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1.0 - HIDRATAÇÃO
Para ser feito o diagnóstico do déficit líquido no organismo podem ser utilizados
exames clínico e de laboratório. Neste capítulo será dada ênfase à avaliação clínica, de
vez que o cirurgião nem sempre dispõe de tempo ou, mesmo, apoio laboratorial antes
da cirurgia.
Com finalidade didática a hidroterapia será apresentada em três fases: pré, trans e
pós-operatória.
Como dose média indica-se 6 a 10ml/kg, via venosa. Pode ser empregada a
seguinte fórmula:
Peso (kg) X 0,05 X Déficit Protéico (g/dl)
Plasma (l) = ---------------------------------------------
Proteína no plasma doador (g/dl)
Assim, um cavalo de 450kg, com 3,5g/dl de proteína total no plasma apresenta um
déficit de 3,5g/dl (normal é 7-8g/dl). Considerando que o plasma doador tenha
8g/dl de proteína total, serão necessários:
Quando for obtido de sangue
450 X 0,05 x 3,5 refrigerado, o plasma apresenta
--------------------- = 9,8 litros de plasma como inconvenientes o baixo pH,
8 nível elevado de lactato e
potássio ligeiramente acima do
normal.
1.4.6 - Administração de substitutos ou expansores do plasma
Existem substâncias que podem ser utilizadas como substitutos do plasma por
terem a capacidade de expandir a volemia. Como permanecem por um tempo
maior na circulação, do que as soluções salinas e devido ao seu efeito sobre a
pressão oncótica, atraem líquido do meio intersticial, o que contribui para expandir
a volemia.
Na escolha do expansor deve-se optar pelo tempo de permanência nos vasos, pelo
tamanho da molécula (casos de vasoplegia - alto peso molecular), e pela
capacidade de expandir o volume circulante. Os expansores de baixo peso
molecular (35000-40000D) como os polímeros de gelatina e dextrano 40 expandem
o plasma 1,75 a 2x o volume administrado, porém têm duração de 4 a 6h; já, os
expansores de alto peso molecular (> 70000D) como o dextrano 70 e o
hidroxietilamido, têm menor capacidade de expansão, porém permanecem na
circulação por 24h ou mais.
1.4.6.1 - Dextranos
Os dextranos ão polissacarídeos constituídos de moléculas grandes, elevado peso
molecular e poder oncótico acentuado, largamente utilizados como expansores do
plasma.
O dextrano pode ser encontrado em três tipos:
- dextrano de alta viscosidade, com peso molecular de 500.000 que só é utilizado
em experimentação animal;
- dextrano 70 ou de médio peso molecular (70.000 a 80.000) que é indicado para
repor a volemia nos pacientes com grandes queimaduras, pois permanece por
maior tempo no leito vascular. Aumenta a viscosidade sangüínea e promove
sangramentos ao ser administrado mesmo em doses relativamente baixas;
- dextrano 40 ou de baixo peso molecular (40.000). É o mais utilizado e apresenta
várias propriedades. As principais são: expansor da volemia; hemodiluente (diminui
a viscosidade sangüínea); atrai líquido do interstício para a luz do vaso (corrige
edema intersticial); evita a agregação e aglutinação de hemácias e plaquetas; tem
ação antitrombótica e favorece a diurese.
O dextrano 40 apresenta como desvantagens: tendência à hemorragia devido a
diluição do fibrinogênio e desagregação de plaquetas e hemácias; pode comportar-
se como antígeno e determinar reação de hipersensibilidade (mais comum no
eqüino); pode causar insuficiência renal aguda e interferir com a tipagem
sangüínea. Os dextranos 40 e 70 são veiculados em frascos de 500 ml, diluídos em
solução de cloreto de sódio ou glicose.
CAPÍTULO II
DIÁTESE HEMORRÁGICA
Neste capítulo as considerações serão restritas aos mecanismos de coagulação,
medidas gerais de diagnóstico e tratamento das coagulopatias, dando-se especial
ênfase à Coagulação Intravascular Disseminada (CID) e fibrinólise.
.1 - Hemostasia
A hemostasia é um mecanismo complexo que envolve uma série de eventos
fisiológicos e bioquímicos, iniciados por lesões aos tecidos e vasos sangüíneos, que
resultam na formação de um tampão estável o qual sela as soluções de
continuidade nos vasos. Seu conhecimento é essencial para o estudo das
coagulopatias, justificando breve revisão sobre o assunto.
O processo de hemostasia é dividido em três fases: primária (vascular e
plaquetária), secundária (ativação dos fatores de coagulação) e terciária
(fibrinólise). Nas três fases o mecanismo é interdependente, cada uma afetando a
outra.
