Você está na página 1de 57

UEN

TRATAMENTO HOSPITALAR

Complicações
Módulo 5
2ª. Parte
Versão 2012 _ baseada no protocolo versão 6.6.2
© Michael Golden & Yvonne Grellety

Os autores preservam o seu direito moral sobre esta matéria. Não pode ser alterada no seu
conteúdo, dividida ou utilizada para a formação de estudantes que pagam propinas de
instrução. Não pode ser mudada ou alterada sem fazer referência prévia aos autores. Talvez
possa ser utilizada gratuitamente na formação das equipas do UNICEF e do Ministério da
Saúde, nos países em vias de desenvolvimento.
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS

• No final deste módulo, o participante deve ser capaz de:

– Diagnosticar as complicações

– Tratar as complicações

– Vigiar as complicações

2
COMPLICAÇOES DA DESNUTRIÇÃO
• Desidratação • Anemia
• Choque séptico • Hipotermia
• Falha Cardíaca • Hipoglicemia
• Desidratação por • Síndroma de
Hipernatremia Renutrição
• Febre • Diarreia de
• Diarreia Persistente Renutrição
• Proliferação • Dermatoses (sarna –
bacteriana do tinha, etc.)
intestino delgado –
3
FICHA DE VIGILÂNCIA INTENSIVA
Nome do paciente Nº de Registo Nº Folha Diagnóstico
Idade: Nº-MAG Edema: 0 + ++ +++ Verificar sinais vitais que não tenham sido verificados na coluna "verificado" e
CRENI / sala de urgências/serviço de pediatria/ outros insira a hora na linha da "hora" (verificar somente os necessários)
Data: Enfermeira Responsável Médico Responsável - Se necessário anexar o quadro dos sinais clínicos
Observar o paciente a cada.....min/hora Início da vigilância....................Manhã/Tarde
HORA Verificado Primeira Avaliação
Exame
Nível de consciência
Peso - Kg.g
Recoloração capilar (unha) - segundos
Extremidades frias
Frequência Respiratória - por minuto
Pulsação - por minuto
Rebordo do Fígado (cm)
Fezes (líquidas/semissólidas/sólidas) - nº
Vómitos - nº Ficha de vigilância
Urina
Temperatura (Axilar / retal)
intensiva
Pálpebras retraídas / dormir de olhos abertos
Outra
Outra

Tratamento ministrado
RéSoMal.......... ..... ml
Perfusão - IV................... . ml
Sang/plaquetas...... ml
F75/água açucarada............... ml
Glicose a 10% IV ..................... ml
Oxigénio
Envelope humido
Método kanguru - aquecimento
Medicamentos

Medicamentos

Medicamentos 4
UTILIZAR UMA BALANÇA DE PRECISÃO
DE CERCA DE 5 A 10 g E DESPIR A
CRIANÇA

5
DESIDRATAÇÃO
• As crianças desnutridas são muitos sensíveis a um
excesso de sódio !
• O sinais de desidratação numa criança normal,
podem estar presentes numa criança gravemente
desnutrida NÃO desidratada – somente os
antecedentes de uma perda hídrica recente ou de
uma alteração na aparência física (nomeadamente
no olhar) podem ajudar a diagnosticar uma
desidratação. Tratar a desidratação numa criança
não desidratada é muito perigoso.
• Um falso diagnóstico de desidratação é uma das mais
frequentes causas de morte no tratamento da
desnutrição grave.
6
DESIDRATAÇÃO
• O tratamento da desidratação nas crianças
gravemente desnutridas é diferente do de uma
criança normal.
• Todos os tratamentos intravenosos são
particularmente perigosos e devem ser reservas
para certos casos graves e muito específicos.
• O RéSoMal não deve ser livremente acessível
aos doentes, mas deve ser ministrado
unicamente sob prescrição médica.
• A vigilância deve basear-se principalmente na
alteração de peso.
7
DESIDRATAÇÃO
• O gráfico que se segue demonstra a
incapacidade das crianças gravemente
emagrecidas de eliminarem o seu excesso de
sódio.

