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Publicado no LIVRO: LEMES, Fernando Lobo. Territórios da História.

Rio de Janeiro:
Editora Multifoco, 2015, p.19-45.

ANHANGUERA: O MITO FUNDADOR DE GOIÁS

Eduardo Gusmão de Quadros


Doutor em História pela UnB
PUC Goiás

No coração do Brasil,
domínio da primavera
se estende a terra goiana
que nos legou Anhanguera

O bandeirante atrevido
Desbravador do sertão
Em cada pedra abalada
Deixou da audácia um padrão
Hino do Estado de Goiás

A imagem do bandeirante percorre os espaços goianos. Ela encontra-se


incrustada em monumentos, praças, escolas, murais, ruas, até na bandeira da moderna
cidade de Goiânia. Mas existe alguma relação histórica entre o segundo Anhanguera e a
atual capital do Estado? Como esta personagem tornou-se uma referência identitária da
cultura histórica goiana?
Descobrir esses jogos de palavras e imagens que fundam as tradições é também
tarefa do historiador. Afinal, elas conformam um passado vivido; constituem uma
atualização dos momentos antigos que costumamos investigar. Porém, esse material é
freqüentemente reproduzido sem reflexão. É através da relação crítica que a pesquisa
histórica se formará.
Essa posição não significa que sejamos isentos ou que possamos assumir uma
postura de neutralidade. Nós, historiadores/as, não estamos também embebidos nessas
tradições compartilhadas? Portanto, há uma dupla operação a ser feita: a primeira no
eixo presente-memória-idenitdade e a segunda na vertente passado-documento-
historiografia. As duas tríades possuem interligações tanto verticais quanto paralelas.
Unindo as duas extremidades percebemos como a produção do saber histórico tem suas
condições de representacionalidade dentro do campo de forças de uma configuração
social que busca conhecer-se:

Historicidade

Presente Passado

saber
Memória histórico Documento

Identidade Historiografia

Condições de representacionalidade

De forma geral, as relações intra-colunas são referenciadas pela teoria histórica.


A memória é um elemento sempre do presente, pois só pode ser invocada somente nesta
temporalidade e é permanentemente reelaborada por ela. O condicionamento mútuo
entre memória e identidade também é bastante claro, já que lembrar e esquecer são
processos contínuos da manutenção identitária.
Do outro lado, encontramos os elementos comumente abordados nas obras
históricas. O registro documental, de qualquer natureza, possui vestígios de um passado
a ser investigado, quiçá, des-coberto. A análise e a refiguração narrativa daquele tempo
formará a escritura da obra histórica, ou seja, a historiografia que postula um sentido à
temporalidade referida.
Mas se concebermos a fonte documental enquanto um registro da memória?
Teríamos, então, a possibilidade de intercambiar as duas tríades através de seus
elementos centrais. Por um caminho tortuoso, o presente gera o desejo de conhecer o
que se passou, como e porque se passou. O modo de fazê-lo é transformando os
vestígios deste outro tempo em documentos históricos. O termo documento, é bom
lembrar, vem de docere, ensinar, pois ele habilita a transmissão de um saber.1 A
historiografia interage intermitentemente com o que uma sociedade lembra e esquece;

1
LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Unicamp, 1994, p.536.
corrige e atualiza os modos de lembrança instituídos. Por isso, está influindo nas
constituições identitárias. Simultaneamente, estas demarcam um espaço para os
protocolos teórico-metodológicos viabilizados.
Tais relações são visíveis na historiografia de Goiás. Retomando as figurações e
os usos do personagem Bartolomeu Bueno da Silva, o filho, estudaremos como ele foi
transformado em fundador do Estado e porque suas ações ainda são celebradas na atual
e moderna capital.

O SUCESSO DO SUCESSOR

Goiás nasceu “com a bandeira descobridora e colonizadora do Anhanguera II”.2


Tomamos um exemplo da historiografia recente, mas esta ideia não é nova, podendo ser
encontrada em diversas obras. Como o nome do Estado e o da primeira vila se
confundem, isso facilita a identificação do famoso bandeirante como fundador de Goiás.
Contudo, reexaminando a documentação, podemos levantar a questão: teria mesmo
Anhanguera criado a Vila Boa de Goiás?
O Hino de Goiás (cf.epígrafe) fala da audácia e do atrevimento de Bartolomeu
Bueno, o filho. Essa adjetivação heroicizante encontra-se já na pena de Silva e Souza,
tido como o “pai da historiografia goiana”3. O escritor afirma em sua Memória sobre o
descobrimento, Governo, População e cousas mais notáveis da Capitania de Goiás, de
1814, que os conterrâneos paulistas já consideravam o dito bandeirante um herói.4
Prossegue descrevendo o caráter “naturalmente afoito, astucioso e azevado” do
Anhanguera. O cenário constituído induz à idéia de que o valoroso súdito d’el Rei teria
arriscado a vida corajosamente para beneficiar o Império Português.
Esta visão gloriosa do Movimento Bandeirante, influente na historiografia de
Goiás, tem sua contraparte na obra de autores clássicos como Capistrano de Abreu e
Sérgio Buarque de Holanda. Nos Capítulos de História Colonial, publicado em 1907,
Abreu analisou as entradas ao “sertão” pela ótica dos nativos, denunciando as inúmeras

2
FREITAS, Lena Castello Branco F. de. Goiás: História e cultura. Goiânia: Descubra, 2004, p.39.
3
Na casa em que viveu, na Cidade de Goiás, o Instituto Histórico e Geográfico do Estado colocou uma
placa onde tal epíteto foi escrito. Já no Dicionário do Escritor Goiano (Goiânia: Kelps, 2000), José
Mendonça Teles o chama de “pai da história de Goiás” (p.195).
4
In: TELES, José M. (ed.) Vida e obra de Silva e Souza. Goiânia: Editora da UFG, 1998, p.73.
violências, crimes e ilegalidades cometidas.5 Já Holanda envereda pela história social,
descrevendo em Monções, de 1945, a situação de pobreza da Vila de Piratininga e a
solução das jornadas dos bandeirantes como uma empresa puramente comercial para
fugir daquela miséria.6
Não tentaremos aqui construir uma via média, pois a busca de equilíbrio nem
sempre é a melhor posição. Anhanguera possivelmente estava endividado quando se
ofereceu ao governador Rodrigo César de Menezes para fazer uma expedição às terras
do gentio Goiás. Nas suas lembranças, ele havia andado com o pai, quando tinha cerca
de doze anos, pela região do rio Araguaia, havendo ali recolhido algum ouro. Mas qual
o motivo de procurar retornar àquele local com a idade de quase sessenta anos? Por que
seu “impulso aventureiro” teria arrefecido por praticamente meio século?
Em 1719, as abundantes minas de Cuiabá tinham sido encontradas, o que
reacendeu os sonhos de enriquecimento fácil dos paulistas. Àquela altura, o que o pai
homônimo amealhara nas Minas Gerais parece já ter sido dissipado. Com discrição, a
carta do governador informando à metrópole sobre a bandeira anhanguerina afirma que,
apesar de Anhanguera possuir “muita experiência do sertão dos Guayazes”, ele não
fizera “o seu descobrimento por falta de meios”7.
O financiador da expedição foi, então, João Leite da Silva Ortiz, que precisou
vender “ricas lavras no Rio das Velhas”.8 Completaram a bandeira os homens sob a
chefia de Domingues Rodrigues do Prado. Vê-se que existe um grande descompasso
entre a memória social acerca da figura de Bartolomeu Bueno e a dos outros
bandeirantes.
A partida de São Paulo, informa a documentação, ocorreu em julho de 1722. Por
quase três anos a tropa permaneceu circulando pelos sertões, perdida, procurando ouro.
É provável que tenha ido ao atual Mato Grosso sondar os rios. Há notícia de uma parada
no rio Pilões, com algum sucesso nas prospecções.9 Porém, este não era o lugar onde
Bartolomeu Bueno, o pai, tinha encontrado alguns índios mansos com filetes de ouro.

