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doi: 10.4181/RNC.2015.23.04.1073.08p

Configurações Epigenéticas: Polimorfismo


nos Transtornos que afetam a Aprendizagem
Epigenetic Configurations: Polymorphism in Disorders Affecting Learning
1* 2
Letícia Sabatella Horta ; Gustavo de Val Barreto

1. Acadêmica do 10° período de Psicologia no transcrições gênicas derivadas de uma alteração


Instituto de Ensino Superior: Centro Universitário polimórfica, eventualmente, apresentam um padrão
UNA – Guajajaras. Belo Horizonte, MG. genômico similar entre alguns Transtornos de
Aprendizagem estudados.
2. Psicologo formado pela Universidade de Minas
Gerais (UFMG), Doutor em Neurociência Palavras-chave: transtorno de aprendizagem;
(UFMG). comportamento; epigenética; neuropsicologia,
desenvolvimento infantil.
*Autor para correspondência: Horta, L.S: Rua
Toronto, 193. CEP 31370-190, Belo Horizonte, MG,
Brasil. E-mail: horta.sabatella@gmail.com ABSTRACT
Centro Universitário Una – Belo Horizonte, dez 2019. Recurrent studies demonstrate significant advances
directed at behavioral epigenetics. What makes the
objective of this study, the search for the understanding
RESUMO of how the environment influences the epigenetic
Estudos recorrentes demonstram avanços significativos mechanisms can modify the behavior of an individual,
direcionados a epigenética comportamental. O que torna attesting if there is the presence of genetic polymorphism
o objetivo deste estudo, a busca do entendimento de in learning disorders. An integrative review was
como o ambiente influência nos mecanismos performed using 37 articles searched in electronic
epigenéticos podendo modificar o comportamento de um journals for the construction of this work. Results were
indivíduo, atestando se existe a presença de polimorfismo found demonstrating polymorphic epigenetic alterations
genético em transtornos de aprendizagem. Realizou-se in DRD4 genes; 5HTT; SLC6A4; KIAA0319; DCDC2;
uma revisão integrativa utilizando 37 artigos buscados EKN1 and val158val, which are related to the
em revistas eletrônicas para a construção deste trabalho. pathogenesis of Learning Disorders covered in this
Foram encontrados resultados que demonstram alterações article. Enzymes that, in turn, regulate or interfere in the
epigenéticas polimórficas nos genes DRD4; 5HTT; physiology of a subject were also sought through gene
SLC6A4; KIAA0319; DCDC2; EKN1 e val158val, nos localization. Thus, it was possible to conclude that there
quais estão relacionadas a patogenia dos Transtornos de are relationships between the individual's genetic code
Aprendizagem abordados neste artigo. Foram também and the influence of the environment with the result of a
buscados, através da localização do gene, enzimas que, possible specific polymorphic genomic expression, which
por sua vez, regulam ou interferem na fisiologia de um causes hormonal changes that trigger these disorders. It
sujeito. Sendo assim, foi possível concluir que existem was possible to observe enzymatic relationships that
relações entre o código genético do indivíduo e a contain involvement in the metabolic process that
influência do ambiente para com a resultância de um compromise the endocrine function of a subject, being
possível expressamento genômico polimórfico those that have similarity in its mechanism of action. It is
específico, no qual, ocasiona alterações hormonais que noteworthy that gene transcripts derived from a
provocam o desencadeamento destes transtornos. Foi polymorphic alteration eventually have a similar genomic
possível observar relações enzimáticas que contém pattern among some Learning Disorders studied.
envolvimento no processo metabólico que comprometem
a função endócrina de um sujeito, sendo as que possuem Keywords: learning disorder; behavior; epigenetics;
semelhança em seu mecanismo de ação. É notável que as neuropsychology child development.

