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Epigenética

Nossa saúde se definirá pela interação entre nosso material celular-genético e o


das bactérias que habitam nosso corpo.
Ou seja, não podemos mais falar de nosso DNA, pois ele é apenas um ator em uma
ópera cujo sucesso será definido por centenas de figurantes, cenógrafos,
figurinistas, músicos, maestro, cantores e divas. Apenas um tratamento antibiótico
pode alterar o metagenoma. Se retirarmos o tenor (um tipo de bactéria),
descaracterizaremos por completo a obra. Se o substituirmos por outro menos
talentoso, o resultado nunca mais será o mesmo. Esse universo se adapta ao
ambiente e muda no decorrer da vida. Somos, cada um de nós, um ecossistema,
uma floresta diversa, composta por micróbios essenciais e por nossas células. Como
uma floresta, nossa sobrevivência depende das flores e das vespas, das folhas que
caem, do húmus, das chuvas e dos ventos, da diversidade de insetos e da pacífica
simbiose entre as partes que a compõem.

Epigenética
Os fatores externos influenciam a atividade de muitos genes. Uma célula pode
estabilizar as condições regulatórias decorrentes desse processo, sendo isso
identificado como uma memória. E o modo como funciona essa “memorização” é o
objeto da epigenética, o mais empolgante campo de pesquisa na biologia
molecular da atualidade. A epigenética (do grego “epi”, que significa “ao redor de”,
“adjunto”) trata de marcadores de importância genética que não estão contidos na
sequência do DNA em si, mas em suas adjacências.
No atual estágio do conhecimento proporcionado pela epigenética, não há dúvida
de que o conceito de “predisposição genética” para essa ou aquela doença já não
mais se sustenta. Apesar de termos marcadores biológicos e genéticos que nos dão
mais chances de desenvolver certas doenças na vida adulta, podemos desligar ou
desativar esses genes determinantes mudando hábitos alimentares e de vida,
eliminando agentes nocivos à saúde. Mais do que isso, o que hoje chamamos de
doença de incidência familiar pode ser redefinido como doença ligada ao
metagenoma familiar, ou seja, doença determinada pelo genoma humano em
confronto com o genoma das bactérias comensais, as bactérias que uma
determinada família cultiva desde o nascimento do bebê, do ambiente vaginal da
mãe, da pele, do meio ambiente, do modus vivendi, dos alimentos, dos móveis e da
atmosfera familiar. Se um indivíduo conseguir mudar seus hábitos de vida, sua
alimentação e suas práticas esportivas, pode com isso quebrar uma “maldição de
família”.
HÁBITOS

A epigenética mostra que diversos mecanismos do corpo humano são controlados


pelos genes, mas regulados pelas proteínas e moléculas nucleicas, o que resulta
em sua supressão ou ativação. A epigenética é uma antena que sintoniza o que
acontece no mundo externo e leva esses sinais para o universo profundo do DNA,
sendo assim determinante de alterações substanciais em nossa fisiologia.
Observada desse ponto de vista, a doença com a qual temos de lidar hoje é
resultante de um processo contínuo e cotidiano, que veio se cristalizando no
decorrer de anos, através da cuidadosa repetição de hábitos que influenciam
diretamente nosso metabolismo. Esses hábitos podem vir de outras gerações, como
o hábito culinário de comer amidos e açúcares, e da agressividade verbal ou física
de familiares.

De forma inversa, a doença que temos hoje pode tornar-se saúde amanhã. O
epigenoma pode ser modificado, mesmo na vida adulta. Ao incorporar em nosso
cotidiano uma mudança completa nos hábitos de vida e de alimentação, estaremos
planejando e determinando o fim de uma doença ou a sua mitigação a tal ponto
que o seu tratamento seja modificado e a medicação, mesmo que alopática, fique
reduzida a uma fração mínima das necessidades atuais.

Fonte: trecho do livro Cirurgia Verde do Dr. Alberto Gonzalez.

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