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© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.
Conteúdo
1
Transtornos Alimentares Pediátricos e considerações sobre
encaminhamento para equipe especializada
2
Avaliação comportamental em casos de
Transtornos Alimentares Pediátricos
3
O papel da nutrição na seletividade alimentar
4
Disfunção de Integração Sensorial e seletividade
alimentar no Transtorno do Espectro do Autismo
5
Incorporando procedimentos e estratégias da terapia ABA
em intervenções sensório-motoras orais nos
Transtornos Alimentares Pediátricos
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Apresentação
Sejam bem-vindos!
Sou Cintia Perez Duarte, psicóloga, analista do comportamento e idealizadora
de uma série de projetos voltados ao autismo e a outros transtornos do desenvol-
vimento. Um desses projetos é o Ciclo de Palestras da Nexo Intervenção Compor-
tamental (Nexo IC), que tem como objetivo divulgar informações sobre temas vari-
ados relacionados às pessoas com autismo. Pensando em uma maneira de perpe-
tuar o conhecimento discutido nesses eventos e, assim, disseminá-lo para a comu-
nidade de profissionais e familiares, concretizamos a ideia dos e-Books com o con-
teúdo das palestras.
Uma das missões da NEXO IC é promover a disseminação de conhecimento téc-
nico e a divulgação da Análise do Comportamento Aplicada por meio de palestras,
cursos, pesquisas e produções acadêmicas que resultem no aumento de oportuni-
dades para acesso a tais conteúdos no Brasil. Este primeiro volume intitulado Trans-
tornos Alimentares Pediátricos nos TEA traz informações extremamente relevan-
tes sobre o assunto, sob a ótica de profissionais das áreas da psicologia, e também
da nutrição, fonoaudiologia e terapia ocupacional.
Tendo em vista os números alarmantes dos Transtornos Alimentares em pes-
soas com autismo e outras deficiências e o escasso grupo de profissionais real-
mente capacitados para intervir junto a essa demanda, o conteúdo aqui disponibili-
zado é essencial.
Espero que, ao ler este livro, você amplie seus conhecimentos sobre o assunto
e que isso impacte diretamente a sua atuação profissional, melhorando, assim, a
qualidade de vida dos seus clientes e familiares.
Boa leitura!
Psicóloga – BCBA
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Transtornos Alimentares Pediátricos e
considerações sobre encaminhamento
para equipe especializada
Citação: Duarte CP, Barreto TF. Transtornos alimentares pediátricos e considerações sobre encaminhamento para
equipe especializada. In: Nexo Intervenção Comportamental. Transtornos Alimentares Pediátricos nos TEA [livro
eletrônico]. São Paulo: Memnon, 2022. Disponível em: www.memnon.com.br para acesso livre.
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peso ocorrem dentro das curvas esperadas (13). Apesar de essas crianças seletivas
ingerirem um número reduzido de alimentos quando pensamos na variedade, podem
consumir dietas hipercalóricas, resultando em quadros de obesidade. A intervenção
precoce é fundamental para que os prejuízos da seletividade alimentar não atinjam
graus de severidade mais intensos.
A alta prevalência de condições médicas associadas aos Transtornos Alimenta-
res em crianças, em especial aquelas que afetam todo o trato gastrointestinal, dá
indícios importantes sobre possíveis etiologias desses quadros, somando-se a his-
tória de aprendizado individual que pode resultar no agravamento do problema. A
criança que frequentemente tem experiências de desconforto físico, como dores,
fadiga e náusea, aos poucos estabelece uma relação negativa com o momento de
alimentação, pois faz associações com consequências aversivas.
Aquelas que apresentam problemas crônicos são expostas a exames nos quais
há manipulação da face e da boca, uso de instrumentos que geram desconforto
(como uma laringoscopia, por exemplo), e podem fazer associações da apresenta-
ção de utensílios com dor e desconforto, recusando posteriormente colheres, co-
pos e outros itens de uso comum próximos ao rosto por considerá-los invasivos.
Todos esses fatores em conjunto podem gerar um ciclo de recusa e de impacto di-
reto nas habilidades que precisam ser desenvolvidas para uma alimentação eficaz.
Quando a criança recusa a alimentação, é exposta a um número menor de oportu-
nidades de treino de mastigação, lateralização de língua, estimulação da muscula-
tura de modo geral, entre outras habilidades, o que novamente torna o momento
mais penoso e reforça a recusa ciclicamente (14).
CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA
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Para além de tais sistemas classificatórios, diversos termos são utilizados para
se referirem a problemas relacionados à alimentação, que diferem dos mais conhe-
cidos como a Anorexia e Bulimia, por exemplo, sem necessariamente fazer referên-
cia a tais manuais. A nomenclatura dificuldade alimentar tem sido utilizada com um
termo abrangente que indica alterações no processo de alimentação, e é comum o
uso de outros termos como comer seletivo, evitação alimentar, neofobia alimentar,
recusa alimentar, problema alimentar e distúrbio alimentar, por exemplo.
Em 2015, um grupo de pesquisadores discutiu sobre a necessidade de atenção
e encaminhamentos pertinentes por parte dos pediatras quanto às queixas sobre
problemas de alimentação trazidas pelos pais em suas consultas. Apesar de so-
mente uma parcela dessas famílias estar de fato lidando com casos graves, uma
conduta inadequada no manejo do problema, ainda que leve, pode trazer prejuízos
para todas elas. Os pediatras precisam estar cientes de que as dificuldades de ali-
mentação frequentemente surgem nas primeiras transições, como na passagem do
aleitamento no peito para a mamadeira, da mamadeira para o copo, e quando são
introduzidos os alimentos complementares além do leite, por exemplo, e as orien-
tações durante esses períodos decisivos podem ser particularmente úteis. Os auto-
res acreditam que o profissional responsável pela atenção à saúde primária deve
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profissional deveria atuar isoladamente para que possíveis lacunas sejam supridas.
