Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Norte Impiedoso - Gina Danna
O Norte Impiedoso - Gina Danna
Descubra onde está seu inimigo. Atinja-o o mais rápido possível e golpeie-o o mais
forte que puder. E continue em frente!
- General Grant dos EUA
Não posso prever maior calamidade para o país do que a dissolução da União. Seria
um acúmulo de todos os males dos quais nos queixamos, e estou disposto a
sacrificar tudo, menos a honra por sua preservação.
Coronel Robert E. Lee, EUA, em uma carta a seu filho Custis, 23 de janeiro de 1861.
É bom que a guerra seja tão terrível, ou poderíamos nos afeiçoar demais a ela.
-Robert E. Lee ao General James Longstreet na Batalha de Fredericksburg, 1862
MARÇO DE 1854
JULHO DE 1854
A guerra é a crueldade. Não adianta tentar melhorá-la. Quanto mais cruel for, mais
cedo terminará.
-General da União William Tecumseh Sherman
JULHO DE 1854
Afirmo que não tenho controle dos eventos, mas confesso abertamente que os
eventos me controlaram.
-Abraham Lincoln, 1864
PRIMAVERA DE 1855
Eu, John Brown, estou agora bastante certo de que os crimes desta terra culpada
nunca serão purgados, apenas com sangue.
- John Brown, 1859
— Hurrah!
A palavra zumbiu nos ouvidos de Emma. Tentou recuperar o equilíbrio
após o giro selvagem de Billy. Aquilo significava que a guerra a afetaria
pessoalmente. Tudo o que conseguia fazer era olhar para cada rosto
masculino na sala e agora estava fadada a perder sua família e amigos por
uma causa que não entendia, e nem queria.
Caroline sucumbiu ao entusiasmo do momento, até abraçando a irmã.
Mas Emma não estava feliz. Charles e Billy já estavam falando sobre matar
alguns Yankees. Virou-se e pegou Jack olhando-a. Estava com um olhar tão
estranho no rosto. Como se pudesse ler sua mente - ele sabia que guerra
significava tragédia e que não era algo para ser comemorado. A intensidade
do seu olhar a queimava. Partiria sem dar outro beijo em Emma para que se
lembrasse dele? Ela permitiria aquilo? Quando terminou a bebida e saiu da
sala, ela saiu por outra porta.
Ouviu suas botas pisando no corredor, em direção aos fundos da casa.
— Jack!
Ele não parou.
— Jack, espere!
Ele estava muito à sua frente e agora não podia vê-lo, nem ouvir seus
passos. Parou, sufocando um soluço na garganta com o punho. Fora embora
Queria afundar no chão. Mas um braço circulou sua cintura, puxando-a
para a sala escura. Um suspiro escapou quando ouviu um — Shhh —
sensual em seu ouvido.
— Jack? — Sussurrou.
Ele a girou e a trouxe para mais perto. — Minha doce Emma — a voz
estava grave enquanto acariciava seu rosto com os nós dos dedos.
Seu coração batia desvairadamente. O calor irradiava dele para ela.
Seus seios foram esmagados contra o peito dele, seu estômago encostado a
ela.
— Beije-me, Emma —sussurrou enquanto inclinava a cabeça, os lábios
roçando os dela, provocando-a.
Era muito tentador para resistir. Sua boca encontrou a dele ao levantar
os braços, circundando seu pescoço. Ele rosnava enquanto a língua brincava
contra seus lábios, buscando a entrada. Quando os separou, invadiu sua
boca, sua língua se entrelaçando com a dela. Foi um assalto apaixonado, e
encontrou-o com a mesma força.
Sua mão embalou a parte de trás da cabeça dela, e a outra segurou sua
cintura em seu abraço. Provou o brandy na sua língua, inalou o sândalo, o
tempero e o cheiro almiscarado dele. Seus dedos passaram pelos cabelos,
sentindo a suavidade daquelas mechas escuras.
Houve um baque em suas costas quando bateu na parede. Mal
conseguia respirar, mas não conseguia soltá-lo. Ele quebrou o beijo,
murmurando seu nome ao mordiscar seu pescoço. Pressionou-a, esmagando
sua crinolina contra a parede, achatando-a. Através de seus saiotes e saia de
seda, sentiu a dureza dele contra seu ventre. Isso a excitava e assustava, mas
não emitia um som, exceto para ofegar enquanto beijava seu pescoço e
voltava a subir até sua boca.
— Emma — disse, afastando a cabeça, olhando em seus olhos. Tudo o
que viu foi a profundidade negra. — Emma, sabe que isso significa,
guerra...
— Sim
— Sabe que preciso ir.
— Não, por favor — ela implorou. Não se importava se parecia
patética.
Um sorriso triste brincou em seus lábios. — Sabe que sim.
Lutou contra as lágrimas que ameaçavam se formar. — Beije-me, Jack.
Beije-me. Eu sempre quis que me beijasse novamente.
Gemeu e recapturou a boca dela. Ela brincou com o cabelo dele e ao
redor de seu pescoço, cavando por baixo do colarinho até sua carne nua.
Sentiu a vibração de seu rosnado em sua boca.
Ele deslizou sua mão ao longo de seu corpete e sobre seu seio. As
pontas de seus dedos traçaram as rendas e mergulharam abaixo,
descascando em sua pele. Olhou em seus olhos enquanto seu dedo raspava
seu mamilo. Sentiu o formigamento e endureceu. Beijou seu pescoço
enquanto libertava seu seio e inclinava sua cabeça, levando o bico rosado
para dentro de sua boca, mamando levemente. O desejo se desenrolou
rápido e duro dentro dela. Deslocou ligeiramente os quadris e sentiu uma
umidade entre as coxas.
Ele soltou o mamilo e puxou seu outro seio livre do corpete,
amamentando-o enquanto apertava o outro. A pressão dentro dela estava
aumentando. Gemeu, talvez muito alto, porque sua boca cobriu novamente
a dela. A mão dele caiu em sua cintura, deixando seus seios expostos, os
bicos endurecidos esfregando contra seu colete de seda, abraçando-os.
— Oh! Emma — gemeu. — Eu a quero. — Ele segurou seu traseiro,
levantando-a contra ele para que pudesse sentir seu desejo. Seu membro
endurecido empurrou contra o ponto entre suas pernas, e ela sentiu a anágua
grudar na umidade.
— Jack, por favor —implorou antes de saber o que estava fazendo.
Estava pegando fogo e precisava que ele o apagasse. Suas saias foram
esmagadas sob o seu aperto enquanto ele as levantava e sua mão passava
por baixo, esculpindo suas coxas. Com seu outro braço ao redor de Emma e
suas costas para a parede, seus quadris se achataram, fazendo com que suas
pernas se afastassem. Seu corpo implorava por algum tipo de liberação que
não reconhecia, mas instintivamente sabia que Jack poderia lhe
proporcionar.
Com a palma de sua mão, Jack alcançou entre as coxas de Emma e lhe
cobriu o monte através da fenda em suas pantaletes. Ela ofegou. Ele
suspirou, respirando contra o pescoço dela.
— Oh! Deus, Emma. — Murmurou quando moveu os dedos pela sua
umidade.
A mente girou no começo, mas ela moveu os quadris enquanto seu
corpo ditava. Podia ouvir o som da carne molhada. Então seu dedo entrou
nela, e ela quis gritar em êxtase.
Estou cansado e farto da guerra. Sua glória é só luar. Só quem não disparou um tiro
nem ouviu os gritos e gemidos dos feridos é que clama em voz alta por mais sangue,
mais vingança, mais desolação. A guerra é o inferno.
-William T. Sherman, 1879
O brilho nos olhos dela deveria ter avisado Jack. Quase não era
visível no corredor escuro, mas percebeu. Seu coração batia loucamente por
querer proteger Emma e aplacar Caroline. Quando a levou de volta para os
outros, sua cabeça estava embaçada pela bebida e pelo aroma de Emma,
que ainda permanecia. Piscou e tentou se equilibrar, apenas vagamente
ciente das conversas de Caroline.
—...Apenas siga minha liderança —sussurrou do lado de fora da porta
da sala.
Jack assentiu
— Jack, aí está — Charles se arrastava, empunhando um copo de
líquido âmbar nas mãos.
Jack sorriu para o amigo. Aquela poderia ser a última vez, que o veria.
Ergueu o copo para brindar pela Virgínia, sentindo um arrependimento por
seu dever chamá-lo para o lado federal. Os que estavam naquela sala, sua
família, sua casa e o sul eram sua herança. Mas quando pensou em seu pai,
o conhaque se encolheu em seu estômago.
Jean Baptiste e a tradição. Tinha ouvido falar disso durante toda a sua
infância. Os Fontaines tinham estado aqui desde os franceses e assim
permaneceriam por sangue. Mesmo que esse sangue significasse dor e
tortura para uma jovem, - sacrificada - pela família. Jack sentiu a raiva
rolando através dele exatamente quando Billy bateu em seu ombro com
uma gargalhada.
Ele se virou.
— Parece meio quieto Jack — disse o jovem.
Jack zombou e levantou o copo vazio. — Só estou notando que preciso
de outro — ele disse.
— Aqui, deixe-me servi-lo — uma voz doce e melosa murmurou ao
lado dele.
Olhou para baixo e encontrou Caroline enchendo seu copo. Ela olhou
para ele, com o olhar voltado para cima, enquanto dobrava a cabeça e
tomava um gole do seu copo. O que ela estava fazendo? Mas desapareceu
antes que ele pudesse perguntar.
O resto da noite vacilava e fluía. Largava o copo apenas para que fosse
empurrado de volta para sua mão enquanto levantavam outro brinde. Tinha
uma longa viagem pela frente, mas primeiro, precisava descansar antes de
falar com John Henry sobre Emma. Emma. Fechou os olhos, lembrando-se
do seu toque, e se desequilibrou, mal conseguindo parar sua queda. Seus
pensamentos estavam enevoados pelo uísque. Sacudindo a cabeça, tentou
limpar sua mente.
O mundo começou a girar lentamente. Pisando em direção à mesa
lateral, baixou seu copo e vagamente ouviu-o bater no chão enquanto a sala
explodia com outro rugido para o Sul. Virou-se para dar boa noite a todos,
mas depois tudo ficou preto.
Click.
Jack ouviu o som. Metal, como o martelo de uma arma preso no lugar,
a câmara carregada. Não, não estava nem perto de nenhuma arma, ainda
não. As batidas dentro de sua cabeça doíam terrivelmente. Sua mente voltou
ao lugar em que estivera esperando que a dor parasse. Afastou-se,
segurando Emma, nua em seus braços. Ela riu quando a puxou para mais
perto para poder mordiscar seu pescoço novamente. Aquele pescoço bonito
e elegante. Roçou o cabelo dela, enterrando o nariz nele, beijando-a atrás da
orelha e passando o pescoço com a língua.
Ela ainda usava aquela engenhoca de metal e cordões. Ficou intrigado.
Quando voltou a vestir isso?
