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Guia do Episódio de Cuidado

Diarreia aguda em crianças e adolescentes -


Diretrizes para o diagnóstico e tratamento

Perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes, resultando em aumento do volume e frequência das evacuações e/ou
diminuição da consistência das fezes, por mais de 3 episódios ao dia. Pela sua duração, pode ser classificada em aguda quando tiver
duração menor que 14 dias.

I - ASSISTENCIAL

1. DIAGNÓSTICO E EXAMES ADICIONAIS

Confirmação diagnóstica (clínica e/ou laboratorial):


• Clínica
Indicação de exames diagnósticos
• Nos casos de desidratação grave e suspeita de distúrbios eletrolíticos.
• Em pacientes com risco de disseminação, como lactentes menores de 3 meses, imunossuprimidos, doenças crônicas ou pacientes
com quadro clínico de doença grave ou sintomas persistentes.
Quais exames pedir?
HMG, HMC, PCR, sódio, potássio, cálcio, ureia, creatinina, gasometria venosa, lactato, coagulograma, glicemia
capilar em todos os casos com suspeita de hipoglicemia.
Pesquisa de rotavírus e adenovírus nas fezes, coprocultura/ PCR para gastroenterites.

Indicação de outros exames


Exames de imagem: de acordo com suspeita clínica para afastar diagnósticos diferenciais de diarreia (p. ex. apendicite).

1.1 CLASSIFICAÇÃO DE DESIDRATAÇÃO


• Sem desidratação/ desidratação leve: perda < 5% do peso ou < 50 ml/kg).

• Desidratação leve a moderada: perda entre 5 a 10% ou entre 50 a 100 ml/kg).

• Desidratação grave: perda > 10% ou > 100 ml/kg.

* Covid-19 na infância:

Pode se manifestar apenas com sintomas do trato gastrointestinal. Os sintomas mais comuns são vômitos, diarreia e dor abdominal. O
diagnóstico é realizado pela coleta do RT-PCR entre o terceiro e sétimo dia da doença e o tratamento é semelhante as outras
gastroenterites virais (hidratação e sintomáticos). A Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças (MISC) pode se apresentar com
os mesmos sintomas descritos do TGI, assim como com quadros obstrutivos. Deve ser conduzida com investigação
laboratorial/radiológica e tratamento específicos.
2. ESCORE DE RISCO:

Observar A B C

Condição Bem alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico

Olhos Normais Fundos Muitos fundos

Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes

Boca e língua Úmidas Secas Muito secas

Bebe normalmente Sedento, bebe rápido e Bebe mal ou não é capaz de beber*
Sede
avidamente

Examinar

Desaparece Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2


Sinal de prega
rapidamente segundos)

Rápido, débil Muito débil ou ausente*


Pulso Cheio

Enchimento capilar Normal (até 3 Prejudicado (3 a 5 segundos) Muito prejudicado (mais de 5 segundos)
segundos)

Conclusão NÃO TEM Se apresentar dois ou mais Se apresentar dois ou mais dos sinais
DESIDRATAÇÃO dos sinais descritos acima, descritos, incluindo pelo menos um dos
existe DESIDRATAÇÃO assinalados com asterisco, existe
DESIDRATAÇÃO GRAVE

Tratamento Plano A tratamento Plano B terapia de Plano C terapia de reidratação parenteral


domiciliar reidratação oral no serviço de
saúde

3. INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO E ALOCAÇÃO ADEQUADA 4. CRITÉRIOS DE ALTA

Critérios para internação


Dificuldade na ingestão de líquidos via oral (VO) • Ausência de sinais de desidratação.
Necessidade de hidratação endovenosa para manter hidratação
• Diminuição de perdas.
Critérios para internação em UTI • Boa aceitação via oral.
Sepse, instabilidade hemodinâmica, evacuações e/ou vômitos sem
resposta à medicação e hidratação inicial com necessidade de
controle de perdas.
5. TRATAMENTO 6. INDICADORES DE QUALIDADE