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INTRODUÇÃO mecanismos por trás de suas discordâncias
mantendo suas causas desconhecidas
A espécie humana apresenta uma
(BRIETZKE, SANT'ANNA, JACKOWSKI
imensa variabilidade genética. Um
et all., 2012).
indivíduo carrega uma grande sequência de
Dado este motivo, vários autores têm
genes dentro de cada célula, estes genes
direcionado pesquisas para o entendimento
expressam suas características, nas quais
de ocorrências de transtornos mentais e
podem estar associadas entre a interação do
relações gene e ambiente, explorando a
comportamento e o ambiente. Em 1989, foi
Psicanálise e o Behaviorismo (BRIETZKE,
iniciado o Projeto Genoma Humano (PGH),
SANT'ANNA, JACKOWSKI et all., 2012).
com o objetivo de sequenciar
De acordo com Fontanella., p.17,19,
completamente 3,1 bilhões de bases
(2015) a Psicologia vem trabalhando no
nitrogenadas do genôma humano,
entendimento da mente humana, sobre seu
construindo uma base informacional para
comportamento e desenvolvimento. Um
contribuir com a genética, sendo finalizado
conjunto de funções que contribui para o
em abril de 2003 (GOES e OLIVEIRA,
esclarecimento de vários questionamentos
2014, pg. 551).
perante o sujeito. Avanços feitos a partir da
Segundo Sérgio Pena (2010, citado
genética, bioquímica e neurofisiologia
por Andréa Goés e Bruno Oliveira 2014, pg.
desempenharam um papel fundamental para
565), no ano de 2007, foi descrita a primeira
entendimento dos processos psicológicos.
sequência genômica completa diploíde de
Expondo uma intensificação de atrelamento
um único indivíduo, conhecida como
com outras ciências, que aumentaram os
HuRef, e o genoma era de Craig Venter.
campos de pesquisa de forma
Esse projeto transcreveu todas as
interdisciplinar.
informações obtidas em um material
De acordo com Almeida e Falcão
genético, facilitando estudos de várias
(2019 apud WHITNEY, 2002) Francis
doenças de heranças genéticas.
Galton descobriu que os traços psicológicos
É sabido, que a partir do PGH
não eram menos herdáveis do que eram os
originaram-se inúmeros estudos baseados
traços físicos. Ele propôs o termo “eugênia”
nos genes codificados, dentre eles, um
para a nova ciência da hereditariedade e da
estudo sobre a reprogenética, que trouxe
evolução humana. O foco do estudo era
técnicas capazes de manipular células
observar as características físicas e não
germinativas e eliminar imperfeições do
físicas a partir da herança biológica.
genoma, isto é, prevenir genes deletérios e
Para Galton sua ideia geral era que
promover avanços em tratamentos de
comportamentos humanos como a preguiça,
doenças (TEIXEIRA, SILVA 2016).
o alcoolismo, a criminalidade e a
Embora a genética tenha progredido
inteligência, entre outros, eram hereditários.
rapidamente com o mapeamento completo
Para demonstrar isso, ele utilizou seus
de todo o genoma humano, as doenças
conhecimentos de estatística aplicada aos
cerebrais prevalecem como uma incógnita
estudos de herança em famílias
para vários profissionais e estudiosos,
(TEIXEIRA, SILVA 2016).
acrescentando uma maior complexidade
A agregação de abordagens
para o entendimento de alterações
neurocientíficas e teorias anteriores focadas
comportamentais, exemplificando com a
na mente criaram novas perspectivas para a
esquizofrenia, que possui razões e

elo Horizonte, Vol. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH. X, N.º Y, p. aa-bb. (ano). Editora UniBH.
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compreensão do efeito do ambiente no aprendizagem existentes (RODRIGUES,


cérebro, incluindo o conceito de ambiente, 2016).
isto é, o conjunto de eventos ambientais que Sabendo que a genética e a
influenciam no desenvolvimento encefálico psicologia podem estar associadas entre si
(BRIETZKE, SANT'ANNA, JACKOWSKI em meios que refletem na mudança do
et all., 2012). comportamento, nas quais podem acarretar,
Estudos recorrentes demonstram desencadear ou potencializar transtornos de
avanços significativos direcionados a aprendizagem, é possível fazer uma análise
epigenética comportamental, que fornecem minuciosa de como e porque a genética e
insights para a estrutura biológica de efeitos transtornos possuem uma singularidade que
neurais e comportamentais em uma se compreendida, pode-se ajudar
sincronia gene e ambiente. Entende-se que profissionais da área do diagnóstico ou até
algumas alterações de configurações mesmo no tratamento, o que torna como
epigenéticas, são reestruturadas e objetivo deste estudo a busca de um
recodificadas a partir da exposição a entendimento mais profundo de como os
adversidades ambientais. O estresse social e mecanismos epigenéticos podem influenciar
experiências traumáticas são exemplos que o comportamento de um indivíduo,
podem desencadear uma dessas atestando se existe a presença de
configurações no gene, afetando diretamente polimorfismo genético em transtornos de
o comportamento (ROTH, 2014). aprendizagem. Averiguar também, como
Visto como, os novos insights efeitos ambientais podem desencadear uma
recentemente apresentados com a mudança nas configurações génicas.
exploração da interação gene e ambiente e a Desta forma, será abordado de forma
regulação epigenética, aguçaram detalhada assuntos relacionados com a
pesquisadores a aprofundarem mais no genética focando suas configurações
assunto e consequentemente suas voltadas ao comportamento, sendo mais
causalidades, direcionando e associando específico, os transtornos de aprendizagem.
esses efeitos com muitos dos transtornos Apesar de esta abordagem não monopolizar
mentais (BRIETZKE, SANT'ANNA, um transtorno especificamente, ela irá
JACKOWSKI et all., 2012). assimilar o que há de comum entre os
Segundo Candido et all., (2012) os transtornos nas configurações epigenéticas.
transtornos mentais são definidos como
comportamentos que fogem da normalidade, MÉTODOS
que provocam desordem cognitiva, que Foi realizado uma revisão integrativa
dificultam o entendimento sob a realidade e para a construção deste artigo. As coletas
fragilizam o desenvolvimento do sujeito. dos dados foram feitas através das buscas de
Assim como os problemas de artigos científicos publicados em bancos de
aprendizagem podem ser sanados com dados em revistas e livrarias eletrônicas:
experiências de aprendizagem apropriadas, Scielo; Google Acadêmico;
sob condições comuns em sala de aula. WorldWideScience; PubMed e The
Também é quase comum afirmar que os Scientist.
transtornos específicos de aprendizagem Realizou-se um levantamento
necessitam maior atenção, configurando-se bibliográfico de dados sobre a condição
na menor parte dos problemas de fisiológica dos indivíduos que possuem

