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A biologia molecular contribuindo


para a compreensão e a prevenção
das doenças hereditárias

Molecular biology contribution


to the understanding and prevention
of genetic disorders

Mayana Zatz 1

Abstract The sequencing of the human Resumo O fim do seqüenciamento do geno-


genome raised many questions such as: How ma humano levanta inúmeras questões: Como
the human genome project will influence our o projeto genoma humano vai influenciar nos-
lives? How the medicine will benefit from the sas vidas? Como a medicina tem se beneficia-
study of genes ? What are the application in do do estudo dos genes? Quais são as aplica-
practice and what can we expect from the fu- ções práticas imediatas e o que se espera para o
ture? What are the ethical implications? This futuro? Quais são as implicações éticas? Este
chapter illustrates how genetic diseases, such capítulo ilustra como as doenças genéticas têm
as neuromuscular disorders are contributing contribuído para a compreensão do genoma
to our understanding of the human genome. It humano. Ajuda-nos a entender como nossos
helps us to start to understand how our genes genes funcionam quando normais e por que
work and why they cause diseases when mu- causam doenças quando alterados. Do ponto
tated. One of the practical application of study- de vista prático, o estudo dos genes tem permi-
ing genes is the improvement of molecular di- tido o diagnóstico molecular para um núme-
agnosis for a growing number of disorders ro crescente de patologias, o que é fundamen-
which is of utmost importance to avoid other tal para evitar outros exames invasivos, iden-
invasive exams, identify “at risk” couples and tificar casais em risco, e prevenir o nascimen-
prevent the birth of new cases (through genet- to de novos afetados. Além disso, discute-se
ic counseling and prenatal diagnosis). Potential quais são as perspectivas futuras em relação ao
new treatments for neuromuscular and other tratamento destas e de outras patologias gené-
genetic disorders including therapeutic cloning, ticas incluindo a clonagem para fins terapêu-
the use of stem cells and the ethical implica- ticos e a utilização de células-tronco. Final-
tion of genetic tests are also discussed. The ben- mente aborda as implicações éticas relaciona-
efit of each test, in particular for disorders of das ao uso de testes genéticos. Os benefícios de
late onset for which there is still no treatment cada teste, principalmente para doenças de iní-
have to be exhaustively discussed with the con- cio tardio para as quais ainda não há trata-
1 Departamento de
Biologia, Instituto de
sulents before their application mento, têm que ser discutidos exaustivamen-
Biociências, Universidade Key words Human genome, Molecular diag- te com os consulentes antes de sua aplicação.
de São Paulo (IBUSP). nosis, Neuromuscular disorders, Therapeutic Palavras-chave Genoma humano, Diagnós-
Rua do Matão, 277,
Cidade Universitária,
cloning, Stem cells, Ethical issues tico molecular, Doenças neuromusculares, Clo-
05508-900, São Paulo SP. nagem terapêutica, Células-tronco, Aspectos
mayazatz@usp.br éticos
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Introdução responsáveis por mais de 30 formas de distro-


fia, cuja herança pode ser autossômica domi-
O grande acontecimento do ano 2001 foi, sem nante, autossômica recessiva e ligada ao X.
dúvida, o anúncio de que o sequenciamento do Além disso, sabe-se que existem formas ainda
Genoma Humano está quase completo. A mí- não identificadas. Os avanços da biologia mo-
dia não se cansou de repetir que os conheci- lecular na última década revolucionaram nos-
mentos gerados irão revolucionar a medicina. sos conhecimentos e começam a responder
Entretanto, fala-se muito pouco a respeito das perguntas fundamentais tais como: Qual é o
aplicações imediatas deste grande feito científi- defeito básico? O que leva os músculos a dege-
co. Como o projeto Genoma Humano vai in- nerar? Como explicar a heterogeneidade gené-
fluenciar nossas vidas? Como a medicina tem tica, isto é, como mutações em genes diferentes
se beneficiado do estudo dos genes? O que podem resultar em um mesmo fenótipo? Ou,
existe de prático e o que se espera para o futu- ao contrário, como mutações em um mesmo
ro? Quais são as implicações éticas? gene podem levar a quadros clínicos diferen-
Na realidade, o anúncio do sequenciamento tes? Por outro lado, a análise molecular levan-
do genoma humano ainda não trouxe respos- tou outras questões intrigantes. Por exemplo,
tas para questões fundamentais como: Quan- tem-se observado em um número crescente de
tos genes temos na realidade? Será que são real- doenças que pacientes com a mesma mutação
mente 30.000, ou mais? Quantas proteínas são podem ter quadros clínicos totalmente dife-
codificadas por estes genes? Como os genes in- rentes (McNally et al., 1996; Passos-Bueno et
teragem entre si e com o ambiente? Quanto os al., 1999) ou que alguns genes autossômicos
nossos genes determinam a nossa personalida- afetam mais um sexo do que o outro (Ikeuchi
de e o nosso comportamento? Cada questão et al., 1996; Iughetti et al., 1996; Zatz et al.,
respondida abre um leque de novas questões, 1997; 1998). A explicação para estas observa-
inclusive do ponto de vista ético, como vere- ções, além de fascinante, será extremamente
mos a seguir com o exemplo das doenças neu- importante para futuros tratamentos.
romusculares. Ainda estamos na ponta do ice-
berg, mas a aventura promete ser fascinante.
Por outro lado, a biologia molecular tem As distrofias de Duchenne e Becker
contribuído de maneira significativa para a
compreensão de como nossos genes funcio- Dentre as diferentes miopatias, a distrofia de
nam, quando normais e por que causam doen- Duchenne (DMD) de herança recessiva ligada
ças quando alterados. Além disso, o diagnósti- ao cromossomo X é a mais comum, com uma
co molecular para um número crescente de pa- incidência de 1 em cada 3.000 nascimentos de
tologia tem sido fantástico para evitar outros sexo masculino (Emery, 1993). Já a distrofia ti-
exames invasivos, identificar casais em risco e po Becker (DMB), alélica à DMD (isto é, loca-
prevenir o nascimento de novos afetados (a par- lizada no mesmo loco que a DMD), é cerca de
tir do aconselhamento genético e do diagnósti- 10 vezes mais rara. A diferença entre essas duas
co pré-natal). Entender como nossos genes formas está na idade de início e velocidade de
funcionam é o primeiro passo para o trata- progressão. Na DMD, os sinais clínicos ini-
mento dessas patologias. Mas enquanto busca- ciam-se entre 3-5 anos de idade (com quedas
mos a prevenção e obviamente a cura, temos freqüentes, dificuldades para subir escadas,
também um compromisso ético em relação ao correr e levantar do chão), o confinamento à
uso de testes genéticos que devem ser discuti- cadeira de rodas se dá até os 12 anos de idade e
dos com os consulentes antes de serem realiza- os afetados raramente sobrevivem após a ter-
dos. ceira década. Já na DMB, os sintomas iniciam-
se em geral na segunda década, os afetados
sempre andam após os 16 anos e a velocidade
As distrofias musculares progressivas de progressão é extremamente variável. Cerca
de 30-50% dos pacientes com DMD têm retar-
As distrofias musculares progressivas consti- do mental cujas causam ainda estão sendo in-
tuem um grupo de doenças, caracterizadas por vestigadas (Rapaport, 1991; Rapaport et al.,
uma degeneração progressiva e irreversível da 1992).
musculatura esquelética, e que tem sido objeto Pacientes com DMD e DMB têm um au-
de muitas pesquisas. Já foram mapeados genes mento significante (até 2.000 vezes os valores
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normais) da enzima creatino-quinase (CK) no sociadas à membrana, e, portanto, deleções