• Isto leva a uma sobrecarga, que compromete


o sistema cardiovascular.

• A falha cardíaca que pode resultar da


sobrecarga pode ser muito repentina e
confundida por erro com pneumonia.
8
A função renal na desnutrição grave
Excreção de Sódio num espaço extra-celular normal ou diminuído de volume:
doente normal em azul – doente gravemente emagrecido em vermelho.

12

(% of sodium filtered)
10
Sodium excretion

0
Norm al ECF Expanded ECF
9
DESIDRATAÇÃO - DIAGNÓSTICO
• Recente alteração no olhar, notada pela mãe ou
acompanhante.

• Antecedentes de perdas recentes de líquidos.

• Ausência de EDEMAS – os doentes com edemas


são hiperidratados e não desidratados (ainda que,
muitas vezes hipovolémicos, que é consequência de um
choque séptico). 10
DESIDRATAÇÃO - DIAGNÓSTICO

• As veias “CHEIAS” NÃO são visíveis.

• Observação das pálpebras: qualquer retracção das


pálpebras é um sinal de hiperactividade do sistema
simpático.

• Observação do estado de consciência do doente.

11
VIGILÂNCIA DA REIDRATAÇÃO

O equilíbrio hídrico é medido regularmente pesando-se a


criança – a alteração de peso dá uma boa estimativa do
equilíbrio hídrico. Não tente medir o volume em função da
perda de líquidos – isto é muito menos exacto e leva tempo
– é muito mais adequado fiar-se no peso.

É ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIA QUE HAJA UMA


BALANÇA RIGOROSAMENTE CALIBRADA, NA FASE
AGUDA para os doentes em estado grave.
12
VIGILÂNCIA DA REIDRATAÇÃO

Vigiar hora a hora


• O fígado; marcar os contornos do fígado com a ajuda de
uma caneta de feltro indelével, antes de iniciar qualquer
reidratação.

• O peso, a respiração, e a pulsação.

• Os ruídos cardíacos.

13
TRATAMENTO DA DESIDRATAÇÃO
Reidratar unicamente até à correção do
défice ponderal (medido ou estimado),
depois PARAR! – Não dar nenhuma
solução para “prevenir qualquer
recaída”

Consciente Inconsciente
IV perfusão
ReSoMal ½ Solução salina + 5% glucose
ou ½ Ringer lactato + 5% dextrose
5 ml / kg / 30min nas a 15ml/kg nas 1ªs Horas e Reavaliar
primeiras 2 horas
- Se melhorar, 15ml/kg nas primeiras 2 Horas
- Se consciente, SNG: RéSoMal
- Se NÃO melhorar
=>Choque séptico/tóxico/cardiogénico – Falha
cardíaca/hepática – paludismo cerebral – 14
intoxicação medicamentosa - acidose
• Se há perda continua de peso
– Dar RéSoMal à razão de 20 ml/kg/hora;
– Reajustar o procedimento após uma hora.

• Se o peso é estável
– Dar RéSoMal à razão de 15ml/kg/hora;
– Reajustar o procedimento hora a hora.

• Se houver uma melhoria do estado clínico mas


sempre com a presença de sinais de desidratação
─ Continuar com o tratamento até que o peso alvo de
reidratação seja atingido.

15
• Se aumenta de peso e o seu estado se deteriora sob o
tratamento de reidratação
– O diagnóstico de desidratação é falso.

– Parar toda a ingestão de RéSoMal e dar o F75.

• Se não houver melhoria do seu estado (humor e


aparência) ou alteração dos sinais clínicos
– O diagnóstico de desidratação é provavelmente falso

- Ou seja, dar o F75 ou o F75 e RéSoMal alternadamente.


