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DESCRIÇÃO
Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e
Conceito de saúde, doença, patologia e aspectos gerais
as características dos processos de agressão, defesa,
da agressão, defesa, adaptação e lesão celular. Tipos e
adaptação e lesão celular
características da degeneração celular. Princípios
fundamentais do processo de necrose e apoptose. CONCEITO DE SAÚDE, DOENÇA E
PATOLOGIA
PROPÓSITO
Ao lado do desemprego e da violência, questões
Conhecer os conceitos de saúde, doença, patologia e
relacionadas à saúde sempre se apresentaram como
compreender os processos de agressão, defesa,
destaque entre as preocupações ditas como prioritárias
adaptação, os tipos de degeneração celular e os
em debates político-sociais. Apesar de muito
princípios fundamentais dos processos de necrose e
importante, o processo saúde-doença é complexo e
apoptose é importante para entender as bases
muitas vezes mal compreendido.
patológicas das doenças.
Para você, o que é ter saúde? O que é doença?
OBJETIVOS
Durante séculos, o aparecimento de doenças foi
MÓDULO 1
atribuído a forças sobrenaturais e castigo de
Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e divindades, sendo instituições religiosas e seus
as características dos processos de agressão, defesa, sacerdotes os promotores da cura. O Renascimento
adaptação e lesão celular cultural e científico possibilitou uma maior
compreensão sobre a constituição do corpo humano e
MÓDULO 2 sobre o processo de adoecimento. O corpo humano,
Identificar os principais tipos de degeneração celular, então, passou a ser enxergado como uma máquina
seus mecanismos e aspectos morfológicos passível de falhas, que quando compreendidas,
poderiam ser corrigidas. Saúde era ausência de doença
MÓDULO 3 e doença era ausência de saúde.
Descrever as etapas de progressão da lesão celular e os
princípios da morte celular por apoptose e necrose
INTRODUÇÃO
Entender a complexidade do processo saúde-doença
tem que ser um dos objetivos iniciais básicos de todo
profissional da área da Saúde, de modo que o
organismo humano não seja visto como uma máquina,
na qual apenas os eventos de natureza biológica
tenham relevância. Imagem: Matrioshka/Shutterstock.com.Representação
Dessa forma, nós iniciaremos nossa jornada pelos das doenças e saúde na Idade Média.
conceitos fundamentais em Patologia Básica: Em 1947 esse conceito mudou e, segundo a
entenderemos os processos de agressão e mecanismos Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde passou
de defesa do organismo, tipos de adaptação e de lesão a ser definida como um estado de completo bem-estar
celular. Vamos nos aprofundar nas degenerações, físico, mental e social, não apenas a ausência de
lesões celulares reversíveis nas quais as células doença ou enfermidade.
conseguem retornar ao seu estado inicial, uma vez
cessada a agressão. Essa definição é motivo de críticas e reflexões de
muitos pesquisadores e profissionais, que dizem que
Discutiremos também a evolução para a lesão essa é mais uma declaração que propriamente uma
irreversível, conhecendo as principais características e definição, mas apesar disso, é utilizada até os dias
diferenças entre a necrose e apoptose. São muitos atuais. KUMAR et al. (2016), define a saúde como:
conceitos interessantes que você aplicará em toda a sua
UM ESTADO DE ADAPTAÇÃO DO como uma ciência que estuda as causas (etiologia) e
ORGANISMO AO AMBIENTE FÍSICO, mecanismos (patogênese) das doenças, bem como os
PSÍQUICO OU SOCIAL EM QUE VIVE, DE órgãos e sistemas afetados e as alterações moleculares,
MODO QUE O INDIVÍDUO SE SENTE BEM morfológicas (anatomia patológica) e funcionais
(SAÚDE SUBJETIVA) E NÃO APRESENTA (fisiopatologia) que apresentam.
SINAIS OU ALTERAÇÕES ORGÂNICAS
Abrangendo todos esses aspectos, a Patologia
(SAÚDE OBJETIVA).
apresenta grande importância na compreensão global
(KUMAR, 2016) das doenças, fornecendo bases para entendermos a
prevenção, manifestações clínicas, diagnóstico,
tratamento, prognóstico e evolução.
Condensação da cromatina: é o aspecto morfológico Compreender os processos que levam aos diferentes
mais marcante da apoptose. A cromatina se agrega na distúrbios de pigmentação endógena e exógena nos
periferia, sob a membrana nuclear, formando massas seres humanos, seus principais aspectos
densas de diversos formatos e tamanhos. O núcleo se histopatológicos e clínicos. Apresentar os princípios
rompe, produzindo dois ou mais fragmentos. gerais da calcificação, suas características, formas mais
importantes e como ela impacta no organismo.
Formação de bolhas citoplasmáticas e corpos
apoptóticos: primeiramente, ocorre a formação de OBJETIVOS
bolhas superficiais extensas, com posterior MÓDULO 1
fragmentação celular em corpos apoptóticos envoltos
por membrana, compostos de restos de citoplasma, Identificar as propriedades gerais dos pigmentos
organelas e possivelmente fragmentos nucleares. endógenos e patologias relacionadas
N
evo melanócito congênito.
Nevos melanocíticos
Nevos melanocíticos são neoplasias de natureza
benigna que se apresentam como pequenas lesões
(normalmente menores que 6 mm) bem delineadas, de
coloração mais escura que o restante da pele, e podem Lipoma,
ser ásperas, planas, achatadas ou na forma de pápulas tipo de neoplasia benigna formada por adipócitos.
elevadas.
Os nevos melanocíticos são classificados
A maioria surge em decorrência de alterações genéticas histopatologicamente em relação às células névicas, o
e da exposição solar, mas podem ser congênitos, ou epitélio de superfície e o tecido conjuntivo subjacente.
seja, presentes desde o nascimento ou que se Há diversos subtipos de nevos e a classificação
desenvolvem durante a infância a partir de células depende da localização das células névicas. Um
névicas preexistentes. É importante destacar que exemplo são os nevos intradérmicos, que são formados
congênito não quer dizer hereditário. por células névicas que se diferenciam em tamanho e
podem conter ou não grande quantidade de melanina.
Essas células se agrupam em ninhos ao longo da parte
superior da derme.
Lesão
característica de melanoma.
O melanoma é mais frequente em homens, surgindo
principalmente no dorso (cabeça e pescoço), enquanto, Biópsia
nas mulheres, costuma estar localizado de pele normal (esquerda) e com melanoma (direita).
predominantemente nas pernas, sendo menos invasivo.
A partir da biópsia, principal método de diagnóstico do
Durante o crescimento radial, o melanoma é chamado melanoma, são analisadas algumas características
de melanoma in situ, e aparece clinicamente como celulares e teciduais, como a profundidade de
lesões assimétricas, com borda irregular, coloração infiltração do tumor, taxa de mitose, infiltrado de
variável (ao contrário dos nevos, que possuem linfócitos e ulceração, sendo esses os principais
pigmentação igual por toda a lesão), diâmetro maior do indicadores de prognóstico do melanoma. Também é a
partir desses indicadores que o melanoma é
classificado em estágios de gravidade.
Os estágios do melanoma vão de 0 (melanoma in situ)
até 4, que é o grau mais grave, também chamado de
melanoma metastático.
ESTÁGIO 3 E 4
ACANTOSE NIGRICANS
Na acantose nigricans, manchas hiperpigmentadas de
textura aveludada são visíveis na pele, principalmente
nas regiões das axilas, dobras do pescoço e virilha.
ESTÁGIO 0
Pode ser benigna ou maligna.
Aca
ntose nigricans nas dobras do pescoço.
ESTÁGIO 1 A forma benigna se desenvolve em geral na infância
ou puberdade, associadas à obesidade e doenças
endócrinas como a diabetes. A forma maligna ocorre
em especial em indivíduos com mais de 50 anos,
estimulada pela presença de fatores de crescimento
associados a neoplasias malignas, principalmente
neoplasias gastrointestinais.
Cerca de 80% dos casos de acantose nigricans são de
natureza benigna. Histologicamente, tanto na forma
benigna quanto na maligna são observadas ondulações
da epiderme, com aumento no número de células,
pigmentos e queratina na camada mais superficial da
epiderme.
OCRONOSE
ESTÁGIO 2
é uma doença genética metabólica rara, causada por
mutações no gene, que codifica a enzima que degrada
o ácido homogentísico, um pigmento castanho-
avermelhado ou amarelo no formato de grânulos.
Com isso, o pigmento se acumula no plasma
sanguíneo, na pele, tecido conjuntivo, cartilagens e na
urina, que passa por oxidação quando exposta ao ar e
forma polímeros parecidos com o pigmento de
melanina, o que torna a urina escurecida.
O escurecimento da urina é chamado de alcaptonúria, e
é o principal sinal clínico precoce dessa doença. O
acúmulo do pigmento nas cartilagens faz com que seja
possível vermos uma coloração preto-azulada.
Estrutura
Presença de grânulos de pigmento lipofuscina (em da hemácia, da molécula de hemoglobina (a) e do
marrom) em neurônios. heme (B).
Os pigmentos endógenos derivados da degradação da
hemoglobina são as hemossiderinas, hematinas,
bilirrubinas, porfirinas, entre outros. Tais pigmentos
podem ser ferruginosos, quando há a presença de íon
ferro na molécula, ou não ferruginosos.
METABOLISMO DA HEMOGLOBINA E A
FORMAÇÃO DOS PIGMENTOS
Neste vídeo, abordamos o metabolismo da
hemoglobina e como são formados os seus primeiros
Presença de grânulos de pigmento lipofuscina em derivados.
cardiomiócitos. PRINCIPAIS DISTÚRBIOS RELACIONADOS A
Em células com alta taxa de divisão como as células- PIGMENTOS DERIVADOS DA HEMOGLOBINA
tronco, as organelas e macromoléculas danificadas são
divididas entre as células-filhas, evitando, assim, o
acúmulo de lipofuscina após o processo de autofagia.
O acúmulo de lipofuscina causa um processo chamado
de atrofia parda, que é caracterizado pela redução de
volume e peso do órgão, com presença de uma
coloração parda. No coração, o acúmulo de lipofuscina
parece não afetar tanto a capacidade funcional do
órgão.
Já nos neurônios, a lipofuscina em excesso pode ser
gerada por um grupo de doenças neurodegenerativas
genéticas raras chamadas de Lipofuscinose ceroide
neuronal, que levam à deterioração psicomotora, Hem
cegueira e convulsões. orragia pulmonar com presença de hemossiderose
Vale acrescentar que, na retina, o acúmulo do pigmento local.
lipofuscina é associado à degeneração da mácula (parte A hemossiderose é o quadro de aumento de
central da retina), e essa degeneração é a principal hemossiderina, um produto da degradação da
causa de alteração da visão e cegueira em idosos. hemoglobina capaz de formar agregados, normalmente
PIGMENTOS RELACIONADAS À presente nos hepatócitos e em macrófagos do fígado,
HEMOGLOBINA pulmão, linfonodos, baço e medula óssea. Ele é um
pigmento de cor amarelo-ouro a marrom e representa a
A hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias principal forma de armazenamento do ferro,
composta por 4 subunidades (2 alfas (α) e 2 betas (β)) principalmente quando este está em excesso e há
de uma fração proteica, chamada globina, e uma fração saturação da ferritina.
não proteica, chamada de heme, que é a responsável
pela coloração vermelha das hemácias. A fração heme A hemossiderose local acontece geralmente como
da hemoglobina possui íons ferro no centro e é o sítio resultado de hemorragias teciduais, em que as
hemácias extravasadas são fagocitadas por macrófagos grânulos com cor preta e preto-azulada, derivados da
por cerca de 24 – 48 horas depois do início do oxidação do heme.
sangramento.
Essa alteração ocorre:
Histologicamente, é possível observar a presença de
Em meios ácidos, por exemplo, por ação do
hemossiderina como grânulos amarelados a
ácido clorídrico em tecidos com úlceras.
amarronzados nos tecidos. O processo de
hemossiderose local pode ser observado na pele pela Durante a malária, após a degradação da
presença de coloração amarelada nas áreas das lesões. hemoglobina pelo parasita.
Os casos de aumento sistêmico de ferro acontecem Na esquistossomose, quando ocorre a
devido a defeitos na absorção intestinal de ferro, degradação da hemoglobina presente no
anemias hemolíticas e transfusão de sangue. sangue do hospedeiro no intestino do parasita.
A hemossiderose não costuma causar sintomas. Porém, Durante a fixação de tecidos de biopsia com
indivíduos com quadros avançados podem desenvolver formol ácido durante a realização do exame.
anemia e fibrose pulmonar.
A hemocromatose é uma doença hereditária rara, que
acomete mais facilmente os homens, causada por
mutações em genes relacionados à absorção de ferro.
As mutações favorecem o aumento da absorção
intestinal de ferro proveniente da dieta, e com isso
aumenta-se também a deposição de hemossiderina nos
macrófagos e no parênquima de órgãos como fígado,
pele, pâncreas, coração e em algumas glândulas.
A hemocromatose costuma causar hipotrofia e fibrose
do parênquima tecidual, e em alguns casos leva à
cirrose hepática, diabetes e insuficiência cardíaca. Com
o avanço do quadro, a coloração natural dos órgãos é Estrutura
alterada para um tom amarronzado. química das porfirinas.
As porfirias são distúrbios causados por alterações no
processo de síntese do heme, de etiologia não
totalmente esclarecida, que levam ao aumento de
porfirinas. As porfirinas são moléculas precursoras do
heme, geradas pelo sistema eritropoético e pelo fígado,
e são o sítio de ligação para o íon ferro na
hemoglobina.
As porfirias podem ser classificadas de acordo com sua
origem (em congênita ou adquirida), propriedades
bioquímicas e pelo local em que se encontram. A
porfiria eritropoética congênita e a protoporfiria
Fígado de
eritropoética, como os nomes sugerem, são causadas
indivíduo com hemocromatose. Depósitos de
por alterações durante a síntese do heme na medula
hemossiderina em marrom.
óssea.
