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Unidade 3 — Ficha de avaliação

NOME: N.º: TURMA: DATA: ________

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia atentamente «O poema pouco original do medo», de Alexandre O’Neill, incluído
5na obra Abandono vigiado, de 1960.

O medo vai ter tudo  30 heróis


pernas  (o medo vai ter heróis!)
ambulâncias  costureiras reais e irreais
e o luxo blindado  operários
5 de alguns automóveis  (assim assim)
35 escriturários
(muitos)
Vai ter olhos onde ninguém o veja 
intelectuais
mãozinhas cautelosas 
(o que se sabe)
enredos quase inocentes 
a tua voz talvez
ouvidos não só nas paredes 
1 40 talvez a minha
mas também no chão 
0 com a certeza a deles
no teto 
no murmúrio dos esgotos 
Vai ter capitais
e talvez até (cautela!)
países
ouvidos nos teus ouvidos
suspeitas como toda a gente
45 muitíssimos amigos
O medo vai ter tudo
1 beijos
fantasmas na ópera
5 namorados esverdeados
sessões contínuas de espiritismo
amantes silenciosos
milagres
ardentes
cortejos
50 e angustiados
frases corajosas
meninas exemplares
2 Ah o medo vai ter tudo
seguras casas de penhor
0 tudo
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos (Penso no que o medo vai ter
ótimos empregos e tenho medo
55 que é justamente
poemas originais
2 e poemas como este o que o medo quer)
5 projetos altamente porcos
*

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O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
6 havemos todos de chegar
0 quase todos
a ratos

Sim
a ratos
Alexandre O'Neill, Poesias completas,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000.

1. Tendo em conta o tema do poema, explicite as razões que levam o sujeito poético
10 a proceder a um inventário.
2. Interprete os versos «e talvez até (cautela!) / ouvidos nos teus ouvidos» (vv.
13--14), à luz da mensagem que o poema pretende transmitir acerca do medo.
3. Explique a última estrofe do poema, explicitando o seu valor conclusivo.

15GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
20Leia o excerto que se segue, de José Régio.

Não esperava escrever qualquer novo


posfácio para qualquer nova edição dos Poemas
25de Deus e do Diabo. Sucede, porém, que já sou um
velho poeta. Assisti, portanto, a diversos
movimentos literários; tomei parte em alguns
deles; entrei, por mais de uma vez, nas
escaramuças das gerações; em algumas delas
30mereci a honra (que continuo a merecer) de ser o
alvo predileto dos ataques; verifiquei a
relatividade, ou a inconsistência, das verdades
absolutas de variados dogmatismos e ortodoxias;
vi desenrolar-se a dança das horas e das modas;
35testemunhei o rápido envelhecer de novidades
reclamadas como a Boa Nova definitiva,
implantadas para um longo futuro que durava dois
dias e meio.

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Um escritor presente à cena literária durante mais de quarenta anos acha
40riquíssimas oportunidades de observação no palco, na plateia, nos bastidores. E várias
coisas que de momento lhe haviam interessado vivamente, a quase só fumarada e
algazarra se lhe reduzem depois. Claro que não tem que se arrepender. Sem a
faculdade da ilusão, que movimento e que ação nos seriam possíveis? Só tem de
aprender. E até continuar a enganar-se, a iludir-se, a errar, a tatear, se para
45verdadeiramente continuar a aprender lhe for isso necessário. No fim e ao cabo,
ficam--lhe na mão duas ou três crenças a que não pode renunciar — até porque são
íntimas à sua natureza.
Não me arrependo das polémicas em que tenho entrado: uma vezes provocadas
por mim, outras desafiado eu a elas. Não me arrependo de ter polemizado nas
50anteriores redações deste posfácio. Se o polemista não está de todo cego, ou o não é
sem remédio, até na polémica pode dizer coisas interessantes, inteligentes ou justas
de parte a parte. Aliás, também pode a polémica servir a história, subsidiar a crítica,
ajudar a esclarecer ideias. Igualmente não me arrependo de outras vezes ter evitado a
polémica, por uma ou outra de duas razões antagónicas: por estimar o antagonista de
55momento, e recear magoá-lo inadvertidamente, ou, ao contrário, por me haver ele
inspirado indiferença, desprezo, ou consciência da inutilidade de qualquer tentativa de
diálogo.
José Régio, posfácio de Poemas de Deus e do Diabo,
12.ª ed., Famalicão, Quasi Edições, 2002.

601. A leitura do primeiro parágrafo do texto permite concluir que José Régio
(A) procurou, ao longo da sua carreira literária, manter-se afastado das discussões
dos meios literários.
(B) assistiu ao abandono de determinadas ideias que eram consideradas verdades
inquestionáveis.
65 (C) percebeu que, no campo literário, determinadas ideias eram verdades absolutas
e, por isso, imunes à mudança.
(D) foi um autor cujas ideias recebiam a aprovação de todos.

2. Os vocábulos «porém» (l. 3) e «portanto» (l. 4) asseguram a coesão


(A) frásica.
70 (B) interfrásica.
(C) referencial.
(D) temporal.

3. O constituinte «absolutas» (l. 11) desempenha a função sintática de


(A) complemento do adjetivo.
75 (B) modificador apositivo do nome.
(C) modificador restritivo do nome.
(D) predicativo do complemento direto.

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4. A oração «que durava dois anos e meio» (ll. 15-16) é uma subordinada
(A) substantiva completiva.
80 (B) adverbial consecutiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.

5. O constituinte «das polémicas em que tenho entrado» (l. 26) tem a função sintática de
(A) complemento oblíquo.
85 (B) modificador de frase.
(C) modificador do grupo verbal.
(D) complemento direto.

6. O constituinte «-lo» (l. 33) contribui para a coesão textual, sendo um exemplo de
(A) anáfora.
90 (B) catáfora.
(C) elipse.
(D) correferência não anafórica.
7. O pronome «me» (l. 33) desempenha a função sintática de
(A) sujeito simples.
95 (B) complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D) complemento agente da passiva.

8. Refira o valor modal do verbo «ter» em «Só tem de aprender» (ll. 21-23).

9. Identifique a função sintática do vocábulo «que» (l. 8).

10010. Identifique o antecedente do pronome «ele» (l. 33).

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