16
Peso

Aumenta Estável Diminui

Melhoria do Não melhoria do


estado clínico estado clínico

Continuar - PARAR TODA a • Dar 15 • Dar 20


reidratação ml/kg/hora de ml/kg/hora de
- Dar o F75 RéSoMal RéSoMal
Peso alvo • Reavaliar
- Rediagnosticar • Reavaliar
e avaliar hora a hora hora a hora
F75
17
PARAR TODO O TRATAMENTO DE
REIDRATAÇÃO (ORAL OU IV) SE
– O peso alvo for atingido;
– As veias visíveis estão inchadas (voltar a dar F75);
– Desenvolver-se os edemas (sinais de hiper-hidratação –
voltar a dar F75);
– Houver veias superficiais ou refluxo jugular ao nível do
pescoço;
– O tamanho do fígado aumenta mais de um centímetro;
– O fígado apresenta-se mais sensível a palpação;
– O ritmo respiratório aumenta em 5 respirações ou mais por
minuto;
– Desenvolve-se um esforco expiratório;
– A auscultação dos pulmões* apresenta crepitações;
– Existe a presença de um triplo ritmo ou ruído de galope. 18
PESO ALVO DE REIDRATAÇÃO
• Uma criança DAG é transferida do PTPA
para o UEN com um peso na altura de
admissão de 5,5 kg. Ela está com diarreia
há dois dias, segundo a mãe.
• Vocês calculam que ele perdeu 3% do seus
peso.
• O seu peso alvo de reidratação será de:
5500 gr + 0,03*5500 gr = 5500 + 165 = 5665
gr.
DESIDRATAÇÃO (DHA)
HIPERNATRÉMICA (SÍNDROMA
HIPEROSMOLAR)
• É devida a uma deficiência de água (sem perda de sal).
• É frequente nas regiões desérticas de calor muito seco.
• Produz-se quando as refeições são muito concentradas
(NÃO utilizar F100 nos bebés de < 6 meses e/ou < 3 kg
sem o diluir).
• Prevenção: dando a beber muita água ou água açucarada.
.

20
DIAGNÓSTICO DA DHA
HIPERNATRÉMICA
• A pele apresenta uma consistência de pasta de pão.
• Os seus olhos podem estar afundados.
• O seu abdómen pode estar plano ou retraído e a pele
sobre o abdómen enrugada como uma ameixa seca –
o doente tem ar de muito doente.
• Ele perde cada vez mais a consciência para entrar
num estado comatoso e falecer.
• As convulsões não respondem aos anticonvulsivos e,
muitas vezes são diagnosticados como suspeita de
meningite / encefalite.
• Exame laboratorial: sódio sérico > 150mmol/l.

21
TRATAMENTO DA DHA
HIPERNATREMIA
Insidioso :
• A pele altera-se com o retorno ao estado natural ; o
doente mostra-se alerta e consciente.
• O aleitamento é o que há de melhor.
• Administrar 10 ml/kg/h de água açucarada em
pequenos golos e durante várias horas até que o
doente não tenha mais sede. Nesta fase o tratamento
é relativamente seguro.
• NÃO dar muita água demasiado depressa – são
necessárias muitas horas para tratar uma
desidratação hipernatremica ligeira.
22
TRATAMENTO DA DHA POR
HIPERNATREMIA(1)
Se inconsciente/perda de consciência/convulsões :
• O tratamento deve ser lento – se possível vigiar o sódio
sérico: o objectivo é reduzir em 12mmol/24h afim de corrigir
uma hipernatremia mais rapidamente do que o risco de
morte por edema cerebral.
• Sem laboratório, o objectivo é corrigir os défices de água no
mínimo em 48 horas (NÃO seguir as recomendações do
tratamento IV tal como é explicado nos livros de medicina,
utilizando um soro salino para os doentes DAS).
• Prioritariamente, colocar o doente a uma humidade relativa
Termoneutra (28º - 32˚C de Tª ambiente): pulverizar água no
ar, nos locais desérticos; esta é a etapa mais importante que
não deve ser omitida.
23
TRATAMENTO DA DHA

