequação da escola a esse mundo cheio inovações tecno-
lógicas digitais que oferecem inúmeras possiblidades de acesso e produção
de informações.
Seu desafio é garantir que os alunos produzam conhecimentos e os divul-
guem de maneira responsável e ética, reforçando que, nesse processo, você
tem sua notoriedade reforçada.
Esperamos que você perceba a presença de uma proposta de letramento
digital ampliada, na qual o ensino não garanta apenas o conhecimento para
o uso dos recursos e das tecnologias digitais. Além disso, enquanto você
estiver no exercício da docência, seja capaz de olhar para todas as limita-
ções impostas como obstáculos a serem superados, e não como motivos
para voltar a práticas conservadoras. Finalmente, reconheça sua potenciali-
dade e responsabilidade enquanto professor, comprovando que quanto mais
recursos tecnológicos existirem, maior será a sua importância e da escola.
Seção 1
Diálogo aberto
Nesta unidade, teremos a oportunidade de trabalhar com algumas tecno-
logias que, há alguns anos, eram consideradas ficção científica. Para tornar
isso mais claro, seria interessante você convidar alguns amigos para assistir
a filmes como De volta para o futuro e 2001: Uma odisseia no espaço. Vocês
ririam muito com eles ao comparar como algumas das coisas consideradas
“futurísticas” foram concebidas e funcionam bem atualmente.
São exemplos dessas coisas “futurísticas” as possibilidades de interação
com as imagens, fazendo com que os leitores se tornem também usuários,
porque podem trocar informações e, em alguns casos, acessá-las de maneira
que tenham a sensação de estarem em um espaço como se fosse real, ou seja,
podem ver e ouvir explorando as três dimensões.
Com os recursos digitais, esses espaços tridimensionais podem apenas
divulgar informações, como também podem ser um espaço de aprendi-
zagem. No entanto, para ter interação, é necessário que o usuário responda
às ações propostas pelo sistema, e que este responda às ações do usuário. Isso
já é possível graças à inteligência artificial. Pois é, você conhece esses avanços
tecnológicos, mas de que maneira conseguirá usá-los em sua sala de aula?
Nesta seção, abordaremos alguns dos mais avançados recursos desen-
volvidos com as tecnologias digitais, que são a realidade virtual, a realidade
aumentada e a inteligência artificial. Essas tecnologias precisam ser inseridas
nas práticas desenvolvidas nas salas de aula com cuidado, para que o resul-
tado de sua implementação na sociedade (não só na escola) seja o esperado.
Trata-se de tecnologias bastante avançadas e, por isso, aqui, serão vistos
também alguns conceitos e procedimentos mais elementares, para que
possam ser melhor apropriadas, afinal, elas fazem a mediação direta na
interação e na comunicação entre as pessoas.
Assumimos o pressuposto de que o trabalho com os novos recursos e
tecnologias digitais representa um grande desafio para que sejam efetiva-
mente inovadores. Esse desafio se coloca porque entendemos que o ensino
com essas tecnologias não deve tornar os alunos meros usuários ou consu-
midores, e sim, garantir o seu pleno exercício de cidadão e em suas futuras
práticas profissionais.
163
Devemos ter em mente que nosso propósito com o ensino é tornar os
alunos capazes de, diante da tensão, se perceberem tanto como meros consu-
midores como precisando se formar e conquistar espaços cidadãos. Há uma
nova cultura digital se constituindo no confronto entre o que a realidade lhe
impõe e aquilo que lhe é disponibilizado pelas tecnologias.
Qual é o papel da educação diante das novas formas de comunicação e
interação propiciadas pelas novas tecnologias? Esta é a pergunta central que
orienta a elaboração desta seção.
A criação da imprensa, do rádio e da televisão foi um avanço tecno-
lógico que inovou todas as práticas sociais, incluindo a educação, em
outros momentos da história. Já temos, portanto, algumas experiências
para pensarmos como esses novos recursos digitais podem impactar em
nossas vidas.
Ao longo de toda esta disciplina, surgiu o seguinte questionamento: essas
mudanças representam ou podem representar uma inovação ou apenas uma
nova roupagem para práticas conservadoras? E nesta seção devemos conti-
nuar a nos fazer a mesma pergunta.
Diante dela, para sermos mais específicos e objetivos, temos de ter a
clareza de que inovar na educação requer ultrapassar os limites de incorporar
as novas tecnologias e aprender a usar os recursos digitais que estão cada
vez mais acessíveis. Requer desnaturalizar as lógicas conservadoras que estão
incorporadas em nossa cultura e favorecer a nossa emancipação e desenvol-
vimento enquanto sociedade.
Você deve ter clareza de que os avanços tecnológicos são motivados por
aspectos políticos e econômicos, cujos valores nem sempre podem ser os
mesmos daqueles que os implementam nas escolas. Daí a importância do
conhecimento mais amplo do professor, para que o letramento digital ou a
construção da cultura digital não sejam restritos.
Para tornar essas reflexões mais práticas, imagine uma situação na qual
você seja o professor de uma turma de 4º ano do ensino fundamental de uma
escola inserida em uma comunidade com alguma vulnerabilidade social. Em
uma reunião de professores, ficou acertado que durante o segundo semestre
do ano letivo uma turma deveria desenvolver um projeto que envolva o uso
de linguagens de programação e que os alunos acessem recursos de realidade
virtual e realidade aumentada.
Quais seriam os possíveis recursos que você poderia usar? Qual proble-
matização você colocaria em suas aulas para que os alunos desenvolvessem
um trabalho criativo, crítico e ético frente ao uso dessas tecnologias digitais?
164
Diante desse contexto fictício criado aqui, mas que é a efetiva realidade
para muitas escolas e professores, coloca-se o desafio de como trabalhar com
os recursos que não estão acessíveis para todos.
Essa situação, por si só, já mostra que o uso dos resultados dos avanços
tecnológicos nem sempre é igual para todos, ele é altamente dependente da
realidade de onde pode ser usado. Logo, novas tecnologias podem resultar,
desde sua concepção, quando não utilizadas com valores que levam à justiça
social, na exclusão e inclusão de outros.
O desafio de driblar essa característica inerente aos avanços educacionais
é que determina a ação criativa, responsável, crítica e ética do professor.
Diante disso, construir os valores de uma sociedade democrata e
justa socialmente é um dos mais nobres trabalhos a serem desenvolvido
pela educação, ou seja, pela escola e pelo professor que estão diante do
mesmo confronto.
Nesta seção, abordaremos três recursos digitais que têm tecnologias muito
avançadas e cujo desenvolvimento requer conhecimentos computacionais
igualmente avançados, mas, enquanto educadores, precisamos conhecer,
como sempre, suas potencialidades e limitações, visando ao seu uso didático.
Esses três recursos são a inteligência artificial, a realidade aumentada e a
realidade virtual. Além disso, não podemos nos esquecer que, assim como
ocorre em outras áreas dos mais diversos campos de atividade humana, o
desenvolvimento de conhecimentos avançados deve ter suas noções básicas
desenvolvidas na educação básica, sempre associadas ao desenvolvimento do
pensamento computacional, aos conceitos e aos procedimentos a ele relacio-
nado e, é claro, ao letramento digital.
Para iniciarmos, é importante diferenciar hardware de software e
entender um pouco sobre sistemas robóticos.
Enquanto o hardware se refere a toda a parte física dos computadores ou
celulares, a qual permite a circulação da corrente elétrica, o armazenamento
e a transmissão de informações transformadas em códigos binários (repre-
sentados por 0 ou 1, que fisicamente representa ligado ou desligado, energi-
zado ou não energizado, magnetizado ou não magnetizado), o software são
os programas colocados nesses equipamentos.
165
O programa de computador é um conjunto de procedimentos e de crité-
rios de decisão colocados em uma determinada ordem lógica para cumprir
uma finalidade, que descreve uma tarefa a ser realizada por um computador.
Para escrever esse conjunto de procedimentos é usada uma linguagem de
programação. Existem muitas linguagens de programação, sendo que muitas
delas são criadas enquanto outras são aprimoradas, conforme os recursos
digitais também evoluem.
O Logo é uma das primeiras linguagens de programação desenvolvidas
para aplicação em escolas da educação básica. Ele, basicamente, consiste em
ter na tela uma pequena tartaruga que hipoteticamente tem um lápis em
sua barriga, o qual faz traços por onde ela se movimenta (para acessar esse
programa gratuitamente, consulte o box Saiba mais desta seção).