Desse modo, o termo Transtorno Alimentar Pediátrico é proposto, ressaltando a
sua importância para os avanços na prática clínica, na pesquisa e nas políticas públi-
cas voltadas à saúde. Pode ser classificado como agudo quando a duração é menor
do que três meses, ou crônico quando a duração é maior do que três meses. Para
distingui-lo de outros transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia, deve ser
diagnosticado apenas na ausência de distúrbios de imagem corporal (9).
A. Um distúrbio na ingestão oral de nutrientes, impróprio para a idade, com duração de pelo me-
nos duas semanas e associado a um ou mais dos seguintes:
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Vale ressaltar que, além dos profissionais, é primordial que os familiares sejam
vistos como agentes ativos na intervenção e sejam incluídos na equipe de trabalho
como colaboradores para a modificação de comportamento, pois assim será maior
a probabilidade de generalização e manutenção das habilidades adquiridas. O tra-
tamento voltado à alimentação deve ser avaliado em termos de eficácia não apenas
em relação ao seu sucesso em condições clínicas, mas também em outros contex-
tos, frente a pessoas e ambientes variados (16).
No que tange à atuação do analista do comportamento especificamente, o Có-
digo de Ética publicado pelo Behavior Analyst Cetification Board norteia as condutas
nesse sentido e discorre, na primeira sessão, sobre responsabilidades profissionais,
destacando que a prática de atuação deve ocorrer dentro de seu escopo de compe-
tência. Analistas que se envolverem em atividades profissionais em novas áreas so-
mente o farão frente ao compromisso com o estudo, o treinamento e a prática su-
pervisionada por outros profissionais mais experientes no mesmo campo de atua-
ção. Além disso, também devem se manter sempre atualizados para a manutenção
de tal competência profissional (2).
Cooper et al. (5) citam uma adaptação dos direitos a um tratamento compor-
tamental efetivo, originalmente publicada pela Association for Behavior Analysis In-
ternational, que considera que o indivíduo tem o direito a um ambiente terapêutico,
a serviços cujo objetivo principal é o seu bem estar pessoal, a um tratamento com
um analista do comportamento competente, a programas que ensinam habilidades
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Etapa 8. Avaliação de linha de base estruturada: Uma vez que os objetivos te-
nham sido definidos, é possível conduzir uma linha de base estruturada e elencar
medidas para mensuração e para o acompanhamento durante a intervenção (citam
exemplo da pesagem do volume no prato para detecção do montante consumido,
considerando-se no cálculo, inclusive, qualquer volume que tenha sido desperdi-
çado). As medições podem ser feitas por equipamentos como uma balança, mas se
não for possível, o número de porções aceitas e consumidas durante a refeição é
uma alternativa (por exemplo, colheradas). Dão exemplos de outras medidas, como
a aceitação (quando o alimento passa da linha dos lábios após até 8 segundos do
volume ter sido apresentado), boca limpa que é considerada quando não resta vo-
lume do alimento aproximadamente após 30 segundos da aceitação e não há vo-
lume residual maior do que o tamanho de uma ervilha e ausência de expulsão do
alimento. O registro das medidas de aceitação, boca limpa e frequência de engaja-
mento em comportamento-problema durante a refeição bem como o tempo que
leva para iniciar a recusa são úteis para controle de progresso.
Etapa 9. Tratamento e coleta de dados sobre o comportamento da criança: As
autoras sugerem que as intervenções sejam planejadas com base na Análise do
Comportamento Aplicada por ser a ciência que apresenta suporte empírico mais ro-
busto para lidar com os transtornos alimentares pediátricos, de acordo com estu-
dos recentes. Descrevem as funções de fuga ou esquiva como as principais obser-
vadas como responsáveis pelo engajamento em comportamentos inapropriados
durante as refeições. Atentam para o uso de procedimentos como extinção de fuga
nesses casos e suas implicações, já que, apesar de serem efetivos, envolvem picos
comportamentais com respostas emocionais ou podem inadvertidamente piorar o
problema se os procedimentos não foram conduzidos adequadamente, pois envol-
vem conhecimento e experiência do profissional para a sua condução. Por isso, não
recomendam a sua implementação caso não haja ambiente seguro e profissional
habilitado para tal e sugerem que sejam utilizados procedimentos que sejam ampla-
mente discutidos na literatura e com base em estratégias antecedentes e reforço
positivo.
Ressaltam que é imprescindível que tanto o ambiente como as refeições sejam
planejados, estruturadas, e cada passo deve ser mensurado e definido anterior-
mente. No caso do ambiente, é importante oferecer as refeições sempre no mesmo
horário, usar o mesmo tipo de utensilio, assentos confortáveis e apropriados para a
alimentação e, quando for possível, o alimentador deve ser o mesmo, além de usar
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Avaliação comportamental em casos de
Transtornos Alimentares Pediátricos
Citação: Duarte CP, Lucas RALA, Barreto TF. Avaliação comportamental em casos de transtornos alimentares pedi-
átricos. In: Nexo Intervenção Comportamental. Transtornos Alimentares Pediátricos nos TEA [livro eletrônico]. São
Paulo: Memnon, 2022. Disponível em: www.memnon.com.br para acesso livre.
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Anamnese
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Um exemplo para essa classificação seria considerar itens semelhantes por cor
como sendo de média ou alta probabilidade de consumo, ou seja, se a criança come
batata talvez seja mais fácil introduzir mandioca por ser semelhante pela cor, em
vez de tomate, que é vermelho. Itens que a criança já consumiu no passado, mas
hoje não consome mais, podem ser mais fáceis de serem inseridos do que algo to-
talmente novo. Apesar de essa classificação auxiliar na tomada de decisões, não se
traduz em uma relação exata, pois varia de uma criança para outra.