A hemostasia primária compreende a vasoconstrição e adesividade plaquetária para
selar o local lesionado. Ocorre em minutos após a injúria e é o mecanismo
hemostático primário dos capilares, arteríolas e vênulas.
A fase vascular compreende uma resposta imediata à agressão com vasoconstrição
reflexa, induzida por mecanismo neurohormonal que, associada à adesividade
endotelial e retração vascular produz fluxo sangüíneo mecanicamente reduzido.
Isoladamente é incapaz de prevenir a hemorragia.
No vaso com endotélio íntegro, as plaquetas não se agregam umas às outras, em
parte devido à ação da prostaciclina (sintetizada pelo endotélio íntegro), que é um
poderoso inibidor da adesividade e agregação plaquetária e indutor de
vasodilatação e, em parte, devido à superfície endotelial lisa, carregada
negativamente que permitem um fluxo laminar e reduzem a turbulência. O fluxo
sangüíneo retardado e a exposição de colágeno, elastina e membrana basal do vaso
lesionado, atraem plaquetas que se agregam e aderem à parede vascular formando
trombo plaquetário ou tampão temporário (fase plaquetária). A aderência das
plaquetas ao endotélio traumatizado é efetuada através de seus receptores de
superfície ao colágeno (GPIa = fração de glicoproteína que media a interação das
plaquetas com o colágeno) e do fator VonWillebrand (GPIB = receptor ao fator Von
Willebrand; GPIIb-IIIa = fator receptor para VonWillebrand, fibrinogênio,
fibronectina e vitronectina). As plaquetas agregadas liberam histamina e
serotonina, difosfato de adenosina (fazem agregação de plaquetas) e
trombostenina (promove retração do coágulo insolúvel). O ADP inicialmente provém
do vaso lesionado e depois das próprias plaquetas que sintetizam e liberam
também várias prostaglandinas e tromboxanes a partir do ácido aracdônico. O
tromboxane A2 é o mais potente agregador plaquetário. O frágil e instável tampão
inicial torna-se eficiente na medida em que as plaquetas fundem-se através de um
processo de metamorfose viscosa produzida por ação da trombina.
Além da retração plaquetária, o colágeno, elastina e a membrana basal expostos,
na disponibilidade do fator plaquetário 3 e outros coagulantes plaquetários, ativam
o sistema intrínseco da coagulação (fase de coagulação). As lesões nos tecidos
causam liberação de tromboplastinas teciduais que ativam a via extrínseca (fase de
coagulação). A ativação seqüencial dos fatores de coagulação, iniciadores das vias
intrínseca e extrínseca, inicia a via comum formando trombo de fibrina insolúvel.
Na hemostasia secundária ocorre incorporação da fibrina ao tampão plaquetário o
que requer a ativação dos fatores de coagulação. Os fatores de coagulação (Quadro
2.1), com exceção do cálcio (Fator IV) são glicoproteínas que existem na forma
inativa. Com exceção do fator III os demais ocorrem no plasma. Recebem nome
especial ou número romano que lhes foi atribuído por ordem de descobrimento. O
fator VI não é encontrado, pois inicialmente fora a determinação adotada para um
fator que descobriu-se posteriormente ser o fator V ativado.
Quadro 2.1 Fatores de coagulação
Fator I: Fibrinogênio
Fator II: Protrombina sangüínea
Fator III: Protrombina tecidual
Fator IV: Cálcio
Fator V: Pró-acelerina (globulina aceleradora)
Fator VII: Pró-convertina (autoprotrombina i)
Fator VIII: Fator anti-hemofílico (globulina anti-hemofílica)
Fator IX: Fator Christmas (cofator da plaqueta II)
Fator X: Fator de Stuart (fator de Stuart-Power)
Fator XI: antecedente tromboplastínico do plasma
Fator XII: fator de Hageman
Fator XIII: Fator estabilizante da fibrina (fator de Laki-Lorand)
2.4.3 - Diagnóstico
O sinal clínico inicial de CID é a hemorragia incoercível. No eqüino é rara a
hemorragia profunda com CID. São encontradas mais freqüentemente petéquias e
equimoses nas mucosas, membrana nictitante e esclera.
Geralmente há deposição de fibrina na microcirculação. O rim é comprometido
resultando freqüentemente em oligúria e hematúria devido a microtrombose nos
capilares glomerulares. Pode ocorrer também falência da cortical adrenal,
pancreatite e hemorragia gastrintestinal. Em eqüinos tem-se observado casos de
trombose nas veias jugulares, falência de múltiplos órgãos e laminite.
