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TECNOLOGIAS PARA

SANEAMENTO BÁSICO
Profs.: Cristina Ap. V. B. de Sales Oliveira
e Cristiano A. de Carvalho
3 SISTEMAS DE TRATAMENTO AVANÇADOS DE ÁGUA

Olá, aluno!

Tratamentos avançados de água são muito importantes, pois complementam o


tratamento convencional, atuando na remoção extra de compostos com potencial
tóxico e microrganismos patogênicos, melhorando ainda alguns parâmetros como cor,
sabor e odor. Neste bloco iremos tratar apenas das técnicas mais utilizadas para a
realização do tratamento avançado nas ETAs do Brasil, tais como osmose inversa,
absorção, troca iônica, aeração e oxidação avançada.

Bons estudos!

3.1 Osmose Inversa

A Osmose Inversa (OI) força o fluxo de água ir no sentido contrário da osmose natural.
Essa técnica utiliza pressão com intensidade adequada, promovendo a concentração de
substâncias e possibilitando a retirada de bactérias, metais e pigmentos.

O tratamento é realizado em uma membrana semipermeável que separa solutos que


são dissolvidos na água. Um sistema de OI recebe água de alimentação que deve ser
pressurizada, passando uma pequena quantidade de água pela membrana, chamada de
permeado. Conforme a água passa pela membrana semipermeável, solutos são
rejeitados, deixando a água de alimentação mais concentrada.

Fonte: Howe et al., 2016, p. 256.

Figura 3.1. Representação do processo de osmose inversa.


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Trata-se de um processo contínuo, não havendo necessidade de ciclos periódicos de
retrolavagem.

Segundo Bittencourt (2014), o processo de osmose inversa é ideal para remoção de


matéria orgânica natural, tratamento avançado para reúso de água potável, remoção
de contaminantes específicos, dessalinização da água do mar e de águas subterrâneas
salobras, e para abrandamento.

O número de instalações que utilizam a técnica de osmose inversa tem crescido


rapidamente, e isso se justifica devido ao crescimento desordenado de regiões urbanas,
bem como à escassez de fontes naturais de água doce. Como consequência, o aumento
de regiões desérticas faz com que os oceanos e as águas subterrâneas salobras se
tornem alternativas de suprimento de água para a população.

Instalações de OI possuem sistemas de pré-tratamento, bombas de alimentação, vasos


de pressão contendo elementos de membrana e sistemas de pós-tratamento. São a
menor unidade de capacidade de produção, possuindo um formato enrolado em espiral
ou de fibra oca fina.

Fonte: Howe et al., 2016, p. 300.

Figura 3.2 – Membrana em espiral.

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O processo ocorre com a água de alimentação é pressurizada para o vaso de pressão,
entrando em contato com o primeiro elemento da membrana. A água vai fluindo de
maneira tangencial à superfície da membrana, fazendo com que uma porção de água
passe para dentro do envelope de membrana, fluindo em espiral na direção do tubo de
coleta de permeado. Então, água que restou fica concentrada, fluindo para o elemento
seguinte. O processo é repetido até que o concentrado saia do vaso de pressão.

A recuperação do permeado gira em torno de 5% a 15% por elemento dentro dos


elementos individuais de membrana, e seu desempenho está ligado às propriedades
físicas e químicas do material que, em condições ideais, é capaz de produzir um alto
fluxo sem sofrer incrustação ou até mesmo obstrução, sendo fisicamente durável,
quimicamente estável e resistente, não biodegradável e de baixo custo. Os materiais
mais comuns são os derivados de acetato de celulose (AC) e da poliamida (PA).

Todos os sistemas de OI devem realizar o pré-tratamento de água de alimentação para


prevenir a escamação devido à presença de sais pouco solúveis, que irão se concentrar
à medida que a água é retirada da corrente de alimentação, fazendo com que ocorra a
precipitação desses sais na superfície da membrana, danificando o mecanismo de
maneira irreversível. O controle da escama consiste num ajuste do pH e/ou a adição de
antincrustante.