A entrevista também pode ser utilizada como fonte de informações para uma
avaliação funcional indireta. As perguntas são dirigidas para obter dados acerca de
quais são os comportamentos que ocorrem durante as refeições, a razão por que
eles acreditam que tais comportamentos ocorrem, em quais lugares e com quais
pessoas são observados, quais as ações realizadas por eles diante da emissão de um
comportamento de recusa pela criança e o que eles fazem para tentar prevenir a
sua ocorrência.
Além disso, é importante destacar a relevância de outros fatores que podem
impactar as questões alimentares observadas. Uma criança que passa por proble-
mas de sono, está gripada ou vivencia problemas estressores como divórcio dos
pais ou bullying, por exemplo, pode apresentar um aumento de comportamentos-
problema em relação à sua alimentação. Essa influência deve ser investigada tanto
durante a avaliação quanto no contexto de intervenção (29).
Ao realizar uma entrevista com parentes ou pessoas próximas, além de identi-
ficar comportamentos-alvo e possíveis variáveis de controle, o analista deve realizar
perguntas para verificar quais pessoas que convivem com a criança em sua rotina
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Tabela 1. Exemplos de inventários e escalas voltadas para a coleta de dados sobre o comporta-
mento alimentar.
Número de
Ano Nome Objetivo
questões
1991 CEBI-R 40 questões Avaliar as preferências alimentares, habilidades
(The Children´s Eating motoras e comportamento de colaboração da
Behavior Inventory – criança e, também investigar interações entre os
Revised) (1) membros da família.
1997 IFS 46 questões A partir da análise de uma sessão gravada de 20
(Infant Feeding Scale) minutos, a escala provê uma avaliação global so-
(4) bre as interações entre mãe e filho entre 3 meses
e 36 meses de vida.
2001 BPFAS 35 questões Obter informações sobre os comportamentos
(Behavioral Pediatric alimentares de crianças entre 9 meses e 8 anos
Feeding Assessment de idade, e sobre quais estratégias são utilizadas
Scale) (8) diante dos problemas de comportamento ali-
mentar da criança.
2001 STEP 23 questões Auxiliar profissionais da área da saúde mental a
(Screening Tool of identificar e avaliar precocemente problemas ali-
Feeding Problems) mentares em indivíduos com déficits cognitivos
(21) para o desenvolvimento de um tratamento.
2001 CEBQ 35 questões Avaliar oito dimensões na maneira de se alimen-
(Child Eating Behavior tar de crianças. As dimensões incluem responsi-
Questionnaire) (31) vidade ao alimento, prazer ao comer, responsivi-
dade de saciedade, comer lentamente, agitação,
comer exageradamente ligado a fatores emoci-
onais e desejo por bebidas.
2005 ORI-CEBI 89 questões O instrumento foi criado a partir de questões se-
(Oregon Research In- lecionadas de instrumentos já desenvolvidos
stitute – Child Eating para a mensuração de comportamentos alimen-
Behavior Inventory) tares problemáticos em crianças de até 36 me-
(18) ses. Quatro dimensões de análise são avaliadas:
seletividade e recusa no consumo de alimentos,
Comportamentos positivos e negativos dos ali-
mentadores e luta pelo controle da alimentação
na relação entre a criança e o responsável.
2007 BAMBI 18 questões Avaliar a natureza de problemas de comporta-
(Brief Autism mento durante a hora da refeição com questões
Mealtime Behavior In- específicas voltadas para crianças com autismo.
ventory) (20)
2011 STEP-CHILD 15 questões e Desenvolvido a partir dos inventários STEP e
(Screening Tool of 6 subescalas CEBQ, foi adaptado para avaliar problemas ali-
Feeding Problems in mentares especificamente em crianças com dé-
Children) (28) ficits cognitivos. As seis subescalas criadas con-
sistem em avaliar problemas na mastigação, co-
mer rápido, recusa alimentar, seletividade ali-
mentar, vômitos e roubar comida.
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Tabela 1. Exemplos de inventários e escalas voltadas para a coleta de dados sobre o comporta-
mento alimentar.
Número de
Ano Nome Objetivo
questões
2009 PMAS (The Parent 31 questões Desenvolvido para identificar os comportamentos
Mealtime Action exibidos durante a refeição pela criança (com 2 a 12
Scale) (12) anos) e pelos responsáveis. Além disso, possibilita a
coleta de dados sobre a frequência com que os res-
ponsáveis comem e servem certas comidas.
2013 SWEAA (Swedish Ea- 60 questões Um questionário estruturado de autorrelato
ting Assessment) (14) e multidimensional com o objetivo de avaliar o
8 subescalas comportamento alimentar no TEA. Suas subes-
calas compreendem avaliar percepção, controle
motor, compra de alimento, comportamento ali-
mentar, ambiente das refeições, situação social
durante refeições, outros comportamentos as-
sociados a distúrbios alimentares e fome/sacie-
dade. Como desvantagens, há a idade mínima de
15 anos, e o fato de ser um questionário de au-
torrelato faz que apenas autistas com compro-
metimento leve sejam aptos a responder.
2014 PediEAT (The Pediat- 87 questões É um instrumento preenchido pelos pais para
ric Eating Asessment mensurar a presença ou a ausência e a frequên-
Tool) (30) cia de comportamentos positivos (gosta da co-
mida, demonstra fome antes das refeições e
tenta se autoalimentar) e comportamentos nega-
tivos (come rapidamente e se engasga com comi-
das) relativos à alimentação. Avalia crianças a par-
tir de 6 meses que já iniciaram a introdução ali-
mentar de sólidos. As respostas são definidas em
seis possibilidades: nunca, quase nunca, às vezes,
frequentemente, quase sempre e sempre.