soro sanguíneo que é liberada do músculo dis- nessa região levam quase sempre a um quadro
trófico, mesmo antes do aparecimento dos si- grave de DMD. Por outro lado, deleções de até
nais clínicos (Zatz et al., 1976; 2001). Entretan- 50% do gene podem estar associadas a um
to, até a década de 1980, não se tinha idéia acer- quadro benigno desde que estejam restritas à
ca do mecanismo molecular que causava estas região central do gene (Passos-Bueno et al.,
distrofias e nem se a forma grave de Duchenne 1994). O quadro leve explica-se porque se a de-
e a variante mais leve de Becker eram causadas leção está restrita ao domínio em bastão da dis-
por um único gene ou dois independentes. trofina, mesmo que se tenha um encurtamento
Após a localização do gene da DMD/DMB dessa proteína, os sítios de ligação não ficam
no braço curto do cromossomo X, em 1981, do alterados, permitindo uma função parcial. Este
qual nosso grupo participou (Zatz et al., 1981), estudo de correlação genótipo:fenótipo dentro
descobriu-se em 1984, que os genes da DMD e do gene da distrofina e a caracterização da fun-
DMB eram alelos, isto é ocupavam o mesmo ção de cada domínio da proteína tem sido fun-
loco no cromossomo X. Mas foi só após a clo- damental para futuras tentativas em terapia gê-
nagem do gene DMD/DMB em 1987 (Koenig nica, utilizando-se minigenes funcionais.
et al., 1987; 1989) que o produto gênico foi
identificado: uma proteína do citoesqueleto da
membrana, que foi denominada distrofina Aspectos genéticos
(Hoffman et al., 1987; 1988), e cuja função
mais provável seria o de manter a estabilidade Cerca de 1/3 dos casos de DMD são causados
da membrana da célula muscular. por mutações novas (Zatz et al., 1977), e os res-
Hoje sabe-se que as mutações que causam tantes 2/3 são herdados de mães portadoras. A
DMD ou DMB são deleções no gene da distrofi- maioria (mais de 90%) das mulheres portado-
na em cerca de 60% dos casos, duplicações em ras de mutações no gene da distrofina é assin-
5-6% dos casos e mutações de ponto (em uma tomática (Emery, 1993). Entretanto tem um
única base ou nucleotídeo do DNA) nos casos risco de 50% de passar o gene defeituoso para
restantes (Koenig et al., 1989; Lindlöf et al., a sua descendência, isto é, metade dos filhos
1989). A diferença entre a DMD e a DMB de- pode ser afetada e metade das filhas portado-
pende da manutenção ou não do quadro de ras, porém clinicamente normais. Outro aspec-
leitura do RNA mensageiro (RNAm). Na to importante (observado por nosso grupo e
DMB, a deleção é em fase, isto é, o quadro de pesquisadores da Holanda) é o mosaicismo go-
leitura do RNAm é mantido e tem-se como re- nadal. Isto é, aproximadamente 10% das mães
sultado uma proteína quantitativamente redu- de casos isolados de DMD, nas quais não foi
zida ou deletada internamente, mas em parte detectada mutação no sangue periférico, po-
funcional. Já na DMD, a deleção é fora de fase, dem ser portadoras da mutação na linhagem
isto é, o quadro de leitura do RNAm não é germinativa (Passos-Bueno et al., 1990; 1992).
mantido, tem-se uma proteína severamente Estas mulheres têm um risco aumentado de vir
truncada e que é rapidamente destruída pela a ter filhos afetados pela DMD.
célula (Monaco et al., 1988).
O estudo de mais de 1.000 pacientes com
DMD/DMB em nosso laboratório (Takata, Diagnóstico e aconselhamento genético
1995) mostrou que cerca de 60% dentre eles
(tanto os casos de DMD como de DMB) têm Diagnóstico
deleções no gene da distrofina. Além da manu-
tenção do quadro de leitura do RNAm, o sítio O exame de DNA em sangue periférico (ou
da deleção é muito importante na determina- em raspado de mucosa bucal) tem sido muito
ção da severidade do quadro clínico. Por importante para o diagnóstico, evitando, em
exemplo, deleções nas regiões de ligação da muitos casos, a realização de exames invasivos
distrofina a outras proteínas (regiões C termi- como a biopsia muscular ou a eletroneuromio-
nal e N-terminal) resultam na maioria dos ca- grafia (que além de ser um exame doloroso não
sos em quadro mais grave (Vainzof et al., 1990; auxilia no diagnóstico diferencial entre as vá-
1993a; 1993b). A região C terminal, em parti- rias formas de distrofias). Do ponto de vista
cular, é fundamental porque constitui o ponto prático, em casos suspeitos os passos a serem
de ligação da distrofina com glicoproteínas as- seguidos para o diagnóstico são os seguintes:
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1) Dosagem de CK no soro: se aumentado em sangue periférico, o risco de que seja porta-