Tratamento inicial
• Depende do grau de desidratação: Hidratação VO ou EV • Introduzir hidratação VO ou EV conforme avaliação inicial
• Antieméticos VO ou EV
do estado de hidratação.
• Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácido básicos
• Administrar antiemético quando vômitos presentes.
Duração do tratamento • Coleta de exames (pacote sepse) na suspeita de
• Sem desidratação até 3 horas
disseminação.
• Com algum grau de desidratação: 6 horas ou mais
• Desidratação grave > 24 horas

7. MANEJO DA DIARREIA AGUDA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Diarreia aguda

Algum grau de
Sem desidratação Desidratação grave
desidratação

• Oferecer líquidos VO
Hidratação EV obrigatoriamente
• Antieméticos:
SF 20 ml/kg em bolus até recuperação dos
Ondansetron 0,15mg/Kg ou parâmetros hemodinâmicos.
Dimenidrato 1 mg/kg
Coleta de gasometria venosa, sódio e
potássio.

Correção de distúrbios hidroeletrolíticos


quando presentes.

TRO (sol. de reidratação oral):

50 a 100 ml/kg em 2 a 4 horas

SNG na impossibilidade de TRO:

30 a 50 ml/kg em 3 a 6 horas, ou

20 a 30ml/Kg/h em BIC em 6h

Hidratação EV na impossibilidade de SNG ou


resistência dos pais:

SF 20 ml/kg em 20 min até restabelecimento da


hidratação
CONSIDERAR:
Racecadotril (Tiorfan): nas diarreias não inflamatórias com volume fecal intenso.
-para maiores de 3 meses de idade: 1,5 mg/kg/dia em três tomadas até o término da diarréia.
Zinco: indicado para menores de 5 anos, em países subdesenvolvidos, por 10-14 dias.
Menores de 6 meses: 10mg/dia.
6 meses – 5 anos: 20mg/dia.
Antibiótico: indicado na suspeita de etiologia bacteriana (febre > 40º, sangue nas fezes, envolvimento do SNC. Vômitos e sintomas
respiratórios sugerem etiologia viral).

Bactérias a pensar: Shigella, Salmonella (apenas em lactentes menores de 3 meses, portadores de imunodeficiência, asplenia, uso de
imunossupressores), C. difficille, E. Coli enterotoxigenica.

Qual antibiótico usar: Ciprofloxacino (15mg/Kg, 2x/dia, 3 dias – primeira escolha) ou Azitromicina (10-12mg/kg no primeiro dia e 5-
6mg/Kg por mais 4 dias – segunda escolha) ou ceftriaxone (50-100 mg/Kg por 3- 5 dias no casos graves/internados).

Probióticos: tratamento adjuvante

S boulardii - 200mg 2x/dia por 3 dias (Floratil)

L Reuteri DSM 17938 - 108 UFC 1x/dia (Provance, Colids)

II. GLOSSÁRIO

BIC: bomba de infusão contínua SNG: sonda nasogástrica


EV: endovenoso TGI: trato gastrointestinal
HMC: hemocultura TRO: terapia de reidratação oral
HMG: hemograma
PCR: proteína C reativa

III. HISTÓRICO DE REVISÃO

Versão 3: adequação do template e correção no item 1.. Diagnóstico – Indicação de outros exames

IV. REFERÊNCIAS

[1] Guarino A, Ashkenazi S, Gendrel D, et al. European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition/European
Society for Pediatric Infectious Diseases Evidence-Based Guidelines for the Management of Acute Gastroenteritis in Children in Europe:
Update 2014. JPGN 2014;59: 132–152 12.
[2] Departamento Científico de Gastroenterologia Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017 (1):1-15.
[3] Benjamin S, Ogechukwu P E, Morris CE, et al. Features of Intestinal Disease Associated With COVID-Related Multisystem
Inflammatory Syndrome in Children. JPGN 2021;72: 384–387.

Código Elaborador: Revisor: Aprovador: Data de Elaboração: Data de Aprovação:


Documento: Milena de Paulis Renata Giancarlo Colombo 01/11/2020 19/08/2022
CPTW 170.3 Priscila Pereira Paluello
Daniela Gorga do Data da revisão:
Amaral Pereira 19/08/2022
Gaby Cecilia Yupanqui
Guerra Barboza

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