Você está na página 1de 7

3ª semana

Narrativa reflexiva

Rute Isabel da Silva Pestana


 3ª semana de observação
Tradição e cultura

“Cultura é um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o


direito, os costumes e todas as produções dos homens em sociedade”.
(Edward Taylor)

Esta semana a educadora começou por falar com as crianças sobre o São
Martinho. É habitual em todas as escolas comemorar-se esta data em que é
pedido ás crianças que peçam aos pais ou encarregados de educação que levem
para a escola um saquinho com uma dúzia de castanhas para depois serem
assadas. Mas será que esta tradição/costume tão português, é explicada às
crianças de modo a que culturalmente elas saibam o porquê de se comemorar
esta data e o porquê de se comer castanhas neste dia? Pude observar de um
modo geral que não, as crianças não têm noção do significado da festividade e
ao contrario da época natalícia, o dia de São Martinho, não é tido em
consideração nas escolas.

A educadora, após a rotina habitual do dia, perguntou ao grupo quem sabia


quem foi o São Marinho e o que ele representa nos dias de hoje, esta questão
deixou-me muito atenta às resposta que iriam ser dadas pelas crianças.
Nenhuma criança do grupo soube responder com detalhe à questão, o que não
me deixou admirada, O R foi o 1º a colocar o dedo no ar, estava com um ar muito
convicto que a sua resposta iria agradar a educadora, respondendo: “- é o dia
para se comer castanhas”, a educadora expressou contentamento na resposta
dada e parabenizou o R pela iniciativa. As respostas que se seguiram com os
dedinhos no ar, foram exatamente iguais às do R, ora isto denota que as crianças
muitas vezes dizem aquilo que ouvem para receberem a validação do adulto. De
acordo com pesquisas realizadas, as criança se sentem mais seguras e
confortáveis quando usam a repetição, isso transmite-lhes, conforto e autonomia
porque a repetição é uma porta aberta para o aprendizado.

2
A educadora insistiu na questão ressaltando que não era o que se fazia no
São Marinho, mas sim quem foi o São Martinho. Ninguém soube responder e o
tema não foi mais abordado durante o dia.
Fiquei admirada pela educadora não trabalhar com as crianças a importância
de se manter as tradições. Apesar da pertinência do tema do São Martinho, o
foco da questão colocada pela educadora, não foi a que eu esperava. Considero
importante, a iniciativa feita pela educadora, mas eu partiría dessa pergunta de
partida para trabalhar a cultura e as tradições, do ponto de vista das crianças,
partindo do que já sabem e das suas vivências em relação às questões culturais
e tradições que trazem do seio familiar e da rua.
Quero deixar claro que não estou a colocar em causa o curriculo escolar ou a
organização das atividades e projetos pedagógicos relativos às datas
comemorativas da escola em questão, a minha intenção é entender o ponto de
vista das crianças partindo do que já sabem e que não nos podemos esquecer
que nos tempos em que vivemos, existe cada vez mais uma multiculturalidade
dentro das escolas, daí ser importante dar ás crianças o conhecimento da sua
própria cultura e tradições como poderem conhecer outras que os próprios
colegas de grupo têm e que possam partilhar.

O tema seguinte (halloween) iniciado pela educadora, deixou as crianças com


muita vontade de falar e expressar as suas vivências durante o fim de semana
prolongado devido ao feriado de 1 de nevembro. O Halloween é um tema que
apesar de não estar culturalmente presente nas tradições portuguesas, as
escolas, as crianças e as famílias, vivem esta data de forma mais animada. É a
oportunidade das crianças se vestirem com fantasias assutadoras e brincar ao
faz de conta.
A divulgação e o conhecimento de tradições de outros países, não têm nada
de errado, o que me entristece é que se façam acompanhar de uma colonização
de tal modo forte e eficaz, que as nossas tradições acabam completamente
secundárias. O que é feito do “pão por Deus”? Uma tradição tão nossa que está
em vias de extinção e a ser substituida por bruxinhas, dráculas e morceguinhos,
onde as casas e as escolas usam decorações alusivas ao tema importado de
Inglaterra e da América.

3
O Halloween começou a ser transmitido às crianças através das aulas de
inglês, nada contra, afinal os professores de inglês têm como função, ensinar a
língua e os costumes ligados ao país de origem da língua que estão a ensinar.
A globalização e a aproximação de Portugal com outros países, leva a uma
abertura de informação mais facilitada, através dos diversos meios de
comunicação como a televisão e da internet, as crianças são envolvidas de forma
quase que “engolidas” por outras culturas. A problemática é que as escolas em
conjunto com as famílias, deveríam de ter um papel mais ativo neste tipo de
divulgação, aplicando em contexto de ensino/aprendizagem as nossas culturas
e tradições. Infelizmente estamos a perder alguns aspetos culturais que nunca
mais iremos ver no futuro.

