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Tema 1 jornada acadêmica e profissional.

Está pronto para


começar?
Processo de lesão degeneração e morte celular
MÓDULO 1

DESCRIÇÃO
Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e
Conceito de saúde, doença, patologia e aspectos gerais
as características dos processos de agressão, defesa,
da agressão, defesa, adaptação e lesão celular. Tipos e
adaptação e lesão celular
características da degeneração celular. Princípios
fundamentais do processo de necrose e apoptose. CONCEITO DE SAÚDE, DOENÇA E
PATOLOGIA
PROPÓSITO
Ao lado do desemprego e da violência, questões
Conhecer os conceitos de saúde, doença, patologia e
relacionadas à saúde sempre se apresentaram como
compreender os processos de agressão, defesa,
destaque entre as preocupações ditas como prioritárias
adaptação, os tipos de degeneração celular e os
em debates político-sociais. Apesar de muito
princípios fundamentais dos processos de necrose e
importante, o processo saúde-doença é complexo e
apoptose é importante para entender as bases
muitas vezes mal compreendido.
patológicas das doenças.
Para você, o que é ter saúde? O que é doença?
OBJETIVOS
Durante séculos, o aparecimento de doenças foi
MÓDULO 1
atribuído a forças sobrenaturais e castigo de
Descrever os conceitos de saúde, doença, patologia e divindades, sendo instituições religiosas e seus
as características dos processos de agressão, defesa, sacerdotes os promotores da cura. O Renascimento
adaptação e lesão celular cultural e científico possibilitou uma maior
compreensão sobre a constituição do corpo humano e
MÓDULO 2 sobre o processo de adoecimento. O corpo humano,
Identificar os principais tipos de degeneração celular, então, passou a ser enxergado como uma máquina
seus mecanismos e aspectos morfológicos passível de falhas, que quando compreendidas,
poderiam ser corrigidas. Saúde era ausência de doença
MÓDULO 3 e doença era ausência de saúde.
Descrever as etapas de progressão da lesão celular e os
princípios da morte celular por apoptose e necrose
INTRODUÇÃO
Entender a complexidade do processo saúde-doença
tem que ser um dos objetivos iniciais básicos de todo
profissional da área da Saúde, de modo que o
organismo humano não seja visto como uma máquina,
na qual apenas os eventos de natureza biológica
tenham relevância. Imagem: Matrioshka/Shutterstock.com.Representação
Dessa forma, nós iniciaremos nossa jornada pelos das doenças e saúde na Idade Média.
conceitos fundamentais em Patologia Básica: Em 1947 esse conceito mudou e, segundo a
entenderemos os processos de agressão e mecanismos Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde passou
de defesa do organismo, tipos de adaptação e de lesão a ser definida como um estado de completo bem-estar
celular. Vamos nos aprofundar nas degenerações, físico, mental e social, não apenas a ausência de
lesões celulares reversíveis nas quais as células doença ou enfermidade.
conseguem retornar ao seu estado inicial, uma vez
cessada a agressão. Essa definição é motivo de críticas e reflexões de
muitos pesquisadores e profissionais, que dizem que
Discutiremos também a evolução para a lesão essa é mais uma declaração que propriamente uma
irreversível, conhecendo as principais características e definição, mas apesar disso, é utilizada até os dias
diferenças entre a necrose e apoptose. São muitos atuais. KUMAR et al. (2016), define a saúde como:
conceitos interessantes que você aplicará em toda a sua
UM ESTADO DE ADAPTAÇÃO DO como uma ciência que estuda as causas (etiologia) e
ORGANISMO AO AMBIENTE FÍSICO, mecanismos (patogênese) das doenças, bem como os
PSÍQUICO OU SOCIAL EM QUE VIVE, DE órgãos e sistemas afetados e as alterações moleculares,
MODO QUE O INDIVÍDUO SE SENTE BEM morfológicas (anatomia patológica) e funcionais
(SAÚDE SUBJETIVA) E NÃO APRESENTA (fisiopatologia) que apresentam.
SINAIS OU ALTERAÇÕES ORGÂNICAS
Abrangendo todos esses aspectos, a Patologia
(SAÚDE OBJETIVA).
apresenta grande importância na compreensão global
(KUMAR, 2016) das doenças, fornecendo bases para entendermos a
prevenção, manifestações clínicas, diagnóstico,
tratamento, prognóstico e evolução.

Imagem: Gabriela Cardoso Caldas.O processo saúde-


doença é multifatorial.
ATENÇÃO
Imagem: Gabriela Cardoso Caldas.As vertentes de
Saúde e normalidade não são sinônimas. Enquanto o estudo da Patologia.
conceito da saúde refere-se ao indivíduo, o termo
normal é utilizado em relação a parâmetros CONCEITO DE AGRESSÃO, DEFESA,
preestabelecidos (número de batimentos cardíacos, ADAPTAÇÃO E LESÃO
peso dos órgãos e nível de transaminases no sangue) a
Dependendo da intensidade, tempo de atuação e da
partir da média de várias observações de um
capacidade de reação do organismo, qualquer estímulo
determinado aspecto dentro de populações
da natureza pode representar uma agressão. De fato, as
homogêneas.
agressões podem ser provocadas por agentes externos
A ideia de doença é historicamente anterior à (químicos, físicos ou biológicos) ou a partir do próprio
concepção de saúde, estando presente de diversas organismo, como alterações na expressão gênica ou
formas em todas as organizações sociais conhecidas. mecanismos de defesa.
Sua definição pode ser entendida a partir do conceito
Porém, qualquer que seja sua natureza, os agentes
biológico de adaptação, que é uma propriedade geral
agressores agem diretamente, por meio de alterações
dos seres vivos de serem sensíveis às variações do
moleculares que resultam em modificações
meio ambiente e de produzir respostas adaptativas.
morfológicas ou indiretamente, por meio dos
Essa capacidade varia em diferentes indivíduos de uma
mecanismos de adaptação do próprio organismo.
mesma espécie, dependendo de inúmeros fatores
Nesses casos, ao serem ativados para eliminar ou
biológicos, ambientais e sociais.
neutralizar a agressão, os mecanismos de defesa
A doença é um estado de falta de adaptação ao induzem alterações moleculares que resultam em
ambiente físico, psíquico ou social, no qual o indivíduo modificações morfológicas.
se sente mal (tem sintomas) e/ou apresenta alterações
orgânicas evidenciáveis objetivamente (sinais
clínicos).
Assim, entendemos o processo saúde-doença sendo
dinâmico, complexo e multidimensional, abrangendo
aspectos biológicos, psicológicos, socioculturais,
ambientais, econômicos e políticos.
E o que é a Patologia?
A partir de uma perspectiva biológica, a Patologia Imagem: Shutterstock.com.Mecanismo de defesa do
(pathos = doença + logos = estudo) pode ser entendida organismo.
Os mecanismos de defesa do organismo são muito
variados. Contra os agentes externos, contamos com a
existência de barreiras mecânicas e químicas nos
revestimentos interno e externo (pele e mucosas).
Contra os agentes infecciosos, temos a fagocitose,
a resposta imune inata e a resposta imune
adaptativa, cujo importante representante é a resposta
inflamatória.
FAGOCITOSE
Foto: Shutterstock.com.O lúpus eritematoso sistêmico,
Processo de ingestão e destruição de partículas, como uma doença crônica autoimune.
bactérias ou restos de células necróticas. É realizada
Se a agressão não for fatal, ela gera estímulos que
por células chamadas de fagócitos (monócitos,
induzem respostas adaptativas nos tecidos, de modo
macrófagos, neutrófilos e células dendríticas), que
que eles se tornem mais resistentes às próximas
usam sua membrana plasmática para englobar essas
agressões. Logo, o conceito de adaptação diz respeito
partículas, dando origem a um compartimento interno
à capacidade que as células, tecidos ou o próprio
chamado fagossoma.
organismo possuem de modificar suas funções (dentro
RESPOSTA IMUNE INATA de certos limites) para ajustar-se às modificações
induzidas pelo estímulo. As respostas adaptativas
Primeira barreira contra infecções. Seus componentes podem ocorrer apenas em células e suas organelas, ou
incluem, além dos leucócitos de forma geral e das no organismo como um todo.
proteínas do sistema complemento, células dendríticas
e epiteliais. Juntos, eles também atuam na eliminação Dentre as respostas adaptativas que ocorrem nas
de células danificadas do próprio organismo e de células, temos o precondicionamento à hipóxia,
corpos estranhos. hipertrofia do retículo endoplasmático liso e hipertrofia
muscular, por exemplo. Já a resposta adaptativa
RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA sistêmica do organismo, frente a diferentes agressões,
As respostas imunes adaptativas são aquelas geradas sejam elas de natureza física, química, biológica ou até
ao longo da vida e ativadas após um contato inicial dos emocional, é conhecida como estresse.
componentes da reposta imune inata com diferentes
agentes invasores. Elas têm a propriedade de
reconhecer especificamente um determinado
microrganismo, gerando uma memória imunológica,
que confere proteção contra reinfecções pelo mesmo
antígeno. As células da imunidade adaptativa são os
linfócitos B e linfócitos T.
Contra as agressões ao genoma, existe o sistema de
reparo de DNA. Contra compostos químicos, como os
radicais livres, contamos com sistemas enzimáticos Foto: Shutterstock.com.O estresse é uma resposta
eficazes de detoxificação e antioxidantes. adaptativa, que pode ser causada por agressões de
natureza emocional.
São muitos os mecanismos de defesa, voltados a vários
tipos de agressão. Porém, a desregulação da resposta HIPÓXIA
imune, assim como de outros mecanismos de defesa, É uma condição de baixa concentração de oxigênio nos
pode se tornar a origem da agressão, como ocorre nas tecidos e órgãos.
doenças autoimunes.
O conjunto de alterações morfológicas, moleculares
e/ou funcionais que surgem nas células e tecidos após
as agressões é denominado de lesão:
As alterações morfológicas podem ser vistas a olho
nu (macroscópicas) ou somente por meio de
microscópios (microscópicas e ultra estruturais).
As alterações moleculares, que são refletidas nas defesa. Como já mencionamos, em muitas situações as
alterações morfológicas, podem ser detectadas por respostas de defesa são os causadores das lesões, como
métodos bioquímicos ou moleculares. ocorre nas doenças autoimunes.

As alterações funcionais caracterizam-se por CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DAS


alterações na função de células até sistemas completos, LESÕES
representando os fenômenos fisiopatológicos.
As agressões comprometem um tecido ou órgão que é
As lesões são dinâmicas: têm início, evoluem, e formado por diversos componentes, como as células do
tendem para a cura, cronicidade ou para o óbito. Desse estroma e do parênquima; componentes intercelulares,
modo, são conhecidas também como processos como o interstício ou matriz extracelular; a circulação
patológicos, indicando uma sucessão de eventos. O sanguínea e linfática e uma rede de nervos. Desse
aspecto morfológico de uma determinada lesão, por modo, um ou mais componentes podem ser afetados
exemplo, pode variar de acordo com o momento no simultaneamente e, por isso, as lesões podem ser
qual é avaliado. classificadas de acordo com o alvo atingido. Porém,
antes de comentarmos essa classificação, é importante
lembrar que dada a interdependência entre os
componentes teciduais, nas doenças as lesões não
surgem isoladamente.
LESÕES CELULARES
Podem ser letais ou não letais, onde a letalidade está
relacionada à qualidade, intensidade e duração da
lesão, bem como ao estado funcional e tipo de célula
Imagem: Gabriela Cardoso Caldas.Evolução básica de atingida. Nas lesões não letais, as células continuam
uma doença. vivas e podem retornar ao estado de normalidade uma
vez cessada a lesão. Exemplos são agressões que
Você já sabe que há uma grande diversidade de agentes
alteram os mecanismos de regulação e proliferação
lesivos existentes na natureza. Porém, a variedade das
celular, gerando hipotrofias, hipertrofias, hiperplasias,
lesões encontradas nas doenças não é muito grande.
hipoplasias, metaplasias, displasias e neoplasias. O
Isso porque os mecanismos de agressão às moléculas
acúmulo de substâncias intracelulares,
são comuns a diferentes tipos de agressões.
as degenerações, são resultado de agressões que
Por exemplo, muitos agentes lesivos agem pela modificam o metabolismo celular. Já as lesões letais
redução do fluxo sanguíneo, diminuindo assim o são representadas pela necrose(Morte celular seguida
fornecimento de oxigênio para as células e reduzindo a de autólise.), apoptose(Morte celular não seguida de
produção de energia. Por outro lado, os mecanismos de autólise.) e outros tipos de morte celular, temas que
defesa do organismo geralmente são inespecíficos, o também veremos mais para frente. Essas lesões
que significa que são semelhantes frente a agressões estudaremos nos próximos módulos.
distintas. Podemos citar também as reações
inflamatórias, que são respostas frequentes do ALTERAÇÕES DO INTERSTÍCIO
organismo frente a agressões de naturezas variadas, Envolvem modificações da substância fundamental
como a necrose tecidual, presença de corpos estranhos amorfa, alterações estruturais de fibras elásticas,
e infecções. colágenas e reticulares e depósito de substâncias
formadas localmente ou vindas da circulação.
DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO
Incluem alterações do fluxo sanguíneo (hiperemia e
isquemia), da coagulação (trombose) e da drenagem de
líquido intersticial (edema), além do aparecimento de
substâncias que causam obstrução vascular (embolia) e
extravasamento de sangue da vasculatura
Imagem: Shutterstock.com.A inflamação é uma (hemorragia).
resposta comum dos tecidos vascularizados frente a
agressões de diversas naturezas. Ruptura de um vaso, levando à
hemorragia.ALTERAÇÕES DA INERVAÇÃO
As lesões possuem um componente que resulta tanto
da ação do agente agressor quanto dos mecanismos de
Representam lesões importantes, por causa do papel características principais do processo, como
integrador do sistema nervoso. Porém, as lesões locais na enteropatia perdedora de proteínas.
dessas estruturas ainda são pouco conhecidas.
VOCÊ SABIA
INFLAMAÇÃO
Em muitos casos, somente o nome não é suficiente
É a lesão mais complexa, que envolve todos os para indicar uma doença. São os chamados epônimos,
componentes teciduais e se caracteriza por alterações em que a doença leva o nome de quem a descreveu ou
da microcirculação, migração de leucócitos, lesões o local onde foi descrita. Nesses casos, o nome pouco
celulares e intersticiais. A inflamação é o componente tem a ver com a essência das lesões e da doença em si.
efetor da resposta imune, acompanhando a maioria das
lesões produzidas por diferentes agentes lesivos. De modo a uniformizar a nomenclatura, evitando que
as doenças recebam nomes com base em critérios
Na inflamação, temos alterações vasculares, migração diferentes em diferentes países, a OMS criou
de leucócitos e lesões celulares/intersticiais. a Classificação Internacional das Doenças (CID). As
doenças são classificadas de acordo com alguns sinais,
Assim como as lesões, as doenças também precisam
sintomas e lesões, que caracterizam uma determinada
ser nomeadas e catalogadas. De maneira ideal, as
condição. A CID deve ser mencionada e registrada
doenças devem receber um nome que traduza a
toda vez que o diagnóstico é estabelecido.
característica essencial da sua natureza, tarefa essa que
é bem complexa. Tanto a nomenclatura quanto a classificação das
doenças são extremamente importantes, pois os
Muitas vezes, a nomenclatura segue certa lógica, já
profissionais da Saúde precisam utilizar termos e
que inclui o nome do órgão afetado e algum prefixo ou
princípios consensuais para que as informações obtidas
sufixo esclarecedor, como as gastrites e
em qualquer parte do mundo possam ser comparadas e
glomerulonefrites, por exemplo. Em outros casos, a
para que haja o avanço do conhecimento em Saúde.
denominação indica a natureza e também as