sugere o diagnóstico de distrofia muscular (Zatz dora é desprezível.
et al.,1976). 2) O paciente é caso isolado e não tem de-
2) Análise de DNA: pesquisa de deleção no leção no gene da distrofina
gene da distrofina; se for encontrada deleção Nestes casos compara-se o cromossomo X
confirma-se o diagnóstico de DMD/DMB. (através de marcadores polimórficos de DNA
3) Biopsia muscular: é indicada se não for ao longo do gene da distrofina) do afetado com
encontrada deleção no gene da distrofina, se outros indivíduos da genealogia. As pessoas a
não houver história familiar de herança reces- serem analisadas e a estimativa de risco genéti-
siva ligada ao cromossomo X ou em crianças co dependem da estrutura da família.
que são casos isolados, nas fases iniciais, para 3) Existe história familiar compatível com
um diagnóstico diferencial entre DMD e DMB. herança ligada ao X
A primeira proteína a ser pesquisada é a distro- Nesta situação todas as mães de afetados
fina, pela técnica de imunofluorescência e wes- são portadoras certas do gene (risco de 50%
tern blot (Vainzof et al., 1990; 1993a). Os pos- para descendentes de sexo masculino) e todas
síveis resultados são: as irmãs têm risco de 50% de serem portadoras
a) distrofina ausente: confirma-se o diag- (Zatz et al., 1989). O exame de DNA a ser rea-
nóstico de distrofia de Duchenne; lizado vai depender da presença ou não de de-
b) distrofina quantitativamente diminuída leção no afetado.
ou com peso molecular diminuído (através de
análise por western blot): o diagnóstico de dis-
trofia tipo Becker é o mais provável; Distrofias tipo cinturas
c) distrofina normal: pode tratar-se de dis-
trofia tipo cinturas ou outra forma de distrofia As distrofias tipo cinturas (“limb-girdle mus-
muscular. O passo seguinte é analisar as dife- cular dystrophies”) constituem um grupo he-
rentes proteínas associadas às formas autossô- terogêneo de doenças caracterizadas por uma
micas recessivas tais como as sarcoglicanas, a fraqueza proximal das cinturas dos membros
calpaina-3, a disferlina, a teletonina em biopsia (cintura pélvica e escapular) e do tronco, sem
muscular (Anderson et al., 1998; 1999; Spencer comprometimento dos músculos faciais ou da
et al., 1997; Vainzof et al., 1996). inteligência. Já foram identificados 15 genes
responsáveis por este quadro clínico, seis com
Estimativas de riscos genéticos herança autossômica dominante e nove com
herança autossômica recessiva (Bushby, 1999;
Para identificação de portadoras e estimati- Moreira et al., 1997; Neuromuscular Disor-
vas de riscos genéticos os passos a serem segui- ders, 2000; Weiler et al., 1998). É um exemplo
dos são: de heterogeneidade genética não-alélica, isto é,
1) O paciente é caso isolado e tem deleção genes diferentes resultando em um fenótipo se-
no gene da distrofina melhante. As formas dominantes são relativa-
a) Se a mãe (e/ou irmã do afetado) for por- mente raras e constituem menos de 10% dos
tadora da deleção confirma-se que é (são) hete- casos (Bushby, 1999; Passos-Bueno et al., 1999;
rozigota(s). Neste caso há risco de 50% de vir a Zatz et al., 2000).
ter filhos afetados e filhas portadoras. É possí- Dentre as formas recessivas, distingue-se
vel realizar diagnóstico pré-natal de certeza um subgrupo, as sarcoglicanopatias, normal-
através da análise de DNA extraído de vilosida- mente associadas a um quadro clínico, em ge-
des coriônicas, ao redor de 10 semanas de ges- ral, mais severo, semelhante à forma Duchen-
tação. ne. Por este motivo, estas formas também são
b) Se a mãe não tiver deleção em sangue classificadas como “Duchenne-like” (Azibi et
periférico existe ainda um risco de mosaicismo al., 1993; Passos-Bueno et al., 1999). Existem
gonadal que varia de acordo com o sítio da de- quatro formas de sarcoglicanopatias, causadas
leção (Passos-Bueno et al., 1992). Se for no iní- por mutações nos genes que codificam quatro
cio do gene, o risco para um feto de sexo mas- glicoproteinas associadas a distrofina forman-
culino é de cerca de 15%; se for na região cen- do o complexo distrofina-glicoproteinas asso-
tral do gene, o risco para um feto de sexo mas- ciadas. São elas: a LGMD2C que codifica a γ -
culino é de cerca de 2%. sarcoglicana, a LGMD2D, que codifica a α-sar-
c) Se uma irmã de afetado não tiver deleção coglicana, a LGMD2E que codifica a β-sarco-
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glicana e a LGMD2F que codifica a δ sarcogli- cer et al., 1997; Baghdiguian et al., 1999). Den-
cana (Azibi et al., 1993; Ben Othmane et al., tre as distrofias de cinturas de herança AR, a
1992; Bonnemann et al., 1995; Lim et al., 1995; LGMD2A é a única forma descrita até o mo-
McNally et al., 1996; Nigro et al., 1996; Passos- mento cujo produto gênico é uma proteína
Bueno et al., 1995; 1996; Roberds et al., 1994). com propriedades enzimáticas e não uma pro-
Como estas quatro proteínas estão interligadas teína estrutural. A função da calpaina-3 ainda
(Ervasti & Campbell, 1991; Vainzof et al., 1996; não está completamente esclarecida, mas tra-
1999b) uma mutação que cause ausência de balhos recentes sugerem que ela poderia estar
qualquer uma das sarcoglicanas provoca uma associada a uma cadeia de eventos levando à
desagregação de todo o complexo, resultando apoptose. O gene da calpaina tem 24 exons (re-
geralmente em um quadro severo de distrofia. giões codificadoras do DNA, isto é, que são
Esta observação explica como mutações em ge- traduzidas em proteínas) e até o presente já fo-
nes diferentes podem causar um mesmo qua- ram descritas cerca de 100 mutações patogêni-
dro clínico. cas que causam a LGMD2A (Richard et al.,
Com exceção da forma LGMD2D, cujo 1999). A maioria delas (70%) são únicas em
quadro clínico é muito variável as outras três cada família, o que torna extremamente difícil
sarcoglicanopatias geralmente mostram uma o diagnóstico desta forma de distrofia a partir
evolução rápida, e os pacientes dificilmente do estudo molecular, em casos isolados. Entre-
conseguem andar após os 16 anos de idade tanto, a análise molecular de pacientes brasilei-
(Moreira et al., 1998; Passos-Bueno et al., 1995 ros realizada no nosso laboratório (dados ain-
1996; Zatz et al., 2000). Entretanto, existem ex- da não publicados) tem mostrado que existem
ceções e já foram identificados pacientes com mutações recorrentes e que a análise de 5 exons
um quadro mais benigno pertencentes a qual- permite confirmar o diagnóstico em mais de
quer uma das sarcoglicanopatias. A enzima CK 70% dos casos (De Paula e col., manuscrito em
também se apresenta muito elevada no soro, preparação). Além da importância prática, o
principalmente nas fases iniciais. A maioria estudo da origem das mutações para diferentes
dos pacientes tem hipertrofia de panturrilhas doenças genéticas tem sido muito importante
quando na fase ambulatória. Quando o pacien- em genética de populações. Além disso, a pos-
te é do sexo masculino e não existe história fa- sibilidade recente de se estudar a expressão da
miliar o diagnóstico clínico é indistinguível da calpaina-3 em biopsia muscular tem sido va-
forma Duchenne ligada ao cromossomo X. Por liosa para confirmação clínica e estudos de cor-
outro lado, em meninas afetadas, que são casos relações genótipo:fenótipo. Estudos realizados
isolados, deve excluir-se uma distrofinopatia. em nossos pacientes (Mariz Vainzof, comuni-
Em todos esses casos, a confirmação do diag- cação pessoal) mostraram que a calpaina en-
nóstico depende da análise das proteínas dis- contra-se totalmente deficiente em cerca de
trofina e sarcoglicanas em biopsia muscular e 70% dos pacientes com LGMD2A e parcial-
da análise de DNA. mente deficiente nos outros 30%. Entretanto,
Nas distrofias tipo cinturas não-sarcoglica- um fato intrigante, é que embora haja uma
nas, o quadro clínico geralmente é mais benig- correlação entre tipo de mutação, presença ou
no e a maioria dos afetados consegue deambu- não da proteína calpaina e gravidade do qua-
lar após os 16 anos (Passos-Bueno et al., 1996; dro clínico há sempre exceções. Isto indica cla-
Zatz et al., 2000) embora o quadro também se- ramente a existência de outros fatores que mo-
ja muito variável. As formas já mapeadas são: dificam a ação primária dos genes.
1) LGMD2A, no braço longo do cromosso- 2) LGMD2B, em 2p (no braço curto do
mo 15 (Beckmann et al., 1991), que codifica a cromossomo 2), codifica a proteína disferlina,
enzima calpaina-3, também denominada cal- é também classificada como disferlinopatia
painopatia (CAPN3). A maioria dos pacientes (DYSF) (Bashir et al., 1998; Liu et al., 1998;
tem hipertrofia de panturrilhas e consegue an- Anderson et al., 1999). Clinicamente, esta for-
dar nas pontas dos pés, mas não nos calcanha- ma de distrofia é em geral mais benigna, mas
res nas fases iniciais do processo. A enzima sé- também apresenta grande variabilidade inter e
rica CK apresenta um aumento médio de 19 intrafamilial. A hipertrofia de panturrilhas é
vezes, variando entre 2 e 93 (Zatz et al., 2001). rara nesta forma de distrofia e observa-se co-
As calpainas são proteases e a forma especí- mumente uma atrofia distal. Uma observação
fica do músculo, a calpaina-3, é uma protease interessante é que freqüentemente os pacientes
ativada pelo cálcio (Richard et al., 1995; Spen- perdem a capacidade para andar nas pontas
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dos pés antes de perder a capacidade para an- gene, SMN1 (survival motor neuron). O gene
dar nos calcanhares. Os níveis séricos da enzi- SMN1 e uma cópia quase idêntica (SMN2) es-
ma CK podem estar muito elevados (em média tão localizados em 5p13 e codificam proteínas
36 vezes acima do normal, variando entre 3 e idênticas. Entretanto a cópia SMN2 sofre um
211 vezes) principalmente nos estágios iniciais processamento alternativo do exon 7 levando a
(Zatz et al., 2000; 2001). produção de uma proteína truncada. A maio-
A função da proteína disferlina na patolo- ria dos pacientes tem deleções (nos exons 7 e
gia da distrofia tipo 2B permanece desconheci- ou 7/8) do gene SMN1 e aparentemente a seve-
da. No músculo esquelético humano a disferli- ridade do fenótipo é modulada pelo número
na localiza-se na membrana da fibra muscular de cópias de SMN2.
e mostrou-se deficiente em pacientes afetados O estudo molecular do gene SMN1 em 281
por esta forma de distrofia. O gene da disferli- pacientes brasileiros com diagnóstico de AEP
na é muito grande (tem cerca de 55 exons) o mostrou a seguinte freqüência de deleções: 34
que torna, do mesmo modo que na LGMD2A, em 43 (~80 %) no grupo I; 51 em 101 (~50 %)
o diagnóstico molecular extremamente difícil, no grupo II; e 23 em 54 (42.6%) no grupo III.
através da análise de DNA, em pacientes isola- Além disso, a análise de DNA extraído de vilo-
dos. Portanto, hoje o diagnóstico diferencial sidades coriônicas em 16 casos encaminhados
desta forma de distrofia baseia-se no estudo da para o nosso laboratório para diagnóstico pré-
proteína disferlina em biópsias musculares. natal, mostrou que quatro fetos eram portado-
3) LGMD2G, mapeada em 17q (Moreira et res de deleção no gene SMN.
al., 1997). Esta forma de distrofia foi mapeada Pacientes afetados por DMC e AEP podem
em uma família brasileira. O quadro clínico é ter um quadro clínico muito semelhante, prin-
bastante variável, com a idade de início varian- cipalmente nas formas adultas. Além disso, a
do de 9 a 15 anos, e aumento da enzima sérica atividade da enzima sérica CK pode apresen-
CK de 10 a 30 vezes acima do normal. Os afe- tar-se aumentada nas AEPs, com valores seme-
tados apresentam uma fraqueza importante na lhantes aos encontrados nas DMC. Na prática,
musculatura proximal e podem ou não ter a análise molecular do gene SMN tem se mos-
atrofia distal. Isto é, clinicamente o fenótipo trado extremamente importante para confir-
pode ser semelhante à forma LGMD2A ou mação do diagnóstico clínico e diagnóstico di-
LGMD2B (Zatz et al., 2000). ferencial sem necessidade de exames mais in-
Recentemente o produto gênico foi identi- vasivos.
ficado também no nosso laboratório. Trata-se
da proteína sarcomêrica telotonina cuja fun-
ção também ainda não é conhecida (Moreira et Diagnóstico diferencial nas DMPs
al., 1998). O gene da telotonina é pequeno (tem e Aconselhamento Genético
só dois exons), e, portanto, é viável em casos
suspeitos fazer uma triagem de mutações para Em pacientes isolados, nos quais o estudo de
confirmação de diagnóstico. DNA exclui uma distrofinopatia, o estudo de
proteínas musculares é fundamental para dife-
renciar este grupo de distrofias, das formas de
Diagnóstico diferencial entre herança ligada ao X, para o aconselhamento
distrofias tipo cinturas e atrofia genético, como exemplificado abaixo:
espinhal progressiva (AEP) 1) Nas formas AR, pais de crianças afetadas
têm um risco de 25% de vir a ter outro descen-
As atrofias espinhais progressivas (AEP), de dente afetado, independentemente do sexo,
herança autossômica recessiva, constituem a enquanto nas distrofinopatias ligadas ao X só
forma mais comum de doença do neurônio existe risco para descendentes de sexo masculi-
motor em crianças e jovens adultos. Sua inci- no.
dência é de cerca de 1/10.000 e a freqüência de 2) O risco para a descendência de irmãs
heterozigotos de cerca de 1/50. As AEPs são normais de afetados nas formas AR é desprezí-
classificadas em três grupos: tipo I ou Werd- vel (desde que não se casem com consangüí-
nig-Hoffmann (WH), que é a mais severa; tipo neo) e pode ser de até 50% na DMD/DMB, in-
II ou forma intermediária; tipo III ou Kugel- dependentemente de casamento (se a irmã for
berg-Welander (KW) que é a menos grave. As portadora da mutação presente no seu irmão).
três formas são condicionadas por um mesmo 3) No caso de herança AR, só existe risco
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para aquele casal, enquanto na DMD/DMB, se ros tratamentos.