5
ABREU, João Capistrano. Capítulos de História Colonial. Brasília: Editora da UnB, 1982, 113 seq.
6
HOLANDA, Sérgio Buarque. Monções. 3a ed. São Paulo: Brasiliense, 1990, p.182.
7
Projeto Resgate, CD - Capitania de São Paulo, 1, doc.250. José Martins Pereira Alencastre, escrevendo
na segunda metade do século seguinte, repete a afirmação deste documento: “Não dispondo por si só dos
meios que carecia para a realização de tão alta empresa, associou-se...”. ALENCASTRE, José M. P. de.
Anais da província de Goiás. Goiânia: SUDECO, 1979, p.33.
8
SALLES, Gilka Vasconcelos F. de. Economia e escravidão em Goiás. Goiânia: Editora da UFG, 1983,
p.70.
9
SOUZA, Pe. Luís A. da Silva e. Memória sobre o descobrimento, Governo, População... op.cit. p.75.
As revoltas, mortes e fugas ocorridas na expedição deixavam a continuidade da
exploração inviável. Há controvérsias, contudo o mais provável é que a bandeira tenha
retornado para São Paulo sem atingir seu objetivo.
A notícia das duas expedições é clara na “Relação” escrita por José Ribeiro da
Fonseca, em 1784, e na obra de Silva e Souza.10 Numa carta ao governo do Rio de
Janeiro, datada de 15 de março de 1724, D. Rodrigo fala na pobreza de São Paulo e que
fora difícil reunir vinte e poucos casais indígenas para enviar para o empreendimento do
“descobrimento de Goiás”. No início do ano seguinte, ele enviou um novo reforço.11
A historiografia goiana foi lentamente rejeitando este malogro. Alencastre fala
da existência de duas tradições na Província de Goiás do seu tempo: a que o bandeirante
encontrou o procurado ouro na primeira viagem e a que punha seu sucesso somente na
segunda entrada. Apressa-se, então, a defender a primeira versão:

os documentos que dela rezam, os quais compulsamos com algum cuidado,


fortificam-nos na convicção de que Bueno viu nessa primeira viagem coroados
os seus desejos, e conseguiu plenamente o almejado fim dos seus trabalhos...12

O raciocínio traz a retórica do convencimento. Sua opinião consistiria em uma


“convicção” fundada em documentos cuidadosamente analisados. Já Silva e Souza é
criticado no texto por ter escrito essa “novela mal contada” e não citar suas fontes
objetivamente. O Governador Alencastre prefere coroar os desejos e habilidades de
Anhanguera, descobridor de Goiás. Chama-o na seqüência do texto de “novo Colombo”
e evoca, em contraposição a vertente crítica da História que parece seguir, a Divina
Providência como causa histórica: “Quis, porém, a Divina Providência que, depois de
três anos dos maiores sofrimentos, chegasse a Bueno com sua gente ao ponto do seu
almejado destino”.13

10
A Relação do primeiro descobrimento das minas de Goiás, por Bartolomeu Bueno da Silva, escrita
por José ribeiro da Fonseca está inserida na Notícia Geral da Capitania de Goiás encontra-se na
coletânea de documentos reunida por Paulo Bertran intitulada Notícia Geral da Capitania de Goiás.
Goiânia: SGC, 1997, p.45-49. Esta fonte afirma que Anhanguera se recolheu a São Paulo em 1725 e
“prosseguiu a preparar-se para nova entrada, e com efeito no ano seguinte de 1726 saiu segunda vez de
São Paulo...” (id, p.48). O padre Luís Antônio de Silva e Souza (op.cit., p.77) diz que com vergonha do
insucesso, Anhanguera ficou escondido em São Paulo, surgindo talvez daí as notícias desencontradas
quanto a este retorno.
11
Projeto Resgate, CD - Capitania de São Paulo, 1, docs. 374 e 485.
12
ALENCASTRE, José M. P. de. Anais da província de Goiás. Goiânia: SUDECO, 1979, p.38.
13
ALENCASTRE, José M. P. de. Anais... op.cit.p.38.
O bandeirante, destarte, cumpriu seu destino histórico. Deus agiu através dele,
tornando-se o tempo em que andou perdido muito mais uma provação. Ele fez o
descobrimento por suas próprias forças, pois quando o governador de São Paulo estava
preparado para enviar-lhe socorros, chegou Anhanguera com as demonstrações do
sucesso de sua “empresa”.14
A versão da vitoriosa primeira viagem foi corroborada por autoridades como o
professor Americano do Brasil, já no século XX. Se a concepção providencialista
desapareceu em seus textos, o sentimento de veneração com a personagem ficara
elevado. Bartolomeu Bueno, escreve, tornou-se “digno da legenda”.15 O termo legenda,
como lembra Michel de Certeau, remete à forma correta de leitura e interpretação,
àquilo que deve ser apreendido da “lei” de uma lenda.16
Professor Americano retarda, na sua narrativa épica, até o último momento a
descoberta do ouro, no ano de 1725, tratando aquele achado como um ato de fundação:

...quando já era insustentável a explosão da rebeldia dos comandados de


Bartolomeu, eis que a bandeira descobre o famoso lugar em que pelo mesmo
tempo, havia estado o sertanista em companhia do primeiro Anhanguera,
localidade que se supões ser o ferreiro, segundo uns, e a Barra segundo outros e
cuja fundação marca o início do povoamento de Goiás.17

