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DISTÚRBIO HIDROELETROLÍTICO NA

CRIANÇA
MARÍLIA BOTELHO
R 2 D E P E D I AT R I A
FLUIDOS CORPORAIS E SEUS
COMPARTIMENTOS
• Os meios intra e extracelular x Membrana celular

A REGULAÇÃO DA ÁGUA
• A regulação da água – mecanismos inter-relacionados visando a manuntenção da
volemia, da osmolaridade e do volume intracelular.
• Papel do ADH e Aldosterona
DESIDRATAÇÃO
• Ocorre em situações de baixo aporte, perdas excessivas ou mecanismos
compensatórios não efetivos.
• Sinais clínicos da desidratação

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DESIDRATAÇÃO
• Dependendo da concentração do Na sérico, a desidratação pode ser:

ISOTÔNICA: Na próximo da normalidade (75-80% dos casos)


HIPOTÔNICA: Na<130mEq/l
HIPERTÔNICA: Na>150mEg/l
DESIDRATAÇÃO
REIDRATAÇÃO

• Coletar história clinica, avaliar diurese, PESO e estimativas de perdas e aportes de


líquidos.

• Exames complementares devem incluir: sódio, potássio, cálcio, hemograma, uréia,


creatinina, glicose, pH, bicarbonato.

• Carregando…
Desidratação de grau I e II: TRO

• Desidratação grau III e grau II em <3meses, com alteração do estado de consciência,


vômitos intratáveis, distensão abdominal ou íleo adinâmico = hidratação venosa.
DESIDRATAÇÃO
REIDRATAÇÃO

Terapia de reidratação oral

• Pausar dieta, exceto LM

• Pesar a cç no início e a cada hora

• Oferecer SRO a vontade, com limite de tempo de 6hs para completar a hidratação.

• Anotar o volume ingerido e calcular o índice de retenção


Índice de retenção = ganho de peso x 100/volume ingerido (ml)
Se retenção >20% = boa resposta Se retenção <20% na primeira hora = tentar mais
uma hora de TRO, se IR permanecer baixo fazer gavagem ou hidratação EV.
DESIDRATAÇÃO

REIDRATAÇÃO
● Quando indicada gavagem, oferecer SRO na velocidade de 30ml/kg/h nos primeiros 10
minutos, podendo aumentar de acordo com a tolerância até 60ml/kg/h.
● A TRO deve ser suspensa e iniciando-se hidratação EV quando hover crise convulsiva,
vômitos (>3 vezes), distensão abdominal (mesmo após SNG) e/ou perda de peso após
2hs da instalação da SNG.
DESIDRATAÇÃO
REIDRATAÇÃO ENDOVENOSA

A terapia dos déficits corresponde a 2 fases:


1) FASE DE EXPANSÃO: para reestabelecer o volume intravascular. É RÁPIDA E
AGRESSIVA!
SF: 20ml/kg em 20 a 30 minutos
• A criança desidratada grave pode precisar de múltiplos bolus.
• Esta etapa é igual na desidratação isotônica, hipotônica ou hipertônica.
Como avaliar se a etapa de expansão alcançou seu objetivo?
Redução da FC, normalização da PA, melhora da perfusão e do débito urinário
(>1ml/kg/h), aparência mais alerta.
DESIDRATAÇÃO

2) FASE DE RECUPERAÇÃO: após a restauração da volemia, o objetivo é administrar


a manutenção hidroeletrolítica adicionada das possíveis perdas e deficiências
eletrolíticas ainda existentes.

• O volume depende da causa da desidratação, da resposta a infusão inicial e do próprio


grau de desidratação.

• Caso ocorra perdas volumosas durante esse período, fazemos novas expansões com
SF (20ml/kg).

• Em geral usa-se 1 a 1,5 X o volume de manutenção hídrica diária.


COMO AVALIAR SE UM PACIENTE COM
REDUÇÃO DE DIETA PRECISA DE APORTE
CALORICO PARA MANTER SEU ESTADO DE
HIDRATAÇÃO????
ATENÇÃO AO PACIENTE DESNUTRIDO!!!!

Carregando…
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
• Na é o íon de manutenção da tonicidade extracelular!!!!!!

• É o maior componente na manutenção da osmolaridade plasmática.

• Deve ser mantido entre 130 e 150mEq/l


DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPERNATREMIA

>150mEq/l

Deve-se a uma perda proporcionalmente maior de água em relação ao sódio.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• Convulsões, fraqueza muscular, insônia, letargia e coma.


DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPERNATREMIA

TRATAMENTO CLÍNICO

• Preconiza-se que os níveis séricos sejam reduzidos em 0,5mEq/l por hora (ou

10mEq/l) até atingir 145mEq/l.

