Você está na página 1de 5

Hidratação Venosa na Pediatria

a) Introdução
• GECA: o comum é 01/02 dias de febre, não há sangue ou muco nas fezes (infecção bacteriana por
E.coli). Sempre investigar o hábito alimentar (investigação de intoxicação – alimentos estragados,
diferentes, outras pessoas doentes na família), se está bebendo líquidos adequadamente e aceitação de
alimentos/líquidos.
• Sempre observar sinais sugestivos de desidratação e que sugiram sua gravidade:
o Sonolência/hiporresponsividade
o Choro, saliva, hidratação da mucosa
o Perfusão lentificada
o Taquicardia
o Taquipneia sem alterações respiratórias
o Hipotensão (sempre lembrar de colocar no gráfico para idade)
o Turgor da pele (observar na região central)
• Como conduzir quadros de desidratação? Primeiros devemos definir:
o Qual o nível de hidratação do paciente?
o Qual a via de administração de fluidos (oral – preferencial, ou venosa)?
o Qual a solução a ser administrada (Soro Fisiológico 0,9% ou Ringer)?
o Após a estabilização, como administrar fluidos (água, eletrólitos)?
▪ Hidratação de manutenção
▪ Preferência sempre pela via oral!
• Crianças apresentam cerca de 60% do peso corpóreo de fluidos, em contraste com 50% de adultos.
o 2/3 no intracelular e 1/3 no extracelular (intravascular e intersticial)
▪ A “minoria” do líquido está no intravascular, cerca de 1/9 do volume total! Portanto, as
crianças menores desidratam MUITO facilmente!
o Uma criança de 8 kg por exemplo, apresenta cerca de 600 ml de líquido no espaço intravascular
(8x0,65x1/9)
o 01 episódio de diarreia significa uma perda de 100 ml de líquidos, e em 01 vômito de 20-50 ml!

b) Avaliação do estado de hidratação


• Avaliação do nível de hidratação :
o ATENÇÃO! Pais tendem a hiperestimar casos leves e subestimar casos graves de desidratação.
Sempre ser o mais objetivo possível na avaliação.
o Lactentes: avaliar fontanela anterior, mucosas, prega central, pele “acizentada”,
taquipneia/taquicardia, abdome escavado
o Crianças maiores: sinais já citados.
• Para classificação de gravidade da desidratação, avaliar conforme a tabela abaixo! Além de determinar
o grau, determina o percentual de líquido que foi perdido!

o Os três dados mais importantes são: enchimento capilar lentificado, turgor de pele diminuído,
alteração do padrão respiratório sem doença pulmonar. Indicam, no mínimo, desidratação
moderada.

c) Terapia de Hidratação Oral


• Casos leves podem ser hidratados com soro de reidratação oral 75 ml/kg (ou livre demanda)
o Contra-indicações: vômitos incoercíveis, alteração no estado de consciência, intolerância à
glicose, íleo paralítico, sinais de irritação peritoneal, infecções graves, choque.
o Outros líquidos como água de coco e isotônicos não são adequados, pois não tem a composição
mineral adequada. Isotonicos podem levar a hiponatremia dilucional e agua de coco é mais rica
em potássio.
o O SRO tem 90 mEq/L de Sódio, 20g de Glicose e 20 mEq de Potássio por litro. É a melhor
solução para reposição de líquidos.
o No sangue = 135 a 145 mEq/L de Na.
o Administramos da seguinte forma:
1. Suspender a dieta durante a TRO (lentifica absorção de líquido)
2. 75 a 150 ml/kg por 04 a 06 horas
3. Oferecer em intervalos regulares
4. Reavaliar o paciente de hora em hora
o Sempre pesar a criança antes de iniciar a hidratação, e observar constantemente o quanto
ele consegue reter por VO (reavaliar a cada hora) – se não ganhar peso, continuar vomitando,
não reter todo o líquido, partir pra EV!
• Caso o paciente evolua bem, orientar os pais quanto a:
o Alimentação, aleitamento e higiene
o Oferta de líquidos e da TRO – dar imediatamente após a diarreia (pois o líquido evacuado já saiu
do intravascular)
o TRO x volume das evacuações
o Ensinar os pais a reconhecer sinais de desidratação
• Caso o paciente não evolua bem, o MS orienta a gastróclise (infusão de SRO por via nasogástrica ou
orogástrica). É uma prática rara atualmente, pois é muito desconfortável para a criança. É uma tática
válida em serviços de menor complexidade.
o 0,5 ml/kg/min
o Indicações: 04 episódios de vômito em 01 hora, recusa à S.R.O, perda de peso em 01 hora,
distensão abdominal (que não seja íleo ou irritação peritoneal)