VOCÊ SABIA
A porfiria cutânea tardia, porfiria intermitente aguda e
Indivíduos que passaram por transfusão sanguínea, a eritro-hepática são causadas por alterações no fígado.
com quadros de talassemia e síndromes
O principal sinal clínico dessas doenças é o
mielodisplásicas, podem desenvolver a
aparecimento de lesões bolhosas na pele, que regridem
hemocromatose secundária (ou adquirida) pelo
e deixam manchas com alteração de pigmentação e
aumento na quantidade de hemácias degradadas e de
sensibilidade à luz solar, pela capacidade de absorção
ferro livre.
de luz visível e UV pelas porfirinas.
As hematinoses são alterações de pigmentação que
acontecem quando a degradação da hemoglobina gera
hematinas, pigmentos ferruginosos no formato de
anel e liberação de Fe2+, monóxido de carbono e
biliverdina, um pigmento verde.
2.
Reação de
hipersensibilidade à luz em indivíduo com A biliverdina sofre ação da bilirrubina redutase e é
protoporfiria eritropoética. convertida em bilirrubina, que é liberada
gradativamente ao plasma e liga-se à albumina,
As alterações de pigmentação ligadas formando a bilirrubina indireta (BI), que é carregada
à hematoidina acontecem geralmente poucas semanas ao fígado.
após uma hemorragia, ou nos coágulos sanguíneos,
pela degradação das hemácias pelos macrófagos
presentes no local do sangramento. 3.
As hematoidinas são pigmentos formados pela mistura Nos hepatócitos, essa molécula conjuga-se ao ácido
de lipídios em conjunto com um pigmento parecido glicurônico no retículo endoplasmático liso, formando
com a bilirrubina, sem a presença de ferro. A estrutura uma molécula polar e solúvel no plasma (bilirrubina
da hematoidina no tecido é caracterizada por cristais de direta – BD ou conjugada).
coloração, que pode variar do amarelo-ouro até o
marrom-dourado.
4
A bilirrubina direta, por sua vez, sai dos hepatócitos
para os canalículos biliares para formar a bile ou é
metabolizado pela microbiota intestinal em vários
compostos, mas principalmente no urobilinogênio.
5
Pele Este pode entrar na circulação sanguínea, e ser
amarelada de indivíduo com icterícia em comparação à reconvertido no fígado à bilirrubina conjugada, para
pele de indivíduo sem icterícia. ser excretado de novo na bile (ciclo enterro-hepático).
Pode ser encaminhado para o rim, onde é convertido à
A icterícia é uma condição clínica gerada pelo
urobilina, um pigmento amarelo que dá cor à urina, ou
aumento plasmático de um pigmento biliar chamado
ser degradado pela flora fecal no intestino, sendo
de bilirrubina. A bilirrubina é um produto da
oxidada a estercobilina, um pigmento castanho-
degradação da fração heme da hemoglobina. Esse
avermelhado que dá cor às fezes.
pigmento é visto como grânulos castanho-esverdeados
a negros, e se encontra principalmente nos hepatócitos
e nos canais biliares.
O aumento plasmático de bilirrubina faz com que ela
se acumule na pele, mucosas, tecidos e órgãos, em
especial no fígado e rins, resultando em uma coloração
amarelada.
Abaixo, descrevemos como ocorre o processo de
degradação do heme e formação da bilirrubina:
1.
A hemoglobina é degradada em globina, que é
transformada em aminoácidos para reutilização no
organismo, e nos grupos heme, que são fagocitados Degradação
principalmente no fígado, baço e medula óssea. A do heme e formação da bilirrubina.
degradação do grupo heme ocorre com a abertura do
SAIBA MAIS
A bilirrubina não conjugada é insolúvel e, sendo assim, meta-heme livre, ou seja, em globina (degradada e
não é eliminada na urina, o que favorece seu acúmulo utilizada pelo parasita) e no heme.
nos tecidos. Já a bilirrubina conjugada torna-se solúvel
O grupamento heme, por sua vez, é regurgitado pelo
em água e tem pouca afinidade de ligação à albumina
verme adulto na circulação sanguínea do hospedeiro,
(principal proteína transportadora do plasma
originando o pigmento esquistossomótico. Esse
sanguíneo), o que facilita sua excreção na urina.
pigmento apresenta cor castanho-escura e acumula-se
As causas de icterícia podem ser pré-hepáticas, intra- nas células de Kupffer.
hepáticas e pós-hepáticas. Na icterícia pré-hepática,
Podemos citar também o pigmento malárico, que é
como nos quadros de anemia hemolítica (com uma
resultado da digestão enzimática da hemoglobina
enorme degradação de hemoglobina devido à hemólise
dos eritrócitos), há alta concentração de bilirrubina pelo Plasmodium spp., que, após a ruptura das
indireta (não conjugada) no plasma sanguíneo. hemácias, libera esses grânulos castanho-escuros no
interstício.
Na icterícia hepática, o aumento da bilirrubina está
associado à diminuição da capacidade funcional dos VERIFICANDO O APRENDIZADO
hepatócitos, causados por intoxicações, infecções e MÓDULO 2
neoplasias. Nesse caso, há aumento da bilirrubina
indireta e direta pela diminuição da capacidade de
metabolização do fígado.
Reconhecer as principais características dos
Em recém-natos, o aumento da bilirrubina pode distúrbios de pigmentação exógena
acontecer por defeitos no metabolismo hepático pela
PIGMENTOS EXÓGENOS
falta de amadurecimento dos mecanismos de
conjugação da bilirrubina, causando a icterícia Os pigmentos exógenos são moléculas originadas no
neonatal ou fisiológica, um quadro de icterícia ambiente que penetram o organismo por diferentes vias
temporária. de administração, como a inalação, ingestão ou
inoculação.
Esses pigmentos, quando acumulados nos tecidos, na
maioria das vezes, funcionam como corpos estranhos,
sendo fagocitados pelos macrófagos residentes,
iniciando uma resposta imune inata (processo
inflamatório agudo), na tentativa de eliminar o agente
etiológico. O processo inflamatório pode evoluir para
cronicidade ou resolução, com a fibrose no tecido
acometido.
Diferentemente dos pigmentos endógenos que indicam
dano ou uma patologia, os pigmentos exógenos são, na
Bebê com hiperbilirrubinemia neonatal.
sua maioria, os responsáveis pelo desenvolvimento
As causas pós-hepáticas de hiperbilirrubinemia estão das doenças. Várias dessas doenças são resultados da
associadas à obstrução de canais biliares (icterícia exposição ocupacional, como ocorre com os
obstrutiva ou colestática associada à presença de mineradores, trabalhadores de indústrias e joalheiros.
cálculos, tumores etc.), que não permitem a excreção
Como uma exceção à regra, temos a tatuagem, um
de urobilinogênio e bilirrubina na urina, levando ao
exemplo de pigmento exógeno. Ao serem inoculadas
predomínio de bilirrubina direta no plasma e sua
na nossa pele, as partículas de tinta são fagocitadas por
possível excreção urinária.
macrófagos, mas sem causar uma doença.
Podemos encontrar também alguns pigmentos
PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS EXÓGENAS:
resultantes de infecções parasitárias.
VIA INOCULAÇÃO – TATUAGEM
EXEMPLO
A tatuagem é a forma de pigmentação exógena mais
Na esquistossomose, doença parasitária causada comum de encontrarmos nos seres humanos. Ela é
pelo Schistosoma mansoni, o verme adulto presente realizada pela inoculação de pigmentos insolúveis
nas veias mesentéricas se alimenta de sangue. (como os sais de enxofre, carvão, nanquim, mercúrio,
ferro, entre outros corantes) na pele, utilizando-se
No tubo digestivo do parasita, uma proteína (cisteína
proteinase) quebra a hemoglobina em hematina ou
agulhas para meios estéticos e de identificação de
animais.
Cristais
Em geral, as tatuagens são permanentes devido à
de nitrato de prata usados pela indústria farmacêutica.
introdução do pigmento na derme. Caso ele seja
introduzido em camadas mais superficiais da pele,
como o estrato córneo da epiderme, a tatuagem se
torna temporária.
Proc
esso de inoculação dos pigmentos de tatuagem na
derme e a fagocitose dos pigmentos por macrófagos.
Após a inoculação, os pigmentos são fagocitados
principalmente por macrófagos presentes na derme,
permanecendo ali pelo resto da vida. Esses pigmentos
podem ser levados em menor quantidade para os Pó de minério de prata na mão de um minerador.
linfonodos regionais.
Quando observado histologicamente, a pigmentação
presente no local da tatuagem é vista como grânulos de
tamanho pequeno no interior de macrófagos ou
pigmentos retidos no tecido conjuntivo fibroso.
SAIBA MAIS
Os pigmentos geralmente não despertam nenhuma
resposta inflamatória. Pele de
indivíduo com argirismo.
PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS EXÓGENAS:
INGESTÃO ORAL A principal alteração patológica gerada pelo acúmulo
de prata é a visível alteração de pigmentação dos
Argirismo
tecidos, principalmente nas áreas da pele expostas ao
É uma patologia causada pela intoxicação por sais de sol e nas unhas, mas pode aparecer nos macrófagos dos
prata e pela deposição dessas partículas nos tecidos. linfonodos, na membrana basal dos glomérulos renais
e no globo ocular. Clinicamente, a pele do indivíduo
As principais formas de intoxicação são pela utilização afetado exibe coloração cinza-azulada de forma
de medicamentos (soluções e colírios) que contêm na irreversível. Essa condição pode ocasionar depressão,
sua formulação nitrato de prata, muito utilizados no afastamento social e problemas de integração com a
passado, a partir de suplementos alimentares e da sociedade.
penetração mecânica de partículas muito pequenas por
meio das glândulas sudoríparas e inalação pelos Histologicamente, a presença de grânulos de prata é
joalheiros e trabalhadores de minas de prata. vista em maior quantidade na borda externa da
membrana basal e na porção glandular das glândulas
sudoríparas. Essa distribuição pode sugerir que as
partículas de prata são levadas para as glândulas
sudoríparas pelo líquido intersticial e assim se
acumulam na membrana basal.
SAIBA MAIS
Quando a intoxicação se dá por ingestão crônica de
compostos de prata solúveis, como o nitrato de prata, Distensão
ela pode afetar o indivíduo de maneira disseminada, sanguínea de indivíduo intoxicado por partículas de
sendo chamada de argiria sistêmica. Vale ressaltar que chumbo (setas).
quando afeta os olhos essa condição é chamada de
argirose. No SNC, o chumbo deposita-se nos astrócitos, células
que mantêm a integridade da barreira hematoencefálica
Plumbismo ou saturnismo e, assim, protegem o SNC. Além disso, há a alteração
do metabolismo de carboidratos, com diminuição da
Outra forma de intoxicação causada por pigmentos
glicose circulante no cérebro e aumento da síntese de
exógenos é o plumbismo ou saturnismo, que ocorre
neurotransmissores como dopamina, acetilcolina e do
pela ingestão do chumbo. Além da via gastrointestinal,
ácido aminobutírico (GABA), o que pode ocasionar
o chumbo pode entrar no organismo por via inalatória.
um quadro de defeitos cognitivos.
Os indivíduos mais suscetíveis à contaminação com o
O plumbismo pode afetar também o intestino, onde
chumbo são trabalhadores das áreas de mineração e
causa enrijecimento da parede abdominal, além de
indústria, que pela sua ocupação apresentam contato
nefropatia tubular nos rins e reações na pele como
periódico com esse metal. Embora esse quadro
dermatite e úlceras.
acometa também crianças especialmente pelo contato
com brinquedos que contenham tintas à base de SAIBA MAIS
chumbo.
Os metais também podem se acumular na parede do
O chumbo não apresenta nenhuma função fisiológica e vaso causando aterosclerose (acúmulo de gordura ou
tem efeito nocivo em quase todos os órgãos e sistemas. outras moléculas na parede do vaso dificultando a
passagem sanguínea).
E COMO O CHUMBO AFETA O INDIVÍDUO?
Assim que o chumbo atinge a circulação sanguínea, ele
se deposita no sangue, nos tecidos moles e os ossos,
mas o sítio primário de armazenamento são os ossos.
Essa molécula forma complexos estáveis com enxofre,
fósforo, nitrogênio, oxigênio (grupamentos -SH, -
H2PO3, -NH2, -OH) e conseguem imitar ou inibir o
cálcio e interagir com aminas e aminoácidos livres,
A intoxicação por chumbo pode ser aguda, também
alterando o funcionamento de membranas plasmáticas,
chamada de encefalopatia plúmbica aguda, que
de enzimas e proteínas.
acomete principalmente crianças, com edema,
A toxicidade está normalmente relacionada ao sistema dilatação dos pequenos vasos, hemorragias petéquias
hematopoiético e nervoso, sendo o Sistema Nervoso na substância branca cerebral e inchaço no endotélio.
Central (SNC) o mais sensível. Podemos observar também sintomas como náuseas,
irritabilidade, convulsões e dores de cabeça devido ao
No sistema hematopoiético, a presença de chumbo aumento da pressão intracraniana.
costuma alterar a síntese de hemoglobina, a membrana
do eritrócito e diminuir o tempo de vida da hemácia, Nos indivíduos que sofrem de plumbismo crônico, a
causando anemia e estimulando a eritropoiese (síntese presença de chumbo lesiona fibras mielínicas, o que
de novos eritrócitos). leva ao desenvolvimento de neuropatia periférica, e
gera atrofia em diversas áreas do cérebro.
No sangue periférico de indivíduos intoxicados, os
eritrócitos apresentam inclusões de ferro (siderócitos), Fraqueza muscular, convulsões e dificuldades de
sendo revelados em lâminas de distensão sanguínea enxergar também são sintomas frequentes. O mais
como pigmentações basofílicas, ou seja, pontos azuis comum é encontrarmos evidências da deposição de
dentro das hemácias. No entanto, a anemia não aparece chumbo nos ossos e na mucosa oral e gengiva, onde
de forma precoce, ela ocorre após exposição observa-se uma linha escurecida característica dessa
prolongada e com altas concentrações de chumbo. condição.
Alimentos
ricos em caroteno.
A conversão do caroteno em vitamina A acontece no
intestino, e o organismo realiza a excreção via cólon e
epiderme, principalmente pelas glândulas sudoríparas.