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transtornos mentais, alguns descrevendo a selecionados para definir quais trabalhos se
fisiopatologia e sua associação com a encaixariam com o objetivo da presente
genética humana, tornando-se assim o revisão.
universo deste trabalho: “Os Transtornos
Quadro 1: Quadro de resultados indicando
mentais da aprendizagem e configurações
o número de artigos utilizados
epigenéticas”.
A análise dos artigos encontrados
Base de Pré-
foram discriminados com critérios de Selecionados
dados selecionados
inclusão e exclusão, sendo eles:
Critérios de Inclusão: Scielo 27 13
• Artigos em Idiomas: Português
Pubmed 28 21
(BR); Inglês e Espanhol;
• Em artigos experimentais, foi Google
24 2
exigido que já estivesse disponíveis os Acadêmico
resultados;
• Artigos que abordavam diferentes The Scientist 9 0
tipos de transtornos mentais;
• Artigos escritos por qualquer EBSCOhost 8 1
profissional que possui ligação com a área TOTAL 96 37
de transtornos mentais e/ou genética Fonte: Dados do Projeto
avançada;
• Revisões Bibliográficas de graduandos,
pós-graduandos, entre outros que forneciam REFERÊNCIAL TEÓRICO
referências bibliográficas válidas. O surgimento da teoria do
comportamento se deu início a partir da
Critérios de Exclusão: linha de abordagem Behaviorista, criada por
• Revistas eletrônicas que não John Broadus Watson (TERRA, 2003 apud
forneceram referências bibliográficas FURTADO, 1999). Suas práticas
válidas; propiciaram consistência ao fator
• Pesquisas em andamento; psicológico, colocando o comportamento
• Pesquisas que embasam sobre como objeto de estudo para a Psicologia.
polimorfismo, mas, não apresentam a Objeto este, que poderia agora ser
localização no genôma. observado, modificado, promovendo
experimentos em diversas condições e
Ao selecionar os artigos, sujeitos, com isso a Psicologia ganhou
primeiramente, através das buscas utilizando espaço na ciência (STRAPASSON, 2012).
palavras-chave, foram pré-selecionados Mesmo há décadas, Watson já
artigos nos quais, os títulos/temas estavam defendia a ideia de que o comportamento
associados ao universo deste trabalho. Em havia influências externas, variáveis do
seguida, foram lidos os resumos dos meio que produziam estímulos que induz o
mesmos, caso os resultados e conclusões sujeito a determinados comportamentos para
fossem coerentes com o objetivo desta se adaptar aos seus ambientes com a ajuda
revisão seriam pré-selecionados. Realizou- de mecanismos hereditários e pelas suas
se a leitura completa dos artigos pré- experiências. Embasamentos teóricos que

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antes eram apenas suposições estão ainda características expressas pelo indivíduo.
mais concretos e estudados atualmente Estes mecanismos epigenéticos são
(STRAPASSON, 2012). processos pelos quais a determinação
Skinner deu sequência aos estudos biológica do sujeito é atualizada e
de Watson, com a ideia de que o expressada ao longo do seu
conhecimento é o que move a evolução, e desenvolvimento.
para ele a ciência deveria ser uma Jean Piaget descreveu o processo
ferramenta para resolução de diversos fisiológico do desenvolvimento a partir das
problemas que se apresente em nossa relações em que o ser humano estabelece
sociedade. Segundo ele, qualquer condição com o meio, produzindo estímulos que
ou evento que tenha algum efeito geram reflexos de sua origem hereditária.
demonstrável sobre o comportamento deve Como no caso da regulação hormonal que se
ser considerada (SKINNER, 1953/1970, P. regula de múltiplas formas até ocorrer o
21 apud SAMPAIO, 2005). controle temporal, pois para quaisquer
Para Skinner (1978 p.01, cap. 04), espécies as partes do genoma impõem uma
uma das formas de entender como o sujeito ordem a ser seguida. O próprio código DNA
pode agir, é a partir da observação do segue uma sequência de informações a
comportamento mediante a um olhar que serem expressas demonstrando o
envolva o ambiente do sujeito. Pois, quando isomorfismo entre todas as organizações
um indivíduo é exposto a influências vitais inclusive as cognitivas. Segundo
variadas, seu comportamento e organismo Piaget, essas trocas com o meio afetam as
adota uma adaptação genética através dos sinapses neuronais que por sua vez abrem
efeitos obtidos do ambiente, podendo novas possibilidades da criança ver o
avançar para a predição e controle de mundo. Este processo de assimilação não
comportamento. ocorre de forma imediata, é necessário um
Quanto à possibilidade de influência desequilíbrio inicial para sequencialmente as
do ambiente na condição dos genes Skinner novas assimilações se realizem, concluindo
(1989) afirmou: “O estado do cérebro desta forma a adaptação ao meio. Com isso,
devido ao reforçamento parece substituir o o ambiente proporciona as assimilações
estado devido à seleção natural”. Isto é, o endógenas de forma que esse processo possa
papel do condicionamento operante permitir novas assimilações exógenas e
demonstra grande influência sobre aspectos assim por diante (MONTOYA, et al, 2011).
fisiológicos e físicos do sujeito para ser Segundo Bezerra (2017) as
rejeitado como epigênese. (NORO, 2013). experiências de natureza mental podem se
Silva e Ortega (2014), fala dos tornar uma herança genética, provenientes
mecanismos epigenéticos como principais ao estilo de vida que o sujeito vive.
apostas para uma explicação sobre as Algumas marcas epigenéticas são adquiridas
doenças, sendo capazes de caracterizar a no transcurso da vida do indivíduo. Com
etiologia dos transtornos mentais em nível isso, entende-se existe a possibilidade de
molecular. O modelo considera a interação que o material genético seja dos ancestrais e
entre a herança genética do sujeito e fatores eventualmente serão passados à geração
ambientais que pesquisam o processo a vindoura.
partir das mudanças intracelulares na Para Sales e Oliveira (2016) o
expressão dos genes determinando as entendimento sobre as doenças mentais foi