Outro processo importante no pré-tratamento é a filtração, que tem como principal


objetivo remover as partículas formadas. Devido à falta do ciclo de retrolavagem, as
partículas formadas tendem a obstruir os canais de alimentação ou até mesmo se
acumularem na superfície da membrana.

O permeado também requer pós-tratamento, que consiste na remoção dos gases


dissolvidos que não são removidos de maneira eficiente nos processos anteriores, da
alcalinidade e do ajuste do pH. Os ajustes de pH e de alcalinidade são um processo
eficiente para controlar a corrosão. Reduzir o CO2 acarreta no aumento do pH e,
consequentemente, produz a redução da quantidade de base necessária para aumentar
a estabilidade (reduzir a corrosão) da água.

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O projeto de instalação de OI deve se preocupar com a gestão do concentrado formado,
pois o mesmo pode precisar de tratamento antes do descarte, que pode ocorrer em
esgotos municipais, no oceano, em rio salobre ou estuário, injeção em poço profundo,
lagoas de evaporação e bacias de infiltração e irrigação.

Para compreender a osmose inversa, a pressão osmótica é essencial, visto que requer
uma força motriz para o fluxo na direção oposta. Para entendermos melhor o processo,
vamos considerar um vaso com uma divisória removível que será preenchido com duas
soluções com o mesmo nível. Deve-se encher o lado esquerdo com uma solução salina
concentrada e o outro lado com água pura. Em seguida retira-se a divisória sem
perturbar as soluções que, no início, estão em desequilíbrio; o sal se difundirá através
da água até que a concentração seja a mesma em todo o vaso. Os íons do sal irão se
difundir da esquerda para a direita e, para manter o princípio da conservação da massa,
um fluxo de moléculas de água deverá ocorrer na direção oposta, ou seja, o equilíbrio
requer transferência de massa nas duas direções.

Agora que o princípio foi descrito, iremos realizar alguns ajustes em nosso vaso.
Fecharemos a parte superior e acoplaremos tubos de manômetro. Devemos agora
substituir a divisória removível por uma membrana semipermeável, que irá permitir o
fluxo de água, mas impedirá o fluxo de sal. Criaremos, assim, um sistema
termodinamicamente instável toda vez que enchermos as câmaras com solução salina
e água pura, que deve ser equilibrado pela difusão.

Como a membrana semipermeável irá impedir o fluxo de sal, a massa se acumulará na


câmara esquerda, fazendo com que o nível de água no manômetro da esquerda suba, e
o da direita, caia. A osmose é o fluxo de água do lado puro para a solução de sal.

Ao atingir o equilíbrio termodinâmico, a água deixa de fluir da direita para a esquerda,


mesmo com a pressão e a concentração desiguais entre as câmaras, sendo que
exercemos uma pressão para equilibrar a diferença na concentração de um soluto.
Damos a isso o nome de pressão osmótica (p).

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Podemos aproximar a pressão osmótica pela equação de Van't Hoff (HOWE et al., 2016,
p. 305):

Levando em consideração a hipótese do comportamento não ideal das soluções


concentradas, da falta de diluição e da compressibilidade do líquido em alta pressão,
devemos considerar o coeficiente osmótico que na equação abaixo é representado pelo
símbolo ф (HOWE et al., 2016, p. 306).

A pressão osmótica está em função da concentração ou fração molar da água no


sistema. Por exemplo, a adição de 1 mol de NaCl produz 2 mols de íons na solução,
dobrando a pressão osmótica em comparação com um soluto que não se dissocia. Veja:

NaCl → Na+1 + Cl-1


1 mol → 1 mol 1 mol

Vamos calcular a pressão osmótica do NaCl em uma solução de 1.000 mg/L a uma
temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95 (HOWE et al.,
2016, p. 306).

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Vamos calcular a pressão osmótica da glicose (C6H2O6) em uma solução de 1.000 mg/L
a uma temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95. A glicose
(C6H2O6) é uma substância molecular, ou seja, não sofre dissociação. Logo, utilizamos
um mol de substância (HOWE et al., 2016, p. 307).

