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MANUEL ALEGRE

TÓPICOS DE RESPOSTA
(Cenários de resposta)

«Trova do vento que passa»

1.
Portugal, nesta época, era dominado pelo Estado Novo, regime repressivo que iniciara, em 1961, a
Guerra Colonial, para manutenção das colónias em África.

2.
Dessa forma, não transmite ao sujeito poético péssimas notícias da pátria.

3.
Metáfora — tem o objetivo de mostrar que, na época, em Portugal, todos os sonhos estavam
condenados ao malogro.

4.
O eu sente um profundo desalento pela situação em que o seu país se encontra: «que morro por meu
país» (v. 16).

5.
Pretende ser um contraste entre um cenário natural marcado pela vida e pela fertilidade (numa possível
intertextualidade com o espaço das cantigas de amigo) e o estado do povo português — totalmente
subjugado pelos seus amos.

6.
 Estes versos mostram que os elementos do povo, em Portugal, eram explorados, sendo esse o motivo
por que a sua vida é associada à crucificação de Jesus: tal como Ele, também as camadas populares
eram martirizadas sem ter qualquer culpa.
 A natureza do sacrifício do povo é explicitada nos versos 39 e 40: os mais humildes eram condenados
a passar fome continuamente.

7.
A pátria reprimida — não lhe é possível libertar-se nem evoluir — fica como que estagnada, não
concretizando todo o seu potencial.

8.
Conjunção coordenativa adversativa «mas» — visa sublinhar o facto de, apesar de todo o cenário
disfórico em que a pátria se encontra mergulhada, ainda haver pessoas que têm a coragem de resistir
à opressão.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


«Cassandra e a Troika»

1.
a) Cassandra era filha dos reis de Troia: Príamo e Hécuba. Na infância, quando se encontrava com
o irmão gémeo, Heleno, no templo de Apolo, duas serpentes passaram a língua pelas orelhas de
ambas as crianças, conferindo-lhes o poder de ouvirem as vozes dos deuses. Mais tarde, Cassandra
foi ensinada pelo deus Apolo a fazer profecias; no entanto, como resistiu às suas tentativas de
sedução, este amaldiçoou-a. Assim, embora as suas previsões fossem corretas, nunca ninguém
acreditava naquilo que ela anunciava. Foi o que sucedeu em Troia: a sacerdotisa tentou convencer
o seu pai a destruir o cavalo de madeira em que se encontravam Ulisses e os seus companheiros,
mas este não lhe deu ouvidos e a cidade foi derrotada.
b) A Troika foi o nome por que ficou conhecida a equipa de três elementos (do Fundo Monetário
Internacional, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia) que, durante o processo
de resgate financeiro, visitou Portugal para analisar a situação económica do País e definir medidas
destinadas a equilibrar as finanças públicas. As orientações dadas a Portugal foram muito polémicas,
uma vez que implicavam largos cortes em serviços públicos considerados fundamentais.

2.
Foi nestes setores fundamentais que se registaram muitos dos cortes impostos pela Troika.

3.
Tal como Cassandra fizera em Troia, esta jovem veio avisar os habitantes da cidade de que a Troika
causaria a sua destruição.

4.
Tal como Cassandra, a jovem não foi bem recebida, tendo sido rodeada pelos seguranças da Troika.

«À sombra das árvores milenares»

1.
 A Guerra Colonial iniciou-se em 1961 e terminou em 1974 (após a Revolução do 25 de Abril).
 Esta guerra tinha o objetivo de impedir a perda das colónias por parte de Portugal, propósito que não
se concretizou, uma vez que as colónias se tornaram independentes em 1975.

2.
Trata-se do momento da morte de um ou mais companheiros, que pode ser entendido como uma
representação simbólica de todas as mortes ocorridas na Guerra Colonial.

3.
Essa representação serve para mostrar que a Guerra Colonial era totalmente absurda.

4.
 A vida é associada à natureza africana, marcada pela fertilidade e pela exuberância, enquanto a morte
está ligada à missão absurda que os portugueses desempenham nas colónias.
 Versos 20 e 21 («intensa vida à beira morte / amores de verão amores de guerra amores perdidos.»)
— contraste: vitalidade e juventude dos soldados/morte.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana


5.
Audição, visão, olfato e paladar.
5.1
 O objetivo é comprovar que o eu experienciou, de facto, os acontecimentos evocados e conferir
credibilidade às suas memórias;
 A associação de sensações ao processo de rememoração tem a função de presentificar o passado.

6.
 A Guerra Colonial foi uma luta inglória para tentar travar um processo de independência que seria
inevitável;
 É também possível associar esta «última viagem» ao poema «A última nau», de Mensagem — em que
D. Sebastião é representado a partir para a Batalha de Alcácer-Quibir, que também culminou no
fracasso.

7.
 Tempo «soberbo»/«intensa vida» — período cheio da vitalidade característica da juventude —, mas,
ao mesmo tempo, frágil, por causa da permanente iminência da morte.
 Anáfora — «amores» — associada a esta intensidade; mas estes amores culminam na perda, o que
evidencia quão absurda foi a morte destes soldados.
 Metáfora — «Uma ferida por dentro um tinir de cristal» — associa simbolicamente os ferimentos reais
dos companheiros ao sofrimento psicológico do eu ao relembrar estes acontecimentos, que nunca
serão esquecidos.
 Recuperação da ideia que se repete ao longo do poema, «última viagem de Portugal» — país a tentar
evitar o inevitável processo de desmantelamento do império.

«Soldado desconhecido»

1.
O soldado desconhecido de que o eu fala representa, na realidade, todos os soldados que se encontram
na guerra.

2.
Esta ideia mostra que o território em que o soldado se encontra parece ter perdido a sua órbita, estando
marcado apenas pelo caos e pela desorientação.

3.
Crítica ao facto de a guerra ser tão absurda que leva aqueles que arriscam a vida a perderem a noção
nos motivos que os levam a fazê-la.

4.
Enquanto seres humanos, devemos sempre indignar-nos perante o absurdo que a guerra é e recordar-nos
de que a situação deste soldado desconhecido poderia perfeitamente ocorrer connosco.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana

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