As dúvidas quanto ao local correto não abalam a certeza acerca do início, tanto
da História de Goiás como do povoamento - na verdade, a colonização despovoadora. O
clima de heroísmo é reforçado pelo caráter “audaz”, pela “tenacidade”, pela “inabalável
convicção” de encontrar o lugar certo. É claro que na pena de Americano, o movimento
bandeirante é uma “grande epopéia”. Poderia fracassar alguém com tal investidura? O
“pioneiro” Anhanguera vai a São Paulo apenas proclamar sua descoberta. Em 1726,
retornou a Goiás já com plenos poderes de descobridor.18
Com um pouco mais de dados, essa visão da Bandeira foi retomada no primeiro
manual didático de História de Goiás, publicado em 1932 pelo mesmo autor.19 Ela se
consolidou e assumiu a forma de uma tradição. No manual feito por Luís Palacin e
Maria A. de Sant’Ana Moraes, na década de noventa, essa versão heroica foi
14
ALENCASTRE, José M. P. de. Anais... op.cit., p.42.
15
BRASIL, Americano do. Pela História de Goiás. Goiânia: Editora UFG, 1980, p.29.
16
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano (vol.1). Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, p.84.
17
BRASIL, Americano do. Pela História... op.cit.p.30.
18
BRASIL, Americano do. Pela História... op.cit.p.31.
19
BRASIL, Americano do, Súmula da História de Goiás. Goiânia: Editora UFG, p. 32.
reproduzida: “quando já lhe restavam poucos companheiros, descobriu ouro nas
cabeceiras do Rio Vermelho”.20 A diferença é que, dessa vez, o ouro surge já na zona da
atual Cidade de Goiás. Anhanguera torna-se, portanto, o fundador da Vila Boa.

UMA INJUSTIÇA HISTÓRICA

Essa informação é a que circula na antiga capital. A cidade mantém, inclusive, a


cruz chantada na criação do vilarejo. Podíamos discutir o fato a partir da cronologia dos
“descobertos” do ouro. Na época do padre Silva e Souza, as vozes eram controversas:
uns diziam ter surgido inicialmente o Arraial do Ferreiro, outros o lugar de Ouro Fino.
Povoação mesmo, ele cita a Barra como sendo a primeira (hoje, Buenolândia). O Arraial
de Sant’Anna vem depois, tendo Anhanguera por lá morado.21 No relato de Ribeiro da
Fonseca, as informações se assemelham.22 Entretanto, não cremos ser a exata ordem
cronológica tão relevante. Maior importância tem a compreensão do processo histórico
de criação da Vila Boa de Goiás. A hipótese que nos surge com o exame da
documentação é que a primeira e única vila criada na Capitania de Goiás foi fundada
justamente contra a vontade de Bartolomeu Bueno da Silva. Vejamos o por quê.
Com as riquezas encontradas no sertão de Goiás, o governador de São Paulo
concedeu ao bandeirante o cargo de capitão-mor da nova região. Em agosto de 1732, o
Conde de Sazerdas refere-se a ele como “superintendente” das minas e fala de seu zelo
na administração.23 Contudo, dois meses depois reclama de seu excesso de autoridade
na condenação de alguns povoadores. Isso gerou insatisfação nos súditos d’El Rei que
habitavam Goiás.24
Dois anos depois, o conde relata um caso de desobediência explícita de suas
ordens, levantando suspeitas de corrupção por parte de Bueno. Havia notícias da
existência de diamantes na zona do rio Claro e do rio Pilões. Na legislação, tal extração
pertencia exclusivamente à Coroa Portuguesa ou a quem ela arrendasse. Anhanguera fez
uma expedição para averiguar e acabou excedendo-se nas pesquisas, demorando bem

20
PALACIN, Luís e MORAES, Maria Augusta de S. História de Goiás. Goiânia: Editora da UCG, 1994,
p.11.
21
SOUZA, Pe. Luís A. da Silva e. Memória sobre o descobrimento, Governo, População... op.cit. p.77-9.
22
Relação do primeiro descobrimento das minas de Goiás... op.cit. p.48.
23
Cartas dos governadores de Goiás (1724-1736). Revista do Arquivo Histórico Estadual, 2, 1980, p.39.
24
Cartas dos governadores de Goiás (1724-1736). Revista do Arquivo Histórico Estadual, 2, 1980, 40.
mais que o devido. Provocou ainda um conflito com os índios Caiapó que deixou
“desertos” ambos os rios.25
Na documentação avulsa do Arquivo Histórico Ultramarino, temos também um
retrato não muito positivo da administração do bandeirante. Uma carta do vigário do
arraial de Sant’Ana, datada de 5 de maio de 1732, descreve os muitos “descaminhos” do
ouro e afirma que a Fazenda Real em nada tem aproveitado daquelas extrações. A citada
correspondência não nomeia diretamente Bartolomeu Bueno, mas refere-se à tentativa
do “governador”, como é chamado, de esconder o que se passava nos Goyazes.26
Já o requerimento de outro clérigo, frei Cosme de Santo André, faz varias
acusações contra o “descobridor”. Ele tinha tomado posse de diversas passagens que
não tinha direito - rio Grande, rio das Velhas, Parnaíba, Guacorumbá, Meia Ponte –
cobrando taxas excessivas.27 Além disso, impedia que se fizessem roças ali, vendendo
seus produtos por preços exorbitantes. Anhanguera ainda estava explorado
indevidamente os índios. Tinha vendido mais de cem homens retirados de uma aldeia
Caiapó. Como no caso anterior, percebe-se a existência de conflitos entre este religioso,
que acompanhara a entrada de 1722, e o bandeirante.
O coro foi reforçado em 1735 pelo recém empossado superintendente das Minas
de Goiás, Gregório Dias da Silva. Seu antecessor, afirma, ignorava completamente as
leis régias, permitindo até a permanência de estrangeiros na região.28 As ordens de São
Paulo eram regularmente descumpridas e a corrupção grassava na Intendência, ou seja,
na instituição responsável pelo controle do contrabando e pela administração dos
impostos. As acusações acerca da exploração indevida do trabalho indígena, bem como
dos altos preços das passagens ali se repetem.
As insistentes denúncias levaram o Conselho Ultramarino a podar os direitos do
descobridor. Suas competências foram retalhadas através da criação de novos cargos,
processo iniciado já em 173129. Em fevereiro de 1736, a carta régia criando a Vila Boa