Vamos calcular a pressão osmótica do SrSO4 em uma solução de 1.000 mg/L a uma
temperatura de 20°C, considerando um coeficiente osmótico de 0,95 (HOWE et al.,
2016, p. 306).

SrSO4 → Sr+2 + SO4-2


1 mol → 1 mol 1 mol

Note que para os sais adicionados (substâncias iônicas) NaCl e SrSO4, temos a
dissociação do composto em dois íons, fazendo com que a concentração molar do íon
seja o dobro da concentração molar do sal adicionado. A pressão osmótica do NaCl é
mais elevada devido a sua massa molecular ser mais baixa. Apesar do SrSO4 e a glicose
terem praticamente a mesma massa molecular, a pressão osmótica do SrSO4 é o dobro
da glicose, porque ela se dissocia produzindo dois mols.

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3.2 Adsorção

A adsorção é um processo que remove constituintes dissolvidos na água através de um


processo de transferência para a superfície de um sólido. A adsorção remove produtos
orgânicos que causam sabor e odor, produtos orgânicos sintéticos e subprodutos da
desinfecção. Compostos inorgânicos, bem como a matéria orgânica natural (MON),
também são removidos por adsorção ou troca iônica. O carvão ativado, utilizado em
forma granular ou em pó, é o material adsorvente mais comum no tratamento da água
potável. As resinas sintéticas são os meios mais comuns nas trocas iônicas.

O adsorvato é o elemento submetido à adsorção sobre uma superfície, e o adsorvente


é o sólido sobre o qual o componente é adsorvido. Ao realizar o processo, muitas
espécies dissolvidas são impregnadas no sólido poroso do adsorvente granular e,
posteriormente, são adsorvidas na superfície interna.

Os adsorventes possuem um elevado grau de porosidade dentro dos grânulos


adsorventes, proporcionando uma maior superfície onde a adsorção poderá acontecer.
A proporção entre o volume do poro e o volume total é camada de porosidade que deve
estar próxima de 50%. Temos ainda uma relação entre a área da superfície e o tamanho
do poro. Quanto menor o poro para determinado volume, maior será a área da
superfície disponível para a adsorção.

Vamos agora indicar algumas expressões:

 Calculo da Área Interna da Superfície de um Adsorvente Poroso

A área de superfície, Aad (m2/g), assume a forma cilíndrica dos poros. Sendo que:

Número de poros: n (quantidade/g)

Raio do poro: R (m)

Comprimento do poro: L (m)

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 Cálculo do Volume de um Adsorvente Poroso

Para o volume de poros cilíndricos Vad (m3/g), temos:

Número de poros: n (quantidade/g)

Raio do poro: R (m)

Comprimento do poro: L (m)

 Relação entre a Área Interna da Superfície de um Adsorvente Poroso e seu Volume

 Aplicação (HOWE et al., 2016, p. 339)

Vamos supor que um grânulo de material adsorvente tenha poros cilíndricos com
diâmetro de 1 nm, porosidade de 50% e densidade de partícula de 1 g/cm3. Determine
a área da superfície interna do adsorvente.

Para começar, calculamos o volume de adsorvente utilizando a porosidade e a


densidade adsorvente dadas no enunciado do problema.

Resolução:

 Porosidade = volume do poro/volume total

D = m/v

Adotando 1 g de adsorvente e sabendo que a densidade de partícula de 1 g/cm3, temos:

Volume total: 1 cm3

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Sabendo que a porosidade é de 50% (que corresponde a 0,5), temos:

Volume de poro: 0,5 cm3

Portanto,

Vad = 0,5 cm3/g = 5 107 m3/g.

 Para o diâmetro de um poro:

dp = 1,0nm = 109 m

Sabendo que: D = 2R, temos:

R = 5.1010 m, então:

Geralmente, a porosidade não ultrapassa os 50%, pois a porosidade, sendo mais


elevada, torna o adsorvente mais frágil, quebrando de dentro para fora os vasos de
adsorção e podendo resultar em perdas significativas de adsorvente e gastos
financeiros.

