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3 ENGENHARIA GENÉTICA II
Nesse bloco vamos abordar o início do projeto genoma, seus objetivos e os resultados
obtidos após a conclusão do sequenciamento do genoma humano, e a revolução da
engenharia genética por meio da aplicação de novas técnicas de terapia genética.
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O DNA constitui o material genético dos seres vivos, sendo responsável pela
transmissão dos caracteres hereditários e a base de quase todos os aspectos da saúde
humana. Conhecer a sequência e o trabalho que os genes realizam em conjunto ou
isolados e a interação dessa molécula química com o meio ambiente favorecerá o
descobrimento de vias envolvidas nos processos normais e no desenvolvimento de
doenças, apresentando uma grande revolução no modo de diagnosticar, tratar e
prevenir essas patologias, promovendo, consequentemente mudanças profundas na
prática clínica e saúde pública.
Outros benefícios são esperados a partir dos diversos estudos que virão pós o
sequenciamento do genoma humano, fazendo com que ocorra o surgimento de novas
ferramentas de biotecnologia e criando um vasto campo de possíveis aplicações nas
mais diversas áreas, dentre elas podemos citar (USP, 2011):
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Houve uma certa expectativa nessa primeira versão do genoma humano publicada em
2001, mas os estudos realizados ao longo do tempo demonstraram que a ciência e os
resultados esperados não são rápidos. O descobrimento da sequência é a primeira
etapa para entendimento do genoma, mas é necessário identificar os genes e os seus
respectivos elementos de controle, suas funções exercidas de forma isolada ou em
conjunto, entender como partes de genes são usadas na construção dos diferentes
produtos no processo de splicing do RNAm para a codificação de proteínas, a
complexidade existente entre as milhares de alterações químicas pelas proteínas e a
diversidade de mecanismos reguladores que controlam os processos e as relações
existentes entre as variações do genoma e as características observáveis e ou
detectáveis em um indivíduo (fenótipo).
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Apesar do grande avanço nas pesquisas genômicas relacionadas as doenças raras, não
podemos dizer o mesmo sobre as doenças que atingem um maior número de pessoas
como os problemas cardiovasculares, as diabetes, alguns tipos de câncer e as doenças
degenerativas do sistema nervoso central. A explicação se deve à complexidade e
diversidade de fatores que influenciam o desenvolvimento dessas doenças, pois são
resultantes da ação de vários genes que interagem entre si e com o meio ambiente,
dificultando identificar os responsáveis pelo surgimento da doença.
A contribuição para a evolução das pesquisas trazidas pelo Projeto Genoma trouxe
como resultado, até os dias atuais, o sequenciamento do genoma de quase 19.000
organismos, sendo: 3,5 mil vírus; 14,7 mil bactérias; 400 animais e plantas unicelulares
e multicelulares.
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O vetor (vírus ou molécula) deve apresentar certas características como, por exemplo,
não provocar rejeição do sistema imunológico do hospedeiro; ter uma resposta
duradoura; apresentar eficiência na expressão do gene específico da célula-alvo; ser
possível sintetizar de forma eficiente (MENCK; VENTURA, 2007).
Esses vetores podem ser transportados de duas formas. No tipo “in vivo” vetores
eficientes são utilizados para introduzir o gene diretamente na célula ou órgão-alvo,
levando a expressão do transgene. Já no tipo “ex vivo” as células são retiradas do
paciente, cultivadas in vitro e posteriormente são introduzidos nas células do indivíduo
os vetores contendo os genes terapêuticos, expressando o gene exógeno desejado
(AZEVEDO, 2009).
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Um dos tipos celulares bastante utilizados pela terapia gênica são as células tronco do
organismo que estão presentes no indivíduo adulto. Classificadas como células
multicelulares, pois apresentam a capacidade de dar origem a diferentes linhagens de
células que desempenham funções específicas, como as células tronco
hematopoiéticas que produzem todas as células do sangue. A introdução de um
determinado gene terapêutico nesses tipos celulares distintos ativa esse gene para que
a proteína de interesse seja sintetizada (NARDI, 2002).
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Os métodos utilizados para a inserção dos genes nas células alvo são classificados nas
seguintes categorias:
Métodos biológicos
A categoria dos adenovírus tem como característica não integrar o seu genoma ao DNA
do hospedeiro, fazendo com que o material genético viral fique livre no núcleo da
célula hospedeira, transcrevendo de forma simultânea com os genes dessa célula
(PEREIRA, 2015).