2019 Escala Labirinto de 26 questões Assim como o BAMBI, foi desenvolvido para ava-
Avaliação do Com- liar o comportamento alimentar em indivíduos
portamento Alimen- com TEA. Analisa a motricidade na mastigação,
tar no TEA (17) seletividade alimentar, habilidade nas refeições,
comportamento inadequado durante refeições,
alergias e intolerância alimentar, comportamen-
tos rígidos e comportamentos opositores na ali-
mentação. É usada para planejamento e para
mensurar a evolução do tratamento.
Diário alimentar
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não tiver condição de fazê-lo por si só. Este diário deverá conter informações sobre
quais alimentos foram consumidos, suas respectivas quantidades e em quais mo-
mentos do dia essas refeições foram realizadas (26). Em nossa prática clínica, ob-
servamos, muitas vezes, que os cuidadores não possuem clareza exata do que tem
sido ofertado às crianças, bem como seu padrão de aceitação e recusa. Isso ocorre
diversas vezes com o consumo de líquidos, por exemplo, quando a descrição inicial
na anamnese é uma e, ao coletar os dados, deparam-se com dados muito discrepan-
tes daqueles que julgavam serem verdadeiros.
É recomendável que o registro de alimentação seja realizado por um período
mínimo de três dias para se obter uma variedade maior de informação ao longo dos
dias e, assim, obter uma análise mais fidedigna do consumo regular do indivíduo.
Pode ser benéfica a inclusão de informações sobre possíveis comportamentos de-
safiadores que possam ter surgido durante uma refeição (29). Os presentes auto-
res, em sua prática clínica, solicitam que o preenchimento seja realizado por 15 dias
corridos, o que contempla os fins de semana e possíveis variações de saúde ou ro-
tina que a criança possa ter.
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aceitação e recusa por parte da criança (tal avaliação foi desenvolvida pelos autores
em conjunto com a equipe do setor de alimentação, em sua prática clínica. Há pa-
dronização quanto aos alimentos a serem ofertados, tipos de instrução, número de
tentativas, tamanho dos itens, modo de preparo e registros). O objetivo, neste mo-
mento, é planejar uma testagem direta na qual existe a manipulação na apresenta-
ção de alimentos pré-selecionados, a fim de investigar algumas características es-
pecificas da recusa alimentar. Para isso, o terapeuta precisa programar as sessões
antecipadamente, organizar os alimentos, o ambiente, quais utensílios serão utili-
zados, dentre outras variáveis que julgue serem relevantes.
Na testagem direta é importante oferecer diferentes tipos de alimentos em
diferentes grupos como proteínas, carboidratos, legumes, verduras e frutas. Outra
forma possível é ofertar um mesmo alimento em diferentes texturas, tais como ali-
mentos pastosos, líquidos, crocantes e sólidos. Outras variáveis possíveis de avalia-
ção nesse formato são a temperatura dos alimentos (quente, frio, gelado e morno),
tipos de apresentação em receitas variadas com o mesmo item, volume dos alimen-
tos e cores, por exemplo, e até mesmo uma avaliação por marcas dos produtos,
caso os responsáveis tenham trazido essa demanda na avaliação comportamental
indireta (29).
Testes Padronizados
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Figura 1. Exemplo da condição atenção durante Análise Funcional Experimental, na qual a atenção é
liberada contingente a qualquer resposta de recusa da criança.
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Figura 2. Exemplo da condição fuga durante Análise Funcional Experimental, na qual o alimento é
imediatamente retirado contingente a qualquer resposta de recusa da criança.
Figura 3. Exemplo da condição tangível durante Análise Funcional Experimental, na qual um item
tangível é entregue contingente a qualquer resposta de recusa da criança.
Um estudo de 2003 (25) mostra que a Análise Funcional Experimental foi eficaz
para identificar mantenedores do comportamento-problema durante as refeições
para indivíduos com seletividade alimentar. Observações diretas de refeições con-
duzidas por cuidadores foram realizadas para seis díades pai-filho. Foram pontua-
das as respostas da criança e as respostas dos pais (por exemplo, a aceitação ou
recusa por parte da criança, e a remoção da demanda, acesso a tangíveis ou atenção
por parte dos pais). Após as observações diretas, foram avaliadas quais foram as
respostas mais frequentes emitidas pelos pais após a emissão de comportamentos
de recusa de seus filhos. Os resultados apontam que todos os pais removiam as de-
mandas, forneciam atenção ou liberavam acesso a materiais tangíveis diante do
comportamento de recusa dos filhos. Na análise descritiva foi identificado que fuga
e atenção eram os comportamentos mais comuns emitidos pelos pais. Foi condu-
zida Análise Funcional Experimental comparando as condições de teste (fuga de de-
manda, acesso a tangíveis e atenção) com a condição-controle, usando métodos
similares aos de Iwata et al. (13). O procedimento se mostrou eficaz na identificação
das funções de comportamento de recusa, sendo a fuga e a atenção os reforçado-
res mais frequentes. É importante salientar que, para três das seis díades pai-filho,
os resultados das análises descritivas e análises funcionais experimentais foram cor-
respondentes. Portanto, nos dois métodos de análise, as mesmas funções compor-
tamentais foram identificadas.
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deve se basear nos dados já publicados e indicados como eficientes pela ciência,
juntamente com a sua experiência e raciocínio clínico para determinar quais méto-
dos, técnicas e instrumentos utilizará durante a avaliação, e considerar os aspectos
facilitadores e as barreiras de cada procedimento de avaliação. A Tabela 3 lista al-
guns possíveis benefícios e pontos de atenção ao se utilizarem essas ferramentas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Tabela 3. Possíveis benefícios e pontos de atenção dos métodos de avaliação comportamental di-
reta e indireta.
o aplicador.
Inventários, Escalas e tato com a pessoa avaliada.
- Tempo de aplicação reduzido.