25
Cartas dos governadores de Goiás (1724-1736). Revista do Arquivo Histórico Estadual, 2, 1980, p.43.
26
Projeto Resgate, CD da Capitania de Goiás, 1, doc.4.
27
Projeto Resgate, CD da Capitania de Goiás, 1, doc.5.
28
Projeto Resgate, CD da Capitania de Goiás, 1, doc.13.
29
Cf. Projeto Resgate, CD da Capitania de São Paulo, 1, doc. 756. A narrativa de Silva e Souza segue a
mesma direção que estamos apontando. Ele diz que Bartolomeu Bueno continuou “a exercitar a sua
jurisdição com toda a plenitude de poderes, até que paulatinamente se lhe foi coarctando, primeiramente
com a chegada do ouvidor de S. Paulo, Gregório Dias da Silva, que veio com o título de
superintendente...; depois com a vinda do Conde de Sazerdas, que nomeou um comandante, que foi o
capitão de dragões José de Morais Cabral...” (op. cit. p.83).
de Goiás foi expedida30. O governador de São Paulo deveria ir pessoalmente demarcar o
lugar, iniciando as construções necessárias aos órgãos: Casa da Câmara, Cadeia,
Audiências, Oficinas públicas, Igreja, etc. As eleições seriam imediatas.
A ordenança foi cumprida parcialmente pelo governador D. Antonio Luiz de
Távora, que faleceu na viagem. O governador seguinte veio, então, efetivar a carta régia
em 1739. A esse governador, D.Luís de Mascarenhas, é atribuída a história da doação
de uma arroba de ouro a Bartolomeu Bueno, que estaria muito pobre, devido aos
inúmeros serviços prestados à Coroa. Como depois os órgãos metropolitanos não
aprovaram o procedimento, a família teria os bens seqüestrados para a restituição do
valor.
Esse caso foi narrado pelo padre Silva e Souza e reproduzido por outros
cronistas, sendo de difícil comprovação. A doação dessa quantidade de ouro, de
qualquer modo, nos parece bastante estranha. É mais provável que o processo contra
Anhanguera tenha ocorrido pelas inúmeras denuncias sobre sua administração. Não
encontramos tal processo, mas há notícia de uma devassa correndo pelo ano de 1737.
Ela encontra-se anexada em um pedido de arrendamento das passagens que, a princípio,
pertenceria ao descobridor.31 Mesmo havendo interesse em detratar o bandeirante, a
data recuada do documento indica não ser a suposta doação o motivo das desavenças
com a metrópole.
A situação final de Bartolomeu Bueno da Silva, o filho, induziu os cronistas a
comentarem a injustiça com o nobre descobridor. Luís Antônio da Silva e Souza fala
com admiração de como “um cidadão útil”, que fez “assinalados serviços ao Estado”,
nos legando “o vantajoso descobrimento de Goyaz”, tenha caído nessa situação de
“decadência”.32 Alencastre carrega mais nas tintas, construindo uma espécie de epitáfio
depois de relatar a morte33do famoso bandeirante:

30
Em nenhum momento o documento fala em elevação do Arraial de Sant’Ana, que sequer é nomeado. O
governador escolheria o sítio onde a vila seria criada, próximo a algum arraial já existente. Silva e Souza
(op. cit., p.85) também utiliza o verbo “criar” para a Vila. O texto intergral da Carta Régia pode ser lido
em COELHO, Gustavo Neiva. Goiás: uma reflexão sobre a formação do espaço urbano. Goiânia:
Editora da UCG, 1996, p.12-14.
31
Projeto Resgate, CD da Capitania de Goiás, 1, doc. 289.
32
SOUZA, Pe. Luís A. da Silva e. Memória sobre o descobrimento, Governo, População... op.cit. p. 82.
33
A data de falecimento seguida pelo cronista, 19 de setembro de 1740, é a mesma dada por Silva e
Souza (op.cit. p.82). Não há notícias ou documentos que a confirmem. Affonso de Taunay em sua
monumental História das bandeiras paulistas (tomo II. 3a ed. São Paulo: Edições melhoramentos, 1975,
p.243) prefere o ano de 1738, o que excluiria Bartolomeu Bueno da criação de Vila Boa.
Era Bueno distinto por seu nascimento, porque descendia desse Amador Bueno,
tão célebre nos anais da Capitania de S. Vicente, e como este também fiel,
honrado e probo: rico de bens da fortuna, empobreceu no serviço da pátria. (...)
Aquele que houvera ornado o diadema português com um brasão de inestimável
preço, que tinha dado milhões aos cofres reais; que sacrificara a sua fortuna em
bem do Estado e do serviço do rei, que por tantas tribulações e sofrimentos
passara, - nos últimos dias de sua existência, em vez de recompensa dos seus
serviços, devia ser punido com a vergonha de um seqüestro por haver recebido
uma esmola!.34

A canonização do personagem é nítida: ele seria um herói da “pátria”. O


parágrafo foi redigido contrastando o bandeirante dedicado e honrado ao rei injusto; os
milhões que acarretou à metrópole e a sua pobreza final; a recompensa justa esperada e
a punição recebida. A adjetivação corrobora com os fatos apontados, induzindo ao
espírito cívico. Somente no nível espiritual a justiça poderá prevalecer: “Deus que é
justo e previdente, chamou a vítima à sua mansão celeste, para preservá-la da dor atroz
que sentiria por tão desapiedado e profundo golpe!”35.
Mas a lembrança dos feitos grandiosos também poderia redimir tal injustiça.
Americano do Brasil, no início do século XX, conclamava a tal ação coletiva de uma
“homenagem póstuma”:

É das figuras mais dignas de ser memoradas no dia de hoje, já por ter sido o
iniciador da edificação dessa cidade (Goiás), já pela importância de seu papel na
história geral deste Estado. Tendo por sua ousadia reunido novos padrões à
férrica grandeza de Portugal, tendo enfeixado em suas mãos as mais altas
honras que poderia aspirar, entretanto, Bartolomeu Bueno, no último estágio de
sua vida, foi um desprezado, tendo deixado de existir na maior miséria.36

A manipulação dos eventos favorece ao trato heroicizado, ou seja, a história é


colocada nestes autores a serviço da memória e do presente. A transformação direciona-
se para a formação de um mito fundador, algo que pertenceria à própria identidade
goiana. Como escreveu Doutor Americano, a “memória imperecível de Bartolomeu
Bueno (...) há de viver em coração humano enquanto existir o último goiano”37.

A HISTÓRIA NO CORAÇÃO

34
ALENCASTRE, José M. P. de. Anais... op.cit., p.80,
35
ALENCASTRE, José M. P. de. Anais... op.cit., p.80.
36
BRASIL, Americano do. Pela História... op.cit.p.32.
37
BRASIL, Americano do. Pela História... op.cit.p.32.
Nesses parágrafos, o método crítico e erudito da historiografia clássica,
manifesto em outros trechos das obras citadas, torna-se bastante atenuado. É o que
acarreta a introdução da história no coração. Ela, na verdade, não perde sua
racionalidade, mas ganha elementos que suplementam os da investigação.
A transformação na imagem do segundo Anhanguera demonstrada através
historiografia converge com os estudos lingüísticos das narrativas míticas e folclóricas.
Estudos importantes dessa temática foram feitos pelo russo Vladimir Propp (1970), que
tentou identificar as “funções”38 básicas dos personagens neste tipo de conto.
Comparando com a caracterização da vida de Bartolomeu Bueno, como tomou
forma na historiografia de Goiás, encontramos vários pontos de contato: o nascimento
nobre, a aventura fora do conforto do lar, a prova/desafio de encontrar o ouro, a
superação e a vitória momentânea, o segundo desafio da administração, o elemento
coadjutor (o governador) e a vitória final contra o rei mau (simbolicamente na memória
social).
Contudo, os “contos maravilhosos” estudados por Propp não são narrativas
históricas. No fim dos contos o herói deve terminar rico e feliz. Esse não foi o caso de
Anhanguera, que morre injustiçado. Tal característica nos mitos históricos, aponta-nos
Freud, é relevante.
O criador da psicanálise realizou em Moisés e o Monoteísmo (1975)
interessantes análises da memória coletiva judaica, que se pretende enraizada
justamente na história. Alguns elementos colocados por ele e por Propp são comuns (id,
p.23-26). Mas considerando a relação das narrativas com a historicidade de modo muito
mais enfático, ele analisa melhor os caminhos tortuosos da mitificação. Ela ocorreu com
personagens históricos como Moisés, dentro do judaísmo, e Jesus, no cristianismo,
temas da obra freudiana.
Inicialmente, os defeitos e traumas ocorridos seriam apagados pela tradição
emergente, do mesmo modo que ocorre na neurose (id, p.91). As extremidades das
narrativas são destacadas em detrimento do “miolo” das séries factuais (p.92). A
personagem em heroicização é hipostasiada na figura de um bom pai (p.102). A
“verdade histórica” passa, então, a funcionar no quadro de um “delírio” (p.105).