— Jack.
Era uma voz masculina. Além do cheiro de metal. E enxofre.
Lembrou-se de uma outra vez que ouviu aquele ruído metálico e cheirava
enxofre. Era de uma arma. Seus olhos se arregalaram para encontrar o cano
de uma espingarda no nariz.
— O que diabos está fazendo, Jack? — Era Charles. Mas não era ele
que a empunhava. Jack olhou por cima do cano da arma para seu dono,
John Henry. Um John Henry muito zangado.
Debaixo de seu braço, Jack sentiu um suave movimento de corpo
revestido de algodão. Pestanejou, sua mente letárgica. Libertando seu poder
sobre a mulher que estava perto dele, concentrou-se em com quem havia
sido pego em uma situação comprometedora.
De repente, soube antes de olhar. Caroline. Saltou da cama, surpreso
quando a viu deitada ao seu lado, vestida apenas com suas roupas íntimas,
espartilho e saiotes. Ela estava em cima do cobertor, ele embaixo. O que na
Terra verde de Deus havia acontecido?
— Vista-se, Sr. Fontaine. — A ordem chamou a atenção de Jack de
volta ao pai dela. O homem ainda apontava o rifle para ele.
A roupa de Jack foi empurrada para ele antes que sua mente confusa
limpasse o suficiente para registrar que estava ali parado sem camisa, suas
cuecas ligeiramente desabotoadas e mal se seguravam sobre seus quadris.
— Papai? — Caroline chiou, sua cabeça inclinada para olhar o pai.
Jack notou que ela não parecia preocupada em estar exposta, embora seu
pai, seu irmão e Billy estivessem ao seu redor.
— Caroline, cubra-se — ordenou o pai, jogando o lençol sobre ela.
Pelo menos corou com o som daquela voz fria.
Quando Jack abotoou a calça e vestiu a camisa, sua mente confusa
procurou lembranças da noite anterior. Como diabos acabou na cama, na
cama de Caroline? Mas sua cabeça latejava ferozmente, e não conseguia
entender. Francamente, pensou que perderia o conteúdo do estômago.
Fechou os olhos, pressionando os dedos contra a têmpora.
— Mas papai, não é o que pensa — ela argumentou, sua voz estridente
perfurando o cérebro de Jack como uma adaga.
— Caroline, cale a boca. — Era Billy. Jack olhou através dos olhos
semicerrados para o homem. Estava com raiva, sua voz furiosa. Ele não era
pai dela, por que estava tão bravo?
Segurando o lençol ao seu redor, saiu da cama tremendo, os olhos
inundando. — Papai, por favor...
— Tilly!
A escrava apareceu instantaneamente. — Sim, senhor?
— Pegue sua ama e limpe-a. Ela tem um casamento para ir.
— Não, não... — Caroline lamentou quando Tilly a puxou para fora da
sala.
John Henry olhou para Jack, seu rifle não mais apontado para ele, mas
Jack viu que mantinha a mão sobre o gatilho.
— Então, estava pensando em levar uma lembrança da minha filha,
hein? — O patriarca da família berrou. — Como se atreve a tocá-la, com
suas mãos sujas de ianque?
— Não, senhor — disse Jack, procurando suas lembranças confusas da
noite anterior. Whisky, Emma, Caroline e, e, nada. — Eu não estava
tentando fazer algo assim...
Billy cuspiu o tabaco de mascar nos pés descalços de Jack, não tendo
acertado por pouco. As orelhas de Jack começaram a zumbir e seu
estômago revirou.
Os olhos de John Henry queimavam buracos em Jack, e ele sentiu o
calor deles. — Charles, prepare-o. Samson foi buscar o pregador.
Jack sacudiu a cabeça. Não podia ficar ali. Havia uma guerra e
precisava voltar para Washington. Cambaleou, o quarto balançando diante
dele. Jesus, quanto whisky ele bebeu? Respirando fundo, lutou para se
equilibrar e sentiu uma mão sob seu cotovelo, ajudando-o. Charles.
— Senhor, nada aconteceu. — Mas ele tinha certeza? Pensou que
estava com Emma. Sua respiração engatou. Emma. Oh! Querido Deus...
— Sr. Fontaine, o recebi em minha casa, como filho, e em troca
seduziu minha filha — o homem declarou com raiva. — Pagará por tal
ofensa da única maneira honrosa.
— Ainda acho que deveríamos matá-lo — Billy fervia.
As sobrancelhas de Jack franziram quando o olhou. Billy parecia
excessivamente hostil com aquilo...
— Billy, pai — Charles interrompeu. — Deixem-me arrumar Jack.
John Henry olhou para Jack da cabeça aos pés e para cima novamente.
— Prepare-o. Espero que o reverendo esteja aqui em breve. Billy, venha
comigo. — E eles deixaram o quarto.
Jack caiu na cama quando Charles olhou para ele, incrédulo.
— Jack, o que diabos estava pensando?
Jack sabia que estava condenado. Mal ouvia o pregador, sua mente
ainda tentando recordar lembranças da neblina da noite anterior. Nada.
Tudo o que se lembrava era de Emma. E sua doce risada, como cheirava a
morangos e o mel dos seus lábios. Ainda sentia o sabor do seu néctar na
boca.
Ele a viu antes da cerimônia, pois Charles ainda estava tentando falar
com ela. Parecia arrasada. Quando seus olhos se encontraram, o desprezo
encheu os dela, enviando punhais em seu caminho. Sentiu-os esfaqueando-o
quando proferiu a maldita palavra: - Aceito. - E no final, a ouviu gemer.
Aquilo cortou profundamente em seu coração, destruindo-o.
Sua esposa estava sorrindo para ele. Lembrou-se de ter pensado que
era bonita. Agora, era sua responsabilidade. A única coisa que não queria,
não daquele jeito. O casamento forçado por honra, nome de família,
tradição — tudo o que detestava e do qual fugia, o encarava.
— Pegue suas malas. Partiremos agora — disse rispidamente. Viu-a
estremecer e, interiormente, aquilo o agradou. Por alguma razão, não
conseguiu deixar de pensar que poderia tê-la seduzido sob a influência de
álcool em abundância. Então, novamente, que ela poderia ter feito aquilo
com ele. A nuvem em sua mente não ajudava, e estava cansado de tentar
descobrir.
— Mas eu pensei...
— Caroline, preciso voltar para Washington. É minha esposa e fará o
que eu disser.
— Não precisa ser rude — respondeu com rigidez e se virou, saindo
furiosa.
Ele gemeu interiormente. Estava sendo um idiota. Com um suspiro,
chegou ao bolso e sentiu as bordas ásperas do lenço dentro. Emma. Deveria
devolvê-lo. Mas não podia. Uma onda de tristeza tomou conta dele e olhou
para cima, encontrando a dona, em pé, a três metros dele.
Emma ficou tensa, as mãos apertando o xale em volta dos ombros.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Billy estava ao seu lado, seu
olhar para Jack ainda cheio de raiva.
Jack foi até ela. Ficou rígida e Billy deu um passo para interceptá-lo,
mas ela tocou seu ombro. Balançando a cabeça, ele se afastou de má
vontade.
— Emma, eu sou tão...
— Não, Jack, não. — A voz dela era quebradiça.
— Eu quero me desculpar — ele implorou suavemente.
— Para quê? Por que eu era boa demais para ser seduzida, ao contrário
da minha irmã? Se precisava ficar preso a uma de nós, por que não a mais
bonita?
Que diabos? — Emma, entendeu tudo errado.
Os ombros dela se endireitaram e sua boca afinou. — Não, não
acredito, senhor Fontaine.
Seus olhos a traíam e ela sabia que ele percebeu. — Emma... — Queria
alcançá-la, tocá-la, mas não podia. Ele era casado, maldição. — Se precisar
de alguma coisa. Algum dia. Escreva para mim.
Ela riu. Foi uma risada oca, quase vingativa. — Jack, saia da minha
casa. Agora. E nunca mais venha aqui novamente. Virou e se afastou dele.
Para fora de sua vida. Para sempre.
Capítulo 10
Jack empurrou Golias mais rápido nos últimos dois quilômetros para
chegar a Washington antes do pôr do sol. Virando o caminho para a cidade,
puxou as rédeas, diminuindo a velocidade. Mesmo à distância, podia ver
que a cidade estava lotada com o exército e mais civis.
— Pare rapaz —murmurou para o puro sangue negro, batendo na
lateral do pescoço quando o cavalo desacelerou para um trote. Jack
afrouxou o controle das rédeas e sentou-se, pensando nos eventos recentes.
Depois do casamento apressado e da tentativa frustrada de pedir
desculpas a Emma, reuniu a esposa, a escrava Tilly e uma carroça cheia de
baús e malas para levar ao rio James. Mal se falaram depois de discutir
sobre Caroline trazer a escrava. Ele não queria ninguém em cativeiro
servindo em sua casa. Não era exatamente um abolicionista, mas
simplesmente não podia tolerar estar entre os porta estandartes daquela
instituição em particular. Não depois do que aconteceu anos atrás, ou por
causa de seu pai. E depois de estar em West Point, ficou ainda mais contra a
escravidão. Mas cedera à esposa apenas para acalmar seus comentários e
por causa de sua necessidade de sair. Então comprou a passagem dela para
Washington e a deixou, repentinamente, parada no cais, reclamando que ele
a estava abandonando, as palavras ecoando em sua cabeça por quilômetros.
Não a abandonou. Precisava ir a Washington para se apresentar. A bagagem
era muito pesada para transportar por terra. Além disso, precisava de
alguma distância.
A princípio, cavalgou pelo campo, procurando em suas lembranças o
que havia acontecido. Na primeira noite, sonhou com Emma, como a sentia
em seus braços, o gosto da sua pele, mas no meio daquelas lembranças
agradáveis vieram as palavras de despedida: — Saia e nunca mais volte.
Acordou, agredido e rasgado emocionalmente. No segundo dia de
cavalgada, finalmente reuniu as cenas fragmentadas e encontrou a resposta.
Caroline serviu-lhe muitas bebidas e estava sempre ao seu lado, enchendo o
copo depois de cada brinde. Mais tarde, o atraiu para o quarto com a
promessa de ajudá-lo com Emma. Ah, sim, ela o ajudou muito bem. Bem na
cama dela. Mas não havia lembrança de realmente se juntar a ela. Deve ter
desmaiado, mas apenas estar na sua cama o havia condenado.
No terceiro dia de cavalgada, tornou-se óbvio que as terras ao seu redor
estavam se transformando para a guerra. Mais pessoas estavam nas
estradas, algumas se deslocando mais para o interior, outras saindo. Grupos
de homens, tanto milicianos como civis armados, marchavam. Deram-lhe
espaço para passar, provavelmente porque estava cavalgando rápido, duro e
parecia tão abatido.
Pelo menos estava de volta a Washington, um lar temporário, até que
se inteirasse da localização de sua unidade.
E depois havia a Caroline.