Sempre que ocorrer choque, hemorragia, hemólise e trombose isolados ou
combinados, em um animal enfermo, deve ser pressuposta a ocorrência de CID.
A CID tem três conseqüências: a formação disseminada de microtrombos no
interior dos capilares, resultando em isquemia tecidual; os microtrombos
constituem o mecanismo patogênico para hemólise, resultando em anemia
hemolítica microangiopática; diátese hemorrágica.
Como a fibrinólise primária e a CID apresentam quadro clínico semelhante o
diagnóstico diferencial é feito por testes laboratoriais. No Quadro 2.4 estão
relacionados os testes utilizados e o resultado correspondente, variável para cada
patologia.
CAPÍTULO III
CHOQUE
3.2 - Fisiopatologia
- alterações microcirculatórias:
+ insuficiência constritiva,
+ insuficiência vasoplégica;
- acidose metabólica;
- depressão dos centros cardaco e
vasomotor;
- depressão do sistema
histiolinfoplasmocitário;
- diátese hemorrágica.
Cabe ressaltar ainda que 80% dos capilares são normalmente isquêmicos, sendo
perfundidos alternadamente conforme o requerimento celular na área. Em
condições de volemia estável os capilares contêm somente 5% do volume
sangüíneo. Assim, a microcirculação é controlada pelo sistema nervoso autônomo e
pelos catabólitos locais.
A insuficiência microcir-
culatória isquêmica (Figura
3.2) é estabelecida pela
constrição desencadeada
através dos mecanismos
compensatórios do choque
(fase adrenérgica).
Inicialmente o sangue flui
apenas pelas metarteríolas
devido ao fechamento dos
esfíncteres pré-capilares.
Nesta fase há passagem de
líquido intersticial para a
luz capilar, tentando repor
a volemia. À medida que se
acentua a constrição na
arteríola terminal o fluxo é
desviado pelas
Figura 3.2 - Microcirculação no choque. comunicações artério-
Insuficiência microcirculatória venosas para as vênulas
isquêmica (fase I). Capilares distais. Com a persistência
isquêmicos com sangue da constrição sistêmica os
desviado pelas comunicações tecidos entram em acidose
artério-venosas. devido à hipóxia tecidual.
Este fenômeno intensifica a
produção de fatores
vasotrópicos locais que relaxam os esfínteres pré-capilares. O sangue flui então
para o leito capilar que, nesta fase, está bastante ampliado. Isto causa dois efeitos:
(1) a quantidade de sangue que mesmo em condições de normovolemia seria
insuficiente para irrigar todo o leito capilar distendido, é precariamente baixa e
resulta em diminuição no retorno venoso, da pressão venosa central e do débito
cardíaco; (2) o fluxo capilar sofre estase e não supre as necessidades da célula que
se torna anóxica. Esta fase é agravada pela constrição das arteríolas proximais e
vênulas distais que estão sob efeito dos fatores vasotrópicos sistêmicos. Em
conseqüência a pressão hidrostática sistêmica não é transmitida ao sangue aí
estagnado e os catabólitos não retornam pela circulação venosa. Este mecanismo
consiste em seqüestro sanguíneo que ocorre predominantemente em área
esplâncnica no cão e no pulmão do gato, cavalo e bovino (Figura 3.3). Esta
dilatação capilar e estase sangüínea favorecem a migração de colóides para o
interstício favorecendo a ocorrência de edema.
3.2.2.3 - Acidose metabólica: a
acentuada redução no fluxo periférico
propicia o acúmulo de fatores
vasotrópicos locais que diminuem o
tono vascular periférico agravando
ainda mais a hipotensão. Esta
expansão do leito vascular caracteriza
a fase II do choque (Figura 3.3). A
acidose resultante da hipóxia celular
deprime diretamente o miocárdio e
diminui a resposta deste à
estimulação simpática das
Figura 3.3 - Esquema da catecolaminas;
microcirculação na fase II
do choque. Seqüestro de 3.2.2.4 - Depressão dos centros
volume devido a vasoplegia cardíaco e vasomotor: quando
(ação de fatores ocorrer severa hipotensão, com
vasotrópicos locais) e resultante perda do tono simpático,
constrição sistêmica. predominará o parassimpático e
haverá diminuição do tono vascular
periférico e do débito cardíaco;
3.2.3.1 - Cérebro:
3.2.3.2 - Coração:
No cão parece ser esta a área de choque devido ao comprometimento que sofrem
estes órgãos. Inicialmente submetidos à isquemia são depois os locais de estase e
seqüestração de sangue.