Assim, quando a ingestão acontece de forma
Radiogr exagerada, a excreção dessa substância pode não
afia de osso com presença de linha de chumbo acontecer de maneira suficiente, o que faz com que o
indicada pela seta. estrato córneo da epiderme reabsorva o excesso não
eliminado, que por sua vez se acumula no local e se
DICA torna visível na pele, causando a condição chamada
A intoxicação por chumbo pode ser tratada com terapia de carotenodermia, comum em crianças e que não
quelante. Essa terapia consiste na administração de causa nenhum problema além da alteração de
medicamentos capazes de se ligar ao chumbo e coloração da pele. A pele amarelada é a principal
favorecer a eliminação dos metais pela urina. característica clínica da carotenose.
QUANTIDADE
Varia de acordo com o tempo de exposição, quantidade
de partículas presentes no ar e capacidade do
organismo de eliminar as partículas inaladas.
FATORES SECUNDÁRIOS
O tabagismo, por exemplo, facilita a deposição de
partículas no pulmão por lesionar o aparelho
mucociliar.
SAIBA MAIS
O tabagismo facilita o desenvolvimento de infecções
pulmonares pelo impacto que causa na atividade dos Fibrose
macrófagos alveolares. Ainda, o calor provocado pela pulmonar.
fumaça do cigarro é deletério para a mucosa pulmonar.
Antracose
Associada a isso, a ação de outros produtos presentes
na fumaça, como a nicotina, que tem capacidade de A antracose, tipo de pneumoconiose, também é
inibir os movimentos ciliares, aumenta a produção de chamada de doença pulmonar de partículas adquiridas
muco, que acaba ficando retido no pulmão pela domesticamente, e é resultado da inalação de poeira de
inibição do sistema mucociliar. carvão. Normalmente acomete indivíduos das grandes
cidades, fumantes crônicos e pessoas que se intoxicam
Pneumoconiose de mineradores de carvão pela inalação de partículas presentes na queima de
lenha e esterco durante a preparação de alimentos em de inflamassomas nos macrófagos que fagocitam as
casa. partículas.
Assim que são inalados, os pigmentos encontram Os mediadores inflamatórios, em conjunto com a
macrófagos alveolares que os fagocitam, sendo migração de mais células fagocíticas, ativam o
possível observar os pigmentos no citoplasma das processo inflamatório agudo que culmina na
células e nos linfonodos regionais. regeneração tecidual pela fibrose, ou seja, o
parênquima tecidual lesado é substituído pelo tecido
Normalmente, o pulmão apresenta coloração rosada,
conjuntivo.
porém, com a inalação do carvão, o órgão se torna
acinzentado, sendo possível identificar No início do quadro, são observados nódulos pequenos
histologicamente a presença de manchas pretas nas partes superiores do pulmão e nos linfonodos
irregulares no parênquima pulmonar. A antracose hilares, que podem ser brancos ou escurecidos, a
inicialmente não é prejudicial à saúde, mas o depender da presença concomitante de partículas de
agravamento do quadro pode levar à fibrose, carvão.
dificultando a respiração, e lesionar a parede alveolar.
INFLAMASSOMAS
Complexo multiproteico que induz a produção da
citocina interleucina-1, um importante mediador
inflamatório responsável por recrutar mais fagócitos da
circulação sanguínea ao local da lesão.
Com a evolução do quadro, podem se formar áreas de
fibrose nodular coalescente (junção dos nódulos), com
rígidas cicatrizes colagenosas e fibrose maciça
progressiva. É importante dizer que a doença pode
progredir mesmo com o fim da inalação de novas
partículas.
Depósito Histologicamente, nas lesões, observam-se fibras de
de cálcio no interior do citoplasma (partículas pretas) colágeno em espiral cercadas por macrófagos com as
dos macrófagos. partículas inaladas. Como nas fases iniciais a doença é
Silicose assintomática, o diagnóstico é feito pelo histórico do
paciente junto com exames de imagem para a
A silicose ocorre pela inalação de cristais de dióxido visualização dos nódulos nas zonas superiores do
de silício (ou sílica), e não é considerada um distúrbio pulmão, bem como a coalescência dos nódulos e a
de pigmentação. No entanto, é uma pneumoconiose presença de enfisema.
que se desenvolve após exposição longa à sílica, uma
partícula altamente irritante, que ativa o sistema
imunológico inato, desencadeando uma resposta
inflamatória relevante e predispõe a outras infecções
pulmonares.
Essa doença é a doença ocupacional crônica mais
prevalente.
Pequeno
nódulo característico de silicose, com a presença de
partículas inaladas (grânulos pretos) dentro de
macrófagos.
Telhas de
amianto eram muito usadas na construção civil.
Asbestose
É o nome da doença causada pela inalação de
partículas de asbesto ou amianto. Devido às suas
Pulmão com
propriedades, como baixo custo, resistência ao calor e
asbestose, com presença de fibrose intersticial e corpos
maleabilidade, esse material foi muito utilizado na
de asbesto (estruturas em marrom).
construção civil.
Alguns pacientes desenvolvem hipertensão pulmonar
A principal forma de exposição ao amianto também
pelo estreitamento das artérias. Um achado da
ocorre de forma ocupacional em trabalhadores de
asbestose é a presença de placas bem definidas
mineração, indústrias, instalação e ensacamento de
formadas por colágeno denso, geralmente calcificadas,
produtos de cimento-amianto, entre outras áreas. O com ausência de corpos de asbesto ao longo da pleura.
produto está proibido em muitos países do mundo, Além disso, o tecido fibroso cria espaços dilatados e
inclusive no Brasil desde 2017. essas regiões apresentam um padrão de favo de mel.
O amianto, além de ser um potente indutor e promotor O diagnóstico se dá pelo histórico do paciente em
tumoral, também é um potente indutor de fibrose conjunto com exames de imagem em que é possível
pulmonar. As fibras de amianto possuem diferentes visualizar a presença das estruturas em forma de favo
características de aerodinâmica, solubilidade e de mel, densidades irregulares no pulmão, além de
flexibilidade. testes de função pulmonar.
As fibras mais solúveis são eliminadas aos poucos dos ATENÇÃO
tecidos, enquanto as menos solúveis e mais rígidas são
mais perigosas, pois, a partir da corrente sanguínea, Na pneumoconiose e silicose, a fibrose inicia na região
podem penetrar nas células endoteliais e atingir partes superior do pulmão; já a asbestose tem origem na
mais profundas do pulmão. No entanto, ambas causam região inferior, e evolui para a parte superior do
a fibrose pulmonar. pulmão conforme a fibrose avança.
MÓDULO 3
Corte
transversal de um osso analisado por microscopia
mostrando sua estrutura.
O osso apresenta como componente estrutural o tecido O tecido ósseo é classificado como tecido ósseo
ósseo, um tecido conjuntivo especializado, composto compacto (denso) e tecido ósseo esponjoso
por células e uma matriz extracelular rígida. A matriz é (trabecular). O tecido ósseo compacto é a parte rígida,
composta de uma parte orgânica (matriz osteoide), mais externa e presente em maior quantidade na parte
formada principalmente por fibras de colágeno e pela central do comprimento dos ossos. Já o tecido ósseo
substância fundamental (formadas por proteínas não esponjoso está presente em maior quantidade nas
colagenosas como proteoglicanos e glicoproteínas) e extremidades dos ossos, possui redes de espaços
uma inorgânica mineralizada extremamente rígida de intercomunicantes, além de abrigar a medula óssea.
íons de cálcio e fosfato, que formam os cristais de
hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2). O tecido ósseo se encontra sempre em remodelamento,
pois constantemente precisa modificar sua forma ou
estrutura, em diversas situações, por exemplo, para um
osso primário (primeiro tecido ósseo formado) tornar-
se maduro, para manter sua forma ou se adaptar a
novas situações fisiológicas ou patológicas.
Esqu
ema ilustrando a organização do tecido ósseo. Esquema
Na matriz óssea, há lacunas contendo células ósseas mostrando o processo de remodelamento ósseo e as
chamadas de osteócitos; conectadas por uma rede células envolvidas.
contínua de canalículos e lacunas por toda a massa de O processo de remodelação ocorre pela reabsorção e
tecido mineralizado. Além dos osteócitos, esse tecido é deposição da matriz óssea, comandadas pelos
formado por células osteoprogenitoras, células osteoclastos e osteoblastos. O primeiro evento é a
derivadas das células-tronco mesenquimais que ativação e formação dos osteoclastos (células grandes,
originam os osteoblastos, responsáveis pela secreção multinucleadas e derivadas da fusão de monócitos).
da matriz extracelular. Para isso, os osteoblastos produzem colagenase,
removendo a camada de osteoide, expondo a matriz
Osteoclastos são células de reabsorção óssea presentes
mineralizada aos osteoclastos.
nas superfícies ósseas onde o osso está sendo removido
ou remodelado (reorganizado) ou onde o osso foi Uma vez ativadas, essas células liberam uma série de
lesionado. Os osteócitos representam os osteoblastos enzimas proteolíticas, que agem removendo o cálcio e
recobertos de matriz extracelular. o fosfato do tecido ósseo, além de colágeno,
desmineralização e degradação da matriz óssea
(reabsorção óssea).
Em contrapartida, a formação do osso envolve a
proliferação e migração das células osteoprogenitoras e
a diferenciação dos osteoblastos, que darão origem à
matriz extracelular, com depósito de fosfato e cálcio.
Além disso, é fundamental para a manutenção dos A vitamina D pode ser absorvida pelos alimentos,
níveis de cálcio normal no organismo. como atum e salmão, por via intestinal ou sintetizada
endogenamente mediante exposição à radiação UV. A
O osso serve como um reservatório de íons cálcio. A
síntese endógena de vitamina D corresponde à 90% da
manutenção dos níveis de cálcio normais no organismo
quantidade necessária para o organismo. Quando há
é de suma importância para a manutenção da vida.
exposição aos raios UV, a molécula precursora 7-
Quando os níveis de cálcio sanguíneo diminuem, o
desidrocolesterol, presente na epiderme, é convertida
cálcio pode ser mobilizado da matriz óssea, e quando
em vitamina D (também chamada de colecalciferol).
os níveis aumentam, ele pode ser removido do sangue
e depositado nos ossos. Alguns hormônios também estão diretamente
relacionados com a homeostase dos níveis de cálcio
Os osteócitos controlam os níveis de cálcio e fosfato
circulantes. Nos quadros de hipercalcemia, a glândula
no ambiente da matriz e se encontram interligados nos
tireoide é estimulada a produzir um hormônio
canalículos do interior do osso, facilitando a
chamado de calcitonina, que estimula absorção e
movimentação das moléculas.
deposição de cálcio no tecido ósseo, inibe reabsorção
O cálcio circula pelo corpo principalmente na sua óssea feita pelos osteoclastos e reduz a reabsorção
forma inativa e sua absorção acontece no intestino, renal de cálcio, reduzindo, assim, os níveis de cálcio
mais especificamente no duodeno. Além de fatores circulantes.
hormonais, a deficiência de vitamina D interfere na
De maneira contrária age o paratormônio (PTH),
absorção de cálcio.
hormônio produzido pelas paratireoides que induz um
A vitamina D, de qualquer fonte (fotossintetizada ou aumento na concentração de cálcio na corrente
ingerida na alimentação), é encaminhada para o fígado, sanguínea, pois estimula a ativação de osteoclastos
onde é convertida em outra molécula, a 25- que, ao causar a desmineralização e degradação da
hidroxicolecalciferol (25-OH-D). Por fim, a 25-OH-D matriz, libera cálcio e fósforo para a corrente
é convertida nos rins na forma mais ativa da vitamina sanguínea.
D, a 1,25-di-hidroxivitamina D (1,25-OH-2D).
Além disso, estimula a absorção de cálcio pelo
intestino, a síntese de vitamina D e a reabsorção renal
de cálcio.
Etapas
do mecanismo de absorção da vitamina D.
Qual a relação da vitamina D com os ossos?
A vitamina D ativada regula o metabolismo do cálcio, Mecanis
mantendo a concentração plasmática nos níveis mo de homeostasia de cálcio realizado pela calcitonina
desejáveis para o bom funcionamento do organismo. e pelo paratormônio (PTH).
Ela atua estimulando o aumento da absorção intestinal
e reabsorção desses íons pelo rim, mantendo os níveis CALCIFICAÇÃO PATOLÓGICA
de cálcio e fósforo no plasma.
Uma vez que o tecido ósseo está em constante
Além disso, a vitamina D estimula os osteoblastos a remodelamento, como ocorre o processo de
produzir a proteína osteocalcina, estimulando a síntese calcificação patológica?
de matriz e o depósito no tecido ósseo de cálcio e RESPOSTA
fosforo.
O processo de calcificação patológica ocorre quando
SAIBA MAIS há a deposição anormal de sais, principalmente de
cálcio, juntamente com quantidades menores de ferro e
outros sais minerais, como o magnésio e o fósforo, nos Macroscopicamente, os sais de cálcio são vistos na
tecidos moles, fazendo com que esses tecidos se forma de grânulos ou grumos brancos, muitas vezes
tornem enrijecidos. palpáveis, independentemente do local de deposição.
Microscopicamente e corados com hematoxilina e
Nesses tecidos, os sais de cálcio precipitados são
eosina, os sais apresentam características granulares,
similares à hidroxiapatita e sua deposição e
amorfa e basofílicas (azuis), formando grumos, às
precipitação inicial ocorrem de maneira espontânea e
vezes.
gradual, sendo chamadas de nucleação primária.
Uma vez depositados, esses cristais precipitados Podem ser encontrados no espaço intracelular,
favorecem a precipitação de mais cristais, em uma fase extracelular ou em ambos. Eventualmente, há a
chamada de nucleação secundária. formação de um foco de cristalização com células
necróticas individuais, que pode ser ampliado pelo
Além disso, os sais de cálcio circulantes também constante acúmulo de minerais. O ganho progressivo
ajudam a manter o processo de calcificação. Na dessas camadas externas cria o que chamamos
presença do íon fosfato, o cálcio circulante se liga e de psamomas, devido à sua semelhança com os grãos
origina o fosfato de cálcio, uma substância insolúvel de areia.
que se deposita com mais facilidade, podendo
acumular nos vasos sanguíneos. No entanto, esses CALCIFICAÇÃO METASTÁTICA
cristais podem ocorrer como depósitos amorfos não
A calcificação metastática ocorre nos tecidos normais
cristalinos.
sempre em situações de hipercalcemia, que pode ter
Dependendo do local de deposição, as calcificações quatro causas principais, como:
patológicas podem ser distróficas ou metastáticas.