membranas, tanto a plasmática quanto a das organelas,


Foto: Shutterstock.com.Doença de Parkinson, um é realizado por bombas eletrolíticas.
epônimo médico.
Algumas delas dependem da energia na forma de
MÓDULO 2 Adenosina trifosfato (ATP), porém outras dependem
da estrutura da membrana e da integridade das
proteínas que formam o complexo enzimático da
Identificar os principais tipos de degeneração bomba. Esse transporte de água e eletrólitos ocorre
celular, seus mecanismos e aspectos morfológicos contra um gradiente de concentração, para o interior
dos compartimentos celulares.
DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA
A degeneração hidrópica, também conhecida por
tumefação celular, é a lesão celular reversível
caracterizada pelo acúmulo de água e eletrólitos no
interior das células. Além disso, é a lesão não letal
mais comum que ocorre diante dos mais variados tipos
de agressão, seja ela de natureza física, química ou
biológicaO transporte de eletrólitos através das Imagem: Shutterstock.com.Transporte de moléculas
pela membrana plasmática.
Portanto, distúrbios nesse equilíbrio hidroeletrolítico
resultam na retenção de água e eletrólitos nas células,
que se apresentam aumentadas de
volume(Tumefeitas.). Nesse contexto, diversos agentes
lesivos podem causar a degeneração hidrópica, como
agentes tóxicos que lesam a membrana mitocondrial e
reduzem a produção de ATP; agentes que levam à
hipertermia, por causa do aumento do consumo de
ATP; agressões que levam à formação de radicais Foto: Nephron/wikimedia Commons/ CC BY-AS
livres que lesam as membranas diretamente e 3.0.Degeneração hidrópica de hepatócitos
substâncias inibidoras da bomba sódio/potássio (baloniforme).
ATPase, como a ouabaína.
A degeneração hidrópica, assim como todas as outras
Embora as causas possam ser variadas, a consequência degenerações que veremos a seguir, é um processo
é a mesma: retenção de sódio, redução de potássio e reversível. Isto é, quando eliminamos a causa da lesão,
aumento da pressão osmótica intracelular, levando à as células tendem a voltar para seu aspecto normal. Por
entrada de água no citoplasma e à expansão isosmótica isso, a tumefação celular quase sempre não está
da célula. associada a consequências funcionais mais graves, a
menos que ela seja muito intensa. No fígado, a
degeneração hidrópica intensa nos hepatócitos pode
resultar em alterações funcionais no órgão. Porém,
raramente resultará em insuficiência hepática
exclusivamente degenerativa.
DEGENERAÇÃO HIALINA
O termo “hialina” tem origem na palavra grega hyalos,
que significa vítreo, homogêneo, translúcido. A
degeneração hialina consiste no acúmulo de material
proteico e acidófilo no interior das células ou no
espaço extracelular, conferindo a eles uma aparência
rósea, vítrea e homogênea, que podemos observar nos
cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina.
Em alguns casos, a degeneração é consequência da
Imagem: Shutterstock.com.Mecanismo simplificado de condensação de filamentos intermediários e proteínas
atuação da bomba de Na+/K+ ATPase. associadas, formando corpúsculos no interior das
células. Porém, também pode ser resultado do acúmulo
A degeneração hidrópica é a primeira manifestação em
de material decorrente de uma infecção ou
quase todas as formas de agressão às células. Em geral,
da endocitose de proteínas.
os órgãos apresentam aumento de peso e volume,
embora seu aspecto macroscópico varie de acordo com FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS
a intensidade da lesão. A coloração também muda,
ficando mais pálida. Isso ocorre porque as células Compõem um sistema de estruturas proteicas
tumefeitas comprimem os capilares sanguíneos, filamentosas no citoplasma e núcleo de células
reduzindo a quantidade de sangue no órgão. eucarióticas, formando uma rede estrutural que conecta
as organelas citoplasmáticas e o núcleo.
Microscopicamente, as células apresentam aumento de
volume com citoplasma mais acidófilo e com aspecto Um exemplo de depósito hialino celular é o
granuloso, após coloração com hematoxilina eosina, chamado corpúsculo hialino de Mallory-Denk, que é
corante amplamente empregado para analise tecidual encontrado normalmente em hepatócitos de indivíduos
de cortes histológicos. Em algumas células, a alcoólatras crônicos, mas também em casos de
característica mais marcante é a acidófila, que se torna carcinoma hepatocelular e esteato-hepatite não
mais pronunciada com a progressão para a necrose. Já alcoólica. Resumidamente, esse corpúsculo é formado
em um estado avançado, é possível observar pequenos pela ação dos radicais livres sobre as proteínas do
vacúolos de água dispersos irregularmente pelo citoesqueleto induzindo sua peroxidação e formação de
citoplasma. Porém, grandes vacúolos também podem ligações transversais resultando na formação de
ser formados, como no caso dos hepatócitos aglomerados proteicos precipitados. Quando o
(degeneração baloniforme). analisamos por microscopia eletrônica, vemos um
aspecto filamentoso em algumas áreas e amorfo (sem A degeneração gordurosa refere-se ao acúmulo
forma) em outras. anormal de gordura no citoplasma celular. Os dois
principais tipos são a esteatose e a lipidose.

Imagem: Shutterstock.com.A esteatose ocorre mais


frequentemente no fígado.
A esteatose é o acúmulo de gorduras neutras (mono, di
ou triglicerídeos) em células parenquimatosas. De
maneira geral, a degeneração gordurosa ocorre mais
frequentemente no fígado, pois é o principal órgão
Foto: Nephron/wikimedia Commons/ CC BY-AS
envolvido na metabolização de gorduras, porém
3.0.Corpúsculo hialino de Mallory-Denk em
também pode acometer o epitélio tubular renal,
hepatócitos de pacientes com esteato-hepatite.
pâncreas, músculos esquelético e cardíaco.
Outro exemplo são os corpúsculos hialinos de
A lesão gordurosa é resultado da interferência do
Councilman-Rocha Lima, encontrados em hepatócitos
metabolismo celular de ácidos graxos por algum
nas hepatites virais, especialmente na febre amarela.
agente agressor, que pode: aumentar a captação ou
Em fibras musculares, tanto esqueléticas quanto síntese dos ácidos graxos; dificultar a utilização,
cardíacas, a degeneração hialina é resultado da ação transporte ou excreção dos ácidos graxos.
de endotoxinas bacterianas e agressão por células
PARENQUIMATOSAS
imunes. Acredita-se que o aspecto morfológico seja
decorrente da desintegração de microfilamentos, O parênquima, nos animais, refere-se ao tecido que
relacionada à liberação e à ação de citocinas. Em forma a parte funcional de muitos órgãos, em oposição
indivíduos com proteinúria(Excesso de proteína na ao estroma, que se refere aos tecidos de suporte.
urina.), a degeneração hialina no epitélio tubular renal
CAUSAS DA ESTEATOSE
ocorre pela endocitose excessiva de proteínas.
As causas da esteatose são variadas e incluem o uso de
SAIBA MAIS
substâncias tóxicas, como o álcool; hipóxia,
Os corpúsculos de Russel caracterizam-se pelo desnutrição proteica e distúrbios metabólicos, como o
acúmulo excessivo de imunoglobulinas diabetes e obesidade.
em plasmócitos e são frequentes em inflamações
ETANOL
associadas a infecções, como na salmonelose e
leishmaniose tegumentar. O etanol é a causa mais conhecida e estudada da
esteatose e, resumidamente, o etilismo causa a
PLASMÓCITOS
degeneração gordurosa por meio de alguns fatores,
São células derivadas dos linfócitos B que sofreram como a redução de Nicotinamida Adenina
diferenciação após respostas imunitárias exercidas por Dinucleotídeo (NAD), molécula necessária para a
algum antígeno, que é responsável pela produção dos oxidação de lipídeos; excesso de acetil-CoA, que induz
anticorpos circulantes. a síntese de ácidos graxos; redução da disponibilidade
de proteínas para a síntese de lipoproteínas, quando
As bases bioquímicas que possam explicar a
associado à desnutrição; e comprometimento do
degeneração hialina no interstício ainda permanecem
transporte das lipoproteínas, por meio da ação de
em debate. Em indivíduos com hipertensão crônica ou
acetaldeído e radicais livres gerados pela
diabetes melito, as paredes arteriolares renais tornam-
metabolização do etanol.
se hialinas por causa do extravasamento e depósito de
proteína plasmática na membrana basal. NICOTINAMIDA ADENINA DINUCLEOTÍDEO
(NAD)
DEGENERAÇÃO GORDUROSA
Aceptor de hidrogênios e elétrons, carregando a A falta de proteínas, resumidamente, leva à redução da
energia para a produção de ATP. formação de lipoproteínas e da excreção de
triglicerídeos. Além disso, a dieta deficiente em
calorias resulta na mobilização de lipídeos do tecido
adiposo, aumentando o aporte de ácidos graxos para o
fígado.
SAIBA MAIS
Em crianças com desnutrição proteica grave, a
esteatose pode acometer vários órgãos além do fígado,
Foto: Shutterstock.com.O etilismo é a causa mais como os rins, coração, músculo esquelético e pâncreas.
conhecida e estudada da esteatose.
A morfologia de um órgão com esteatose é variável.
AGENTES TÓXICOS No fígado, podemos notar aumento de volume e peso,
diminuição da consistência, coloração amarelada e
Podem levar à esteatose pela lesão do retículo bordas arredondadas.
endoplasmático rugoso e redução de proteínas,
resultando na deficiência de lipoproteínas. Outros
fatores incluem o bloqueio na utilização de
triglicerídeos, sem que a síntese proteica seja reduzida.
HIPÓXIA
Imagem: Shutterstock.com.Ilustração da evolução da
Em estados de hipóxia, como anemia ou insuficiência
esteatose hepática.
cardíaca/respiratória, há uma menor disponibilidade de
oxigênio e, dessa forma, redução na síntese de ATP. Os rins apresentam morfologia semelhante, com
Com isso, a síntese de lipídeos complexos fica aumento de volume, peso e coloração amarelada. O
dificultada e há diminuição da utilização de ácidos coração pode apresentar palidez e diminuição da
graxos e triglicerídeos, que se acumulam. A esteatose consistência (na miocardite diftérica) ou apresentar
também resulta, em boa parte, do aumento da síntese faixas amareladas visíveis no endocárdio, nos casos de
de ácidos graxos, por causa do excesso de acetil-CoA hipóxia prolongada.
gerado pela diminuição da oxidação no ciclo de Krebs.
Se observarmos ao microscópio de luz, notaremos o
OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA acúmulo de triglicerídeos em pequenas vesículas
revestidas por membrana. Na esteatose em fase inicial,
Associada à síndrome metabólica, a obesidade é hoje
os vacúolos são de tamanhos variados e apresentam
um dos principais problemas de saúde pública global e
tendência a se unirem, formando vesículas cada vez
deve-se principalmente à associação da ingestão
maiores.
excessiva de energia na forma de lipídeos e
carboidratos e do sedentarismo. O termo “síndrome No fígado, podem ser observadas a esteatose
metabólica” inclui uma série de fatores de risco microgoticular, quando pequenas vesículas de
metabólicos, como hipertensão arterial, hiperglicemia, gordura se distribuem na periferia celular e a esteatose
excesso de gordura corporal em torno da cintura e macrogoticular, quando há uma grande vesícula de
níveis de colesterol anormais. Na síndrome metabólica, gordura que desloca o núcleo para a periferia.
ocorre esteatose visceral no fígado, nos músculos
esqueléticos e no miocárdio, devido a fatores como
aumento dos radicais livres, transporte dificultado de
lipoproteínas e síntese aumentada de triglicerídeos e de
ceramida, potente indutora da apoptose.

