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Deise Albuquerque**
José Bento Rosa da Silva***
1 No que se refere às dimensões, abordagens e domínios em História, Cf. Barros (2011). A respeito da
expansão da história enquanto conhecimento, ver Barros (2013).
tomou a decisão de voltar para Abeokutá3, e por isso os dois eventos ficaram
para sempre imbricados na lembrança da menina. O narrador explica:
8 O adjetivo de riqueza aqui deve ser relativizado. Mariana tornou-se rica em comparação às
9 Optamos pela grafia corrente das palavras nos casos em que ela foi atualizada.
[...] Ainá, que fora até então conhecida como Catarina, morreu às
dez da manhã, o sol batia forte na frente da casa de Dona Zezé,
que saiu de vestido comprido, passos miúdos, procurou Epifânia:
– Vamos dar um banho no corpo e preparar a serenata. Você vai
precisar de bebida, muito biscoito, pastéis, acarás, caruru, bolos,
dois atabaquistas, um tocador de violão, um flautista, um
clarinetista, mesas e cadeiras. E tem de matar uma cabra. O que
você não tiver eu empresto.
[...]
Levantaram Ainá, colocaram-na dentro do caixão, quando o sol
bateu na mulher morta já haviam tirado as mesas e cadeiras da
frente da casa, às sete horas Padre O’Malley chegou, encomendou
o corpo e retirou-se. A distância era curta, Epifânia quis chorar,
mas D. Zezé não deixou:
– Morta que viveu bem sua vida não deve ser chorada. Fique
alegre.
Em seguida a mulher ajoelhou-se e beijou a mão de Ainá, dizendo:
– Os mortos são deuses. Sabem mais do que nós (OLINTO,
1988, p. 89; 92-93, grifo nosso).
africano que diz “só se morre quando se é esquecido”. Sobre a mitologia dos orixás, ver Prandi
(2000). Para o culto dos orixás no Brasil, ver Prandi (2005).
11 País fictício.
Referências