Você está na página 1de 35

Universidade de Passo Fundo

Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios


Curso de Medicina Veterinária
Disciplina de Farmacologia e Terapêutica Veterinária
Prof. Dr. Renan Idalencio

FLUIDOTERAPIA
FLUIDOTERAPIA

É a prática de reposição líquida à um organismo que


apresenta desequilíbrio hídrico
 Funções da fluidoterapia
◦ Repor deficiências hídricas
◦ Fornecer suporte nutricional
◦ Repor deficiências eletrolíticas
◦ Servir como veículo de infusões
◦ Expandir o volume intravascular
QUAIS FLUIDOS PODEM SER UTILIZADOS?

 Soluções
cristaloides
◦ Soluções de íons inorgânicos ou de
pequenas moléculas orgânicas dissolvidas
em água
 Geralmente compostos de soluções isotônicas
 Solução de cloreto de sódio 0,9%
 Solução de Ringer
 Solução de Ringer lactato
 Solução de glicose a 5%
 Cloreto de sódio a 7,5%
QUAIS FLUIDOS PODEM SER UTILIZADOS?
 Soluções coloides
◦ Soluções de grande peso molecular que
não atravessam livremente a membrana
capilar
◦ Indicado para pacientes com
hipoproteinemia
 Aumento no volume plasmático
◦ Coloides naturais
◦ Coloides sintéticos
◦ Gelatina
◦ Dextranas
Tipo de solução Características Aplicabilidade terapêutica
cristaloide

Solução de cloreto Solução Expansão do volume plasmático


de sódio a 0,9% isotônica Hiponatremia, alcalose metabólica, juntamente com
pH 5,4 suplementação de potássio.
Nos casos de hipernatremia ou com restrição de sódio –
não é recomendada a sua utilização.

Solução de Ringer Solução Concentrações de cálcio e potássio semelhante


isotônica ao compartimento extracelular.
pH 5,4 Alta concentração de cloretos.

Solução de Solução Concentrações de cálcio e potássio semelhantes ao


Ringer lactato isotônica plasma. Apresenta lactato que é convertido pelo
pH 6,5 fígado para formar bicarbonato.
Utilizado para animais com acidose
metabólica. Não deve ser utilizado nos
casos de hepatopatia.
Solução de glicose Solução Utilizada mais como fonte de carboidratos.
a 5% isotônica pH Se empregada isoladamente, pode desencadear em
5,0 redução nos níveis de eletrólitos.
Disponíveis nas Não devem exceder 0,5g/Kg/h, pois podem induzir
concentrações de glicosúria.
2,5% a 50%
Solução de cloreto Solução hipertônica Choques hemorrágico, traumático e séptico.
de sódio a 7,5% Restaura pressão arterial, débito cardíaco e oferta de
oxigênio.
Pode provocar hipercloremia, acidose metabólica,
desidratação intracelular e hemorragia cerebral.
Tipo de solução Características Aplicabilidade terapêutica
coloides

Coloides naturais Deve-se realizar teste Indicado quando se deve aumentar o volume
(plasma) de compatibilidade intracelular sem reduzir a pressão oncótica
(recomendado é de 20 a 30 mL/Kg/dia de plasma)

Gelatina - Expansão no volume plasmático equivalente a


Macromoléculas 78% do volume infundido por 2,5 horas (50
capazes de atrair mL/Kg a cada 24horas)
líquido para a
corrente sanguínea
Dextrana 40 Maior capacidadede expansão volumétrica por
Expansão do um curto período de tempo (duração 4-6 horas)
Coloides sintéticos vol.
Plasmático – 1000
mL

Dextrana 70 Menor capacidade de expansão


Expansão do volumétrica por um período de tempo maior
vol. (duração de 24 horas)
Plasmático – 800
mL
TIPOS DE SOLUÇÕES E
CONCENTRAÇÕES DE ELETRÓLITOS
Solução Sódio Potássio Cálcio Cloro Tampão Kcal/l pH
(mEq/l (mEq/l) (mEq/l (mEq/l)
) )
NaCl 0,9% 154 - - 154 ------- - 5,4
Ringer lactato 130 4 3 109 lactato 9 6,5
Ringer 147 4 5 156 ------- - 5,4
Glicose 5% --- - - --- glicose 200 5,0
Glicose 50% --- - - --- glicose 2000 4,2
Glico-salina 154 - - 154 glicose 200 4,7
Glico-sal. 77 - - 77 glicose 100 4,8
0,45%
NaCl a 7,5% 1.232 - - 1.232 ------- ---
KCl --- 1380 - 1380 ------- --- 4,5
Plasma 140 4 - 110 ------- --- variável
Dextrano 40 154 - - 154 ------- --- 3,5–7,0