Foto: Shutterstock.com.Esteatose macrogoticular (à


esquerda) e corpúsculos de Mallory-Denk (à direita).
Imagem: Shutterstock.com. Nos rins, podemos observar pequenas vesículas nas
DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA células tubulares, que raramente produzem
deformidade celular. No coração, os triglicerídeos se
depositam em vesículas dispostas ao longo das células.
SAIBA MAIS
Devido à característica dos triglicerídeos de se
dissolverem em álcool e xilol, que são substâncias
utilizadas na preparação de amostras para análise em
microscópio de campo claro, os “espaços vazios” que
vemos podem ser confundidos com os vacúolos da
degeneração hidrópica. Por isso, para que possamos ter
certeza da natureza lipídica da vesícula, é necessária a Foto: Min.neel/wikimedia Commons/ CC BY-SA
realização de colorações especiais. 3.0.Xantoma no joelho de um paciente infantil.
Apesar de ser uma lesão reversível, o excesso de DEGENERAÇÃO CÁLCICA
ácidos graxos pode gerar ceramida, que já comentamos
ser um potente indutor de apoptose. No fígado, pode A degeneração cálcica, também conhecida como
haver formação dos chamados cistos gordurosos, que calcificação patológica, refere-se à deposição anormal
podem romper e causar embolia gordurosa. Em alguns de sais de cálcio, com quantidades menores de ferro e
casos de esteatose difusa e grave, podemos ter outros sais minerais nos tecidos. Quando a deposição
manifestações de insuficiência hepática. Em indivíduos se dá de forma local nos tecidos mortos, ela é chamada
etilistas crônicos, a esteatose hepática é de calcificação distrófica. Já a calcificação
frequentemente acompanhada de fibrose, evoluindo metastática é a deposição de sais de cálcio em tecidos
para a cirrose. normais e é quase sempre resultado de hipercalcemia
secundária devido a algum desequilíbrio no
Os acúmulos intracelulares de gorduras que não são metabolismo do cálcio.
triglicerídeos, como o colesterol e seus ésteres, são
chamados de lipidoses. Também podemos encontrar MÓDULO 3
depósitos de lipídeos mais complexos, como
esfingolipídeos e gangliosídeos, embora sejam raros.
As lipidoses podem ser localizadas ou sistêmicas. Descrever as etapas de progressão da lesão celular e
os princípios da morte celular por apoptose e
A aterosclerose é uma doença de grande importância necrose
clínica e é caracterizada por depósitos localizados de
colesterol e seus ésteres, principalmente, na camada RESPOSTA CELULAR AO
íntima de artérias de grande e médio calibres. O ESTÍMULO/AGRESSÃO: ADAPTAÇÃO, LESÃO
aumento de triglicerídeos e colesterol plasmáticos REVERSÍVEL E LESÃO IRREVERSÍVEL
representa o principal fator de risco para o
Nosso organismo é uma orquestra perfeita que
desenvolvimento da aterosclerose, embora a
necessita que cada componente esteja ajustado para
hipertensão arterial, tabagismo e a síndrome
que seu funcionamento ocorra de maneira correta.
metabólica também estejam envolvidos.
Nesse sentido, a homeostase caracteriza-se pela
habilidade do nosso corpo em manter um equilíbrio
fisiológico interno quase sempre constante,
independente das alterações que possam ocorrer no
meio externo.
As adaptações são respostas celulares a alterações
fisiológicas, como a gestação, ou a alguns estímulos
patológicos. Com isso, um novo estado de equilíbrio
fisiológico é alcançado, permitindo a sobrevivência e
Imagem: Shutterstock.com.Acúmulo de colesterol e
atividade funcional celular. As adaptações englobam
seus ésteres na camada íntima arterial causando
alterações reversíveis no tamanho, número, fenótipo,
aterosclerose.
atividade ou funções celulares. Quando o estímulo
Os xantomas são outro exemplo de lipidose, cessa, a célula pode retornar ao seu estado original.
caracterizados por nódulos ou placas na pele formados
por aglomerados de macrófagos carregados de
colesterol, com aspecto espumoso.
Imagem: Shutterstock.com.
Imagem: Shutterstock.com. Metaplasia: refere-se à substituição de um tipo celular
diferenciado (epitelial ou mesenquimal) por outro de
Hipertrofia: refere-se ao aumento do tamanho das
mesma linhagem, frequentemente em resposta à
células e, consequentemente, ao aumento do tamanho
irritação crônica. Com isso, as células tornam-se mais
do órgão afetado. Está diretamente relacionada ao
capazes de resistir ao estímulo. Normalmente, é
aumento na produção de proteínas celulares. Pode ser
induzida por alterações na via de diferenciação das
fisiológica ou patológica, causada pelo aumento da
células-tronco teciduais e pode resultar na redução de
demanda funcional (aumento dos músculos devido a
função ou aumento da probabilidade para a
exercícios físicos intensos) ou por estimulação de
transformação maligna. Um exemplo comum de
hormônios e fatores de crescimento (crescimento do
metaplasia é a substituição do epitélio colunar para
útero na gestação, induzido por hormônios).
epitélio escamoso, que ocorre no trato respiratório em
resposta a agressões crônicas, como o cigarro.
ATENÇÃO
Embora hiperplasia e hipertrofia sejam processos
distintos, frequentemente ocorrem juntas e podem ser
Imagem: Shutterstock.com. induzidas pelos mesmos estímulos.
Hiperplasia: refere-se ao aumento no número de
células em um órgão ou tecido, frente a um
determinado estímulo (fisiológico ou patológico). O
que ocorre é a proliferação de células maduras,
induzida por fatores de crescimento. Em alguns casos,
o aumento pode ser resultado do surgimento de novas
células a partir de células-tronco teciduais. Um
exemplo de hiperplasia fisiológica ocorre na puberdade
feminina e na gravidez, onde há proliferação do
epitélio glandular mamário. Já a hiperplasia patológica
pode ser exemplificada pela hiperplasia endometrial, Imagem: Shutterstock.com.Hiperplasia x hipertrofia.
induzida por desequilíbrios hormonais. Caso os limites das respostas adaptativas sejam
excedidos, ou haja o comprometimento de nutrientes e
componentes celulares, ocorre uma série de eventos
que caracterizam a lesão celular. A lesão
é reversível até determinado ponto, mas caso o
Imagem: Shutterstock.com. estímulo persista ou seja intenso o suficiente desde o
início, a lesão celular é irreversível e ocorre morte
Atrofia: refere-se à redução do tamanho e número de celular. Dessa forma, a resposta adaptativa, lesão
células, que acarreta a redução do tamanho de um reversível, lesão irreversível e morte celular podem ser
órgão ou tecido. Ao contrário da hipertrofia, a atrofia é etapas de um dano progressivo.
resultado da diminuição da síntese proteica e do
aumento da degradação de proteínas celulares. A
atrofia fisiológica pode ser identificada no
desenvolvimento fetal, no qual algumas estruturas
embrionárias (como a notocorda) se atrofiam. A atrofia
patológica pode ser causada, por exemplo, pelo desuso,
perda de inervação, diminuição do suprimento
sanguíneo, compressão e nutrição inadequada.
lipases digerem lipídeos, ribonucleases digerem ácido
ribonucleico, por exemplo. Além disso, no processo de
necrose são liberadas moléculas chamadas
de alarminas (uratos, fosfatos, por exemplo), que são
reconhecidas por receptores celulares e induzem a
inflamação.
As principais características microscópicas da necrose,
quando observados os cortes histológicos são:
ALTERAÇÕES NUCLEARES:
Podem se apresentar sob três aspectos: intensa
condensação e contração da cromatina, tornando o
núcleo intensamente basófilo e bem menor que o
normal (picnose nuclear); digestão da cromatina, que
acarreta na indistinção dos núcleos na coloração
Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. histológica (cariólise) e fragmentação e dispersão do
ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.80.Etapas da núcleo no citoplasma (cariorrexe). Todos esses
resposta celular ao estresse e estímulos lesivos. aspectos resultam da diminuição excessiva do pH
celular, que condensa a cromatina, e da ação das
Nos estágios iniciais ou nas lesões leves, as alterações
desoxirribonucleases e outras proteases que digerem a
celulares podem ser revertidas caso o estímulo nocivo
cromatina e destroem a membrana nuclear.
seja removido. As principais características da lesão
reversível são: tumefação celular generalizada, por
causa das alterações de concentração de íons e influxo
de água; formação de bolhas na membrana plasmática;
“descolamento” dos ribossomos do retículo
endoplasmático e agregação da cromatina nuclear.
Soma-se às alterações morfológicas a redução do
armazenamento de energia na forma de ATP, por causa
da redução da fosforilação oxidativa.
Foto: Shutterstock.com.Indistinção dos núcleos em
Como já comentamos, até certo ponto, a célula ainda (cariólise) em corte histológico de miocárdio infartado.
consegue reparar os danos. Porém, uma vez que a
célula ultrapassa o ponto de “não retorno”, que ainda é ALTERAÇÕES CITOPLASMÁTICAS:
debatido, a lesão evolui para irreversibilidade e morte
Com o desacoplamento de ribossomos e desnaturação
celular. A morte celular representa um dos mais
proteica, há o aumento da acidofilia que é evidenciado
importantes eventos na evolução de qualquer doença,
pelo aspecto eosinofílico ao microscópio de campo
em qualquer tecido ou órgão.
claro. Com a evolução da necrose, o citoplasma
SAIBA MAIS apresenta um aspecto granuloso e a célula morta pode
ser visualizada como uma massa amorfa espiralada
A morte celular também faz parte de processos (originada pelas membranas danificadas), as
fisiológicos, como a embriogênese, desenvolvimento chamadas figuras de mielina. Na microscopia
de órgãos e manutenção da homeostase. A partir de eletrônica, ainda poderemos notar a descontinuidade
agora, nós falaremos sobre as duas principais vias de das membranas celulares, dilatação anormal de
morte celular: a necrose e a apoptose. mitocôndrias, figuras de mielina citoplasmáticas e
NECROSE: MORFOLOGIA E TIPOS proteínas desnaturadas.

A morte celular que ocorre em um organismo vivo,


seguida de um processo de autólise, é
denominada necrose. Ela ocorre quando a agressão é
suficiente para interromper as funções vitais celulares.
Nesse caso, há extravasamento de hidrolases
lisossomais para o citoplasma e, nesse local, são
ativadas pela alta concentração de íons cálcio e iniciam
a autólise. As hidrolases são capazes de digerir todos Imagem: Gabriela Cardoso Caldas.Alterações celulares
os substratos celulares: as proteases digerem proteínas, na necrose.
Agora que entendemos as características da necrose de controlados, que culminam na sua morte. Ao contrário
uma forma geral, vamos comentar sobre os principais do que vimos na necrose, na apoptose não há autólise e
tipos e suas causas: nem descontinuidade da membrana: a célula é
fragmentada, seus fragmentos são envolvidos pela
NECROSE COAGULATIVA
membrana citoplasmática formando os corpos
Uma vez que sua causa mais frequente é a isquemia, apoptóticos e finalmente são endocitados por células
também pode ser chamada de necrose isquêmica. Na vizinhas, sem induzir um processo inflamatório.
macroscopia, a área necrótica é esbranquiçada e
protuberante, geralmente circundada por um halo
vermelho (que reflete a hiperemia(Aumento da
irrigação sanguínea.) compensatória).
Microscopicamente, podemos observar cariólise,
citoplasma com aspecto de substância coagulada
(acidófico e gelificado). Com a progressão, perde-se
toda a arquitetura tecidual.
Caracterizada pela digestão das células mortas, devido Imagem: Shutterstock.com.Apoptose e formação dos
à grande quantidade de enzimas lisossomais liberada. corpos apoptóticos.
A região necrosada apresenta consistência mole ou
liquefeita. É comum após a anóxia(Ausência de CAUSAS E FUNÇÕES
oxigênio.) do tecido nervoso e da suprarrenal, sendo A apoptose ocorre em processos fisiológicos e
observada também em infecções bacterianas e fúngicas patológicos.
focais. As bactérias estimulam a migração de
leucócitos e liberação de suas enzimas lisossômicas. O PROCESSOS FISIOLÓGICOS:
resultado é uma área necrótica amarelo cremosa, que
Na Fisiologia, a apoptose é um fenômeno normal que
chamamos de pus.
objetiva eliminar as células que não são mais
Área de necrose liquefativa no cérebro.NECROSE necessárias, além de participar do controle de
CASEOSA proliferação celular nos tecidos. São exemplos de
situações fisiológicas em que há a participação da
Caseoso significa semelhante a queijo e denomina a apoptose: remodelamento de tecidos durante a
aparência da área necrótica, que é fria e esbranquiçada. embriogênese, período pós-natal e pós-lactação, morte
Comum na tuberculose, a necrose caseosa apresenta de leucócitos depois do processo inflamatório e
uma área de células rompidas ou fragmentadas e restos eliminação de linfócitos autorreativos.
granulares amorfos formando uma massa homogênea.
A aparência é característica do granuloma, que ainda PROCESSOS PATOLÓGICOS:
apresenta borda inflamatória.
Já em condições patológicas, a apoptose é
SAIBA MAIS desencadeada por inúmeras causas, como infecções
virais; hipóxia, radiação ionizante e substâncias
A gangrena é uma forma de evolução da necrose, químicas, que podem causar danos irreversíveis ao
resultado da ação de agentes externos sobre a área DNA e pela ação de radicais livres, que além de
necrosada. A desidratação da região, especialmente em afetarem o material genético celular, podem levar ao
contato com o ar, origina a gangrena seca. acúmulo de proteínas mal dobradas.
A gangrena úmida é causada pela invasão de
microrganismos anaeróbios na área necrosada, MECANISMOS
produzindo enzimas que liquefazem o tecido morto e Qualquer que seja sua causa, a apoptose resulta da
produzem gases de odor fétido. Já a gangrena ativação sequencial de enzimas chamadas caspases,
gasosa é secundária à contaminação por bactérias do responsáveis pelas alterações morfológicas que
gênero Clostridium, que produzem enzimas comentaremos mais adiante. As caspases existem
proteolíticas e grande quantidade de gás, formando como proenzimas inativas e precisam sofrer clivagem
bolhas. enzimática para se tornarem ativas. A ativação depende
APOPTOSE: CAUSAS, FUNÇÕES, de um equilíbrio fino entre a produção de proteínas
MECANISMOS E MORFOLOGIA pró-apoptóticas e anti-apoptóticas. Portanto, a presença
de caspases clivadas constitui um marcador importante
A apoptose é uma via de morte celular na qual a célula da apoptose.
é estimulada a acionar mecanismos, rigorosamente
CASPASES
São proteases que possuem cisteína no sítio ativo e processo é finamente controlado, é importante
clivam proteínas em sítios com resíduos de aspartato. comentarmos que existem proteínas mitocondriais que
impedem a saída das proteínas pró-apoptóticas pela
membrana, como a Bcl-2 e outras proteínas que
funcionam como inibidores fisiológicos da apoptose
(IAP), impedindo a ativação das caspases.
VIA EXTRÍNSECA (POR RECEPTOR DE
MORTE)
Iniciada pela ativação de receptores de
morte presentes na membrana plasmática de diversos
Foto: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS tipos celulares. Os receptores de morte mais bem
& COTRAN - 2016. Pág.118.Principais vias da conhecidos são o receptor TNF tipo 1 e a proteína Fas.
apoptose: a mitocondrial (intrínseca) e do receptor de Eles possuem um domínio citoplasmático que é
morte (extrínseca). essencial para a entrega de sinais apoptóticos (domínio
de morte). O mecanismo de apoptose por essa via é
O processo de apoptose pode ser resumido em bem ilustrado com a interação de Fas e seu ligante
uma fase de iniciação, na qual as caspases iniciadoras (FasL). O FasL é expresso em células T que
se tornam ativas, e fase de execução, na qual inicia-se reconhecem autoantígenos e alguns linfócitos T
a degradação de componentes celulares críticos pelas citotóxicos que eliminam células tumorais e células
caspases executoras. A ativação de caspases, evento- infectadas por vírus. Quando o FasL se liga ao Fas, há
chave da apoptose, pode ocorrer por duas vias a exposição de domínios de morte que recrutam
distintas: proteínas adaptadoras (FADD – domínio de morte
Via intrínseca ou mitocondrial: é a principal via de associado a Fas), formando uma base molecular
apoptose nas células de mamíferos. Ocorre pelo ativadora de caspases. A via extrínseca pode ser inibida
aumento da permeabilidade da membrana externa pela proteína FLIP, que se liga à primeira pró-caspase
mitocondrial. Com isso, há a liberação de proteínas da via (pró-caspase 8) e a neutraliza.
pró-apoptóticas (como o citocromo C, endonuclease G
e fator indutor de apoptose - AIF) que estão presentes
no espaço intermembranar, para o citosol, culminando
na ativação das caspases. A liberação dessas moléculas
é rigidamente controlada pela família de proteínas
Bcl-2, que inclui proteínas com funções anti-
apoptóticas (Bcl-2 e Bcl-XL) e pró-
apoptóticas (conhecidas como proteínas BAX).

Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC.


ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.120.Esquema
ilustrativo da via intrínseca da apoptose.
Quando as células são privadas de sinais de
sobrevivência, têm seu DNA danificado ou possuem
acúmulo de proteínas mal dobradas, provocando Imagem: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC.
estresse do retículo endoplasmático, proteínas ROBBINS & COTRAN - 2016. Pág.122.A via
sensores percebem a lesão e são ativadas. Esses extrínseca da apoptose ilustrada pelos eventos
sensores ativam mecanismos que permitem que o seguintes à ligação do Fas-FasL.
citocromo C e outras proteínas mitocondriais saiam do As duas vias culminam na ativação de uma caspase
espaço intermembranar e vão para o citoplasma, iniciadora, que ativa o programa sequencial
iniciando a cascata de ativação das caspases. Como o de caspases executoras, que atuam em diversos
componentes celulares, fragmentando a célula nos & COTRAN - 2016. Pág.117.Apoptose de uma célula
chamados corpos apoptóticos. Com isso, há a epidérmica. Note redução de tamanho, citoplasma
promoção ativa da fagocitose, de tal modo que os eosinófilo brilhante e um núcleo condensado.
resíduos celulares são removidos antes de sofrer
necrose e iniciar um processo inflamatório.
Tema 2
MORFOLOGIA
Distúrbios pigmentares e calcificações
As células apoptóticas apresentam algumas
características morfológicas importantes: DESCRIÇÃO
Retração celular:A célula apresenta tamanho menor, Conceitos gerais de distúrbios pigmentares endógenos
citoplasma denso e compactação de organelas. É e exógenos e seus aspectos patológicos; Conceitos de
importante lembrar que a característica inicial de calcificação e aspectos clínicos.
outras formas de lesão celular é a tumefação, e não a
retração. PROPÓSITO

Condensação da cromatina: é o aspecto morfológico Compreender os processos que levam aos diferentes
mais marcante da apoptose. A cromatina se agrega na distúrbios de pigmentação endógena e exógena nos
periferia, sob a membrana nuclear, formando massas seres humanos, seus principais aspectos
densas de diversos formatos e tamanhos. O núcleo se histopatológicos e clínicos. Apresentar os princípios
rompe, produzindo dois ou mais fragmentos. gerais da calcificação, suas características, formas mais
importantes e como ela impacta no organismo.
Formação de bolhas citoplasmáticas e corpos
apoptóticos: primeiramente, ocorre a formação de OBJETIVOS
bolhas superficiais extensas, com posterior MÓDULO 1
fragmentação celular em corpos apoptóticos envoltos
por membrana, compostos de restos de citoplasma, Identificar as propriedades gerais dos pigmentos
organelas e possivelmente fragmentos nucleares. endógenos e patologias relacionadas

Acredita-se que as membranas celulares permaneçam MÓDULO 2


intactas até os estágios finais do processo apoptótico,
Reconhecer as principais características dos distúrbios
quando se tornam permeáveis.
de pigmentação exógena
Na histologia (e coloração por hematoxilina e eosina),
MÓDULO 3
as células apoptóticas aparecem como massas ovais ou
redondas de citoplasma intensamente eosinófilo com Descrever o conceito de calcificação patológica, seus
fragmentos de cromatina nuclear condensada. Além aspectos gerais e clínicos
disso, como o processo é rápido, a apoptose precisa ser
extensa para que se torne evidente nos cortes INTRODUÇÃO
histológicos. A ausência de inflamação também Pigmento (do latim pigmentum) é o nome dado às
dificulta a identificação microscópica. substâncias químicas que possuem uma coloração
própria. Essas substâncias são encontradas facilmente
na natureza, como a clorofila, que dá a coloração
esverdeada às plantas, a hemoglobina, presente nos
eritrócitos circulantes no sangue, e a melanina,
presente na pele.
No nosso organismo, os pigmentos apresentam-se no
formato de grânulos e podem ter
origem endógena ou exógena. O acúmulo normal ou
patológico dessas substâncias de forma local ou
disseminada é chamado de pigmentação, e pode
indicar a causa ou efeito de uma alteração fisiológica.
Além dos pigmentos, podemos também acumular nos
tecidos moles (artérias, cartilagens, válvulas cardíacas
etc.) sais de cálcio, tornando-os mais rígidos, em um
processo conhecido como calcificação patológica.
Foto: KUMAR V, ABBAS A & ASTER JC. ROBBINS
Dessa forma, ao longo deste conteúdo, exploraremos varia do marrom ao preto e é produzida
os principais distúrbios de pigmentação, suas origens, pelos melanócitos.
características gerais e alterações que essas substâncias
causam no nosso organismo. Também entenderemos Tem como principal função a proteção da pele contra a
como as calcificações são formadas, os tipos e os radiação ultravioleta (UV). As propriedades de
principais locais de sua ocorrência. fotoproteção da melanina ocorrem pela absorção e
dispersão da luz UV e visível.
Por fim, discutiremos as características dos cálculos,
um caso à parte da calcificação, e compreenderemos os MELANÓCITOS
possíveis efeitos secundários no organismo. Células presentes na epiderme e na matriz dos
ENDÓGENA folículos pilosos.

Produzidos pelo próprio organismo. A síntese de melanina ocorre no interior


dos melanossomos, organelas elípticas, altamente
EXÓGENA especializadas, a partir do aminoácido essencial
tirosina, pela ação do complexo enzimático tirosidase.
De origem externa e introduzidos por diferentes vias
Na presença de oxigênio molecular, a tirosina é
de administração.
oxidada a dopamina (dioxifenilalanina) e, em seguida,
MÓDULO 1 em dopaquinona.
A partir desse momento, a presença ou ausência de
cisteína (glutationa) determina o rumo da síntese
Identificar as propriedades gerais dos pigmentos em eumelanina ou feomelanina. Na presença de
endógenos e patologias relacionadas cisteína, a feomelanina é produzida, e consiste em um
PIGMENTOS ENDÓGENOS pigmento alcalino, solúvel e amarelado com função
antioxidante. A eumelanina, produzida na ausência de
Os pigmentos endógenos são aqueles produzidos pelo glutationa, apresenta cor marrom a preta, com ação
nosso organismo. Nesse contexto, destacam-se antioxidante e fotoprotetora. Além disso, primeiro é
a hemoglobina e a melanina, substâncias que formada a feomelanina e, por último, a eumelanina. A
apresentam uma enorme importância fisiológica. melanina total da pele resulta de uma mistura desses
Qualquer alteração na produção (hipo ou dois pigmentos.
hiperprodução) ou na distribuição dessas substâncias
leva a um acúmulo nos tecidos.
Os pigmentos endógenos são divididos
em pigmentos hemoglobinógenos ou
hemáticos e pigmentos melânicos. Indicam a
existência de algum dano ou patologia. Além desses
pigmentos, os pigmentos derivados de lipídios
representam um importante marcador de lesão por
Lâmina basal da
radicais livres.
epiderme e matriz de um pelo com melanócitos ricos
PIGMENTOS RELACIONADOS À MELANINA em grânulos de melanina (em marrom).
Ao final do processo, os melanossomos repletos de
pigmentos são transferidos para os queratinócitos
(células presentes na epiderme com função de
produção de queratina, que age como uma barreira
protetora da pele) e se distribuem no citoplasma acima
do núcleo da célula, protegendo o núcleo dos efeitos
nocivos dos raios ultravioletas.

A melanina, principal pigmento biológico, é


responsável pela pigmentação cutânea e diferenças na
coloração da pele. Ela apresenta uma coloração que
NEVOS
É o termo médico que descreve uma lesão na pele
popularmente conhecida como mancha, pinta ou sinal.
Falamos em neoplasias, você sabe o que é?
RESPOSTA
Neoplasia é uma massa de tecido anormal originado
Produção pela multiplicação excessiva e descontrolada de
de melanina por melanócitos, na pele com e sem células, que persiste mesmo depois da retirada do
exposição aos raios ultravioletas. estímulo que originou essas alterações.
SAIBA MAIS As neoplasias podem ser:
Indivíduos com uma maior concentração de BENIGNAS
eumelanina são mais pigmentados, e indivíduos com
mais feomelanina são menos pigmentados e mais MALIGNAS
suscetíveis aos efeitos dos raios UV. Além disso, a
BENIGNAS
diferença fenotípica fundamental entre as raças não
reside na produção de melanina ou no número de Massa de células bem diferenciadas parecidas com o
melanócitos, mas, principalmente, na qualidade de tecido de origem, coesa, bem delimitada, com
seus melanossomas. crescimento progressivo e que não apresenta
capacidade invasiva e infiltrativa.
Os distúrbios pigmentares relacionados à melanina
podem acontecer devido ao seu aumento ou MALIGNAS
diminuição, de maneira localizada ou generalizada.
São chamadas de cânceres. Massa de células com
DISTÚRBIOS DE AUMENTO DE MELANINA contornos irregulares, invasiva e infiltrativa. De
DE FORMA LOCALIZADA crescimento rápido, são células normalmente
indiferenciadas e com possibilidade
de metástases para outros órgãos.
ETAPA 03
txt
METÁSTASES
Metástase é o nome do processo no qual células de um
tumor primário migram pela circulação sanguínea ou
linfática, gerando uma nova lesão tumoral.

N
evo melanócito congênito.
Nevos melanocíticos
Nevos melanocíticos são neoplasias de natureza
benigna que se apresentam como pequenas lesões
(normalmente menores que 6 mm) bem delineadas, de
coloração mais escura que o restante da pele, e podem Lipoma,
ser ásperas, planas, achatadas ou na forma de pápulas tipo de neoplasia benigna formada por adipócitos.
elevadas.
Os nevos melanocíticos são classificados
A maioria surge em decorrência de alterações genéticas histopatologicamente em relação às células névicas, o
e da exposição solar, mas podem ser congênitos, ou epitélio de superfície e o tecido conjuntivo subjacente.
seja, presentes desde o nascimento ou que se Há diversos subtipos de nevos e a classificação
desenvolvem durante a infância a partir de células depende da localização das células névicas. Um
névicas preexistentes. É importante destacar que exemplo são os nevos intradérmicos, que são formados
congênito não quer dizer hereditário. por células névicas que se diferenciam em tamanho e
podem conter ou não grande quantidade de melanina.
Essas células se agrupam em ninhos ao longo da parte
superior da derme.

Esta imagem indica a localização dos nevos juncionais,


Nevo intradérmico sem e com hiperpigmentação. compostos e intradérmicos na pele.
Quando o nevo se inicia na junção entre a derme e a SAIBA MAIS
epiderme são chamados de nevos juncionais. As
células dos nevos juncionais costumam exibir pouca Além dessas classificações, temos também o nevo
intramucoso, tipo mais comum na boca, com acúmulo
ou nenhuma atividade mitótica.
de células névicas no tecido conjuntivo, e o nevo azul,
MITÓTICA que apresenta as células com um formato fusiforme,
localizado no tecido conjuntivo, de coloração azul.
Atividade mitótica se refere à capacidade da célula de
se dividir gerando duas células-filhas idênticas. MELANOMAS
Conforme os nevos juncionais crescem, eles podem se Os melanomas são neoplasias malignas que afetam a
infiltrar cada vez mais na derme e passam a se chamar mucosa oral, esôfago, meninges, olhos, e
nevos compostos, já que exibem características de especialmente a pele. Quando detectado em seus
nevos intradérmicos e juncionais. Clinicamente, é estágios iniciais, o melanoma pode ser tratado e curado
difícil distinguir se o nevo é intradérmico ou cirurgicamente.
composto, já que ambos são lesões elevadas,
diferentemente dos nevos juncionais, que se A exposição excessiva à radiação UV é o principal
apresentam como lesões planas hiperpigmentadas. fator de risco para o desenvolvimento do melanoma
por seu potencial de causar danos ao DNA. Dessa
maneira, indivíduos de pele clara têm maior
suscetibilidade à doença, já que possuem menor
quantidade de melanina protegendo a pele dos raios
UV.
Alterações gênicas que interferem no ciclo celular
também estão relacionadas ao desenvolvimento dos
melanomas:
O gene CDKN2A ‒ inibidor de quinase dependente de
ciclina ‒ codifica proteínas que agem como
supressores tumorais, ou seja, proteínas que regulam o
Corte histológico da pele e a pele, mostrando um nevo
ciclo celular e induzem a apoptose, impedindo a
juncional.
proliferação excessiva da célula. Assim, mutações
nesses genes estão associadas à proliferação
descontrolada dos melanócitos.
Mutações que ativam os genes BRAF e NRAS, que
são importantes na progressão do tumor, pois
aumentam a sinalização de vias relacionadas ao
crescimento e sobrevida celular.
Mutação no gene TERT, que ativa a telomerase,
Corte histológico da pele e pele com presença de nevos enzima que preserva os telômeros e interrompe o
compostos. envelhecimento das células. Esse gene está mutado em
70% dos melanomas.
QUINASE
Quinases são enzimas que realizam a fosforilação que 6 milímetros e evolução com mudança no
(transferência de grupos fosfato) de proteínas-alvo tamanho, formato e cor da lesão.
ativando ou inibindo-as. Na presença de ciclinas
CRESCIMENTO RADIAL
(proteínas reguladoras do ciclo celular), as quinases
dependentes de ciclina são ativadas e passam a exercer Crescimento horizontal da lesão na epiderme e na
papel funcional dentro da célula. derme.
Você sabe o que é telômero e qual sua relação com o Esses fatores constituem os sinais de alerta ABCDE do
envelhecimento? melanoma:
RESPOSTA
Os telômeros são sequências repetidas de DNA,
localizadas na extremidade dos cromossomos, que têm
como função auxiliar:
 A replicação dos cromossomos;
 Contribuir na organização funcional
cromossômica no interior do núcleo;
 Participar na regulação da expressão genética;
 Controlar a capacidade replicativa de células
humanas e a entrada destas em senescência
celular.
No entanto, durante a replicação celular, ocorre perda
progressiva dos telômeros pelo encurtamento, o que
diminui a capacidade replicativa e leva ao
envelhecimento celular. Sinais de alerta do melanoma.
É importante destacar que a telomerase é uma enzima Com a progressão, o melanoma passa para a fase de
que estende os telômeros dos cromossomos, crescimento vertical, com infiltração das camadas mais
revertendo seu encurtamento. Essa enzima é ativa nas profundas da derme, sendo chamado de melanoma
células germinativas e em várias células cancerígenas. infiltrativo. Nessa fase, pode-se observar a presença de
nódulos, e o tumor passa a ter capacidade de gerar
metástase.
As células do melanoma, quando vistas ao
microscópio, são maiores do que
os melanócitos normais e apresentam núcleo com
contorno irregular.