HIPERNATREMIA(2)
Pesar o doente com uma balança bem calibrada
(10 – 20 g de precisão) e anotar o seu peso.
• O objectivo é ter um equilíbrio hídrico de cerca
de 60 ml/kg/d
• Este é o aumento de peso de 60g/kg/d
(5g/kg/2h)
• Dar 2,5ml/kg/h de 10% de água açucarada ou de
leite materno ou de água simples.
• Colocar uma SNG
• NÃO dar F75 neste estádio.
• Nunca dar F100 ou leite da 1ª Idade.
24
TRATAMENTO DA DHA
HIPERNATREMIA (3)
• Pesar o doente de 2 em 2 horas.
Se o peso está estável ou se se verifica uma
diminuição de peso:
– Arrefecer e pulverizar com água.
– Aumentar a ingestão de água açucarada para
compensar as perdas de peso (calcular em
g/h e aumentar a ingestão e acordo com
estes volumes).
Se o peso aumenta, continuar o tratamento
até que o doente retome consciência e volte a
estar alerta.
DIARREIA PERSISTENTE OU CRÓNICA

Os doentes sem diarreia aguda aquosa não


necessitam de um tratamento de reidratação.
–Eles adaptaram-se durante semanas ao seu estado
de hidratação e não devem ser reidratados por várias
horas ou dias.

–O tratamento apropriado é de nutrição, à base de


F75 e um tratamento médico afim de suprimir a
proliferação bacteriana do intestino delgado
(amoxicilina/metronidazol).
26
DIARREIA DE RENUTRIÇÃO APÓS
ADMISSÃO

Diagnóstico :
- Aumento do número de fezes e alteração da
consistência (fezes moles) por altura da mudança de
regime ou do aumento de ingestão alimentar.
-Ausência de perda de peso: o doente não está
desidratado.
Tratamento sem perda de peso
- NÃO ADMINISTRAR RéSoMal,
- A amoxicilina (ou metronidazol – dose máxima de
10mg/kg) suprime a proliferação bacteriana do
intestino delgado.
27
DIARREIA DE RENUTRIÇÃO APÓS
ADMISSÃO (1)
• O F75 vai reparar o intestino – a diarreia deve
desaparecer após alguns dias.
• NÃO UTILIZAR receitas locais inapropriadas de
F75 (receitas hiperosmolares com excesso de açúcar que
causam diarreias osmóticas).
Tratamento COM perda de peso
1- Dividir as refeições em 8 a 10 – a diarreia muitas
vezes é osmótica devido à não absorção de
hidratos de carbono.
2 – Juntar enzimas pancreáticas diretamente na
refeição imediatamente antes de ser tomada.
28
DIARREIA DE RENUTRIÇÃO
APÓS ADMISSÃO (2)
1. Substituir o leite por iogurte no F75, ou pelo leite de
cabra, ou por um regime sem leite.
2. Vigiar as fezes e pesquizar qualquer presença de
muco e de sangue nas fezes devido a uma
disenteria amibiana e/ou shigelose (disenteria
bacilar).

Observação : Parece que este tipo de diarreia é mais


frequente nos desnutridos com edemas – a perda
de peso pode dever-se à fonte dos edemas.
29
Qual é o diagnóstico?
Que tratamento aplicaria?

30
DIAGNOSTICO DE CHOQUE
O choque ocorre quando o debito cardiaco é
insuficiente com consequente diminuição da perfusão
dos orgãos. Isto ocorre:

 Quanto há problemas cardiacos

 Quando diminuição do volume do sangue (hipovolemia)

 Quando ha aumento dos vasos sanguinos (aumento do


espaço vascular-vasodilatação)

31
DIAGNOSTICO DE CHOQUE
O choque deve ser diagnosticado quando há:
 Ma recoloração capilar (aumento do preenchimento
capilar: ≥2secs = moderado, ≥ 3secs severa)

 Extremidades frias (num ambiente de calor)