I. O aumento da secreção de paratormônio
CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA devido a tumores das paratireoides
(hiperparatireoidismo), que estimula os
Tipo mais comum de calcificação, ocorre com
osteoclastos que, ao causar a desmineralização
acúmulo de sais de cálcio nos tecidos mortos ou
e degradação da matriz, liberam cálcio e
lesados, ou seja, onde existam alterações teciduais, de
fósforo para a corrente sanguínea;
forma local e independente da concentração plasmática
de cálcio. Essa calcificação é encontrada em focos de II. A destruição de tecido ósseo decorrente de
necrose tecidual e celular, e está quase sempre presente tumores primários da medula óssea,
nas placas ateroscleróticas avançadas. remodelamento ósseo, metástases esqueléticas
disseminadas ou imobilização;
Também se desenvolve comumente nas valvas
cardíacas envelhecidas ou danificadas, dificultando III. Distúrbios relacionados à vitamina D;
ainda mais sua função; estão relacionadas à trombose
IV. Insuficiência renal.
venosa, infartos, pancreatite aguda com esteatonecrose
e causam obstrução em canais como ductos biliares. Além disso, pode ocorrer em menor quantidade, em
VOCÊ SABIA quadros de hiperfosfatemia, geralmente relacionada a
distúrbios no metabolismo de cálcio.
Fibras elásticas e colágenas, ácidos graxos, proteínas
desnaturadas, entre outras estruturas, podem agir como Essa calcificação pode acontecer em qualquer lugar do
iniciadores de nucleação primária, favorecendo, assim, corpo, mas acometem principalmente os rins, pulmões,
a deposição de sais de cálcio precipitados. estômago e artérias. Essa predileção por esses locais é
explicada pelo fato de esses órgãos secretarem
substâncias ácidas; sendo assim, o seu interior é
alcalino e favorece a precipitação dos sais de cálcio.
Pe
dras ou cálculos renais.
Tema 3
C Distúrbios da circulação
álculos de colesterol na vesícula biliar com colecistite.
DESCRIÇÃO
Os cálculos de colesterol são de cor amarela; já os
cálculos biliares formados por cálcio e bilirrubina, são Princípios fundamentais da circulação e hemostasia.
pigmentados na cor marrom à negra. Cerca de 80% dos Conceituação e aspectos gerais dos principais
casos de cálculo biliar são assintomáticos. Entretanto, distúrbios hemodinâmicos.
nos casos sintomáticos, pode haver dor na região da PROPÓSITO
vesícula e, nos casos mais graves, pode
gerar colecistite. Compreender os conceitos gerais da circulação, os
fundamentos da hemostasia e os princípios
NEFROLITÍASE fisiopatológicos envolvidos nos distúrbios
No caso dos cálculos renais (nefrolitíase), o cálcio hemorrágicos e hiperêmicos, na trombose, embolia,
presente na urina é o principal componente. A isquemia e no infarto, além da aterosclerose, do edema
formação de cálculos renais por ácido úrico e outras e choque, é importante para entender os distúrbios e as
substâncias também acontece, porém, de maneira diferenças relacionadas a eles.
menos frequente. OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir os conceitos gerais de circulação e hemostasia
e descrever as características dos processos de
hemorragia, hiperemia, trombose, embolia e isquemia
MÓDULO 2
Descrever os princípios fundamentais de infarto,
Cálculos
aterosclerose, edema e choque
ou pedras presentes no tecido renal.
INTRODUÇÃO
Geralmente, as pedras são pequenas e possuem
formato pontiagudo e irregular. Existem três A circulação é o mecanismo pelo qual o sangue é
mecanismos associados à geração dos cálculos renais: distribuído por todo o corpo, a partir do bombeamento
do coração e transporte pelos vasos sanguíneos.
O primeiro é pela formação e adesão dos
Basicamente, as funções do sistema circulatório são:
cálculos na papila renal;
promover a correta perfusão tecidual, gerar e manter a
O segundo é quando os cálculos são formados pressão interna ao longo de sua estrutura, fornecer as
aderidos às saídas dos ductos coletores; substâncias essenciais ao metabolismo celular e
transportar substâncias que devem ser excretadas nos
O terceiro se dá quando os cálculos são seus locais de destino.
gerados livres na urina.
Vamos aqui revisar alguns conceitos importantes em
Os principais sintomas dos cálculos renais são dores relação à circulação, como a função dos vasos
severas, hematúria e o favorecimento de infecções. sanguíneos e os princípios de manutenção do fluxo.
Além disso, vamos entender as principais etapas da
hemostasia, processo fundamental para a formação do
coágulo que impede o agravamento de hemorragias.
Esse conhecimento será utilizado no estudo que
faremos sobre os distúrbios hemodinâmicos, que
apresentam alto impacto na saúde pública em termos
de morbidade e mortalidade. Vamos compreender,
então, as definições e os conceitos fundamentais
envolvidos nos distúrbios hemorrágicos, na doença
tromboembólica, aterosclerose, isquemia, no infarto,
choque e edema.
Prepare-se para um longo e interessante caminho a ser
trilhado! Artérias grandes ou elásticas
Sistema
circulatório humano mostrando o fluxo sanguíneo.
Sangue venoso em azul e sangue arterial em vermelho.
As artérias são vasos sanguíneos com parede espessa
e resistente. A maior artéria do corpo, a artéria aorta,
sai do coração levando sangue rico em oxigênio
(arterial) para o restante do organismo. Já as artérias Pequenas artérias e arteríolas
pulmonares transportam sangue venoso, rico em CO2,
para os pulmões. Está presente dentro dos tecidos e órgãos.
As artérias são classificadas em três tipos, com base Por causa de sua composição, as artérias são capazes
em seus tamanhos e suas características estruturais: de transportar o sangue com alta velocidade e pressão.
Comparativamente às artérias, no mesmo nível de Íntima
ramificação, as veias são vasos que possuem diâmetros
É a camada mais interna, que está em contato com o
maiores, luz maior, paredes mais finas e tecido
sangue circulante e normalmente consiste em uma
muscular pouco desenvolvido. Além disso,
única camada de células endoteliais sobre sua
possuem válvulas formadas por tecido conjuntivo, que
membrana basal. É separada da média pela lâmina
impedem o fluxo sanguíneo retrógrado. As veias e suas
elástica interna.
ramificações, as vênulas e vênulas pós-capilares, são
responsáveis por transportar o sangue venoso dos Média
tecidos para o coração. A exceção são as veias
umbilicais e pulmonares, que transportam sangue É uma camada intermediária, que contém muita
arterial, rico em O2, para a placenta e para o coração, elastina e permite a expansão e contração das veias
respectivamente. durante os movimentos cardíacos, por exemplo. Além
disso, destaca-se por ser rica em células musculares
Os capilares são ramificações de veias e artérias em lisas.
tamanhos minúsculos, com parede muito fina e
delgada, composta apenas de uma célula endotelial Adventícia
envolta por esparsos pericitos. Os capilares formam Fica na parte externa da média, muitas vezes separada
uma extensa rede e, por conta de sua composição, dela por uma lâmina elástica externa bem definida. A
permitem a pronta difusão do oxigênio e nutrientes camada adventícia consiste em tecido conjuntivo
entre o sangue e os tecidos. frouxo, fibras neurais e pequenas arteríolas.
A imagem a seguir mostra a organização básica da
vasculatura, bem como as mudanças de espessamento
e composição das várias camadas, de acordo com as
forças hemodinâmicas e as necessidades teciduais.
Rede de capilares
evidenciada em pele inflamada.
O padrão e a composição celular dos vasos sanguíneos
são muito semelhantes em todo o sistema vascular.
Porém, encontramos algumas características estruturais
que refletem as diferentes funções dos tipos
específicos de vasos. As paredes arteriais são mais
grossas que as das veias no mesmo nível de
ramificação, pois servem para aguentar o fluxo pulsátil
e as pressões arteriais mais altas. A espessura da parede
Org
arterial vai diminuindo gradualmente, à medida que o
anização básica da vasculatura.
vaso diminui.
Agora que você está familiarizado com a estrutura e
Os componentes básicos das paredes vasculares são
função dos vasos, vamos conhecer alguns princípios
as células endoteliais e as células musculares lisas,
envolvidos na circulação e no fluxo sanguíneo que
associadas a constituintes de matriz extracelular, como
serão importantes para o nosso estudo daqui para
elastina e colágeno. A quantidade e configuração
frente.
desses elementos variam ao longo da vasculatura em
razão das necessidades mecânicas e metabólicas locais. MANUTENÇÃO DO FLUXO UNIDIRECIONAL
Nas artérias e veias, a organização se dá em três A manutenção do fluxo no interior do sistema
camadas concêntricas: circulatório depende principalmente da força contrátil
do coração. A contração dos ventrículos ejeta o sangue
PERICITOS
tanto para a circulação pulmonar quanto sistêmica e a
São células do tipo mesenquimal, associadas ao quantidade de sangue ejetada por cada ventrículo,
endotélio dos capilares sanguíneos. São células denominada de débito cardíaco, depende da
relativamente indiferenciadas, no entanto podem se frequência cardíaca e do volume disponível no
diferenciar em fibroblastos, macrófagos ou células ventrículo. O sangue bombeado flui pelas artérias,
musculares lisas, conforme a necessidade. Servem passa pela rede de capilares e retorna aos átrios, em um
como suporte para os capilares. movimento chamado retorno venoso.
O equilíbrio entre o débito cardíaco e o retorno venoso Plaquetas, hemácias e leucócitos. Os elementos
é mantido com a ejeção de sangue pelos ventrículos, a figurados constituem cerca de 45% do volume do
impulsão intermitente do sangue pelos músculos sangue, enquanto o plasma constitui 55% do seu
esqueléticos, o movimento respiratório e a pulsação volume.
arterial, que constituem as outras bombas do sistema.
PERFUSÃO TECIDUAL
Tanto os músculos esqueléticos quanto a pulsação
arterial pressionam as veias em direção ao coração, Chegada de sangue oxigenado aos tecidos.
fazendo com que o sangue flua para os átrios.
O fluxo sanguíneo entre os lados arterial e venoso no
Os movimentos respiratórios aumentam a pressão sistema circulatório depende da diferença de
negativa intratorácica, promovendo a sucção do sangue pressão entre esses dois compartimentos e
das veias sistêmicas em direção ao átrio direito. Já o da resistência oferecida pelos vasos à passagem de
retorno venoso dos pulmões é favorecido durante a sangue. A resistência, por sua vez, é inversamente
expiração, quando há a contração pulmonar e dos proporcional ao comprimento e calibre do vaso,
vasos sanguíneos pulmonares. O fluxo sanguíneo dependendo também do atrito entre as células e a
retrógrado no sistema circulatório é impedido pela superfície endotelial. Logo, é fácil entendermos por
existência das válvulas atrioventriculares, que as arteríolas são importantíssimas no controle da
ventriculoarteriais e venosas, que garantem pressão arterial, pois a resistência periférica,
a unidirecionalidade do fluxo. componente fundamental da pressão, aumenta quanto
menor é o diâmetro do vaso.
A viscosidade do sangue e a velocidade do fluxo fazem
com que os elementos figurados ocupem o eixo da
coluna em movimento, em que os elementos maiores
se deslocam com maior velocidade no centro do vaso e
os menores mais próximos à superfície endotelial, com
menos velocidade. Esse cenário é denominado
de fluxo laminar e evita o contato direto dos
Válvula elementos figurados ao endotélio. O atrito entre os
s cardíacas. elementos figurados e a parede vascular também é
evitado pela força de cisalhamento oferecida pela
FATORES QUE INFLUENCIAM O FLUXO sístole ventricular e anatomia curvada da aorta.
SANGUÍNEO
O sangue é uma suspensão na qual células estão
dispersas em uma parte líquida, o plasma, onde
encontramos muitas moléculas dissolvidas. Junto com Padrão laminar do
as células, essas moléculas determinam a viscosidade fluxo sanguíneo. Hemácias e leucócitos circulam na
sanguínea e, consequentemente, sua fluidez e parte central da coluna de sangue, enquanto plaquetas
velocidade dentro dos vasos. Variações na quantidade e fluem mais perifericamente, próximas ao endotélio.
na forma dos elementos figurados e na composição
plasmática podem causar mudanças na viscosidade A perda do fluxo laminar leva à turbulência do sangue,
sanguínea e alterar a perfusão tecidual. favorecendo a aproximação dos elementos figurados
ao endotélio. Nesse contexto, as plaquetas são
ativadas, aderem ao endotélio e podem contribuir para
trombose e aterosclerose, como veremos mais adiante.
REGULAÇÃO DO SISTEMA
A regulação do fluxo sanguíneo para os tecidos ocorre
na microcirculação, em que as arteríolas podem
apresentar grandes variações na sua luz, com dilatação
ou contração. A vasoconstrição aumenta a resistência
Hemácias vascular periférica que, como já vimos, aumenta a
, plaquetas e leucócitos: os elementos figurados do pressão arterial. Já a vasodilatação arteriolar aumenta o
sangue. fluxo de sangue para os tecidos.
ELEMENTOS FIGURADOS A microcirculação reage a estímulos para compensar
alterações sistêmicas de pressão e volume, além de
responder a estímulos locais quando há aumento pela
demanda de sangue, oxigênio e nutrientes. O controle
da microcirculação é realizado a partir de reguladores
neurais, hormonais, endoteliais e metabólicos.
ATUAÇÃO DOS VASOS LINFÁTICOS
Além dos vasos sanguíneos, os vasos
linfáticos também compõem o sistema circulatório.
Eles possuem paredes finas revestidas por endotélios
especializados e conduzem a linfa, formada a partir da
reabsorção do líquido intersticial filtrado nos capilares Formaçã
sanguíneos. Ela contém água, micro e macromoléculas o do tampão hemostático.
e leucócitos. Após a lesão vascular, mecanismos neurais associados
É importante destacar que, além de oferecer retorno do à secreção local de fatores vasoconstritores pelo
fluido intersticial e leucócitos à corrente sanguínea, os endotélio (como a endotelina) induzem
vasos linfáticos também podem transportar a vasoconstrição. Esse evento é imediato, transitório e
microrganismos e células tumorais, representando uma reduz bastante o fluxo sanguíneo na região, mas não é
importante via para a disseminação de doenças. suficiente para parar totalmente o sangramento, pois é
fundamental a ativação das plaquetas e fatores de
coagulação.