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alterado com o surgimento da epigenética. O acompanhamento psicológico com
Esta pode ser utilizada como mais um crianças que passaram por algum evento
aparato para o diagnóstico dos transtornos traumático contribui de forma positiva para
mentais, ao invés de fazer-se uso apenas do trabalhar maneiras de superação que
Manual Estatístico e Diagnóstico de propicia a aquisição de novas
Transtornos Mentais (DSM). Através de um representações, que podem, sob certas
diagnóstico mais exato, o tratamento torna- circunstâncias, inibir a ativação das
se mais preciso. Aréas como a da educação memórias originais, que se encontram
que trabalham com o desenvolvimento do intactas. Em casos nos quais um indivíduo
sujeito, utilizariam desse entendimento para condicionado não apresenta mais respostas
promover estratégias de aprendizagem mais ao estímulo que incitava o medo, adapta-se
elababoradas e específicas que possam gerando novas memórias correspondentes a
auxiliar e melhorar o desempenho do aluno, essa experiência. Muitos dos transtornos
propiciando uma maximização de resultados mentais são caracterizados pela resistência a
positivos também em seu comportamento. extinguir reações emocionais aprendidas
Com o avanço da ciência e com estímulos ansiogênicos,
tecnologia, a biologia humana passou a ser frequentemente evitando situações com o
algo frequente no cotidiano dos indivíduos, potencial de induzir a extinção (VALENTE,
como por exemplo, sequenciamento FISK et all., 2008). A exposição a um
genético; inseminação in vitro e terapia estímulo condicionado, seguido por um
gênica. A importância desse campo, estímulo incondicionado, desencadeia uma
pressupõem expectativas no melhoramento resposta de medo em diferentes espécies;
da espécie humana, prevenção e controle de entretanto, se o estímulo condicionado não é
doenças (TEIXEIRA, SILVA 2016). seguido desse estímulo incondicionado, o
O estresse infantil tem mostrado receptor passa a percebê-lo como um agente
efeitos deletérios no desenvolvimento de não ameaçador e, não apresentando uma
crianças e adolescentes, com consequências resposta de medo. A extinção seria um
a longo prazo que muitas vezes persistem na processo de aprendizado, e não de
vida adulta (BRIETZKE, SANT'ANNA, esquecimento. Este esquecimento implicaria
JACKOWSKI et all., 2012). Dentre os no enfraquecimento da memória do medo,
estresses ambientais mais graves, sugere-se porém sabe-se que ela pode ser mantida por
que o abuso emocional e físico dos pais, toda a vida, podendo ser renovada ou
múltiplos episódios violentos e abuso sexual reinstalada diante da presença do estímulo
sejam os principais agentes ambientais ameaçador (VALENTE, FISK et all., 2008).
causadores do desencadeamento de um Os avanços da neurociência,
transtorno mental. Os indivíduos expostos a reconceitualizaram argumentos muito bem
abuso sexual, estão sujeitos a uma maior aceitos. Sendo um deles, o abandono da
probabilidade de expressar psicopatologias convicção de o transtorno mental ser
que podem estar ou não em sua genética, desencadeado apenas por uma causa, e a
entretanto, experiências traumáticas severas noção de que diferentes fatores que
durante a infância está associada a mau interagem em uma combinação
funcionamento, déficits cognitivos e várias probabilística para produzir vulnerabilidade,
condições psiquiátricas (BRIETZKE, foi normativamente aceita (BRIETZKE,
SANT'ANNA, JACKOWSKI et all., 2012). SANT'ANNA, JACKOWSKI et all., 2012).

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Sabe-se que, eventos ambientais vulneráveis a estresse extremo (VALENTE,


