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Fluidoterapia

INTRODUÇÃO
 Indicações:
o Repor volume, expandir volemia.
o Corrigir desequilíbrios hídricos e eletrolíticos.
o Suplementar calorias e nutrientes.
o Melhorar a perfusão microvascular (otimizar transporte e entrega de oxigênio).
o Manter a hidratação.
o Auxiliar no tratamento da doença 1ª.
o Manter o acesso vascular.
o Preservar a função renal.

 Distribuição de água e eletrólitos:


o Água e eletrólitos são separados por membranas semipermeáveis.
 Membrana celular separa interstício e meio intracelular.
 Endotélio separa interstício e meio intravascular.
o Total de líquido do corpo é distribuído em 2 espaços: LIC 40% e LEC 60%.
o Equilíbrio acontece pela ingestão, metabolismo celular e excreção.
o Movimentação dos líquidos corpóreos:
 Ocorre pela pressão hidrostática e pressão coloidosmótica entre os 2 lados da
membrana celular.

 Perdas fisiológicas e desidratação:


o Perdas sensíveis: vômito, diarreia e hemorragia – 20-40ml/kg/dia.
o Perdas insensíveis: fezes, respiração e transpiração – 20ml/kg/dia.
o Perdas totais: média de 50ml/kg/dia.
o O balanço hídrico diário deve ser 0, perda = ingestão.

ESTIMATIVA DE GRAU DE DESIDRATAÇÃO


 Anamnese:
o Vômito, diarreia, perda de sangue e doenças pré-existentes.
o Medicações (ex: diuréticos).

 Exame físico:
o Turgor de pele.
o Tempo de preenchimento capilar.
o Hidratação das mucosas.
o Enoftalmia.
o Ressecamento da língua.

Grau de % de Sinas clínicos


desidratação desidratação
Não aparente < 5% História clínica sugestiva
Leve 5-7% ↓ turgor de pele leve, mucosas secas, prostração leve
Moderada 8-9% ↑ TPC, enoftalmia, ↓ turgor de pele +
Grave 10-12% ↑ TPC e enoftalmia acentuados, s/ turgor de pele, início de
sinais de choque (pulso fraco, taquicardia)
Choque 12-15% Choque hipovolêmico
 Avaliação laboratorial:
o Hemoconcentração  hematócrito elevado.
 Cão: 37-55%
 Gato: 24-45%
o Proteína total ↑:
 Cão: 5,5-8
 Gato: 5,8-8
o Densidade urinária ↑
o Albumina ↑
o Creatinina ↑

 Cuidados:
o Obesidade: falsa impressão de hidratação.
o Excesso de pele.
o Idosos e caquéticos: falsa impressão de desidratação.

Sempre considerar histórico, anamnese e medicações além do exame físico e laboratorial.

CLASSIFICAÇÃO DOS FLUIDOS


 Classificação de acordo com permeabilidade capilar :
o Coloides:
 Alto peso molecular (permeabilidade restrita), se mantém no plasma.
 Quando utilizar?
 Emergências de choque hipovolêmico.
 Hipoproteinemia grave.
 Contraindicado em insuficientes renais.
 Ex: plasma, dextranos e amido de hidroxietila.

o Cristaloides:
 Solução com solutos eletrolíticos e não eletrolíticos pequenos que conseguem
penetrar todos os compartimentos corporais.
 Ex: soro fisiológico, soro glicosado, ringer lactato, soro glicofisiológico.

 Classificação de acordo com osmolaridade:


o Hipotônico: osmolaridade inferior ao plasma.
 Ex: glicose 5%.
o Isotônico: osmolaridade similar ao plasma.
 Ex: ringer, ringer lactato etc.
o Hipertônico: osmolaridade superior ao do plasma.
 Ex: glicose > 10%, NaCl 7,5%, manitol.
 Aumentam o débito cardíaco e manutenção do fluxo para órgãos vitais.

 Classificação de acordo com a função:


o Manutenção: utilizados para repor perdas diárias de fluidos hipotônicos e eletrólitos.
 Concentração de eletrólitos diferente do plasma.
o Reposição: concentração de eletrólitos similar a do plasma.
 Ex: ringer lactato.

 Fluidos utilizados em situações especiais:


oSangue e derivados: em hemorragias e hipoproteinemia severa.
oNutrição parenteral: via diferente da gastrointestinal, pode ser parcial ou total, usada em
pacientes que não podem receber alimentos via enteral.
TIPO DE FLUIDOS
 Solução isotônica de Ringer Lactato:
o Similar ao plasma, + versátil e baixo custo.
o Alcalinizante.
o Contêm cálcio.
o Não usar com sangue e hemoderivados para evitar precipitação do cálcio com o
anticoagulante.

 Solução isotônica de Ringer Simples:


o Similar ao RL, mas não contêm lactato.
o Contém + cloreto e + cálcio que as outras soluções, sendo levemente acidificante.
o Ideal nas alcaloses metabólicas.
o Mais indicado para hepatopatas.

 Solução isotônica de NaCl 0,9%:


o Contém apenas sódio, cloro e água.
o Acidificante.
o Indicações:
 Alcalose metabólica.
 Hipoadrenocorticismo (reposição de Na).
 IR oligúrica ou anúrica (evita a retenção de K).
 Hipercalcemia (não contém Ca).

 Solução de glicose a 5% em NaCl 0,9%:


o Contém apenas sódio, cloro, glicose e água.
o Similar a NaCl, mas tem > osmolaridade.
o Reposição de glicemia.
o pH 4,0.

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
 Via intravenosa:
o + utilizada e eficaz.
o Indicações: pacientes muito doentes, desidratação grave, emergências.
o Requer fluido estéril e assepsia.
o Complicações:
 Trombose, flebite, infecção, embolismo e hiper-hidratação.
o Quais veias acessar?
 Cefálicas, safenas e jugular.