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Métodos químicos:
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Métodos físicos
O isolamento do gene;
A construção do vetor;
CRISPR/Cas
Nos últimos anos, tem aumentado a quantidade de estudos que têm por finalidade
desenvolver técnicas de genoma por meio de ferramentas que permitem modificar o
genoma através de um conjunto de moléculas que quebram o DNA, promovem a sua
alteração, fazendo uso dos próprios mecanismos naturais de reparo sem se utilizar de
genes de outros organismos.
No início de 2012 surge uma tecnologia de edição de genoma denominada CRISPR (do
inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), desenvolvido a
partir de mecanismos moleculares do sistema imunológico bacteriano que se utiliza de
uma molécula de RNA para guiar uma nuclease (Cas9) até se parear com as bases de
uma sequência-alvo de DNA a ser modificada (figura 3.3).
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Esse sistema de edição de gene serve para reparar mutações no genoma como
também para introduzir novas alterações genéticas, sendo adotado para a edição e
modificação de genomas em vários tipos celulares, incluindo células-tronco; na terapia
de câncer; doenças cardiovasculares; distúrbios genéticos; no desenvolvimento de
vacinas e novas drogas; no tratamento de infecções; na medicina regenerativa, dentre
outras aplicações (AREND, 2017 e DIAS; DIAS, 2018).
Edição de genomas;
Desenvolvimento de medicamentos;
Produção de vacinas;
Manipulação de microrganismos;
Aconselhamento genético;
Produção de biocombustíveis;
Melhoramento genético;
Produção de alimentos.
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A diferença principal existente entre a técnica Crisp e a prime editing é que essa nova
tecnologia apresenta alta precisão no acerto do alvo e corte da molécula de DNA para
que um gene seja inserido ou deletado. Anteriormente, a edição de genes apresentava
muitos problemas no processo devido a erros nos locais do corte ou na ocorrência de
imperfeições. Outra vantagem importante do prime editing está na capacidade de
corrigir seções menores, com até um único nucleotídeo, da sequência de três bilhões
que compõem a molécula de DNA e constituem o genoma humano.
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O “prime editing” foi utilizado com sucesso em experimentos realizados para correção
de erros genéticos na anemia falciforme, doença hereditária causada por uma
mutação que torna uma base Adenina (A) em um Timina (T), alterando o formado da
hemácia, o que impossibilita o transporte de sangue pelas hemácias e a doença de
Tay-Sachs, que afeta os nervos e, com frequência, é causada por uma mutação que
adiciona quatro letras extras de código no DNA. Existem aproximadamente 75 mil
mutações que causam doenças nos seres humanos e a utilização dessa nova
ferramenta tecnológica “prime editing", segundo os pesquisadores envolvidos, tem o
potencial para corrigir 89% dessas mutações (GALLAGHER, 2019).
Conclusão
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, E, S. Terapia Gênica. Revista Bioética. Salvador, v.5, n.2, p.5, 2009.
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DIAS, G.; SILVA, M.; CARNEIRO, P. A engenharia genética de precisão: Status atual e
perspectivas regulatórias para as novas ferramentas de melhoramento genético.
Céleres - Your Agribusiness Intelligence, 2019.
DIAS, C. A. P.; DIAS, J.M.R. Sistema Crisp/Cas como uma nona ferramenta
biotecnológica na edição de genomas: aplicações e implicações. Rev. AMBIENTE
ACADÊMIC. v.4, n.1, 2018.
GALLAGHER, J. Nova técnica de edição de DNA poderá curar até “89% das doenças
genéticas” no futuro. BBB NEWS, 2019.
LINDEN, R. Terapia gênica: o que é, o que não é e o que será. Estud. av. São Paulo,
v.24, n.70, p.31-69, 2010.
NARDI, N. B.; TEIXEIRA, L. A. K.; SILVA, E. F. A. Terapia gênica. Ciência e Saúde Coletiva,
109 –116, 2002.
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ROMANO, G.; MICHELL, O.; PACILIO, C.; GIRODANO, A. Latest development in gene
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applications. Stem Cells, 18:19-39, 2000.
YANAGUI, K. Novas tecnologias, novos desafios. Cienc. Cult, vol.68, n°3, São Paulo,
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ZORZETTO, R. A tesoura dos genes. Revista Fapesp, Ed 288, 2019a. Disponível em:
<https://revistapesquisa.fapesp.br/a-tesoura-dos-genes/>. Acesso em: 19 jun. 2020.
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