adversos trazem consigo, formas de FISK et all., 2008).
adaptação que direciona um indivíduo Segundo Kirov, Norton et all., (1999,
exposto a uma transformação biológica e apud NISHIOKA, PERIN et all., 2011), o
consequentemente psicológica. As Polimorfismo (variações nas sequências de
transformações acarretadas, justificam-se a bases que compõem o gene), estão
partir de mudanças recorrentes de nível diretamente associados a alguns transtornos
endócrino e neuronal. A junção destes dois mentais, estando ligados a produção de
fatores, provocam modificações da resposta enzimas que inibem ou hiperestimulam as
do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal vias cerebrais de neurotransmissores.
(HHA). Sobre o polimorfismo, este evento
Experimentos feitos por Valente, pode estar associado a aumento de
Fisk et al., (2008) com indivíduos codificação de bases nitrogenadas, a
submetidos ao estresse crônico, sugeriam alteração pode se basear de desde uma base
em seus estudos iniciais, que os níveis de ou até mesmo inúmeras sequências de bases
cortisol seriam elevados, uma vez que nitrogenadas, tratando-se de uma repetição
estariam constantemente submetidos ao em série de números variados de bases
estresse. O que foi observado (variable number of tandem repeats –
posteriormente, no entanto, é que os níveis VNTR) (NISHIOKA, PERIN et all., 2011).
de cortisol (hormônio ativado em situações Sabol et al. (1998, citado por
de conflito, luta ou fuga) apresentam baixos NISHIOKA, PERIN et all., 2011)
nesses indivíduos, indicando que seria descreveram um polimorfismo na região
resultado de adaptação crônica ao estresse. promotora da enzima Monoaminoxidase-A
Ou seja, um indivíduo pré-exposto, (MAOA) que afeta significativamente seu
apresenta respostas fisiológicas ao ambiente, potencial de transcrição, aumentando ou
mas, em uma exposição crônica o mesmo diminuindo a concentração da enzima,
indivíduo apresenta sintomas da patologia, resutando em degradação ou um aumento da
porém sem resposta fisiológica. A idéia é de concentração de hormônios e
que, por uma razão desconhecida, o estresse neurotransmissores. Existem evidências
permanece constante mesmo quando o concretas de que exposições ao estresse no
agente estressor não está presente, e mesmo início do desenvolvimento humano, são
sintomático, a própria fisiologia do mediadas pela ação hormonal do sistema
indivíduo tende a adaptação. endócrino, com o intuito de efetivar a
Evolutivamente, na ausência de um homeostase e a sinalização das vias
mecanismo cognitivo, o aprendizado neurotróficas que exercem influência direta
automático, após uma única exposição a no desenvolvimento encefálico, integridade
uma ameaça, conferia uma maior da plasticidade sináptica e orientação dos
sobrevivência e, com a evolução encefálica, axônios.
uma segunda via cortical foi desenvolvida Alertas provenientes de estímulos
para o processamento de memórias externos, são sinalizados no hipocampo.
traumáticas. É possível que a sincronicidade Estas sinalizações coexistem no Sistema
entre essas vias filogeneticamente distintas Nervoso Central (SNC), particularmente no
possam estar perdidas naqueles indivíduos hipocampo, com elevados níveis de
expressão de receptores de glicocorticoides

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(GR) receptores de mineralocorticoides liberação de cortisol, ocasionalmente
(MR) e fator neurotrófico derivado do reduzindo os níveis de BDNF disponíveis
encéfalo (BDNF) e seus receptores nas estruturas límbicas no SNC. Como
(HANSSON et al., 2000 apud consequência, há uma redução da
BORTOLUZZI, 2014). plasticidade encefálica e aumento na
A homeostase endócrina e de BDNF vulnerabilidade de transtornos relacionados
é essencial para o mecanismo de regulação ao estresse, incluindo os TA (CIRULLI;
de resposta ao estresse. O BDNF deriva-se ALLEVA ,2009 apud BORTOLUZZI,
do encéfalo, é uma neurotrofina altamente 2014).
distribuída no SNC, mesencéfalo e sistema Segundo Richards et all., (2006,
límbico, que funciona como uma barreira de citado por Everton Costa e Cristiane
proteção, regulador da plasticidade sináptica Pacheco 2013, pg. 126) as alterações
e altamente estimulante aos fatores de epigenéticas correspondem a modificação na
crescimento neural (HANSSON et al., 2000 codificação no DNA, nas quais, genes que
apud BORTOLUZZI, 2014). antes não eram expressos, passaram a ser
A BDNF exerce funções diretas nos codificados para exercer uma nova função.
neurônios colinérgicos e dopaminérgicos, A dinâmica de ligação de histonas e
controlando assim, uma resposta sináptica condensação da cromatina (Figura 01) é
equilibrada, ou em sua ausência, respostas regulada por padrões epigenéticos de
sinápticas diminuídas ou acentuadas, assim metilação, ubiquitinação, fosforilação do
como nos transtornos de aprendizagem DNA e modificações químicas das histonas
(HANSSON et al., 2000 apud por enzimas, nos quais, são potencialmente
BORTOLUZZI, 2014). sensíveis a modificações ambientais,
levando alterações fenotípicas significativas
Figura 01. Representação de um possível (PRAY 2004).
papel do BDNF nos transtornos induzidos Segundo Bedegral (2010 apud
pelo estresse SILVA, JOAQUIM, MENDES et all., 2016)
Conrad Waddington (1940), citou pela
primeira vez o termo Epigenética, na qual,
era visto apenas como um ramo da biologia
que analisava as interações gene e ambiente,
que por consequência levava a uma
alteração fenotípica microscópica,
macroscópica ou comportamental. Holliday
(1987) propôs pela primeira vez, o possível
papel da herança epigenética em uma
patologia, e distinguiu a transmissão do
gene em duas partes, a vertical (de geração
em geração) e a outra que representa o
Fonte: Bortoluzzi (2014). desenvolvimento de um organismo desde o
nascimento até a fase adulta. Atualmente, a
Em casos dos estímulos estressores epigenética é definida como o estudo das
crônicos, o aumento dos níveis periféricos mudanças da expressão e função gênicas
do fator de crescimento neural (NGF) causadas por outros mecanismos que não
estimula a glândula adrenal induzindo a