Checklists - Algumas classificações da Escala Li-
- Requer treinamento básico
kert não quantifica a frequência
de aplicadores.
exata e pode induzir a avaliações
- Múltiplas opções de inven- subjetivas (por exemplo, raramente
tários disponíveis na litera- faz, às vezes faz).
tura científica.
- Observações diretas do
comportamento no contexto - Eventual custo de equipamentos e
natural (domicílio, escola, materiais quando aplicável e profis-
parque) fazem que avaliado- sionais especializados e treinados
res consigam ter uma análise para realizar as observações.
mais abrangente de todas as - Tempo dedicado à coleta do dado, de-
possíveis variáveis ambien- vido às observações serem repetidas
Análise Descritiva
tais e as contingências que diversas vezes, quando necessário.
controlam o comporta- - Possível imprecisão na conclusão
mento-alvo. sobre a função do comportamento,
- Alto índice de correspon- tendo em vista que não há manipu-
dência em relação à análise lação experimental de variáveis.
funcional experimental, para
os casos de alimentação.
- Menor complexidade para - Só há registro e dados dos com-
implementação, devido à sis- portamentos que ocorrem durante
AVALIAÇÃO DIRETA
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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Avaliação antropométrica
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Figura 1. Curva de crescimento de estatura por idade, para meninas, do nascimento aos 5
anos de idade (OMS, 2006).
Figura 2. Curva de crescimento de IMC por idade, para meninos, dos 5 aos 19 anos de
idade (OMS, 2007).
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uma vez que há alto consumo de alimentos industrializados, com muito açúcar e
gordura e baixo valor nutritivo, ou seja, os alimentos que são fonte de vitaminas,
minerais, fibras alimentares e, consequentemente, menos calóricos e mais saudá-
veis são excluídos de sua rotina alimentar (5, 18).
Avaliação clínica
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serem conflitantes. Trata-se de uma resposta imunológica que ocorre após o con-
tato ou a ingestão de alimentos alergênicos.
Atualmente são reconhecidos mais de 170 alimentos possivelmente alergêni-
cos. Entretanto, apenas uma pequena parcela deles são responsáveis pelas reações
clínicas. De maneira geral, os alimentos que possuem maior teor alergênico, desta-
cados por Solé et al. (26), são: leite de vaca, ovo, trigo e soja. Porém, também são
considerados alergênicos outros alimentos, consumidos em nosso dia a dia, como,
por exemplo, peixes, crustáceos, oleaginosas, amendoim e algumas frutas como
banana, kiwi e morango.
As manifestações clínicas apresentadas por pessoas com alergias alimentares
dependem dos mecanismos imunológicos envolvidos. As reações clínicas mediadas
pela imunoglobulina E (IgE) aparecem minutos após o contato com e/ou a ingestão
do alimento, e podem se expressar por alergia oral, urticária, angioedema, rubor,
rinoconjuntivite alérgica, cólicas muito fortes, tontura, desmaio e até mesmo anafi-
laxia. As não mediadas por IgE e mistas podem demorar horas ou até dias para se
manifestar com dermatite atópica ou de contato, asma, esofagite eosinofílica, den-
tre outras (26).
O tratamento das alergias alimentares deve ser realizado para alívio das mani-
festações clínicas que o paciente apresentar após contato ou ingestão dos alimen-
tos alergênicos. Em alguns casos, em que as manifestações clínicas são graves, é
necessário que o médico realize intervenção medicamentosa (27). Nesses casos, a
única terapia comprovada como tratamento, a fim de evitar a progressão das aler-
gias, é a dieta de restrição desses alimentos (27).
O tratamento nutricional nas alergias alimentares tem como objetivo a ade-
quação da rotina alimentar da criança e de sua família sem os alimentos alergênicos,
adaptando-se receitas e preparações para obter a mesma textura e sabor (27).
A reintrodução alimentar deve ser realizada sob supervisão de profissionais ca-
pacitados, em ambientes controlados (27).
Na maioria das vezes, essas alergias alimentares são transitórias, ou seja, até a
vida adulta há cura. Estima-se que, em apenas 10% dos casos, as alergias alimentares
persistem para sempre (27).
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Avaliação bioquímica
Avaliação dietética
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Poderão ser utilizados outros instrumentos como fonte de coleta de dados di-
etéticos, como, por exemplo, o Recordatório de 24 horas (R24h) e o Questionário
de Frequência Alimentar (QFA) (18). Porém, eles não conseguem abordar todos os
detalhes necessários como acontece com o registro alimentar da dieta habitual.
A mensuração do consumo alimentar é sempre uma estimativa, pois pode ou
não retratar de forma mais específica a ingestão de nutrientes de um indivíduo, por
meio dos registros alimentares. Porém, muitos fatores são determinantes nesse
momento, como, por exemplo, o preenchimento fidedigno dos registros e a varia-
ção dos alimentos in natura, a depender da época do ano, já que a alimentação e o
clima brasileiro são muito diversificados (2).
Após realizar a coleta dos dados antropométricos, clínicos, bioquímicos e die-
téticos, o nutricionista deve realizar o diagnóstico nutricional do cliente, que en-
volve a identificação dos problemas relacionados à alimentação e à nutrição e do
quanto esse problema pode impactar negativamente a saúde, para, assim, determi-
nar seu estado nutricional e realizar suas orientações e prescrições, a fim de ameni-
zar esses problemas, em conjunto com a equipe multidisciplinar, proporcionando
saúde e qualidade de vida para o cliente e sua família (2).
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL
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crianças entre 1 e 3 anos, e 25% a 30% para crianças entre 4 e 18 anos; e 5% a 20% de
proteínas das calorias diárias para crianças entre 1 e 3 anos, e 10% a 30% pata crianças
/ jovens entre 4 e 18 anos.
Em relação as recomendações nutricionais de vitaminas e minerais, deve-se le-
var em consideração as recomendações propostas na DRI (10), de acordo com cada
micronutriente.