3.2.3.4 - Pâncreas:
3.2.3.5 - Rins:
Estes órgãos sofrem intensa isquemia durante o choque por serem ricos em -
receptores. A vasoconstrição que se estabelece na fase adrenérgica é proporcional
ao grau de hipotensão e diminui a filtração glomerular agravando a acidose. A
capacidade renal para utilização do lactato é pouco afetada pelo decréscimo gradual
no fluxo renal, entretanto, a hipotensão aguda prejudica sua irrigação e diminui a
metabolização do lactato.
3.2.3.6 - Pulmão:
3.3 - Diagnóstico
Para que seja procedida uma terapia adequada faz-se necessário detectar as
anormalidades evidenciadas pelo organismo e as complicações que delas resultam
na vigência do choque. Na rotina das clínicas são fundamentais os dados de
anamnese e os sinais físicos, principalmente quando não se dispõe de apoio
laboratorial.
Considerando que as alterações do choque envolvem basicamente a
microcirculação, comprometendo a função celular em diferentes órgãos, a análise
de parâmetros como provas de função hepática e renal, gases sangüíneos e
eletrólitos, associados ao exame clínico permitem avaliação mais criteriosa.
3.3.1 - Anamnese
A preocupação maior deve ser inicialmente com o coração e grandes vasos que são
necessários para manutenção da pressão arterial, essencial à sobrevivência.
Para que o paciente tenha perfusão tecidual adequada a pressão sistólica deverá
ser de ao menos 70 mmHg. Os dados de pressão arterial devem ser associados à
palpação de pulso periférico, pois nos choques com resistência periférica elevada a
pressão pode ser mantida normal, porém com baixa perfusão dos tecidos. Para
avaliar a perfusão tecidual periférica deve ser medido o tempo de reperfusão
capilar. Ao ser feita compressão digital sobre a mucosa oral cria-se um ponto de
isquemia. Em condições adequadas de perfusão a coloração (reperfusão) da
mucosa deve retornar em menos de um segundo, ao ser liberada a compressão.
Nos animais que apresentem hipotensão aguda devido à hemorragia por ferimentos
externos, fazer hemostasia temporária, estabilizar a volemia e somente então fazer
abordagem cirúrgica.
Dentre os órgãos da cavidade abdominal é dada maior atenção ao fígado e rim por
sua importância na regulação metabólica do indivíduo. Suas funções serão melhor
avaliadas mediante dados laboratoriais, comentados mais adiante.
As infecções nos músculos podem evoluir para choque séptico. Já foram verificados
casos de choque, conseqüentes a fleimão, induzido por aplicações mal feitas de
medicamentos com veículos oleosos nos músculos da coxa.
Ao ser procedido o exame clínico do paciente chocado podem ser observados vários
sinais físicos, a maioria deles demonstrativo das alterações produzidas pela
hipotensão e anóxia tecidual.
3.3.2.6.6 - Coração:
3.3.2.6.8 - Desidratação:
Inicialmente pode haver excitação, estupor e depois depressão e coma. Nesta fase
a sensibilidade estará diminuída e não haverá resposta aos estímulos externos. A
depressão sensorial e debilidade muscular serão reflexos da baixa oxigenação e
nutrição celular, hipercalemia e acidemia. Quando da inspeção, avaliar o diâmetro,
simetria e reação fotomotora da pupila.
3.3.3.3 - Eletrólitos:
pH = 7,20; pCO2 = 25 mmHg;
pHCO3 = 9 mEq/l
*mEq/l; **mmHg; #não
efetuado;
ZASLOW (1984).
ZASLOW (1984).
O pH indica acidemia (7,2) devido a uma diminuição na concentração de
bicarbonato (9 mEq/l) caracterizado por um excesso de base negativo, ou seja, um
déficit [diferença entre a concentração apresentada de bicarbonato (9 mEq/l) e a
concentração normal (21,7 mEq/l)]. A diminuição na concentração de dióxido de
carbono é uma alteração secundária, dita compensatória que procura equilibrar o
pH aumentando a freqüência respiratória (eliminar CO 2). O diagnóstico é de acidose
metabólica.
pH = 6,99; pCO2 = 60 mmHg;
pHCO3 = 13 mEq/l;
E.B. = -7
No sangue, em condições fisiológicas, os cátions sempre são iguais aos ânions para
manter a eletroneutralidade.
Assim:
(Na+ + K+ + cátions não mensurávies) = (Cl- + HCO3- + ânions não mensuráveis)
define-se então:
- eqüinos: 8 - 16 mEq/l
O intervalo ânion tem sido útil como prognóstico de sobrevivência. Para eqüinos
com abdome agudo os dados são os seguintes:
Neste item estão relacionados os exames que permitem avaliação do fígado e rim,
principais órgãos de detoxificação e eliminação de catabólitos.