a mãe do afetado for portadora, o risco para a Apesar do gene responsável pela DFSH ain-
sua futura prole independe do casamento. da não ter sido isolado, o mecanismo molecu-
lar proposto para explicar esta miopatia seria
uma deleção de um número integral de cópias
Distrofia fácio-escápulo-humeral de uma seqüência de 3.3kb “em tandem”. Su-
(DFSH) gere-se que a função do gene FSHD poderia es-
tar alterada (ou “aumentada”) devido a um
Essa forma de distrofia, de herança autossômi- efeito de posição ou à perda das repetições de
ca dominante, caracteriza-se por um envolvi- 3.3kb. Nesse sentido, deleções maiores leva-
mento predominante da musculatura facial e riam a uma desativação desse gene proximal
da cintura escapular, com uma grande variabili- em uma proporção maior de células. É possível
dade inter e intrafamilial (Van Deutekom, também que o gene estrutural da DFSH pro-
1996). duza transcritos alternativos distintos em dife-
Alguns pacientes têm uma forma extrema- rentes tecidos musculares ou de acordo com a
mente leve que pode se limitar a uma fraqueza idade (Van Deutekom,1996).
na face ou na cintura escapular durante a vida Do ponto de vista prático de aconselha-
toda enquanto outros podem ter início na in- mento genético, é importante salientar que en-
fância e uma progressão rápida com perda pre- quanto o gene não for clonado, a análise do
coce da ambulação. Em média, entretanto, a fragmento 4q35 só é possível: a) em famílias
progressão é muito lenta e a maioria dos pa- com múltiplos afetados ou b) nos casos isola-
cientes tem uma sobrevida normal. dos, quando for possível confirmar que um
O gene da DFSH foi localizado no cromos- fragmento de tamanho reduzido encontrado
somo 4, mas o mecanismo molecular ainda no probando está ausente nos seus pais. Por
não é conhecido. Nos pacientes afetados ocor- outro lado, sabe-se que pacientes afetados têm
re uma deleção de seqüências repetidas de um risco de 50% de passar o gene defeituoso
3.3kb. Existe uma correlação entre o tamanho para a sua descendência. Entretanto, o aconse-
da deleção e a severidade do quadro clínico lhamento genético nas famílias em risco é
embora numa mesma família todos os afetados complexo, pois deve levar-se em conta a possi-
tenham a mesma deleção (Lunt et al., 1995; bilidade de antecipação clínica e também a di-
Wijmenga et al., 1990; 1992). ferença de manifestação de acordo com o sexo
Pesquisas em famílias brasileiras com FSHD do afetado. Isto é, não é possível prever a seve-
mostraram que: a) cerca de 1/3 dos casos são ridade do quadro clínico em crianças portado-
resultantes de mutações novas; b) a análise de ras da mutação. Por este motivo, do ponto de
famílias com duas ou mais gerações sugere que vista ético, a conduta tem sido de não testar
a antecipação (agravamento do quadro clínico crianças assintomáticas em risco enquanto não
em gerações subseqüentes) pode ocorrer nesta houver um tratamento preventivo.
forma de distrofia; c) os casos mais graves são
geralmente resultantes de mutações novas ou
de herança materna (Zatz et al., 1995; 1998). Distrofia miotônica de Steinert
Outro achado intrigante é que, apesar de se
tratar de um gene autossômico dominante (e A distrofia miotônica de Steinert (DMS), uma
que, portanto, deveria afetar igualmente os dois patologia multissistêmica, é a forma mais co-
sexos), observamos que o sexo masculino é mais mum de distrofia muscular do adulto com
freqüentemente e, em média, mais severamen- uma incidência estimada em 1 em cada 8.500
te afetado do que o sexo feminino (Zatz et al., indivíduos. A herança é autossômica dominan-
1998). O estudo molecular de pacientes brasi- te e a idade de início pode variar desde o nasci-
leiros mostrou que esta diferença sexual na fre- mento (distrofia miotônica congênita) até após
qüência de afetados é devida a uma proporção os 60 anos de idade com quadro clínico extre-
significantemente maior de mulheres portado- mamente variável. Uma característica impor-
ras da deleção e que permanecem assintomáti- tante é a presença de antecipação clínica, isto é,
cas. Ainda não se tem uma explicação para es- em genealogias com várias gerações observa-se
tes achados, mas compreender por que as mu- um aparente aumento de severidade (e/ou ida-
lheres são, em média, menos afetadas do que de de início mais precoce) em gerações sucessi-
os homens vai ser muito importante para futu- vas.
92