• A correção deve ser feita com solução hipotônica, com SG5% ou AD.
Mudança do sódio sérico = Na infundido – Na sérico
(0,6 x peso) + 1

• A fórmula estima a mudança do sódio causada pela infusão de 1 litro de solução


infundida.
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPERNATREMIA

TRATAMENTO CLÍNICO Mudança do sódio sérico = Na infundido – Na sérico


(0,6 x peso) + 1
• Exemplo:

Cç de 2 anos, 10kg, desidratada grau II por GECA, usando TRO há 5 dias, apresenta Na
sérico de 158mEq/L.
Usando SG 5% ---------- Mudança Na sérico = 0 - 158 = 22,5 mEq/L
(0,6 x10) +1
Então: a infusão de 1L de SG5% reduziria o Na sérico em 22,5mEq/L

Agora se faz uma regra de três para saber quanto de SG5% é necessário para reduzir o Na
sérico em 10mEq/L nas 24hs.
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPONATREMIA
<130mEq/l

• Quando a quantidade de água excede a capacidade do rim em excretar água.

• Pode ser normovolêmica , hipovolêmica ou hipervolemica.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• Alterações neurológicas (mais evidentes quando se instala de maneira rápida ou


grave).

• Cefaléia, vômito, cãibras, inquietação, desorientação e diminuição dos reflexos


DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPONATREMIA
TRATAMENTO CLÍNICO
Se natremia assintomática entre 120 e 130, pode fazer a correção aumentando o aporte de
sódio na dieta.
Exemplo: cç de 15kg
NaCl 10% (ml) = 3 x Peso
1,7
NaCl 10% (ml) = 26,5ml
Prescrição: dar 6,5ml de NaCl 10% via oral nas dietas de 6/6hs.
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPONATREMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

Mudança do sódio sérico = Na infundido – Na sérico


(0,6 x peso) + 1
• A correção da hiponatremia não deve exceder 10mEq/L por dia e tal correção deve ser

suspensa assim que desaparecerem os sintomas ou o sódio atinja 125mEq/L.


OBS: 1 litro de SF = 154mEq de Na
1 litro de NaCl 3% = 513mEq de Na
OBS: 15ml de NaCl 20% + 85ml de AD = 0,5mEq de Na.
DISTÚRBIOS DO SÓDIO
HIPONATREMIA Mudança do sódio sérico = Na infundido – Na sérico
TRATAMENTO CLÍNICO (0,6 x peso) + 1
Exemplo: Cç de 8 anos, 30kg, no segundo PO de apendicectomia, apresenta crises
convulsivas. Após tto inicial percebeu-se que o menino recebeu 4L de uma solução
hipotônica (SG5%), sem eletrólitos. Os exames demonstram Na sérico de 112mEq/L.
OBS: 1 litro de NaCl 3% = 513mEq de Na
Usando NaCl3% ---------- Mudança Na sérico = 513 - 112 = 21,1 mEq/L
(0,6 x30) +1
Então: a infusão de 1L de NaCl3% aumentaria o Na sérico em 21,1mEq/L
Agora se faz uma regra de três para saber quanto de NaCl3%% é necessário para aumentar o
Na sérico em 10mEq/L nas 24hs.
DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO
• Potássio é o principal íon intracelular, sendo responsável pelo potencial de
membrana.

DISTRIBUIÇÃO DO POTÁSSIO

1- pH: transpote transcelular (cada 0,1U de alteração no pH haverá alteração


concomitante do K sérico de 0,6mEq/l).

2- Insulina: transpote transcelular

3- Adosterona: no ducto coletor (reabsorção de Na e secreção de K)

4- Beta agonistas: efeito direto sobre bomba Na-K


HIPOCALEMIA
<3,5mEq/l

• Causa mais comum é a alcalose, administração de glicose, insulina ou betaagonista.

• Os verdadeiros défcits resultam de perdas GI ou renais.

DIAGNÓSTICO/MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• Diagnóstico laboratorial

• Causa hiperpolarização do potencial de repouso, tornando as células menos


excitáveis.
HIPOCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO
• Se a concentração cair entre de 3 a 3,5mEq/L - Aumentar o aporte de K nas dietas,
aporte ou na NPP.
Alternativa: Xarope de KCL6% = 0,8mEq/L (2mEq/kg/dia).
Exemplo: cç de 2 anos, 13kg, K sérico de 2,1mEg/L
Aumentar em 2mEq/kg dia = 2 x 13 = 26mEq/dia = 32ml de Xarope de KCL ao dia

Prescrição: xarope de KCL6% - Dar 8 ml de 6/6hs.