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sejam as mutações nas sequências de bases (NISHIOKA, PERIN et all., 2011 apud
do DNA (SILVA, JOAQUIM, MENDES et SCHULZE, MULLER et all., 2000).
all., 2016 apud MULLER, PRADO, 2008). Gutiérrez et al., (2004) relataram
Dentro deste contexto, pode-se dizer uma maior frequência de alelos de alta
que, alguns dos transtornos mentais atividade enzimática em mulheres
estudados até a presente atualidade podem deprimidas com episódios de padrão sazonal
ou não ter associações com alterações e uma maior frequência de homozigose de
epigenéticas relacionadas ao desequilíbrio alelos mais longos do polimorfismo
(aumento ou diminuição da atividade) de MAOA-mVNTR em pacientes com
enzimas ou neurotrofinas. Dentre eles estão: depressão e sintomas psicóticos. Estudos
cujo demonstraram que a presença de alelos
Transtorno depressivo maior mais longos (3,5, 4 e 5 repetições) estava
associada também com pior resposta a
(TDM)
antidepressivos e menores taxas de remissão
De acordo com a OMS (Organização
em mulheres com TDM (NISHIOKA,
Mundial de Saúde) houve um crescimento
PERIN et all., 2011).
significativo de TDM na população geral.
Diversos autores têm centrado a atenção
para o fenomeno da depressão em crianças e Transtorno do Deficit de Atenção e
adolescentes, que vem demonstrando uma Hiperatividade (TDAH)
fragilidade para o desenvolvimento deste O TDAH, embora sua etiologia seja
transtorno. Um estudo realizado por Olsson pouco conhecida, vias cerebrais
e Von Knorring, relata que 25% dos adultos dopaminérgicas, serotoninérgicas e
com depressão maior, afimam que o início noradrenérgicas estão associados ao
dos episódios ocorrerão antes dos 18 anos. mecanismo do transtorno (NISHIOKA,
Outro resultado encontrado por Bahls em PERIN et all., 2011). Alterações nos genes
sua revisão, demonstra que a maior transportadores destes neurotransmissores,
prevalência para o TDM, atribui-se a estão frequentemente implicadas na
crianças, de 0,4 a 3,0% e de 3,3 a 12,4% em susceptibilidade da sua fisiopatologia,
adolescentes, considerando a natureza desse embora resultados negativos também sejam
transtorno nestas duas fases como relatados, sugerindo ser a TDAH condição
duradouras e pervasiva. Para o heterogênea de etiologia multifatorial
desenvolvimento desse transtorno, o genética e não-genética.
historico familiar aumenta o risco em três Para corroborar com tais evidências
vezes mais, seguindos por estressores neurológicas, estudos genéticos indicam que
ambientais, como abuso físico e sexual, a maioria dos genes específicos implicados
perdas e traumas (BAHLS, 2002). Pesquisas no TDAH codificam sistemas de sinais de
aprofundadas sobre a configuração genética catecolaminas e incluem o transportador de
para com esse transtorno, demonstrou maior dopamina (DAT), transportador de
frequência do alelo (MAOA) com 4 noradrenalina (NET), receptores
repetições em pacientes com TDM de dopaminérgicos D4 e D5, dopamina b-
ambos os sexos (NISHIOKA, PERIN et all., hidroxilase e a proteína-25 (SNAP-25) todos
2011 apud YU, TSAI et all., 2005) e outro catabolizados ou anabolizados pela MAOA.
mostrou essa associação apenas em Estas catecolaminas facilitam a liberação
mulheres com TDM recorrente

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dos neurotransmissores envolvidos na comprometimento da comunicação social e
expressão do TDAH (CIRCUNVIS et all., comportamentos repetitivos e/ou interesses
2017). restritos. É composto pela união de três,
O que se intriga neste transtorno é previamente separados, diagnósticos:
que, apesar de sua hereditariedade, na qual o Autismo, Asperger e Transtorno Invasivo do
subtipo diagnóstico hiperativo/impulsivo, Desenvolvimento sem outra especificação
desatento ou combinado é em torno de 60%, ou autismo atípico. Ele é definido por
é possível que o indivíduo carregue consigo déficits de dois principais domínios:
os genes deletérios e que em até um interação e comunicação social, e
determinado grau, este mesmo sujeito não comportamentos restritos e repetitivos,
expresse exageradamente as fisiopatologias perceptíveis desde o início do
que deveriam ser transcritas devido a fatores desenvolvimento de um indivíduo (TORRE-
ambientais (PEREIRA, ARAÚJO, UBIETA et all., 2016 apud RIBEIRO et all.,
MATTOS 2005). 2018).
Também, vem sido estudado o O TEA predomina em uma condição
DRD4, associando a susceptibilidade do genética clara em sua etiologia, e também
transtorno através o Receptor de Dopamina estão associadas a alterações polimórficas.
D4 (DRD4). A maior parte dos trabalhos Dentre as alterações polimórficas estão os
concentra-se em um polimorfismo VNTR genes responsáveis pela codificação de
no terceiro éxon, sendo o alelo de sete proteínas envolvidas no metabolismo de
repetições considerado o de risco para o neurotransmissores, como o SLC6A4 e
desenvolvimento do TDAH (RODRIGUES, DRD4 (Quadro 02). A região 5- HTTPL do
2014). gene SLC6A4 codifica uma proteína
Hipóteses sugerem que essa envolvida na neurotransmissão
inconsistência é derivada da serotoninérgica, e seu polimorfismo pode
heterogeneidade alélica determinada por alterar a quantidade de serotonina disponível
variações de ponto internas ao VNTR, uma na fenda sináptica para cada genótipo
vez que o excesso de variantes raras nessa (WEHMUTH, 2016)
região já foi associado ao TDAH O gene DRD4 codifica o receptor de
(RODRIGUES, 2014). dopamina D4 e um dos seus polimorfismos
Em uma pesquisa, o sequenciamento envolve a sua sensibilidade à dopamina,
do VNTR revelou um excesso de variantes alterando a ativação do córtex pré-frontal
raras no alelo de sete repetições em pelo circuito mesocortical. Ambos os
indivíduos com TDAH quando comparados polimorfismos citados podem estar
com controles. Resultados similares foram envolvidos tanto na etiologia quanto em
observados na amostra populacional, sintomas específicos do TEA (WEHMUTH,
sugerindo que a heterogeneidade alélica 2016).
pode estar contribuindo para a associação Uma pesquisa realizada entre
entre o gene DRD4 e o TDAH gêmeos monozigóticos e dizigóticos,
(RODRIGUES, 2014). avaliando o grau em que o diagnóstico do
autismo é compartilhado entre gêmeos,
Transtorno Espectro Autista (TEA) sugere-se que os genes possuem um elevado
O TEA é um transtorno do subsídios as características natas de um
desenvolvimento infantil caracterizado por transtorno. Para os TEAs a concordância