O tamanho dos poros é classificado pela IUPAC – União Internacional de Química Pura e
Aplicada, que utiliza a seguinte convenção:

o Microporos: dp < 20 nm
o Mesoporos: 20 nm < dp < 500 nm
o Macroporos: 500 nm < dp

Sendo que dp corresponde ao diâmetro do poro.

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Fonte: HOWE et al., 2016, p. 340.

Figura 3.3 – Distribuições do tamanho dos poros para os carvões ativados de


diferentes materiais.

Os principais adsorventes para o tratamento da água, são:

 Carvão ativado;
 Adsorventes sintéticos poliméricos;
 Alumina ativada;
 Zeolitos;
 Hidróxido férrico granular ativado.

O adsorvente mais utilizado é o carvão ativado devido ao seu baixo custo em relação
aos outros adsorventes e, principalmente, pela sua eficácia na adsorção de uma vasta
gama de contaminantes.

MON e PQOS (produtos químicos orgânicos sintéticos), pesticidas, combustíveis e


solventes, por exemplo, possuem vários tamanhos de poro, podendo reter grandes
moléculas orgânicas. O zeolito (aluminossilicato com diferentes proporções de Al e Si) e
a alumina ativada possuem poros muito pequenos, que facilitam a remoção MON e
compostos orgânicos sintéticos maiores. Já o hidróxido férrico (Fe(OH)3) granular foi
desenvolvido para remover o arsênio. Os adsorventes sintéticos poliméricos possuem
microporos, que os impedem de adsorver MON.

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 Adsorção Química

A quimissorção, também conhecida como adsorção química, é a reação do adsorvato


com a superfície, formando ligações covalentes ou iônicas. A atração entre adsorvato e
adsorvente possui uma maior energia de ligação e aproxima-se de uma ligação
covalente com menor comprimento.

 Adsorção Física

Quando as forças de atração incluírem apenas as forças físicas, determina-se que os


adsorvatos sofrem adsorção física, que e menos especifica para os compostos
adsorvidos nas superfícies que possuem forças e energias de ligação mais fracas,
operando em distâncias mais longas (várias camadas), sendo, assim, mais reversível.
Durante o tratamento, os adsorvatos orgânicos da água (solvente polar) são adsorvidos
por um adsorvente não polar (carvão ativado).

3.3 Troca iônica e oxidação avançada

A troca iônica é um processo que remove constituintes dissolvidos na água através de


um processo de transferência para a superfície de um sólido. A troca iônica é mais
eficiente na remoção de nitratos, ferro, manganês, cálcio e magnésio (dureza).
Compostos inorgânicos, bem como a matéria orgânica natural (MON), também são
removidos por adsorção ou troca iônica.

Ocorre a troca iônica com um íon na fase aquosa por um íon na fase sólida. Durante o
tratamento de água potável, utiliza-se como meio de troca uma resina polimérica
sintética, sendo que o divinilbenzeno (DVB) e utilizado para reticular o suporte principal
do polímero (ANDRADE, 2018; HOWE et al., 2016).

Temos dois tipos de resinas: macrorreticuladas e de gel.

o Resinas Macrorreticuladas: têm formato de esferas sólidas, retendo o tamanho


quando secas, devido a uma grande quantidade de ligações cruzadas.
o Resinas do tipo gel: possuem o formato de escamas de peixe quando estão secas
e contêm grandes quantidades de água.

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 Classificação das Resinas por Grupo Funcional

Temos quatro tipos de resinas de troca iônica que são baseados nos grupos funcionais
ligados ao suporte principal da resina. São eles:

o Cátion de ácido forte CAForte


o Cátion de ácido fraco CAFraco
o Ânion de base forte ABForte
o Ânion de base fraca ABFraca

A troca iônica utiliza um contator de leito fixo ou suspenso durante a operação, que é
similar aos contatores utilizados para adsorção, sendo que a diferença básica entre a
troca iônica e a adsorção está na capacidade de os meios utilizados de troca iônica serem
muito mais rápidos. A resina de troca iônica pode ser facilmente regenerada no local, o
que é uma grande vantagem em relação aos meios de adsorção que, em geral, tem de
ser substituídos ou tirados do local para regeneração. A capacidade de troca
corresponde à quantidade máxima de íons que pode ser trocada antes de a resina ser
regenerada.