Solicitar K sérico para avaliar resposta.
HIPOCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO
• Se a concentração cair abaixo de 3mEq/L ou se aparecerem sintomas a correção é
indicada.
• Quando houver comprometimento da função GI e nível abaixo de 3 é indicado
correção EV.
Correção lenta: KCl 19,1% - 1 ml possui 2,5mEq (2 a 4mEq/kg/dia), além das
necessidads basais.
Correção rápida: Nos casos sintomáticos e de maior gravidade impõe-se correção
rápida. Dose: 0,4 a 0,5mEq/kg/h por 4 a 8hs (a infusão de K em vasos periféricos
não pode ultrapassar 40-80mEq/l– dosar K ao término da infusão).
HIPOCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO
Exemplo: Cç, 1 ano, 7kg, K de 2,2mEq/L
Correção rápida:
Dose: 0,4 a 0,5mEq/kg/h por 4 a 8hs
7 x 0,5 = 3,5mEq/h em 4 horas
3,5mEq/L x 4 horas = 14mEq / 1,34 = 10,4ml de KCl 10%.
Correr diluído em SF0,9% sempre obedecendo a regra (limite de 40mEq/l):
4mEq ------------------------ 100ml de SF 0,9% X = 350ml de SF0,9%

14mEq ------------------- x ml
Prescrição: SF 0,9% ---------------------------- 350ml Fazer 90ml/h em BI EV nas 4hs.
KCL10% ---------------------------- 10,4ml
HIPERCALEMIA

>5mEq/l

Deve-se excluir a pseudo-hiperpotassemia:


• Leucocitose >100.000/mm3
• Plaquetose >1.000.000/mm3
• Hemólise
HIPERCALEMIA
DIAGNÓSTICO/MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

• Diagnóstico laboratorial

• Pode manifestar-se desde quadros assintomáticos até PCR

• Fraqueza, arreflexia, paralisia muscular (inclusive respiratória), parestesia e


alterações cardíacas
HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO
Estabilização respiratória e hemodinâmica, monitorização do ritmo cardíaco
+
Tratar a causa de origem do ditúrbio do K
• Primeira conduta: suspender qualquer oferta de K exógena
• Se K>6mEg/l obter imediatamente um ECG
• Nessa situação a ordem das drogas: calcio IV, BIC (mais eficaz se hover acidose
metabólica) e solução polarizante
• As medidas de remoção do K devem ser iniciadas qd o pct estiver estável, devido seu
início de ação mais prolongado
HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

1. Antagonismo direto sobre os efeitos do K na membrana celular

Gluconato de cálcio – é a droga de escolha quando exitem alterações eletrocardiográficas


ou PCR por hiperpotassemia

Ação é imediata (1-3 min) e a duração é de 1 hora

Gluconato de Ca 10% - 1 a 2 ml/kg ev. Correr em 5-30 min.

Obs: o Ca não dimunui a concentração do K sérico, apenas antagoniza sua ação tóxica.
HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

2. Redistribuição do K:

Pode ser feito por 3 formas:

a) Bicarbonato de sódio: utilizado quando há acidose

1-2mEq/kg ev em 10min
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Bic de sódia 8,4% - fazer 1-2ml/kg diluído em 1:4 de AD ou SG 5%. Correr em 10 min

Início de ação em 5 a 10 minutos e duração do efeito de 2hs


HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

2. Redistribuição do K:

b) Solução polarizante

Infusão de insulina para a captação do K

Para evitar a hipoglicemia usa-se 1UI de insulina regular para cada 4-5g de glicose

0,1UI/kg insulina + 0,5g/kg glicose (usar glicose 25%). Correr em 15 min

Início da ação em 30min, com pico em 60min

Efeito se prolonga por 4 a 6hs


HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

2. Redistribuição do K:

c) Beta agonistas
Pico de ação em 30min se via EV e 90min de inalatório
Dose inalatória até 2 vezes maior que o habitual para asma
HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

3. Eliminação do K:

Pode ser feito por 3 formas:

a) Resina de troca

Adsorvem o K no tubo digestivo trocando-o por Na ou Ca

Sorcal (envelope com 30g): 0,5g/kg a cada 3 ou 6hs VO (Diluir em SG a 10% - 4ml de
SG10%/grama da resina)

Início de ação em 1-2hs, com duração de até 6hs


HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

3. Eliminação do K:

b) Diuréticos de alça

Aumentam a excreção renal de K

Devem ser usados desde o início em hipopotassemias graves apesar do seu efeito lento!!!

1mg/kg EV a cada 6hs


HIPERCALEMIA
TRATAMENTO CLÍNICO

3. Eliminação do K:

c) Diálise
Indicada na IR aguda ou crônica
Principal desvantagem é o tempo para preparar o material e o acesso
REFERÊNCIAS
Reis, A.G. et al. Pediatria. Instituto da Criança. Hospital das Clínicas. Usp. 2 edicao.
2013.

Vieira Neto, O.M & Moysés Neto, M. Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico. 2003
Medicina, Riberião Preto, 36: 325-337.

Piva & Celiny. Medicina intensiva em Pediatria. 2005. Editora Revinter. Rio de Janeiro.
Obrigada!!!!

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