 Pulso filiforme (o ausente no pulso ou joelho)

 Palidez (outro sinal de estimulação adrenergica)

 Alteração de consciencia sem outra causa


32
CAUSAS DO CHOQUE
Existe varias causas de choque nas crianças com
DAS. É necessario tratar-los de forma especifico
senão ha risco de agravar o choque.
– Desidratação (diarreia com perda importante de liquido)
– DHA hipernatrémica (perda de liquido / alimento muito
concentrado)
– Choque Toxico (medicina tradicional, intoxicação
medicamentosa, aflatoxinas, etc)
– Choque septico (infecção bacteriana, viral, fungica, malaria
complicada)
– Choque cardiogénico (sobrecarga hídrica, elevado aporte de
sodio, hemotransfusão)
– Falencia hepatica
33
MAIS DE UMA CAUSA PODE ESTAR PRESENTE
NA CRIANÇA COM DESNUTRIÇÃO MUITO
SEVERA.
Nota: as outras causas de choque são muito raras nas crianças DAS (hemorragia,
choque anafilactico)
Muitos PROTOCOLO assumem que o choque é
principalmente provocado por desidratação e em
caso de não resposta é diagnosticado logo choque
séptico; Esta abordagem é incompleta.
Portanto muitos pacientes com DAS apresentam uma
mistura de condições com um pouco de diarreia,
septicemia, choque tóxico, geralmente com uma
falencia hepatica e cardiaca – diferente das crianças
sem desnutrição que em situação de choque os
outros orgões funcionam normalmente!
Estes pacientes são frageis
TRATAMENTO DO CHOQUE
SEPTICO
Depois de descartar o choque cardiogenico (ausência de
antecedente de ganho de peso ou aumento frequência
respiratória)
Deve ser tratado como choque séptico
– Mobilizar o menos possível o paciente (evitar o transporte)
– Administrar antibióticos da 3a linha (cf. Mod. 5.1: antibiótico–
considerar métronidazol/cloxacillina)
– Manter num ambiente quente para prevenir a hipotermia
– Dar agua açucarada para beber ou pela SNG logo apos o
diagnostico ( prevenção da hipoglicemia)
– Administrar oxigénio
– Não administrar perfusão em bolos.
- Em caso de alteração de consciência/coma, indicar uma
perfusão IV lenta
35
MUDANÇAS NO PROTOCOLO
GENERICO
• Segundo o estudo “FEAST”, é claro que a administração
de perfusão em bolos aumenta a mortalidade: foi
confirmado por vários estudos.
• Um balanço hídrico positivo esta associado a um
aumento de letalidade em crianças e adultos
• As hemotransfusões e perfusão de albumina não
parece ter melhorado a mortalidade e estudos
demonstram o contrario.
• O objectivo é estabilizar este pacientes ate que a
alimentação e antibiótico sejam eficazes
• Estes pacientes são frágeis e não toleram alterações
súbitas de volumes hídricos, temperatura e
mobilização.
REFERENCIAS ESTUDO FEAST
• Ford N Mortality After Fluid Bolus in Children With Shock Due to
Sepsis or Severe Infection a Systematic Review and Meta-Analysis
PloS One 2012 7 e43953
• Andrews,B Effect of an early resuscitation protocol on in-hospital
mortality among adults with sepsis and hypotension RCT JAMA
318[13], 1233. 2017
• Bachou,H et rm. Risk factors in hospital deaths in severely
malnourished children in Kampala, Uganda. BMC Pediatrics 6[1], 7.
2006
• Boyd,JH et rm. Fluid resuscitation in septic shock a positive fluid
balance and CVP are associated with increased mortality. Critical
Care Medicine 39[2], 259. 2011
• Byrne,L Unintended Consequences Fluid Resuscitation Worsens
Shock in an Ovine Model of Endotoxemia. Am J Resp Critical Care
Med 2018
• Sadaka,F Fluid resuscitation in septic shock effect of increasing fluid
balance on mortality. J Intens Care Med 29 213. 2014
CHOQUE
SEPTICO