As recomendações de ingestão diária de fibras alimentares propostas pela DRI
(10) devem contemplar: de 1 a 3 anos, 19 g de fibras diárias, de 4 a 8 anos 25 g; de 9
a 13 anos, 31 g para meninos e 26 g para meninas; e de 14 a 18 anos, 38 g para meni-
nos e 26 g para meninas.
Quando o planejamento alimentar é elaborado para o público com TEA, muitas
vezes precisamos utilizar recursos visuais para melhor entendimento e previsibili-
dade de suas refeições diárias. Sendo assim, é possível desenvolver um cardápio
visual (Figura 4).
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Figura 6. Número de porções diárias recomendadas por grupos alimentares, separados por
faixas etárias, proposto pela Sociedade Brasileira de Pediatria, Departamento de Nutrolo-
gia (2012).
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com sabor desagradável. Sendo assim, o nutricionista deve avaliar realmente a ne-
cessidade da suplementação e, a fim de facilitar esse momento, caso necessário,
deve priorizar suplementações na versão líquida e sem sabor, de modo que as famí-
lias consigam administrá-las em conjunto com outros líquidos, como sucos e água,
que a criança consuma em seu dia a dia.
Maximino et al. (16) reforçam que, em muitos casos de crianças e adolescentes
com seletividade alimentar, alguns profissionais da saúde prescrevem suplementa-
ções que, muitas vezes, são desnecessárias, com o intuito de tranquilizar as famílias.
Vale destacar que essa prescrição pelo nutricionista nem sempre é necessária.
INTERVENÇÃO INTERDISCIPLINAR
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Para o público com TEA, pode ser necessária a elaboração do livro de receitas
em forma lúdica, no qual, por meio de imagens, consiga realizar o passo a passo e
identificar tudo o que é necessário para aquela atividade.
Durante todo o processo de intervenção alimentar e nutricional, é necessário
que o cardápio prescrito seja frequentemente revisto e atualizado, uma vez que há
inserção de novos alimentos e/ou modificações na apresentação e no preparo dos
alimentos anteriormente aceitos.
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4
Disfunção de Integração Sensorial e
seletividade alimentar no
Transtorno do Espectro do Autismo
Larissa Bertagnoni
Terapeuta Ocupacional Pediátrica,
Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP,
Certificação Internacional em Integração Sensorial de Ayres
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o nosso corpo e o ambiente em que estamos inseridos, bem como direcionar nossas
ações e pensamentos.
De forma resumida, a IS é o que transforma as sensações em percepções, ou
seja, organiza as sensações para o uso funcional do corpo em relação ao ambiente.
Para tanto, algumas premissas básicas são estabelecidas por Ayres®:
• A integração sensorial é um processo inconsciente do cérebro que organiza
as informações detectada pelos sentidos;
• Nesse processo todas as informações são filtradas para que seja selecionado
qual deve ser o foco de atenção, dando significado às experiências;
• A aprendizagem depende da capacidade em receber e processar o sentido
do movimento e do ambiente e usá-la para planejar e organizar o comporta-
mento;
• Pessoas que apresentam diminuição na capacidade em processar os sentidos
podem ter dificuldade em realizar ações apropriadas, interferindo na aprendi-
zagem e no comportamento;
• Melhorar os sentidos como parte de uma atividade significativa resulta numa
interação adaptativa, aumentando a capacidade de processamento sensorial
que, por sua vez, melhora a aprendizagem e o comportamento (3).
As sensações supracitadas são advindas de sete sistemas sensoriais: tátil, pro-
prioceptivo, vestibular, auditivo, visual, olfativo e gustativo. O processo neurológico
da integração sensorial combina as informações de todos eles de forma fluida e coor-
denada para que o corpo responda adequadamente frente às demandas ambientais.
Ainda que todos os sistemas sejam muito importantes, três sistemas sensoriais
são centrais na Teoria de Integração Sensorial de Ayres®: tátil, vestibular e proprio-
ceptivo. Suas interrelações começam a se formar antes do nascimento e continuam
a se desenvolver à medida que a pessoa amadurece e interage com seu ambiente.
Embora esses três sistemas sensoriais sejam menos familiares do que a visão e a
audição, eles são os mais primitivos e os primeiros a amadurecer, sendo importan-
tes para nossa sobrevivência básica, com papel fundamental no comportamento
humano tanto físico quanto mental.
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motor, o qual, ao receber a interpretação, promove uma resposta motora. Para que
a percepção e a resposta ao estímulo sejam adequadas, é necessário que o impulso
esteja no percurso correto (2, 14).
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Pesquisas atuais sugerem que entre 45% e 96% dos indivíduos diagnosticados
com TEA apresentam características sensoriais atípicas (18), evidenciando altera-
ções em mais de uma modalidade sensorial. Apesar de a maior parte das descrições
na literatura fazer referência às disfunções de reatividade sensorial, em especial as
hipersensibilidades, não se podem negligenciar as pesquisas que tratam das altera-
ções na percepção e na discriminação sensorial, assim como as dificuldades na prá-
xis global dessa população.
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Muitas vezes, nas crianças com TEA, essas atitudes estão ligadas a padrões
restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, incluindo, então,
a alimentação (1). No entanto, é necessário ressaltar que parte da recusa, ou mesmo
da SA apresentada pela criança com TEA, pode ser justificada pelas disfunções de
integração sensorial que impactam desde as escolhas dos alimentos até a baixa efi-
ciência em algumas atividades motoras necessárias ao comer.