A seguir, um exemplo dos comandos dados e movimentos feitos pela
tartaruga na tela do computador.
Quadro 4.1 | Principais comandos do SLogo
Comando Comando
Passo Ação vista na tela Passo Ação vista na tela
(significado) (significado)
Comando: PF
100
Posição
1 5 (significa: para
inicial
frente 100
unidades)
Comando: Comando: PD
PD 30 120
2 6
(significa: (significa: para a
para a direita direita em 120°)
em 30°)
Comando:
Comando: PF
PF 100
100
(significa:
3 7 (significa: para
para
frente 100
frente 100
unidades
unidades)
166
Comando:
PD 120
4 (significa:
para a direita
em 120°)
167
Exemplificando
A seguir, apresentam-se dois programas feitos em Logo para desenhar
o triângulo equilátero, mas o segundo tem um erro na quinta linha, que
indicou o lado errado para fazer o giro.
Quadro 4.2 | Programação SLogo
Programa SLogo Correto Programa SLogo Incorreto
Programa Resultado Programa Resultado
pd 30 pd 30
pf 100 pf 100
pd 120 pd 120
pf 100 pf 100
pd 120 pe 120
pf 100 pf 100
Foco na BNCC
Associado ao pensamento computacional, cumpre salientar a impor-
tância dos algoritmos e de seus fluxogramas, que podem ser objetos de
estudo nas aulas de Matemática. Um algoritmo é uma sequência finita
de procedimentos, que permite resolver um determinado problema.
Assim, ele é a decomposição de um procedimento complexo em suas
partes mais simples, relacionando-as e ordenando-as, e pode ser repre-
sentado graficamente por um fluxograma. A linguagem algorítmica tem
pontos em comum com a linguagem algébrica, sobretudo em relação ao
conceito de variável.
Outra habilidade relativa à álgebra que mantém estreita relação com
o pensamento computacional é a identificação de padrões para se
estabelecer generalizações, propriedades e algoritmos. (BRASIL, 2017,
p. 269)
168
A associação dos computadores, com hardware e software, a sensores
que enviam sinais ao computador, o qual, por sua vez, emite sinais ligam ou
desligam equipamentos, cria o campo da automação, ou campo da robótica,
como é mais conhecido.
Exemplificando
Imagine a proposta para o desenvolvimento de um carrinho elétrico
que seja capaz de percorrer automaticamente uma trajetória sinuosa. É
uma proposta de automação que, quando desenvolvida nos ambientes
escolares, se torna uma aplicação de robótica educacional.
TRAJETÓRIA
169
A robótica educacional é uma metodologia de ensino que deve ser
incluída como um exemplo de metodologia ativa, um campo fértil para a
Metodologia STEAM, que permite trabalhar competências e habilidades de
diferentes componentes curriculares e áreas de conhecimento desde os anos
iniciais do ensino fundamental até o ensino superior.
O uso dela requer um kit composto por um processador, capaz de receber
sinais de sensores e de emitir sinais para o acionamento de equipamentos,
como motores. A programação nesse processador é feita por uma linguagem
de programação.
Um dos pacotes mais difundidos mundialmente, devido ao seu baixo
custo e à facilidade na programação, é o projeto Arduíno. Trata-se de uma
proposta desenvolvida na Itália, em 2005, que teve por objetivo desenvolver
um pacote computacional acessível às pessoas não especializadas tanto em
técnicas de programação em informativa quanto em eletrônica, mas com
potencial para desenvolver soluções automatizadas. É também muito interes-
sante por poder associar tecnologias digitais e analógicas, empregando as
devidas interfaces.
Porém, o seu uso requer conhecimentos de linguagem de programação e
orientações sobre o uso de dispositivos de eletrônica e microeletrônica. Há
inúmeras comunidades virtuais de aprendizagem que disponibilizam infor-
mações, projetos e soluções para problemas envolvendo o Arduíno.
Dica
Faça uma pesquisa na Internet usando os termos: “Comunidade
Arduíno”. Você encontrará inúmeras sugestões sobre como trabalhar
com a robótica educacional.
170
Figura 4.3 | Placa do Arduíno
Fonte: Pixabay .
171
de inteligência artificial, que pretende possibilitar atribuir comportamentos
inteligentes aos sistemas computadorizados.
Essa atribuição consiste na emulação de algumas habilidades cognitivas,
para que os computadores consigam tratar dados considerados desestrutu-
rados geralmente. Muitas vezes, um conjunto de informações pode parecer
desestruturado devido à falta da capacidade do ser humano em encontrar
uma organização e semântica.
No entanto, graças à capacidade de processamento e armazenamento
de dados dos computadores, seria possível encontrar uma regularidade e
padrões semânticos e conceituais na enorme quantidade de textos produ-
zidos nas redes virtuais, em produções científicas, em processos judiciais ou
em banco de dados de toda natureza.
Alguns exemplos de aplicações da inteligência artificial mais recentes são:
• Simulações: com a capacidade de antecipar o comportamento das
pessoas, com base nas informações que têm sobre elas, os sistemas são
usados para simular situações futuras, prevendo o resultado segundo
determinadas decisões, projetando, assim, diferentes cenários futuros.
Esses sistemas para desenvolver simulações são usados para fazer
a previsão do tempo, quando as informações sobre o comporta-
mento das pessoas são substituídas pelas informações das condi-
ções climáticas.
• Atendimentos cadastrais: nessa aplicação, os sistemas são capazes
de, ao reconhecer os nomes das pessoas e seus respectivos números
de telefones, desenvolver conversas com elas como se fosse um ser
humano. Com essa capacidade, fazem automaticamente a inclusão,
alteração e exclusão de informações nos bancos de dados, mas, com a
incorporação dos conceitos e procedimentos de UX (user experience),
estabelecem uma interação com o usuário de maneira que persona-
lizam o atendimento.
• Assistência pessoal: para essa finalidade, os sistemas com inteligência
artificial são capazes de identificar a voz das pessoas em comandos
dados para a execução de tarefas cotidianas. Com essa capacidade,
eles acumulam informações desses indivíduos e passam a se antecipar
a esses comandos, ajudando-os a organizar sua rotina de trabalho, ou
na prestação de serviços de atendimento, direcionam as pessoas para
os fluxos mais adequados.
• Ferramentas de gestão: nesta aplicação, os sistemas colhem dados de
processos complexos e que envolvem fluxos de dados simultâneos,
os quais, quando associados às características das pessoas envolvidas
172
nesse processo, utilizam-se de modelos estocásticos (estatísticos) para
otimizar o funcionamento desses fluxos, diminuindo o tempo de
processamento e desperdícios e aprimorando a qualidade do produto
ou serviço constantemente.
• Procedimentos de segurança digital: neste caso, os sistemas com
inteligência artificial reconhecem os inúmeros acessos aos sistemas
informatizados, sobretudo os bancários e de empresas de alta tecno-
logia, que visam ao acesso indevido de informações sobre os projetos
ou usuários, criando, automaticamente, rotinas, que evitam esse
indesejado acesso.
• Procedimentos de segurança em geral: aqui, os sistemas são capazes
de fazer o reconhecimento facial, e são usados para fazer o rastre-
amento de pessoas e acusar sua identificação diante de algum ato
ilícito. O mesmo pode ocorrer com o reconhecimento de veículos.
Em seu cotidiano, você já deve ter acesso a sistemas com inteligência artifi-
cial, por exemplo, quando usa aplicativos que orientam no trânsito, assiste à
previsão do tempo na TV, dá comando de voz para televisões, videogames
e computadores, ou entra em contato telefônico com grandes empresas de
telefonia e do sistema bancário.
Com essa possibilidade, a incorporação da inteligência artificial aos
sistemas computadorizados pode aumentar as potencialidades das plata-
formas adaptativas e os processos de personalização do ensino.
Reflita
A inteligência artificial é uma área em plena expansão tecnológica e tem
favorecido mudanças em muitas das práticas sociais, dada a possibili-
dade dessa interação ser feita por meio de recursos digitais.
No campo da educação, essas mudanças também estão presentes
graças à produção de novos recursos e formas de ensino, remodelando
também os processos de aprendizagem.
Um exemplo de aplicação da inteligência artificial na educação pode
ser o processo de personalização do ensino na educação a distância.