38
A definição de função neste caso indica “a ação de um personagem, definida do ponto de vista de sua
significação no desenrolar da intriga” (PROPP, 1970, p.31).
Morrer como um mártir, como um guerreiro injustiçado, leva ao remorso
coletivo e ao cultivo (ou culto) através da tradição reproduzida (p.110). Basta observar o
citado raciocínio de Americano do Brasil, segundo o qual Anhanguera morreu para
permanecer eternamente no coração goiano. Freud, obviamente, está tratando em seu
estudo de fundadores de religiões39, mas as intuições histórico-psicológicas que levanta,
cremos, ajudam a refletir sobre a heroicização do bandeirante em Goiás.
O caráter intrépido, corajoso, aventureiro, sonhador, capaz de lutar pelo
enriquecimento, de si e da pátria, confere auto-estima aos herdeiros do fundador. Esse
poderoso e amável “pai” é um modelo de ação, alguém a ser imitado socialmente. Por
outro lado, tal onipotência, lembra-nos Freud, desperta o temor e a conseqüente noção
de limite (id, p.131). Na perspectiva psicanalítica, o temor e admiração são constituintes
importantes no campo da religião e no da política.

O MOVIMENTO DO MITO

Ao perguntarmos por que a história do Anhanguera tornou-se a narrativa


fundadora de Goiás, lançamos, assim, a hipótese pela correlação entre o primeiro
representante do Estado e sua posterior reprodução através de uma tradição mítica da
figura bandeirante. Tanto o Estado quanto a religião, demonstrou Gauchet (1985),
possuem essa dívida mítica em seu fundamento. A tradição co-memorativa tenta “pagá-
la” repetidamente, mas nunca consegue quitá-la.
Neste sentido, podemos definir melhor o que seria um mito histórico: Uma
narrativa geradora de práticas, apropriada por um grupo social, que travesti um
conjunto de valores com um conjunto de eventos. Ao chamar a tradicional história
anhanguerina de mito fundador, lembramos o processo de busca das origens, algo que
nunca é eminentemente histórico. Por que? Porque esse tempo das origens é um tempo
reversível, bem distinto do cronológico. O espaço também é relativisado, podendo a
narrativa ser reatualizada em diferentes contextos (ELIADE, 1992). Tais utilizações
tentam colocar o saber histórico a serviço de uma manutenção identitária.
Sendo mais uma inflexão que uma reflexão (BARTHES, 1982:139), a função
ideológica dos mitos é bem evidente. Identificamos neste texto os traços míticos da

39
Vladimir Propp igualmente aproxima a formação dos contos e “as antigas representações religiosas”
(1970, p.176).
história de Bartolomeu Bueno, o filho, não para destruir algo, mas para trazer aos
cidadãos/as a importante tarefa de deslegitimar os usos conservadores do passado, que
intentam eternizar situações e negar a própria história.

A nova capital foi planejada, como se sabe, sob a égide da modernização. Em


princípio, o grupo ligado a Pedro Ludovico desejava romper com a tradição, com o
coronelismo e o atavismo da velha Goiás. Se Anhanguera era considerado o fundador da
antiga capital, sua memória histórica não deveria ter permanecido por lá? Contudo, isso
não corresponde ao que encontramos em tantos locais onde a imagem do bandeirante é
perpetuada. Uma contradição?
A Cidade de Goiás, hoje, é patrimônio histórico da humanidade. O motivo
principal do título foi a boa conservação das ruas, prédios, casas e igrejas, que a
princípio, remontariam aos antigos tempos coloniais. Esse apego ao passado, entretanto,
é relativamente recente. É o que descobrimos pesquisando nos jornais publicados
naquela cidade no início do século anterior.
O que se nota, inicialmente, é uma ausência. Há um grande silêncio sobre a
história da cidade e suas efemérides. Quanto aos “monumentos” de Goiás – que não
aparecem sob este termo – estão em estado de abandono nos primórdios do período
republicano. Até a catedral da capital do Estado andava numa situação “lastimável”
pelos fins do século XIX e começo do XX40.
Importante no processo de redescoberta do passado foi o ano de 1922. Foram
inúmeras as comemorações ligadas aos cem anos da independência do Brasil. Desde o
começo do ano, notícias anunciavam a participação de Goiás na grande Exposição
Internacional do Centenário, que ocorreria na capital federal em meados do ano 41. A
participação do Estado foi considerada um sucesso, levando madeiras, cereais, plantas
medicinais da região e um grande número de minérios42. Só produtos naturais, portanto.
Nada relacionado à história ou as tradições populares, apesar dos claros objetivos de
celebração da cultura nacional brasileira postos pelo evento (SANDES, 2000:113ss).

40
Pode-se ler a descrição de sua situação no jornal O Comércio de 2 de agosto de 1879, p.2. Ainda
em 1926, a igreja estava bastante deteriorada, sendo transferida a função de catedral para a Igreja do
Carmo (O democrata, 9 de abril de 1926, p.2).
41
Cf. A Imprensa de 2 de fevereiro de 1922, p.2.
42
Um bom relatório da participação goiana encontra-se no jornal O Democrata, de 26 de janeiro
de 1923.
Neste mesmo ano, foi publicado na Imprensa um interessante artigo relatando a
busca pela cova do bandeirante. Corpo do fundador, corpo da pátria. Uma pessoa que
assina como Thales viajou até a povoação de Barra (atual Buenolândia) para procurar o
local onde estariam os restos mortais de Bartolomeu Bueno da Silva. Colheu
informações incertas, inquiriu as pessoas idosas, e localizando-os numa sepultura
próxima a pequena igreja do arraial. Sugere às autoridades, então, que sejam feitas
averiguações acuradas para que, posteriormente, os ossos fossem transladados
solenemente para a capital de Goiás.
Esse artigo intitula-se “Pelo centenário”43. Naquele ano, estavam sendo
completados dois séculos da saída de Anhanguera e sua tropa da cidade de São Paulo. O
autor, contudo, prefere correlacionar seu esforço investigador com os cem do gesto de
D.Pedro I. A nação, por conseguinte, parece ter mais peso na memória social que a
localidade.
Sobre a identificação de Bartolomeu Bueno como fundador de Goiás, o processo
é um pouco anterior. Em 1918, Americano do Brasil iniciou uma série de artigos no
Correio Oficial tratando do passado goiano. Reclama da falta de conhecimento geral
acerca da história regional e até da “falta de dados precisos” (1980:25). Os primeiros
artigos heroicizavam bastante os atos do bandeirante, bem como apontavam, nas suas
conclusões, para o progresso esperado no futuro44.
Ainda em 1918, quando eram comemorados os cem anos da elevação de Goiás à
categoria de cidade, a chamada “Cruz do Anhanguera” fora encontrada. Estranhamente,
isso ocorreu bem longe daquela área, nas proximidades de Catalão. Os operários que
construíam a estrada de ferro encontraram o referido objeto. Uma hipótese plausível,
aventada na época, era ser aquela cruz o lugar onde estaria enterrado alguém importante
(Pinheiro, 2003:31). A elite de Goiás, todavia, resolveu requisitá-la pela possibilidade