A lesão endotelial expõe o fator de von Willebrand e
o colágeno na matriz extracelular, que promovem
a aderência e ativação plaquetária. Plaquetas
ativadas apresentam importante alteração morfológica,
passando de pequenos discos arredondados para placas
achatadas, emitem prolongamentos que permitem o
aumento da sua superfície de contato e começam a
liberar grânulos secretores, que atuam no recrutamento
de mais plaquetas, formando assim o tampão
hemostático primário.
Os vasos
linfáticos também compõem o sistema circulatório.
Uma vez compreendidos os princípios básicos da É sintetizado por células endoteliais e megacariócitos
circulação, é hora de entender como ocorre o processo (progenitores das plaquetas) e tem como funções
hemostático. A hemostasia ocorre em locais de lesão principais mediar a adesão das plaquetas ao endotélio
vascular, envolvendo plaquetas, endotélio e fatores de na hemostasia e manter os níveis plasmáticos do fator
coagulação. Ela se desenvolve de maneira muito VIII (uma proteína pró-coagulante).
regulada e resulta na formação de um tampão
Além do fator de von Willebrand e do colágeno
constituído de fibrina, hemácias, plaquetas e
subendotelial, o endotélio lesionado também expõe
eventualmente alguns leucócitos, prevenindo ou
o fator tecidual, uma glicoproteína pró-coagulante
limitando uma hemorragia.
ligada à membrana. O fator tecidual se liga e ativa o
fator VII, iniciando uma cascata de reações que resulta
na formação da trombina. A principal função da concentração de mais plaquetas e fatores de
trombina é converter o fibrinogênio presente na coagulação.
circulação em fibrina insolúvel, que forma uma malha
A função plaquetária está relacionada à presença de
e atua na ativação plaquetária, fazendo com que mais
vários receptores glicoproteicos, um citoesqueleto com
plaquetas se juntem ao tampão primário. Esse processo
capacidade contrátil e dois principais tipos de grânulos
consolida a hemostasia primária e culmina na
citoplasmáticos: no grânulo α, encontramos as
formação do tampão hemostático secundário
moléculas de adesão selectina-P; proteínas envolvidas
definitivo.
na coagulação, como o fibrinogênio; fator V; fator de
A última etapa do processo hemostático caracteriza-se von Willebrand; e proteínas envolvidas na restauração
pela estabilização e reabsorção do tampão. A massa do tecido lesado, como a fibronectina. Já nos grânulos
de fibrina polimerizada e plaquetas agregadas sofrem δ, também chamados de densos, encontramos
contração e formam um tampão sólido e firme, que moléculas como difosfato e trifosfato de adenosina
previne hemorragias posteriores no local. Nesse (ADP e ATP), cálcio ionizado, serotonina e adrenalina.
momento, mecanismos de contrarregulação, como
o ativador de plasminogênio tecidual e
trombomodulina, são ativados e limitam a coagulação
no local de lesão. Por fim, há o reparo da área vascular
lesada e posterior reabsorção do tampão.
Plaquetas e
seus principais componentes.
Como mencionado anteriormente, quando ocorre uma
lesão endotelial, ocorre a exposição de moléculas
como o fator de von Willebrand e colágeno no tecido
conjuntivo subendotelial. As plaquetas, uma vez que
encontram e se ligam a essas moléculas, passam por
uma sequência de reações que culminam na formação
do tampão plaquetário.
Esquem
a simplificado das etapas de formação do tampão A adesão plaquetária representa o primeiro passo e é
hemostático. mediada, principalmente, pelas interações com o fator
de von Willebrand. Em seguida, algumas alterações
Agora que você já entendeu os principais eventos morfológicas aumentam a superfície de contato das
envolvidos na hemostasia, vamos conhecer mais plaquetas, acompanhadas por alterações em
detalhadamente seus principais componentes. glicoproteínas e fosfolipídios, que aumentam sua
FATOR TECIDUAL afinidade pelo fibrinogênio e servem de base para os
complexos de fatores de coagulação. Juntamente com
É conhecido também como tromboplastina, está esses dois eventos, ocorre a liberação dos conteúdos
presente nos tecidos e no interior das plaquetas e é dos grânulos, resultando no que chamamos
responsável pela conversão da protrombina em de ativação plaquetária.
trombina na presença de íons cálcio, tendo papel
fundamental no processo de coagulação. A trombina e o ADP iniciam a ativação, que culminam
em um fenômeno conhecido como recrutamento, que
ATIVADOR DE PLASMINOGÊNIO produz ciclos adicionais de ativação plaquetária. Nesta
etapa, há também a produção de prostaglandinas, que
É uma serina protease que converte o plasminogênio
em plasmina, promovendo assim a fibrinólise. atuam como indutores potentes da agregação
plaquetária. As alterações em glicoproteínas, citadas
PLAQUETAS anteriormente, permitem a ligação do fibrinogênio, que
forma pontes entre as plaquetas próximas e favorece
As plaquetas são fragmentos celulares, sem núcleo e
sua agregação. Esse processo é reversível, mas com a
em forma de disco, que se originam dos
ativação da trombina há a estabilização do tampão
megacariócitos em locais como a medula óssea. Como
plaquetário, em um ciclo que envolve mais ativação e
vimos, elas desempenham papel fundamental na
agregação, resultando na contração plaquetária
hemostasia, formando o tampão inicial que cobre a
irreversível.
lesão vascular e fornecendo uma base para a ligação e
direta do fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel,
estabilização do tampão hemostático, ativação e
agregação plaquetária e efeitos pró-inflamatórios, que
contribuem para o reparo tecidual e angiogênese. Além
disso, possui efeitos anticoagulantes ao deparar-se com
o endotélio saudável.
A coagulação deve ser restringida ao local da lesão
vascular e um de seus fatores limitantes é a diluição
Adesã promovida pelo fluxo sanguíneo, que “lava” os fatores
o e ativação plaquetária. de coagulação ativados para serem removidos pelo
Junto com esse processo, há a conversão do fígado. A necessidade da base de fosfolipídios
fibrinogênio em fibrina, também pela atuação da negativos, que é fornecida pelas plaquetas ativadas,
trombina. A fibrina atua como um cimento na massa de representa outro fator limitante. Porém, os mecanismos
plaquetas, criando o tampão hemostático secundário. contrarregulatórios mais importantes são os fatores
expressos pelo endotélio saudável próximo ao local da
lesão, como o ativador de plasminogênio tecidual (t-
PA). Durante a cascata de coagulação, a cascata
fibrinolítica também é ativada, limitando o tamanho do
coágulo fibrinoplaquetário e contribuindo para sua
posterior dissolução. A quebra da fibrina é realizada
pela atividade enzimática da plasmina, em um
processo denominado de fibrinólise firmemente
Tampão controlado.
hemostático secundário, contendo fibrina, plaquetas
ativadas, leucócitos e hemácias.
FATORES DE COAGULAÇÃO
Os fatores de coagulação fazem parte de uma série de
reações enzimáticas conhecidas como cascata de
coagulação, que culmina na deposição de um coágulo
de fibrina. Em cada etapa da reação, encontramos uma
enzima, que é um fator de coagulação ativado; um
substrato, que é uma proenzima inativa de um fator de
coagulação; e um cofator, que atua como acelerador da
reação. No exemplo a seguir, esses três componentes
são montados em uma base de fosfolipídios com carga
negativa, que é fornecida pelas plaquetas ativadas.
O
retorno do fluxo sanguíneo à normalidade “lava” os
fatores de coagulação e contribui para a dissolução do
coágulo.
ENDOTÉLIO
Os eventos de formação, propagação ou dissolução dos
coágulos e trombos são frequentemente determinados
A pelo equilíbrio entre as atividades anticoagulantes e
complexidade da cascata de coagulação: os pró-coagulantes do endotélio vascular. Em condições
polipeptídios em laranja são os fatores inativos; em normais, as células endoteliais expressam um conjunto
azul, os fatores ativos; e em verde, os cofatores. de fatores que inibem as atividades pró-coagulantes e
A trombina é considerada o mais importante fator de outros que aumentam a fibrinólise.
coagulação. Possui várias atividades enzimáticas que Todos esses fatores atuam conjuntamente para prevenir
controlam diversos aspectos da hemostasia e fazem a ocorrência de trombose e limitar o coágulo aos locais
uma ponte entre a coagulação, a inflamação e o reparo de lesão vascular. Porém, uma vez lesionadas ou
tecidual. Entre essas atividades, estão a conversão expostas a moléculas pró-inflamatórias, as células
endoteliais perdem várias de suas propriedades
antitrombóticas.
Estudaremos os mecanismos gerais pelos quais o
endotélio contribui para a trombose mais adiante, mas
aqui é importante discutirmos essas atividades
antitrombóticas do endotélio, que podem ser
direcionadas às plaquetas, aos fatores de coagulação ou
à fibrinólise.
Com todo o conhecimento adquirido até agora, você
deve saber que uma das funções do endotélio saudável Hemorragia durante procedimento operatório.
é servir como barreira, protegendo as plaquetas do As doenças associadas a hemorragias maciças e súbitas
fator de von Willebrand e do colágeno subendotelial. incluem os aneurismas da aorta abdominal,
Porém, o endotélio normal também libera várias complicados pela ruptura da aorta, e o infarto do
moléculas que inibem a ativação e agregação miocárdio, complicado pela ruptura do coração. Entre
plaquetária, como o óxido nítrico e a prostaciclina. As as condições de estresse hemostático, destacamos as
células endoteliais também possuem capacidade de se cirurgias, os procedimentos odontológicos, o parto, os
ligar à trombina, um dos principais ativadores de traumas e a menstruação. Entre esses dois extremos,
plaquetas, alterando assim sua atividade. estão as hemofilias , geralmente hereditárias e que
Em relação à cascata de coagulação, o endotélio podem levar a quadros graves se não tratadas.
normal impede o contato do fator tecidual na parede ANEURISMAS
vascular com os fatores de coagulação. Além disso,
expressa várias moléculas que são antagônicas à É dilatação anormal de uma artéria, um aneurisma
coagulação, especialmente trombomodulina, pode se romper e causar uma hemorragia ou
receptores de proteína C endotelial e inibidores da via permanecer sem estourar durante toda a vida. Pode
do fator tecidual. Por fim, as células endoteliais ocorrer em qualquer artéria do corpo, como as do
sintetizam o ativador de plasminogênio tecidual que, cérebro, do coração, do rim ou do abdome.
como já discutimos, é um componente primordial da
HEMOFILIAS
via fibrinolítica.
Deficiências dos fatores de coagulação.
Algumas
funções do endotélio saudável, com ênfase na
hemostasia.
ETAPAS E PRINCIPAIS COMPONENTES DO
Sangramento gengival durante procedimento
PROCESSO DE HEMOSTASIA
odontológico.
A especialista Gabriela Cardoso Caldas relembra e
As causas mais comuns de hemorragias leves
reforça os componentes básicos da hemostasia.
incluem uso de aspirina, insuficiência renal
HEMORRAGIA e defeitos hereditários do fator de von Willebrand.
Já as hemorragias anormais, assim como seus efeitos,
Defeitos primários ou secundários na parede vascular, estão relacionadas a alguns princípios gerais de que
nas plaquetas ou nos fatores de coagulação tratamos a seguir:
(componentes que devem funcionar harmoniosamente
para manter a hemostasia) resultam em hemorragias. DEFEITOS HEREDITÁRIOS DO FATOR DE
Os sangramentos anormais variam desde hemorragias VON WILLEBRAND
maciças fatais, associadas à ruptura de grandes vasos
Quando o fator de von Willebrand encontra-se ausente
(a aorta, por exemplo), até defeitos sutis na
ou defeituoso, as plaquetas não conseguem aderir à
coagulação, que são percebidos apenas em condições
parede vascular no local em que ocorreu a lesão. Desse
de estresse hemostático.
modo, a hemorragia não é contida tão rapidamente.
Hematoma no
antebraço.
Epistaxe
DEFEITOS GENERALIZADOS EM PEQUENOS
, o sangramento pelo nariz.
VASOS
DEFEITOS DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA
Apresentam-se normalmente como “púrpuras
Os defeitos plaquetários ou doença de von Willebrand palpáveis” e equimoses (hemorragias com tamanho
normalmente se apresentam sob a forma de pequenos entre 1 e 2cm), características de distúrbios sistêmicos
sangramentos na pele ou nas membranas mucosas, que rompem vasos sanguíneos pequenos, como nas
como petéquias (lesões < 2 mm em diâmetro) vasculites, ou que levam à sua fragilidade, como
e púrpuras (lesões entre 2 mm e 1 cm de diâmetro). na amiloidose (doença rara em que proteínas dobradas
Sangramentos gastrointestinais, epistaxe (sangramento anormalmente formam fibrilas de amiloide que se
pelo nariz) ou a menorragia (menstruação excessiva) acumulam em vários tecidos e órgãos, levando à
são outras formas de sangramentos de mucosas disfunção ou insuficiência do órgão e morte)
associados a defeitos na hemostasia primária. Uma e escorbuto (doença causada pela deficiência de ácido
grande preocupação relacionada ascórbico ou vitamina C e normalmente associada ao
à trombocitopenia (contagem plaquetária muito baixa) aparecimento de hematomas). Tanto nas púrpuras
é a hemorragia intracerebral, que pode levar a óbito. quanto nas equimoses, o volume de sangue que
extravasa é suficiente para formar uma massa palpável
de sangue, o hematoma.
O impacto clínico de uma hemorragia depende do
volume de sangue, da velocidade do sangramento e da
sua localização. Perdas rápidas, de até 20% do volume
sanguíneo, podem ter pouco impacto em adultos
saudáveis, porém perdas maiores podem levar
Hemartrose, o
ao choque hipovolêmico ou hemorrágico.
sangramento em partes moles, como nas articulações.