Remexeu-se na sela, levantando a cabeça de Golias, respirando com
força enquanto o animal se movimentava. Maldição, só de pensar nela,
poderia derrubá-lo. Tentou se lembrar quando seu navio atracaria. Talvez
hoje, ou seria amanhã? Com um suspiro pesado, percebeu que poderia estar
em sua casa agora mesmo, esperando por ele.
Ajustou-se, o couro da sela rangendo por baixo dele. A checagem com
alto comando fora difícil de suportar. O oficial a quem se reportou, olhou-o
como se fosse o inimigo. De fato, perguntou a Jack, por ser do Sul, se
também planejava se demitir como tantos outros militares sulistas haviam
feito. Jack disse que não tinha tais planos, mas o olhar do homem não
mudou, embora não tenha dito nada mais do que dar a Jack sua missão no
comando de George McClellan. Jack se encolheu por dentro. Lembrou-se
de George B. McClellan. Formado em West Point muito antes de Jack, era
um membro do 2º regimento de Cavalaria e Jack já o havia encontrado uma
vez. A atitude do homem o incomodou. Era um asno pomposo. Mas uma
forte recomendação de seu comandante anterior, juntamente com suas altas
notas em Point, fora a razão de Jack ter sido designado para o comando de
McClellan.
Ao chegar em casa, Jack freou Golias e desmontou. Endireitando seu
casaco, deu uma volta nas rédeas ao redor do poste de atrelagem e se dirigiu
para a porta.
VIRGÍNIA
Ploft
A massa bateu novamente no tampo da mesa. Esticando a peça
viscosa e virando-a pela metade, Emma a bateu novamente. Amassou a
massa por um momento e começou a tirá-la da madeira quando um par de
mãos negras a parou.
— Senhorita Em, penso que já está pronta — Sally disse gentilmente.
Pegando a massa de Emma, enrolou-a e colocou na assadeira.
Emma passou as mãos cobertas de farinha pelo avental e, com um
suspiro angustiado, andou pela cozinha. Cozinhar era sua última tentativa
para preencher as horas do dia. Suas habilidades estavam melhorando, mas
estava longe de ser boa. Não precisava estar aqui com Sally e os escravos
da cozinha, mas necessitava de algo para se manter ocupada e assim sua
mente não voltar para aquela noite.
— Sally, o que mais tem que eu possa fazer? — Parecia desesperada. E
estava. Outro estremecimento a atravessou. Exaustão, ouviu Sally sussurrar
para seu pai. Talvez. Evitara dormir. O sono trouxera sonhos, sonhos sobre
uma noite em particular e o dia seguinte, quando passou de estar nos braços
de Jack para testemunhar seu casamento com sua irmã. Os sonhos fizeram-
na gritar em voz alta. Acordou a casa toda e o quintal. Então, permanecia
acordada.
— Criança — disse a escrava mais velha, empurrando um biscuit e um
copo de cidra em suas mãos. — Precisa colocar um pouco de comida aí
dentro e dormir.
Emma olhou fixamente para o biscoito folhado. Não tinha fome. E
quando tentava comer, sentia vontade de vomitar. Mas Sally, que ajudou a
criá-la, conhecia-a bem e não deixaria Emma sair sem comer. Deu uma
dentada no biscuit e mastigou lentamente, esforçando-se para não cuspir.
Sally balançou a cabeça. Incomodou Emma que a mulher sentisse
simpatia pela pobre menina branca rica que estava apaixonada pelo marido
de sua irmã. O pensamento revirou seu estômago, e desistiu do biscoito.
— Querida — Sally disse, acariciando a bochecha de Emma. — Sinto
muito pela sinhazinha, mas é hora de preparar este lugar para o verão. Há
muita gente que depende da sinhá. E um papai que, além dele mesmo,
também se preocupa com a filha. Pense nisso.
Emma lhe deu um pequeno aceno de cabeça e um sorriso cansado.
Inspirando, endireitou os ombros e se levantou.
— Emma?
Virou-se para a voz masculina profunda atrás dela e viu Billy ali
parado, segurando as rédeas para Angel e de seu cavalo. Ele sorriu,
levantando a mão com as correias de couro, pedindo-lhe que viesse dar uma
volta.
Com um sorriso, observou-o. Ele vinha todos os dias, tentando
persuadi-la a sair, mesmo que fosse só até o alpendre para conversarem. Em
suas mãos costumava estar o jornal, e o liam juntos. Apreciava que tentasse
fazê-la rir novamente. Mas o buraco em seu coração era muito grande.
Agora, não sentia nada. Um simples vazio era mais seguro. Poderia viver
com isso, desde que as lembranças ficassem longe.
O que prejudicaria montar Angel novamente? Talvez uma mudança de
cenário ajudasse. Além disso, duvidava que Sally a deixasse fazer algo mais
na cozinha.
Mas não estava vestida para companhia. Seu vestido de trabalho
enfarinhado e gorduroso e seu avental a faziam parecer pobre. Sim, mas os
pobres tinham seus companheiros. Afastou o cabelo do rosto e resolveu
juntar-se a Billy.
— Billy, irei acompanhá-lo, mas preciso de tempo para me vestir
adequadamente.
Ele fez uma reverência exagerada quando ela saiu para se trocar. A
meio caminho de seu quarto, olhou por cima de seu ombro e o encontrou
sorrindo para ela. Ele também não tinha sorrido muito desde que Caroline
partira. Ora, Emma não fazia ideia, mas achou que não lhe cabia perguntar.
Eram amigos, e isso era tudo de que precisava agora. Assim esperava.
VIRGÍNIA
AGOSTO 1861
MARÇO DE 1862
Perdoe-me por perguntar o que os cavalos de seu exército fizeram desde a batalha de
Antietam que se cansam por qualquer coisa
-Abraham Lincoln fez uma observação dirigida a George B. McClellan, que havia desculpado sua falta de ação
no outono de 1862 devido a cavalos cansados.
A CAMPANHA DA PENÍNSULA
VIRGÍNIA, MAIO DE 1862
31 DE MAIO DE 1862
JUNHO DE 1862
PLANTAÇÃO DE ROSE HILL
Por alguma estranha manobra mágica, pareço ter me tornado o poder da terra.
-George McClellan, em sua autoavaliação, logo após assumir o comando das forças da União em torno de
Washington, 1861
O silêncio pairava entre eles, grosso como lã. Jack sentiu a hostilidade
dela aumentar - ódio e medo misturados.
Onde estava o pai dela? Onde estava Caroline? Escondida? E um bebê.
Emma teve um bebê. Seu estômago se retorceu. Ao pensar que estava sendo
abraçada por outro homem rasgou-o, sua mente ficou nublada com a ideia.
No entanto, não tinha o direito de se sentir assim. Era casado com outra.
Algo estava errado. Engoliu o nó de apreensão em sua garganta.
Parecia muito magra para ter tido um bebê tão novo. Na verdade, seu
vestido, um simples vestido de algodão desbotado, pendurava-se em sua
estrutura. Ela não vestia a crinolina, e pelo que percebia, não possuía muitos
saiotes, já que a saia estava sobre seus quadris e nádegas. Olhou para a mão
esquerda dela e viu o estreito metal prateado em seu dedo anelar, o que
parecia ser uma aliança de casamento. Não estava totalmente seguro, pois
ela notou seu olhar e escondeu a mão nas dobras de seu avental.
— Emma, Emma, por que Nathan está chorando? Oh! Jack — John
Henry começou a falar, quando parou na entrada da biblioteca. O olhar
preocupado evaporou de seus olhos e ele sorriu. — Jack, o que acha do seu
filho?
As sobrancelhas de Jack franziram. Seu filho?
— Papai, por favor — disse Emma, passando por Jack e pegando o
braço do pai. — Por que não volta a se deitar? — Enquanto virava seu pai,
olhou para Jack por cima do ombro, balançando a cabeça com força.
— Não até me dizer por que o garoto está tão chateado. Eu o ouvi
chorando.
— Ele só está com fome. Sally está alimentando-o agora. — Ela o
incentivou.
Jack ficou parado, tentando entender as coisas. John Henry tinha
envelhecido consideravelmente desde que o vira há apenas um ano. O
cabelo do homem estava despenteado, como se não o penteasse há dias. Seu
queixo estava com barba disforme por falta de se barbear, sua camisa
ligeiramente torta. E apareceu apenas em mangas de camisa, uma
ocorrência rara para o dono da casa. O que havia acontecido com ele? Era
uma cicatriz o que viu em sua têmpora? Talvez por isso não tenha
expulsado Jack. Sua animosidade não poderia ter terminado tão cedo,
especialmente se Caroline lhe tivesse dito que Jack praticamente a
abandonara, ameaçando com o divórcio.
Onde estava Caroline?
Começava a subir as escadas quando Emma voltou, seu rosto tenso.
Estendeu a mão e pegou as dela, puxando-a para perto.
— Emma, seu pai... — ele começou, seus braços envolveram-na. Só
quis abraçá-la novamente, para confortá-la, e ela pareceu relaxar, mas não
durou muito. Sentiu seus ombros pontiagudos endurecerem sob seu abraço.
Não se lembrava de senti-la tão magra antes. Sua mão traçou o pescoço
dela, seus dedos se entrelaçando em seu coque bem apertado, e segurando
sua nuca para olhar nos olhos dela.
— O que aconteceu? Seu pai foi ferido? Com quem se casou? — Sua
boca se contorceu quando perguntou: — Onde está Caroline?
Os olhos dela refletiam uma infinidade de emoções. Sua risada amarga
o surpreendeu quando ela se afastou.
— Então ela mentiu para mim. Não pela primeira vez, mas que
patético. — Os olhos dela brilharam. — Nathan é seu filho.
Jack ficou atordoado. Era o efeito que ela queria, tinha se empenhado
e ainda assim, não lhe trouxe nenhuma satisfação. Ansiava por estar
novamente em seus braços, por ser acolhida em seu calor. Seu olhar
deslizou pelo seu corpo e de volta ao seu rosto. Ele estava magro, e quando
a segurou, seu peito, ombros e braços eram duros, os músculos se
ondulavam com seus movimentos. Aqueles olhos verdes permaneciam os
mesmos, vibrantes acima das maçãs do rosto altas, um nariz reto e uma
linha de mandíbula afiada. Seu maxilar se torceu com o passar dos minutos
e a notícia assentou.
Ele a odiaria antes que ela terminasse, apesar de tê-lo odiado quando a
deixou. Deus continuava odiando-a. Faria Jack abandoná-la de novo.
Suas entranhas se apertaram. Tais pensamentos eram maus. E quanto
ao seu marido?
— Onde está minha esposa? — As palavras eram duras e frias. O que
mais ela esperava?
Ela engoliu com força, temerosa de sua reação. — Ela está morta, Jack,
morreu no leito de parto.
Ele piscou. A cor sumiu de seu rosto. A perplexidade cruzou seus
olhos. — Ela não estava grávida quando a enviei para casa.
Emma acenou com a cabeça lentamente.