De acordo com a idade de início e os sinto- 37 repetições (CTG) n. Pacientes afetados po-
mas, os afetados são classificados em diferentes dem ter de 50 até 8.000 repetições e existe uma
subgrupos (Harper & Dyken, 1972; Harper, correlação entre o tamanho da expansão em
1989), a seguir discriminados: DNA de sangue periférico e a severidade do
1) Forma tardia, leve ou senil, com início quadro clínico. Este tipo novo de mutação foi
geralmente após os 50 anos. Os sinais clínicos denominado mutação dinâmica e hoje se co-
podem limitar-se a uma catarata, calvície fron- nhecem várias doenças que são causadas por
tal com um mínimo ou sem comprometimen- este mecanismo patológico, isto é, por genes
to muscular. dinâmicos (como a Coréia de Huntington, as
2) Forma clássica, com início na adolescên- várias formas de ataxias espinocerebelares e a
cia ou na terceira década, caracterizada por fra- doença de Kennedy entre outras).
queza e atrofia muscular da musculatura es- Quando o gene se torna instável, existe
quelética, fenômeno miotônico (dificuldade uma tendência para um aumento da expansão
para relaxar os músculos quando contraídos, em gerações sucessivas, o que fornece uma ex-
particularmente abrir as mãos), calvície frontal plicação biológica para o fenômeno da anteci-
precoce principalmente no sexo masculino, pação (Ashizawa et al., 1992a; 1992b; Harley et
atrofia testicular, podendo haver comprometi- al., 1992; Fu et al., 1992).
mento intelectual. Os sinais clínicos neste sub- Esta variabilidade no tamanho das expan-
grupo são extremamente variáveis, podendo sões explica as diferenças na severidade clínica
ocorrer diabete e comprometimento da mus- observada na DMS, isto é, como uma mutação,
culatura lisa com envolvimento gastrointesti- em um mesmo loco, pode resultar em fenóti-
nal e do trato urinário. Complicações cardía- pos tão distintos. Entretanto, é importante sa-
cas, particularmente defeitos de condução e ar- lientar que a correlação não é linear e, portan-
ritmias são freqüentes e constituem uma causa to, o tamanho da expansão CTG em sangue pe-
importante de óbito. Cerca de 80-85% dos pa- riférico não pode ser utilizado como prognós-
cientes com a forma clássica ou precoce têm al- tico da severidade clínica.
terações no eletrocardiograma. Além disso, o estudo de fetos portadores da
3) Forma severa infantil com início na pri- mutação mostrou uma grande variabilidade no
meira década com fraqueza facial, retardo men- tamanho da expansão em diferentes tecidos
tal importante e comprometimento muscular que confirma a heterogeneidade somática (An-
importante. vret et al., 1993; Ashizawa et al., 1993). Em pa-
4) Forma congênita grave com hipotonia cientes afetados, inclusive da população brasi-
grave ao nascimento, dificuldades respiratórias leira, observou-se que a expansão é sempre
e de deglutição, retardo mental importante e maior no músculo e fibroblastos (Thornton et
atraso no desenvolvimento motor. É interes- al., 1994; Passos-Bueno et al., 1995; Zatz et al.,
sante observar que geralmente a hipotonia e a 1995b; 1996) do que no sangue. Entretanto, os
função motora melhoram durante a primeira mecanismos que levariam a uma expansão te-
infância, mas os sintomas clássicos de distrofia cido-específica diferencial não são conhecidos.
miotônica tendem a reaparecer na segunda dé- Além disso, não observamos, principalmente
cada. em adultos, uma correlação entre o tamanho
Existem também casos atípicos onde se ob- da expansão no músculo e a expansão CTG no
serva, na primeira década, somente retardo sangue ou com a severidade do quadro clínico.
mental importante sem outros sinais clínicos, Observou-se também que existe uma expansão
indicando, portanto, a importância de se testar (CTG)n contínua com a idade (Martorel et al.,
este gene em casos onde foram excluídas ou- 1995), mas ainda não se sabe se esta explicaria
tras causas de retardo mental. o porquê da progressão da doença. De qual-
O mecanismo molecular responsável pela quer modo, esta heterogeneidade do tecido es-
DMS, cujo gene foi mapeado em 19q é uma ex- pecífica explica porque o tamanho da expan-
pansão de um trinucleotídeo (CTG)n na região são em sangue periférico não pode ser usado
3’ não-traduzida do gene que codifica uma como prognóstico clínico.
proteína quinase ou DM-PK (Aslanidis et al., A partir de experimentos em nível de DNA,
1992; Brewster et al., 1998; Brook et al., 1992; RNA e proteína, várias hipóteses foram pro-
Buxton et al., 1992; Fu et al., 1992; Harley et al., postas para explicar os mecanismos patológi-
1992a; Mahadevan et al., 1992; Novelli et al., cos resultantes da expansão CTG tais como: a)
1993a). Indivíduos normais podem ter de 5 até a expansão CTG levaria a um efeito de dose
93