 Via intraóssea:
o Indicações: animais de pequeno porte ou neonatos, com trombose ou vasos colapsados.
o Antissepsia.
o Complicações:
 Osteomielite, lesão iatrogênica em nervos e dor.
o Onde acessar?
 Fossa trocantérica do fêmur, tubérculo maior do úmero.

 Via subcutânea:
o Fácil, prática e barata.
o Indicações: casos de desidratação leve e absorção lenta.
o Contraindicações: pacientes em vasoconstrição periférica (muito desidratados, hipotérmicos
ou hipotensos).
o Não usar soluções hipertônicas.
 Via oral:
o Enteral, seringa, sonda nasogástrica e tubo esofágico.
o Contraindicado em pacientes com vômito.
o Associada a pacientes que estejam em fluidoterapia por outras vias.
o Não usar como única via em pacientes muito desidratados.

 Via intraperitoneal:
o Neonatos.
o Boa antissepsia.
o Risco de lesão interna e peritonite.

 Via retal:
o Apenas para alguns medicamentos.

TÉCNICAS DE ACESSO
 Punção:
o Feita em rotina.
o Venóclise.
 Dissecção:
o Raramente em emergências.

Diferença de Scalp e cateter:


 Scalp:
o Veia periférica.
o Até 4h de permanência.
o Tamanho 19-25.
o Flebite por danos mecânicos no endotélio.

 Cateter:
o Veia periférica.
o Até 72h de permanência.
o Tamanhos:
 22-24 cães < 5kg.
 22-20 cães 5-15kg.
 20-18 cães > 15kg.

 Cateter intravenoso central:


o Jugular.
o Permite infusão de grandes volumes, administração de soluções hipertônicas, retirada de
sangue e medida de pressão venosa central.
o Tamanhos:
 22 gatos e cães < 5kg.
 22-19 cães 5-15kg.
 19-16 cães > 15kg.

CÁLCULO E VELOCIDADE DE FLUIDO


 Cálculo do volume total de fluido em 24h:
o Qual o objetivo?
 Corrigir a desidratação inicial.
 Suprir necessidades de manutenção e perdas contínuas (fezes, urina e respiração).
 Compensar perdas concomitantes (vômito e diarreia).

Reposição
Volume necessário em 24h/ml = % de desidratação x peso(kg) x 10

Manutenção
Cães adultos: 50ml/kg/dia
Filhotes: 60-100ml/kg/dia.
Neonatos: 150ml/kg/dia.
Gatos: 70ml/kg/dia.

Perdas continuadas
Vômitos = 40ml/kg/dia (2,5ml/kg/episódio)
Diarreias = 50ml/kg/dia (5ml/kg/episódio)
Ambos = 60ml/kg/dia

Total de fluidoterapia em 24h = reposição + manutenção + perdas continuadas

Ex: canino, 2 anos, 5kg, com vômito e diarreia, 8% de desidratação


Reposição = 8 x 5 x 10 = 400ml.
Manutenção = 50 x 5 = 250ml.
Perdas continuadas = 60 x 5 = 300ml.
TOTAL = 950ml/24h.

950/24 = 39,58ml = 40ml/hora.


40/60 = 0,66ml/min
0,66/60 = 0,01ml/seg. x 20 = 0,2 gotas/seg.
1 gota a cada 5s (macro) ou 2 gota a cada 3s (micro)

VELOCIDADE DE ADMINISTRAÇÃO
 Depende da severidade dos sintomas e estado do paciente.
o Atenção com cardiopatas, pequeno porte e reposições de K.
 Prova de choque/carga em animais hipovolêmicos:
o Cães: 15-20ml/kg em 15 minutos.
o Gatos: 10-15ml/kg em 15 minutos.
 Equipos:
o Equipo macrométrico (adultos) = aprox. 0,05ml/gota ou 20 gotas = 1ml.
o Equipo micrométrico (pediátrico) = aprox. 0,02ml/gota ou 60 gotas = 1ml.
 Gotas:
o 1ml = 20 gotas = 60 microgotas.

MÉTODO ALTERNATIVO “MÚLTIPLOS DE MANUTENÇÃO”


 Desidratação inaparente = 1x manutenção.
 Desidratação leve = 1,5-2x manutenção.
 Desidratação moderada = 2-2,5x manutenção.
 Desidratação severa = 2,5-3x manutenção.
MANEJO DE FLUIDOTERAPIA
 Pacientes difíceis de reidratar (ex: DRC).
o Reavaliar e pesar diariamente para recalcular o volume de fluido.
 Falhas de manejo:
o Erros no cálculo do volume e/ou velocidade.
o Erros na avaliação da desidratação.
o Obstrução do cateter ou do fluxo.
o Ideal = bomba de infusão.
 Trocar o cateter a cada 48-72h.

 Sinais de complicação:
o Febre de origem indeterminada.
o Aumento de volume.
o Dor, rubor, calor no sítio da punção.
o Leucocitose sem causa definida.

 Hiper-hidratação:
o Sinais de edema subcutâneo.
o Quemose.
o Ascite.
o Efusão pleural.
o Edema pulmonar.
 Extravasamento subcutâneo.
 Outras:
o Sangramento (coagulopatia).
o Embolismo.
o Flebite.

DIMINUIÇÃO DA FLUIDOTERAPIA
 Interromper após a resolução da causa da desidratação e quando o paciente estiver ingerindo água e
alimento suficiente para manter-se hidratado.
 Redução gradual de fluido:
o Dar água via oral para facilitar readaptação.
o Hidratação subcutânea no final da hidratação endovenosa diminui custos e favorece
homeostase.

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