Sua expressão se tornou fria. Ela sentiu calafrios.
— Aquele não é meu filho.
As memórias das últimas horas de Caroline, oscilantes nas dores do
parto, voltaram para Emma. O apelo de sua irmã que dissesse a Jack que a
criança era sua ecoaram em seus ouvidos. O que Caroline havia feito para
que temesse que seu marido negasse ser o pai?
— Jack, ela jurou...
Ele riu. — Emma, depois de todo esse tempo, acreditou nela? — Ele
bufou. — Não entende. Não há nenhuma chance dessa criança ser minha.
Nenhuma.
— De todas as pessoas, afirmar que — ela disse, seus nervos estão se
agitando. — Ela era sua esposa.
Ele a enfrentou, a raiva gravada em seu rosto. — Sim, era. E sei
perfeitamente bem o que ela era.
Tilly se aproximou, puxando seu braço. — Srta. Emma
Emma encarou seu rosto rugindo, não compreendendo. Ele a havia
traído com a linda Caroline. Casou-se com ela. Como podia renegar seu
próprio filho? Não demoraria muito para que percebesse que era o pai de
Nathan, contando apenas os meses que se passaram. É verdade que ela não
lhe havia contado quando a criança nasceu, mas a descrença dele a fez reter
essa informação.
Como atreveu-se a renegar Nathan? Ela daria tudo para tê-lo tido. Seu
coração chorava. Não por Caroline, mas pela criança cujo pai se negava a
reconhecer. Com repulsa total, virou-se e seguiu Tilly.
Jack se irritou com a ideia. Caroline jurou que a criança era dele.
Claro que, caso contrário, a criança seria considerada um bastardo. Jack
tinha sido tolo por tolerar aquela mulher, sabendo que ela entretinha os
homens enquanto ele estava em guerra. Não tinha dúvidas de que continuou
depois que ele se mudou. Cuspiu de nojo, manchando o chão de madeira,
mas não se importou.
Olhando para o nada, aos poucos sentiu a presença da escrava. Sally
balançava sua cabeça para ele. Ele bufou. Ela podia repreendê-lo o quanto
quisesse. Era estranho. Nunca se acostumou a ser casado, e agora, não sabia
como agir como viúvo. Pensou que estava livre, mas um sentimento de
aperto o atingiu. Emma não estava livre. Com quem ela se casou?
— Mestre Jack.
Ele desistiu de ignorar a escrava. — O que é?
A mulher gorda se aproximou dele, ainda segurando a criança.
Chupava o pano sobre o ombro dela. Jack balançou a cabeça. Não havia
nenhuma semelhança daquela criança com ele. Não podia ser dele... mas
um sentimento lutou por reconhecimento. Eles tinham consumado seu
casamento completamente. Seus olhos se fecharam apertados. Não, não...
O farfalhar da saia e do avental de Sally parou, e ele abriu os olhos. Ela
estava em pé à sua frente. — Conheço a Srta. Caroline, ajudei a criá-la, bem
como a Srta. Emma e Mestre Charles — disse a mulher com voz suave.
Ajustou seu controle sobre o bebê. — Mas, eu acredito na Srta. Caroline.
Esta criança aqui é sua.
— Sally...
— Ora, eu sei como ela o enganou com a Srta. Emma. Ninguém pode
ajudar nisso agora. Mas não descarregue na Srta. Emma nenhum problema
que tenha tido. Aquela pobre coitada estava mal naquela época e agora tem
mais do que o suficiente em cima dela, sem que o senhor grite. — Ela
beijou a cabeça do bebê e olhou para Jack com um sorriso. — Ele parece
com o senhor.
Rangeu os dentes, mas olhou. A criança tinha uma penugem de cabelo
marrom claro na cabeça, e seus olhos eram azuis como o céu. Diabos, Jack
não fazia ideia de como era quando criança, e seu irmão nasceu muito
próximo de sua idade para se lembrar. Sacudiu a cabeça.
— Não vejo nenhuma semelhança.
Ela riu. — Claro, está olhando para o lado errado. Mas eu o vejo. Não
se preocupe com os olhos. Todos os bebês brancos nascem com olhos azuis.
Tenho certeza que vão mudar.
Jack estava prestes a discutir o ponto quando ouviu o rugido do canhão
à distância. Era tênue, mas distinto. Ele engoliu em seco. A guerra. Eles
precisavam ir embora.
— Sally, apesar de como me sinto, eu preciso ir.
Ela assentiu. Ele começou a caminhar em direção à porta quando ela
falou. — Sabe, mestre Jack, A Srta. Emma derramou muitas lágrimas por
sua causa. Costumava gritar ferozmente quando dormia, depois seco que o
Sr. levou a Srta. Caroline. Eu "acredito que grite novamente", agora que
retornou.
— Mas não retornei —rebateu. — Eu só precisava ter certeza de que
ela, quero dizer, todos estavam bem.
— Hu hum — ela murmurou. — Então o senhor voltou só para deixá-
la?
— Eu não posso ficar e protegê-la! Ela tem um marido, pelo amor de
Deus. — Ele passou os dedos pelos cabelos. Ele possuía um filho que
precisava proteger. Droga — Onde está o bastardo, afinal?
— Senhor Billy? Ele está lutando.
Maldição do inferno! Ela se casou com Billy? O ciúme o envolveu.
— Senhor, nós precisamos voltar — o sargento interveio na porta.
Com um rosnado, Jack pegou seu chapéu e se dirigiu para a porta,
apenas para parar e olhar novamente para o menino. A criança dormia
profundamente no ombro da escrava. Um filho. Cristo.
— Diga a ela, diga a ela... — sentiu-se perdido. Que voltaria? Será que
o faria? Será que poderia? — Eu voltarei. Eu prometo. — E saiu pela porta.
Emma ficou em pé atrás das escadas, ouvindo Jack tentando negar
que Nathan era dele, e seu coração contraído pela criança. Saltou uma
batida quando ouviu Sally trazer à tona aqueles dias sombrios. Estava com
medo de que a escrava tivesse razão e não dormisse esta noite por medo da
gritaria.
E quando Jack jurou antes de sair de sua vida novamente, que voltaria,
seu coração se despedaçou porque sabia que era uma promessa que ele não
cumpriria.
Capítulo 15
17 DE SETEMBRO DE 1862
SHARPSBURG, MARYLAND
O sol ainda não havia chegado ao horizonte, mas Jack percebeu que
se encontrava perto de Rose Hill. Estava tão cansado, que se inclinou sobre
o pescoço de Golias. O animal andava devagar, mas Jack não parava.
No topo da subida, olhou para baixo e viu a casa.
— Rapaz, conseguimos — sussurrou para o cavalo, acariciando seu
pescoço. Com um segundo sopro fortalecedor, Jack sentou-se e incentivou
sua montaria a acelerar. — Estamos quase lá, rapaz, então poderá descansar.
Atravessaram o riacho e entraram nos pastos que circundavam o
celeiro. Jack viu uma mulher sair de casa, carregando uma lanterna até o
celeiro. Estava magra, com um vestido de trabalho normal em alguma cor
escura, e seu cabelo estava puxado para trás em um coque. Quis chamá-la,
mas teria que gritar para que o ouvisse, e a esta hora da manhã,
provavelmente a assustaria até a morte.
Ela entrou no celeiro antes que ele chegasse lá. Sorriu. Ordenhando
vacas. Engraçado como a guerra pode mudar uma pessoa, neste caso de
uma jovem privilegiada para uma trabalhadora de fazenda. Não que Emma
tivesse sido tão mimada quanto sua esposa, mas apostaria seu cavalo que
ela nunca esperaria ordenhar uma vaca em sua vida. Ele riu.
Quando chegaram ao celeiro, Golias se desviou, bufando e balançando
a cabeça. Alguma coisa parecia errada. Jack deslizou do cavalo e puxou seu
revólver.
A porta não estava fechada, e ele escorregou por ela. Sob a luz fraca,
um vagabundo segurava uma faca para Emma, cuja roupa estava rasgada.
Agarrando sua arma, Jack falou.
— Rapaz, solte-a — exigiu, sua voz militar treinada em alto e bom
som.
A escória suja riu e se recusou a recuar, murmurando algo que Jack não
conseguia ouvir. O rosto de Emma estava pálido de medo. Jack apontou,
inclinado a matar o bastardo. Sem outro pensamento, ele apertou o gatilho.
O homem caiu no chão enquanto Jack corria para Emma e agarrava
seus braços. Ela estava tremendo muito.
— Emma — ele disse. — Emma?
— Jack? — Ela disse e gritou, justamente quando a parte de trás da
cabeça dele explodiu. A dor o engoliu, e seu mundo escureceu...
Capítulo 17
Pode lhes parecer estranho, mas quanto mais homens mortos eu via, mais
imprudente eu me tornava.
-Soldado da União Franklin H. Bailey em uma carta aos seus pais
ROSE HILL
O grande fato que afirmamos desde o início, está agora fora do alcance de
controvérsia. Dissemos que o Norte nunca poderia dominar o Sul, e o Norte
chegou agora a essa mesma conclusão.
-The Times (Londres), 14 de setembro de 1864
Qualquer homem que seja a favor de prosseguir com esta guerra é um candidato
adequado para um asilo de lunáticos e deve ser enviado imediatamente para lá.
-Nathan Bedford Forrest, maio de 1865
Jack parou Golias na colina e suspirou. O que não daria por uma
batalha. Sentir a adrenalina correndo por suas veias, o cheiro de enxofre, o
som de canhões e armas rugindo. Uma chance de realmente disparar uma
arma e ver a bala se rasgar na carne de outro homem. Fechou seus olhos.
Maldição, iria para o inferno por tais pensamentos. Mas eram mais seguros
do que os que teve a noite toda. De Emma, do seu calor, do seu toque, de se
enterrar dentro dela. Aqueles pensamentos perversos percorreram sua mente
a noite toda, seu sangue correndo enquanto se aninhava, enquanto dormia,
na curva de seu corpo.
O fato de que conseguiu dormir, de maneira alguma, o espantou.
Acordou exatamente quando o céu noturno começou a partir. Ela estava
encostada a ele, respirando suavemente. Quis beijar seu pescoço, sua
bochecha, curvar-se e pegar seus lábios. Sufocar um gemido foi difícil, mas
se afastar foi pior à medida que seu membro endurecido empurrou as
nádegas dela, desejando perfurar as dobras do seu sexo. Esse último
pensamento ajudou-o a levantar-se rapidamente e a entrar na linha de
árvores para buscar lenha.
Depois do café da manhã, precisou se afastar. Ainda podia sentir seu
cheiro doce. Ainda conseguia se lembrar da sensação de seus cabelos de
seda contra sua bochecha. Rapidamente, selou seu cavalo e murmurou que
precisava descobrir se teriam companhia e procurar abrigo. Com um toque
rápido, conseguiu fazer com que seu cavalo galopasse.