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para o autismo diagnosticado em gêmeos problemas na leitura e escrita.
monozigótos são de 60% e 0% em gêmeos (CAPELLINI, 2007).
dizigóticos. Em uma amostra mais ampla
sobre o TEA os índices de concordância são Discalculia
de 92% contra 10%, indicador este Um estudo feito por Costa (2014),
altamente divergente, que por sua vez apresentou que crianças do sexo masculino
sugere-se um intenso componente genético com o genótipo val158val demonstraram
de risco (GRUPTA, STATE, 2006). níveis menores de ansiedade matemática
Com relação ao autismo, o SLC6A4 quando comparadas a meninos com pelo
é um gene candidato com um histórico menos um alelo de metionina. Além disso, o
longo e venerável. Como se observou, a genótipo da COMT juntamente com outro
transcrição codifica o transportador de fator emocional (infelicidade relacionada a
serotonina, que medeia a recaptação de problemas na matemática) e a série escolar
serotonina da sinapse. O interesse nesse foram preditores da ansiedade matemática
gene e em seus produtos protéicos deriva de no sexo masculino, enquanto para as
um papel plausível da serotonina nos meninas a variável genética não apresentou
comportamentos repetitivos observados em significância estatística no modelo.
pacientes, bem como no achado altamente Apesar do crescente número de
confiável de um maior nível de serotonina estudos na área, pouco se sabe da relação
plaquetária em um substancial subconjunto desse polimorfismo com a cognição
de indivíduos autistas (ABHA et all., 2006). numérica e seus mecanismos subjacentes em
amostras infantis. Um único estudo
Dislexia realizado com adultos relata que indivíduos
SIGNOR aput SÁ et al (2018) com pelo menos um 18 alelo de valina
descreve o transtorno da dislexia, como de apresentaram maiores níveis de ativação do
origem neurobiológica, definida pela córtex pré-frontal dorsolateral em
dificuldade no reconhecimento preciso e/ou comparação com os indivíduos com
fluênte da palavra, na habilidade de genótipos de atividade mais baixa da COMT
decodificação e em soletração, resultando (Met158Met), contudo não houve diferenças
em possiveis déficits na linguagem e são comportamentais (TAN et all., 2007 apud
imprevisiveis em relação à idade e outras COSTA, 2014).
capacidades cognitivas. Estudos de ligação e O polimorfismo da enzima catecol-
associação têm apontado várias regiões O-Metiltransferase (COMT) influencia a
cromossômicas que podem conter genes biodisponibilidade de dopamina no cérebro,
candidatos à dislexia. Alguns genes têm sido especialmente no córtex pré-frontal. Nas
associados à dislexia tais como: últimas décadas esta variação genética tem
KIAA0319 e DCDC2 no cromossomo 6p e sido associada a medidas de memória de
EKN1 (Quadro 02) no cromossomo 15q trabalho. As alterações fisiológicas
(CAPELLINI, 2007). provocadas pela COMT têm sido
A identificação destes polimorfismos relacionadas a diferentes perfis de
genéticos pode significar que o risco processamento de informação (COSTA,
particular de uma criança desenvolver certos 2014).
tipos de problemas de leitura pode ser
estimado antes da criança apresentar severos

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RESULTADOS Legenda: SER: Serotonina; NOR:
Através de uma revisão da literatura, Noradrenalina; DOP: Dopamina; COR:
foram encontrados resultados (Quadro 01) Cortisol; NEU: Neurotrofina.
que demonstram alterações epigenéticas
relacionadas aos TA. Foram também Dentre as enzimas/receptores
buscadas, através da localização do gene identificados através dos genes observados,
(metilado ou expressado) enzimas que, por estão:
sua vez, regulam ou interferem na fisiologia
de um indivíduo através de suas funções 1. SLC6A4 ou SERT: Enzima
endócrinas. transportadora de serotonina (UniProtKB
O desequilibrio hormonal (Figura results).
01), exerce fortes influências sobre os 2. MAOA: Monoamino oxidase- A,
transtornos mentais, e específicamente os derivada da família da Monoamin oxidase
TA. Por isto, no gráfico 01 pode-se que cataliza a degradação de catecolaminas
perceber, que dentre os TA estudados neste (DAT, NET e SNAP-25). A MAOA possuí
trabalho, alterações endócrinas são um tropismo por serotonina e noradrenalina
evidentes. (NISHIOKA, PERIN et all., 2011).
Uma observação de grande 3. PROTEÍNA 2: Pode estar envolvido
importância, é que dentre os TA, as na migração neuronal durante o
neurotrofinas (Proteínas que funcionam desenvolvimento do neocórtex cerebral (por
como uma barreira de protecão, similaridade). Envolvido no controle da
crescimento, diferenciação, axogênese e ciliogênese e comprimento ciliar;
apoptose neuronal) apresentam-se em níveis 4. Q5VV43: Envolvido na migração
baixos em todos os TA. Sugerindo que, esta neuronal durante o desenvolvimento do
barreira de proteção neuronal, ou até mesmo neocórtex cerebral. Pode funcionar de
o desenvolvimento do cortex estejam maneira autônoma e não celular e
acometidos. desempenhar um papel na adesão apropriada
entre os neurônios em migração e as fibras
Gráfico 01: Possíveis alterações hormonais gliais radiais. Também pode regular o
nos TA evidentes baseadas nos estudos crescimento e a diferenciação de dendritos
efetivados (UniProtKB results).
5. Q5VJS0: Função específica não
localizada.
6. D4: A dopamina exerce seu efeito no
cérebro através de diferentes tipos de
receptores (D1 a D5). Devido as suas
propriedades em mediar os efeitos de
antipsicóticos atípicos, o receptor de
dopamina D4 tem sido alvo de um grande
número de estudos nas últimas décadas,
apresentando grande importância nos
campos da neurologia, da psiquiatria e da
farmacologia (RODRIGUES, 2014).
Fonte: Dados do projeto 3,9,10,11,20,21,22,27,29