43
Publicado em A Imprensa de 2 de fevereiro de 1922, p.2. Sobre a importância da Comemoração
do Centenário na construção da memória histórica brasileira, afirma Noé F. Sandes que 1922 foi o ano da
“refundação da história nacional” (2000:101). Opinião semelhante defende Carvalho: a república recriou
a tradição nacional no intuito de formar a identidade coletiva brasileira (1997:32).
No primeiro, publicado em 17 de setembro de 1918, ele encerrou conclamando a “atirarmo-nos
44

à dignificadora obra de engrandecimento da terra goiana, para que ela possa um dia ser não o coração mas
o cérebro do Brasil” (id.:27). Esses textos foram reunidos e reeditados na obra “Pela História de Goiás”,
em 1980.
de remontar ao tempo dos bandeirantes. Conta Mendonça Teles que o governo de São
Paulo também reivindicou tal achado (2005:46)45.
A famosa cruz não deixa de ilustrar o desapego com o passado predominante
neste período. Um pequeno pedestal para colocá-la foi construído próximo às margens
do Rio vermelho e houve uma missa campal para inaugurá-lo. Duas décadas depois,
Garibaldi de Castro protestava contra a situação deplorável em que se encontrava aquela
cruz e comentava o ar demasiado singelo do monumento46.
Este protesto faz parte de um outro momento. Já estamos nos fins dos anos trinta
e a Cidade de Goiás não é mais a capital do Estado. O cultivo da história neste período
já está bastante inflacionado. Ou seja, foi a decadência política que fez os vilaboenses
voltarem os olhos para seu passado “glorioso”. A modernização valorizada nas
primeiras décadas do século – por exemplo, a luz elétrica instalada em 1923 - não era
mais vislumbrada. Restavam os símbolos do fausto e os mortos monumentalizados47.
O escritor Octo Marques redigiu dois artigos significativos desse novo período,
editados no recém-fundado jornal Cidade de Goiás. No primeiro, define Goiás como
uma “cidade à moda antiga, com seus monumentos atestando um passado de lutas”.
Relaciona, então, o impulso civilizador da cultura goiana com o movimento
bandeirante. Foi ele que nos legou “a semente de um tradicionalismo puro e cordial”48.
Apesar do significado dessa expressão não ser tão claro, interessa observar a relevância
crescente que a tradição e a história foram assumindo.
O segundo texto foi publicado em 2 de agosto de 1938, depois das celebrações
ocorridas em 26 de julho, a data considerada de fundação do Arraial de Santa’Ana.
Talvez esse texto, inclusive, tenha sido lido durante as comemorações que passaram a
acontecer todos os anos. Intitulava-se “Um grande amigo de Bartolomeu Bueno”, sendo
uma descrição romanceada de sua morte.
O cenário é tenebroso: chuva, trovões, relâmpagos. Num casebre pobre e
decadente, jaz Anhangüera moribundo. Um diálogo ocorre, então, entre o famoso
bandeirante e seu “esquelético cão”. O ex-capitão-mor de Goiás reivindica ter fundado
Vila Boa “com a ajuda de Deus e dos índios”, mas reclama de ter sido enxotado dela.

45
A versão que este escritor conta é muito mais fantástica, partindo o juiz Luís de Couto em busca
“da rota do Anhanguera” e encontrando a referida cruz (id.:45-46).
46
Jornal Cidade de Goiás, 14 de agosto de 1938, p.1.
47
Em sua etimologia, a palavra monumento remete ao que trás à mente os mortos.
48
Cidade de Goiás, 6 de julho de 1938, p.3.
Compara-se, então, com a situação miserável do cachorro. Até pede-lhe vingativamente
que nunca pise novamente naquela cidade. Bueno da Silva termina falecendo durante a
aurora. O final do artigo surpreende: “O cão amigo de Anhangüera, faltando ao
juramento, viera ali (a Goiás) para reclamar daquele povo a eterna ausência de seu
dono...”49.
O raciocínio invocado no texto inverte as posições lógicas. O cão possui os
sentimentos justos dos humanos; cultiva a memória de “seu dono”. Indiretamente, essa
referência de domínio remete à figura do fundador de Goiás, presente apenas de modo
velado na “sua” cidade. O conto reclamando a lembrança ostensiva, o cultivo da
memória bandeirante, tenta “humanizar” pelo reconhecimento histórico. A
argumentação visa, assim, culpabilizar quem não assume tal postura, comparando-os
aos animais:

Gente vs Cão
Lembrar Anhangüera Não lembrar

Humano vs Animal

O fundador da cidade morrera execrado, pobre, sem amigos. Agora, era hora dos
“herdeiros” de Goiás resgatarem sua vida do esquecimento. O número anterior do
referido jornal já conclamara a população: “Não pode passar desapercebida a data de 26
de julho...”50. Na edição seguinte, a mesma do texto de Octo Marques, a primeira página
estampava: “Foram empolgantes os festejos do dia 26, data da descoberta de Goiás”. A
população despertou sob o badalar dos sinos, houve foguetório, bandas de música,
procissão pela tarde, recital de poesias e baile pela noite. Mais de cinco mil pessoas,
afirma a notícia, prestigiaram as atividades, numa “empolgante manifestação da
vitalidade de Goiás”51.

49
Cidade de Goiás, 2 de agosto de 1938, p. 1 e 4.
“A data da cidade”. Cidade de Goiás, 24 de julho de 1938, p.1.
50
51
Cidade de Goiás, 2 de agosto de 1938, p. 1
A antiga capital passava a viver, na verdade, cada vez mais de seu passado.
Enquanto isso, uma cidade “sem história” estava sendo criada: Goiânia.