Utilizando os conceitos de transferência de massa para a movimentação de substancias


voláteis entre as fases gasosa e líquida, utilizam-se dois processos da unidade de
tratamento de água: a aeração e o air stripping (arraste com ar). O contato entre o ar e
a água faz com que ocorra a transferência das substancias voláteis da água para o ar
(por exemplo, os compostos orgânicos voláteis COV) ou do ar para a água (por exemplo,
o oxigênio).

O dessorção é a transferência de massa envolvendo arraste de substâncias voláteis da


água para o ar, sendo que esse é um dos processos mais utilizados no tratamento de
água. Já a adição de gases do ar na água é conhecida como absorção, sendo que o
processo mais utilizado envolve a adição de oxigênio (aeração) na água.

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 Oxidação Avançada

A decomposição oxidativa é um processo recomendado para a realização da


decomposição dos compostos que não foram removidos no tratamento convencional
da água. Iremos mencionar compostos com características bem definidas, tais como a
alta estabilidade química e a baixa degradabilidade biológica.

Processos oxidativos utilizam peróxido de hidrogênio (H2O2) e ozônio (O3) como os


principais oxidantes, sendo que aquele pode ser associado ao ferro (reagente Fenton)
com incidência de radiação ultravioleta que, quando aplicada ao ozônio, chamamos de
fotocatálise, segundo Andrade (2018), podendo ser esta aplicação realizada em
conjunto com o próprio peróxido de hidrogênio.

Os processos oxidativos ocorrem com reações de oxirredução, e os produtos obtidos,


em sua maioria, são radicais livres que reagem com outros compostos, o que nos leva a
uma necessidade de retenção desses radicais livres através, por exemplo, do carvão
ativado. Para o tratamento da água, os processos de oxidação mais comuns são a
oxidação convencional e a oxidação avançada.

Quando adicionamos a água um oxidante que irá reagir diretamente com o


contaminante-alvo, estamos nos referindo à oxidação convencional que é seletiva, ou
seja, oxidantes específicos devem ser usados para remover contaminantes específicos.
Os principais oxidantes convencionais utilizados no tratamento da água são: cloro,
dióxido de cloro, ozônio, permanganato de potássio e peroxido de hidrogênio, que
transformam compostos metálicos solúveis reduzidos, como por exemplo o Fe (II) e
Mn (II), em suas formas oxidadas Fe (III) e Mn (IV), que são insolúveis, precipitando e
posteriormente sendo removidas por decantação e filtração.

O controle do odor, do sabor, a remoção da cor e do sulfeto de hidrogênio são outras


aplicações da oxidação convencional. Vale ressaltar que, devido às reações específicas
que ocorrem no processo, as reações de oxidação são relativamente lentas.

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Já a oxidação avançada ocorre com a adição ou a presença de vários reagentes na água
que formam espécies altamente reativas, conhecidas como radical hidroxila, que é uma
espécie transitória. Este radical é extremamente reativo, o que não o torna seletivo,
fazendo com que qualquer espécie reduzida seja oxidada. De acordo com Andrade
(2018), principal foco da oxidação avançada são os combustíveis, solventes,
medicamentos humano e veterinário, pesticidas agrícolas e herbicidas, ou seja,
produtos químicos orgânicos sintéticos (PQOS).

A oxidação avançada possui uma série de benefícios inerentes sobre outros processos
de tratamento. São eles:

o Contaminantes são completamente destruídos.


o Contaminantes voláteis ou não adsorvidos podem ser destruídos.
o Alguns processos de transferência de massa, como a adsorção ou a extração,
transferem apenas o contaminante para outra fase, que se torna um resíduo e
pode precisar de tratamento adicional.