Lesão
característica de melanoma.
O melanoma é mais frequente em homens, surgindo
principalmente no dorso (cabeça e pescoço), enquanto, Biópsia
nas mulheres, costuma estar localizado de pele normal (esquerda) e com melanoma (direita).
predominantemente nas pernas, sendo menos invasivo.
A partir da biópsia, principal método de diagnóstico do
Durante o crescimento radial, o melanoma é chamado melanoma, são analisadas algumas características
de melanoma in situ, e aparece clinicamente como celulares e teciduais, como a profundidade de
lesões assimétricas, com borda irregular, coloração infiltração do tumor, taxa de mitose, infiltrado de
variável (ao contrário dos nevos, que possuem linfócitos e ulceração, sendo esses os principais
pigmentação igual por toda a lesão), diâmetro maior do indicadores de prognóstico do melanoma. Também é a
partir desses indicadores que o melanoma é
classificado em estágios de gravidade.
Os estágios do melanoma vão de 0 (melanoma in situ)
até 4, que é o grau mais grave, também chamado de
melanoma metastático.

ESTÁGIO 3 E 4
ACANTOSE NIGRICANS
Na acantose nigricans, manchas hiperpigmentadas de
textura aveludada são visíveis na pele, principalmente
nas regiões das axilas, dobras do pescoço e virilha.
ESTÁGIO 0
Pode ser benigna ou maligna.

Aca
ntose nigricans nas dobras do pescoço.
ESTÁGIO 1 A forma benigna se desenvolve em geral na infância
ou puberdade, associadas à obesidade e doenças
endócrinas como a diabetes. A forma maligna ocorre
em especial em indivíduos com mais de 50 anos,
estimulada pela presença de fatores de crescimento
associados a neoplasias malignas, principalmente
neoplasias gastrointestinais.
Cerca de 80% dos casos de acantose nigricans são de
natureza benigna. Histologicamente, tanto na forma
benigna quanto na maligna são observadas ondulações
da epiderme, com aumento no número de células,
pigmentos e queratina na camada mais superficial da
epiderme.
OCRONOSE
ESTÁGIO 2
é uma doença genética metabólica rara, causada por
mutações no gene, que codifica a enzima que degrada
o ácido homogentísico, um pigmento castanho-
avermelhado ou amarelo no formato de grânulos.
Com isso, o pigmento se acumula no plasma
sanguíneo, na pele, tecido conjuntivo, cartilagens e na
urina, que passa por oxidação quando exposta ao ar e
forma polímeros parecidos com o pigmento de
melanina, o que torna a urina escurecida.
O escurecimento da urina é chamado de alcaptonúria, e
é o principal sinal clínico precoce dessa doença. O
acúmulo do pigmento nas cartilagens faz com que seja
possível vermos uma coloração preto-azulada.

Pele com melasmas.


VOCÊ SABIA
As manchas são chamadas de cloasmas gravídicos
Ocronose.
quando acometem mulheres durante ou logo após o
ÁCIDO HOMOGENTÍSICO fim da gestação. As manchas presentes somente na
face são chamadas de melasmas. E, quando acometem
Um intermediário do metabolismo de tirosina, produto
outra região que não a face, são chamadas de
precursor de melanina.
melanodermias.
DISTÚRBIOS DE AUMENTO DE MELANINA
Você já deve ter ouvido falar em vitiligo e albinismo.
DE FORMA GENERALIZADA
Essas condições, diferentes das que já estudamos até
Os principais distúrbios são as melanodermias aqui, são distúrbios de pigmentação causadas pela
secundárias, caracterizadas pelo aumento do pigmento diminuição ou ausência de melanina.
de melanina na pele devido ao aumento na atividade
VITILIGO
dos melanócitos, resultado de uma condição
preexistente, como é o caso da gravidez,
do hipoadrenalismo e por efeito das radiações.
HIPOADRENALISMO
Redução na função da glândula adrenal (presente na
parte superior dos rins), resultando na diminuição dos
hormônios produzidos por ela.
Histologicamente, é possível verificar um aumento na
presença de melanina nos queratinócitos por toda a
epiderme e aumento no número de melanossomas.
Essas alterações levam à formação de manchas Pele
agrupadas ou dispersas, com coloração castanho-clara com vitiligo.
a escura, e bordas irregulares.
O vitiligo é um dos quadros de acromia adquirida
Essas manchas podem ser chamadas também mais conhecidos. Embora a patogênese dessa condição
de cloasmas ou melasmas, e são mais comuns em não seja muito bem compreendida, sabe-se que ela
áreas da pele com maior exposição solar e em acontece pela diminuição progressiva ou ausência dos
mulheres, por ação de fatores hormonais, melanócitos no local, sendo essa a principal
principalmente na gravidez, que apresenta uma maior característica histológica. Com isso, a produção de
alteração nos níveis de hormônios. melanina fica comprometida.
Na pele de um indivíduo com vitiligo, podemos
observar a presença de manchas simétricas, irregulares,
de cor branca (pela falta de melanina),
com hipercromia ao redor das áreas afetadas.
O vitiligo é classificado como uma condição
multifatorial, e algumas teorias para a ausência dos
melanócitos são a destruição das células por estresse
oxidativo, autoimunidade e autodestruição dos Ao fim do processo inflamatório, em alguns casos, os
melanócitos. O vitiligo de origem genética (familiar) melanócitos ficam em estado de esgotamento pelo
representa cerca de 20% dos casos. estímulo e atividade exagerada. Sendo assim, eles
perdem sua função, gerando a acromia no local da
ACROMIA
cicatrização.
Termo dado à ausência de formação do pigmento
VOCÊ SABIA
melanina na epiderme.
Acromotriquia é o nome dado ao processo de perda
HIPERCROMIA
de pigmentação dos cabelos resultante do
Pigmentação excessiva causada pela produção envelhecimento. Com o passar dos anos, os
exagerada de melanina. melanócitos vão perdendo sua funcionalidade e
diminuindo sua atividade. Esse processo tem como
ALBINISMO consequência a redução na quantidade de pigmentos de
O albinismo é uma doença genética que afeta 1 a cada melanina produzidos, o que faz com que os cabelos
20 mil pessoas. O indivíduo com albinismo pode ter apresentem uma cor branca pela ausência de
um quadro de acromia parcial, quando envolve pigmentos.
ausência de pigmentação somente na retina, condição PIGMENTOS RELACIONADOS À
conhecida como albinismo ocular (AO), ou acromia LIPOFUSCINA (LIPOCROMO OU PIGMENTO
generalizada, quando afeta a pele, cabelos e olhos DE DESGASTE)
no albinismo oculocutâneo (AOC).
A lipofuscina é um pigmento endógeno insolúvel
O AOC é uma condição de caráter autossômico derivado da peroxidação de lipídios, que atua como
recessivo que envolve mutações em genes um sinalizador da degradação de lipídios de
relacionados à tirosinase, que resulta na coloração membranas celulares. As moléculas geradas se
branca da pele e nos cabelos devido à ausência de agrupam formando moléculas maiores num processo
pigmentação. Os indivíduos que sofrem de albinismo chamado polimerização, o que as torna insolúveis e
devem evitar ao máximo a exposição solar, pois são dificulta sua metabolização.
deficientes na principal forma orgânica de proteção
contra os raios UV, que é feita pela melanina. Esse pigmento é formado basicamente por polímeros
de lipídios e fosfolipídios, e é encontrado na forma de
grânulos castanho-amarelados ou marrons no
citoplasma das células.
A presença de lipofuscina está relacionada
principalmente às lesões celulares causadas no
processo de estresse oxidativo quando há aumento de
radicais livres, e durante o processo de autofagia, para
eliminação de organelas danificadas, acumulando-se
nos lisossomos, originando os corpos residuais.
O acúmulo da lipofuscina acontece de maneira
gradual, especialmente em células pós-mitóticas, e é
comum no tecido muscular cardíaco e esquelético, no
fígado, na retina e em neurônios de indivíduos mais
velhos, ou em pacientes com desnutrição grave. No
entanto, esse pigmento não é nocivo à célula.
PEROXIDAÇÃO
Criança com albinismo oculocutâneo.
Peroxidação lipídica é o processo de degradação de
AUTOSSÔMICO RECESSIVO lipídios no qual radicais livres “roubam” elétrons dos
Ao herdar genes de dois alelos anormais dos pais. lipídios presentes nas membranas celulares.

A acromia cicatricial acontece após um processo AUTOFAGIA


inflamatório local. Os mediadores gerados durante a Nome dado ao mecanismo de degradação de
inflamação são capazes de estimular os melanócitos a componentes e organelas celulares realizado pela
aumentarem a produção de melanina. própria célula pelos lisossomas.
de ligação para o oxigênio que será distribuído no
organismo.

Estrutura
Presença de grânulos de pigmento lipofuscina (em da hemácia, da molécula de hemoglobina (a) e do
marrom) em neurônios. heme (B).
Os pigmentos endógenos derivados da degradação da
hemoglobina são as hemossiderinas, hematinas,
bilirrubinas, porfirinas, entre outros. Tais pigmentos
podem ser ferruginosos, quando há a presença de íon
ferro na molécula, ou não ferruginosos.
METABOLISMO DA HEMOGLOBINA E A
FORMAÇÃO DOS PIGMENTOS
Neste vídeo, abordamos o metabolismo da
hemoglobina e como são formados os seus primeiros
Presença de grânulos de pigmento lipofuscina em derivados.
cardiomiócitos. PRINCIPAIS DISTÚRBIOS RELACIONADOS A
Em células com alta taxa de divisão como as células- PIGMENTOS DERIVADOS DA HEMOGLOBINA
tronco, as organelas e macromoléculas danificadas são
divididas entre as células-filhas, evitando, assim, o
acúmulo de lipofuscina após o processo de autofagia.
O acúmulo de lipofuscina causa um processo chamado
de atrofia parda, que é caracterizado pela redução de
volume e peso do órgão, com presença de uma
coloração parda. No coração, o acúmulo de lipofuscina
parece não afetar tanto a capacidade funcional do
órgão.
Já nos neurônios, a lipofuscina em excesso pode ser
gerada por um grupo de doenças neurodegenerativas
genéticas raras chamadas de Lipofuscinose ceroide
neuronal, que levam à deterioração psicomotora, Hem
cegueira e convulsões. orragia pulmonar com presença de hemossiderose
Vale acrescentar que, na retina, o acúmulo do pigmento local.
lipofuscina é associado à degeneração da mácula (parte A hemossiderose é o quadro de aumento de
central da retina), e essa degeneração é a principal hemossiderina, um produto da degradação da
causa de alteração da visão e cegueira em idosos. hemoglobina capaz de formar agregados, normalmente
PIGMENTOS RELACIONADAS À presente nos hepatócitos e em macrófagos do fígado,
HEMOGLOBINA pulmão, linfonodos, baço e medula óssea. Ele é um
pigmento de cor amarelo-ouro a marrom e representa a
A hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias principal forma de armazenamento do ferro,
composta por 4 subunidades (2 alfas (α) e 2 betas (β)) principalmente quando este está em excesso e há
de uma fração proteica, chamada globina, e uma fração saturação da ferritina.
não proteica, chamada de heme, que é a responsável
pela coloração vermelha das hemácias. A fração heme A hemossiderose local acontece geralmente como
da hemoglobina possui íons ferro no centro e é o sítio resultado de hemorragias teciduais, em que as
hemácias extravasadas são fagocitadas por macrófagos grânulos com cor preta e preto-azulada, derivados da
por cerca de 24 – 48 horas depois do início do oxidação do heme.
sangramento.
Essa alteração ocorre:
Histologicamente, é possível observar a presença de
 Em meios ácidos, por exemplo, por ação do
hemossiderina como grânulos amarelados a
ácido clorídrico em tecidos com úlceras.
amarronzados nos tecidos. O processo de
hemossiderose local pode ser observado na pele pela  Durante a malária, após a degradação da
presença de coloração amarelada nas áreas das lesões. hemoglobina pelo parasita.
Os casos de aumento sistêmico de ferro acontecem  Na esquistossomose, quando ocorre a
devido a defeitos na absorção intestinal de ferro, degradação da hemoglobina presente no
anemias hemolíticas e transfusão de sangue. sangue do hospedeiro no intestino do parasita.
A hemossiderose não costuma causar sintomas. Porém,  Durante a fixação de tecidos de biopsia com
indivíduos com quadros avançados podem desenvolver formol ácido durante a realização do exame.
anemia e fibrose pulmonar.
A hemocromatose é uma doença hereditária rara, que
acomete mais facilmente os homens, causada por
mutações em genes relacionados à absorção de ferro.
As mutações favorecem o aumento da absorção
intestinal de ferro proveniente da dieta, e com isso
aumenta-se também a deposição de hemossiderina nos
macrófagos e no parênquima de órgãos como fígado,
pele, pâncreas, coração e em algumas glândulas.
A hemocromatose costuma causar hipotrofia e fibrose
do parênquima tecidual, e em alguns casos leva à
cirrose hepática, diabetes e insuficiência cardíaca. Com
o avanço do quadro, a coloração natural dos órgãos é Estrutura
alterada para um tom amarronzado. química das porfirinas.
As porfirias são distúrbios causados por alterações no
processo de síntese do heme, de etiologia não
totalmente esclarecida, que levam ao aumento de
porfirinas. As porfirinas são moléculas precursoras do
heme, geradas pelo sistema eritropoético e pelo fígado,
e são o sítio de ligação para o íon ferro na
hemoglobina.
As porfirias podem ser classificadas de acordo com sua
origem (em congênita ou adquirida), propriedades
bioquímicas e pelo local em que se encontram. A
porfiria eritropoética congênita e a protoporfiria
Fígado de
eritropoética, como os nomes sugerem, são causadas
indivíduo com hemocromatose. Depósitos de
por alterações durante a síntese do heme na medula
hemossiderina em marrom.
óssea.
VOCÊ SABIA
A porfiria cutânea tardia, porfiria intermitente aguda e
Indivíduos que passaram por transfusão sanguínea, a eritro-hepática são causadas por alterações no fígado.
com quadros de talassemia e síndromes
O principal sinal clínico dessas doenças é o
mielodisplásicas, podem desenvolver a
aparecimento de lesões bolhosas na pele, que regridem
hemocromatose secundária (ou adquirida) pelo
e deixam manchas com alteração de pigmentação e
aumento na quantidade de hemácias degradadas e de
sensibilidade à luz solar, pela capacidade de absorção
ferro livre.
de luz visível e UV pelas porfirinas.
As hematinoses são alterações de pigmentação que
acontecem quando a degradação da hemoglobina gera
hematinas, pigmentos ferruginosos no formato de
anel e liberação de Fe2+, monóxido de carbono e
biliverdina, um pigmento verde.

