Você está na página 1de 7

Urgências Pediátricas

Venóclise de Manutenção
Holliday e Segar tentaram facilitar o cálculo através de uma fórmula para a necessidade hídrica da
criança. Essa necessidade variava de acordo com a faixa etária, portanto eles padronizaram a variação de
acordo com o peso (faixas de peso). Essa fórmula foi feita em lactentes saudáveis em aleitamento materno
ou fórmula láctea e posteriormente extrapolada para enfermos.

Para 100 kcal:


- 100 mL de água. - 0,5 mEq Ca.
- 3 mEq Na. - 5 g de glicose.
- 2,5 mEq K.

As fórmulas explicadas aqui são aquelas de prescrição inicial (de partida). Ao longo do
internamento, essa venóclise irá variar de acordo com a quantidade de eletrólitos nos exames do paciente e
sua condição clínica/necessidade hídrica.

A depender da condição clínica do paciente, haverão algumas alterações importantes que


impactam no suporte basal e BH exigido, implicando diretamente na quantidade de sódio (Na), calorias e
água livre. Dentre essas condições, pode-se listar:

• Gasto de energia → infecção (aumenta o gasto).


• Produção de água livre (de acordo com a respiração aeróbica) – rins.
• VPM, sedação e restrição ao leito → diminui o gasto energético.
• Secreção de HAD (hormônio antidiurético) → sob estresse.

Adicionalmente, se o paciente está em venóclise exclusiva ou se consegue se alimentar em alguma


quantidade, também influenciará nas necessidades do enfermo.

Nessa fórmula, será considerado que o paciente precisa de venóclise plena e não irá se alimentar.

Fatores que Necessitam de Aumento ou Diminuição da Oferta de Líquidos


❖ Aumentar:
o Febre.
o Incubadora (dispositivos que aumentam a temperatura da criança).
o Poliúria.
o GECA – gastroenterocolite aguda (vômitos e diarreia).
o Grandes queimados.

Vinícius Moreira
❖ Diminuir/Restringir:
o ICC – Insuficiência cardíaca congestiva.
o IRA – Injúria renal aguda.
o Lesão pulmonar.
o HIC – Hipertensão intracraniana.
o Pós-operatório.
o Ventilação mecânica.
o Outros.

Cálculo do Volume
Idealmente, pacientes enfermos necessitam de 1200 a 1500 mL/m²/dia (cálculo de acordo com a
superfície corpórea), e 800/600 a 400 mL/m²/dia em pacientes com restrição hídrica (cardiopatas,
nefropatas). Entretanto, pode-se utilizar a fórmula estabelecida de Holliday-Segar, de acordo com o peso da
criança para calcular o volume necessário ao longo do dia.

A superfície corpórea pode ser calculada de acordo com as seguintes fórmulas (a segunda é a mais
utilizada na prática):

𝑆𝐶 = √(𝑃. 𝐴)/3600 ou 𝑆𝐶 = (𝑃. 4 + 7)/(𝑃 + 90)

Volume de Fluido de Acordo com Holliday-Segar


A determinação de volume de acordo com Holliday-Segar está disposta a seguir:

Peso Volume
0 a 10 kg 100 mL/kg
11 a 20 kg 1000 mL + 50 mL/kg que ultrapassar os 10kg
> 20 kg 1500 mL + 20 mL/kg que ultrapassar os 20 kg

Portanto, como exemplo:


- Criança de 9 kg → 100 x 9 = 900 mL/dia.
- Criança de 12 kg → 1000 + 50 x 2 = 1100 mL/dia.
- Criança de 25 kg → 1500 + 20 x 5 = 1600 mL/dia.

Que Tipo de Solução Usar?


A tonicidade sérica do plasma vai de 270 a 310 mOsm/L, portanto, uma solução hipotônica ou isotônica
será classificada de acordo com a comparação ao plasma.

Vinícius Moreira
❖ Hipotônica
A solução hipotônica tem seu conteúdo conforme a seguinte proporção:

• Glicose → 5 a 8 g.
• K → 2,5 mEq. 100 mL
• Na → 3 mEq.

Diante do volume total que a criança precisa, ao se seguir essa proporção, se estará fornecendo o
mínimo do que ela precisa de carboidrato e de sódio e potássio para sobreviver ao dia. Entretanto, quando
se realiza essa solução numa escala de tempo maior (ex: 1 semana), pode levar à redução da quantidade de
Na no corpo (hiponatremia), que acarreta em complicações.

Para estimar a osmolaridade de uma solução basta transformar a concentração de sódio em


miliequivalente por litro, já que o íon sódio é o principal responsável pela osmolaridade. Isso é feito a partir
do seguinte cálculo:
100 𝑚𝐿 . 10 − (𝑁𝑎 = 3). 20

Ou seja, no caso da solução hipotônica, a osmolaridade é de 60 mEq/L, bem abaixo do mínimo da


osmolaridade do corpo humano (270).