Associada ao Big Data e ao UX, ela permite que o aluno, diante das
respostas que fornece ao sistema, seja direcionado para as tarefas que
lhe são mais pertinentes.
Mas, essas mudanças estão vindo para inovar ou são novas formas de
conservação? Elas vêm para beneficiar poucos ou para ajudar na neces-
sária equidade da educação?
173
Sobre a realidade aumentada, a realidade virtual e a hiper-
-realidade
As realidades virtual e aumentada, apesar de serem diferentes, são
recursos digitais que também foram viabilizados graças aos avanços tecnoló-
gicos, porque dependem do processamento multissensorial em tempo real.
A realidade aumentada permite a interação entre o mundo virtual e o
mundo real, sobrepondo imagens do primeiro sobre o segundo. Com isso, as
informações do mundo real podem ser aumentadas com as informações do
mundo digital. Muitos são os exemplos de aplicações da realidade aumentada:
• Quando você faz a leitura do QR Code de um produto com seu
celular e imediatamente são apresentadas todas as informações sobre
esse produto.
• Em lojas de cosméticos, a imagem produzida com diferentes sugestões
de maquiagem de uma pessoa que se coloca diante de um espelho.
• Em um evento tecnológico, quando você focaliza um motor elétrico
em funcionamento com seu celular, mas observa as diferentes partes
internas dele também em funcionamento.
Especificamente na área educacional, a realidade aumentada propiciou a
ampliação de recursos para buscar o maior interesse dos alunos e a ampliação
de informações por meio de imagens estáticas e dinâmicas (LOPES et al.,
2019). Alguns exemplos de aplicação da realidade aumentada na educação são:
• Na produção e no uso de jogos digitais.
• Em livros didáticos, ao mirar uma imagem bidimensional, você
consegue visualizar uma imagem tridimensional.
Figura 4.4 | Exemplo de realidade aumentada
Fonte: captura de tela do vídeo Live Texturing of Augmented Reality Characters from Colored Drawings ela-
borada pelo autor.
174
• Na produção de cenários.
Figura 4.5 | Exemplo de realidade aumentada
Fonte: captura de tela do vídeo Live Augmented Reality-National Geographic elaborada pelo autor.
Fonte: captura de tela do vídeo Augmented Reality – Anatomy elaborada pelo autor.
175
plenamente imersa no mundo virtual, independentemente da direção que
olha e se movimenta. E será considerada não imersiva quando essa inserção
é parcial ou totalmente externa.
Apesar de a realidade virtual estar sendo mais desenvolvida nos campos
do entretenimento, de treinamentos por simulação (pilotos de avião, soldados,
cirurgias, etc.) e da divulgação comercial de produtos e serviços, ela também
pode ser útil no campo educacional, simulando:
• Locais inacessíveis pelos mais diversos motivos.
• Movimentos ou fatos históricos.
• O corpo humano internamente.
• Estruturas celulares de animais e vegetais.
• Estudos geográficos e meteorológicos.
• Experimentos químicos, físicos ou biológicos.
• Funcionamento mecânico, elétrico e pneumático de máquinas.
Uma evolução prevista para essa área é a hiper-realidade, que consiste
no incremento da interação entre os mundos real e virtual, com informa-
ções sobre os comportamentos do usuário, incorporando os recursos da
inteligência artificial. Com essa nova tecnologia é previsto que uma pessoa
possa interagir com outra localizada remotamente ou, em outra possibili-
dade, observar apenas os elementos do mundo real que somente lhe interessa
(KIRNER; SISCOUTTO, 2007).
Assimile
A realidade virtual e a realidade aumentada, apesar de explorarem os
sentidos humanos por meio de mundos virtuais, são recursos distintos.
Enquanto a realidade virtual simula o real, a realidade aumentada
amplia a disponibilização de informações sobre objetos do mundo real.
A hiper-realidade é um aprimoramento dessas tecnologias, melhorando
a interação em tempo real entre o mundo digital gerado e o mundo
virtual, por meio da combinação da inteligência humana e da inteli-
gência artificial.
176
para trabalharem com computadores, formar para a convivência em uma
sociedade em que muitas das interações presentes nas práticas são mediadas
por meios virtuais.
O quadro a seguir, proposto por Pedro et al. (2019), sintetiza uma visão
acerca das competências e normas associadas às tecnologias digitais neces-
sárias para que os professores possam enfrentar o desafio do ensino em uma
sociedade da informação e do conhecimento em todo esse contexto.
Quadro 4.3 | Competências associadas às tecnologias
ÁREA DE
COMPETÊNCIAS
COMPETÊNCIA
177
2.1 Interagindo através de tecnologias digitais.
2.2 Compartilhamento através de tecnologias digitais.
2. Comunicação e 2.3 Engajamento na cidadania através de tecnologias digitais.
colaboração 2.4 Colaborando através de tecnologias digitais.
2.5 Netiqueta.
2.6 Gerenciando identidade digital.
Foco na BNCC
Os processos matemáticos de resolução de problemas, de investigação,
de desenvolvimento de projetos e da modelagem podem ser citados
como formas privilegiadas da atividade matemática, motivo pelo qual
são, ao mesmo tempo, objeto e estratégia para a aprendizagem ao
longo de todo o ensino fundamental. Esses processos de aprendizagem
são potencialmente ricos para o desenvolvimento de competências
fundamentais para o letramento matemático (raciocínio, represen-
tação, comunicação e argumentação) e para o desenvolvimento do
pensamento computacional. (BNCC, 2017, p. 264)
178
já é, como cidadão, e continuará sendo, como professor, um dos agentes
dessa incorporação.
179
As produções dos alunos podem ser registradas, da mesma maneira,
de acordo com os recursos disponíveis, em cartazes, relatórios, blogues
ou vlogues.
Para o desenvolvimento da tarefa, alguma metodologia ativa pode ser
selecionada e, dependendo das condições da escola, um problema pode
ser selecionado, focando a melhoria da própria instituição de ensino ou
de outra, para que todos os alunos tenham acesso aos recursos digitais nas
práticas escolares.
Visitas a espaços que tenham acesso à internet (essencial para essas tecno-
logias) ou que tenham os recursos disponíveis são interessantes para que os
alunos tenham a vivência com essas tecnologias.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Usar as produções dos alunos para produzir documentos que retratem
a realidade, propondo caminhos para a solução com publicações nas redes
sociais sobre o trabalho a ser realizado. Também, para mobilizar os conse-
lhos de escola e a comunidade onde a escola está inserida e fazer demandas
oficiais aos órgãos responsáveis pelo provimento das condições adequadas
das escolas para o despendimento de suas práticas.
O resultado dos trabalhos dos alunos podem ser campanhas publicitárias
para a comunidade interna e externa, produção de eventos culturais e cientí-
ficos, etc.
1. Inteligência artificial é uma tecnologia que tem se tornado cada vez mais
usada graças ao avanço da velocidade de processamento e do armazena-
mento de dados dos computadores. Com isso, a inteligência humana tem
sido emulada, em alguns de seus aspectos, permitindo que os computa-
180
dores façam associação de informações, encontrando padrões de regulari-
dade onde o homem não seria capaz de fazer. A despeito de ainda ser um
programa computacional, os sistemas de inteligência artificial se diferem dos
demais por sua capacidade de aprender com os dados que coleta e processa.
A respeito disso, considere as afirmações a seguir:
I. A principal vantagem da implementação de propostas de inteli-
gência artificial está no fato de que as preocupações com as defasa-
gens de conhecimentos e habilidades das pessoas são desnecessárias.
PORQUE
II. As falhas e dificuldades apresentadas pelas pessoas serão corrigidas
automaticamente pela própria inteligência artificial.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
181
IV. A principal diferença entre a realidade aumentada e a realidade
virtual é que, enquanto a primeira acrescenta cenas virtuais ao
mundo real, a segunda é uma imagem tridimensional completa-
mente gerada pelo computador.
Assinale a alternativa correta:
a. Todas as afirmativas são verdadeiras.
b. Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
c. Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
d. Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
e. Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
182
Seção 2
Diálogo aberto
Nesta seção, colocaremos o foco em uma das inúmeras ramificações que os
avanços tecnológicos digitais provocaram em todas as nossas práticas sociais:
o uso do celular, o qual será usado, aqui, como sinônimo de smartphone.