2.
Reação de
hipersensibilidade à luz em indivíduo com A biliverdina sofre ação da bilirrubina redutase e é
protoporfiria eritropoética. convertida em bilirrubina, que é liberada
gradativamente ao plasma e liga-se à albumina,
As alterações de pigmentação ligadas formando a bilirrubina indireta (BI), que é carregada
à hematoidina acontecem geralmente poucas semanas ao fígado.
após uma hemorragia, ou nos coágulos sanguíneos,
pela degradação das hemácias pelos macrófagos
presentes no local do sangramento. 3.
As hematoidinas são pigmentos formados pela mistura Nos hepatócitos, essa molécula conjuga-se ao ácido
de lipídios em conjunto com um pigmento parecido glicurônico no retículo endoplasmático liso, formando
com a bilirrubina, sem a presença de ferro. A estrutura uma molécula polar e solúvel no plasma (bilirrubina
da hematoidina no tecido é caracterizada por cristais de direta – BD ou conjugada).
coloração, que pode variar do amarelo-ouro até o
marrom-dourado.
4
A bilirrubina direta, por sua vez, sai dos hepatócitos
para os canalículos biliares para formar a bile ou é
metabolizado pela microbiota intestinal em vários
compostos, mas principalmente no urobilinogênio.

5
Pele Este pode entrar na circulação sanguínea, e ser
amarelada de indivíduo com icterícia em comparação à reconvertido no fígado à bilirrubina conjugada, para
pele de indivíduo sem icterícia. ser excretado de novo na bile (ciclo enterro-hepático).
Pode ser encaminhado para o rim, onde é convertido à
A icterícia é uma condição clínica gerada pelo
urobilina, um pigmento amarelo que dá cor à urina, ou
aumento plasmático de um pigmento biliar chamado
ser degradado pela flora fecal no intestino, sendo
de bilirrubina. A bilirrubina é um produto da
oxidada a estercobilina, um pigmento castanho-
degradação da fração heme da hemoglobina. Esse
avermelhado que dá cor às fezes.
pigmento é visto como grânulos castanho-esverdeados
a negros, e se encontra principalmente nos hepatócitos
e nos canais biliares.
O aumento plasmático de bilirrubina faz com que ela
se acumule na pele, mucosas, tecidos e órgãos, em
especial no fígado e rins, resultando em uma coloração
amarelada.
Abaixo, descrevemos como ocorre o processo de
degradação do heme e formação da bilirrubina:
1.
A hemoglobina é degradada em globina, que é
transformada em aminoácidos para reutilização no
organismo, e nos grupos heme, que são fagocitados Degradação
principalmente no fígado, baço e medula óssea. A do heme e formação da bilirrubina.
degradação do grupo heme ocorre com a abertura do
SAIBA MAIS
A bilirrubina não conjugada é insolúvel e, sendo assim, meta-heme livre, ou seja, em globina (degradada e
não é eliminada na urina, o que favorece seu acúmulo utilizada pelo parasita) e no heme.
nos tecidos. Já a bilirrubina conjugada torna-se solúvel
O grupamento heme, por sua vez, é regurgitado pelo
em água e tem pouca afinidade de ligação à albumina
verme adulto na circulação sanguínea do hospedeiro,
(principal proteína transportadora do plasma
originando o pigmento esquistossomótico. Esse
sanguíneo), o que facilita sua excreção na urina.
pigmento apresenta cor castanho-escura e acumula-se
As causas de icterícia podem ser pré-hepáticas, intra- nas células de Kupffer.
hepáticas e pós-hepáticas. Na icterícia pré-hepática,
Podemos citar também o pigmento malárico, que é
como nos quadros de anemia hemolítica (com uma
resultado da digestão enzimática da hemoglobina
enorme degradação de hemoglobina devido à hemólise
dos eritrócitos), há alta concentração de bilirrubina pelo Plasmodium spp., que, após a ruptura das
indireta (não conjugada) no plasma sanguíneo. hemácias, libera esses grânulos castanho-escuros no
interstício.
Na icterícia hepática, o aumento da bilirrubina está
associado à diminuição da capacidade funcional dos VERIFICANDO O APRENDIZADO
hepatócitos, causados por intoxicações, infecções e MÓDULO 2
neoplasias. Nesse caso, há aumento da bilirrubina
indireta e direta pela diminuição da capacidade de
metabolização do fígado.
Reconhecer as principais características dos
Em recém-natos, o aumento da bilirrubina pode distúrbios de pigmentação exógena
acontecer por defeitos no metabolismo hepático pela
PIGMENTOS EXÓGENOS
falta de amadurecimento dos mecanismos de
conjugação da bilirrubina, causando a icterícia Os pigmentos exógenos são moléculas originadas no
neonatal ou fisiológica, um quadro de icterícia ambiente que penetram o organismo por diferentes vias
temporária. de administração, como a inalação, ingestão ou
inoculação.
Esses pigmentos, quando acumulados nos tecidos, na
maioria das vezes, funcionam como corpos estranhos,
sendo fagocitados pelos macrófagos residentes,
iniciando uma resposta imune inata (processo
inflamatório agudo), na tentativa de eliminar o agente
etiológico. O processo inflamatório pode evoluir para
cronicidade ou resolução, com a fibrose no tecido
acometido.
Diferentemente dos pigmentos endógenos que indicam
dano ou uma patologia, os pigmentos exógenos são, na
Bebê com hiperbilirrubinemia neonatal.
sua maioria, os responsáveis pelo desenvolvimento
As causas pós-hepáticas de hiperbilirrubinemia estão das doenças. Várias dessas doenças são resultados da
associadas à obstrução de canais biliares (icterícia exposição ocupacional, como ocorre com os
obstrutiva ou colestática associada à presença de mineradores, trabalhadores de indústrias e joalheiros.
cálculos, tumores etc.), que não permitem a excreção
Como uma exceção à regra, temos a tatuagem, um
de urobilinogênio e bilirrubina na urina, levando ao
exemplo de pigmento exógeno. Ao serem inoculadas
predomínio de bilirrubina direta no plasma e sua
na nossa pele, as partículas de tinta são fagocitadas por
possível excreção urinária.
macrófagos, mas sem causar uma doença.
Podemos encontrar também alguns pigmentos
PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS EXÓGENAS:
resultantes de infecções parasitárias.
VIA INOCULAÇÃO – TATUAGEM
EXEMPLO
A tatuagem é a forma de pigmentação exógena mais
Na esquistossomose, doença parasitária causada comum de encontrarmos nos seres humanos. Ela é
pelo Schistosoma mansoni, o verme adulto presente realizada pela inoculação de pigmentos insolúveis
nas veias mesentéricas se alimenta de sangue. (como os sais de enxofre, carvão, nanquim, mercúrio,
ferro, entre outros corantes) na pele, utilizando-se
No tubo digestivo do parasita, uma proteína (cisteína
proteinase) quebra a hemoglobina em hematina ou
agulhas para meios estéticos e de identificação de
animais.

Cristais
Em geral, as tatuagens são permanentes devido à
de nitrato de prata usados pela indústria farmacêutica.
introdução do pigmento na derme. Caso ele seja
introduzido em camadas mais superficiais da pele,
como o estrato córneo da epiderme, a tatuagem se
torna temporária.

Prata utilizada em joalherias.

Proc
esso de inoculação dos pigmentos de tatuagem na
derme e a fagocitose dos pigmentos por macrófagos.
Após a inoculação, os pigmentos são fagocitados
principalmente por macrófagos presentes na derme,
permanecendo ali pelo resto da vida. Esses pigmentos
podem ser levados em menor quantidade para os Pó de minério de prata na mão de um minerador.
linfonodos regionais.
Quando observado histologicamente, a pigmentação
presente no local da tatuagem é vista como grânulos de
tamanho pequeno no interior de macrófagos ou
pigmentos retidos no tecido conjuntivo fibroso.
SAIBA MAIS
Os pigmentos geralmente não despertam nenhuma
resposta inflamatória. Pele de
indivíduo com argirismo.
PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS EXÓGENAS:
INGESTÃO ORAL A principal alteração patológica gerada pelo acúmulo
de prata é a visível alteração de pigmentação dos
Argirismo
tecidos, principalmente nas áreas da pele expostas ao
É uma patologia causada pela intoxicação por sais de sol e nas unhas, mas pode aparecer nos macrófagos dos
prata e pela deposição dessas partículas nos tecidos. linfonodos, na membrana basal dos glomérulos renais
e no globo ocular. Clinicamente, a pele do indivíduo
As principais formas de intoxicação são pela utilização afetado exibe coloração cinza-azulada de forma
de medicamentos (soluções e colírios) que contêm na irreversível. Essa condição pode ocasionar depressão,
sua formulação nitrato de prata, muito utilizados no afastamento social e problemas de integração com a
passado, a partir de suplementos alimentares e da sociedade.
penetração mecânica de partículas muito pequenas por
meio das glândulas sudoríparas e inalação pelos Histologicamente, a presença de grânulos de prata é
joalheiros e trabalhadores de minas de prata. vista em maior quantidade na borda externa da
membrana basal e na porção glandular das glândulas
sudoríparas. Essa distribuição pode sugerir que as
partículas de prata são levadas para as glândulas
sudoríparas pelo líquido intersticial e assim se
acumulam na membrana basal.
SAIBA MAIS
Quando a intoxicação se dá por ingestão crônica de
compostos de prata solúveis, como o nitrato de prata, Distensão
ela pode afetar o indivíduo de maneira disseminada, sanguínea de indivíduo intoxicado por partículas de
sendo chamada de argiria sistêmica. Vale ressaltar que chumbo (setas).
quando afeta os olhos essa condição é chamada de
argirose. No SNC, o chumbo deposita-se nos astrócitos, células
que mantêm a integridade da barreira hematoencefálica
Plumbismo ou saturnismo e, assim, protegem o SNC. Além disso, há a alteração
do metabolismo de carboidratos, com diminuição da
Outra forma de intoxicação causada por pigmentos
glicose circulante no cérebro e aumento da síntese de
exógenos é o plumbismo ou saturnismo, que ocorre
neurotransmissores como dopamina, acetilcolina e do
pela ingestão do chumbo. Além da via gastrointestinal,
ácido aminobutírico (GABA), o que pode ocasionar
o chumbo pode entrar no organismo por via inalatória.
um quadro de defeitos cognitivos.
Os indivíduos mais suscetíveis à contaminação com o
O plumbismo pode afetar também o intestino, onde
chumbo são trabalhadores das áreas de mineração e
causa enrijecimento da parede abdominal, além de
indústria, que pela sua ocupação apresentam contato
nefropatia tubular nos rins e reações na pele como
periódico com esse metal. Embora esse quadro
dermatite e úlceras.
acometa também crianças especialmente pelo contato
com brinquedos que contenham tintas à base de SAIBA MAIS
chumbo.
Os metais também podem se acumular na parede do
O chumbo não apresenta nenhuma função fisiológica e vaso causando aterosclerose (acúmulo de gordura ou
tem efeito nocivo em quase todos os órgãos e sistemas. outras moléculas na parede do vaso dificultando a
passagem sanguínea).
E COMO O CHUMBO AFETA O INDIVÍDUO?
Assim que o chumbo atinge a circulação sanguínea, ele
se deposita no sangue, nos tecidos moles e os ossos,
mas o sítio primário de armazenamento são os ossos.
Essa molécula forma complexos estáveis com enxofre,
fósforo, nitrogênio, oxigênio (grupamentos -SH, -
H2PO3, -NH2, -OH) e conseguem imitar ou inibir o
cálcio e interagir com aminas e aminoácidos livres,
A intoxicação por chumbo pode ser aguda, também
alterando o funcionamento de membranas plasmáticas,
chamada de encefalopatia plúmbica aguda, que
de enzimas e proteínas.
acomete principalmente crianças, com edema,
A toxicidade está normalmente relacionada ao sistema dilatação dos pequenos vasos, hemorragias petéquias
hematopoiético e nervoso, sendo o Sistema Nervoso na substância branca cerebral e inchaço no endotélio.
Central (SNC) o mais sensível. Podemos observar também sintomas como náuseas,
irritabilidade, convulsões e dores de cabeça devido ao
No sistema hematopoiético, a presença de chumbo aumento da pressão intracraniana.
costuma alterar a síntese de hemoglobina, a membrana
do eritrócito e diminuir o tempo de vida da hemácia, Nos indivíduos que sofrem de plumbismo crônico, a
causando anemia e estimulando a eritropoiese (síntese presença de chumbo lesiona fibras mielínicas, o que
de novos eritrócitos). leva ao desenvolvimento de neuropatia periférica, e
gera atrofia em diversas áreas do cérebro.
No sangue periférico de indivíduos intoxicados, os
eritrócitos apresentam inclusões de ferro (siderócitos), Fraqueza muscular, convulsões e dificuldades de
sendo revelados em lâminas de distensão sanguínea enxergar também são sintomas frequentes. O mais
como pigmentações basofílicas, ou seja, pontos azuis comum é encontrarmos evidências da deposição de
dentro das hemácias. No entanto, a anemia não aparece chumbo nos ossos e na mucosa oral e gengiva, onde
de forma precoce, ela ocorre após exposição observa-se uma linha escurecida característica dessa
prolongada e com altas concentrações de chumbo. condição.
Alimentos
ricos em caroteno.
A conversão do caroteno em vitamina A acontece no
intestino, e o organismo realiza a excreção via cólon e
epiderme, principalmente pelas glândulas sudoríparas.
Assim, quando a ingestão acontece de forma
Radiogr exagerada, a excreção dessa substância pode não
afia de osso com presença de linha de chumbo acontecer de maneira suficiente, o que faz com que o
indicada pela seta. estrato córneo da epiderme reabsorva o excesso não
eliminado, que por sua vez se acumula no local e se
DICA torna visível na pele, causando a condição chamada
A intoxicação por chumbo pode ser tratada com terapia de carotenodermia, comum em crianças e que não
quelante. Essa terapia consiste na administração de causa nenhum problema além da alteração de
medicamentos capazes de se ligar ao chumbo e coloração da pele. A pele amarelada é a principal
favorecer a eliminação dos metais pela urina. característica clínica da carotenose.