Alguns estudos propõem que existem vários fatores relacionados ou causado-
res de SA em crianças com TEA, entre eles as DIS que incluem problemas com tex-
turas dos alimentos, aparência, sabor, cheiro e temperatura, além de alterações de
planejamento motor. Além disso, temos que considerar as alterações musculares e
funcionais orais, dificuldades para mastigar, engolir; disfunções fisiológicas, como
alergias, refluxo gastrointestinal e constipação; problemas emocionais como ansie-
dade e depressão; inflexibilidade, rigidez de comportamento ou rituais em torno da
alimentação, como usar os mesmos utensílios ou talheres, ter preferências quanto
à forma de preparação e de apresentação dos alimentos, não gostar que os alimen-
tos se toquem no prato; atitudes familiares que envolvem desde os hábitos e as
preferências alimentares até as posturas de incentivo, paciência, insistência e per-
missividade dos pais; e questões comportamentais que envolvem ganhos secundá-
rios da criança com a recusa alimentar e comportamentos perturbadores, como
atenção da mãe ou comer apenas o que mais gosta (6, 9, 13, 20, 22).
Adentrando o assunto, muitas DIS podem ter impacto direto sobre as dificul-
dades alimentares encontradas na população com TEA. O processo da alimentação
é permeado por uma experiência sensorial complexa que envolve a aparência, os
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Nadon et al. (16) realizaram estudo para estabelecer relação entre o processa-
mento sensorial e os problemas alimentares em 95 crianças com TEA com idades
entre 3 e 10 anos. As crianças com problemas sensoriais definidos apresentaram
mais problemas alimentares como babar, falta de apetite, comportamentos difíceis
nas refeições, preferências alimentares incomuns envolvendo marcas, receitas, cor,
textura e temperatura da comida, além de afetar a aceitação e a exploração dos
alimentos e dos utensílios com as mãos. Alguns estudos e relatos autobiográficos
de indivíduos com TEA sugerem que os comportamentos relacionados à rejeição na
alimentação costumam ser de rejeição pelas suas características sensoriais (11).
Fazendo um resumo das características das dificuldades alimentares citadas
em crianças com TEA, temos como resultados: comportamentos indesejáveis du-
rante as refeições, medo de experimentar novos alimentos, rotinas rígidas durante
a alimentação (uso de mesmos utensílios, por exemplo), exigência quanto à forma
de apresentação da comida, maneira de comer ritualística, gama estreita de alimen-
tos e recusa baseada em características sensoriais (textura, cor, cheiro, tempera-
tura), preferências por marcas ou embalagens e alimentos industrializados, além da
dificuldade em comer na companhia de outras pessoas por dificuldades em sociali-
zação ou falta de motivação social ( 7, 8). Dificuldades motoras orais foram perce-
bidas por Nadon et al. (15) em quase 15% das crianças com TEA que foram avaliadas
em seu estudo, incluindo dificuldades em mastigar, mover a língua, engolir, babar,
vômito, tosse ou engasgo durante as refeições.
Nesse cenário, é importante que as famílias e os profissionais que acompa-
nham crianças com TEA e SA se atentem a determinados comportamentos que são
sugestivos de DIS:
• incômodo com mãos ou rosto sujos;
• recusa / aversão a aceitar um alimento novo com respostas de náusea, sudo-
rese ou taquicardia;
• dificuldade em tocar e sentir determinadas texturas ou temperaturas de ali-
mentos; manutenção do alimento na boca por um tempo maior que o habitual
antes de engolir;
• padrão de textura, cor, formato, cheiro, densidade ou outros nas escolhas
alimentares;
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• resposta diminuída aos estímulos sensoriais com busca incessante por al-
guns estímulos;
• aumento ou aparição de estereotipias ou comportamentos repetitivos du-
rante a refeição;
• problemas na organização e na sequência do movimento intencional, ou
atraso na coordenação motora ampla e fina necessária para a alimentação.
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O uso de eletrônicos deve ser evitado, uma vez que impede a criança do
contato e da percepção dos acontecimentos e das sensações do ato de alimentar-
se. Desde a compreensão do tempo que a atividade dura até o registro das texturas,
sabores, cheiros e aparências podem ser prejudicados quando os sentidos estão
ocupados com outra atividade, música e imagem em uma tela com muitos movi-
mentos e cores, por exemplo.
É de extrema relevância que se estabeleça uma parceria entre criança, pro-
fissionais e família para que o trabalho tenha efetividade.
Valorize sempre os mínimos progressos, pois, somados, levarão às grandes
conquistas.
SÍNTESE
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REFERÊNCIAS
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Incorporando procedimentos e
estratégias da terapia ABA em
intervenções sensório-motoras orais
nos Transtornos Alimentares Pediátricos
Citação: Silva NF. Incorporando procedimentos e estratégias da terapia ABA em intervenções sensório-motoras
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Reforçamento
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podem não ser os preferidos da criança, podem ser consequenciadas com a apre-
sentação imediata de alimentos preferidos após a completa ingestão do alimento
de treino.
O reforçamento também deve ser utilizado quando forem realizadas sessões
com os pais e/ou cuidadores para o treinamento de cuidador. Pais e cuidadores de-
vem ser elogiados ou reforçados com consequências previamente programadas
quando apresentam as respostas esperadas no contexto de aprendizagem ou no
ambiente natural.
Para as estratégias de terapia sensório-motora oral, exercícios orais-motores e
prática funcional consistente, por envolverem respostas essencialmente motoras,
devemos considerar os princípios de aprendizagem motora que incluem feedback
extrínseco. O feedback extrínseco consiste em reconhecimento verbal frequente e
imediato de desempenho adequado na tarefa motora (9, 14, 15). Quando a criança
apresenta a amplitude ou a força mastigatória esperada, o terapeuta pode fornecer
feedback extrínseco elucidando o quanto a criança demonstrou domínio na execu-
ção da habilidade: “Que legal, você mastigou com força” ou “Que incrível que você
abriu a boca o suficiente para mastigar esse pão”.