Alteração de consciencia /
Consciente
coma
- Não administrar perfusão em bolos
- Administrar uma solução
1/2 salina & 5% glucose
F 75 ou Ringer Lactate & 5% glucose
ou soro fisiológico 0,9% ou Ringer
Por via oral ou Lactate à 10ml/kg na primeira hora,
por SNG - Reavaliar cada 10 minutes,
- Sem melhoria após 30 minutes
REDUZIR à 4ml/kg/h

- Se melhora, F-75 ;
- Se consciente, F75 por SNG. 38
FALHA CARDÍACA – DÉBITO CARDÍACO
O CORAÇÃO ESTÁ FRACO E PODE FACILMENTE ENTRAR
EM FALENCIA

9
Cardiac output
8

7
Cardiac output (L/min/m3)

2
50 60 70 80 90 100
We ight-for-he ight (%)
39
DIAGNÓSTICO DE FALHA CARDÍACA
Diagnóstico
• Qualquer deterioração física com aumento de peso
• Qualquer aumento do volume do fígado.
• Qualquer aumento de sensibilidade do fígado.
• Qualquer aumento do ritmo respiratório
(>50/min para 5 – 11 meses e >40/min para 1- 5 anos, ou uma
hiperapneia aguda com mais de 5 respirações/min).
• Gemido expiratório: sinal de rigidez dos pulmões.
• Crepitações pulmonares.
• Veias superficiais do pescoço proeminentes.
• Ruídos cardíacos com desenvolvimento de um triplo ritmo.
• Aumento ou reaparição de edemas no decurso do tratamento.
Diminuição da concentração de HB (isto exige um exame
laboratorial) – a diminuição de Hb é em geral um sinal de sobrecarga
líquida e não a diminuição dos glóbulos vermelhos. 40
AFLIÇÃO RESPIRATÓRIA
Pesar diariamente

Se o peso aumenta Se o peso diminui


Se o peso permanece
estável

Sobrecarga líquida Pneumonia por


Inalação
Risco de falha cardíaca

41
TRATAMENTO DA FALHA CARDÍACA
• Parar toda a ingestão de líquidos ou sólidos (oral ou IV).

• Nenhum aporte sólido ou líquido deve ser dado até que


todos os riscos de falha cardíaca sejam afastados ou
tenham desaparecido (mesmo se for preciso esperar 24 - 48 h).
Podem ser dadas pequenas quantidades de água
açucarada oralmente se se suspeitar e hipoglicemia.

• Dar furosemida (Lasix) (1mg/kg) – em geral não é muito eficaz.

• Mesmo se muito anémico, não transfundir: salvo se


existirem estruturas para realizar uma
exanguinotransfusão. Mas o tratamento de falha cardíaca
é prioritário ao de anemia. 42
VIGILÂNCIA DA FALHA CARDÍACA

- Pesar o doente (ele deve perder peso para


evitar qualquer sobrecarga cardíaca).
- Medir sua frequência respiratória e auscultar
o aparelho respiratório.
- Palpar o fígado e medir o comprimento,
marcando-o com um caneta indelével.
- Contar as pulsações cardíacas e auscultar
os ruídos cardíacos.
- Observar se existe obstrução da veia jugular
ou das veias superficiais. 43
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA ANEMIA