Sangramentos intracranianos podem levar ao aumento
DEFEITOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA da pressão no local, comprometendo o suprimento
sanguíneo. A perda sanguínea externa, como na
Os defeitos dos fatores de coagulação estão geralmente menstruação ou na úlcera péptica, pode resultar em
associados a sangramentos em tecidos de partes moles, anemia por deficiência de ferro. Porém, quando a
como os músculos e as articulações (hemartrose). hemorragia ocorre em cavidades corporais ou tecidos,
Porém, ainda não é consenso o porquê de os distúrbios as hemácias são retidas e o ferro é reutilizado para a
da hemostasia secundária apresentarem esse padrão de síntese de hemoglobina.
hemorragia. Assim como mencionado nos distúrbios
da hemostasia primária, a hemorragia intracraniana
também pode ocorrer e levar a óbito.
fisiológicas que culminam na trombose são conhecidas
como Tríade de Virchow e compreendem em:
A tríade de
Tomografia Virchow – base da trombose.
computadorizada de cérebro e crânio mostrando
grande hematoma epidural ou hemorragia (em LESÃO ENDOTELIAL
vermelho). Representa quase que inevitavelmente o suporte da
HIPEREMIA E CONGESTÃO formação de trombos na circulação arterial e no
coração, locais onde a velocidade do fluxo sanguíneo é
Quando há um processo inflamatório agudo em alta e normalmente impede a formação dos coágulos.
determinado tecido ou quando forçamos nossos Por conta da composição dos trombos arteriais e
músculos durante a atividade física, ocorre uma cardíacos, que costumam ser ricos em plaquetas,
dilatação arteriolar que leva a um aumento de fluxo supõe-se que a adesão de plaquetas ao endotélio
sanguíneo na região. O processo ativo resultante dessa lesionado e sua posterior ativação sejam pré-requisitos
dilatação é o que chamamos de hiperemia. Os tecidos para a formação do trombo.
envolvidos ficam vermelhos (eritema), por conta do
aumento no volume de sangue oxigenado que chega As lesões endoteliais graves podem iniciar o processo
até eles. trombótico pela exposição do fator de von Willebrand
e fator tecidual, mas a inflamação e outros estímulos
ERITEMA lesivos também podem contribuir para a formação do
trombo pela alteração do padrão de expressão de
Sinal clínico caracterizado por rubor, ocasionado pela
proteínas habituais do endotélio para um padrão que
vasodilatação capilar.
seja pró-trombótico. Essa alteração, geralmente
denominada de ativação ou disfunção endotelial,
pode ser induzida por diversos fatores, como agentes
infecciosos, anormalidades no fluxo sanguíneo e
alterações metabólicas.
As alterações pró-trombóticas principais
Conjuntiva
incluem alterações pró-coagulantes, nas quais as
palpebral hiperêmica no olho direito.
células endoteliais ativadas participam de uma série de
A congestão também decorre do aumento do volume processos que resultam no estímulo plaquetário, no
sanguíneo dentro dos tecidos, mas é um processo aumento da inflamação pela ativação prolongada da
passivo, resultante da diminuição do efluxo sanguíneo trombina e nos efeitos antifibrinolíticos, em que as
de um tecido. A congestão normalmente está células endoteliais secretam inibidores do ativador de
associada ao edema, que se desenvolve por conta do plasminogênio, que limitam a fibrinólise e favorecem o
aumento da pressão hidrostática provocada pela área desenvolvimento do trombo.
congesta. A congestão pode ser sistêmica, como vemos
ANORMALIDADES NO FLUXO SANGUÍNEO
na insuficiência cardíaca ou localizada, em uma
oclusão venosa local e isolada. No fluxo sanguíneo normal, plaquetas e outros
elementos celulares fluem de maneira central,
PRESSÃO HIDROSTÁTICA
separados do endotélio por uma camada de plasma,
É a pressão exercida pelos líquidos existentes no transportados de maneira mais lenta. Alterações no
plasma. fluxo sanguíneo (estase ou turbulência) promovem a
ativação endotelial, aumentando a atividade pró-
TROMBOSE coagulante e adesão leucocitária por meio de
É a formação de coágulos sanguíneos em veias ou mudanças de expressão de moléculas de adesão e
artérias, representando a base das formas mais comuns fatores pró-inflamatórios. Além disso, permitem que as
e graves das doenças cardíacas. As disfuncionalidades plaquetas entrem em contato com o endotélio e
reduzam a diluição e “lavagem” dos fatores de É extremamente importante na cascata de coagulação e
coagulação ativados. sua mutação resulta na perda de um importante
mecanismo antitrombótico, favorecendo uma
A estase (estagnação do fluxo sanguíneo) é o principal coagulação excessiva e a formação de trombos.
colaborador para o desenvolvimento da trombose
venosa, já a turbulência favorece a trombose cardíaca Protrombina ou fator II
e arterial pela disfunção ou lesão endotelial e a
É uma proteína que, quando ativada, promove a
formação de bolsas de estase locais pelos fluxos de
conversão de fibrinogênio em fibrina, que, juntamente
contracorrente.
com as plaquetas, forma uma camada que impede o
sangramento. Logo, a protrombina é fator essencial
para a coagulação sanguínea.
Secundários (adquiridos): Incluem lesão
Fluxo em padrão tecidual, câncer, repouso prolongado no leito,
laminar e fluxo turbulento. coagulação intravascular
disseminada, trombocitopenia induzida por
As alterações no fluxo sanguíneo contribuem para a heparina (doença que ocorre após a
trombose em diversas condições clínicas. No exemplo administração de heparina não fracionada e
a seguir, observa-se que nos aneurismas a dilatação da induz a formação de anticorpos contra os
aorta e das artérias gerais provoca estase local e complexos de heparina e fator plaquetário 4 na
propensão à trombose. Já a existência de placas superfície de plaquetas e moléculas
ateroscleróticas ulceradas, além de expor o fator semelhantes em células endoteliais). Os efeitos
tecidual e o fator de von Willebrand, também causa induzidos pela ligação dos anticorpos, juntos,
turbulência. Na anemia falciforme, as hemácias produzem um estado pró-trombótico e
alteradas dificultam o fluxo sanguíneo nos pequenos síndrome do anticorpo
vasos, favorecendo a estase e a trombose. antifosfolipídio (condição que possui
manifestações clínicas variadas, como
tromboses recorrentes, abortos repetidos,
embolia pulmonar e trombocitopenia).
Os trombos podem se desenvolver em qualquer local
do sistema cardiovascular e variam no tamanho e na
forma dependendo da causa e região afetada. A partir
do ponto de iniciação, local de fixação na superfície
vascular, os trombos venosos tentem a crescer no
sentido do fluxo sanguíneo e os trombos arteriais em
sentido retrógado, ambos se propagando em direção ao
coração. À medida que o trombo se desenvolve, a parte
crescente fica menos presa à base, podendo se
fragmentar e embolizar.
Aneur
ismas provocam estase local e propiciam a formação
de trombo.
HIPERCOAGULABILIDADE DO SANGUE OU
TROMBOFILIA
Possui papel importante na trombose venosa e pode ser
definida como qualquer distúrbio sanguíneo que
predispõe à trombose. É dividida em distúrbios:
Primários (genéticos): Entre as causas
hereditárias de hipercoagulabilidade, as
mutações pontuais no gene do fator V e no
gene da protombina são as mais comuns.
Fator V
apresentarem tendência de embolizar os pulmões. As
tromboses venosas profundas das extremidades
inferiores geralmente estão associadas a quadros de
hipercoagulabilidade relacionados a fatores como
repouso e imobilização no leito e à insuficiência
cardíaca congestiva. As tromboses arteriais causam o
infarto agudo do miocárdio, os acidentes vasculares
encefálicos e as doenças arteriais obstrutivas crônicas,
que levam à redução do fluxo sanguíneo nas
extremidades dos membros inferiores.
Presença
de êmbolo (seta) no pulmão. Ruptura
do aneurima.
EMBOLIA PULMONAR
EMBOLIAS SISTÊMICAS
É a forma mais comum da doença tromboembólica e
importante causa de morbidade e mortalidade, Derivam principalmente de trombos
principalmente em pacientes acamados. Ela se origina, cardíacos, murais ou valvares, aneurismas aórticos ou
principalmente, de trombos das veias profundas das placas ateroscleróticas. Nesses casos, para que o
pernas. Suas consequências incluem insuficiência êmbolo seja considerado a causa do infarto tecidual, é
cardíaca direita, hemorragia e infarto pulmonar e morte necessário avaliar o local da embolização e a presença
súbita. ou não de circulação colateral.
MURAIS
Principalmente no endocárdio da aurícula direita e no
ventrículo esquerdo.
VALVARES
Principalmente na aorta e na mitral.
ISQUEMIA
A deficiência no aporte sanguíneo a determinado órgão
ou tecido, geralmente devido a uma obstrução
mecânica arterial ou pela redução da drenagem venosa,
é denominada de isquemia. Diferentemente
da hipóxia isolada, na qual a produção de energia por Perna
meio da glicólise anaeróbica continua, na isquemia, direita isquêmica apresentando sinais de gangrena
além do oxigênio, o fornecimento de substratos para a iminente (manchas arroxeadas).
glicólise também fica comprometido. Ou seja, nos
tecidos isquêmicos, não só o metabolismo aeróbico é HIPOTROFIA OU ATROFIA
afetado por conta da hipóxia subsequente, mas também
É a redução quantitativa dos componentes estruturais
toda a produção de energia anaeróbica. Desse modo, a
celulares, com diminuição do volume das células e dos
isquemia tende a causar lesões celulares e teciduais
órgãos (dependendo do número de células envolvidas).
mais rápidas e intensas que a hipóxia isoladamente.
Muitas vezes é também acompanhada de redução no
HIPÓXIA número de células (hipoplasia).
Condição de baixa concentração de oxigênio nos A possível restauração do fluxo sanguíneo para os
tecidos e órgãos. tecidos isquêmicos pode promover a recuperação
celular, se a lesão for reversível, mas também pode,
O processo isquêmico pode ter como causas contraditoriamente, exacerbar a lesão e levar à morte
funcionais a hipotensão acentuada, a alteração de celular. Essa importante e possível consequência da
hemoglobina e a redistribuição sanguínea, como em isquemia é o que chamamos de lesão de isquemia-
atividades físicas intensas. Já entre as causas reperfusão.
mecânicas da isquemia encontram-se a compressão
vascular (pela presença de tumores, calos ósseos, Durante a reperfusão, ocorre estresse oxidativo,
abscessos e cicatrizes), a obstrução vascular ativação do sistema complemento, sobrecarga de
(decorrente de uma trombose ou embolia) e o cálcio intracelular e infiltração neutrofílica, eventos
espessamento da parede vascular com consequente que causam mais perdas celulares além das já
diminuição da sua luz, como nas arterites e na ocorridas durante o processo isquêmico. A lesão de
arteriosclerose. isquemia-reperfusão mostra-se clinicamente
importante, pois contribui para o dano tecidual nos
infartos do miocárdio e cerebral seguido de terapias
para restaurar o fluxo sanguíneo.
SISTEMA COMPLEMENTO
É composto por uma série de proteínas solúveis e de
seus receptores de membrana, que atuam nas
imunidades inata e adaptativa contra os
microrganismos patogênicos e nas reações
inflamatórias.
A MÓDULO 2
obstrução vascular pela presença de trombos ou
êmbolos está entre as causas do processo isquêmico.
As consequências de um processo isquêmico Descrever os princípios fundamentais de infarto,
dependem da velocidade com a qual a isquemia se aterosclerose, edema e choque
instala, do grau de redução do calibre do vaso afetado, INFARTO
da vulnerabilidade do tecido à falta de suprimentos
sanguíneos e da existência e eficiência da circulação Chamamos de infarto uma área de necrose tecidual
colateral. Dessa forma, as lesões podem ser de causada por isquemia prolongada. Essa isquemia, por
reversíveis e leves até a uma necrose tecidual, sua vez, é causada pela obstrução do suprimento
gangrena e a um infarto isquêmico. A hipotrofia (ou arterial ou da drenagem venosa. Apesar de o infarto
atrofia) e fibrose podem ocorrer como adaptações a agudo do miocárdio ser o mais conhecido, o infarto
uma isquemia gradual e incompleta. pode acometer outros órgãos além do coração: o
infarto cerebral e pulmonar, por exemplo, são
complicações comuns de várias condições clínicas; o
infarto intestinal leva frequentemente ao óbito; e a
necrose isquêmica das extremidades, conhecida
como gangrena, é um grave problema entre indivíduos
diabéticos. Veja o exemplo a seguir.
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
No Brasil, as doenças cardiovasculares, com destaque
para o infarto agudo do miocárdio, representam a
principal causa de óbitos.
Trombose.
A classificação dos infartos se faz pela cor e pela
presença ou não de infecção. Dessa forma, podem ser:
INFARTOS VERMELHOS (HEMORRÁGICOS)
No pulmão, os infartos hemorrágicos são a regra, mas
eles ocorrem nas seguintes circunstâncias:
Com obstruções venosas (torção testicular).
Dedos do pé gangrenados em razão de isquemia aguda Em tecidos em que o sangue pode se acumular
de membros. na zona de infarto (pulmão).
A causa da maioria dos infartos é a trombose arterial Em tecidos com circulação dupla (fígado e
ou embolia arterial. Porém, outras causas menos pulmão, por exemplo), em que o fluxo
comuns de obstrução arterial resultando em infarto sanguíneo de um vaso paralelo, desobstruído,
incluem a compressão extrínseca do vaso (causada pode preencher a área necrótica.
pela presença de um tumor, por exemplo), a
compressão vascular por edema e a torção dos vasos. Em tecidos previamente congestos, por conta
do fluxo venoso mais lento.
SAIBA MAIS
Quando há o reestabelecimento do fluxo
A trombose venosa também pode causar infartos, mas sanguíneo para um local de obstrução arterial e
o desfecho mais comum é a congestão. Nesses casos, necrose prévia.
ocorre a abertura de vasos paralelos que permitem
o efluxo vascular e, consequentemente, a melhora
do afluxo arterial. Por isso que infartos causados por
trombose venosa são mais propensos de ocorrer em
órgãos que possuem uma única veia eferente, como os
testículos e o ovário.
EFLUXO
É a saída de um líquido do organismo para fora de uma
região.