A solução isotônica é a solução utilizada em pacientes retentores de sódio, portanto, basicamente


nos nefropatas, hepatopatas e cardiopatas.

❖ Isotônica
As soluções isotônicas são aquelas que estão dentro da faixa de permissibilidade osmolar do plasma
humano (270 a 310 mOsm/L). Nessa solução, os valores de proporção de concentração de substâncias é a
demonstrada abaixo:

• Glicose → 5 a 8 g.
• K → 2,5 mEq. 100 mL
• Na → 13 a 15 mEq.

Ao realizar o mesmo cálculo para determinar a osmolaridade dessa solução, seguindo o que foi
exemplificado anteriormente, chega-se ao valor de 300 mEq/L de osmolaridade, dentro da faixa de
normalidade da osmolaridade sérica.

Os riscos potenciais dessa solução a médio e longo prazo é o desenvolvimento de hipernatremia


(não verificado nas evidências científicas), além da acidose metabólica hiperclorêmica, pela grande
quantidade de cloreto.

Vinícius Moreira
O tipo de solução padrão utilizada numa venóclise de manutenção para crianças é a solução isotônica (5x
mais sódio que a solução hipotônica padrão).

Como Calcular a Solução?


1. Determinar o volume (segundo a fórmula de Holliday-Segar demonstrada anteriormente).
2. Determinar o tipo de solução (isotônica ou hipotônica), para de acordo com a finalidade, utilizar as
proporções dos componentes para o cálculo:

• Solução hipotônica (por 100 mL): • Solução isotônica (por 100 mL):
- Glicose → 5 g. - Glicose → 5 g.
- K → 2,5 mEq. - K → 2,5 mEq.
- Na → 3 mEq. - Na → 13 a 15 mEq.

Exemplo
❖ Criança pesa 9 kg e necessita de realizar venóclise com SOLUÇÃO HIPOTÔNICA:

O cálculo do volume deverá ser feito utilizando os 9 kg, e seguindo a tabela de peso-volume, nesse
caso, multiplica-se os 9 quilos por 100. O resultado é 900 mL/dia de quota hídrica, a ser administrada.

Para determinar a quantidade de glicose, sabe-se que é necessário 5 g de glicose para cada 100 mL
da solução. Portanto, se a solução possui 900 mL, será necessário 45 g de glicose (9x mais) para 900 mL.

- Já para fornecer os 45 g de glicose, deverá avaliar os insumos disponíveis no hospital. Um deles


é o soro glicosado 5%, que possui exatamente o que é necessitado pelo paciente: 5 g de glicose
para cada 100 mL.

𝑆𝐺 5% − − − − − − − − 900 𝑚𝐿

- Entretanto, pode-se utilizar o glicose a 50%. Para utilizá-lo, deverá utilizar soro fisiológico pois
esse não contém glicose.

Para determinar a quantidade de potássio, é calculado 2,5 mEq a cada 100 mL de solução. Então
como nesse caso são necessários 900 mL, haverá necessidade de 22,5 mEq.

- O insumo mais comum que possui potássio no hospital é o KCl 19,1%. Nele, sabe-se que cada
mL possui 2,5 mEq de potássio. Como se necessita de 22,5 mEq, serão necessários 9 mL de KCl
19,1%.
𝑆𝐺 5% − − − − − − − − 900 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝑙 19,1% − − − − − − 9 𝑚𝐿

Vinícius Moreira
Já para calcular-se o sódio, segue-se o mesmo pensamento. Portanto, como trata-se de uma
solução hipotônica, com necessidade de 3 mEq de Na para cada 100 mL, o paciente necessitará de 27 mEq
de Na (9x mais, seguindo a mesma proporção).

- A cada 1 mL de NaCl 20% há 3,4 mEq de sódio. Portanto, como são necessários 27 mEq de
sódio, haverá a necessidade de 8 mL de NaCl 20% na solução total.

𝑆𝐺5% − − − − − − − − 900 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝑙19,1% − − − − − − 9 𝑚𝐿
𝑁𝑎𝐶𝑙20% − − − − − − 8 𝑚𝐿

A grafia até o momento, se for entregue à enfermagem, estará INCOMPLETA. Isso se deve por 3
fatores:

1. Não conseguiríamos colocar toda essa quantidade de soro em um recipiente de 500 mL.
→ Deverá ser dividida em 2 fases.
2. Não consta a vazão da solução nem em mL/hora, nem em gotas/minuto.
3. Não consta a via de administração.

O soro é aplicado na veia do paciente pela utilização dos seguintes materiais


demonstrados ao lado (bolsa de solução, equipo, câmara de gotejamento, pinça etc.).
Para controlar o gotejamento, utiliza-se a pinça (apertando ou afrouxando), já que
com isso, consegue-se calcular pelo gotejamento.