Verificar a Hb na admissão e a presença de


sinais de suspeita de anemia clínica

- Hb >= 4 g/dl ou - Hb < 4 g/dl ou


-Hematócrito >= 12% ou - Hematócrito < 12 %
entre 2 e 14 dias após
admissão Tratar unicamente nas 1ª s
48h
após admissão:
Sem tratamento Dar 10ml/kg de sangue em 3 h
Parar qualquer alimentação
Dar Ferro na Fase de durante as 3 - 5 h seguintes44
reabilitação
HIPOGLICEMIA
• Os bons resultados obtidos nos centros de dia,
demonstram que a hipoglicemia não é tão frequente
como se pensava.
• A melhor prevenção contra a hipoglicemia é feita por
meio da administração de refeições frequentes.
• Muitas vezes a hipoglicemia não apresenta nenhum
sinal clínico.
• O tratamento não tem nenhum efeito negativo.
• Todos os doentes que apresentam um choque
séptico devem ser tratados como se também
apresentassem hipoglicemia e hipotermia. 45
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE HIPOGLICEMIA
Diagnóstico
• Observar se as pálpebras se encontram retraídas (sinal de
atividade do sistema nervoso simpático) ;
• Observar o estado de consciência do doente.
Tratamento Dar ao doente :
- Se ele estiver consciente: cerca de 50 ml de água açucarada a 10%
(~5g ou uma colher de café de açúcar em 50 ml de água) ou o F75
por via oral;
- Se ele perde a consciência: 50 ml de água açucarada a 10% por
SNG ;
- Se ele está inconsciente: dar água açucarada por SNG e glicose
numa só injeção IV (~ 5ml/kg de solução a 10% – as soluções mais
concentradas obstroem ou fazem rebentar as veias).
 Colocar a antibióticos de 1ª e 2ª Linha.
 Reavaliar após 15 minutos; se não houver melhoras, rever 46 o
HIPOTERMIA – EFEITO DO
AMBIENTE
• Uma temperatura (Tª) ambiente
entre 28 - 32°C é termo-neutra 37.5
para uma criança DAS.
• Quase todas as hipotermias

C)
o
37.0
são devidas 1) à uma Tª
ambiente baixa, 2) crianças
36.5
insuficientemente cobertas, 3)

perature(
crianças DAS após o banho.
36.0
• O gráfico mostra as

oreTem
consequências de uma Tª
ambiente de 25°C para uma C 35.5

criança DAS em vermelho e


azul para uma criança 35.0
normalmente nutrida . -30 0 30 60 90 120 150

Time (min) 47
DIAGNÓSTICO DE HIPOTERMIA

Medir a Tª do doente; se a Tª rectal <35°- Tª axilar


<35,5°C, ele tem hipotermia.

• Medir a Tª ambiente – ela deve estar entre 28°C -


32°C;

• Verificar se a criança dorme com a sua mãe (não


utilizar o berço para crianças que sofrem de DAS).

• Não lavar uma criança gravemente doente!


48
TRATAMENTO DE HIPOTERMIA
Não lavar as crianças gravemente doentes.
Aquecê-la utilizando a técnica “canguru” se ela
tem um acompanhante.
Colocar-lhe uma touca de lã e envolvê-la com a
mãe nos cobertores.
 Dar de beber bebidas quentes à mãe (água
quente é suficiente) para aquecer a sua pele.
Vigiar a Tª corporal do doente durante o
aquecimento.
Tratar a hipoglicemia e dar antibióticos de 1ª e 2ª
linha.
FEBRE
Verificar se :
• O tratamento antipalúdico foi ministrado.
• A criança se encontra a receber terapia com
antibióticos (em certos locais, a resistência à amoxicilina é
muito elevada).
As hipertermias são devidas principalmente a uma Tª
ambiente elevada.
Tratamento
• Efetuar envolvimentos húmidos à Tª ambiente (nunca
utilizar álcool).
• Dar água para beber, mais do que a ingestão normal.
• NÃO dar aspirina ou paracetamol – isto não tem qualquer
efeito nos doentes com DAG, que têm um fígado defeituoso.