Não foi uma manhã desperdiçada. Encontrou a Virginia Tennessee
Railroad, uma das poucas linhas leste-oeste ainda em operação. Mas
também encontrou evidências de movimento de tropas na área. Nenhuma
pista foi deixada sobre qual dos lados. Eram poucos, talvez cinquenta.
Cinquenta, no entanto, podiam causar danos incríveis.
Passando a mão pelo cabelo, sentiu que estava úmido de suor e
encardido de sujeira. Correu com o animal a manhã toda, tentando queimar
seu desejo e encontrar abrigo. Não podia continuar dormindo ao lado dela.
Além disso, apesar do calor do dia, era inverno. Precisavam se deslocar.
Agarrado a seu cavalo, trocou seu peso na sela com a pressão de uma
perna para guiar Golias na direção certa. Seu estômago rosnava. Devia ser
meio-dia. O sol se punha quando voltou para o acampamento. Reconheceu
o mato de árvores à frente e sabia que Emma estava do outro lado. Seus
lábios se curvaram em um sorriso distorcido enquanto a imaginava
cozinhando. Seus longos e gloriosos cabelos castanhos destacados em ouro
pelo sol, amarrados em uma trança que tinha a tendência de se desfazer.
Sentiu seu corpo se apertando e endurecendo. A frustração o encheu.
Não podia voltar para o acampamento excitado. Com um olhar para a água,
ele sorriu. Sem dúvida cheirava a cavalo, couro e lã suja. Deslizou do
animal, derrubando as rédeas. Rapidamente se despiu, enquanto seu cavalo
se alimentava da grama, procurando por lâminas verdes.
Totalmente nu, caminhou para a água. A água da margem estava
morna, mas, mais para dentro, estava fria. Ótimo, precisava do frio para
matar sua rigidez. Mergulhou.
Mas que diabos! Jack cavalgou através das árvores, apenas meio
vestido e agarrando bem as rédeas. Golias estava nervoso, desviando-se
através da folhagem. Completamente enojado, Jack saltou da sela,
proferindo outra maldição.
Ela o chamara de assassino.
Ele cuspiu e decidiu voltar caminhando para o acampamento. Mas
Golias não quis se mexer. Jack tentou relaxar e formar seus pensamentos,
percebendo que o cavalo estava respondendo ao seu próprio humor negro, e
suspirou. Maldito animal fogoso.
A cena no riacho se repetia em sua cabeça. Saltara na água, procurando
alívio do calor e para lavar o suor e a sujeira, apenas para vir à tona e
encontrar o anjo de seus sonhos, todo vestido de branco. Parecia que
esperava por ele. Bem, foi assim que ele escolheu enxergar.
Nunca antes a tinha visto naquele estado de abandono. O simples
chemise decotado e sem mangas caía sobre suas canelas, as pantaletes em
baixo, estavam amarradas com rendas em suas pernas. Seu cabelo cor de
cobre estava solto em torno dos ombros, escapando de sua trança. Suas
roupas de baixo estavam molhadas do meio das coxas para baixo, o algodão
fino agarrado ao corpo. O vento tinha soprado a frente de seu chemise
contra ela, e ele viu seus mamilos perolados delineados no tecido. Ela era
linda, e se embriagou com a visão, querendo armazená-la para sempre.
Começou a endurecer, pois havia se aproximado mais.
Seus olhos âmbar brilhavam no reflexo da água. Viu suas faces
manchadas de lágrimas. Aqueles lábios de coral, ligeiramente abertos,
chamaram-no. Antes que se desse conta, sua boca estava sobre a dela. Sua
língua foi traçando a costura dos lábios e a devorou quando se abriu para
ele. Provou o sal de suas lágrimas, misturado com hortelã-pimenta,
excitando-o ainda mais.
Era tão errado e tão certo. E ela o queria. Ele sabia disso. A maneira
como respondeu a ele foi perfeita, convidativa e deliciosa.
Então ela o deteve. Suas acusações o atingiram como uma bala, rápida
e brutal.
Sim, Jack sabia que era um assassino. Que soldado não era? Mas
aqueles homens que havia matado, mesmo aquele lixo branco que a havia
atacado, iriam assombrá-lo para sempre.
A carnificina em Sharpsburg era a memória mais difícil de enterrar. A
trincheira, cheia de mortos, o Ceifeiro vindo recolhê-los, todos eles. Mesmo
agora, acenavam para que se juntasse a eles.
Ele parou abruptamente, Golias num sopro de suas costas. Jack fechou
os olhos, desejando afastar os espíritos. Quando olhou para frente, viu John
Henry segurando Nathan, dizendo algo em tons baixos para a criança. Jack
realmente desfrutou de um momento de paz enquanto olhava para seu filho.
Alguém intocado pela loucura.
Deparou-se diretamente com Tilly. A escrava rolou seus olhos até os
dele, um sorriso lento aparecendo em seu rosto.
— Mestre Jack — os dedos dela rolaram pelo seu peito. — Deixe-me
ajudá-lo.
Ela pegou a mão dele e a colocou sobre o peito dela, apertando-a.
Estava pesado em sua mão. Ela rolou o polegar dele sobre seu mamilo duro.
Ele ficou de pé, olhando para ela, sem prever o que estava
acontecendo. Sua mente ficou nublada. Tilly era uma escrava jovem e de
aparência agradável. Sem dúvida, estava acostumada a deitar-se com
homens. Mas se transformou em Fanny, seu riso ecoando em seus ouvidos.
E então seus gritos enquanto seu pai sibilava as instruções para que se
tornasse um homem...
A bílis subiu em sua garganta enquanto afastava sua mão de Tilly.
Mesmo que se oferecesse, ele não conseguia. Com uma deglutição difícil,
aproximou-se rapidamente de John Henry.
O pai de Emma examinou-o com um olhar manhoso. — É bem
estranho, rapaz — John Henry começou. — Emma tem que lamentar.
Deixe-a em paz. Tem outra maneira. Use-a para saciar sua luxúria.
Sem responder, Jack pegou Nathan e o rodou para o ar. Enquanto o
bebê gritava, soube que teriam que partir; os últimos dois dias haviam sido
muito longos. Enlouqueceria com outro.
A vitória eventual deve ser sua, tanto quanto o homem possa julgar. Mas a que
custo? Olhe bem para essa cara! A do extermínio... Deixe o Sul ir.
-Archer Gurney, Paris, França, em 24 de maio de 1861, carta ao editor, New York Times
Então escreva para minha mãe e meu pai dizendo que tentei cumprir meu dever.
-Soldado James Sullivan, 16 anos, Companhia K, 21 Massachusetts, depois que um cirurgião disse a seu
sargento, - Não deve durar cinco minutos.
Ela não ouviu. Sua mão enrolou-se em torno de sua dureza. A pele em
si era tão macia. Ela sentiu a grande veia ao longo do órgão vibrar
rapidamente. Sorrindo para si mesma, acariciou os sacos pesados abaixo -
algo que nunca havia feito a seu marido. É claro que os momentos em que
esteve íntima de Billy poderiam ter sido contados em uma mão. Limpando
esse pensamento de sua mente, Emma dedilhou a cabeça da virilidade de
Jack, traçando o cume. Ela o ouviu engolir com força, um ronco baixo
vindo de seu peito. Ela tocou a abertura com a ponta do dedo e se
surpreendeu ao vê-la molhada.
— Oh meu Deus, Emma — ele murmurou.
Ela olhou em seus olhos escurecidos. Ela também doía com a
necessidade, e era tão fácil... Agarrou seu eixo e o levou contra sua entrada
encharcada, colocando a cabeça dentro de suas pregas molhadas.
Essa foi a sua desintegração.
Ele mergulhou nela enquanto sua boca capturava a dela novamente.
Ela ofegava enquanto ele a enchia. Era tão grande, e, por um momento, ela
ardeu enquanto ele enterrava tudo. Em um instante, no entanto, seu corpo o
acomodou. Ele se retirou quase por completo, e ela chorou. Novamente, ele
a encheu, suas costas e seus ombros nus sendo raspados enquanto ele a
erguia contra a rocha. Vezes sem conta, ele se aprofundou no seu interior,
enchendo-a. Ela se prendeu entre Jack e a rocha enquanto enrolava suas
pernas ao redor de seus quadris.
Ele gemeu contra seu pescoço e ela se inclinou loucamente, arfando
por ar enquanto ele a levava cada vez mais alto. Ela se agarrou a ele ao se
aproximar do precipício de algo que não havia experimentado antes. Ele
mergulhou nela novamente, e ela levantou os quadris para encontrar seu
empurrão. Com o próximo impulso de Jack, seu mundo se despedaçou.
Com os olhos fechados, ela viu as estrelas explodirem em um milhão de
pedaços.
Jack empurrou mais uma vez, gemendo em sua própria liberação. E
enquanto sua semente a preenchia, ele enterrou seus dentes em seu ombro
exposto. Enquanto banhava seu ventre, a dor requintada de sua mordida fez
com que ela voltasse ao clímax.
Juntos, deslizaram pela rocha até o solo duro, Emma em cima de Jack.
Ele envolveu seus braços ao redor dela e as saias os cobriram. Ela nunca
havia se sentido tão saciada. Ela estava exausta, feliz, quente, apaixonada.
Sua cabeça caiu no ombro dele quando um suspiro lhe escapou.
Meu principal objetivo nesta luta é salvar a União... se eu pudesse salvar a União
sem libertar nenhum escravo, eu o faria; e se eu pudesse salvá-la libertando todos os
escravos, eu o faria; e se eu pudesse salvá-la libertando alguns e abandonando outros,
eu também o faria...
-Abraham Lincoln, em carta a Horace Greeley, 1862
TENNESSEE, 25 DE DEZEMBRO
29 DE DEZEMBRO DE 1862
Emma não dormia desde que um soldado tinha chegado dois dias
antes com os suprimentos de Jack. Temia que ele tivesse morrido, mas o
homem alegou que não. No início, ficou furiosa com Jack por tê-la
abandonado, porém, logo após um ataque de histeria por causa dessa ideia -
"desertor" - a abandonou, e procurou a bolsa. O alívio inundou-a. Comida.
Chegando mais fundo, encontrou o sabonete com seu nome escrito no
invólucro. Sabão perfumado com rosas. Ela inalou o perfume, fechando os
olhos. Isso a fez pensar no lar e em tempos mais simples. Antes da guerra.
Antes da morte e da saudade, se tornarem companheiras constantes.
O anel de dentição para Nathan era uma dádiva de Deus. A criança
tinha mastigado alegremente no hardtack, mas não foi feito para resistir ao
seu roer para sempre. O anel de metal arredondado funcionava bem, uma
vez que o aquecera em suas mãos. Como tudo o que lhe era dado, Nathan
prontamente o enfiou na boca. Ela sorriu enquanto ele roía alegremente.
Foi o último item na bolsa que a parou - um pedaço de papel com o
nome e endereço do pai de Jack, rabiscado nele. Suas entranhas se
retorceram. Ele não acreditava que voltaria. Ela afundou no chão úmido
com o impacto de mais uma perda.