A TRANSFERÊNCIA DA MEMÓRIA

Ao ser questionado acerca das vantagens da nova capital, o juiz Benjamim


Vieira respondeu que seu maior encantamento era com “a falta de história”. Com isso,
ele aludia a ausência de fortes tradições familiares na esfera política, todos se sentindo
co-responsáveis pela gestão da cidade em edificação. Desta forma, acreditava, muitos
problemas futuros seriam evitados52.
A construção de Goiânia ocorreu sob a marca do futuro. Ser modernista e ser
mudancista tornam-se praticamente sinônimos na época, ganhando os dois termos um
sentido positivo nos novos periódicos fundados. Os jornais da capital faziam questão de
correlacionar as duas idéias, demonstrando cotidianamente o progresso: ruas largas,
carros circulando, arquitetura moderna, o avião diário da VASP, etc. Claude Levi-
Strauss teve essa impressão quando passou pela cidade, em 1937. A população
orgulhava-se , afirma, dos “arruamentos, caminhos de ferro, água canalizada, esgotos e
cinemas”. Eram vários!53. Ao mesmo tempo, o antropólogo fala com desdém daquela
mistura de campos baldios e postes elétricos (1979:119).
Essa imagem de modernidade foi propagada para os demais estados brasileiros.
Em 1937, o jornal A Nação, publicado no Rio de Janeiro, divulgava que a nova capital
de Goiás estava sendo edificada “como uma pura obra de arte. Todas as suas linhas
foram serenamente ideadas dentro de um critério de beleza, conforto e modernidade...”
(apud Monteiro, 1938:622). O idealizador da grande obra, Pedro Ludovico, em suas
Memórias declara igualmente esse ideal. Com termos bem próximos da ideologia
nacionalista do Estado Novo, ele descreve a “cidade moderna” como sendo:

... um centro de trabalho, uma grande escola em que se podem educar,


desenvolver e apurar os principais elementos do espírito e do físico do
homem e uma fonte de poderosas energias sem as quais os povos não

52
Jornal Goiânia, 11 de junho de 1936, p.1. Os periódicos anteriores eram todos produzidos na
Cidade de Goiás. Nesta segunda parte utilizaremos, salvo notificação, edições feitas em Goiânia.
53
Lourival Batista Pereira, em entrevista que concedeu, citou três, mas ressalvou que não havia
“nenhum que prestasse (pois) não dispunham de poltronas estofadas e refrigeração e a aparelhagem era
péssima” (Goiânia, 1985:257).
progridem e não prosperam. É das cidades modernas que partem os
vigorosos impulsos coletivos e é nelas que se faz a coordenação dos
movimentos e das atividades de uma nação (1973:79).

Essa energia coletiva despertada não dependeria de uma memória


compartilhada? Ou o futuro idealizado seria o esteio da unidade? O nome que acabou
sendo escolhido para a capital significa “novo Goiás”. A pessoa que o defendeu, sob
pseudônimo de Caramuru do Brasil, propunha que tal nomenclatura indicaria um
“prolongamento da histórica Vila Boa” (apud Monteiro, 1938:262). Houve quem
sugerisse o nome de Bartolomeu Bueno (id.:263), outros Anhangüera (id.:265) e alguns
Buenópolis (id.:266)54. O nome mais votado no concurso feito pelo Jornal O social foi o
sugerido pelo escritor Leo Lynce: Petrônia. Pedro Ludovico talvez se sentisse mal com
a homenagem55 e por decreto escolheu o atual.
Novo Goiás, novo fundador? A tradição sobre os bandeirantes foi lentamente
sendo colocada nos quadros da modernidade goianiense56. Inicialmente, Pedro
Ludovico defendera a tese de Dr. Vieira. Numa edição especial de O Popular para o
aniversário da cidade, vem estampada uma frase sua em letras destacadas: “Goiânia não
é ainda a guardiã das tradições históricas deste povo, mas é a vanguardeira da Marcha
para o Oeste”57.
Os valores dessa Marcha para o Oeste serviram justamente de elo com a figura
do bandeirante (Pereira, 2002). Três anos depois, no encerramento do Congresso do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ocorrido na capital goiana, Ludovico fez
uma conexão entre as tradições a serem esquecidas e a obra de Bartolomeu Bueno.
Goiânia significava a proeminência dos

...valores de coesão, antes as forças desagregadoras das tradições


transmitidas pelo Império; valores de autonomia, a antecipar na
consciência geográfica da Pátria ainda informe o próprio sentido de
uma soberania política; e valores de unidade que permitiram ao Brasil
conservar-se fiel à sua vocação cristã, sob o signo eterno da mesma

Nasr Chaul chama esses nomes de “aberrações” (1988:124), mas não entendemos o porquê.
54
55
O escritor justifica-se dizendo que se refere a S.Pedro, porém a associação com o nome do
interventor seria inevitável. Ao comentar o caso nas suas Memórias, Ludovico não explica o motivo de
ter vetado Petrônia e escolhido Goiânia (1973:106).
56
Curiosamente, a tradição não foi trazida pronta de Goiás, como se pode pensar. A nosso ver, o
processo do estabelecimento da memória social acerca do descobridor de Goiás foi relativamente
simultânea. Neste ponto, discordamos de Pereira (2002) e Souza (2002).
57
O popular, 24 de outubro de 1939, p.1.
Cruz, há quase três séculos erguidas nas terras fecundas dos Goiazes
pelas mãos predestinadas de Anhangüera (LUDOVICO,1973:182).

A religião cristã trazida pelos bandeirantes ao sertão é invocada para que a


mítica cruz do Anhangüera faça deste personagem histórico o precursor do processo de
interiorização da civilização brasileira. Suas “mãos predestinadas” representam
simbolicamente o avanço civilizacional, o futuro concretizado na construção de
Goiânia. Na celebração de inauguração da cidade, em julho de 1942, ele surge
praticamente como co-fundador da nova capital do Estado. Aquela data fora escolhida
porque

... foi a 2 de julho de 1720 que Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo,


requereu licença a D.João V, rei de Portugal, para ‘penetrar os altos
sertões’; foi a 3 de julho de 1722 que, a mando do Governador
D.Rodrigo César de Mascarenhas, Bartolomeu Bueno da Silva partiu de
São Paulo...; foi a 2 de julho de 1726 que D.Rodrigo César de
Mascarenhas passou ao Capitão Bartolomeu Bueno da Silva e ao seu
genro, Capitão João leite da Silva Hortiz, a famosa carta de Sesmaria,
dando-lhes os direitos das passagens dos rios das Velhas, Paranaíba,
Guacorumbá e Meia Ponte...; segundo Americano do Brasil, foi a 6 de
julho de 1726 que o Anhangüera entrou em Goiás pela segunda vez; foi
em julho de 1727 que o mesmo bandeirante paulista lançou, às margens
do rio Vermelho, os alicerces do Arraial de Santana... (LUDOVICO,
id.:203-204).