A função hepática pode ser avaliada pela determinação dos níveis de glicose no
sangue, alanina-amino-transferase sérica, fosfatase alcalina, proteínas do plasma e
bilirrubinas.
A função e perfusão renal podem ser monitorizadas pela análise da urina, débito
urinário, uréia nitrogenada do sangue, creatinina e taxa de filtração glomerular.
3.4 - Tratamento
A terapia do choque deve ser voltada para a remoção das causas desencadeantes e
a correção das variáveis fisiológicas alteradas. Considerar que o volume circulatório
é deficiente e que o choque não se detém por si mesmo.
Ht PT Solução
(%) (g/dl
)
7. Medidas adjuntas ou
complementares
Como o choque representa um quadro grave de estresse não é surpresa o uso de
glicocorticóides em seu tratamento. Apesar de bastante pesquisada a validade de
sua aplicação ainda é discutida por alguns autores porque ainda não se sabe ao
certo se a recuperação do paciente deve-se ao seu uso ou ao conjunto de medidas
terapêuticas instituídas. O uso isolado de glicocorticóides é inadequado no choque.
Seus efeitos têm sido estudados com detalhes nos choques hemorrágico e séptico
sendo-lhes atribuídas várias vantagens (Quadro 3.11).
Assim:
Esse fármaco é apresentado em ampolas de 1,0; 0,50 e 0,25 mg/ml. Pode ser
administrada por via venosa, cutânea, muscular, cardíaca e traqueal. Para
administrar via intra-traqueal a adrenalina deve ser diluída em proporção 1:3 em
água e injetada pelo tubo endotraqueal. A seguir insuflar os pulmões. A dosagem
em pequenos animais é obtida diluindo a apresentação 1:1000 em 1:10.000 da
qual administra-se 0,1 ml/kg (0,01 mg/kg). Para grandes animais a dose é de 0,01
ml/kg da diluição 1:1000 (0,01 mg/kg).
3.4.6.2 - Noradrenalina
3.4.6.3 - A dopamina
A dopamina tem meia vida de 2 minutos e, portanto, precisa ser administrada por
gotejamento venoso contínuo. Ela tem sido utilizada como suplemento terapêutico
nos choque endotóxico, cardiogênico e hemorrágico. Pode ser diluída em solução
isotônica de cloreto de sódio, de glicose ou Ringer lactato. Bloqueadores alfa
Quadro 3.14 - Protocolo de
tratamento ao choque
anafilático.
1. Remover o fator etiológico
decrescem seu efeito pressor, bloqueadores
- Terapia emergencial beta diminuem seu efeito inotrópico, opiáceos
específica e derivados fenotiazínicos bloqueiam
receptores dopaminérgicos nos vasos renais e
antídoto
mesentéricos.
lavagem
O choque anafilático (Quadro 3.14), uma das
2. Proporcionar respiração formas de choque vasculogênico, ocorre com
adequada reação sistêmica aguda conseqüente à
introdução, em paciente sensibilizado, de um
- Higienizar e desobstruir
antígeno que interage com o anticorpo
vias aéreas
liberando mediadores farmacologicamente
- Ventilar ativos. Neste tipo de hipotensão o
medicamento prioritário é a adrenalina.
3. Administrar vasopressor Administrar por via venosa 0,1 ml/kg da
diluição 1:10.000 em pequenos animais ou
- Adrenalina 1:1000
0,01 ml/kg da diluição 1:1000 em grandes
0,01 – 0,05mg/kg cada 15 animais. A dose poderá ser repetida a
minutos intervalos de 15 ou 20 minutos. Associar
medidas de ventilação adequada e
- Dopamina estabilização da volemia. Para adequada
distribuição do vasopressor e para auxiliar a
5 – 10 g/kg/min perfusão tecidual é recomendada a
administração de uma solução coloidal
- Aminofilina
(Haemaccel) associada a uma
(broncoespasmo)
hidroeletrolítica balanceada (Ringer lactato®),
4 – 8mg/kg IV lentamente na proporção 1:3 em volume suficiente para
restabelecer a pressão no sangue.