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Sheppard (20) relata que uma análise de tarefa dos componentes motores das
habilidades de alimentação pode ser usada como uma referência para a avaliação e
para descrever o desempenho motor. Conforme a experiência da autora e con-
forme a literatura da área da análise do comportamento (27), pode também servir
como procedimento para a determinação de passos discretos a serem modelados,
da cadeia completa de comportamentos que é se alimentar de forma indepen-
dente.
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Modelação
Modelação, que se diferencia conceitualmente da modelagem, é uma estraté-
gia baseada em aprendizagem observacional, muito bem definida em manuais de
Análise do Comportamento e amplamente utilizada por fonoaudiólogos, assim
como o reforçamento. De acordo Cooper et al. (8), a modelação pode ser definida
como a demonstração de um comportamento-alvo desejado que resulta na imita-
ção do comportamento pelo aprendiz. Em intervenções sensório-motoras orais, uti-
lizamos a modelação com as crianças todo o tempo, seja para fornecer modelo de
abertura de boca, de amplitude de abertura de boca ou, ainda, modelo de exercício
oral-motor e de prática de lateralização de língua e mastigação.
Videomodelação
A videomodelação é uma estratégia derivada da modelação que envolve a de-
monstração de comportamentos desejados em apresentação das respostas por
meio de vídeo para o aprendiz que, em seguida, deve imitar o comportamento do
modelo do vídeo. Os modelos do vídeo podem ser colegas, irmãos, pais, terapeutas
ou o próprio pacientes ou cliente (automodelarem). A videomodelação tem sido
demonstrada como estratégia de ensino efetiva, especialmente para crianças com
TEA, de uma ampla variedade de habilidades, incluindo comportamentos motores,
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Hierarquia de Dicas
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Dicas: Ajuda física no queixo; ajuda física leve no queixo (toque); modelo; instrução.
Critério de aprendizagem para mudança de passos de ensino e mudança de dicas: Duas ses-
sões consecutivas com 90% de acertos ou uma sessão com 100% de acertos.
Passos intermediários:
Passo 1: Mastigar o chewy tube duas vezes consecutivas com ajuda física no queixo.
Passo 2: Mastigar o chewy tube duas vezes consecutivas com ajuda física leve no queixo (to-
que).
Passo 3: Mastigar o chewy tube duas vezes consecutivas com modelo.
Passo 4: Mastigar o chewy tube duas vezes consecutivas a partir de instrução.
Passo 5: Mastigar o chewy tube quatro vezes consecutivas a partir da sua apresentação.
Passo final: Mastigar o chewy tube seis vezes consecutivas a partir da sua apresentação.
Fading
O procedimento de fading ou esvanecimento consiste na substituição de con-
trole de estímulos de forma gradual, transferindo o controle da resposta por meio
de acentuação das características do estímulo (fading in) ou por remoção ou atenu-
ação de características de um estímulo (fading out). Na área de Transtornos Alimen-
tares Pediátricos o procedimento de fading pode incluir, por exemplo, esvaneci-
mento de sabor, de volume, de textura e esvanecimento de talheres e de instru-
mentos (8, 15).
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Tentativa Discreta
O ensino por tentativas discretas, do inglês Discrete Trial Training – DTT, é um for-
mato de ensino estruturado amplamente estudado no campo da Análise do Comporta-
mento e baseado no conceito da tríplice contingência, que deve conter ao menos cinco
elementos: estímulos discriminativos, ajudas e dicas, resposta, consequências e inter-
valos entre tentativas. Uma tentativa discreta deve ser iniciada com a obtenção da aten-
ção da criança para a apresentação do estímulo discriminativo e/ou da instrução. A res-
posta da criança pode ser vocal ou motora, por exemplo, e, a depender da programa-
ção de ensino, pode ser emitida com o fornecimento de uma dica do terapeuta. Diante
da apresentação da resposta, será fornecida a consequência reforçadora ou a correção
da resposta. Após apresentação do reforçador ou da correção da resposta, é realizada
uma breve pausa entre as tentativas, de 1 a 5 segundos (24, 28).
O ensino por tentativas discretas pode ser utilizado para a programação de
tentativas de aprendizagem nas estratégias de terapia sensório-motora oral, exer-
cícios orais-motores (EOM), técnicas de estimulação sensorial, e prática funcional
consistente. A Figura 1 ilustra uma tentativa discreta para o ensino de mastigação.
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Suportes Visuais
O uso de suportes visuais é recomendado nas diretrizes para intervenção de
pessoas com TEA e consiste em fornecer um estímulo antecedente visual para au-
mentar o controle do estímulo do comportamento desejado. São utilizados para
vários propósitos, dado que são mais permanentes do que palavras, permanecendo
para referência muito tempo depois que a instrução é dada (19, 26) e “podem redu-
zir a ansiedade, aumentar a previsibilidade, apoiar a comunicação e melhorar a par-
ticipação” (19).
No campo da intervenção alimentar, podem servir, por exemplo, para indicar
à criança a quantidade de alimento que deve ser consumida (quantidade de colhe-
radas, quantidade de porções, quantidade de potinhos), número de tentativas de
exercícios orais-motores etc. A Figura 2 ilustra um suporte visual para sinalizar a
quantidade de colheres com alimento do tipo Maroon SpoonTM que será ofertada
para a criança.
Figura 2. Suporte visual da quantidade de colheres com alimento a ser ofertada à criança.
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analistas do comportamento, de modo que sua expertise possa servir para contemplar
o estágio Inicial da habilidade e o estado das estruturas orofaciais, bem como as habili-
dades cognitivas, de linguagem expressiva e receptiva dessas crianças que, por vezes,
apresentam necessidades complexas de comunicação.
Legenda: Terapia sensório-motora oral (1); Fading (2); Prática funcional consistente (3); Hierarquia de dicas (4);
Reforçamento (5); Suportes visuais (6); Modelagem (7); Modelação (8); Modificações na dieta (9).
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CONCLUSÃO
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