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Canto V

Contexto anterior:
Vasco da Gama refere-se aos fenómenos naturais que dificultaram a viagem (episódios
naturalistas – Fogo de Santelmo e Tromba marítima) e ao Gigante Adamastor (episódio
lírico, épico e mítico.

Pág.174 e 175 do manual

Estas estrofes correspondem ao fim da analepse, isto é, ao final do discurso de Vasco


da Gama (est. 89). É de realçar que Vasco da Gama apela à capacidade imaginativa do
rei para que ele possa conceber como reais todas as privações e todos os perigos que
caracterizaram a viagem dos portugueses. Mais uma vez, o caráter extraordinário das
ações e vivências dos marinheiros é colocado num patamar de excecionalidade (ver
est. 70 e 72).

Est.86 e 89 – Poema de superação

Ambas as estâncias destacam o caráter heroico das ações dos portugueses,


apresentados como os únicos a empreender a difícil missão de conquistar o mar.
Mesmo quando comparados com os heróis das epopeias clássicas saem vitoriosos, pois
aqueles textos eram “fábulas Vãs”, enquanto a atuação dos nautas lusitanos é
“verdade” e, por isso, superior a qualquer “escritura”.

A caracterização dos marinheiros, quando se refere às provações que passaram, é de


homens sofredores, resistentes e corajosos (“coitados”, “perdidos”, “quebrantados”,
“cansados”) e até desesperançados. Por outro lado, a sua personalidade “obediente”,
marcada pela “lealdade firme” permitiu-lhes superar, em conjunto as dificuldades e
manter o objetivo coletivo de chegar à Índia.

Estância 90 - A partir deste momento, o narrador passa a ser, novamente, o poeta.

Est. 92 a 100 – Reflexão do poeta

Desvalorização da poesia e da cultura pelos portugueses


«O poeta censura os portugueses que desprezam a poesia, tecendo uma crítica acerba
à falta de estima que os líderes políticos portugueses revelam em relação à criação
literária (ver est. 95, versos 1 a 4; est. 97, versos 5 a 8; est.99, versos 5 a 8), ao
contrário da atitude que mantinham os grandes chefes militares e políticos da
Antiguidade, que protegiam os poetas ou eram eles próprios cultores das letras
(estes sabiam que só através da escrita se tornariam imortais [ver est. 95, versos 5 e 6;
est. 97, versos 1 a 3]); o poeta afirma, ainda, que é por falta de cultura que a elite
portuguesa despreza a criação artística: “quem não sabe arte, não na estima” (estância
97, versos 5 a 8; est.99, versos 5 a 8).

De facto, é o povo português que merece inúmeras críticas do poeta. O sentido crítico
do escritor e a sua capacidade de análise não lhe permitem omitir a perceção da
situação nacional, que começava a dar sinais de decadência: os portugueses do século
XVI pareciam ter esquecido o valor da arte e da cultura, enquanto manifestações da
espiritualidade humana. O poeta critica, assim, a indiferença dos políticos que
governam o país face à poesia.

Define-se aqui o caráter pedagógico da epopeia renascentista, através do apelo que o


poeta realiza, ao convidar os portugueses a seguirem aqueles que devem funcionar
como modelos, pela forma como souberam conciliar o ofício guerreiro e as letras.»

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