Atenção ! As crianças na altura de admissão podem ter um


intoxicação de aspirina, se a mãe comentou que ele estava com
febre. 50
FEBRE - EFEITO DA MUDANÇA DE Tª
AMBIENTE DE 29OC PARA 38OC
38.0

37.5
Temperature (oC)

37.0

36.5
-30 0 30 60 90
Time Minuets
51
LESÕES CUTÂNEAS
• Dermatose no Kwarshiorkor
=> Terapia com antibióticos de 1ª e 2ª Linha e fluconazol.
=> Sulfadiazina de prata e compressas gordurosas/pomada à
base de zinco sobre as feridas – se possível expor ao ar.
=> Massagem suave da pele nos locais não afectados pela
dermatose.
• Escoriação Perineal
Prevenção
1) Manter a criança o mais possível nua (nada de fralda e
cueca plástica) 2) Fazer massagens regulares.
Tratamento
Se é grave, tratar como uma dermatose de Kwarshiorkor
Se não é grave, antibióticos de 2ª Linha – nistatina –
creme/pomada miconazol 5% nitrato => lesões secas.
LESÕES CUTÂNEAS (1)
• Sarna/Piolhos
Tratamento da sarna
=> Pomada à base de Périmetrina (5%) / loção (1%)
sobre todo o corpo durante 12h e lavar com sabão.
Não aplicar nas mucosas e na cara.
Tratamento dos piolhos
 Loção (1%) a base de périmétrina nos cabelos.
Mudar e ferver as roupas e lençóis de cama.
• Infecção Fúngica e Pele : intertrigo – tinha -
micose
Tratamento : creme nitrato miconazol / pomada (2%)
2 vezes por dia durante 10 dias. 53
LESÕES CUTÂNEAS (2)
• Impetigo
Prevenção =>Cortar as unhas – lavar frequentemente
com sabão e secar – não partilhar toalhas, etc.
Tratamento => Lavar com água saponácea quente.
=> Iniciar o tratamento com cloxacilina oral
Se as lesões não responderem em 48 horas, mudar para um
tratamento com eritromicina, clindamicina ou cefotaxima.
• Estomatite Gangrenosa
Limpar as lesões – Dar uma terapia com antibióticos de 2ª
Linha. Se possível, clindamicina+metronidazol 10mg/kg/d;
• Não submeter a operação cirúrgica antes da cura total da
desnutrição.
54
SÍNDROMA DE RENUTRIÇÃO
• Verifica-se quando o doente DAS tem um aumento
considerável da quantidade de alimentos ingeridos.
Subitamente ele desenvolve uma fraqueza, letargia,
delírio, sintomas neurológicos, acidose, necrose muscular,
falha hepática e pancreática, cardíaca e repentinamente
morre.
• Isto deve-se a um desequilíbrio nutricional com redução
do fósforo plasmático, potássio e magnésio.
Prevenção : Iniciar o tratamento com 100kcal/kg/d na
fase aguda e aumentar para 130kcal/kg/d na fase de
transição.
Não administrar mais do que a quantidade que figura
na tabela por classe de peso (100kcal/kg/d) na fase
aguda.
TRATAMENTO DO SÍNDROMA DE RENUTRIÇÃO

• Não dar nada, pelo menos durante 1 dia (à parte a


água açucarada).
• Repassar para Fase Aguda com 50% das ingestões
recomendadas de F75, até que todos os sinais e
sintomas desapareçam; em seguida, aumentar
progressivamente.
• Verificar que o potássio e magnésio se encontram em
quantidade suficiente no regime alimentar.
Nota : se o regime dietético não é à base de leite de vaca, ou
que a mãe dá também cereais, leguminosas, etc., é necessário
dar uma quota suplementar de fósforo para prevenir este
síndroma.
56
RESUMO DAS COMPLICAÇÕES
(MODULO 5 - 2ª. PARTE)

• Ficha de vigilância intensiva – vigilância das


complicações.
• Prevenção e tratamento de: Desidratação
(dificuldade de diagnóstico e conduta a
adoptar diferente de uma criança normal),
Diarreia persistente, Desidratação
hipernatremica, Choque séptico, Diarreia de
renutrição, Anemia. Falha cardíaca,
hipoglicemia, hipotermia, febre, síndroma de
renutrição, Dermatose/Lesões cutâneas.
57

Você também pode gostar