AFLUXO
I
É a convergência de um líquido do organismo, em nfarto vermelho pulmonar.
abundância, para uma região ou órgão.
INFARTOS BRANCOS (ANÊMICOS)
Ocorrem com obstruções arteriais em órgãos sólidos de
circulação arterial terminal, como coração, rins e baço,
e onde a densidade do tecido é fator limitante para a
penetração do fluxo sanguíneo na área necrótica.
ocorre no cérebro, pois o infarto nessa região resulta
em necrose liquefativa.
Esque
ma do infarto do miocárdio.
INFARTOS SÉPTICOS
Em relação à presença de infecção, os chamados
infartos sépticos ocorrem quando algum vaso Área de necrose e destruição celular no parênquima
sanguíneo infectado sofre embolia ou quando algum cerebral infartado.
microrganismo se instala no tecido necrosado. Nesses
Os efeitos de uma obstrução vascular podem variar
casos, o infarto converte-se em abscesso e apresenta
desde praticamente nulos até suficientes para levar ao
resposta inflamatória maior.
óbito. Os resultados da oclusão podem ser
influenciados por alguns fatores:
ANATOMIA DO SUPRIMENTO VASCULAR
Órgãos de circulação dupla (pulmões e fígado, por
exemplo) são relativamente mais resistentes ao infarto
que órgãos de circulação arterial terminal (rins e baço,
por exemplo).
VELOCIDADE DA OBSTRUÇÃO
Oclusões de desenvolvimento lento proporcionam
tempo para o desenvolvimento de vias paralelas de
perfusão.
Macroscopia do infarto pulmonar revelando a forma de
cunha (em destaque). VULNERABILIDADE DO TECIDO À HIPÓXIA
Os infartos também podem ser chamados de assépticos Neurônios são mais sensíveis à hipóxia que
quando não têm uma infecção associada. fibroblastos cardíacos.
Lesão e
disfunção endotelial.
ACÚMULO DE LIPOPROTEÍNAS
A hipercolesterolemia pode comprometer diretamente
a função das células endoteliais pelo aumento da
Esquema
produção de espécies reativas de oxigênio local, que
ilustrando um linfócito (esquerda) e um monócito
acabam por reduzir a atividade vasodilatadora e causar
(direita).
lesões de membrana e mitocondriais. Além disso,
na hiperlipidemia (níveis de lipídeos anormalmente INFLAMAÇÃO
elevados no sangue) crônica, as moléculas de LDL se
acumulam no interior da camada íntima, onde se O acúmulo de cristais de colesterol e ácidos graxos em
agregam ou são oxidadas pelos radicais livres macrófagos e outras células desencadeia um processo
produzidos pelas células inflamatórias. A LDL oxidada inflamatório. Há então o recrutamento de monócitos,
é acumulada em células musculares lisas e em que se diferenciam em macrófagos e ativação de
macrófagos, que não conseguem realizar a degradação linfócitos T, com produção de mais citocinas e
completa e acabam se transformando no que quimiocinas que recrutam e ativam mais células
chamamos de células espumosas. inflamatórias, como em um ciclo vicioso. A ativação
dos leucócitos, como os macrófagos, e das células
endoteliais também leva à proliferação de células
musculares lisas e à síntese de proteínas da matriz
extracelular.
Fagócito
ativado, englobando bactérias presentes no tecido.
Após a ligação da partícula aos receptores do fagócito,
há a emissão de pseudópodes ao redor dela e, em
seguida, a membrana plasmática do fagócito se fecha, Candida albicans cobertas pelas NETs (quadrado
formando uma vesícula (fagossomo) que engloba a branco).
partícula. O fagossomo, então, funde-se ao lisossomo A seta mostra a levedura C. albicans.
celular, formando o fagolisossomo. A destruição dos
microrganismos e de outros agentes agressores Como já aprendemos, os leucócitos podem causar
fagocitados é realizada tanto pelas enzimas lesão em células e tecidos normais, e isso ocorre pela
lisossômicas liberadas quanto pelas espécies reativas ação dos mediadores inflamatórios nesses tecidos. Em
de oxigênio e de nitrogênio. Essa é a etapa final da algumas infecções de difícil eliminação, como a
tuberculose, a resposta imune prolongada e contínua que restaram puderam se regenerar. Porém, muitas
contribui mais para a doença que o próprio agente variáveis, como a natureza, intensidade, o local e a
etiológico. Além disso, o dano pode ser causado resposta do hospedeiro, podem modificar o processo
quando a resposta inflamatória é inapropriadamente básico da inflamação; assim, podemos ter outros dois
direcionada contra tecidos saudáveis do hospedeiro, finais para a inflamação, além da resolução:
como no caso das doenças autoimunes, ou quando ela
é excessiva contra substâncias ambientais geralmente
inofensivas, como nas doenças alérgicas. Em todas
essas situações, os mecanismos envolvidos na ação
antimicrobiana são os mesmos que causam lesões em
tecidos normais. Isso porque, uma vez ativados, os
leucócitos e seus mecanismos não distinguem o
hospedeiro do agressor.
ATENÇÃO Possíveis resultados da inflamação aguda.
Os leucócitos ativados, especialmente macrófagos,
possuem várias outras funções na defesa do organismo,
pois produzem citocinas, que atuam tanto na
amplificação quanto na limitação da resposta
inflamatória; fatores de crescimento, que estimulam a
síntese de colágeno; proliferação de células endoteliais
e fibroblastos, além de produzirem enzimas, que vão
atuar na remodelação do tecido conjuntivo. Por isso, os
macrófagos são células muito importantes na
Tecido
inflamação crônica e no reparo tecidual.
cicatrizado após lesão.
REPARO POR MEIO DE CICATRIZAÇÃO OU
FIBROSE:
Ocorre após grande destruição tecidual, ou quando a
lesão envolve tecidos que apresentam baixa ou
nenhuma capacidade de regeneração ou quando existe
exsudato abundante de fibrina no tecido. Nesses casos,
o tecido conjuntivo prolifera para dentro das áreas de
dano ou exsudato, substituindo o tecido anterior por
massa de tecido fibroso.
Macr
ófago fagocitando bactérias. Fique tranquilo, pois, no próximo módulo, vamos
conhecer e entender como isso ocorre.
O processo inflamatório precisa ser rigorosamente
regulado para minimizar os danos aos tecidos. EVOLUÇÃO DA RESPOSTA AGUDA PARA A
Normalmente, a inflamação tende a diminuir com a INFLAMAÇÃO CRÔNICA:
remoção do agente agressor, porque os mediadores que A cronificação do processo inflamatório ocorre quando
a induzem são produzidos somente enquanto o há a persistência do agente agressor ou alguma
estímulo permanece, sendo degradados pouco tempo interferência no processo de reparo, impedindo a
depois. Além disso, como já comentamos, os resolução da resposta inflamatória aguda.
neutrófilos possuem curta duração nos tecidos. Por
fim, à medida que a resposta inflamatória vai SAIBA MAIS
cumprindo seu papel, há a produção de vários sinais de
Como vimos, as respostas inflamatórias agudas são
alerta para o fim da reação.
caracterizadas principalmente pela dilatação dos vasos
Esse fim, em um cenário ideal, significa que houve sanguíneos de menor calibre e pelo acúmulo de
sucesso na eliminação do estímulo agressor e a leucócitos e fluidos no tecido extravascular. Porém,
restauração do local da inflamação à sua normalidade. alguns outros padrões morfológicos dependem da
Esse processo é chamado de resolução, quando a lesão causa da inflamação, do tipo de tecido e do local
é eliminada, ou de curta duração, quando houve envolvido (para conhecer mais sobre esses padrões,
pouca destruição dos tecidos envolvidos e as células não deixe de visitar o Explore +).
INFLAMAÇÃO CRÔNICA Como já visto anteriormente, sob certas circunstâncias,
reações imunológicas são ativadas de maneira
Como aprendemos, a inflamação crônica pode
inapropriada ou excessiva contra tecidos do próprio
representar uma evolução da inflamação aguda, ou
indivíduo, levando às doenças autoimunes. O que
pode ter início como uma resposta de baixo grau e
ocorre é o estímulo de uma reação crônica por
contínua, sem qualquer manifestação aguda anterior. A
autoantígenos, que se retroalimenta e se perpetua,
inflamação crônica é uma inflamação onde a lesão do
causando danos teciduais crônicos e inflamação. A
tecido e as tentativas de reparo dessa lesão vão existir
artrite reumatoide é um bom exemplo dessas doenças.
conjuntamente, em várias formas, e por bastante
Há também as doenças alérgicas, que são respostas
tempo, podendo chegar a meses de ocorrência.
imunológicas que ocorrem de maneira inapropriada
O QUE PODE CAUSAR A INFLAMAÇÃO contra substâncias ambientais comuns. A asma
CRÔNICA? brônquica é um exemplo de doença alérgica crônica.
B
ases da inflamação crônica.
ANGIOGÊNESE
A angiogênese é o processo de desenvolvimento de
novos vasos sanguíneos a partir dos vasos sanguíneos
existentes.
O tipo celular predominante em grande parte das
P
inflamações crônicas são os macrófagos. Eles
ulmão de um trabalhador de minas acometido por
normalmente são encontrados espalhados pela maioria
tuberculose e silicose.
dos tecidos conjuntivos, além de locais específicos,
A aterosclerose, por exemplo, nada mais é do que um como fígado, baço, pulmões e linfonodos. Os
processo inflamatório crônico da parede arterial macrófagos contribuem para a resposta crônica ao
causado parcialmente pelo excesso de produção e secretarem citocinas e fatores de crescimento, que vão
deposição de colesterol e outros lipídeos endógenos. atuar em várias células, destruindo os agentes
agressores e tecidos, assim como na ativação de outras
DOENÇAS DE HIPERSENSIBILIDADE células, especialmente os linfócitos T. Os macrófagos
ativados participam ativamente da eliminação dos a sobrevivência do organismo. Ele ocorre a partir de
agentes lesivos e do início do reparo tecidual, porém dois tipos de reação, que resumiremos aqui e
também são responsáveis por grande parcela da discutiremos com detalhes mais adiante:
destruição tecidual que ocorre na inflamação crônica.
REGENERAÇÃO
Quando o agente agressor é eliminado, os macrófagos
podem deixar o local da lesão ou persistir Ocorre em tecidos que apresentam capacidade de
continuamente, através da circulação e proliferação no substituir os componentes lesados e retornar à
sítio da inflamação. normalidade. O processo de regeneração ocorre a partir
da proliferação de células que sobreviveram à
lesão e mantiveram sua capacidade multiplicativa,
como é o caso dos epitélios da pele e do intestino e
alguns órgãos parenquimatosos, em especial o fígado.
A proliferação celular é rigidamente controlada por
sinais promovidos pelos fatores de
crescimento (produzidos especialmente por
Macr macrófagos ativados pela lesão tecidual, células
ófago ativado emitindo pseudópodes. epiteliais e estromais) e pela matriz extracelular.
Outro tipo celular presente nas reações inflamatórias PROCESSO DE REGENERAÇÃO
crônicas são os linfócitos T e B. Os macrófagos, entre
outras funções, produzem citocinas que estimulam as
respostas de células T. Uma vez ativadas, as células T
também produzem citocinas, que recrutam e ativam
macrófagos. Essas interações resultam, então, em um
ciclo de respostas celulares que estimulam e sustentam
a inflamação crônica.
Os fibroblastos são células importantes na formação da Agora vamos estudar o processo de regeneração e
cicatriz. cicatrização de forma mais detalhada.
Falamos que o fígado é a exceção à regra da A cicatrização é um processo que ocorre após lesões
regeneração limitada dos tecidos estáveis. Você sabe causadas por traumatismos ou pela morte celular.
o porquê?
O fígado humano apresenta uma capacidade
regenerativa extraordinária, conforme demonstrada por
seu crescimento após hepatectomia parcial. A
regeneração desse órgão acontece por meio de dois
mecanismos muito importantes e que já foram
comentados, que são a proliferação das células
remanescentes, os hepatócitos, e o repovoamento
Ela é didaticamente dividida em três
celular a partir de células progenitoras.
fases: inflamatória, proliferativa e de maturação.
Fase inflamatória: tem início imediatamente após a
lesão e envolve alterações vasculares e eventos
celulares. Inicialmente, para reduzir a perda sanguínea,
há a liberação de moléculas vasoconstritoras. A
constrição vascular é transitória e imediatamente
Mecanismos de regeneração hepática seguida pelo desencadeamento do processo de
hemostasia, que culmina na formação de um coágulo
É importante comentarmos que a arquitetura normal formado por fibrina, colágeno e plaquetas ativadas.
dos tecidos só pode ser regenerada se o tecido residual Uma vez que o coágulo (tampão fibrino-plaquetário)
estiver estruturalmente ileso. Caso ocorra uma lesão
auxilia na prevenção de hemorragias, a resposta que estimulam a proliferação dos fibroblastos,
inflamatória se inicia. Ocorre um aumento da produção de colágeno e a transformação em
permeabilidade vascular, que favorece a migração de miofibroblastos, promovendo a contração da ferida.
leucócitos, principalmente neutrófilos, para o local da
lesão. De fato, os neutrófilos são as primeiras células a
chegar no local de dano, iniciando a eliminação do
agente agressor e de células mortas. Gradativamente
são substituídos por macrófagos. Os macrófagos, além
de ajudarem na remoção do tecido morto e combate a
possíveis microrganismos, secretam citocinas e fatores
de crescimento que atuam na angiogênese, na
produção de colágeno por fibroblastos e na síntese de
matriz extracelular, fatores fundamentais para a
transição para a fase proliferativa.
TGF-Β
Fator de crescimento transformante beta é uma
proteína que controla a proliferação, diferenciação
celular e outras funções na maioria das células.