Esse redemoinho de “coincidências” históricas redireciona a tradição. Com isso,


o descobridor de Goiás se fazia presente na nova fase da história goiana58. Ou seja, a
ruptura com o passado e sua refiguração são forjados enquanto instrumentos políticos
do presente. À medida que a transferência da capital se consolidava, como percebeu
Souza (2002:79), a interação entre o tradicional e o moderno se ampliava. O principal
artífice desse processo, e quem mais lucrou com ele, foi Pedro Ludovico.
A identificação dele com Anhanguera ocorreu diversas vezes. Já em 1937, o
Jornal A Tarde descrevia o interventor como uma pessoa de “alma atrevida”, “espírito
formado de um estoicismo que faz aberrar os tipos comuns”; “administrador cujo

58
Quando comenta o decreto de transferência da capital, em 1935, Ofélia Monteiro afirma que não
se pretendia detratar a memória do Anhanguera, mas lançar “o glorioso marco inicial das páginas da
segunda fase da História de Goiás” (1938:314).
idealismo parece conduzir a empreitadas audaciosas, com tendências para salto no
abismo”, enfim, um “novo Anhanguera” (apud Monteiro, 1938:544).
O outro lado da moeda era a divulgação dos feitos do famoso bandeirante. A
Revista Mensal Oeste passou a inserir em seus números diversos artigos tratando da
história de Goiás. Encontramos ainda referências aos bandeirantes em outros textos da
revista que não tratam de especificamente de história. No primeiro artigo do primeiro
número, por exemplo, ao descrever “O sentido ideológico de Goiânia”, o autor raciocina
como se fosse linear a relação entre a conquista do sertão através das Bandeiras e a
inovadora empreitada feita por Ludovico (1983:35-36).
Essa revista foi lançada durante a inauguração da cidade, o chamado “Batismo
Cultural”. Um ano depois, lembrava do evento homenageando a coragem do
interventor, denominado de “terceiro Anhanguera”, o principal responsável pela “nova
metrópole sertaneja”. Sua distinção das outras capitais estaria exatamente em seu
caráter bandeirante:

Porque bandeirismo é sinônimo de forças nacionais profundas se


agitando em busca de altas expressões; é movimento de energias raciais
aristocráticas orientando-se no sentido de afirmações edificantes; é a
nação mesma em seus instintos de vida mais naturais marchando no
caminho da glória; é ânsia de liberdade, é manifestação de força, é
desejo de conquista, é vontade de domínio, é estruturação de valores,é
ordenação democrática. Bandeirismo é movimento tipicamente nacional,
é revelação original da capacidade dos trópicos... (1983:219).

A correlação Bandeirante, Goiânia e Estado Novo está feita. O nacionalismo


sem fronteiras do regime varguista fluidifica as tradições locais para remodelá-las
segundo a nova conjuntura. Anhanguera pôde, então, se instalar confortavelmente nas
ruas da modernidade goianiense.

A MONUMENTALIZAÇÃO

Uma homenagem ao bandeirante era pensada desde os primeiros anos da cidade.


A avenida que fechava o triângulo eqüilátero do centro de Goiânia já tinha seu nome. A
que formava a linha mediatriz teria inicialmente o nome do novo fundador, Pedro
Ludovico, mas depois ele preferiu trocá-lo, denominando-a Avenida Goiás. No ponto de
encontro entre as avenidas Tocantins, Araguaia e Goiás, haveria um “monumento
comemorativo das bandeiras, descobertas e das riquezas do Estado, figurando como
homenagem principal a figura do Anhanguera” (Monteiro, 1938:142). Deveria,
portanto, ficar nas proximidades de onde foi erigido o coreto, entretanto tal obra não foi
iniciada. Ofélia Monteiro, testemunha do projeto inicial, fala também de uma possível
transladação dos restos mortais de Bartolomeu Bueno (id.:328). Pela fotografia abaixo,
podemos imaginar o Palácio das Esmeraldas, sede do governo, no vértice do triângulo e
um pouco abaixo dele o referido monumento, postos, assim, em relação direta:

Foto 1

(apud CORDEIRO, 1989, p.24)

A construção da nova capital teve diversos problemas financeiros (Chaul,


1988:96ss). Nem tudo que fora planejado pode ser efetivado. Em 1941, estudantes de
direito da Universidade de São Paulo vieram visitar a cidade. O Jornal Folha de Goiás,
agora publicado em Goiânia, registra a visita chamando-os de “universitários
bandeirantes”59. Notando a ausência da homenagem ao ilustre paulista, eles resolvem
doar, para o ano da inauguração, o monumento a Anhanguera. Sua nova posição será na
base do triângulo, no ponto de intersecção com a Avenida Goiás, que se dirige ao
59
Folha de Goiás, 6 de abril de 1941, p.4.
Palácio onde fica o interventor. Da Praça Cívica era possível avistá-lo. Anhanguera,
entretanto, não olha para o governo. Fora colocado mirando a Cidade de Goiás.
Estabelece, destarte, a correlação simbólica – o símbolo é uma presença que substitui
uma ausência - da antiga com a nova capital:

In: Revista Oeste (1883, p.257)


O mosquete posto ao chão indica que ele está parado. O olhar é firme,
demonstrando sua certeza de encontrar riquezas. Estas são representadas pela bateia ao
lado, numa posição inverossímil para quem estivesse marchando. O monumento, como
outros, condensa momentos históricos distintos. Mas algo parece transpassar as épocas:
o caráter impetuoso dos bandeirantes transmitido ao povo goiano. Isso é demonstrado
pela inclinação do corpo para frente, colocando o peito aberto diante dos perigos. O ar
de virilidade dado por essa inclinação coaduna-se com sua função de patriarca da
civilização goiana.
A imagem tornou-se um ponto importante da cidade. Quando o primeiro
semáforo de Goiânia foi instalado, em 1955, era ali defronte o monumento. As pessoas,
então, olhavam para a imponente figura (Calage, 1993). Os lugares de memória e de
referência identidária estavam imbricados.
Uma comprovação dessa transmigração da memória histórica se deu na criação da
bandeira de Goiânia. A bandeira inicial de Goiás possuía já uma referência a
Anhanguera, tendo em seu centro a bateia flamejando60. A atual, com as estrelas e
listras, data da República Velha, e depois da refederalização após o Estado Novo voltou
a ser hasteada. A de Goiânia, pensamos inicialmente, devia datar dessa época, contudo
nada encontramos.

No Arquivo da Câmara Municipal da cidade foi que encontramos a lei que


sancionava o novo símbolo. Ela data de 7 de outubro de 1966, assinada pelo prefeito Íris
Resende. Aprova o brasão, a figura do bandeirante e o “caboclo”, conforme fora
desenhado pelo heraldista Antônio Peixoto de Faria61. Quando ela aparece hasteada,

60
Uma referência ao suposto truque utilizado pelo bandeirante com álcool para amedrontar os
índios. Encontramos uma descrição rápida desta bandeira (Revista Oeste, 1983:166), mas nenhuma
reprodução.
61
Publicada no Diário Oficial do Município em 10 de novembro de 1966, p.3.
portanto, presta-se uma homenagem perpétua ao fundador do antigo e do novo tempo
em Goiás.

REFERÊNCIAS

a) Fontes Manuscritas
a.1 - Arquivo Histórico Estadual de Goiás
Livros de Cópias das Cartas de Ofícios a ministros... (1735-1751)
a.2 - Instituto de Pesquisas e estudos Históricos do Brasil Central
Resgate. Documentos Avulsos da Capitania de Goiás, CD-Rom 1
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