Já não temos mais dúvidas que, em todas as práticas sociais, dos mais
diversos campos de atividade humana, a comunicação e a interação entre as
pessoas estão modificadas pelos recursos digitais que fazem a mediação. Por
muito tempo, os diversos tipos de computadores foram os elementos centrais
das mudanças nessas duas áreas. As características físicas deles determinavam
também a forma como as práticas sociais se desenvolviam. Considerando
que eles eram significativamente grandes, pesados, caros e até requeriam a
obrigatoriedade da instalação em espaços climatizados (devido ao aqueci-
mento que provocavam), as pessoas deveriam se dirigir até onde eles estavam,
geralmente, em uma quantidade pequena em relação ao número de usuários.
Certamente, você se lembra dos laboratórios de informática nas escolas
que conseguiram tê-los. Para o uso desses laboratórios, era necessário um
agendamento e, por vezes, a divisão e subdivisão das turmas. Com a evolução
tecnológica, os computadores foram substituídos pelos notebooks, a partir
dos quais, devido ao menor custo, à diminuição do tamanho e do peso e à
facilidade de acesso à internet, percebeu-se certa mobilidade para o acesso
aos recursos digitais. Logo, as práticas sociais, inclusive nas escolas, foram
novamente modificadas.
Atualmente, com a grande capacidade de processamento, armazenamento
e transmissão de dados e com o barateamento do acesso sem fio à internet
banda larga que os celulares têm, essa mobilidade se alterou radical e defini-
tivamente. Agora, quase tudo que antes era feito apenas em computadores
– que é muito pouco, quando comparado com o que foi e vem sendo produ-
zido – pode ser realizado por meio de celulares. Essa acessibilidade modifica
a forma de perceber, agir, pensar e, portanto, de sentir. Evidentemente, tais
modificações individuais têm impactos no coletivo, ou seja, desde o surgi-
mento do computador até o uso atual do celular, há modificações nas esferas
social, política, econômica, cultural e, consequentemente, educacional.
É importante que você perceba que pensar em uma educação que descon-
sidera essa outra potencialidade de comunicação e interação pode ser um
183
grande equívoco e impedir que essas tecnologias não sejam usadas para
inovar efetivamente.
Outro elemento ligado aos avanços tecnológicos que está associado a este
contexto são as redes sociais. Elas já se consolidaram como uma malha de
comunicação, que permite estabelecer desde pequenos grupos até uma esfera
mundial, envolvendo pessoas no âmbito local ou distribuídas pelo mundo
todo. Esse fato define uma nova geografia e uma possibilidade de acesso a
diversas culturas e conhecimentos relacionados a elas.
Conforme descrito na BNCC,
184
Diante do pedido deles, você reconheceu que os alunos não precisam
mais produzir cartazes para, logo depois de usados, serem jogados no lixo.
Você também percebeu que o pedido deles tinha o potencial para gerar
novas interações nas diversas redes on-line, algo que já vem ocorrendo fora
da escola. Diante disso, você sugeriu a eles pensarem sobre como fazer um
sistema de irrigação automático para a horta coletiva já existente na escola.
A eles caberia não só projetar e construir o sistema mas também conseguir
os recursos necessários para a produção e educação da comunidade que usa
a horta. Para isso, eles deveriam produzir blogs, nos quais registrariam todo
o processo que desenvolveriam, assim como as aprendizagens que resulta-
riam desse projeto. Com essa proposta, os alunos teriam que se inserir em
comunidades virtuais de aprendizagem e se preocupar em fazer a curadoria
das informações que produziriam.
Para atender a esse pedido dos alunos, você pensa em focar as habilidades
e competências que permitem a eles gestarem as informações que disponibi-
lizam nos espaços virtuais, isto é, você precisa saber planejar e produzir infor-
mações para que sejam descobertas e usadas por quem tiver interesse nas
produções de seus alunos. Afinal, já é realidade que um conhecimento produ-
zido nas aulas não precisa, necessariamente, ficar restrito a ela. Ao contrário,
deve ser compartilhado. Você está preparado para isso?
Diante disso, fica evidente como a preocupação e a responsabilidade
com a ética e a crítica nesse processo de comunicação e de interação devem
estar presentes nas práticas docentes que aproveitam essa oportunidade de
explorar os recursos tecnológicos digitais, o que torna o papel do professor
cada vez mais importante.
185
para que a aprendizagem ocorra. Muitas aprendizagens sempre ocorreram
fora desse ambiente, de outra forma e com maior intensidade.
Reflita
A recente crise mundial provocada pela COVID-19 mostra não só as
possibilidades de aprendizagens que podem ocorrer fora da escola mas
também as suas potencialidades. Fazer ou não fazer isolamento social?
Usar ou não máscaras para ir ao supermercado? O vírus é ou não um
ser vivo? Como fazer para achatar a curva exponencial? Acreditar em
um político ou em um cientista? E em qual político e em qual cientista?
Para tomar uma posição individual diante dessas perguntas, é inevitável
optar pelas crenças que evidenciam valores, e ambos são construídos,
reconstruídos e, por vezes, destruídos em função do processo de apren-
dizagem trilhados por cada um. Com o isolamento social, ficou evidente
quantos são os conhecimentos construídos fora da escola. Mas, qual é a
qualidade dessa aprendizagem?
Antes dessa crise, também não havia outros aprendizados? Eles estavam
levando ao quê?
Com os tópicos a serem tratados nesta seção, mais uma vez, você perce-
berá o quanto os tempos e espaços, assim como as formas e ensinar e
aprender, podem e precisam ser ajustados a uma cultura digital já existente
fora da escola.
Para iniciar as descrições e reflexões sobre esses tópicos específicos, parti-
remos da noção de que todo ato educacional é marcado pela interação e pela
comunicação, sempre mediadas por algum recurso.
Os processos de ensino e de aprendizagem, independentemente da
abordagem teórica que os sustenta, sempre requerem a interação entre
pessoas e entre as pessoas e o conhecimento (construído ou a ser construído).
Os atos comunicacionais estão sempre presentes nessas interações e em
constante modificação em sua forma, meio e conteúdo, expressando valores
e conhecimentos.
Por muito tempo, no âmbito escolar, os livros e as lousas (quadros-ne-
gros) tiveram a sua centralidade no processo de ensino. Neles, há um deter-
minado tipo de interação e comunicação. Mais recentemente, os computa-
dores e notebooks foram anunciados de maneira que tenderiam a assumir
essa centralidade. No entanto, em geral, esse fenômeno não ocorreu, e os
computadores permaneceram em um papel coadjuvante devido ao seu
alto custo de aquisição, conservação e manutenção. Em muitos casos, mais
186
notadamente, poucas escolas tiveram a oportunidade de disponibilizar esses
recursos aos seus alunos e professores de maneira adequada.
Com isso, durante esse período, nos ambientes escolares, a comunicação e
a interação presentes nos processos de construção de conhecimento seguiram
a lógica presente nos livros e, em particular, nos livros didáticos. Quando
possível, os computadores eram usados de forma complementar e, em geral,
as próprias propostas para o seu uso, assim como dos próprios programas e
aplicativos educacionais, seguiram a mesma lógica.
Atualmente, essa lógica presente nas interações e comunicações presentes
nas práticas sociais fora da escola foi significativamente alterada devido à
mobilidade do acesso e da produção de conhecimento propiciada pelos
dispositivos digitais móveis, como os tablets, laptops e, principalmente, os
smartphones (celulares).
Com a alta capacidade de processamento, armazenamento e transmissão
de dados dos dispositivos móveis e a popularização do acesso à internet banda
larga, incluindo a diminuição significativa dos custos de ambos, as práticas
sociais desenvolvidas fora da escola já incorporam novas formas de interação
e comunicação, criando e sustentando novos ambientes virtuais de relacio-
namento em uma complexa rede social. Nesse contexto, vem ocorrendo o
desenvolvimento de um determinado nível de letramento digital e de uma
nova cultura digital.
A lógica presente nas formas de interação e de comunicação com esses
ambientes virtuais e redes sociais é influenciada pela mobilidade que trans-
formou as noções de tempo e espaço, de comunidade e a forma do discurso.
Com essa transformação surgiram também novas possibilidades de pesquisa
e compartilhamento de conhecimento, favorecendo o uso personalizado dos
recursos e, ao mesmo tempo, o aprendizado colaborativo (TRAXLER, 2005).