Embora tivessem passado apenas alguns dias, parecia uma eternidade.
Não conseguia decidir o que fazer. Era uma época assustadora. Muitas
vezes, sentia os olhos de seu pai sobre ela. Ele nunca lhe disse uma palavra,
oferecendo apenas respostas curtas a tudo o que pedia. Os olhos do homem
estavam vagos, exceto quando Nathan estava acordado. Por vezes pegou
seu pai chamando o menino de Charles, mas ela não o corrigiu. Não havia
funcionado quando tinha feito isso. Ele parecia esquecer facilmente as
coisas recentes, como se nunca tivessem acontecido. Mas se perguntava
sobre sua juventude ou o casamento com sua mãe ou mesmo sobre sua
própria infância, ficava animado, contando histórias que ela havia
esquecido há muito tempo.
Parecia estar mais feliz lembrando o passado, e Emma desejava poder
se juntar a ele lá. Sem dúvida, tinha sido mais agradável do que o presente.
Ela agitava a aveia na panela sobre as chamas. Um vento frio passou,
conseguindo levantar a saia e os anáguas, surpreendendo-a e fazendo-a
tremer. Estava tudo tão silencioso. Um manto de desespero desceu sobre
ela, fazendo-a ofegar em voz alta.
— Senhorita Emma? — Tilly chamou-a suavemente.
— Eu estou bem, Tilly. — Devia ter feito muito barulho. A jovem
estava amamentando Nathan, cujos murmúrios periódicos eram os únicos
sons a serem ouvidos.
De repente, houve um estrondo como um trovão. Emma franziu o
cenho porque um dia sem nuvens estava amanhecendo. Então percebeu que
o barulho tinha vindo de muito longe. Ouviu-o uma e outra vez. Canhões. A
fumaça começou a encher o ar, escurecendo-o. Cautelosamente, caminhou
em direção às árvores, o bosque bloqueando sua visão da batalha. Ela
estava longe da proteção da carroça, a poucos metros das árvores, quando
viu movimento entre elas. Ela se esgueirou, ignorando seu medo crescente,
sua curiosidade e sua esperança ofuscando-a. Talvez Jack estivesse lá,
voltando para eles. Deu outro passo, e com ele veio outro estouro, desta vez
mais perto. As árvores tremeram e uma rajada de fumaça passou por elas,
junto com os gritos dos homens que ali se escondiam. Sua boca caiu aberta
enquanto vários homens vestidos de cinza caíam. Estando a uma curta
distância, viu que estavam ensopados em sangue.
Em choque, ela caiu de joelhos e depois viu um soldado de azul
cavalgando pelo caos com outros dois, com armas em chamas. Eles
atiraram nos feridos de cinza antes de virar seus cavalos e cavalgar de volta
em direção ao matadouro.
Massacre. A palavra entrou em sua mente. Jack. O medo a agarrou.
Jack estava ferido, sabia-o, sentia-o no fundo de si mesma. Podia estar
deitado no chão, sangrando, como os homens agora mortos diante dela.
Precisava ir até ele.
— Tilly, — ela chamou.
A moça veio com Nathan encostado em seu ombro enquanto batia de
leve em suas costas. Ele arrotou alto, e Emma sorriu e tirou o bebê de Tilly.
Ele deu a Emma um grande sorriso, seus lábios manchados de leite. Ela
beijou sua testa antes de entregá-lo de volta à escrava.
— Tilly, eu tenho que ir. Jack precisa de mim. — Ela parecia uma
lunática, mas não se importou. — Cuide dele e de meu pai. Voltarei em
breve.
Jack recarregou seu revólver. Olhando para a fila de seus soldados, viu
que estavam prontos. Alguns estavam tremendo. A primeira vez em batalha
e encarando o inimigo de frente como estavam, assustava a maioria dos
homens. Era uma reação normal. Ser negligente sobre isso ou aceitar a
morte seria uma loucura. Mas Jack se sentia louco agora mesmo.
A primeira onda do ataque fez com que as forças da União se
retirassem. A segunda onda dos generais Jones Withers e Benjamin
Cheatham atacou forte e rapidamente. Os homens de Jack e o resto do
comando de Sheridan eram as únicas forças defensivas. O general os
levantou às quatro para se preparar para o dia. O ataque dos Confederados
foi rechaçado e repelido pela União. Mas o custo tinha sido alto. Os três
líderes da divisão de Sheridan haviam sido mortos, e cerca de um terço dos
homens estava ferido ou morto devido à provação de três horas. Quando os
Confederados se retiraram das forças de Sheridan, a carnificina ao redor de
Jack o lembrou de Sharpsburg e daquele vale da morte, com os gemidos dos
feridos e o fedor de enxofre, pólvora e podridão.
— Ah, vangloriando-se dos mortos, seu bastardo, — assobiou a voz
por trás dele. Wright. Tinha se perguntado para onde o homem havia ido
durante a batalha. Esperava que ele fosse um dos muitos que estavam
deitados no chão.
— Perdeu sua chance, — declarou Jack sem rodeios.
Os olhos de Wright se arregalaram enquanto erguia seu revólver contra
Jack. — As armas ainda estão atirando. — Ele apontou o dele. — É um
desertor, um secesh e um traidor, e eu o mandarei direto para o inferno.
Uma arma disparou. Jack piscou os olhos, esperando sentir dor, mas o
entorpecimento permaneceu. Na frente dele, Wright afundou no chão.
Havia um buraco de bala entre suas sobrancelhas peludas, um olhar de
choque congelado em seu rosto.
Jack olhou para a arma em sua mão. Seu polegar estava sobre a
alavanca, mas ele não havia disparado. Como o bastardo tinha sido
atingido? Ele se virou para olhar atrás dele quando sentiu um baque contra
o ombro. Um disparo de dor abrasador atravessou-o enquanto ele olhava
para o lado esquerdo de seu peito. Seu casaco marinho ainda parecia
marinho, mas havia um buraco, logo abaixo de seu ombro. Tentou levantar
seu braço esquerdo, mas ele não se mexia. Não conseguia se mexer. Sua
camisa estava grudada em seu corpo enquanto o sangue escorria da ferida.
Seus ouvidos ecoavam.
Lentamente, seus joelhos se dobraram, e ele afundou no solo duro do
inverno, incapaz de impedir a queda sobre a terra encharcada de sangue. Ao
escorregar no esquecimento, pensou em apenas uma coisa. Emma.
Capítulo 26
Fomos grosseiramente enganados pelo Norte e eu preferiria que cada uma de nossas
almas fosse exterminada do que sermos novamente aliados a ela.
-Carolina do Sul Secessionista T.H. Spann, Carta a Annie Spann, 27 de janeiro de 1861
Jack ficou tenso. Ainda dentro de Emma, protegeu sua nudez depois
de ouvir o som familiar de uma arma sendo apontada. Fechou os olhos. Era
John Henry, e estava com o Le Mat. Como é que conseguiu pegá-lo depois
de tudo que fizeram para mantê-lo afastado das armas de fogo? Um dia,
talvez hoje, o homem o mataria.
A ferida de Jack doía. Virou-se lentamente e saiu da cama, puxando o
cobertor para cobrir a Emma.
— John Henry...
— Como se atreve? É casado! Com a irmã dela! — Enraivecido, o
homem cuspia como lava de um vulcão em erupção. Seus olhos perfuraram
Jack enquanto elevava seu revólver ao nível do peito.
Emma levantou-se, segurando o cobertor na sua frente. — Papai, pare.
— Vista-se, — seu pai a ordenou, nunca tirando os olhos de Jack. —
Seu idiota amante dos ianques. Ela ainda nem terminou o luto, mas não
conseguiu manter suas mãos imundas longe. Eu deveria enviá-lo
diretamente para o diabo.
Jack pegou cuidadosamente suas calças e as vestiu. Seu braço
endurecido de dor. O velho teria razão em matá-lo. — Senhor, eu sei que
isto não parece bom...
— Claro que não!
— Papai, por favor, — Emma interrompeu novamente.
— Se ela carrega seu bastardo...
Um turbilhão de pensamentos correu pela mente de Jack. Emma. Seu
filho. Ele tinha que protegê-los, tirá-los da zona de guerra. Se John Henry
finalmente cumprisse sua ameaça e matasse Jack, estariam ainda piores do
que antes. Jack disse que a única coisa em que poderia pensar para salvá-los
- mesmo que isso significasse perder Emma. Maldição!
— Então seria o filho de Billy, — ele disse sem rodeios
Jack avançou pela neve enquanto ele e John Henry procuravam por
uma presa. Havia encorajado o velho a acompanhá-lo porque queria ver o
quanto os sentimentos de John Henry por ele eram ruins. Jack estava
desconfiado sobre os combates na área, então não foram longe. Queria
permanecer perto da cabana em caso de problemas. Só os céus sabiam
quem poderia encontrá-los. Quanto mais tempo permaneciam lá, mais fortes
se tornavam seus medos. Quando a neve e o gelo se derretessem, teria que
colocá-los de volta na estrada para Louisiana. A primavera estava chegando
e, com ela, mais luta. Sem dúvida, ambos os lados estavam se preparando
para a próxima batalha. O Tennessee estava pronto para a batalha, como
havia visto em Nashville e Murfreesboro. Francamente, estava nervoso
porque não tinha visto sinais de nenhum dos dois exércitos recentemente.
Exércitos ociosos poderiam ser ruins.
John Henry teve um momento de lucidez e começou a perguntar a Jack
quais eram suas chances de chegar em segurança à casa dos Fontaine
quando Jack avistou um coelho e o matou com um tiro. O café da manhã.
Também terminou a conversa.
No caminho de volta para a cabana, o cabelo na nuca de Jack arrepiou
e ele parou. John Henry correu em sua direção. — Silêncio, — Jack
advertiu, apontando à frente.
Três cavalos selados estavam amarrados ao poste diante da porta da
frente da cabana. Os animais não mostraram nada que indicasse sua origem
- ou seja, federais ou secesh - mas para Jack, ambos eram nocivos. Os
cavaleiros obviamente estavam dentro da cabana.
Empurrando o coelho morto para as mãos de John Henry, Jack saltou
sobre algumas árvores derrubadas, deslizando sobre a neve, mas sem cair.
Seu filho estava lá dentro, e Emma. Mais perto da cabana, Jack ouviu o
choro de Nathan e os tons calmantes de Emma praticamente afogados pelo
rugido de um homem.
Sacou o revólver, armando-o enquanto se esgueirava para a porta. Não
estava totalmente fechada, e, com um empurrão, abriu-a ainda mais. Diante
dele, estava uma cena infernal.
Emma colocou-se ao lado, abraçando Nathan a ela. Seu rosto estava
pálido, com os braços bem apertados ao redor do menino que gritava,
consciente da tensão crescente.