4 Estabilizar a volemia
Estão indicados corticosteróides de absorção
rápida como a hidrocortisona succinato de
- Solução eletrolítica
sódio (50 mg/kg para cães e 50 - 150 mg/kg
balanceada para eqüinos) para bloquear a interação
+ Ringer lactato de sódio antígeno-anticorpo-complemento que forma a
anafilotoxina.
cão: 60-90ml/kg/h Pode ser feita injeção venosa de hidrocloreto
gato:30-60ml/kg/h de difenidramina (2 mg/kg) para bloquear os
receptores histaminérgicos. O animal deve ser
bovino:30-40ml/kg/h
mantido em observação até completa
- Solução coloidal (se recuperação.
houver nas proteínas totais)
3.4.7 - Medidas adjuntas ou complementares
+ Expansor São procedimentos indicados para atender aos
cão: 10-20ml/kg/h distúrbios que não respondem às medidas
básicas ou casos que requerem terapia
gato: 5-10ml/kg/h coadjuvante específica (Quadro 3.15).
5 Administrar corticosteróide 3.4.7.1 - Uso de diuréticos
- Hidrocortisona succinato de
sódio
50mg/kg
6 Profilaxia antimicrobiana
- Ampicilina + ácido
Quadro 3.15 – Medidas
complementares ou
coadjuvantes.
1 – Controlar arritmias
Após adequada reposição de volume o fluxo
oxigenoterapia urinário geralmente retorna aos parâmetros
fisiológicos. Quando a dinâmica circulatória
analgesia
for restabelecida, mantida estável e o débito
repor volume urinário não melhorar estão indicados os
diuréticos.
repor energia
É dada preferência a diurético osmótico como
2 – controlar coagulopatia o manitol. Os efeitos do manitol incluem
aumento do volume circulante pelo efeito
oxigenoterapia e fluidoterapia
osmótico, incremento no fluxo sangüíneo
à enfermidade desencadeante
renal e redução no edema celular. A dose de
sustentação aos órgãos alvo manitol é de 0,5 a 2,0 g/kg de biopeso em 24
horas.
repor plaquetas e ATIII
Pode ser utilizado como opção um salurético
heparinizar como a furosemida. Pode ser administrada
em dose inicial de 2 mg/kg podendo ser
3 – monitorar débito urinário (1- duplicada ou triplicada se não houver diurese.
2ml/kg/h) Os diuréticos estão indicados também nos
casos de choque com insuficiência cardíaca
dopamina (2-4g/kg/min)
congestiva ou reposição excessiva de volume
4 - monitorar sistema em que for observada elevação na pressão
gastrintestinal venosa e diminuição ou ausência de fluxo
Íleo: metoclopramida1- urinário.
2mg/kg/dia
3.4.7.2 - Terapia eletrolítica
Úlcera: sucralfate 0,25 – 1g
(gato, cão) Este procedimento não está indicado entre as
2-4g/450kg (eqüino) medidas fundamentais a serem tomadas no
paciente de choque porque a adequada
5 -lesões de reperfusão
reposição de volume (associação entre
alopurinol – 15-25mg/kg
solução coloidal e salina) e o retorno da
deferoxamina – 25-50mg/kg perfusão renal equilibram tais transtornos.
fisioterapia
8 – avaliação laboratorial
administração de cloreto de potássio. Neste caso acompanhar a reposição com
eletrocardiografia ou administrar em dose nunca superior a 0,5 mEq/kg/h para cães
e 0,2 a 0,3 mEq/kg/h para gatos e cavalos. Certificar-se de que haja débito
urinário.
5-10 UI/kg (mini dose) via subcutânea (SC), três vezes ao dia;
3.4.7.4 - Antiopióides
3.4.7.2 - Antioxidantes
Órgãos e tecidos submetidos à isquemia requerem proteção às lesões de
reperfusão. A melhor maneira para evitar esse tipo de lesão, ainda é a profilaxia à
hipóxia isquêmica a qual deve ser feita por meio de adequada fluidoterapia.
3.4.7.5 - Anti-histamínicos
3.4.7.9 - Aquecimento
a freqüência dos movimentos compressivos deve ser de 180 por minuto para
animais com menos de 5 kg; 160 movimentos por minuto naqueles de médio porte
e 140 por minuto naqueles de grande porte. Em bovinos e eqüinos a compressão
da parede costal só poderá ser efetuada com o ressuscitador montado sobre o
tórax;
a ventilação pulmonar deve ser de uma insuflação a cada 5 compressões se houver
um assistente. Caso contrário, dois movimentos respiratórios a cada 15
compressões. Simultaneamente providenciar à canulação de uma veia para
administração de volume (melhorar o retorno venoso) e fármacos. Estes
procedimentos de intubação e canulação de vaso devem ser adotados como rotina
em pacientes cirúrgicos, particularmente em animais de risco. Assim, se ganha
tempo nas medidas de ressuscitação. Cuidado com reposição excessiva em caso de
insuficiência cardíaca; iniciar com solução de Ringer lactato associando expansores
se houver diminuição nas proteínas do plasma.