As aprendizagens ocorridas nesse contexto são conhecidas como m-lear-
ning, ou aprendizagem móvel.
187
Essas novas possibilidades de aprendizagem já presentes fora da escola
requerem que ela ocupe o seu espaço nessa evolução, porque essas trans-
formações exigem cuidados éticos e críticos. Se as escolas não assumem
processos que levem às aprendizagens que tenham aderência à construção
de uma sociedade com maior justiça social, ocorrerão apenas aquelas que
atendem às expectativas de quem as controla e que podem não ser a mesma
da escola.
Para isso, as práticas sociais propostas ou desenvolvidas nas escolas não
podem permanecer naquela lógica presente até hoje, que desconsidera essa
facilidade de acesso e mobilidade promovida pelos avanços tecnológicos, e a
torna, em geral, desinteressante e enfadonha por não ter significado. Como
sintetiza Moran (2012, p. 7), “a escola é pouco atraente”.
A manutenção dessa indesejada percepção sobre a escola pode colocar
em xeque os motivos de mantê-la como instituição produtora e de comparti-
lhamento de conhecimento, uma vez que, fora dela, tais produção e compar-
tilhamento são feitos.
Sibília (2012a) explicita a tensão que os alunos ficam entre toda uma vida
dinâmica e interessante presente fora da escola, acessível a eles com simples
toques, e as vivências limitadas às paredes da sala de aula, quando muito aos
muros escolares. Nessa tensão, em geral, os estudantes, dentro dos ambientes
escolares, se sentem mais convidados a burlar as proibições em relação ao uso
dos dispositivos móveis do que explorar as oportunidades de aprendizagem
por eles oferecidos.
Na mesma perspectiva, as pesquisas desenvolvidas por Santaella (2014),
compartilhando as preocupações com esse atraso das práticas escolares em
relação àquelas desenvolvidas fora dela, constatam que essas novas formas de
aprendizagem incorporam as transformações cognitivas, perceptivas, senso-
riais e motoras promovidas pela facilidade e mobilidade do acesso, produção
e compartilhamento de informações pelos usuários nas redes sociais. Traxler
(2005) afirma que as características mais emergentes do m-learning permitem
dizer que ela é espontânea, privada, portátil, situada, informal, leve, conec-
tada, personalizada, interativa e revestida de conhecimento do contexto.
Reflita
No parágrafo anterior, Traxler (2005) apresenta inúmeras caracterís-
ticas do m-learning. Compare-as com as características daquela que
você considera existente nas escolas que você passou. Quais são as
consequências das principais semelhanças e diferenças entre elas que
você encontrou?
188
O esquema a seguir, proposto por Koole (2009), mostra as relações
existentes entre alguns elementos que estruturam o m-learning.
Figura 4.7 | Elementos envolvidos na aprendizagem móvel
APRENDIZAGEM
MÓVEL
TECNOLO- APRENDIZAGEM
GIA SOCIAL INTERATIVA
ASPECTO SOCIAL
CONTEXTO DA INFORMAÇÃO
Vocabulário
Do dicionário on-line Michaelis (2012, [s.p.]), ubíquo significa “o que
está ou pode estar em toda parte ao mesmo tempo; onipresente”.
189
aberto, individual ou grupal, podendo ser obtido em quais-
quer ocasiões, eventualidades, circunstâncias e contextos.
Sua característica mais marcante encontra-se na esponta-
neidade. Em qualquer lugar que o usuário esteja, brotando
uma curiosidade ocasional, esta pode ser instantaneamente
saciada e, se surgir uma dúvida a respeito de alguma infor-
mação, não faltam contatos pessoais também instantâneos
para resolvê-la, criando-se assim um processo de apren-
dizagem colaborativa. Sem restrições de tempo e espaço,
sem pressões externas, coloco ênfase na espontaneidade
livre que aciona todo esse processo. Trata-se de uma busca
e de uma aquisição de informação a céu aberto e fora de
quaisquer planejamentos e sistematizações, portanto, o
que se tem aí é uma forma de aprendizagem imprevisível,
dispersiva, fragmentária e ao mesmo caótica, nem sempre
incorporada à memória. (SANTAELA, 2014, p. 19)
190
de potencializador da aprendizagem. O professor precisa
ficar alerta a essa transformação de modo a estar minima-
mente preparado para os sobressaltos das surpresas que
o aguardam nas interações com seu suposto aprendiz.
(SANTAELA, 2014, p. 22)
Assimile
A aprendizagem ubíqua é aquela desenvolvida por meio de recursos
digitais móveis e que se caracteriza pela alta conectividade e dissipação
dinâmica de conhecimentos. Ela é a aprendizagem móvel que consi-
dera as características, as quais podem se modificar dependendo do
contexto em que os alunos estão inseridos.
Reflita
Uma vez que a constituição do homem é feita por meio das redes sociais
que ele estabelece, uma mudança na amplitude e nos valores dessas
redes, assim como a forma pela qual ele interage com elas, não modifica
sua constituição?
191
Com os dispositivos móveis, as redes sociais tomam outro formato e outra
geografia, antes local, agora igualmente fácil, global, no entanto mais volátil.
Com um único clique, você passa a fazer parte de uma rede social, e com
outro clique, sai dela. Essa possibilidade pode trazer benefícios da mesma
maneira que malefícios.
Exemplificando
Buscando estabelecer relações entre uma rede social antes do advento
dos dispositivos móveis e depois deles, podemos exemplificar como
benefícios o acesso a informações e conhecimentos de diferentes e
remotas partes do mundo. Como malefício, a facilidade de praticar
bullying por meio das redes sociais, o famoso cyberbullying.
192
porque têm como um dos princípios centrais justamente o compartilha-
mento, que traz, de forma subjacente, a ideia de coletivo. Por isso, elas devem:
• Estimular o número de participantes por meio da oferta de recursos
que estimulem a colaboração e o compartilhamento.
• Facilitar o compartilhamento de projetos, dúvidas, conhecimentos e
tecnologias e a colaboração na busca de soluções.
• Fomentar o desenvolvimento de soluções para problemas de
impacto social.
• Fornecer dados relevantes e facilidades para a sua visuali-
zação sistemática.
• Dar visibilidade às atividades e aos projetos desenvolvidos relevantes
e vias de participação ativa.
• Cuidar da curadoria dos conteúdos disponibilizados.
• Estimular a participação de professores, pesquisadores e membros
mais experientes, para fomentar os debates inerentes à temática ou aos
propósitos da comunidade e orientar nos encaminhamentos necessá-
rios para a solução dos problemas enfrentados pelos participantes.
• Prover recursos, para permitir que educadores ocupados acompa-
nhem – e participem – de discussões e atividades em andamento
no site.
Assimle
Em uma comunidade virtual de aprendizagem, a socialização de seus
membros ocorre por meio da colaboração e do compartilhamento,
garantindo aprendizagens coletivas. Nela, seus próprios participantes
definem responsabilidades, gerando práticas de autolegislação e
autocontrole, contemplando, assim, as dimensões éticas e políticas
necessárias a qualquer atividade coletiva.
193
dificuldades de essas informações serem acessadas, assim como de que elas
sejam compartilhadas. O propósito maior da curadoria é colaborar para dar
um alto padrão de qualidade às pesquisas.
Assimile
Segundo a BNCC,
Curadoria é um conceito oriundo do mundo das artes, que
vem sendo cada vez mais utilizado para designar ações e
processos próprios do universo das redes: conteúdos e
informações abundantes, dispersos, difusos, complemen-
tares e/ou contraditórios e passíveis de múltiplas seleções
e interpretações que precisam de ordenamentos que os
tornem confiáveis, inteligíveis e/ou que os revistam de
(novos) sentidos. Implica sempre escolhas, seleção de
conteúdos/ informação, validação, forma de organizá-
-los, hierarquizá-los, apresentá-los. Nessa perspectiva,
curadoria pode dizer respeito ao processo envolvido na
construção de produções feitas a partir de outras previa-
mente existentes, que possibilitam a criação de (outros)
efeitos estéticos e políticos e de novos e particulares
sentidos. (BRASIL, 2017, p. 550)
194
(por exemplo, a plataforma com objetos digitais de toda natureza,
mantida pelo Ministério da Educação (MEC)).
• Repositório de teses (por exemplo, o catálogo de teses e dissertações
disponibilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação
(MEC)).