Dextrano 70 154 - - 154 ------- --- 3,0–7,0


FLUIDOTERAPIA NAS PERDAS
(ESTABILIZAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA E
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS)
Severidade % Sinais clínicos Histórico típico

Muito suave < 5% Não detectáveis Menor ingestão de água

Suave 5-6% Perda sutil da elasticidade cutânea ( 2”), Episódios esporádicos de


leve enoftalmia vômito, distúrbios TGI

Moderada 6-8% Prega cutânea  3”; mucosas pegajosas, Inapetência, vômito e diarréia
TPC > 3”; enoftalmia e oligúria moderados

Severa 10-12% Patência da prega cutânea, superfícies Anorexia, vômito e diarréia


oculares secas, mucosas levemente severos, insuficiência renal
cianóticas, tremores musculares crônica
involuntários, enoftalmia severa, TPC muito
alto, anúria

Choque 12-15% Estupor, taquicardia e pulso filiforme, além Hemorragias, queimaduras,


dos sinais supracitados infecções graves
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FLUIDOS

 Podem ser administrados pela via intravenosa, oral,


subcutânea ou intraóssea
 Via intraperitoneal – risco de peritonite
iatrogênica
 Via intravenosa
◦ Via mais indicada para pacientes com desidratação grave ou com
perda aguda de fluidos
• Intravenoso
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FLUIDOS

 Via intraóssea
◦ Mais indicada para animais com trombose ou com vasos
colapsados, além de alternativa para animais de pequeno
porte ou muito jovens
 Via subcutânea
◦ Não recomendada em pacientes com
vasoconstrição periférica
 Muito desidratados, hipotérmicos, ou hipotensos
 N U N C A SE DEVE APLICAR SOLUÇÕES
GLICOSASDAS POR ESSA VIA – risco de desidratação e lesões
subcutâneas
• Intraóssea
• Subcutânea:
• Apenas cristaloides isotônicos
• RLS
• Ringer
• NaCl 0,9%
• Soluções glicosadas: não!!!
• Lesão tecidual
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FLUIDOS

 Via oral
◦ Via mais fisiológica
◦ Utilizada para pacientes que não estão
vomitando
◦ Ideal para soluções hipertônicas ou com alto teor
calórico
◦ Nunca deve ser a única forma de administração
para pacientes desidratados
QUANDO A FLUIDOTERAPIA EVE
SER CONCLUÍDA?
 Causa da desidratação for
corrigida
 Paciente estiver ingerindo água e
alimentos suficientes para se
manter hidratado
SINAIS CLÍNICOS DE
DESIDRATAÇÃO NO BOVINO
PERCENTUAL SINAIS CLÍNICOS
10 % Depressão, apatia, mucosas ressecadas,
perda de elasticidade da pele, olho profundo
na órbita (enoftalmia), estação ou decúbito
esternal
15 % Sinais anteriores, diminuição da temperatura
corporal, decúbito lateral, moribundo (pouca
resposta)
FLUIDOTERAPIA EM BOVINOS
• V (litros) = 6 a 12% do peso vivo  de acordo com a % de desidratação

• Adultos  50 mL/Kg
• Jovens  100 mL/Kg
• Neonatos  150 mL/Kg
SINAIS DE DESIDRATAÇÃO NO
EQUINO