12 movimentos/minuto
- 180/minuto: animais de
pequeno porte
* relação ventilação/massagem
cardíaca
1 ventilação : 5 compressões ou
2 ventilações : 15 compressões
3. Expandir a volemia
proporção de 1:3
4. Estabelecer diagnóstico
diferencial
- Parada cardíaca
- Fibrilação ventricular
Segundo dados da literatura a massagem cardíaca externa em animais com mais
de 20 kg tem pouca eficiência, pois o coração não será adequadamente comprimido
entre as paredes costais quando da compressão manual.
Além dos cuidados básicos relacionados no Quadro 3.16 podem ser adotadas outras
medidas específicas. No caso há que se diferenciar entre parada cardíaca e
fibrilação ventricular. A diferenciação é possível somente por visualização direta ou
por meio de estudo eletrocardiográfico.
- Enfermeiro 7min30s
- lidocaína: (2-4 mg/kg em dose inicial e depois 50 g/kg/minuto gota a gota) para
prevenir taquicardia ventricular;
CAPÍTULO V
REGENERAÇÃO TECIDUAL
A maioria dos casos de traumatismos apresentados ao médico veterinário requer
tratamento de feridas. Cada uma delas apresenta particularidades dependendo do
tipo, localização e tecido envolvido. Neste capítulo serão apresentados os tipos de
feridas, uma breve revisão sobre o mecanismo de regeneração nos diferentes
tecidos e as medidas gerais indicadas para favorecer a cicatrização.
As feridas são caracterizadas como soluções de continuidade da pele ou mucosa, de
profundidade variável até aponeuroses, músculos, serosas ou órgãos internos.
a) a resposta inflamatória;
e) sistema do complemento.
- o trato respiratório é protegido por secreções bronquiais que contêm IgA e cílios
os quais removem partículas estranhas da área brônquica;
Para que ocorra a fagocitose, mecanismo de defesa celular, a bactéria deve ser
reconhecida como elemento estranho ao hospedeiro, por meio do sistema imune do
animal, particularmente o sistema humoral. As imunoglobulinas (anticorpos) são
sintetizadas pelo sistema linfóide em resposta a um estímulo antigênico específico.
Choque: lesões localizadas com infecção têm potencializado o risco de infecção pelo
choque hipovolêmico devido à redução na perfusão tecidual.
O ferimento causado por força compressiva (impacto) é 100 vezes mais sensível à
infecção que aquele por avulsão (arrancamento), pois ocorre ruptura de vasos na
pele e tecidos subjacentes. Tecidos desvascularizados por esmagamento têm
diminuição na liberação de imunoglobulinas e células leucocitárias, na área,
aumentando a chance de infecção.
O risco de infecção dobra a cada hora de tempo operatório. Isto parece estar
associado ao elevado número de bactérias endógenas e exógenas da flora cutânea
que contaminam a ferida cirúrgica e à diminuição na defesa tecidual local por
isquemia e ressecamento dos tecidos expostos.
Características
Tipo de ferida
cirúrgica
O antibiótico indicado para profilaxia efetiva deve ser: bactericida, ativo contra as
bactérias patogênicas mais prováveis de ocorrerem em determinada situação,
alcançar rapidamente alto nível tecidual, manter altas concentrações teciduais por
várias horas, não ser tóxico em doses terapêuticas, e ter espectro relativamente
amplo. Dentre as cefalosporinas, a cefalexina e a ceftriaxona são exemplos que
preenchem os critérios citados.
Cirurgia
torácica Staphylococcus Cefazolina
Bacilos Gran-
Intervenção
pulmonar
Intervenção
cardiovascular
Cirurgia Cefazolina
ortopédica
Staphylococcus Penicilina anti-
Prótese de estafilocócica
quadril
Osteossíntese
demorada
Paciente de alto
risco
Piometrite,
endometrite
DOW, 1994.
- infecções víricas;
- cirurgias limpas;
- esta concentração calculada deve ser diluída no seu requerimento hídrico basal
(50ml/kg/dia). Para este cão, 500ml/dia;
CAPÍTULO V
REGENERAÇÃO TECIDUAL
A maioria dos casos de traumatismos apresentados ao médico veterinário requer
tratamento de feridas. Cada uma delas apresenta particularidades dependendo do
tipo, localização e tecido envolvido. Neste capítulo serão apresentados os tipos de
feridas, uma breve revisão sobre o mecanismo de regeneração nos diferentes
tecidos e as medidas gerais indicadas para favorecer a cicatrização.