Dois homens estavam ali vestidos com roupas sujas e esfarrapadas que
cheiravam a suor, sujeira e esterco de cavalo. Seus cabelos oleosos e foscos
caíam sob seus ombros. Jack notou seus olhos vermelhos, pele desgastada
e, enquanto riam, seus dentes amarelados quebrados. Alguns dos mais finos
do campo, fazendo uma visita aos vizinhos.
— Ela vai gostar. Todas gostam, putas sujas, — um deles rosnou,
atirando Tilly sobre o pequeno tampo da mesa. Em um movimento
relâmpago rápido, levantou sua saia.
Tilly gritou, tentando fugir, mas um terceiro homem saiu da outra sala,
sua arma apontada para Emma. Ele riu.
— Não, — Emma sussurrou.
— Não machucamos as mulheres brancas, — o homem declarou sem
rodeios.
Jack fervilhava de raiva. A violação de escravos aparentemente era
aceita. Enquanto a menina estava deitada ali, incapaz de se mover por causa
da forma como estava espalhada sobre a mesa, os demônios de Jack
revelaram-se. Por um breve tempo, tudo parecia tão cru e violento quanto
havia sido há treze anos. Outra cabana, outra escrava, sua amiga de
infância, espalhada nua e tão vulnerável. Presa por outros dois homens e
seu dono, exigindo que Jack a tomasse.
Tão rapidamente quanto a memória chegou, Jack enterrou-a
novamente. Bastou um gemido de Nathan para chamar sua atenção
novamente. Correu e acotovelou o homem nas costelas com tal força que
pôde ouvir o osso quebrar. O outro homem segurando os braços de Tilly
acima de sua cabeça os soltou para pegar sua arma. Tilly rolou da mesa
enquanto Jack levantava sua arma e disparava, atingindo o homem no
ombro.
— Largue sua arma ou acerto-a, — o terceiro homem ordenou,
empunhando a arma apontada para Emma. Mas Jack manteve sua própria
arma apontada e esperou. Cada homem olhou para o outro, avaliando. Jack
sabia que poderia matar o bastardo, mas e se puxasse o gatilho quando a
bala de Jack o atingisse? Sua indecisão momentânea fez o homem bufar. —
Bastardo de barriga amarela, eu sou...
Emma olhou fixamente para Jack, seus olhos arregalados de medo.
Medo e uma mensagem clara. Queria que disparasse no homem. Sua mão
segurava a parte de trás da cabeça de Nathan enquanto acenava levemente
com a cabeça. Naquele segundo, virou-se de costas, protegendo a criança
com seu corpo. Indignado, o homem se moveu para atirar nela e Jack puxou
seu gatilho. A bala assobiou pelo ar, atingindo o intruso entre os olhos.
Enquanto seu corpo batia no chão, os outros dois homens saíram correndo.
Jack ficou ali parado, com seu revólver fumegando da explosão. Nada
importava mais do que as duas pessoas à sua frente - seu filho e Emma.
Nathan chorou, irritado e chateado com toda a agitação. Contorceu-se nos
braços de Emma. Vagamente, Jack viu Tilly se apressar para a criança, com
suas roupas em ordem. Pegou Nathan. Os olhos de Emma não piscaram
enquanto o olhava, seus lábios empalideceram como se o sangue tivesse
sido drenado de seu rosto. Assim que a alcançou, desmaiou em seus braços.
Capítulo 29
Durante seis horas, a batalha foi travada. Jack podia ouvir homens
gritando, tiros, canhões rugindo e o guarda do lado de fora de sua barraca
movendo-se. Considerou tentar escapar, mas o soldado estava levando um
rifle carregado. Homens como ele se irritavam para entrar em combate, por
mais que o temessem. Esse medo os levava a agir impulsivamente, como
atirar em alguém sem motivo ou sem razão. Jack sabia que Emma e seu
filho estavam a apenas duas tendas de distância. A última coisa que queria
era que o soldado ferisse um deles por engano, caso Jack falhasse.
A amarra ao redor de seus pulsos estava apertada. Apesar de sua
tentativa de se soltar, a corda se manteve forte. Devido à sua luta, a corda de
cânhamo cortou sua pele. Deslizou pelo poste ao qual estava amarrado e
sentou-se.
Esperava que Emma ainda tivesse as instruções sobre como ir para a
terra de seus pais. No mínimo, sabia que podia contar com oficiais rebeldes
para serem cavalheiros e levá-los para lá em segurança. Uma coisa era
certa, tratava-se de um lar do sul e seu pai estava sem dúvida bem imerso na
política confederada. Cuspiu, enojado. Se não existisse mais nada, faria
uma última exigência - que ela e o menino fossem levados para lá. Sabia o
que o destino lhe reservava. Não podia se defender das acusações
levantadas contra ele. Afinal de contas, eram verdadeiras. E sua punição
seria a morte.
Cabeça curvada em resignação, Jack estava cheio de remorsos.
Ocorreu-lhe que nunca disse a Emma com palavras que a amava. Que idiota
foi...
PLANTAÇÃO BELLEFOUNTAINE
LOUISIANA, MARÇO DE 1863
ABRIL 1863
No final daquela tarde, após uma soneca agitada, Emma caminhou até
a cozinha. Seu estômago exigia comida e o bebê dentro de sua carne
ansiava. Poderia ter mandado Tilly, mas ir sozinha lhe faria bem enquanto
pensava novamente na proposta de François. Era um bom partido - rico,
bom lar e não lutava na guerra. Disse que tinha sido ferido, mas que isso
não o havia confinado, e que tinha tanto seus braços quanto suas pernas.
Portanto, a possibilidade de ter outro filho permanecia.
Mas o conhecimento de que não o amava ainda a atormentava. Não
tinha certeza se poderia deixá-lo dormir com ela sem sentir que estava
traindo Jack. É por isso que não conseguia dormir. Esperava que a resposta
à sua fome pudesse clarear sua mente.
Ao se aproximar da cozinha, viu as mulheres escravas se
movimentando às pressas. Alguma coisa estava errada. Quando estava à
porta, vários potes de água haviam sido colocados para ferver, juntamente
com muitos lençóis de linho recolhidos.
— Oh, aí está, — disse Marie, entrando na cozinha. Ao contrário de
seu guarda-roupa habitual, usava um vestido e avental de trabalho simples.
— Venha e veja o que vai passar dentro de seis meses. — Pegando uma
pilha de lençóis, acenou para que Emma a seguisse.
Caminharam entre os barracos de escravos. Os casebres eram feitos de
tábua branca e pareciam mais adições à casa do que habitações de escravos.
As portas estavam abertas para permitir a entrada de brisas e ar fresco. Mas
os gritos enchiam o ar daquele para onde eles caminhavam.
Dentro, prostrada sobre a cama, estava Colette. Usava um simples
chemise, amassado acima de seu estômago protuberante. Suas pernas nuas
estavam dobradas e abertas, expondo sua vagina. Seu cabelo preto estava
emaranhado e molhado de suor, como o resto dela. Duas mulheres mais
velhas sentaram-se de ambos os lados dela, segurando suas mãos enquanto
gritava novamente, ligeiramente levantadas e empurrando.
De repente, Emma ficou sozinha, observando enquanto Marie ia para a
cama, persuadindo a escrava. A cabeça do bebê emergiu quando Colette
gritou mais alto. A mãe de Jack a encorajou a empurrar, e, com o rosto
brilhando, o fez. A criança escorregou para fora e para a cama coberta de
linho.
O quarto irrompeu em movimento enquanto as mulheres pegavam a
criança e cortavam o cordão que se estendia de Colette até o umbigo do
bebê. Limparam a mãe e a criança.
— É uma menina, — Marie declarou orgulhosamente. — Venha,
Emma, veja. Não é uma beleza?
Emma caminhou devagar, temerosa e assustada. A criança pequena
parecia quase da cor do chá com muito creme adicionado. Um colmo de
cabelo em sua cabeça era marrom claro. De repente, gritou e a sala explodiu
em gargalhadas. A criança abriu os olhos e eles pareciam prender os de
Emma. Eram azuis cintilantes.
Capítulo 32
Devemos destruir o exército de Grant antes que chegue ao rio James. Se chegar lá, se
transformará em um cerco, e então será uma mera questão de tempo.
-General Robert E. Lee, CSA, conversa com o Tenente-General Jubal A. Early, Primavera de 1864
PLANTAÇÃO BELLEFOUNTAINE
ST. FRANCISVILLE, LOUISIANA
Jack ouviu seu garotinho rir antes de vê-lo. Depois veio o doce riso de
Emma, que foi como uma benção para sua alma ferida.
Depois de conhecer as filhas gêmeas que nunca soube ter, Jack
precisou de algum tempo para controlar suas emoções. Uma pergunta
permaneceu. Por que não lhe disseram? Por que não tinha sido informado?
Mas uma voz em sua cabeça deixou isso claro. Ele fugiu. Partiu para West
Point e nunca mais voltou. O segredo de Bellefountaine o havia assombrado
durante anos, e agora não havia como negá-lo.
Pierre Fontaine tinha continuado uma prática iniciada gerações antes,
mas sob circunstâncias diferentes. As relações inter-raciais não eram um
conceito novo. Os franceses e espanhóis a praticavam, livre e abertamente,
sem pudor. Alguns até casaram e tiveram filhos. Mas sob as leis
americanas, com a importação de novos escravos da África, as relações
inter-raciais haviam sido proibidas na virada do século. A cópula entre as
raças era permitida apenas para aumentar a população escrava. Acreditava-
se que os filhos de escravos criados por homens brancos eram superiores. E
seriam escravos, pois qualquer criança nascida de uma mulher escrava era
considerada escrava, ponto final.
Tais acoplamentos também eram ideais para iniciar sexualmente os
homens brancos sem desonrar as donzelas virginais da sociedade.
Assim, Pierre simplesmente seguiu a tradição estabelecida. Encorajou,
até mesmo forçou seus filhos a semear sua selvageria sobre as mulheres
escravas em vez de seduzir inocentes ou visitar prostíbulos. Jack tinha sido
ensinado que as mulheres escravas, por natureza, eram degradadas e,
portanto, não havia pecado em semeá-las. Elas queriam isso. Desejavam-no.
O problema era que seu pai o havia emparelhado com Fanny. Era para ser
sua iniciação também, para que ela pudesse servir seu mestre da maneira
que ele quisesse. Não tinha a menor ideia do que isso significava.
Aos quinze, quase dezesseis anos, a luxúria de Jack tomou seu
controle. A menina com quem tinha sonhado estava nua à sua frente. E
embora sua consciência protestasse, seu corpo não se negaria. No início,
Fanny tinha gritado, e ele perdeu a coragem e a ereção, mas seu pai a
submeteu e ela parou de brigar. Obedientemente, colocou a cabeça da
virilidade de Jack em sua fenda e trancou suas pernas ao redor de seus
quadris.
Depois disso, achou que Fanny o odiava. Jenny garantiu que não. Mas
como poderia não o odiar? Deixou-a carregando suas gêmeas e morreu
depois de entregá-las ao inferno de Bellefountaine. Seu remorso não
conhecia limites.