A eficiência dos processos de oxidação avançada pode ser afetada por alguns fatores.
São eles:

o Redução dos radicais hidroxila.


o Redução da capacidade dos radicais hidroxila de reagir com os compostos-alvo.

Quando a água apresentar menos transitividade para luz, o processo UV/H2O2 irá gerar
menos radicais hidroxila, sendo que a taxa de geração dos radicais hidroxila também
será afetada pelo pH da água.

 Impacto do pH

O pH afeta os processos oxidativos de três maneiras. São elas:

o O pH afeta a concentração dos ânions bicarbonato e carbonato na solução.


o A concentração de HO2.

O pH afeta a carga dos compostos orgânicos se eles forem ácidos ou bases fracas.

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3.4 Aeração, air stripping

De acordo com Howe et al. (2016), a aeração e o air stripping utilizam contatores de
água-ar com a finalidade de aumentar o contato entre as fases liquida e gasosa. Com o
aumento da interface ar-água, o processo de transferência de massa de absorção ou
dessorção se torna mais rápido com taxas acima do habitual; em resumo, as substancias
voláteis se movimentam com mais rapidez da água para o ar, bem como os gases
solúveis se movimentam com mais rapidez do ar para água.

Podemos dividir os dispositivos de transferência de gás em duas categorias. São elas:

 Contatores de fase gasosa: dispersam gotas de água para uma fase de gás contínua.
 Contatores inundados: dispersam bolhas de ar na fase líquida contínua.

Os contatores de fase gasosa, como torres de fluxo contracorrente ou empacotadas, são


geralmente utilizados na remoção (ou limpeza) de gases ou produtos químicos voláteis
da água. Já os contatores inundados normalmente são utilizados para adicionar gases
(O2, CO2, O3, por exemplo) na água.

Os aeradores também são utilizados na realização do contato ar-água em air stripping e


aeração. Estes utilizam um processo que aumenta a proporção ar-água por meio da
pulverização de água no ar ou pela introdução de ar na água através de bicos e difusores
(colunas de bolhas) submersos ou de turbinas de superfície. Com isso, o processo de
transferência de massa (dessorção e absorção) através dos aeradores ocorre de maneira
eficaz em termos de custos.

Os contatores ar-água mais utilizados para o arraste com ar são torres e aeradores, e os
principais fatores que controlam a seleção do tipo de contator ar-água para o arraste
são o grau desejado de arraste do composto e a constante de Henry do composto.

São critérios para escolha das torres: possuir uma constante de Henry baixa (ou seja,
não ser muito volátil, o que nos leva a uma elevada afinidade do composto com água)
ou um elevado grau de arraste. Os critérios para a escolha dos aeradores são contrários
aos das torres, ou seja, baixa solubilidade ou volatilidade elevada, o que nos leva a um
gás com baixa afinidade na água ou o grau desejado de arraste não muito elevado.
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Para remoções inferiores a 90%, podemos utilizar sistemas de aeração economicamente
viáveis, tais como:

 Aeração difusa
 Aeração de pulverização
 Aeração mecânica

O principal objetivo da aeração é aumentar o teor de oxigênio na água por meio da


adição de ar na mesma, o que pode ser realizado através de:

 Difusores em um tubo, canal ou tanque de processo.


 Água em cascata sobre bandejas empilhadas.
 Turbinas e rodas de superfície que misturam o ar na água, na parte superior de
bacias.
 A oxigenação pode ser realizada utilizando oxigênio puro.

3.5 Gestão de Resíduos

Planejar o descarte ou reutilizar os resíduos do tratamento da água que são constituídos


por compostos sólidos, gasosos, líquidos e semissólidos são tarefas importantes
desempenhadas na gestão de resíduos, e devem ser concebidas no projeto das
instalações. Segundo Macêdo (2000), minimizar a quantidade de material a ser
descartado é o principal objetivo da gestão de resíduos, o que trará a minimização dos
impactos ambientais, atendendo a todos os requisitos de descarga estabelecidos pelos
órgãos reguladores.

