Balanço de fluidos e eletrólitos: Conceitos e vocabulário
O balanço de fluidos e eletrólitos é fundamental no controle de qualquer
paciente que esteja gravemente doente. A análise do sódio sérico, potássio, ureia e creatinina, frequentemente com bicarbonato, é o perfil bioquímico mais comumente pedido e gera uma grande quantidade de informação sobre o estado de fluidos e eletrólitos de um paciente, além de sua função renal.
Compartimentos de fluidos corporais
O maior constituinte do corpo é a água. Uma pessoa em média pesando
70 kg possui em torno de 42 litros de água no total. Dois terços (28 L) deste total é de fluido intracelular (FIC) e um terço (14 L) é fluido extracelular (FEC). O FEC pode ser ainda subdividido em plasma (3,5 L) e fluido intersticial (10,5 L).
Uma forma esquemática de representar o balanço de fluidos é o modelo
de tanque de água que possui uma partição, uma entrada e uma saída (Fig. 6.2). O aporte de entrada representa os fluidos consumidos oralmente ou por infusão intravenosa, enquanto a saída é, normalmente, o trato urinário. A perda insensível de fluidos pode ser explicada através da superfície de evaporação.
A perda seletiva de fluidos de algum destes compartimentos gera aumento
de sinais e sintomas distintos. A perda de fluido intracelular, por exemplo, causa disfunção celular, que é notavelmente evidente como letargia, confusão e coma. A perda de sangue, um fluido FEC, leva ao colapso da circulação, falência renal e choque. A perda corporal total de água levará eventualmente a efeitos similares. Entretanto, os sinais da depleção de fluidos não são percebidos no início com a perda, apesar de substancial, de água, pois a perda ocorre de maneira geral, nos compartimentos de FEC e FIC.
O modelo do tanque de água ilustra os volumes relativos de cada um destes
compartimentos e pode ser usado para visualizar algumas das desordens clínicas de balanço de fluidos e eletrólitos. É importante notar que a avaliação do volume de compartimentos de fluido corporal não é o objetivo do laboratório de bioquímica. O estado de hidratação do paciente, isto é, o volume dos compartimentos de fluido corporal, é avaliado clinicamente. O termo “desidratação” significa simplesmente que houve perda de fluido dos compartimentos corporais. A super-hidratação ocorre quando há acúmulo de fluidos nos compartimentos corporais.
A Figura 6.3 ilustra a desidratação e a super-hidratação pela referência do
modelo de tanque de água. Durante a interpretação de exames de eletrólitos, pode ser útil formar uma “imagem da bioquímica” para visualizar o que há de errado com o balanço de fluidos do paciente e o que precisa ser feito para corrigi-lo. As principais características da hidratação desordenada são mostradas na Tabela 6.1. As avaliações clínicas do turgor da pele, da tensão do globo ocular e das membranas mucosas não são sempre confiáveis. O envelhecimento afeta a elasticidade da pele, e as membranas da mucosa oral podem parecer secas em pacientes que respiram pela boca.
NOTA IMPORTANTE: Turgor da pele: é a elasticidade da pele, ou seja, sua
habilidade de se esticar e retomar a força original. Em geral, esse conceito é usado pelos dermatologistas para determinar quando há perda de líquidos ou desidratação.
Fig 6.2 Modelo do tanque de água para compartimentos de fluidos.
Fig 6.3 O efeito da depleção do volume e da expansão do volume no modelo de tanque de água de compartimentos de fluidos. (a) Desidratação: perda de fluido no FIC e no FEC devido ao aumento da perda urinária. (b) Super-hidratação: aumento no fluido do FIC e do FEC devido ao aumento de consumo. Fig 6.4 Mudanças na osmolalidade e movimento da água nos compartimentos dos fluidos corporais. A osmolalidade deve ser igual em todos os compartimentos do corpo. Isto é alcançado pelo movimento de água através das membranas semipermeáveis em resposta às mudanças de concentração.
Eletrólitos
O sódio (Na+) é o principal cátion extracelular, e o potássio (K+), o principal
cátion intracelular. Os principais ânions intracelulares são proteínas e fosfato, enquanto o cloro (Cl) e o bicarbonato (HCO3 ) predominam no FEC.
Um pedido de análise dos “eletrólitos” normalmente gera valores para a
concentração de íons sódio e potássio, junto com íons bicarbonato.
Os íons sódio estão presentes na concentração mais alta e, logo, são a maior contribuição à osmolalidade total do plasma
Apesar de as concentrações de potássio no FEC serem baixas em
comparação às altas concentrações intracelulares, mudanças na concentração plasmática são muito importantes e podem ter consequências como risco de morte
As concentrações de ureia e creatinina dão um indicativo da função renal,
concentrações aumentadas indicam um decréscimo da taxa de filtração glomerular Concentração
É importante lembrar que a concentração é uma razão de duas variáveis: a
quantidade de soluto (p. ex. sódio) e a quantidade de água. Uma concentração pode mudar devido à alteração de uma, ou das duas variáveis. Por exemplo, uma concentração de sódio de 140 mmol/L diminuir para 130 mmol/L por que a quantidade de sódio na solução diminuiu ou por que a quantidade de água aumentou .
Solicitação e Interpretação de Exames Laboratoriais: Uma visão fundamentada e atualizada sobre a solicitação, interpretação e associação de alterações bioquímicas com o estado nutricional e fisiológico do paciente.