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TESTE DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS, 12º ANO

Ano letivo de 2015/2016

GRUPO I
PARTE A

Lê atentamente o excerto do Canto VII de Os Lusíadas, de Luís de Camões, correspondente ao


momento anterior ao da narração de Paulo da Gama ao Catual e que constitui uma breve invocação do
poeta.

78 82
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego, Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
Eu, que cometo, insano e temerário, O vosso Tejo cria valerosos,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego, Que assi sabem prezar, com tais favores,
Por caminho tão árduo, longo e vário! A quem os faz, cantando, gloriosos!
Vosso favor invoco, que navego Que exemplos a futuros escritores,
Por alto mar, com vento tão contrário Pera espertar engenhos curiosos,
Que, se não me ajudais, hei grande medo Pera porem as cousas em memória
Que o meu fraco batel se alague cedo. Que merecerem ter eterna glória!

[…] […]

81 84
E ainda, Ninfas minhas, não bastava Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
Que tamanhas misérias me cercassem, A quem ao bem comum e do seu Rei
Senão que aqueles que eu cantando andava Antepuser seu próprio interesse,
Tal prémio de meus versos me tornassem: Imigo da divina e humana Lei.
A troco dos descansos que esperava, Nenhum ambicioso que quisesse
Das capelas de louro que me honrassem, Subir a grandes cargos, cantarei,
Trabalhos nunca usados me inventaram, Só por poder com torpes exercícios
Com que em tão duro estado me deitaram. Usar mais largamente de seus vícios;
CAMÕES, Luís de, Os Lusíadas

1. Identifica o destinatário da mensagem do poeta e o motivo que o leva a dirigir-se-lhe,


interpretando a dimensão metafórica da estância 78.

2. Na estância 82, o poeta utiliza um tom crítico e sarcástico.

2.1. Sintetiza os motivos que o determinam.

3. Explicita brevemente o conteúdo da última estrofe.

1
GRUPO II

Lê atentamente o texto que se segue.

A inauguração, em 1998, da enorme Ponte Vasco da Gama, sobre o estuário do Tejo, veio
finalmente constituir uma homenagem pública permanente àquele que foi - e é - um dos mais
famosos portugueses de sempre. Ao lado de Vasco da Gama, com projeção mundial equivalente
só existem mesmo o Infante D. Henrique e o entre nós demasiado "esquecido" Fernão de
Magalhães (que organizou a primeira viagem à volta do mundo, mas ao serviço da Espanha).
5 Sim, porque - falando a sério - as "glórias" futebolísticas são não apenas efémeras mas sobretudo
irrelevantes.
Quase toda a gente sabe dizer de cor que "Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo
para a Índia". Mas esta frase feita pode gerar alguma confusão: se ele descobriu o caminho
marítimo, era porque o caminho terrestre já era conhecido. E é verdade. Só que ninguém ia à
10 Índia por terra. Da Índia, o que interessava na Europa eram as especiarias, que nesse tempo
valiam quase tanto como o ouro. Quem trazia esses produtos para o Ocidente eram os
marinheiros árabes, que os deixavam na zona de Suez. As mercadorias atravessavam o istmo1
às costas de camelos para serem embarcadas em navios da República de Veneza, que por sua
vez os vendia, mais caros do que os olhos da cara, nas praças europeias. A certa altura
15 (concretamente em 1453), para agravar ainda mais as coisas, a tomada de Constantinopla pelos
turcos complicou a navegação no Mediterrâneo oriental, fazendo disparar os preços das
cobiçadas e já caríssimas especiarias. Só havia uma solução: ir buscá-las diretamente ao Oriente.
[…]
Quem teve a ideia foi D. João II, o mesmo rei que já vimos assinar o Tratado de Tordesilhas
20 com a Espanha. Mas entretanto esse estadista visionário morrera sem deixar herdeiro direto (o
filho morrera num acidente), sucedendo-lhe o cunhado, D. Manuel I. Foi dessa missão de
encontrar o caminho marítimo para a Índia que o novo soberano incumbiu Vasco da Gama. […]
Em Kozhikode, a que os portugueses chamaram Calecute, no atual estado indiano de
Kerala, onde aportaram em 20 de maio de 1498, viveram ainda mais aventuras, dignas da
25 imaginação de Emílio Salgari e da interpretação de Errol Flynn. O soberano local, um rajá
chamado Samutiri Manavikraman, que tanto era amigo como inimigo de Gama, ficou registado
nas nossas crónicas com o nome de Samorim de Calecute. Mas tudo acabaria por correr bem e
Gama regressou a Lisboa com os porões carregados de especiarias.
Esta triunfal viagem não só lançou as bases do efémero império português do Oriente,
30 como inaugurou a primeira era de globalização, a que o famoso historiador inglês Arnold
Toynbee chamou Era Gâmica (do nome de Vasco da Gama).
No rasto dos portugueses, outras potências europeias lançaram-se depois ao assalto da
Ásia e da África, e a História do mundo entraria numa nova fase: a da "aldeia global".
É ou não é verdade que se justificava plenamente o feriado de 20 de maio, data da chegada
dos portugueses a Calecute, exatamente 500 anos antes da inauguração da Ponte Vasco da
Gama?
In http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/a-viagem-que-mudou-o-mundo=f640507
MARTINS, Luís, “A viagem que mudou o mundo”, in Visão, nº 981, 22 de dezembro de 2011 (com supressões)