PERCENTUAL SINAIS CLÍNICOS

4% Sinais inaparentes

4-6% Perda da elasticidade de pele, ressecamento de


mucosas, TPC > 3 seg,  produção de urina
8 – 10% Piora dos sinais anteriores, ressecamento de córnea, 
pressão intra-ocular, retração do olho na córnea, pulso
fraco, oligúria, depressão, Ht > 60%, PPT > 7,0g/dL,
jugular com distensão comprometida.
FLUIDOTERAPIA EM EQUINOS
• REQUERIMENTO BASAL DE ÁGUA
• 40-50 mL/kg/dia
• Ex.: cavalo de 450 kg = cerca de 27 litros
• REQUERIMENTO BASAL DE POTÁSSIO
• 1 mEq/kg/dia (0,2-0,3 mEq/kg/h no máximo)
• EM CASOS DE CÓLICA, ADULTOS (HENDRICKSON, 2010):
• 12-20 L/h
• 1 L de coloide (expansor) + 9 L de RLS
• Após melhora ou estabilização: 3-5 L/h
FLUIDOTERAPIA NA
PRÁTICA
CATETERES
EXTENSORES
TORNEIRAS DE 3 VIAS OU
DÂNULAS
EQUIPOS

Macrogota - 1mL = 20gts


Microgota - 1mL = 60gts
SOROS
CÁLCULOS PARA REPOSIÇÃO DE FLUIDOS

Especificação Água Sódio Potássio

Necessidades Cão: 40-50 ml/kg/dia


3 mEq/kg/dia 1 mEq/kg/dia
diárias Gato: 70 ml/kg/dia

Perdas Volume (mL) = % desd. X 6 mEq/100 ml 2mEq/100ml


massa corporal (Kg) X 10
ocorridas a repor a repor

Vômito: 40 ml/kg/dia
Perdas 3 mEq/100ml
Diarréia: 50 ml/kg/dia 9 mEq/100 ml
gastrintestinais a repor
Ambos: 60 ml/kg/dia
 Caso 1
◦ Um cão macho, SRD, de 8 Kg foi atendido apresentando desidratação de
10%, vômito e diarreia .
◦ Assim:
 ND = 50mL/Kg/dia  ND = 50mL x 8Kg  ND = 400mL/dia
 PO = P x %desidratação x 10  PO = 8x10x10  PO = 800mL/dia
 PGI = 60mL/Kg/dia  PGI = 60x8  PGI = 480mL/dia
 Total =ND + PO + PGI  Total = 400 + 800 + 480  Total = 1680mL/dia
• Total =ND + PO + PGI  Total = 400 + 800 + 480  Total = 1680mL/dia

1680 --- 24h


x --- 1h
Equipo macrogota

x= 70mL/hora 1mL --- 20 gotas


1,16mL --- x

70mL --- 60min x= 23,2 gotas


x --- 1min
23gts/min ou 5 a 6 gts/15 segundos
x= 1,16mL/min
 Caso 2
◦ Canino, macho, 5 meses, 6Kg, apresentando vômito frequente, apatia, anorexia.
Segundo o tutor, o animal se alimentava somente de ração comercial. N o exame
clínico, foi observado perda moderada na elasticidade da pele, mucosa oral ressecada,
pequeno aumento no TRC e enoftalmia, compatível com uma desidratação de
9%.Assim, calcule a reposição hídrica para um período de 24 horas para esse
paciente e a velocidade do gotejamento.
 Caso 3
◦ Felino, fêmea, 8 meses, 3,2Kg apresentando vômito e diarreia, apatia e anorexia.
Segundo o tutor, o animal fugiu de casa e retornou uma semana depois. N o exame
clínico, foi observado desidratação de 6%. Assim, calcule a reposição hídrica para
um período de 24 horas e a velocidade do gotejamento.
 Caso 4
◦ Canino, fêmea, 6 anos, 22Kg, apresentando vômito, anorexia, porém ingerindo água.
Segundo o tutor, o animal manifestou cio há 90 dias. N o exame clínico, foi
observado desidratação de 8%. Assim, calcule a reposição hídrica para um período
de 24 horas e a velocidade do gotejamento.
 Caso 4
◦ Canino, macho, 8 anos, 12Kg, apresentando diarreia, anorexia, porém ingerindo água.
Segundo o tutor, o animal se alimenta de restos de comida. N o exame clínico, foi
observado desidratação de 5%. Assim, calcule a reposição hídrica para um período
de 24 horas e a velocidade do gotejamento.
OBRIGADO!

renanidalencio@upf.br

Você também pode gostar