A atividade de gestão dos resíduos pode ser subdividida em:

 Fontes de resíduos
 Quantidades de resíduos
 Constituintes de interesse
 Restrições ambientais e regulamentares

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Podemos classificar os principais resíduos produzidos pelo tratamento de água em:

Lodos sólidos e semissólidos:

 Líquidos;
 Líquidos resultantes dos processos de espessamento de lodo;
 Resíduos gasosos provenientes de processos de tratamento de água especializados.

A fonte desses resíduos será descrita a seguir:

Tabela 3.1 – Processo de tratamento de resíduos sólidos e semissólidos.

Fonte de resíduo Descrição


Precipitação química Gera o lodo que pode conter lama, argila, material
com alúmen e ferro coloidal e microrganismos com produtos químicos
coagulantes e polímeros.
Telas grossas Impedir a entrada de detritos e peixes na estrutura de
entrada.
Flotação Flutuação, que com o tempo se torna espessa para formar
lodo, resultante do processo de flotação.
Pré-sedimentação Lodo resultante da pré-sedimentação, para remover
quantidades brutas de sedimentos antes do tratamento
convencional.
Fragmentos de filtro de Material semissólido resultante da raspagem da
areia lento superfície de filtros de areia lentos.
Absorventes gastos Material sólido usado para sorver os constituintes da
solução, como dureza, arsênio, flúor, fósforo e
componentes orgânicos selecionados, que perderam a
capacidade de adsorção significativa e/ou não podem ser
reativados efetivamente.
Telas deslocáveis Utilizadas para impedir que grãos, areia e pequenas
pedras que vieram através da entrada penetrem na
instalação de tratamento.
Abrandamento da Água Lodo de cal resultante da remoção do cálcio e do
magnésio das águas brutas, durante o abrandamento por
precipitação.

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Tabela 3.2 – Processo de tratamento dos resíduos líquidos.

Fonte de resíduo Descrição


Salmoura e Água de Salmoura e Água de enxague da reativação de
lavagem de resíduo de absorventes junto com a Água de lavagem dos resíduos
absorventes sólidos utilizados para limpar os leitos.
Concentrado Água que contém os constituintes dissolvidos removidos
por membranas de osmose inversa e nanofiltração.
Água de lavagem de Utilizada para remover os sólidos residuais em filtros de
resíduo de filtro retrolavagem. Água de elevada turbidez, podendo conter
organismos patogênicos.
Água de filtro para Água utilizada para condicionar os filtros depois da
resíduo retrolavagem que tem partículas e turbidez acima dos
níveis de ação regulamentares.
Salmouras e Água de Salmoura e Água de enxague da reativação de resinas de
lavagem de troca iônica troca iônica, cuja capacidade de troca foi esgotada. As
salmouras de resinas utilizadas para abrandamento
contendo geralmente sódio, cloreto e íons de dureza; elas
são ricas em STD, mas pobres em sólidos em suspensão.
Água de lavagem de Água de lavagem de alta turbidez que possa conter
filtro de areia lento organismos patogênicos resultantes da limpeza de
raspagem de filtros de areia lentos.

Tabela 3.3 – Resíduos líquidos de processos de espessamento/desidratação.

Fonte de resíduo Descrição


Centrifugado Líquido resultante do espessamento centrifugado do
lodo.
Decantação e subfluxo Líquido decantado (sobrenadante) da superfície e
de leito de secagem subfluxo (percolado) de areia e outros tipos de leitos de
secagem.
Filtrado Líquido resultante do espessamento da placa e da
estrutura de lodo.
Filtrado (prensagem) Líquido resultante do espessamento de prensa de correia
do lodo.
Fluxo sobrenadante Água limpa resultante da decantação dos sólidos residuais
resultantes do espessamento por gravidade e flotação do
lodo.

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Tabela 3.4 – Resíduos gasosos de processos de tratamento.