• Repositório institucional destinado a toda produção de instituições
de pesquisa, incluindo universidades (por exemplo, comunidade que
trabalha os conhecimentos sobre o Geogebra).
Foco na BNCC
As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos
gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos,
como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibi-
lizar, de replicar e de interagir. [...] Ser familiarizado e usar não significa
necessariamente levar em conta as dimensões ética, estética e política
desse uso, nem tampouco lidar de forma crítica com os conteúdos que
circulam na Web. A contrapartida do fato de que todos podem postar
quase tudo é que os critérios editoriais e seleção do que é adequado,
bom, fidedigno não estão ‘garantidos’ de início. Passamos a depender
de curadores ou de uma curadoria própria, que supõe o desenvolvi-
mento de diferentes habilidades. (BRASIL, 2017, p. 68)
195
em sua sala de aula: serão eles quem nos ajudarão a ter acesso a essas
técnicas. Com essa proposta, o professor precisará fazer um planejamento
envolvendo as etapas de uma metodologia ativa, por exemplos, a STEAM
ou Aprendizagem Baseada em Projetos, inserindo o ensino das etapas da
curadoria digital nas etapas desse plano.
O letramento digital restrito (aquele associado à mera aprendizagem
do recurso), certamente, não será necessário, uma vez que os estudantes já
tenham esse conhecimento construído fora da escola. O desafio está no letra-
mento digital ampliado, no qual os conhecimentos sobre o uso dos recursos
digitais e os conhecimentos por meio deles construídos precisam ser devida-
mente mediados, incluindo o desenvolvimento do pensamento crítico e da
ética no processo. Para isso, os “fenômenos e práticas relacionadas às redes
sociais também devem ser tematizados, assim como devem ser vislumbrados
usos mais colaborativos das redes” (BRASIL, 2017, p. 519).
A curadoria entra em cena por conta da “viralização” das informações
produzidas e compartilhadas, correndo o risco de tornar opiniões mais
importantes que os conhecimentos construídos em base científica, tornando
as redes sociais digitais um campo fértil para a proliferação de informa-
ções falsas, as chamadas fake news. “Nesse contexto, torna-se menos impor-
tante checar/verificar se algo aconteceu do que simplesmente acreditar que
aconteceu (já que isso vai ao encontro da própria opinião ou perspectiva).”
(BRASIL, 2017, p. 68).
Para que uma curadoria obtenha bens resultados, deve passar pelas
seguintes etapas, propostas Higgins (2008):
• Conceituar. Conceber e planejar a criação de dados sobre as informa-
ções e os objetos digitais que estarão sob os cuidados da curadoria,
incluindo os métodos de captura e opções de armazenamento.
• Criar e receber. Criar registros administrativos, que sejam descritivos,
estruturais e técnicos. Estes são os chamados metadados das infor-
mações e dos objetos digitais, que devem ser recebidos segundo as
políticas de coleta.
• Avaliar e selecionar. Avaliar as informações e os objetos digitais,
selecionando e encaminhando para a curadoria, seguindo diretrizes
e políticas predefinidas e com o devido cuidado com a documentação
e os quesitos legais.
• Transferência. Transferir as informações e os objetos digitais para
outros repositórios ou espaços virtuais quando não forem mais
usados, seguindo diretrizes e políticas predefinidas e com o devido
cuidado com a documentação e os quesitos legais.
196
• Preservação. Preservar, por longo prazo, as informações e os objetos
digitais, incluindo os metadados, de maneira que permaneçam
íntegros, autênticos, confiáveis e utilizáveis. As ações incluem a
limpeza, a validação, a autenticação e a autoria.
• Armazenamento. Armazenar as informações e os objetos digitais,
incluindo os metadados, de maneira segura e em acordo com os
padrões e as diretrizes preestabelecidos.
• Acesso. Garantir que as informações e os objetos digitais estejam
acessíveis diariamente para todos que desejam acessá-los.
• Transformação. Criar novos dados a partir do original, migrando para
um formato diferente do original ou criando um subconjunto, por
seleção ou consulta, para gerar resultados, talvez para publicação.
Os objetivos descritos em cada uma dessas etapas, para que a curadoria
seja bem-sucedida, poderiam ser interpretadas como habilidades a serem
desenvolvidas em suas aulas. Será dessa maneira que a Competência 5, da
BNCC (BRASIL, 2017, p. 9), será plenamente desenvolvida.
197
2. O avanço das tecnologias barateou os custos para o acesso a recursos
e dispositivos digitais que dão mobilidade e celeridade aos processos de
interação e comunicação em muitas das práticas dos mais diversos campos
de atividade humana. São exemplos dessas práticas: estudar, pesquisar, traba-
lhar, se divertir, manifestar opiniões, fazer reclamações e comprar.
Analise as afirmações a seguir:
Com as redes sociais e a aprendizagem ubíqua, as escolas já não mais têm
mais tanta importância.
PORQUE
Com o acesso a essas tecnologias, já faz parte das práticas dos alunos o
contato com muitas fontes de informação, as quais os permitem construir
seus conhecimentos, sejam eles de interesse pessoal ou profissional.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica
a I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II, falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
198
III. Abdicar dos conhecimentos convencionais e substituí-los por aqueles
com as características do m-learning, como a leveza e celeridade na
interação.
IV. Exercitar os processos de autolegislação e autocontrole nas comuni-
dades virtuais de aprendizagem, reconhecendo-as como espaços para
o exercício da cidadania e do desenvolvimento da cultura digital.
Assinale a alternativa correta:
a. Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
b. Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
c. Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
d. Somente as afirmativas II, III e IV.
e. Todas as afirmativas são verdadeiras.
199
Seção 3
Diálogo aberto
Nesta última seção, estudaremos outros recentes avanços tecnológicos
digitais, com o objetivo de mostrar as possibilidades de uso desses recursos
nas propostas de ensino presencial, presentes na educação a distância e,
portanto, naquelas que querem incorporar o ensino híbrido.
Estes produtos englobam todas as possibilidades de recursos educa-
cionais, tais como livros didáticos, produções literárias ou de divulgação
científica, artigos que apresentam pesquisas acadêmicas e seus resultados,
cursos completos ou parte deles, aulas ou propostas de aulas, áudios, vídeos,
filmes ou programas de computadores. No entanto, todos eles possuem uma
concessão especial sobre os direitos autorais que os permitem ser chamados
de Recursos Educacionais Abertos (REA).
No documento do 10º aniversário da Declaração de Educação Aberta
da Cidade do Cabo, na África do Sul, realizada em março de 2017, com o
objetivo de compreender os desafios e inspirar e focar no movimento para os
próximos dez anos, consta o seguinte relato, pertencente à Declaração:
Estamos à beira de uma revolução global em educação e
aprendizagem. Educadores em todo o mundo estão desen-
volvendo um amplo conjunto de recursos educacionais
disponíveis na internet, abertos e gratuitos para a utili-
zação de todos. Esses educadores estão criando um mundo
onde cada pessoa no planeta pode acessar e contribuir com
a soma de todos os conhecimentos humanos. Eles estão,
ainda, plantando a semente de uma nova pedagogia na
qual educadores e aprendizes criam, moldam e evoluem
o conhecimento juntos, aprofundando suas habilidades e
compreensões conforme progridem.
Esse movimento de educação aberta que está emergindo
combina a tradição estabelecida de compartilhamento de
boas ideias com os colegas educadores e a cultura colabo-
rativa e interativa da cultura da internet. Ele é constituído
na crença de que todos devemos ter liberdade de utilizar,
personalizar, melhorar e redistribuir os recursos educacio-
nais sem restrições. Educadores, aprendizes e outros que
compartilham dessa crença estão se unindo como parte de
200
um esforço global para fazer da educação algo acessível e
efetivo. (DECLARAÇÃO DE EDUCAÇÃO ABERTA DA CIDADE
DO CABO, 2007, [s.p.])
201
1. Hoje, qualquer pessoa, a qualquer momento, pode acessar artigos
científicos, livros, manuais, simuladores, etc., como também muitas
informações não confiáveis. Da mesma maneira, pode produzir infor-
mações com boa qualidade, assim como de má qualidade. Qual é o
papel da escola e do professor nesse novo contexto?
2. Por que vocês, na escola, estão estimulando o uso dos Recursos
Educacionais Abertos
3. Como você está usando os Recursos Educacionais Abertos em suas
aulas?