1 𝑚𝐿 − − − − 20 𝑚𝑎𝑐𝑟𝑜𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠 (𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑢𝑚)


1 𝑚𝐿 − − − − 60 𝑚𝑖𝑐𝑟𝑜𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠

Outra maneira de calcular a velocidade de aplicação é com a bomba


de infusão, também chamada de bomba de seringa. Ela permite que se
programe o volume total e a velocidade de aplicação. Essa bomba pode ser
utilizada com o soro tradicional ou com uma pequena solução dentro de uma
seringa.

O cálculo com uso do equipo é em gotas/min, enquanto que o cálculo com a bomba de infusão é feito em
mL/hora.

Vinícius Moreira
Feito esse adendo, ao retornar ao cálculo prévio, deve-se dividir a solução para 2 administrações,
respeitando o tamanho da bolsa, além de calcular a velocidade de aplicação de acordo com os materiais
presentes.

- Se for uma bomba de infusão → soma-se tudo e divide-se pela quantidade de horas.
- Se for através do equipo/pinça → soma-se tudo, multiplica por 20 (quantas gotas possuem em
1 mL) e transforma-se a quantidade de horas em minutos (12 x 60), dividindo a quantidade de
gotas pelos minutos.

𝑆𝐺5% − − − − − − − − 450 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝑙19,1% − − − − − − 4,5 𝑚𝐿
𝑁𝑎𝐶𝑙20% − − − − − − 4 𝑚𝐿
𝑉𝑇 − − − − − − − − − 458,5 𝑚𝐿
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝐸𝑉 𝑒𝑚 38,2 𝑚𝐿/ℎ 𝐸𝑉 𝑒𝑚 𝑏𝑖𝑐 𝑑𝑒 12/12 ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 13 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑖𝑛 𝑑𝑒 12/12 ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ

Fórmulas Utilizadas na Prática


❖ Utilizando o mesmo parâmetro do exemplo demonstrado anteriormente (9 kg), porém agora para
uma SOLUÇÃO ISOTÔNICA.

Nessa fórmula, utiliza-se o volume em soro fisiológico a 0,9% (SF 0,9%) correspondente ao volume,
já se calcula de acordo com a capacidade da bolsa de soro (900 mL/2 = 450 mL em 2 administrações). Para
completar com a glicose, como não está utilizando o soro glicosado, utiliza-se glicose a 50% (GLIC 50%),
correspondente a quantidade de 10% do total de soro fisiológico (45 mL em cada administração). Já o KCL
19,1% corresponde a 1% do total de soro fisiológico (4,5 mL em cada administração). Com isso, obtém-se e
calcula-se a velocidade de administração:

𝑆𝐹 0,9% − − − − − − − − 450 𝑚𝐿
𝐺𝐿𝐼𝐶 50% − − − − − − − 45 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝐿 19,1% − − − − − − − 4,5 𝑚𝐿
𝑉𝑇 − − − − − − − − − − − 499,5 𝑚𝐿
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝐸𝑉 𝑒𝑚 41,6 𝑚𝐿/ℎ 𝐸𝑉 𝐵𝐼𝐶 𝑑𝑒 12/12ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 14 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑖𝑛𝑢𝑡𝑜 𝑑𝑒 12/12ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ

Caso queira corrigir o volume total, pois ele passou os 900 mL iniciais, pode-se somar a glicose e o
KCL e retirar do soro fisiológico:

𝑆𝐹 0,9% − − − − − − − − 400,5 𝑚𝐿
𝐺𝐿𝐼𝐶 50% − − − − − − − 45 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝐿 19,1% − − − − − − − 4,5 𝑚𝐿
𝑉𝑇 − − − − − − − − − − − 450 𝑚𝐿
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝐸𝑉 𝑒𝑚 37,5 𝑚𝐿/ℎ 𝑒𝑚 𝐵𝐼𝐶 𝑑𝑒 12/12ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 13 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑖𝑛𝑢𝑡𝑜 𝑑𝑒 12/12ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ

Vinícius Moreira
❖ Já para calcular uma SOLUÇÃO HIPOTÔNICA nessa mesma lógica, utiliza-se a seguinte sequência:

Determina-se o volume total (900 mL) e divide-o em 5 partes:

- 1/5 (180 mL) → SF 0,9%.


- 4/5 (720 mL) → SG 5%.

Além disso, o KCL 19,1% será correspondente aos mesmos 1% da solução isotônica, demonstrado
anteriormente. Portanto, a solução ficaria da seguinte forma, após dividi-la para caber na bolsa de soro:

𝑆𝐹 0,9% − − − − − − − − 90 𝑚𝐿
𝑆𝐺 5% − − − − − − − − − 360 𝑚𝐿
𝐾𝐶𝐿 19,1% − − − − − − − 4,5 𝑚𝐿
𝑉𝑇 − − − − − − − − − − − 454,5 𝑚𝐿
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 𝐸𝑉 𝑒𝑚 37,8 𝑚𝐿/ℎ 𝑒𝑚 𝐵𝐼𝐶 𝑑𝑒 12/12 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 24ℎ 𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑟 13 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠/𝑚𝑖𝑛 𝑑𝑒 12/12 ℎ 𝑝𝑜𝑟 24ℎ

Vinícius Moreira

Você também pode gostar