Fonte de resíduo Descrição


Torres de stripping Durante as operações de extração ocorre a liberação de
gases que possui contaminantes que devem ser
removidos antes de o gás poder ser descarregado.

Em uma estação de tratamento de água convencional, de 3% a 5% do volume da água


bruta pode se tornar resíduo líquido, sólido e semissólido, sendo que grande parte desse
volume é a água de lavagem de resíduos do filtro, que contém menos de 10% dos sólidos
removidos. A maior parte dos sólidos removidos, geralmente, na ordem de 0,1% a 0,3%
do fluxo da instalação, pertencem ao subfluxo de tanques de sedimentação. Toda
instalação de filtração direta remove os sólidos nos filtros. Os processos de tratamento
e das operações de espessamento podem conter:

 Compostos causadores de sabor e odor;


 Carbono orgânico assimilativo (COA) e carbono orgânico total (COT);
 Precursores na formação de SPD (matéria orgânica natural);
 Subprodutos de desinfecção (SPD);
 Turbidez/partículas;
 Cistos de Giárdia e oocistos de Cryptosporidium;
 Bactérias patogênicas e vírus;
 Sólidos/sal dissolvidos;
 Materiais radioativos;
 Arsênio ou outros componentes tóxicos;
 Manganês e ferro;
 Compostos orgânicos sintéticos (COS).

Os resíduos das estações de tratamento eram descartados de maneira indiscriminada


em rios, córregos, lagoas e no solo sem nenhum tipo de tratamento, o que gerava danos
ambientais muito sérios, tais como acúmulo de lodos nos cursos de água, aumento da
concentração de sal e da turbidez nas águas receptoras que afetam a vida aquática,
dentre outros. O cenário requer algumas restrições regulamentares que foram se
tornando cada vez mais severas nos últimos anos.
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Conclusão

Vimos que os tratamentos avançados são muito importantes, complementando o


tratamento convencional da água e garantindo sua qualidade, atuando na remoção
extra de compostos com potencial tóxico e microrganismos patogênicos, melhorando
ainda alguns parâmetros como cor, sabor e odor.

Conhecemos a osmose inversa (OI), que força o fluxo de água a ir no sentido contrário
da osmose natural, utilizando uma pressão com intensidade adequada, que promove a
concentração de substâncias e possibilita a retirada de bactérias, metais e pigmentos. O
tratamento é realizado em uma membrana semipermeável que separa solutos que
estão dissolvidos na água.

Vimos que a adsorção é um processo que remove constituintes dissolvidos na água


através de um processo de transferência para a superfície de um sólido, assim como a
troca iônica.

A decomposição oxidativa é um processo recomendado para a realização da


decomposição dos compostos que não foram removidos no tratamento convencional
da água. Iremos mencionar compostos com características bem definidas, tais como a
alta estabilidade química e a baixa degradabilidade biológica. Já a aeração e o air
stripping utilizam contatores de água-ar com a finalidade de aumentar o contato entre
as fases líquida e gasosa.

Todos os processos de tratamento de água geram resíduos que devem ser tratados,
fazendo com que o planejamento, o descarte ou a reutilização destes resíduos que são
constituídos por compostos sólidos, gasosos, líquidos e semissólidos se tornem tarefas
importantes que são desempenhadas na gestão de resíduos e devem ser concebidas no
projeto das instalações.

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REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, C.; PAULA, M. A. S. de. Tratamento de água e efluentes: fundamentos


de saneamento ambiental e gestão de recursos hídricos. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014.

HOWE, K. J. et al. Princípios de Tratamento de Água. São Paulo: Cengage Learning,


2016.

MACÊDO, J. A. B. Águas & Águas. Belo Horizonte: ORTFOFARMA, 2000.

ANDRADE, T. Interferência da aplicação do permanganato de potássio


conjuntamente ao carvão ativado em pó para a remoção de MIB e Geosmina em
águas de abastecimento. São Paulo: Escola Politécnica, Universidade de São Paulo;
2018.

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