monogênico, isto é, afetando somente a ex- repetições quando aparentemente o gene co-
pressão da DM-PK; b) a expansão afetaria a ex- meça a mostrar-se instável com tendência a ex-
pressão de vários genes simultaneamente, isto pandir-se.
é, seria uma síndrome causada por genes con- O estudo da transmissão do gene da DM
tíguos; c) a expansão CTG teria efeitos trans- em genealogias com várias gerações mostrou
dominantes em nível de RNA; d) a expansão que em cerca de 80% dos casos, observa-se an-
CTG teria efeitos detrimentais na função celu- tecipação clínica (isto é, o início é mais precoce
lar e na replicação celular. Existe, entretanto, e o quadro mais severo) acompanhada por um
muitos resultados conflitantes, já que estudos aumento médio da repetição CTG (no sangue
diferentes em pacientes afetados já descreve- periférico) em gerações sucessivas. Além disso,
ram um aumento, uma diminuição ou uma ex- os maiores aumentos são geralmente transmi-
pressão inalterada dos níveis de RNA do gene tidos pela mãe, o que explicaria porque a for-
DM-PK. Uma possível explicação para estes ma congênita é quase exclusivamente de ori-
achados disparatados é a grande dificuldade de gem materna.
se comparar pacientes com mesma idade, sexo Por outro lado, já foram descritos exem-
e grau semelhante de degeneração muscular. plos em que o tamanho da expansão no sangue
periférico era menor nos descendentes afeta-
Aspectos genéticos: dos do que na geração parental, isto é, há uma
transmissão e antecipação contração da expansão (Abeliovich et al., 1993;
Ashizawa et al., 1993; Brunner et al., 1993a).
A herança é autossômica dominante na Observou-se também que as contrações ocor-
DMS, e mutações novas são raras sugerindo rem mais freqüentemente na transmissão de
um efeito ancestral fundador. A penetrância, origem paterna (cerca de 10%) do que de ori-
entretanto, não é completa, pois, alguns indi- gem materna (cerca de 3%). Além disso, as
víduos com a mutação podem permanecer as- maiores expansões paternas têm maior tendên-
sintomáticos ou quase durante toda a vida. cia a se contrair durante a transmissão.
Curiosamente, existe diferença na trans- Os dados sugerem que existe um limite no
missão de acordo com o sexo (Ashizawa et al., número de repetições CTG em espermatozói-
1994a; 1994b; Carey et al., 1994; Chakraborty des viáveis, isto é, haveria uma seleção contra
et al., 1996; Cobo et al., 1993; Gennarelli et al., espermatozóides com expansões acima de um
1994; Jansen et al., 1994; Lavedan et al., 1993b; determinado tamanho (Jansen et al., 1994). Is-
Zatz et al., 1997). Uma delas é que a forma to explicaria porque descendentes de pais com
congênita grave é transmitida quase que exclu- expansões maiores do que 1.5kb tendem a ter
sivamente pelo sexo feminino. Por outro lado, expansões menores do que seus pais afetados.
existe um excesso significante de afetados do Além disso, homens com expansões grandes
sexo masculino, o que também foi confirmado são freqüentemente estéreis, impedindo, por-
por nós na população brasileira. Além disso, tanto, a transmissão destas para as gerações su-
esta distorção de segregação é mais evidente cessivas.
para descendentes de homens do que mulheres
com DMS. A observação de que o alelo muta- Heterogeneidade genética
do é mais freqüentemente transmitido para o
sexo masculino do que para o feminino fornece Na maioria das famílias (cerca de 98%)
uma explicação para o excesso de homens nas com afetados pela DMS, o estudo molecular
famílias de afetados. Outro achado interessan- confirma tratar-se do gene DM-PK. Entretan-
te é a baixa incidência da DMS observada por to, já foi mapeado um outro gene, em 3q, em
nós na população brasileira de origem africana uma família com vários afetados e quadro clí-
em comparação com a população caucasóide nico muito semelhante a DMS. Este gene foi
ou oriental. Esta observação suporta os acha- classificado como DM2 (ou DMS2) ou PROMM
dos de Goldman et al. (1994) que não identifi- (Ranum et al., 1998). Embora seu produto ain-
caram pacientes com DMS na população ne- da não tenha sido identificado, a observação de
gróide da África do Sul. De acordo com estes antecipação clínica sugere tratar-se também de
autores, a ausência de DMS nessa população um gene dinâmico, o que acaba de ser confir-
explica-se porque o número máximo de repeti- mado (Ranum et al., 2001, comunicação em
ções (CTG)n encontrada na população normal congresso).
foi de 22. Isto é, estaria abaixo do limite de 37 Portanto, em afetados nos quais não for en-
contrada expansão (CTG) no gene DM-PK é
94

importante suspeitar-se de heterogeneidade Perspectivas futuras e aspectos éticos