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7. COMT: Assim como a MAOA, circulantes e reduz a concentração de BDNF


Catecol-o-metiltransferase é responsável no sistema límbico.
pela degradação de catecolaminas no SNC Com a concentração de BDNF
(SAMPAIO, 2012). diminuída, hiperestimulação da hipófise e
hipocampo todas provenientes do aumento
Quadro 02. Polimorfismo dos TA do cortisol circulante (estimulados por
especificando os genes e enzimas ambiente caótico), é possível que a resposta
possívelmente envolvidos na patogenia. de adaptação aderida pelo organismo seja
diretamente modificada no gene.
Aumentando a produção de enzimas que
TA NR Gene EAA EBA degradam hormônios que estão em
altíssimas concentrações, ou que produzem
TEA 7 37 SLC6A4 e SERT 37 D4 37 hormônios que estão em baixas
DRD4 37 concentrações. Este mecanismo de
adaptação, é eficaz, entretanto, quando o
TDAH 4a DRD4 26, MAOA22 SERT 26,
522 5HTT 22 MAOA22 indivíduo entra na fase crônica da exposição
ao estress, mesmo recebendo estímulos, a
TDM 3,5 a 5HTT 22 MAOA22 - adaptação do organismo estabiliza os níveis
5 22 de concentração do cortisol. Não obstante,
as configurações epigenéticas que foram
- KIAA0319, Q5VV43
DISL DCDC2 e Q5VJS03 31
, ativadas durante a fase aguda, não são
EKN1 7 1
Proteína metiladas ou desmetiladas na fase crônica,
27 seguindo assim, um possível
desencadeamento de um TA específico.
- val158val 3, COMT9 Q5VV43
31
DISC KIAA0319, ,
DCDC2 7 Proteína CONCLUSÃO
27 Mediante às análises que foram feitas, pode-
se concluir que a epigenética ainda é
Fonte: Dados do projeto 7,9,22,26,31,37 representada como uma incógnita para
inúmeros pesquisadores, incluindo,
Legenda: TA: Transtornos de profissionais atuantes na área de estudos dos
Aprendizagem; DISL: Dislexia; DISC: Transtornos de Aprendizagem. Entretanto,
Discalculia; NR: Número de repetições; os estudos averiguados para a construção
EAA: Enzimas com alta atividade; EBA: deste artigo, demontraram que existem
Enzimas com baixa atividade. possíveis relações entre o código genético
de um indivíduo e a influência do ambiente
Sendo assim, é possível que a para com a resultância do expressamento
condição genética do indivíduo também não genômico específico, no qual, ocasiona
esteja só apenas relacionada alterações hormonais que provocam o
primordialmente com as alterações desencadeamento de algum Transtorno de
enzimáticas, mas também, a diminuição da Aprendizagem. Assimilou-se também, as
plasticidade encefálica. Esta diminuição relações enzimáticas que estão envolvidas
refere-se ao de exposição ao estresse, que no processo de catabolismo ou anabolismo
ocasionalmente eleva os níveis de cortisol de hormônios que comprometem a função

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endócrina de um indivíduo, sendo as que 6. CANDIDO, M. R. Concepts and
possuem semelhança em seu mecanismo de prejudices on mental disorders: a
ação (MAOA e SERT para TDAH, TDE, necessary debate. SMAD, Rev. Eletrônica
TDM e a Proteína 2 para DISL e DISC) Saúde Mental Álcool Drog, vol 8 - mar
algumas dessas alterações podem vir a ser 2012.
proveniente de uma redução significativa 7. CAPELLINI, S. A. et all.; Desempenho
dos níveis de BDNF circulantes, em consciência fonológica, memória
ocasionadas por uma exposição intensa ao operacional, leitura e escrita na dislexia
stress que eleva a concentração do cortisol. familial. Pró-Fono R. Atual. Cient., Barueri
Com estas informações, é notável que as , v. 19, n. 4, p. 374-380 - dez 2007.
transcrições gênicas derivadas de uma 8. CIRCUNVIS, B. C; SOUZA, B. F. B;
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