1 Terra que liga uma península ao continente.

2
1. Para responderes a cada um dos itens 1.1. a 1.7., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

1.1. Com o recurso aos parênteses nas linhas 4 e 5, o narrador


(A) introduz uma reformulação.
(B) apresenta informação complementar sobre o nome.
(C) isola um comentário pessoal.
(D) fornece informações adicionais sobre a viagem de Vasco da Gama.

1.2. A utilização de aspas na palavra “ glórias” (l. 5) salienta


(A) a utilização irónica do termo.
(B) a origem estrangeira da palavra.
(C) o valor conotativo da palavra.
(D) a função sintática do vocábulo.

1.3. Com a utilização das expressões “ D. João II” (l. 17) e “esse estadista visionário” (l. 18), o
narrador concretiza o processo da
(A) catáfora.
(B) elipse.
(C) correferência não anafórica.
(D) anáfora.

1.4. Com o recurso ao pretérito mais-que-perfeito do indicativo na forma verbal “morrera” (l. 18), o
narrador assegura a coesão
(A) lexical.
(B) frásica.
(C) interfrásica.
(D) temporoaspetual.

1.5. O enunciado “ Esta triunfal viagem não só lançou as bases do efémero império português do
Oriente, como inaugurou a primeira era de globalização ” (ll. 27-28) é constituído por duas
orações, sendo a segunda
(A) uma oração coordenada assindética.
(B) uma oração subordinada adverbial causal.
(C) uma oração subordinada adverbial comparativa.
(D) uma oração coordenada copulativa.

1.6. O termo “assalto ” (l. 30) é usado com o sentido de


(A) invasão militar.
(B) exploração económica.
(C) ataque marítimo.
(D) roubo.

3
1.7. Como classificas a oração sublinhada no enunciado “é verdade que se justificava plenamente o
feriado de 20 de maio” (linha 32)?
(A) Oração subordinada adverbial consecutiva.
(B) Oração subordinada substantiva completiva.
(C) Oração subordinada substantiva relativa.
(D) Oração subordinante.

2. Responde às questões.

2.1. Classifica a oração presente no constituinte “que "Vasco da Gama descobriu o caminho
marítimo para a Índia"” (ll. 7-8).

2.2. Com o recurso ao pronome “lhe” (l. 19) estamos perante que processo de coesão referencial?

2.3. Transcreve o deítico espacial que encontras na frase “Mas esta frase feita pode gerar alguma
confusão ” (l. 8).

GRUPO III

Seleciona uma opção:


A)
O poder sem moral converte-se em tirania.
Grandes discursos não provam grande sabedoria.
O novo por não saber e o velho por não poder deitam tudo a perder.
Muitas vezes se perde por preguiça o que se ganha por justiça.

Num texto bem estruturado, com o mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresenta
uma reflexão sobre um dos provérbios apresentados.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.