 Implementação da primeira atividade


O jogo em sala como estratégia de ensino/aprendizagem

Muitas dúvidas persistem entre educadores, quanto ao uso do jogo como


material pedagógico: Se o jogo implementado em sala de aula é realmente só
jogo de brincadeira ou é um meio para atingir um objetivo (Kishimoto, 1998, p.
13). Neste sentido é concordante entre os diversos autores, que o jogo é uma
forma das crianças aprenderem e adquirirem competências, apesar de ainda
prevalecer a ideia de que o jogo está associado ao recreio e à brincadeira sem
conteúdo educativo e que jogo e material pedagógico têm sentidos, objetivos e
significados diferentes.
Deste modo, e sabendo que o jogo faz parte do dia a dia das crianças e só trás
benefícios, Pedi á educadora se podia fazer um jogo para que as criança
pudessem aproveitar o final do dia até á hora de irem para casa. O jogo foi proposto
ao grupo e todos quiseram participar com muito entusiasmo, com exceção da A
que apesar de ter entrado na roda, não quis ter uma participação ativa no jogo, ao
qual respeitei a sua vontade. De acordo com Silva, et al,
“os jogos com regras, progressivamente mais complexas, são, ainda,
ocasiões de desenvolvimento da coordenação motora e de socialização,
de compreensão e aceitação das regras e de alargamento da linguagem,
proporcionando, ainda, uma atividade agradável que dá prazer às crianças”
(OCEPE, 2016. P. 44).

4
- Nome do jogo: “onde está o meu gatinho”

- Jogadores: o grupo de crianças

- Material: uma venda ou algo que dê para tapar os olhos

- Duração: 10 a 15 minutos

- Descrição do jogo

1. As crianças fazem uma roda aberta em pé,


2. Uma das crianças vai para o meio da roda com os olhos vendados,
3. As crianças da roda, dão uma volta para saírem do lugar onde estavam e
sentam-se. Iniciam a canção,
4. No final da canção, uma das crianças da roda nomeada pela educadora, diz
miau,
5. A criança que está no meio, tira a venda e tenta adivinhar quem fez o miau.

 Intensionalidade educativa na 1ª intervenção.

No decorrer da minha intervenção e a partir da observação registada das


características do grupo de crianças, surgiu a problemática - durante o tempo livre,
os jogos e brincadeiras tanto em contexto de sala, como no recreio, são realizadas
em pequenos grupos ou individualizadas e quando são realizadas em pequenos
grupos, são sempre as mesmas crianças nesse grupo, ou seja, o grupo não realiza
atividades cooperativas ou brincadeiras como um só grupo. Foi uma surpresa
aperceber-me que esta realidade se repetia de um modo geral por todas as salas
do pré-escolar.
Asim, considerei que seria uma mais valia conversar e debater com a educadora,
uma estratégia que fosse de encontro ao pretendido - a realização de jogos
cooperativos em ambas as minha intervensões tendo em consideração as
atividades e planificações tanto da educadora como da escola. A análise das
conversas com a educadora cooperante, permitiu-me compreender que a
educadora não segue nem adota nenhum modelo pedagógico específico e que a
sua intensionalidade é preparar as crianças para a entrada no 1º ciclo
(escolarização). Silva et al, descrevem a intensionalidade do educador e a sua
intervenção profissional, como uma reflexão sobre as finalidades da sua prática :

5
papel profissional; imagem da criança, o que valoriza no que a criança sabe e faz
e no modo como aprende. Assim, a intensionalidade, permite atribuir um sentido,
um propósito ao que vai implementar para saber o porquê do que faz e o que
pretende alcançar. (OCEPE p. 13).
O meu objetivo e intensão na aplicação desta atividade do jogo cooperativo, foi
articular a expressão fisica com a musica e proporcionar às crianças a
oportunidade de “trabalharem” como grupo cantando a uma só voz e saberem fazer
silêncio para escutar e identificar sons (voz). O silêncio é assim importante pois
possibilita a aprendizagem da memorização e concentração.

 Reflexão final

De acordo com o observado durante esta semana, é notório que as crianças


evidenciam alguma imaturidade, principalmente no que concerne à autonomia e
confiança. Usam muiitas vezes o termo: “...não consigo fazer...” ou “...não
consigo pintar...”. Esta insegurança, na minha perspetiva educativa, advém da
pressão exercida por toda a comunidade educativa para que as crianças
aprendam o mais rápido possível da melhor maneira possível para que vão o
mais bem preparadas possível para o 1º ano. Algumas crianças demonstram que
não possuem algumas competências sociais e intelectuais tais como: comer
sozinha, vestir o casaco, atar os sapatos, ate mesmo limpar-se na hora de ir à
casa de banho e dificuldades na llinguagem e na forma de se expressarem.Neste
sentido considero que poderá vir a ser uma problemática quando imgressarem
no 1º ano.
Na minha opinião, existem estratégias que poderão facilitar o processo de
transição através da aproximação metolológica entre as duas valências:
melhoría na comunicação entre educadoras/es e professor/as através da partilha
de experiências, fazer trabalho colaborativo e projetos em comum ás duas
etapas educativas, partilha do ambiente escolar, tais como refeitório, recreio e
atividades no âmbito de projetos escolares, sem que aja uma separação horária
para que as crianças possam partilhar experiências e terem contacto com a
realidade para onde irão no ano seguinte.

6
 Referências Bibliográficas

Kishimoto., M., T. (1998). O jogo e a educação infantil. P.13

Porto Editora. Edward Tayler. In: Infopédia. url:


https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$edward-tylor

Silva, L., I. Marques, L. Mata., L. et al (2016). OCEPE. P. 13, 44. url:

http://www.dge.mec.pt/ocepe/sites/default/files/Orientacoes_Curriculares.p
df

Você também pode gostar