Apenas três coisas impediram Jack de fugir novamente. Havia suas
filhas gêmeas, que precisava impedir de compartilhar o destino de sua mãe.
Havia seu filho, que precisava proteger de seu pai. E lá estava Emma.
Nunca seria dele se partisse. Se casaria com seu irmão e teria que
tolerar a vida na plantação com um marido que continuaria com a tradição
familiar. Jack sentia como se estivesse doente.
Depois de se recompor, foi para a casa, onde ouviu seu filho e Emma.
Respirou fundo em um esforço para se acalmar. Como poderia ele
convencer a mulher a quem confiara os cuidados de seu filho de que a
amava mais do que a vida? Seu passado tinha sido manchado de ódio, medo
e desconfiança, e ela, sem dúvida, também achava que estava morto.
Depois das árvores, na clareira rodeada de arbustos floridos e
magnólias, Emma sentava-se em um grande cobertor. Sua boca ficou seca.
Estava linda. Seus cabelos castanhos brilhavam sob a luz do sol. A seda
amarela se agrupava em torno dela, brilhando como uma auréola. Ganhara
algum peso e já não parecia mais abatida e cansada. Ao contrário, brilhava,
como um anjo. Seu anjo. Aquele pelo qual lutaria. Aquele pelo qual
morreria.
Seu riso encheu o ar enquanto Nathan caía de joelhos depois de dar um
passo. O querubim chilreou e riu enquanto tentava novamente, esticando-se
para um brinquedo que ela segurava fora de seu alcance, encorajando-o.
Eram dele. Só de vê-los, ouvi-los, o fez sentir-se inteiro.
Nathan desistiu do brinquedo, mas se jogou contra Emma e ela caiu
graciosamente para trás, fazendo cócegas nele. Quando Jack se aproximou,
um galho se partiu debaixo de sua bota. Nathan olhou para cima e gritou,
rastejando sobre Emma em direção a seu pai.
Ela se virou, um sorriso ainda em seu rosto até vê-lo. Sua expressão
congelou.
O tempo parou. O único barulho veio de Nathan, que grunhiu enquanto
ele se aproximava.
— Emma.
— Jack? — Ela piscou rapidamente e ele viu seu rosto perder a cor.
Correu adiante, pegando seu filho e ficou ao lado de Emma, temendo
que desmaiasse. Suas pernas quase se afivelaram sob o peso de Nathan e ao
ver o olhar de Emma arregalado. Beijando a bochecha de Nathan, colocou a
criança no chão.
— Emma.
Desatenta e enredada em suas roupas, esforçava-se para ficar de pé.
— Não! — Com uma mão segurando suas saias e a outra sobre sua
boca, virou-se para correr, mas ele a agarrou, seu braço ao redor de sua
cintura. — Não! — arfou novamente quando começou a entrar em pânico.
— Shush, shush, — sussurrou ao seu ouvido, esperando que soasse
mais calmo do que sentia. — Está tudo bem. Shhhh.
— Nada está bem. — Virou-se em seus braços. Apesar de tudo,
embalou seu rosto. — Eles o mataram.
Ele não disse nada.
— Sua traição deixou meu pai tão perturbado, tão zangado, tão
confuso, — sussurrou.
Assistiu, temendo a acusação em seus olhos. — Não, Emma...
— Você e esta guerra, esta guerra horrível, mataram meu pai!
— Emma, ele não estava bem há muito tempo. Disse-me que foi
atingido, um ferimento na cabeça. Entre isso e perder sua casa e a maior
parte de sua família, mais todas as viagens e dificuldades, acho que foi
demais para ele. Seu coração simplesmente desistiu.
Seus olhos arregalaram, fazendo-a parecer um animal aprisionado.
Com medo que se machucasse ou, mais provavelmente, fugisse, segurou-
lhe a nuca, uma tentativa estúpida de impedi-la de fugir. — Ele estava certo
sobre algumas coisas, suponho. Sou um traidor. Um desertor. E eu matei.
Também espionei. — Olhou fundo em seus olhos castanhos, esperando. —
Mas a verdade é esta. Voltei por você. Emma. Por você.
Ela começou a balançar a cabeça. — Não, não... — Afastou-se dele e
deu um passo atrás, quase tropeçou. Reunindo suas saias, gritou — não —
novamente e correu para a casa.
Ele ficou em pé, observando-a, e olhou de volta para Nathan. A criança
sentou-se sobre o cobertor, não mais interessada nos adultos, mas brincando
com um conjunto de blocos de madeira.
Enquanto Jack engolia, tentando reunir seus pensamentos, olhou de
volta para Emma. Continuava indo em direção à casa quando de repente
parou. Observou horrorizado enquanto agarrava seu ventre. O medo o
agarrou e correu em direção a ela enquanto caía no chão.
— Emma! — Pegou-a em seus braços.
Barrett, o escravo da casa, abriu a porta para eles e rapidamente se
afastou enquanto Jack passava por ele e subia a escadaria.
— Tilly! — Gritou. Pelo amor de Deus, não fazia ideia de onde ficava
o quarto de Emma.
A escrava espreitou por uma porta na metade do corredor. Avançou
rapidamente, seguindo-a até o quarto. Abaixou Emma e Tilly alcançou
debaixo de suas saias para desfazer sua crinolina, deixando-a cair no chão.
Jack levantou Emma novamente para baixá-la suavemente na cama. Sua
respiração era superficial, seu rosto ainda pálido.
— Chame um médico, — pediu a Tilly. — E traga Nathan. —
Começou a desabotoar seu corpete. Rapidamente, soltou seu espartilho. —
Vamos, Emma, respire. Respire!
Livre das amarras do espartilho, inalou profundamente. A cor voltou a
entrar em suas faces e ele suspirou. Alcançou seus gloriosos cabelos de
zibelina, liberando os fios de seus grampos. Ela abriu lentamente os olhos.
— Querida, como se sente? — Temia que quase a tivesse perdido.
Talvez a tivesse perdido.
Ela engoliu. — Jack, não entendo. Eles me disseram que estava morto!
— Calma, querida. Estava apenas ferido. Estou bem.
— Mas, mas, insistiram, — entrou em pânico, descrença e raiva
lutando dentro dela. — O general alegou ter testemunhado a sua morte. Eu
estava tão perturbada por causa do papai, que deveria ter verificado por
mim mesma.
— Shush, — ele acalmou. — Está tudo bem. Estou aqui e muito vivo.
Tilly está chamando o médico. Descanse. — Com os dedos enfiados em
seus cabelos, inclinou-se mais para perto, seus lábios encontrando os dela.
E não protestou. Passou a língua pela costura dos seus lábios, saboreando
limonada e lágrimas. Ela abriu sua boca e ele a invadiu, provando,
acariciando sua língua, inalando seu hálito. Ela devolveu seu fervor, no
início, timidamente, depois com mais paixão.
Soltou-se, mordiscando sua mandíbula, seu pescoço, até seu peito.
Tinha gosto de maná para um homem faminto. — Jack, — suspirou.
O som de seu nome em seus lábios inflamou ainda mais sua paixão.
Sua mão foi para seu corpete. Sentiu-a mais cheia, mais firme do que antes
ou era sua memória defeituosa? Ela arfou alto.
— Jack, por favor, — suplicou.
— Irmão, que diabos está fazendo com minha noiva? — Uma voz
masculina atraente ameaçou.
Jack a soltou, afastando-se lentamente para ficar de pé. Seus olhos
castanhos profundos brilhavam de desejo, mas tinha que enfrentar outro
desafio. Seu irmão e seu passado.
Talvez fosse mais difícil conquistá-la do que simplesmente admitir que
a amava. Ela podia ser bastante teimosa. Se está disposto a lutar por ela,
faça-a verdadeiramente sua... As palavras de Charles voltaram para ele.
Jack não ouviu sua mãe chegar até que chamou por eles, — François,
Jacques, saiam do caminho.
O médico passou por eles e foi direto para Emma. Jack franziu o
cenho. Sabia que Emma estava chateada, mas por que precisava de um
médico?
— Os dois venham aqui, — a mãe ordenou.
Conhecia esse tom. Ouvia-o desde a infância - a voz da autoridade.
Embora fosse um adulto, isso ainda causava um arrepio, fazendo-o sentir
como se tivesse sido pego roubando um biscoito. Apostava que François
sentia o mesmo.
Formidavelmente, deixaram Emma e foram até ela.
— Jacques, não sabia que tinha voltado, — disse friamente.
— Acabei de voltar, mamãe. Eu...
— Tsk, — ela acenou para que se calasse. Ao seu irmão disse: — Meu
caro François, nós dois daremos um passeio e os deixaremos ter algum
tempo a sós.
— Não, mamãe, não posso deixar a minha... — François protestou.
— Sim, irá, — sua mãe respondeu com firmeza. Dando voltas no braço
de François, dirigiu-o para a porta e olhou por cima do ombro para Jack. —
Falaremos mais tarde. Por enquanto, resolva seus problemas com Emma.
Ela tem um casamento. — Tendo emitido suas ordens, ela e seu irmão
saíram da sala, François ainda argumentando futilmente contra isso.
Jack sabia que tinha pouco tempo para convencer Emma a não se casar
com seu irmão. Com uma breve súplica a Deus e se acirrando, virou-se para
onde estava sentada na cama. O médico estava discutindo algo com ela,
mas não conseguia ouvi-los. Ela estava doente? O medo o agarrou. Em
seguida, caminhou até eles, esperando que ela estivesse bem e formando
seu argumento para persuadi-la a ser dele para sempre.
~ Fim ~
Agradecimentos
Gostaria de agradecer à minha equipe de apoio por ajudar a preparar o
Jack & Emma para a publicação. Gostaria de agradecer ao grupo de críticos
Rom-Critters, especialmente Ella Quinn, Kary Rader, Tmonique Stephens e
Carrie Ann Ryan. Sem sua leitura e crítica desde o começo, este enredo
nunca teria acontecido. Gostaria de agradecer a Marc Kollbaum, amigo
íntimo e curador do Jefferson Barracks Historic Site em St. Louis por uma
tonelada de ajuda, demasiadamente numerosa para tentar listar! Aos meus
colegas de trabalho no quartel Jefferson Barracks que ajudaram, ou melhor,
querendo ou não - Jack Grothe - Billy Yank de todos os tempos! Gostaria
também de agradecer a George & Mary Rettig que me ajudaram com a
geografia da Louisiana e as histórias familiares/sociais da família Fontaine.
À JJ Jennings e Mark O'Leary por seu apoio. À minha editora, Bernadette
LaManna, que ajudou a corrigir minha gramática, minhas
descrições/sentenças/parágrafos e minha repetitividade que pode acontecer
em uma saga tão avassaladora.
A Chave do Sul:
UM ROMANCE AMERICANO SOBRE A GUERRA CIVIL
Quer receber marcador do livro gratuitamente? Envie o print da compra para o E-mail
Leabhar Books®