As feridas são caracterizadas como soluções de continuidade da pele ou mucosa, de
profundidade variável até aponeuroses, músculos, serosas ou órgãos internos.
.2 - Processo de cicatrização
exsudação e edema.
2. Fase de proliferação de
desbridament polimorfonucleares
atividade de linfócitos e
o(1 a 6 dias) macrófagos
ativação enzimática
limpeza ou supuração.
proliferação capilar
3. Fase de
proliferação (3 reabsorção de fibrina
a 14 dias) (fibrinólise)
proliferação fibroblástica
modificação na substância
básica
síntese de colágeno e
migração epitelial.
involução do número de
4. Fase de capilares e células
maturação aumenta o colágeno e
(14 dias a 1 resistência
ano)
contração da cicatriz.
O líquido que escapa dos vasos combina-se com os leucócitos em migração e o tecido
morto formando o exsudato inflamatório que se acumula na área lesionada. Conforme
os polimorfonucleares morrem e sofrem lise o exsudato transforma-se em pús.
Nos primeiros 3 a 4 dias uma ferida incisa apresenta a fibrina, novas fibras colágenas
e novos capilares em disposição paralela às bordas da ferida, devido a compressão
pela sutura e pela migração dos fibroblastos, a partir da derme e tecido subcutâneo.
Quando ocorrer perda de tecido a tensão nas bordas, pela elasticidade natural da
pele, distenderá o coágulo de fibrina que está aderido às bordas. Isto orientará os
componentes fibrinosos perpendicular às bordas e os fibroblastos migrarão seguindo
esta orientação.
oxigenação hipoproteinemia
anti-séptico desidratação
edema antibiótico
bandagem temperatura
infecção vitaminas A, C,
E, K e complexo
radiação B
5.5.5 - antibióticos: deve-se ter cuidado com o tipo de veículo do antibiótico, pois
pode dificultar mecanicamente a cicatrização quando aplicado topicamente, ou ter
ação citotóxica. Dar preferência àqueles em veículo aquoso. Da mesma forma, o
tipo de antibiótico deve ser escolhido cuidadosamente. Alguns trabalhos
experimentais têm demonstrado que a Penicilina e Neomicina aplicadas
topicamente não interferem com a cicatrização. Já a administração sistêmica do
Cloranfenicol tem retardado a regeneração de feridas cutâneas;
5.5.8 - vitaminas:
5.5.17 - radiação: alguns tipos de radiação como raios X e raios interferem com o
metabolismo celular, proliferação de fibroblastos e decrescem o processo
inflamatório.
Existem medidas gerais que podem ser adaptadas a maior parte das feridas. São
elas:
Fazer tricotomia ampla e prevenir que caia pelo na ferida através de tamponamento
com gaze, sutura temporária das bordas ou aplicação de geléia solúvel em água
que será removida após a tricotomia. As sujidades e crostas que se aglutinem em
volta da ferida podem ser removidas com água e sabão e, se necessário, associar
escova macia (Filme higieneferida).
A ferida propriamente dita deve ser lavada abundantemente com solução salina
isotônica pura ou adicionada de 0,1% de iodo povidine (Povidine ou Dermoiodine).
As sujidades e tecidos necrosados superficiais são removidos com auxílio de gaze
umidecida. Não se recomenda a escovação direta, pois o trauma pode favorecer a
penetração bacteriana.
Ferida recente, com menos de 4 horas de evolução pode ser suturada (cicatriza por
primeira intenção). Nessas e nas feridas cirúrgicas eletivas sejam elas por estética
(Filme cirurgiaestetica), ou para remoção de tumores (Filme cirurgiareparadora) é
fundamental uma adequada redução dos planos anatômicos subjacentes,
principalmente se houver necessidade de usar retalhos de pele com deslizamento.
Em todos os casos é fundamental que se faça redução do espaço morto e da
tensão, o que evita deiscência ou que os fios cortem a pele.
Ferida traumática com evolução superior a 4 horas e/ou exsudativa pode ser
suturada, mas com adaptação de dreno.
Este protocolo pode sofrer alguma variação em função do quadro geral do paciente
e apresentação da ferida.
5.6.6.1 - Indicações:
- em caso de espaço morto que não possa ser reduzido a fim de evitar acúmulo de
sangue, pús ou soro;
- usar dreno o mais fino possível com o mínimo necessário de orifícios para permitir
drenagem adequada;
- o dreno deve ser removido tão logo sua característica seja alterada e/ou diminua
a drenagem indicando resolução do problema.