d) Hidratação Venosa
• Definir a solução: a mais frequente na pediatria é o soro fisiológico a 0,9%. Sua composição é
o Solução hipertônica!
o 154 mEq/L de Na
• Fase rápida/bolus: 20 ml/kg em até 30 minutos, podemos repetir até 3x, reavaliando constantemente
(diurese + melhora clínica). Se não melhorar, pensar em choque e considerar o uso de drogas vasoativas.
o Após a fase rápida, descontar o volume infundido do volume perdido (calculado anteriormente).
Esse volume restante deve ser dado lentamente ao longo do tempo (pois a criança já estará
hidratada, não há necessidade de ter pressa)
• Fase de manutenção: feita após a estabilização clínica (cada equipo tem 500 ml)
o Reposição de Volume (Holliday-Segar) – é a mais utilizada na prática, apesar de não ser a mais
precisa (geralmente hiperestima a quantidade de fluidos necessários)
▪ Até 10 kg = 100 ml/kg/dia (4 ml/kg/h)
▪ 10 a 20 kg= 1000 ml + 50 ml/kg/dia (2 ml/kg/h)
▪ > 20 kg = 1500 ml + 20 ml/kg/dia (1 ml/kg/h)
▪ Pode ser administrado em 24 horas ou durante o tempo de internação na unidade.
▪ Como estamos hiperidratando, podemos fazer cerca de 60% do volume estimado por
holliday e oferecer o restante por via oral!
o Reposição de Sódio: a concentração plasmática é de 145 mmol/L
▪ Pacientes graves tem secreção aumentada de ADH (retém água – tendência a diluir o
sódio e aumenta a probabilidade de hiponatremia!) – dor, ansiedade, pós-op, náuseas e
vômitos, sepse, febre, doenças respiratórias, doenças endócrinas...
• Toda criança “mal” está com nível elevados de ADH! Ou seja, todas que estão
com hidratação venosa hehe. Portanto, não devemos utilizar a fórmula de Holliday
“cegamente”, pois aumenta o risco de desenvolver hiponatremia.
▪ Soluções disponíveis – preferir soluções isotônicas (136 mEq/L):
• NaCl 0,9% (iso-osmolar e isotônica) – 154 mEq/L, 308 mmol/L
• NaCl 0,45% (hipo-osmolar e hipotônica) – 77 mEq/L, 154 mmol/L
• Na Cl 0,45% + glicose 5% (hiper-osmolar e hipotônica) – 75 mEq/L, 432 mmol/L
• Glicose 5% (isso-osmolar e hipotônica) – 278 mmol/L
• Ringer Lactato – 274 mOsm/L, 130 mEq/L – não tem glicose
o Reposição de glicose: principalmente em lactentes, que tem estoque de glicogênio limitados. Em
crianças se alimentado, não precisa!
o Reposição de Potássio: repor apenas se o paciente estiver urinando
• Exemplo de prescrição para manutenção!
o Fase de manutenção em paciente com 22 kg – 1540 ml por Holliday
▪ 3 etapas de 500 ml (limite do equipo)
▪ SG 5% é a solução base para volume total – no caso, 500 ml por etapa
▪ NaCl 20% é a solução base para repor sódio (3,4 mEq/ml)
• Para cada L de solução, queremos uma solução isotônica, ou seja, 136 mEq/L!
• Para calcular o volume necessário de NaCl 20% a ser administrado, utilizamos a
fórmula (só vale para soluções isotônicas – 136 mEq/L!):
𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 𝒅𝒆 𝑵𝒂𝑪𝒍 𝟐𝟎% = 𝟎, 𝟎𝟒 𝒙 𝑽𝒐𝒍𝒖𝒎𝒆 𝑻𝒐𝒕𝒂𝒍 (𝑺𝑮 𝟓%)
▪ Portanto, em uma etapa de 500 ml, devemos adicionar 20 ml de NaCl 20%!
▪ KCl 10% (1,34 mEq/ml) é a solução base para reposição de potássio, porém, existe a
solução de 19,1% (2,5 mEq/ml).
• Para cada L de solução, devemos dar 20 a 30 mEq de Potássio!
Volume de KCl 10% = 0,02 x Volume Total (SG 5%) – solução de 26,8 mEq/L
Volume de KCl 19,1% = 0,01 x Volume Total (SG 5%) - solução de 25 mEq/L
• 10 de KCl a 10%. 5 ml de KCl 19,1%
o Fase de manutenção, criança de 10 kg
▪ 2 etapas de 500 ml – 1000 ml por Holliday-Seager
▪ 20 ml de NaCl por etapa (0,04 x 500)
▪ 10 ml de KCl 10% (0,02 x 500)
▪ 1000 ml em 24 horas – 41 ml/h aproximadamente
▪ Se o paciente estivesse bem e já se alimentando, poderíamos reduzir a quantidade de
líquido ofertada (50-60% da terapia feita)
o Sempre lembrar que o volume total estimado por Holliday é superestimado, podemos fazer 60 a
50% do volume para pacientes que estiverem “bem”! (Por exemplo, 1350 ml podemos fazer
apenas 1000, facilita para a enfermagem fazer a diluição e não faz mal para o paciente, podemos
“arredondar” o número de etapas).
o Resumindo, se esquecer: 500 ml SG 5%, 20 ml NaCl 20%, 10 ml KCl 10%. Dividir o Volume
Total por 24 horas para descobrir a velocidade de infusão (lote “padrão” e a velocidade de
infusão limita o volume infundido em 24 horas). O problema disso é se for em gotas por minuto,
e não por bomba de infusão (os pais mechem no mecanismo e pode dar merda)
▪ 1 ml = 20 gotas
• Uso da ondasetrona – evidência da redução na quantidade de volume reposto por via IV (0,15
mg/kg/dose)

Você também pode gostar