genética e testar o gene DMS2/PROMM.
Outras doenças em que ocorre miotonia in- O uso de células-tronco
cluem a miotonia de Thomsen, e a paramioto- e clonagem terapêutica
nia congênita, mas o diagnóstico diferencial é
muitas vezes possível por meio de estudos clíni- Como acabamos de ver, o estudo do Geno-
cos e/ou pelo modo de herança (Moxley, ma Humano vai nos ajudar a entender como
1996). nossos genes funcionam quando normais e pa-
tológicos, como interagem entre si e com o
Diagnóstico molecular ambiente. Vai ser fundamental para o desen-
e Aconselhamento Genético volvimento de novos tratamentos. A terapia
gênica, isto é, a substituição de um gene defei-
Em indivíduos clinicamente afetados, o tuoso por sua cópia normal, talvez demore um
diagnóstico molecular só pode ser confirmado pouco. Entretanto, recentemente, descobriu-se
por técnica de Southern blot, pois expansões que células ainda não-diferenciadas (stem cells
grandes não são visíveis através de PCR (rea- ou células-tronco) presentes, por exemplo, na
ção em cadeia da polimerase). Nas pessoas em medula óssea ou no cordão umbilical de um
risco (assintomáticas), o diagnóstico molecular recém-nascido podem manter a capacidade de
pode ser iniciado por técnica de PCR e de acor- diferenciar-se em outros tecidos como o mus-
do com os resultados, confirmado através de cular ou nervoso. Esta descoberta abre novas
técnica de Southern blot. Por exemplo, em in- esperanças de tratamento para inúmeras doen-
divíduos normais, que são heterozigotos para o ças hematológicas e degenerativas como as
número de repetições CTG, observam-se duas doenças neuromusculares, pois permitirá que
bandas nítidas através de técnica de PCR. En- células normais de um doador externo (trans-
tretanto, uma única banda pode ser observada plante heterólogo) ou que células modificadas
tanto em indivíduos normais homozigotos (is- do próprio indivíduo doentes (transplante au-
to é, onde os dois alelos têm o mesmo número tólogo) sejam capazes de atingir todos os ór-
de repetições CTG) como em indivíduos afeta- gãos e tecidos afetados através da corrente san-
dos (pois alelos expandidos não são visualiza- güínea. Portanto, estabelecer bancos de cor-
dos pela técnica de PCR). dões em vários estados brasileiros é hoje uma
Portanto, toda vez que for observada uma prioridade, principalmente considerando-se a
única banda em um caso suspeito, o resultado sua importância e utilidade já comprovada no
precisa ser confirmado por técnica de Southern caso de doenças hematológicas.
blot. Entretanto, o uso de embriões para obten-
O aconselhamento genético em famílias de ção de células-tronco (clonagem terapêutica)
afetados é complexo, pois a confirmação do tem gerado muitas discussões. As pesquisas
diagnóstico, principalmente em indivíduos as- com embriões de até 14 dias, para clonagem te-
sintomáticos ou pouco afetados é dificilmente rapêutica, foram permitidas na Grã Bretanha.
aceita e o apoio psicológico é muitas vezes ne- É importante salientar que, ao contrário da
cessário. Por outro lado, o diagnóstico precoce clonagem reprodutiva, estes embriões nunca
é importante para prevenir as complicações serão implantados no útero, mas sim direcio-
cardíacas que são freqüentes nos afetados. Além nados para fabricar tecidos ou órgãos e não no-
disso, é importante alertar mulheres portadoras vas vidas humanas.
do alelo mutado em relação ao maior risco de Sabemos que milhares de embriões, gera-
ter descendentes com a forma congênita grave. dos por casais que procuram clínicas de fertili-
O diagnóstico pré-natal também é possível zação, são descartados todo ano. Por que não
através da análise da expansão CTG em DNA utilizá-los para tentar salvar vidas?
extraído de vilosidades coriônicas. Entretanto, Pesquisas recentes mostram resultados que
não é possível prever qual será a gravidade do parecem muito promissores. Um grupo israe-
quadro clínico em um feto portador da muta- lense mostrou recentemente (Kehat et al.,
ção particularmente levando-se em conta a 2001) que células embrionárias em cultura
grande heterogeneidade somática no tamanho conseguem transformar-se em células cardía-
da expansão. cas, o que abre possibilidades terapêuticas
enormes tanto para patologias genéticas como
para doenças adquiridas.
95

Entretanto, os argumentos contra o uso de dia potencialmente tratáveis.


embriões para clonagem terapêutica são: Na primeira situação, a identificação de ca-
• Pode abrir caminho para clonagem repro- sais em risco permite que ele planeje a sua fu-
dutiva humana tura prole e evite o nascimento de um afetado.
• Pode gerar um comércio de embriões que Entretanto, questões éticas, que surgem em si-
seriam fabricados apenas para esta finalidade tuações reais são: Quando oferecer testes? Co-
• Destruir embriões significa destruir vidas mo evitar os interesses puramente comerciais?
A questão ética que se coloca então é: Quan- Por exemplo, é comum casais de primos, se-
do começa a vida? No momento da fertilização? rem encaminhados para um serviço de genéti-
Nesse sentido é importante lembrarmos ca. Se o levantamento da genealogia não reve-
que a chance de que um embrião fertilizado, lar a existência de doenças recessivas na famí-
implantado em um útero materno, se transfor- lia, não há motivo para se realizar testes genéti-
me em vida é menor do que 10%. Por outro la- cos porque o risco empírico de 10-12% não se-
do, a chance de que um embrião fertilizado em rá alterado com a realização desses testes. É im-
um laboratório, que não foi implantado, se portante salientar que quanto mais comum a
transforme em vida é ZERO. Não se pode des- doença na população (como, por exemplo, a
truir uma vida para salvar outra, dizem os reli- fibrose cística ou a anemia falciforme) menor é
giosos. Mas, se não utilizarmos embriões que a influência relativa da consangüinidade. Real-
são normalmente descartados para tentar sal- mente em um estudo recente de 227 casais que
var vidas, não estaremos destruindo duas vi- tiveram filhos afetados por fibrose cística (Ber-
das? nardino et al., 2000), observamos que 92% dos
casos tinham nascido de pais não-consangüí-
neos. Além disso, uma criança afetada, filha de
Testes genéticos e testes preditivos primos em primeiro grau, tinha herdado duas
mutações diferentes.
Quem deve ser testado? Outras questões eticamente importantes
Uma das aplicações práticas mais impor- são: Até onde vai nosso direito de interferir? Se
tantes do projeto Genoma Humano, como vi- for descoberto, por acaso, uma falsa paternida-
mos, é o desenvolvimento de testes genéticos de, no caso de um casal que procura o aconse-
para diagnóstico e para prevenção (a partir da lhamento genético porque teve uma criança
identificação de casais em risco). afetada, devemos contar? Quando contar? Po-
O diagnóstico molecular tem sido possível demos negar a fazer um teste genético? O prin-
para um número crescente de doenças genéti- cípio da confidencialidade, que é uma das regras
cas o que, em muitos casos, tem sido muito do aconselhamento genético, protege quem?
útil, pois permite confirmar o diagnóstico evi- A segunda situação é sempre mais compli-
tando outros exames que podem ser invasivos cada, principalmente no caso de doenças domi-
e pouco informativos. Além disso, a identifica- nantes de manifestação tardia, ainda sem trata-
ção de mutações patogênicas em indivíduos as- mento, como a Coréia de Huntington ou as
sintomáticos contribui para prevenir o nasci- degenerações espino-cerebelares. Nesses casos,
mento de novos afetados o que é fundamental os portadores da mutação deletéria, além do
para doenças graves ainda incuráveis. Entre- risco de 50% de transmiti-la a sua prole, tam-
tanto, como veremos abaixo, existem três si- bém serão afetados. Isto é, são testes também
tuações muito distintas do ponto de vista ético preditivos. Após várias discussões éticas a res-
em relação a pessoas, clinicamente normais, peito, o consenso internacional é de não reali-
que se submetem a testes genéticos. zar estes testes em crianças assintomáticas para
1) Portadores de mutações que têm risco de doenças de início tardio, para as quais ainda
vir a ter descendentes afetados, mas que per- não há tratamento. Isto porque ao aplicar um
manecerão assintomáticos durante toda a vida. teste em uma criança, estamos tirando-lhe o
2) Portadores de mutações em indivíduos direito de decidir mais tarde se quer ou não ser
ainda assintomáticos, mas com risco de vir a testada.
ser afetados por doenças de manifestação tar- Mas, e no caso de adultos, qual é o benefí-
dia, ainda sem tratamento e, além disso, de cio do teste preditivo? Se o consulente já pas-
transmitir a mutação para seus descendentes. sou da idade reprodutiva e continua assinto-
3) Indivíduos com risco aumentado de vir mático, por que saber de antemão que será afe-
a ser afetados por doenças de manifestação tar- tado se nada pode ser feito a respeito? É impor-
96