TERAPIAS QUELANTES USADAS NO Níveis reduzidos de lipoproteínas responsáveis pelo


TRATAMENTO DE INTOXICAÇÕES transporte dos carotenos, de ácidos biliares e lipases
pancreáticas que auxiliam na sua absorção, além de
Neste vídeo, abordamos as terapias quelantes alterações intestinais, são fatores que podem favorecer
utilizadas para eliminação dos metais pesados. o acúmulo dos carotenos.
Pigmentação bismútica ATENÇÃO
Rara de ser encontrada, a pigmentação Por levar ao amarelamento da pele é importante que
bismútica acontece pela intoxicação com sais de seja feito o diagnóstico diferencial com a icterícia.
bismuto. O bismuto costumava ser muito usado no
passado para o tratamento de sífilis. A pigmentação PIGMENTAÇÕES PATOLÓGICAS EXÓGENAS:
bismútica leva ao aparecimento de linhas gengivais de VIA INALAÇÃO
coloração azul ou preto-azulada. Sua capacidade de As pneumoconioses são pneumonias causadas pela
intoxicação é baixa quando comparada a outros metais inalação de partículas inorgânicas que afetam o
pesados, como o chumbo. interstício pulmonar. Costumam ser causadas pela
Carotenose inalação de partículas de dióxido de silício, carvão ou
amianto.
O caroteno é um pigmento vegetal, ou seja, não
sintetizado pelo organismo, no formato de cristais Assim como as formas de pigmentação patológica
encapsulados de coloração amarelada. É facilmente descritas anteriormente, as pneumoconioses são
identificado devido à coloração dos alimentos vegetais desenvolvidas na maioria das vezes pela exposição
ricos em caroteno, como laranja, cenoura, abóbora, ocupacional, e são comuns em indivíduos que
entre outros). O caroteno é a molécula precursora da trabalham em minas de carvão, resultantes da inalação
vitamina A, importante para a visão, diferenciação prolongada de partículas carvão e de sílica partícula
celular e regulação do metabolismo de lipídios. presentes na poeira do carvão.
A chamada pneumoconiose de mineradores de
carvão é causada pela inalação prolongada de
partículas de carvão e é caracterizada pela presença de
máculas de carvão e nódulos com fibras de colágeno,
principalmente, nos bronquíolos.
Essa condição pode evoluir para o enfisema
centrolobular quando há dilatação dos alvéolos
próximos. Quando esse quadro evolui de forma mais
agressiva, causa a fibrose maciça progressiva, com
fibrose intensa e grande acometimento funcional do
pulmão.
Pulmão A fibrose maciça progressiva é descrita pela formação
com pigmentação escura e fibrose em um minerador de de múltiplas lesões entre 1 e 10 cm de diâmetro,
carvão. constituídas de pigmento, colágeno e necrose no centro
Os fatores que favorecem o desenvolvimento das da lesão em alguns casos.
pneumoconioses são:
ESTRUTURA FÍSICO-QUÍMICA E
SOLUBILIDADE DA PARTÍCULA INALADA:
Partículas menos densas e com alta solubilidade
tendem a provocar efeitos de maneira aguda, enquanto
as mais densas e com menor solubilidade podem se
instalar no parênquima pulmonar por anos.
TAMANHO E FORMA
Quanto menor a partícula (1 – 5 µm de diâmetro), mais
facilidade ela tem de alcançar os bronquíolos, ductos Histologia
alveolares e os alvéolos, e por consequência são mais de pulmão com pneumoconiose de mineradores de
perigosas. carvão (pigmentos em preto).

QUANTIDADE
Varia de acordo com o tempo de exposição, quantidade
de partículas presentes no ar e capacidade do
organismo de eliminar as partículas inaladas.
FATORES SECUNDÁRIOS
O tabagismo, por exemplo, facilita a deposição de
partículas no pulmão por lesionar o aparelho
mucociliar.
SAIBA MAIS
O tabagismo facilita o desenvolvimento de infecções
pulmonares pelo impacto que causa na atividade dos Fibrose
macrófagos alveolares. Ainda, o calor provocado pela pulmonar.
fumaça do cigarro é deletério para a mucosa pulmonar.
Antracose
Associada a isso, a ação de outros produtos presentes
na fumaça, como a nicotina, que tem capacidade de A antracose, tipo de pneumoconiose, também é
inibir os movimentos ciliares, aumenta a produção de chamada de doença pulmonar de partículas adquiridas
muco, que acaba ficando retido no pulmão pela domesticamente, e é resultado da inalação de poeira de
inibição do sistema mucociliar. carvão. Normalmente acomete indivíduos das grandes
cidades, fumantes crônicos e pessoas que se intoxicam
Pneumoconiose de mineradores de carvão pela inalação de partículas presentes na queima de
lenha e esterco durante a preparação de alimentos em de inflamassomas nos macrófagos que fagocitam as
casa. partículas.
Assim que são inalados, os pigmentos encontram Os mediadores inflamatórios, em conjunto com a
macrófagos alveolares que os fagocitam, sendo migração de mais células fagocíticas, ativam o
possível observar os pigmentos no citoplasma das processo inflamatório agudo que culmina na
células e nos linfonodos regionais. regeneração tecidual pela fibrose, ou seja, o
parênquima tecidual lesado é substituído pelo tecido
Normalmente, o pulmão apresenta coloração rosada,
conjuntivo.
porém, com a inalação do carvão, o órgão se torna
acinzentado, sendo possível identificar No início do quadro, são observados nódulos pequenos
histologicamente a presença de manchas pretas nas partes superiores do pulmão e nos linfonodos
irregulares no parênquima pulmonar. A antracose hilares, que podem ser brancos ou escurecidos, a
inicialmente não é prejudicial à saúde, mas o depender da presença concomitante de partículas de
agravamento do quadro pode levar à fibrose, carvão.
dificultando a respiração, e lesionar a parede alveolar.
INFLAMASSOMAS
Complexo multiproteico que induz a produção da
citocina interleucina-1, um importante mediador
inflamatório responsável por recrutar mais fagócitos da
circulação sanguínea ao local da lesão.
Com a evolução do quadro, podem se formar áreas de
fibrose nodular coalescente (junção dos nódulos), com
rígidas cicatrizes colagenosas e fibrose maciça
progressiva. É importante dizer que a doença pode
progredir mesmo com o fim da inalação de novas
partículas.
Depósito Histologicamente, nas lesões, observam-se fibras de
de cálcio no interior do citoplasma (partículas pretas) colágeno em espiral cercadas por macrófagos com as
dos macrófagos. partículas inaladas. Como nas fases iniciais a doença é
Silicose assintomática, o diagnóstico é feito pelo histórico do
paciente junto com exames de imagem para a
A silicose ocorre pela inalação de cristais de dióxido visualização dos nódulos nas zonas superiores do
de silício (ou sílica), e não é considerada um distúrbio pulmão, bem como a coalescência dos nódulos e a
de pigmentação. No entanto, é uma pneumoconiose presença de enfisema.
que se desenvolve após exposição longa à sílica, uma
partícula altamente irritante, que ativa o sistema
imunológico inato, desencadeando uma resposta
inflamatória relevante e predispõe a outras infecções
pulmonares.
Essa doença é a doença ocupacional crônica mais
prevalente.

Pequeno
nódulo característico de silicose, com a presença de
partículas inaladas (grânulos pretos) dentro de
macrófagos.

Areia VOCÊ SABIA


de sílica.
Pacientes com silicose têm mais chances de
Na silicose ocorre a liberação acentuada de mediadores desenvolver câncer de pulmão, e são mais suscetíveis à
inflamatórios resultante da ativação tuberculose, pela redução na capacidade dos
macrófagos pulmonares em eliminar o Mycobacterium intersticial generalizada e fibrose. A asbestose é
tuberculosis. marcada pela presença de corpos de asbesto (ou
amianto) que surgem após a fagocitose das fibras.
Estas, por sua vez, ficam cobertas por hemossiderina,
derivada da ferritina das células fagocíticas.
Os corpos de amianto, histologicamente, apresentam
formato de bastão com coloração castanho-dourada,
translúcidos no centro, cobertos por gotículas. A única
diferença para a fibrose intersticial normal é a presença
dos corpos de asbesto.

Telhas de
amianto eram muito usadas na construção civil.
Asbestose
É o nome da doença causada pela inalação de
partículas de asbesto ou amianto. Devido às suas
Pulmão com
propriedades, como baixo custo, resistência ao calor e
asbestose, com presença de fibrose intersticial e corpos
maleabilidade, esse material foi muito utilizado na
de asbesto (estruturas em marrom).
construção civil.
Alguns pacientes desenvolvem hipertensão pulmonar
A principal forma de exposição ao amianto também
pelo estreitamento das artérias. Um achado da
ocorre de forma ocupacional em trabalhadores de
asbestose é a presença de placas bem definidas
mineração, indústrias, instalação e ensacamento de
formadas por colágeno denso, geralmente calcificadas,
produtos de cimento-amianto, entre outras áreas. O com ausência de corpos de asbesto ao longo da pleura.
produto está proibido em muitos países do mundo, Além disso, o tecido fibroso cria espaços dilatados e
inclusive no Brasil desde 2017. essas regiões apresentam um padrão de favo de mel.
O amianto, além de ser um potente indutor e promotor O diagnóstico se dá pelo histórico do paciente em
tumoral, também é um potente indutor de fibrose conjunto com exames de imagem em que é possível
pulmonar. As fibras de amianto possuem diferentes visualizar a presença das estruturas em forma de favo
características de aerodinâmica, solubilidade e de mel, densidades irregulares no pulmão, além de
flexibilidade. testes de função pulmonar.
As fibras mais solúveis são eliminadas aos poucos dos ATENÇÃO
tecidos, enquanto as menos solúveis e mais rígidas são
mais perigosas, pois, a partir da corrente sanguínea, Na pneumoconiose e silicose, a fibrose inicia na região
podem penetrar nas células endoteliais e atingir partes superior do pulmão; já a asbestose tem origem na
mais profundas do pulmão. No entanto, ambas causam região inferior, e evolui para a parte superior do
a fibrose pulmonar. pulmão conforme a fibrose avança.
MÓDULO 3

Descrever o conceito de calcificação patológica, seus


aspectos gerais e clínicos
TECIDO ÓSSEO E REMODELAMENTO ÓSSEO
Antes de explorarmos as calcificações patológicas,
precisamos lembrar de alguns conceitos importantes
sobre o tecido ósseo.
Fibras
de asbestos podem acumular-se nos pulmões. O corpo humano adulto é formado por um esqueleto
com 206 ossos, responsáveis por dar sustentação ao
Assim como na silicose, ocorre a liberação de
corpo, proteção aos órgãos vitais, como o SNC, alojar
mediadores inflamatórios e fibrogênicos por ativação
e proteger a medula óssea (local de produção das
do inflamassoma. Observa-se inflamação pulmonar
células do sangue), sustentar os músculos esqueléticos
e funcionar como armazenamento de alguns sais
minerais, como o cálcio.

Corte
transversal de um osso analisado por microscopia
mostrando sua estrutura.
O osso apresenta como componente estrutural o tecido O tecido ósseo é classificado como tecido ósseo
ósseo, um tecido conjuntivo especializado, composto compacto (denso) e tecido ósseo esponjoso
por células e uma matriz extracelular rígida. A matriz é (trabecular). O tecido ósseo compacto é a parte rígida,
composta de uma parte orgânica (matriz osteoide), mais externa e presente em maior quantidade na parte
formada principalmente por fibras de colágeno e pela central do comprimento dos ossos. Já o tecido ósseo
substância fundamental (formadas por proteínas não esponjoso está presente em maior quantidade nas
colagenosas como proteoglicanos e glicoproteínas) e extremidades dos ossos, possui redes de espaços
uma inorgânica mineralizada extremamente rígida de intercomunicantes, além de abrigar a medula óssea.
íons de cálcio e fosfato, que formam os cristais de
hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2). O tecido ósseo se encontra sempre em remodelamento,
pois constantemente precisa modificar sua forma ou
estrutura, em diversas situações, por exemplo, para um
osso primário (primeiro tecido ósseo formado) tornar-
se maduro, para manter sua forma ou se adaptar a
novas situações fisiológicas ou patológicas.

Esqu
ema ilustrando a organização do tecido ósseo. Esquema
Na matriz óssea, há lacunas contendo células ósseas mostrando o processo de remodelamento ósseo e as
chamadas de osteócitos; conectadas por uma rede células envolvidas.
contínua de canalículos e lacunas por toda a massa de O processo de remodelação ocorre pela reabsorção e
tecido mineralizado. Além dos osteócitos, esse tecido é deposição da matriz óssea, comandadas pelos
formado por células osteoprogenitoras, células osteoclastos e osteoblastos. O primeiro evento é a
derivadas das células-tronco mesenquimais que ativação e formação dos osteoclastos (células grandes,
originam os osteoblastos, responsáveis pela secreção multinucleadas e derivadas da fusão de monócitos).
da matriz extracelular. Para isso, os osteoblastos produzem colagenase,
removendo a camada de osteoide, expondo a matriz
Osteoclastos são células de reabsorção óssea presentes
mineralizada aos osteoclastos.
nas superfícies ósseas onde o osso está sendo removido
ou remodelado (reorganizado) ou onde o osso foi Uma vez ativadas, essas células liberam uma série de
lesionado. Os osteócitos representam os osteoblastos enzimas proteolíticas, que agem removendo o cálcio e
recobertos de matriz extracelular. o fosfato do tecido ósseo, além de colágeno,
desmineralização e degradação da matriz óssea
(reabsorção óssea).
Em contrapartida, a formação do osso envolve a
proliferação e migração das células osteoprogenitoras e
a diferenciação dos osteoblastos, que darão origem à
matriz extracelular, com depósito de fosfato e cálcio.
Além disso, é fundamental para a manutenção dos A vitamina D pode ser absorvida pelos alimentos,
níveis de cálcio normal no organismo. como atum e salmão, por via intestinal ou sintetizada
endogenamente mediante exposição à radiação UV. A
O osso serve como um reservatório de íons cálcio. A
síntese endógena de vitamina D corresponde à 90% da
manutenção dos níveis de cálcio normais no organismo
quantidade necessária para o organismo. Quando há
é de suma importância para a manutenção da vida.
exposição aos raios UV, a molécula precursora 7-
Quando os níveis de cálcio sanguíneo diminuem, o
desidrocolesterol, presente na epiderme, é convertida
cálcio pode ser mobilizado da matriz óssea, e quando
em vitamina D (também chamada de colecalciferol).
os níveis aumentam, ele pode ser removido do sangue
e depositado nos ossos. Alguns hormônios também estão diretamente
relacionados com a homeostase dos níveis de cálcio
Os osteócitos controlam os níveis de cálcio e fosfato
circulantes. Nos quadros de hipercalcemia, a glândula
no ambiente da matriz e se encontram interligados nos
tireoide é estimulada a produzir um hormônio
canalículos do interior do osso, facilitando a
chamado de calcitonina, que estimula absorção e
movimentação das moléculas.
deposição de cálcio no tecido ósseo, inibe reabsorção
O cálcio circula pelo corpo principalmente na sua óssea feita pelos osteoclastos e reduz a reabsorção
forma inativa e sua absorção acontece no intestino, renal de cálcio, reduzindo, assim, os níveis de cálcio
mais especificamente no duodeno. Além de fatores circulantes.
hormonais, a deficiência de vitamina D interfere na
De maneira contrária age o paratormônio (PTH),
absorção de cálcio.
hormônio produzido pelas paratireoides que induz um
A vitamina D, de qualquer fonte (fotossintetizada ou aumento na concentração de cálcio na corrente
ingerida na alimentação), é encaminhada para o fígado, sanguínea, pois estimula a ativação de osteoclastos
onde é convertida em outra molécula, a 25- que, ao causar a desmineralização e degradação da
hidroxicolecalciferol (25-OH-D). Por fim, a 25-OH-D matriz, libera cálcio e fósforo para a corrente
é convertida nos rins na forma mais ativa da vitamina sanguínea.
D, a 1,25-di-hidroxivitamina D (1,25-OH-2D).
Além disso, estimula a absorção de cálcio pelo
intestino, a síntese de vitamina D e a reabsorção renal
de cálcio.

