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: O que é e como ocorre a regulação

Epigenética

Epigenética descreve eventos moleculares que ocorrem no DNA, mas não


afetam sua sequência em si, aprenda sobre a relação com o meio ambiente
POR BRUNA MASCARO
30 DE JULHO DE 2020
5 MINUTOS DE LEITURA

1. O que é epigenética?
2. Regulação epigenética
3. Como ocorre a modulação gênica?
4. Implicações e estudos sobre epigenética
5. Referências

O conceito de estilo de vida inclui diferentes fatores como dieta,


comportamento, stress, atividades físicas, hábitos de trabalho e de consumo,
entre outros. O background genético e os fatores ambientais estão
diretamente relacionados com o estilo de vida, e os processos da epigenética
têm sido cada vez mais relacionados com diversos fenômenos.

Entenda o que é a epigenética e sua importância e implicações na saúde


humana a seguir!

O que é epigenética?

A palavra epigenética é bem antiga, Aristóteles já acreditava que todas as


nossas características têm origem em um processo
denominado “epigênese”. Então, no início dos anos 40, o biólogo Conrad
Waddington passou a utilizar a palavra epigenética para se referir à maneira
como os genes interagem com o meio ambiente na construção dos
organismos.

É interessante pensar que temos origem a partir de um óvulo fertilizado, e


conforme o desenvolvimento embrionário progride, esse óvulo se divide
em milhares de células com a mesma informação genética original.
No entanto, para a construção adequada do organismo, as células precisam se
desenvolver em diferentes tipos, como por exemplo células sanguíneas,
neurais, musculares, ósseas, e etc.

Sendo assim, é necessário que haja um fator responsável por ligar e desligar
os genes adequadamente, e então, direcionar a diferenciação de cada tipo
celular. Esse fator “não genético” é a epigenética.

Regulação epigenética

A epigenética descreve eventos moleculares que ocorrem no DNA, mas não


afetam a sequência de DNA em si.

De fato, hoje sabe-se que a atividade genética pode ser regulada como
um interruptor de uma lâmpada: pode ser desligada ou ligada, em
diferentes níveis.

Essa regulação é realizada a partir de alterações químicas na sequência


de DNA dos nossos genes, sem alterar a identidade dos pares de base
que compõe o DNA, atuando literalmente sobre os genes, daí o termo
‘epi’genética.

Alterações epigenéticas impactam na forma como a molécula de DNA é


formatada, e consequentemente, regula quais genes permanecerão ativos,
influenciando na fisiologia e no comportamento de um organismo.

Envolvendo o estudo de uma imensa diversidade de fenômenos biológicos, a


epigenética abrange conceitos de:

 Desenvolvimento e diferenciação celular;


 Metabolismo;
 Doenças;
 Variabilidade fenotípica;
 Herdabilidade,

Como ocorre a modulação gênica?

Diferente do que muitos acreditam, o DNA que contém a informação dos


nossos genes não é capaz de ações independente, o que faz da regulação
desses genes um mecanismo tão importante para o desenvolvimento como um
todo.

Os genes são, de certa forma, induzidos a se expressar conforme o contexto


ambiental (o que inclui diversos fatores, inclusive outros genes), fazendo com
que cada gene se comporte de maneira única em cada indivíduo.

Tal fato já foi comprovado, inclusive, em estudos com gêmeos monozigóticos


idênticos que têm origem a partir do mesmo óvulo e, portanto, contém a
mesma sequência de DNA. Neste estudo, embora o material genético seja
igual, seus genes se expressam de maneiras diferentes.

Portanto, esse estudo demonstra que experiências diferentes podem


deixar “marcas” no DNA que afetam a maneira como os genes são
expressos.

Epigenética e compactação do DNA

O nosso DNA é capaz de se compactar em diferentes níveis, e uma vez que


está altamente compactado, os mecanismos responsáveis pela leitura desse
DNA não são capazes de acessá-lo para interpretar a informação.

Quando isso acontece, esse segmento de DNA altamente compactado será


impossibilitado de ser lido, e então, as proteínas normalmente produzidas a
partir daquele fragmento de DNA não serão processadas.

Um exemplo disso são as histonas, que são grandes proteínas associadas ao


DNA e que auxiliam na compactação e descompactação do DNA, podendo ser
modificadas por diversos processos.

Os processos epigenéticos fazem com que o DNA fique mais ou menos


acessível à sua leitura e processamento.

Por exemplo, a acetilação do DNA faz com que o mesmo fique mais
acessível, levando ao aumento da expressão gênica (transcrição).