tante lembrar que com raras exceções, as pes- fluenciar o futuro de uma pessoa ou de toda
soas querem ser testadas na expectativa de um uma família. Por isso, antes de um exame, a
resultado negativo, isto é, que o teste revele que pessoa deve ser informada:
não são portadoras da mutação. 1) Para o que está sendo testada?
Já no caso de jovens, o resultado de um tes- 2) O que significa um resultado positivo?
te pode ser extremamente importante para pla- 3) O que significa um resultado negativo?
nejar a sua futura prole e cada caso precisa ser 4) Qual é a vantagem em ser testado?
discutido na tentativa de avaliar se o consulente 5) O que pode ser feito a respeito?
está preparado para um resultado desfavorável. Esta discussão pode levar horas, mas ela de-
Na terceira e última situação, saber que te- ve estar acima de qualquer interesse comercial.
mos predisposição genética (risco aumentado)
para doenças potencialmente tratáveis como Diagnóstico pré-natal e interrupção
certos tipos de câncer, hipertensão ou diabete da gestação
pode ser muito importante para futuros trata-
mentos. Nesse sentido, uma outra área que Casais ou famílias que já tiveram filhos ou
promete revolucionar a medicina será a farma- parentes afetados por uma doença genética po-
cogenética, que estuda por que temos reações dem, por meio de testes genéticos, saber se cor-
tão diferentes a drogas, indo desde uma ausên- rem o risco de vir a ter outros descendentes
cia de resposta até reações tão adversas que po- com o mesmo problema e planejar a sua futura
dem causar óbito. É o caso, por exemplo, da prole. Os casais em risco que desejam ter seus
hipertermia maligna, uma reação violenta a próprios filhos podem se submeter ao diagnós-
certos anestésicos que causa uma morte rápida tico pré-natal (DPN). Este permite diagnosti-
se não houver uma intervenção imediata. No car ao redor da décima semana de gestação se
futuro próximo, em vez de sermos cobaias ca- o feto herdou o gene mutado. Ao contrário do
da vez que experimentamos uma medicação que se imagina, a nossa experiência tem mos-
nova, os remédios serão receitados de acordo trado que o DPN de certeza tem salvado mui-
com o perfil genético de cada um. tas vidas normais no caso de casais que opta-
Mas, novamente, a aplicação destes testes riam por interromper uma gestação no caso de
abre questões éticas muito importantes. Por dúvida. Por outro lado, se for descoberto que o
exemplo, já foram identificados, dois genes, o feto é portador de uma mutação responsável
BRCA1 e o BRCA2, responsáveis pelas formas por uma doença grave e irreversível, incompa-
hereditárias de câncer de mama. Mulheres com tível com uma vida normal, é justo condená-la
mutações em um destes genes têm um risco de a nascer para uma vida de sofrimento? Deve-
80-90% de chance de vir a desenvolver câncer mos nos conformar ou batalhar para que a
e, portanto, o teste é importante para aquelas nossa legislação acompanhe os avanços cientí-
que tem vários casos na família, principalmen- ficos? Isto é, que apóie a interrupção médica da
te de início precoce. Entretanto, o risco (life ti- gestação em casos de fetos com doenças gené-
me risk) de que qualquer mulher venha a de- ticas graves e irreversíveis, desde que este seja o
senvolver câncer de mama durante a vida é de desejo dos pais?
10%. Portanto, se uma mulher sem história fa- Em resumo, devemos sempre lembrar que
miliar de câncer de mama for testada para os os resultados de um teste genético não mudam
genes BRCA1 e BRCA2 e se nenhuma mutação com o tempo e seu impacto pode influenciar o
for detectada, o seu risco de vir a desenvolver futuro de uma pessoa ou de toda uma família.
câncer de mama continua praticamente o mes- Por isso, estes e outras questões éticas devem
mo. A questão ética é: será que as pessoas tes- ser discutidas com toda a sociedade.
tadas sabem disso? 1) Quem deve regular a produção de testes
Tirar o sangue de uma pessoa pode levar genéticos, a sua qualidade e o acesso à popula-
um minuto. Entretanto, devemos sempre lem- ção?
brar que os resultados de um teste genético não 2) Quem deve ser responsável pela inter-
mudam com o tempo e seu impacto pode in- pretação dos resultados e pelo aconselhamento
genético?
3) Quando oferecer testes?
4) Quem vai controlar a confidencialidade
dos resultados? Empregadores e companhias
de seguro-saúde terão acesso às informações?
97

Agradecimentos
Gostaríamos de expressar nossos profundos agradeci-
mentos, pela inestimável colaboração, convívio e compa-
nheirismo de muitos anos, às seguintes pessoas: dra. Ma-
riz Vainzof, dra. Maria Rita Passos-Bueno, dra. Rita de
Cássia Pavanello, dr. Ivo Pavanello, Antônia Cerqueira,
Marta Canovas e Constancia Urbani. Este trabalho foi fi-
nanciado pela FAPESP, CNPq e PRONEX.

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