Fase de maturação: a característica mais importante
dessa fase é a deposição de colágeno de maneira
organizada. O colágeno produzido inicialmente é
mais fino que o colágeno da pele normal. Com o
tempo, esse colágeno inicial é reabsorvido e é
produzido um colágeno mais espesso. Essas mudanças
resultam no aumento da força tensora da ferida. A
reorganização da nova matriz extracelular é uma etapa
crucial do processo de cicatrização, na qual
ANGIOGÊNESE fibroblastos e leucócitos secretam colagenases que
atuarão na degradação da matriz antiga. Portanto, em
Processo de formação e proliferação de novos uma balança que equilibra a síntese da nova matriz e a
capilares sanguíneos. degradação da matriz antiga, só veremos sucesso na
cicatrização quando houver maior taxa de deposição de
Fase proliferativa: também chamada de fase de
colágeno e síntese da nova matriz extracelular.
granulação, a fase proliferativa é constituída das etapas
de epitelização, angiogênese e formação de tecido de
granulação. A epitelização é um processo que ocorre
de maneira precoce. Caso a membrana basal esteja
intacta, as células epiteliais migram em direção
superior e as camadas superficiais são restauradas
rapidamente, em aproximadamente 3 dias. Porém, caso
a membrana basal tenha sofrido danos, as células
epiteliais das bordas da lesão começam a se proliferar
para tentar reestabelecer a barreira protetora. Já a
angiogênese é caracterizada pela migração de células
endoteliais e formação de capilares, essenciais para a
adequada cicatrização. A etapa final é a formação do
tecido de granulação, na qual os fibroblastos vizinhos
migram para o local da lesão e são ativados, saindo do
VOCÊ SABIA
seu estado de quiescência. Há a liberação de fatores de
crescimento, como o PDGF (fator de crescimento Usamos o termo tecido de granulação por causa da
derivado de plaquetas) e de citocinas, como o TGF-β, aparência rósea, macia e granular vista sob a crosta de
uma ferida cutânea. Na histologia, observamos a
proliferação de fibroblastos e capilares novos e
delicados, em uma matriz extracelular frouxa,
geralmente com a mistura de células inflamatórias,
principalmente macrófagos.
Até aqui, nós aprendemos os princípios gerais e
mecanismos de reparo por meio da regeneração e
formação de cicatriz. Agora, comentaremos o processo
de cicatrização de feridas cutâneas, que dependendo
da natureza e do tamanho da lesão, pode ser
classificado de duas formas:
Cicatrização por primeira intenção: ocorre quando a
lesão acomete apenas a camada epitelial. O reparo
consiste basicamente no processo de cicatrização que
comentamos anteriormente: fase inflamatória,
proliferativa e de maturação.
2
Há a proliferação de células epiteliais e de fibroblastos,
além da fagocitose do coágulo pelos leucócitos
oriundos do processo inflamatório.
1
O coágulo é formado e ocupa o espaço do sangue
extravasado pelo corte. A reação inflamatória é
induzida pela liberação de mediadores liberados pelos
componentes do tampão hemostático e das células
remanescentes das bordas.
3
Por fim, inicia-se a produção de tecido conjuntivo
cicatricial e a regeneração do epitélio.
EXEMPLO
Um exemplo clássico é quando temos um corte limpo
e sem infecção (normalmente cirúrgico) e suas bordas
são aproximadas por suturas. Esse tipo de reparo é
mais rápido e forma uma cicatriz menor, uma vez que
a fenda da ferida causa apenas a interrupção focal da
continuidade epitelial e a destruição tecidual nas
bordas é menor.
Formaçã
o da cicatriz por primeira intenção.
2
Cicatrização por segunda intenção: ocorre em
grandes feridas, abcessos, ulcerações e no infarto de Em seguida, ocorre o desenvolvimento abundante do
órgãos parenquimatosos, onde há extensa perda celular tecido de granulação, acúmulo de matriz extracelular e
e tecidual. Nesses casos, o reparo envolve uma formação de uma grande cicatriz.
combinação entre os processos de regeneração e
cicatrização.
3
1 Além disso, a contração da ferida, pela ação dos
miofibroblastos, geralmente ocorre nas lesões de
Os mecanismos da cicatrização por segunda intenção
grande superfície. O processo de contração ajuda a
assemelham-se aos de primeira intenção, porém na
fechar a ferida, uma vez que diminui o espaço entre as
cura por segunda intenção há a intensificação do
bordas, e é uma característica importante desse tipo de
processo inflamatório (especialmente se houver
cicatrização.
infecção).
O QUE VOCÊ ENTENDE POR FIBROSE?
RESPOSTA
Esse termo é empregado para indicar a ocorrência da
deposição excessiva de colágeno e outros componentes
de matriz extracelular nos tecidos, normalmente em
um processo patológico induzido por estímulos lesivos
persistentes, como as infecções crônicas. Tipicamente
associada à perda tecidual, a fibrose possui REPARO TECIDUAL:
mecanismos idênticos aos da cicatrização da pele. DIFERENÇAS ENTRE O SISTEMA NERVOSO
Além disso, pode ser responsável pela disfunção e até CENTRAL E PERIFÉRICO
insuficiência dos órgãos.
Neste vídeo, vamos discutir as características e as
A formação da cicatriz e do tecido de granulação diferenças entre o reparo no sistema nervoso central e
podem apresentar dois tipos de complicação: a ruptura periférico.
da ferida, que chamamos de deiscência, e a ulceração.
FATORES QUE INFLUENCIAM O REPARO
A deiscência não é muito comum, acometendo com
TECIDUAL
maior frequência pacientes que passaram por uma
cirurgia de abdômen. Vômitos e tosse podem produzir Uma variedade de fatores pode alterar o processo de
estresse mecânico sobre a ferida. A ulceração de reparo tecidual, reduzindo sua qualidade e a adequação
feridas ocorre devido à vascularização inadequada do processo de reparo ativo.
durante o reparo, como é o caso das feridas de
membros inferiores de indivíduos com aterosclerose. FATORES LOCAIS
Você verá mais adiante que muitos agentes estão BASES MOLECULARES DO CÂNCER
associados ao processo de desenvolvimento do câncer
Ao longo das décadas, a ciência aprofundou
(carcinogênese), inclusive os agentes infecciosos,
consideravelmente o conhecimento dos mecanismos
como vírus e bactérias. Países do continente africano
envolvidos nos processos celulares e moleculares da
têm as maiores taxas globais de casos de câncer
carcinogênese. As próprias tentativas de combate à
atribuídos a agentes infecciosos. A alta prevalência de
doença resultaram em descobertas fantásticas, que,
HPV, vírus das hepatites B e C, herpes vírus humano
inclusive, foram reconhecidas com prêmios Nobel.
tipo 8 e vírus Epstein-Barr associada à infecção pelo
Para entendermos a biologia do câncer, é necessário
vírus HIV aumentam bastante o risco para
conhecer as características fenotípicas comuns dos
aparecimento de diferentes cânceres. Os principais
tumores, que são passadas para as outras células
tipos relacionados a essa associação são o sarcoma de
cancerígenas por meio de alterações genéticas
Kaposi, linfoma não Hodgkin e o câncer cervical
e epigenéticas.
invasivo. Fica evidente, então, que, embora fatores
genéticos e ambientais contribuam conjuntamente para EPIGENÉTICAS
o desenvolvimento do câncer, as influências
ambientais (agentes infecciosos, consumo de álcool, Epigenética refere-se a outros fatores além da
tabaco, dieta, história reprodutiva e carcinógenos sequência de DNA, os quais regulam a expressão
ambientais) parecem ser os fatores de risco dominante gênica (e, portanto, o fenótipo celular).
para a maioria dos tipos de câncer. Estima-se que todos os cânceres apresentam oito
MAS QUAL O PRINCIPAL FATOR DE RISCO alterações fundamentais em sua fisiologia celular. São
PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER? elas:
Três fatores, conjuntamente relacionados, parecem ser Apesar disso, a vasculatura tumoral não é totalmente
fundamentais para a imortalidade das células normal, apresentando um padrão aleatório de conexão,
cancerígenas. São eles: com vasos permeáveis e dilatados. O acesso dos
tumores a esses vasos anormais é um dos fatores que
EVASÃO DA SENESCÊNCIA contribui para a metástase. Dessa forma, a angiogênese
A grande maioria das células normais podem se dividir é considerada um fator fundamental para a
de 60 a 70 vezes. Após esse limite, essas células malignidade.
entram em senescência, deixando o ciclo celular e
nunca mais se dividindo.
O estado de senescência está associado à regulação
positiva de supressores de tumor, como a p53, que
mantém a RB em um estado hipofosforilado, que
favorece a interrupção do ciclo celular. Como já
Ilustraçã
comentamos, o ponto de checagem do ciclo celular
o da vasculatura tumoral.
G1/S, que é dependente de RB, é interrompido em
quase todos os cânceres, por meio de várias aberrações INVASÃO E METÁSTASE
genéticas e epigenéticas.
EVASÃO DA CRISE MITÓTICA
A invasão local de um tumor, assim como a metástase, da resposta imune, como o crescimento seletivo de
é um marco da malignidade, resultado de interações variantes antígeno-negativas, redução ou perda da
entre as células tumorais e o estroma tecidual normal. expressão de antígenos de histocompatibilidade e
Alterações nas moléculas de adesão intercelular imunossupressão, mediada pela expressão de certos
resultam na dissociação entre as células, sendo o fatores pelas células tumorais, como o TGF- β.
primeiro passo do processo de invasão. O segundo
passo é a degradação da membrana basal, assim como As células tumorais também podem adquirir diversos
do tecido conjuntivo intersticial, seguido das alterações tipos de mutações oncogênicas, caracterizadas por
na ligação das células tumorais e as proteínas da matriz mutações cromossômicas pontuais e outras anomalias
extracelular. A última etapa da invasão é a locomoção, cromossômicas não aleatórias, como translocações,
que impulsiona as células neoplásicas através das deleções e amplificações de genes. Além das alterações
membranas basais e da matriz degradada. Em relação à cromossômicas, as alterações epigenéticas possuem
migração, alguns tumores apresentam tropismo por um papel importante na malignidade das células
algum órgão, por conta da expressão de receptores de cancerígenas. Essas alterações incluem o silenciamento
adesão ou quimiocinas, que possuem seus ligantes dos genes supressores de tumor pela hipermetilação do
expressos nas células endoteliais do local metastático. DNA e as alterações globais na metilação e em
histonas. A aquisição dessas alterações, tanto genéticas
quanto epigenéticas, pode ser acelerada
pela instabilidade genômica tumoral e
pela inflamação promotora do câncer.
R
esumo das principais características fenotípicas e
genotípicas do câncer.
INSTABILIDADE GENÔMICA TUMORAL
Anomalias genéticas que aumentam as taxas de
mutação são muito comuns em cânceres, acelerando a
aquisição de mutações necessárias para a
transformação e posterior progressão do tumor.
INFLAMAÇÃO PROMOTORA DO CÂNCER
A infiltração de um câncer provoca uma reação
inflamatória crônica, comparada a uma ferida que não
cicatriza. Em pacientes com estágios avançados de
câncer, a reação inflamatória é tão intensa que pode
causar sinais e sintomas sistêmicos, como veremos a
seguir.
AGENTES CARCINOGÊNICOS
CARCINOGÊNESE QUÍMICA
A
caquexia é um aspecto clínico que pode ser observado
em pacientes com câncer.
Embora os mecanismos responsáveis pelo
A desenvolvimento da caquexia no câncer não sejam
presença e o crescimento da massa neoplásica podem ainda bem compreendidos, estudos indicam que a
prejudicar os tecidos adjacentes. associação da doença com o sistema imune, a partir da
liberação de mediadores, pode ter papel importante na
Tumores pancreáticos e alguns tipos de tumores perda de massa corporal.
neurológicos são de difícil intervenção cirúrgica e
medicamentosa, além de alto grau de agressividade e Em alguns pacientes oncológicos, há o
invasividade. Outro exemplo são os tumores em desenvolvimento de sinais e sintomas que não são
glândulas endócrinas, como a hipófise, que podem prontamente explicados pela localização anatômica do
levar a disfunções hormonais de graves consequências. tumor, ou pelos aspectos hormonais provenientes do
A secreção crônica excessiva de insulina em adultos tecido no qual o tumor surgiu. Essas manifestações são
pode ser indicativa de tumor nas células beta conhecidas como síndromes paraneoplásicas e
pancreáticas, chamado de insulinoma. Apesar de raro, antecedem e acompanham o progresso do câncer,
a grande maioria dos insulinomas é benigno, sendo os desaparecendo com a cura e reaparecendo se houver
malignos geralmente deficientes na excreção da recidiva. No caso das dermatoses paraneoplásicas,
insulina, tamanha a diferenciação fenotípica das existem as dermatoses reveladoras de câncer interno,
células tumorais. como acantose nigricante
maligna, pênfigos, eritema gyratum
No caso dos tumores hipofisários, principalmente os repens, tromboflebite migratória, entre outras.
adenomas, as manifestações clínicas estão relacionadas
ao tipo celular secretor específico que está Embora existam diversos tipos de câncer de pulmão, o
transformado. Por exemplo, existem adenomas carcinoma broncogênico é o mais comum, tendo a sua
hipofisários lactotróficos (secretor de prolactina), origem quase sempre relacionada ao fumo crônico. O
gonadotróficos (secretor de hormônio luteinizante e sintoma mais recorrente e precoce é a tosse, sendo
hormônio folículo estimulante), somatotrófico observada em até 70% dos pacientes. Outras
(secretor de hormônio do crescimento), entre outros. manifestações, como obstrução dos brônquios,
Os adenomas podem ter como consequência a diminuição da capacidade respiratória, sibilos e
manifestação de alterações visuais, pela compressão do expectoração hemóptica (expectoração de sangue),
nervo óptico, ou alterações endócrinas, como a podem aparecer, dependendo do estágio e da
interrupção do ciclo menstrual, produção de leite fora localização pulmonar do tumor. Em situações mais
do período de lactação (podendo acometer também graves de invasão do tumor para outras áreas
homens), impotência e perda da libido. intratorácicas, isso pode resultar no acometimento da
pleura e de estruturas do sistema nervoso central, como
o plexo braquial.
ACANTOSE NIGRICANTE MALIGNA
Refere-se a um padrão de reação inespecífica
caracterizada por hiperqueratose e hiperpigmentação
da pele relacionadas a alguma neoplasia maligna
interna.
PÊNFIGOS
Doença autoimune caracterizada pelo aparecimento de
bolhas dérmicas.
ERITEMA GYRATUM REPENS O apoio
Múltiplas placas eritematosas descamativas, podendo psicológico é fundamental no acompanhamento
vir acompanhadas de intenso prurido. do paciente com câncer.
✔ M, METÁSTASE