Por outro lado, a metilação, ou seja, adição de grupamentos metil –CH3


, faz com que o segmento de DNA fique mais compactado, levando à
diminuição da expressão dos genes naquele segmento.
Epigenética e o meio ambiente

O meio ambiente é extremamente capaz de levar a alterações epigenéticas no


DNA de maneiras extraordinárias.

Um exemplo clássico é o estudo sobre as abelhas-rainhas e operárias, que


apesar de terem sequências genéticas idênticas, são completamente
diferentes em termos de comportamento, fisiologia e fenótipo.

Neste caso, a frase “você é o que você come” representa exatamente o que é
observado:

Ambas as abelhas-rainha e operária são inicialmente alimentadas com geleia


real. No entanto, as abelhas operárias são rapidamente desmamadas e
alimentadas com néctar e pólen, enquanto as abelhas-rainhas são alimentadas
por geleia real durante todo seu desenvolvimento, mantendo essa dieta
inclusive na vida adulta.

Estudos recentes demonstraram que a geleia real contém ingredientes capazes


de inibir a metilação de citosinas no DNA, levando ao aumento da
expressão de genes que se encontram silenciados em abelhas operárias.
Isto pode explicar a grande diferença fenotípica e de comportamento entre
essas duas castas.

Nos humanos, o fenômeno epigenético não atua tão diretamente sobre o


fenótipo como observado nas abelhas. No entanto, pesquisadores têm
demonstrado cada vez mais o impacto das alterações epigenéticas no
desenvolvimento, crescimento e doenças.
Implicações e estudos sobre epigenética

Os eventos epigenéticos estão acontecendo no nosso corpo a todo momento.


Por exemplo, atividades físicas, o que comemos ou bebemos, podem alterar o
padrão epigenético das nossas células.

A partir do entendimento de como a expressão dos nossos genes é


controlada, é possível imaginar como os eventos genéticos e
epigenéticos colaboram para produzir nossas características.

Atualmente, técnicas de epigenômica têm permitido aos pesquisadores


investigar as alterações epigenéticas em todo o genoma, em um único
experimento.

Essa abordagem tem sido amplamente utilizada, principalmente, na


investigação de alterações relacionadas a um grande número de doenças
humanas, como câncer, autismo e doenças auto-imunes, entre outros. Além
disso, pesquisadores clínicos estão em uma constante busca pelo
desenvolvimento de terapias com possíveis alvos epigenéticos.

Epigenética e câncer

A primeira doença humana a ser relacionada ao processo epigenético foi


o câncer, em 1983. Pesquisadores descobriram que tecidos tumorais de
pacientes com câncer colorretal apresentavam uma menor quantidade de DNA
metilado do que os tecidos normais do mesmo paciente.

Uma vez que genes metilados estão tipicamente desligados, a perda da


metilação pode levar ao aumento de expressão gênica. Por outro lado, o
aumento da metilação pode silenciar funções de importantes genes
supressores tumorais.

Esse balanço fino entre “ligar e desligar” os genes tem sido observado em
diversos processos tumorais, assim como é observado também durante o
desenvolvimento embrionário.

Dessa forma, somos capazes de mensurar a importância do processo


epigenético para o funcionamento preciso e saudável dos organismos, e quais
impactos que as alterações nesse processo podem causar.
Compreendendo como o contexto ambiental influencia a epigenética,
pesquisas relacionadas às alterações pós-transcricionais terão consequências
extremamente abrangentes. Estudos epigenéticos podem ser aplicados a
diversos campos, e auxiliar em diversas questões que permanecem sem
resposta.

O conhecimento que se tem sobre o processo epigenético avança na medida


em que novas tecnologias são disponibilizadas, mas ainda carece de muitos
estudos futuros, e quanto mais respostas tivermos, novas perguntas surgirão.

Estamos diante apenas da ponta de um iceberg, de toda uma rede de


interações que envolve esse processo tão fundamental e intrigante.

Referências

[1] Waddington CH. The basic ideas of biology. Waddington CH. Towards a
Theoretical Biology, Vol. 1: Prolegomena, 1–32. Edinburgh: Edinburgh
University Press; 1968.

[2] Fraga, M. F. et al. Epigenetic differences arise during the lifetime of


monozygotic twins. Proc. Natl Acad. Sci. 102, 10604–10609 (2005)

[3] Xu Jiang He, et al. Making a queen: an epigenetic analysis of the robustness
of the honeybee (A pis mellifera ) queen developmental pathway. Molecular
EcologyVolume 26, Issue 6. 2016

[4] Fazzari, M. J. & Greally, J. M. Epigenomics: beyond CpG islands. Nature


Rev. Genet. 5, 446–455 (2004)

[5] Robertson, K. D. DNA methylation and human disease. Nature Rev. Genet.
6, 597–610 (2005)

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