Perceba que as possíveis respostas a essas perguntas sintetizam o conhe-
cimento necessário para que você, professor ou futuro professor, possa usar
os REA e justificar seus usos.
Será esse o conhecimento que permitirá ter a flexibilidade necessária para
adaptar suas propostas de trabalho em qualquer parte da área educacional:
na sala de aula, na produção de materiais didáticos, na elaboração de orien-
tações metodológicas ou propostas curriculares ou no desenvolvimento de
Recursos Educacionais Abertos ou não.
Conhecer bem esse presente e as tendências educacionais, com pensa-
mento crítico e ético, em busca de uma sociedade com maior justiça
social, é o nosso atual desafio, e esta seção pretende ajudar na produção
desse conhecimento.
202
Na obra de Butcher (2010, p. 36), encontramos uma definição da Unesco/
Commonwealth of Learning (2011) sobre os Recursos Educacionais Abertos:
Dependência Públicas 84 13 3
administrativa Particular 83 17 0
5º ano do Ensino
74 21 4
Fundamental
203
Quadro 4.5 | Alunos de escolas urbanas, por local de acesso à internet
Dependência Públicas 79 92 36 90
administrativa Particular 85 98 42 91
5º ano do
Ensino 68 91 12 85
Fundamental
9º ano do
Série
Ensino 85 94 41 94
Fundamental
2º ano do
90 94 6 97
Ensino Médio
Esse cuidado foi tomado porque você, ao ter acesso a inúmeras infor-
mações sobre os REA, não deve perder de vista que o uso e o acesso a esses
produtos e aos seus conceitos requerem uma infraestrutura mínima, composta
por equipamentos ou dispositivos digitais e acesso à internet, como também
um mínimo de letramento digital e outros conhecimentos. Infelizmente,
esses dois condicionantes reduzem significativamente o número de alunos
e cidadãos que têm acesso ao REA. Diante dessa limitação, cresce a impor-
tância da escola e dos professores inserirem, em suas práticas, o uso do REA,
cujo acesso é gratuito. O termo aberto é por esse motivo.
Com essa abertura, a possibilidade de compartilhamento de invenções
abertas e livres e a oferta desses itens têm se ampliado bastante. Certamente,
o REA mais frequente e impactante tem sido programas e aplicativos de
computadores e dispositivos móveis, os chamados softwares livres.
Exemplificando
Existem inúmeros softwares livres disponíveis e em uso muito populares,
como o sistema operacional GNU-Linux, muitos navegadores (browsers)
usados cotidianamente na internet e plataformas, como o YouTube.
Mas não há apenas software livre para uso popular, há também aqueles
especializados, por exemplo, a linguagem R, inicialmente criada na
década de 1970, mas que se consolidou como um programa de código
aberto a partir da década de 1990. É frequentemente usada por
204
cientistas e estatísticos para manipulação e análise de dados. O Arduíno
é um exemplo de programa especializado na área educacional.
No Brasil, o Ministério da Educação disponibiliza um portal (plataforma)
que reúne e disponibiliza, em um único lugar, os Recursos Educacionais
Digitais dos principais portais do Brasil, para facilitar a busca desses
recursos.
Foco na BNCC
O uso dos REA é terreno fértil, principalmente, por conta dos verbos
utilizar e criar, presentes na quinta competência geral Base Nacional
Comum Curricular, que diz:
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de infor-
mação e comunicação de forma crítica, significativa,
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
escolares) para se comunicar, acessar e disseminar infor-
mações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(BRASIL, 2018, p. 9)
205
Essa diversidade de padrões de linguagem de programação, associada
ao também diverso padrão usado nos navegadores de internet (browsers),
apresentam muitos problemas de apresentação e de funcionamento quando
os objetos de aprendizagem virtual eram acessados. Esses problemas eram
agravados e raramente resolvidos por conta da característica inerente do
REA, que coloca uma distância geográfica e temporal entre o seu autor e
aquele o acessa.
Para superar esses problemas, a solução desenvolvida foi um procedi-
mento chamado empacotamento de conteúdo, o qual significa que o autor,
após concluir a elaboração do objeto de aprendizagem, usa um determinado
aplicativo para sua compactação. Esse produto só será descompactado pela
plataforma no momento que será acessado, de acordo com os padrões dos
códigos dessa plataforma, evitando os problemas anteriormente encontrados
na apresentação e no funcionamento dos objetos de aprendizagem.
Para elaborar um objeto de aprendizagem, assim como de qualquer outro
recurso digital, na concepção da Educação Aberta, em geral, cada uma das
etapas tem os seguintes objetivos:
• Coletar as informações e outros REA disponíveis, sempre se preocu-
pando com as informações inerentes eles, os chamados metadados
(para fazer isso, basta você procurar um dos endereços eletrônicos
que disponibilize os REA. No endereço eletrônico da Wikipédia, você
poderá conhecer seis diferentes tipos de projetos).
• Verificar a integridade dessas informações e dos REA coletados, assim
como também de seus metadados.
• Guardar de maneira organizada e sistemática cada um deles, para
facilitar o estudo e o planejamento das futuras intervenções neces-
sárias para a adaptação ao propósito educacional do novo objeto de
aprendizagem que está sendo elaborado (esse procedimento consiste,
basicamente, em você guardar os arquivos e seus projetos em um local
de seu controle, como um pen drive ou nuvem).
• Desenvolvimento da produção do novo objeto de aprendizagem,
seguindo as etapas planejadas.
• Testar e verificar a qualidade do objeto de aprendizagem criado. É
hora de aplicar os procedimentos da Curadoria Digital, para verificar
se o conteúdo, a trajetória metodológica e a funcionalidade estão
adequados ao propósito educacional estabelecido.
• Compartilhar o novo objeto de aprendizagem desenvolvido por meio
de algum software livre.
206
Exemplificando
O RELOAD Editor (Reusable E-Learning Object Authoring and Delivery) é
um dos muitos exemplos de software livre usado para criar, descrever
metadados e empacotar conteúdos digitais.
Outros programas semelhantes comumente usados são o CourseLab e
o Hotpotatoes.
207
• Compartilhar os novos REA produzidos ou outros original-
mente encontrados.
• Armazenar uma cópia do REA em seu próprio poder.
No entanto, essas liberdades não implicam a ausência dos direitos
autorais. Os REA mantêm o direito autoral, garantindo o reconhecimento do
autor e, ao mesmo tempo, oferece essas liberdades.
Nesse contexto, os REA permitem a gestão do direito autoral, isto é, que
o autor defina quais das liberdades deseja disponibilizar aos usuários de
sua produção.
Assimile
Com o propósito de proteger as relações entre o autor e quem se utiliza
de suas produções, existe a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro 1998, a
qual altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e
dá outras providências. Nessa lei, os direitos são divididos em morais e
patrimoniais.
O direito moral garante a autoria da produção, considerando-a intrans-
ferível e irrenunciável, enquanto o direito patrimonial assegura o
aproveitamento econômico da produção ao autor, permitindo a sua
transferência ou cessão a outras pessoas ou instituições.
Assimile
O simples uso de uma licença aberta não chega a caracterizar um
recurso disponibilizado como REA. A licença apenas torna claros quais
são os usos possíveis do recurso por outras pessoas que não sejam o
próprio autor. Para um recurso ser considerado um REA, o autor precisa
escolher como atribuição as licenças do tipo CC-BY, CCBY-SA, CC-BY-NC
CC-BY-NC-SA, uma vez que elas permitem que sejam misturadas,
revistas, modificadas, adaptadas e novamente disponibilizadas.
208
As licenças da CC consideram as atribuições da autoria, a utilização não
comercial, o compartilhamento pela mesma licença, e não as obras derivadas.
A combinação desses critérios resulta em diferentes licenças, as quais podem
ir desde as mais livres até aquelas mais restritivas. O quadro a seguir sintetiza
as seis possíveis licenças disponibilizadas pela CC.
Quadro 4.6 | Tipos de licença Creative Commons
Atribuição
CC BY
CC BY-SA
CC BY-ND
CC BY-NC
209
Atribuição – Não Comercial – Compartilha Igual
CC BY-NC-SA
CC BY-NC-ND
210
escola e do professor nesse novo contexto?” evidencia o fato de os avanços
tecnológicos terem mudado as formas de comunicação e interação nas mais
diversas práticas sociais, trazendo, atualmente, não apenas a potencialidade
dos computadores, mas, principalmente, a mobilidade possível no acesso,
na produção, no armazenamento e no compartilhamento de informações e
de recursos.