B) Atenta no início do conto “O condor”, da América do Sul:

Na montanha do Chimborazo vivia, num lindo palácio escavado na rocha, Parajo, o condor de colar
prateado, o mais belo de todos os Andes.

4
Quando voava no céu, escurecia o Sol com a amplitude das suas asas. A gente temia-o e admirava-
o ao mesmo tempo. O condor, quando não arranjava animais para comer na floresta, atacava as ovelhas,
cabras e até vitelos que andavam a pastar.
Mas o que os homens mais temiam era o seu gosto pelas raparigas: o condor não gostava de viver
sozinho, rodeando-se, por isso, de lindas moças. […]

Continua o conto, num texto bem estruturado, com o mínimo de duzentas e um máximo de
trezentas palavras, respeitando as características do texto narrativo. Deves incluir um momento de diálogo
e outro de descrição.

BOM TRABALHO!
A DOCENTE: Lucinda Cunha

COTAÇÕES:

GRUPO I GRUPO II GRUPO III


1 2 3 4* 5* 1 2
50 pontos
20 pontos 20 20 20 20 35 15 pontos
(C12+F8) pontos pontos pontos pontos pontos (5 pontos
(C12+F8) (C12+F8) (C12+F8) (C12+F8) (5 pontos cada)
cada)
Conteúdo: C
Aspetos de estruturação do discurso e correção linguística/ Forma (F):8 pontos (Estruturação do discurso
(E): 4 pontos + Correção linguística (CL): 4 pontos)
GRUPO III: *a realizar posteriormente
Estrutura temática e discursiva-ETD (50 pts)
Tema e tipologia- TT (15 pts)
Estrutura e Coesão: EC (10 pts)
Léxico e adequação do discurso: LAD (5 pts)
Correção Linguística (20 pts)

PROPOSTA DE CORREÇÃO
(NOTA: as questões 4 e 5 serão resolvidas mais tarde, pelo que a cotação total deste teste é de 160 pontos;
uma vez que todas as questões referem a estância a consultar, creio ser desnecessário identificá-las nas
respostas)

QUESTÕES E RESPOSTAS DO GRUPO I RETIRADOS DO “LIVRO DO PROFESSOR” DO MANUAL


EXPRESSÕES 12, DA PORTO EDITORA, E DA AUTORIA DE PEDRO SILVA, ELSA CARDOSO, M. CÉU
MOREIRA E SOFIA RENTE, ASSIM COMO AS QUESTÕES 1.1, 1.2., 1.3 E 1.6 DO GRUPO II (PP. 51 E
53):

5
GRUPO I
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO DO GRUPO I
Níveis Descritores do nível de desempenho Pontuação
4 Responde adequadamente. 12
3 Responde, de modo não totalmente completo ou com pequenas imprecisões . 9
2 Responde, de modo não totalmente completo e com pequenas imprecisões . 6
OU
Responde, de modo incompleto ou com imprecisões.
1 Responde, de modo incompleto e com imprecisões. 3

1. O poeta invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego, solicitando-lhes o seu “favor” (v. 5) para conseguir
continuar a cantar os lusitanos, apesar da desconsideração destes face ao seu trabalho. Entendendo
a sua tarefa como um “caminho tão árduo, longo e vário” (v. 4), sente-se como um navegador em
“alto mar” (v. 6), ameaçado por “vento tão contrário” (v. 6), ou seja, envolvido numa empreitada
(literária) que, não sendo reconhecida como desejaria, lhe provoca sofrimento e desilusão. Deste
modo, pretende obter ajuda das Ninfas para que o seu “fraco batel” (v. 8) não se “afunde” antes de
concluído o poema.
2.
2.1. O poeta usa um tom sarcástico quando se refere aos “engenhos de senhores” portugueses (v. 1)
porque estes não valorizam os escritores que os glorificam através do seu canto (vv. 3-4). Ele
cantou os feitos dos portugueses e o valor do seu trabalho não foi reconhecido ou premiado.
Acrescenta ainda que, não recompensando os poetas, tais “senhores” estão a dar um mau
exemplo aos “futuros escritores” (v. 5) que pretendam conservar para futuro a glória dos
portugueses.
3. Partindo da sua experiência, o poeta promete que não vai cantar aqueles que põem em primeiro
lugar o seu próprio interesse em vez do bem comum e do do Rei. Também não cantará os
ambiciosos que devem alcançar grandes cargos para desenvolverem os seus vícios.