Esse questionamento evidencia também a importância de as escolas, em
geral, precisarem incorporar essas mudanças em suas práticas escolares, para
que possam cumprir o seu papel enquanto instituição social, que é possibi-
litar aos seus alunos o acesso ao conhecimento acumulado pela sociedade
e usá-lo para produzir novos conhecimentos e comportamentos, a fim de
identificar e resolver os atuais problemas, tanto sociais quanto naturais, que a
sociedade enfrenta e prevenir aqueles que podem surgir no futuro.
Como a própria pergunta informa, atualmente, qualquer um, de qualquer
lugar e a qualquer momento, desde que possa usar computadores ou disposi-
tivos móveis com acesso à internet, pode acessar uma incomensurável quanti-
dade de informações e recursos já disponíveis, Por isso, o papel da escola e,
consequentemente, do professor e de todos que com ele trabalham direta ou
indiretamente é orientar para que o acesso a informações e recursos, a identi-
ficação e a solução de problemas e o compartilhamento dessas soluções e dos
conhecimentos construídos sejam feitos orientados em princípios éticos e
permitam o desenvolvimento do pensamento crítico.
Todas as etapas da Curadoria Digital possuem muita aderência a qualquer
uma das propostas de metodologias ativas, que permitem não apenas tornar o
aluno responsável pela construção de seu conhecimento, suas competências,
suas habilidades, seus valores e suas atitudes, mas definir se essas mudanças
serão efetivamente inovações educacionais ou apenas ações conservadoras
revestidas de novas tecnologias.
Esse contexto mostra que, com os avanços tecnológicos, o papel dos
profissionais do magistério e do sistema educacional (não apenas do
professor ou da escola) ganha importância para combater um das patologias
que a ubiquidade pode gerar devido à falta da crítica e da ética, que é a sobre-
posição do conhecimento comum sobre o conhecimento científico. Ou seja,
quanto maiores forem os avanços tecnológicos digitais sobre a comunicação
e a interação presentes nas práticas sociais dos mais diversos campos de ativi-
dade humana, maior será a importância da educação, porque um de seus
desafios está em não apenas dominar o manuseio dos aparatos tecnológicos,
mas no domínio sobre a finalidade desse manuseio.
Outro desafio da educação está na diferença existente entre os
contextos dos alunos, não só no acesso a essas tecnologias, mas também
211
no conhecimento que têm e em suas condições de vida. A educação será
equânime quando conseguir dar um tratamento equitativo tanto nas salas
de aula como nesse background do aluno e sua família, ampliando a ideia
da personalização do ensino, interferindo não apenas nas questões metodo-
lógicas de ensino e de aprendizagem, mas também em outros fatores que
influenciam na aprendizagem que ocorre fora da escola. Portanto, a educação
precisa mostrar que a equidade educacional depende também de outras áreas
sociais e fazer demandas sobre elas. Dito de outra maneira, a equidade não
precisa existir dentro e fora dela.
A disponibilização dos REA tratados de forma licenciada nas mais diversas
comunidades virtuais de aprendizagem é exemplo real dessa possibilidade
para as práticas educacionais. Os alunos, desde que tenham os equipamentos
e o acesso à internet, podem, respeitando os direitos autorais e critérios da
curadoria, se tornar excelentes autores de novos REA, despertando interesse
pelo que aprendem e pela forma que aprendem nas escolas, uma vez que
tudo o que fazem passa a ter significado real. Esses são os motivos pelos quais
as escolas devem usar os REA, respondendo, assim, à segunda pergunta do
hipotético repórter da situação-problema proposta nesta seção.
Para responder à terceira pergunta, a qual questiona sobre a forma de
usar nas salas de aula, basta retomar os procedimentos para usos de metodo-
logia ativas, ou da curadoria digital, vistos em seções anteriores, ou ainda
retomar os procedimentos descritos nesta seção como objetivos de cada uma
das etapas para trabalhar com REA, que começa com a coleta de informa-
ções. Essas informações podem ser encontradas em repositórios disponi-
bilizados por diversas universidades ou instituições (públicas ou privadas
sem fins lucrativos) nacionais e internacionais. Opções não faltam, mas duas
excelentes referências para iniciar essa coleta podem ser:
• Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE).
• Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais.
Avançando na prática
212
Esse curso vai ser desenvolvido pelos alunos do Ensino Médio usando os
REAs (Recursos Educacionais Abertos).
Durante a pesquisa, os alunos ficaram em dúvida sobre o significado de
“empacotamento digital”. Ciente da especificidade da temática, você decidiu
preparar um texto para organizar uma apresentação sobre o assunto. Quais
informações você deve apresentar nesse material?
Resolução da situação-problema
O texto que fundamenta a exploração da temática “Empacotamento de
recursos digitais” poderia conter as seguintes informações:
Os objetos de aprendizagem, sendo ou não REA, são recursos que
permitem aos alunos ou professores organizarem seus processos de ensino
ou de aprendizagem. São compostos por textos, fotos, esquemas, gráficos,
tabelas, apresentações, áudios, vídeos, enfim, quaisquer recursos digitais
desenvolvidos para um propósito de ensino.
Uma das dificuldades enfrentadas para o uso desses recursos está na
falta de padronização provocada pela grande diversidade de especificações
técnicas usadas pelas ferramentas de autoria e pelos ambientes virtuais onde
são disponibilizados. Essa diversidade não é percebida pelo usuário final
desses recursos, sejam eles professores ou alunos, uma vez que fica no âmbito
do programa computacional e no armazenamento dos dados. Apesar disso,
é importante conhecer a existência desses diferentes padrões, para que se
entenda a complexidade técnica presente nesses processos de produção e
compartilhamento de REA.
Além disso, o conhecimento dessas diferenças é importante para que
alunos e professores entendam o motivo de os REA não poderem ser combi-
nados de forma que desconsiderem essa diferença de padrões. A padroni-
zação é necessária para que sejam possíveis a reutilização, a interoperabili-
dade, a durabilidade e a acessibilidade desses recursos, por meio do processo
de empacotamento.
O empacotamento de um objeto de aprendizagem faz com que todos os
arquivos digitais (apresentações, textos, gráficos, questionários, imagens,
vídeos, áudios, simuladores, metadados etc.) sejam compactados em um
único arquivo digital que atenda à especificação de um padrão técnico. O
objetivo da padronização é permitir a interconectividade entre sistemas de
diferentes especificações. Há diferentes padrões, dentre os quais, os pioneiros
foram: a Aliança de Autoria de Aprendizagem a Distância e Redes de
213
Distribuição na Europa (ARIADNE), o Comitê de Padrões de Tecnologia de
Aprendizagem (LTSC) e os Sistemas de Gerenciamento Instrucional (IMS).
Dentre os exemplos desses padrões existem:
• LOM (Learning Object Metadata Standard): modelo pioneiro e mais
difundido por especificar o conceito e a estrutura dos metadados.
• SCORM (Sharable Content Object Reference Model): modelo de
referência na modalidade de educação a distância.
• ICOPER5 (Interoperable Content for Performance): modelo com
proposta mais inovadora por priorizar o ensino por competências.
Para o aproveitamento das características que tornam os REAs relevantes,
é importante verificar o padrão usado em sua elaboração e disponibilização e,
portanto, a base (repositório) na qual ele é disponibilizado para que as produ-
ções dos alunos e professores que usam os REAS não apresentem problemas
durante o seu uso.
214
( ) Esta licença permite que outros distribuam, remixem,
(3) Atribuição – Sem adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins
Derivações/CC BY-ND. comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela
criação original.
215
III. III. Os conteúdos educacionais criados para serem Recursos Educa-
cionais Abertos nas diferentes localidades do mundo precisam ser
adaptados, não só pela questão da língua, mas também pela questão
cultural e temporal.
IV. IV. Os conteúdos digitais, para serem Recursos Educacionais
Abertos, como livros didáticos digitais, programas de computadores
e curso de línguas, precisam ser culturalmente neutros.
Assinale a alternativa correta:
a. Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
b. Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c. Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
d. Somente as afirmativas II, III e IV.
e. Todas as afirmativas são verdadeiras.
216
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II, verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
217
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