GRUPO II
1.1. B
1.2. A
1.3. C
1.4. D
1.5. D
1.6. B
1.7. B
2.1. oração subordinada substantiva completiva
2.2. anáfora
2.3. “esta”

GRUPO III
Dada a natureza desta questão, não são apresentadas propostas de resposta. Fica, todavia, o texto na
íntegra:

6
O CONDOR

Mesmo no meio da maldade, há sempre quem se compadeça com os opressores. E lhes queira bem. Como
a doce rapariga desta fábula do Chimborazo equatoriano.

Na montanha do Chimborazo vivia, num lindo palácio escavado na rocha, Parajo, o condor de colar
prateado, o mais belo de todos os Andes.
Quando voava no céu, escurecia o Sol com a amplitude das suas asas. A gente temia-o e admirava-o ao
mesmo tempo. O condor, quando não arranjava animais para comer na floresta, atacava as ovelhas, cabras
e até vitelos que andavam a pastar.
Mas o que os homens mais temiam era o seu gosto pelas raparigas: o condor não gostava de viver sozinho,
rodeando-se, por isso, de lindas moças. Na Primavera, quando havia muitas flores nos campos, Parajo
punha-se de atalaia entre as árvores, escondendo o colar para não trair a sua presença. Observava as moças
que colhiam flores e aguardava. Quando uma rapariga se afastava do grupo, raptava-a e levava-a para o
palácio, voando por entre as nuvens. Todos os anos desaparecia uma!
No palácio do condor, as moças eram amadas e adoradas, todas as aves da floresta trinavam os cantos mais
melodiosos para elas, os criados preparavam-lhes os pratos mais deliciosos, os colchões das camas eram
de plumas, o que fazia com que muitas delas até se esquecessem dos pais e da terra.
Um dia, Parajo raptou a mais bela de todas as raparigas da aldeia, com os lábios rosados como uma flor,
sempre sorridente, mas..., há sempre um mas em tantas histórias: a moça deixou de sorrir. Não alegrava o
esplendor do palácio, porque ela amava intensamente um jovem, que ficara na aldeia, abandonado, e que
chorava desesperadamente.
Ela não sabia como mandar-lhe dizer que pensava constantemente nele e que ansiava que a fosse libertar.
Olhava pela janela, mas não via nada, até que um dia passou por ali uma nuvem e a moça gritou-lhe a sua
mensagem: «Vai, vai ter com o meu amor e diz-lhe que eu estou aqui prisioneira e que quero que ele venha
libertar-me!»
A nuvenzinha compreendeu e voou até ao ouvido do jovem. Ele escutou a mensagem e ficou ainda mais
desesperado, porque não sabia o que havia de fazer: a montanha era muito alta e difícil de escalar.
Nesse momento, passou no céu uma águia-real, a eterna inimiga do condor. O jovem chamou por ela. Esta
desceu e, juntos, gizaram um plano para salvar a rapariga, com a ajuda de outras águias.
No dia seguinte, a águia levou o jovem até junto do palácio de Parajo, seguida pelas companheiras, e
esperaram.
O condor saiu, fechando a porta. Entretanto, o jovem, por uma janela, pôde gritar palavras de amor à sua
amada. Mas era preciso esperar pelo regresso do grande pássaro: quando ele chegou, o bando de águias
atacou-o e, bicando-o, obrigaram-no a abrir a porta. Todas as raparigas puderam sair cavalgando no dorso
das águias, acompanhando o casal de namorados.
Ficou no palácio apenas uma: a mais doce, que tratou das feridas do grande condor, alisou-lhe as penas e
ficou para sempre com ele.
Surgiu assim a raça dos condores-anões, que vivem nas montanhas mais baixas e são amigos dos homens.
In http://www.alem-mar.org/cgi-
bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEukAuVuZugGfZlMNi

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