Etapas
do mecanismo de absorção da vitamina D.
Qual a relação da vitamina D com os ossos?
A vitamina D ativada regula o metabolismo do cálcio, Mecanis
mantendo a concentração plasmática nos níveis mo de homeostasia de cálcio realizado pela calcitonina
desejáveis para o bom funcionamento do organismo. e pelo paratormônio (PTH).
Ela atua estimulando o aumento da absorção intestinal
e reabsorção desses íons pelo rim, mantendo os níveis CALCIFICAÇÃO PATOLÓGICA
de cálcio e fósforo no plasma.
Uma vez que o tecido ósseo está em constante
Além disso, a vitamina D estimula os osteoblastos a remodelamento, como ocorre o processo de
produzir a proteína osteocalcina, estimulando a síntese calcificação patológica?
de matriz e o depósito no tecido ósseo de cálcio e RESPOSTA
fosforo.
O processo de calcificação patológica ocorre quando
SAIBA MAIS há a deposição anormal de sais, principalmente de
cálcio, juntamente com quantidades menores de ferro e
outros sais minerais, como o magnésio e o fósforo, nos Macroscopicamente, os sais de cálcio são vistos na
tecidos moles, fazendo com que esses tecidos se forma de grânulos ou grumos brancos, muitas vezes
tornem enrijecidos. palpáveis, independentemente do local de deposição.
Microscopicamente e corados com hematoxilina e
Nesses tecidos, os sais de cálcio precipitados são
eosina, os sais apresentam características granulares,
similares à hidroxiapatita e sua deposição e
amorfa e basofílicas (azuis), formando grumos, às
precipitação inicial ocorrem de maneira espontânea e
vezes.
gradual, sendo chamadas de nucleação primária.
Uma vez depositados, esses cristais precipitados Podem ser encontrados no espaço intracelular,
favorecem a precipitação de mais cristais, em uma fase extracelular ou em ambos. Eventualmente, há a
chamada de nucleação secundária. formação de um foco de cristalização com células
necróticas individuais, que pode ser ampliado pelo
Além disso, os sais de cálcio circulantes também constante acúmulo de minerais. O ganho progressivo
ajudam a manter o processo de calcificação. Na dessas camadas externas cria o que chamamos
presença do íon fosfato, o cálcio circulante se liga e de psamomas, devido à sua semelhança com os grãos
origina o fosfato de cálcio, uma substância insolúvel de areia.
que se deposita com mais facilidade, podendo
acumular nos vasos sanguíneos. No entanto, esses CALCIFICAÇÃO METASTÁTICA
cristais podem ocorrer como depósitos amorfos não
A calcificação metastática ocorre nos tecidos normais
cristalinos.
sempre em situações de hipercalcemia, que pode ter
Dependendo do local de deposição, as calcificações quatro causas principais, como:
patológicas podem ser distróficas ou metastáticas.
I. O aumento da secreção de paratormônio
CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA devido a tumores das paratireoides
(hiperparatireoidismo), que estimula os
Tipo mais comum de calcificação, ocorre com
osteoclastos que, ao causar a desmineralização
acúmulo de sais de cálcio nos tecidos mortos ou
e degradação da matriz, liberam cálcio e
lesados, ou seja, onde existam alterações teciduais, de
fósforo para a corrente sanguínea;
forma local e independente da concentração plasmática
de cálcio. Essa calcificação é encontrada em focos de II. A destruição de tecido ósseo decorrente de
necrose tecidual e celular, e está quase sempre presente tumores primários da medula óssea,
nas placas ateroscleróticas avançadas. remodelamento ósseo, metástases esqueléticas
disseminadas ou imobilização;
Também se desenvolve comumente nas valvas
cardíacas envelhecidas ou danificadas, dificultando III. Distúrbios relacionados à vitamina D;
ainda mais sua função; estão relacionadas à trombose
IV. Insuficiência renal.
venosa, infartos, pancreatite aguda com esteatonecrose
e causam obstrução em canais como ductos biliares. Além disso, pode ocorrer em menor quantidade, em
VOCÊ SABIA quadros de hiperfosfatemia, geralmente relacionada a
distúrbios no metabolismo de cálcio.
Fibras elásticas e colágenas, ácidos graxos, proteínas
desnaturadas, entre outras estruturas, podem agir como Essa calcificação pode acontecer em qualquer lugar do
iniciadores de nucleação primária, favorecendo, assim, corpo, mas acometem principalmente os rins, pulmões,
a deposição de sais de cálcio precipitados. estômago e artérias. Essa predileção por esses locais é
explicada pelo fato de esses órgãos secretarem
substâncias ácidas; sendo assim, o seu interior é
alcalino e favorece a precipitação dos sais de cálcio.

Psamomas, forma de calcificação distrófica.


Calcificação
metastática das paredes alveolares e vasos sanguíneos
em uma área de pneumonite aguda.
Nos rins, pode produzir a nefrocalcinose, nome dado
Pulmã ao acúmulo de cálcio no parênquima ou túbulo renal,
o com calcificação metastática (calcificação em branco levando à insuficiência renal. No quadril e nas
na região central do órgão). articulações, é comum encontrar a presença de
calcificações metastáticas com características
HIPERFOSFATEMIA tumorais.
Aumento nos níveis de fosfato no sangue. SAIBA MAIS
Existem ainda calcificações sem a presença de lesão
prévia, como a calcificação distrófica, e com os níveis
séricos de cálcio e fosfato normais. Essa calcificação,
chamada de calcinose idiopática, costuma se
estabelecer de forma assintomática na pele, em
especial na região escrotal.
NEOPLASIAS DE OSSO E CALCIFICAÇÕES
Neste vídeo, a especialista abordará as calcificações
irregulares que ocorrem em uma neoplasia benigna
(osteoblastoma) e maligna (osteossarcoma).
CÁLCULOS OU CONCREÇÕES OU LITÍASES
Os cálculos são massas solidificadas que podem ser
esféricas, ovais ou facetadas, formadas em órgãos
ocos, predominantemente nos rins e na vesícula biliar.
Popularmente, esse quadro é chamado de pedra na
Nefrocal vesícula ou nos rins.
cinose no parênquima renal vista por radiografia. Setas Essas estruturas também podem ser chamadas de
indicam as calcificações. litíases, e são classificadas usando-se como sufixo o
As características macroscópicas das calcificações órgão afetado: colelitíase, nefrolitíase, sialolitíase. A
metastáticas são semelhantes às classificações composição dos cálculos é de origem endógena e varia
distróficas. Além disso, microscopicamente, os de acordo com o órgão em que eles são formados.
depósitos de cálcio nos tecidos são semelhantes. Na SIALOLITÍASES
radiografia, as calcificações são visíveis, gerando
manchas brancas (radiopacas) nos locais em que se As sialolitíases, embora não tenham causa específica,
encontram. são originadas muitas vezes por associação à obstrução
das glândulas salivares por restos de alimentos, o que
Em geral, seu acúmulo não causa disfunção clínica. favorece o crescimento bacteriano.
Porém, o envolvimento grave dos pulmões leva a um
sério comprometimento respiratório. COLELITÍASE
Os cálculos biliares são formados na maioria das vezes
pela produção aumentada da bile, fazendo com que
frações insolúveis compostas por sais de cálcio,
bilirrubina e outras substâncias insolúveis precipitem
ao redor de núcleos orgânicos.
Podem também ser desenvolvidos na forma de
cálculos de colesterol. Essa massa ou pedra endurecida
pode obstruir as vias biliares e causar icterícia, dores e
quadros de pancreatite aguda.

Pe
dras ou cálculos renais.
Tema 3
C Distúrbios da circulação
álculos de colesterol na vesícula biliar com colecistite.
DESCRIÇÃO
Os cálculos de colesterol são de cor amarela; já os
cálculos biliares formados por cálcio e bilirrubina, são Princípios fundamentais da circulação e hemostasia.
pigmentados na cor marrom à negra. Cerca de 80% dos Conceituação e aspectos gerais dos principais
casos de cálculo biliar são assintomáticos. Entretanto, distúrbios hemodinâmicos.
nos casos sintomáticos, pode haver dor na região da PROPÓSITO
vesícula e, nos casos mais graves, pode
gerar colecistite. Compreender os conceitos gerais da circulação, os
fundamentos da hemostasia e os princípios
NEFROLITÍASE fisiopatológicos envolvidos nos distúrbios
No caso dos cálculos renais (nefrolitíase), o cálcio hemorrágicos e hiperêmicos, na trombose, embolia,
presente na urina é o principal componente. A isquemia e no infarto, além da aterosclerose, do edema
formação de cálculos renais por ácido úrico e outras e choque, é importante para entender os distúrbios e as
substâncias também acontece, porém, de maneira diferenças relacionadas a eles.
menos frequente. OBJETIVOS
MÓDULO 1
Definir os conceitos gerais de circulação e hemostasia
e descrever as características dos processos de
hemorragia, hiperemia, trombose, embolia e isquemia
MÓDULO 2
Descrever os princípios fundamentais de infarto,
Cálculos
aterosclerose, edema e choque
ou pedras presentes no tecido renal.
INTRODUÇÃO
Geralmente, as pedras são pequenas e possuem
formato pontiagudo e irregular. Existem três A circulação é o mecanismo pelo qual o sangue é
mecanismos associados à geração dos cálculos renais: distribuído por todo o corpo, a partir do bombeamento
do coração e transporte pelos vasos sanguíneos.
 O primeiro é pela formação e adesão dos
Basicamente, as funções do sistema circulatório são:
cálculos na papila renal;
promover a correta perfusão tecidual, gerar e manter a
 O segundo é quando os cálculos são formados pressão interna ao longo de sua estrutura, fornecer as
aderidos às saídas dos ductos coletores; substâncias essenciais ao metabolismo celular e
transportar substâncias que devem ser excretadas nos
 O terceiro se dá quando os cálculos são seus locais de destino.
gerados livres na urina.
Vamos aqui revisar alguns conceitos importantes em
Os principais sintomas dos cálculos renais são dores relação à circulação, como a função dos vasos
severas, hematúria e o favorecimento de infecções. sanguíneos e os princípios de manutenção do fluxo.
Além disso, vamos entender as principais etapas da
hemostasia, processo fundamental para a formação do
coágulo que impede o agravamento de hemorragias.
Esse conhecimento será utilizado no estudo que
faremos sobre os distúrbios hemodinâmicos, que
apresentam alto impacto na saúde pública em termos
de morbidade e mortalidade. Vamos compreender,
então, as definições e os conceitos fundamentais
envolvidos nos distúrbios hemorrágicos, na doença
tromboembólica, aterosclerose, isquemia, no infarto,
choque e edema.
Prepare-se para um longo e interessante caminho a ser
trilhado! Artérias grandes ou elásticas

MÓDULO 1 Inclui a aorta, seus ramos grandes e as artérias


pulmonares.

Definir os conceitos gerais de circulação e


hemostasia e descrever as características dos
processos de hemorragia, hiperemia, trombose,
embolia e isquemia
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA CIRCULAÇÃO
Resumidamente, a circulação em vertebrados se dá por
uma bomba (coração), por canais de coleta e
distribuição (artérias, veias e vasos linfáticos) e por
uma extensa rede de vasos finos (capilares) que
permitem a troca eficiente de substâncias entre o
sangue e os tecidos. Nesse contexto, relembrar a
estrutura e função dos vasos sanguíneos é fundamental
para compreendermos como ocorre o processo de
hemostasia e os distúrbios relacionados a ela.

Artérias de médio calibre ou musculares


Compreende outros ramos da aorta, como, por
exemplo, as artérias coronárias e renais.

Sistema
circulatório humano mostrando o fluxo sanguíneo.
Sangue venoso em azul e sangue arterial em vermelho.
As artérias são vasos sanguíneos com parede espessa
e resistente. A maior artéria do corpo, a artéria aorta,
sai do coração levando sangue rico em oxigênio
(arterial) para o restante do organismo. Já as artérias Pequenas artérias e arteríolas
pulmonares transportam sangue venoso, rico em CO2,
para os pulmões. Está presente dentro dos tecidos e órgãos.

As artérias são classificadas em três tipos, com base Por causa de sua composição, as artérias são capazes
em seus tamanhos e suas características estruturais: de transportar o sangue com alta velocidade e pressão.
Comparativamente às artérias, no mesmo nível de Íntima
ramificação, as veias são vasos que possuem diâmetros
É a camada mais interna, que está em contato com o
maiores, luz maior, paredes mais finas e tecido
sangue circulante e normalmente consiste em uma
muscular pouco desenvolvido. Além disso,
única camada de células endoteliais sobre sua
possuem válvulas formadas por tecido conjuntivo, que
membrana basal. É separada da média pela lâmina
impedem o fluxo sanguíneo retrógrado. As veias e suas
elástica interna.
ramificações, as vênulas e vênulas pós-capilares, são
responsáveis por transportar o sangue venoso dos Média
tecidos para o coração. A exceção são as veias
umbilicais e pulmonares, que transportam sangue É uma camada intermediária, que contém muita
arterial, rico em O2, para a placenta e para o coração, elastina e permite a expansão e contração das veias
respectivamente. durante os movimentos cardíacos, por exemplo. Além
disso, destaca-se por ser rica em células musculares
Os capilares são ramificações de veias e artérias em lisas.
tamanhos minúsculos, com parede muito fina e
delgada, composta apenas de uma célula endotelial Adventícia
envolta por esparsos pericitos. Os capilares formam Fica na parte externa da média, muitas vezes separada
uma extensa rede e, por conta de sua composição, dela por uma lâmina elástica externa bem definida. A
permitem a pronta difusão do oxigênio e nutrientes camada adventícia consiste em tecido conjuntivo
entre o sangue e os tecidos. frouxo, fibras neurais e pequenas arteríolas.
A imagem a seguir mostra a organização básica da
vasculatura, bem como as mudanças de espessamento
e composição das várias camadas, de acordo com as
forças hemodinâmicas e as necessidades teciduais.

Rede de capilares
evidenciada em pele inflamada.
O padrão e a composição celular dos vasos sanguíneos
são muito semelhantes em todo o sistema vascular.
Porém, encontramos algumas características estruturais
que refletem as diferentes funções dos tipos
específicos de vasos. As paredes arteriais são mais
grossas que as das veias no mesmo nível de
ramificação, pois servem para aguentar o fluxo pulsátil
e as pressões arteriais mais altas. A espessura da parede
Org
arterial vai diminuindo gradualmente, à medida que o
anização básica da vasculatura.
vaso diminui.
Agora que você está familiarizado com a estrutura e
Os componentes básicos das paredes vasculares são
função dos vasos, vamos conhecer alguns princípios
as células endoteliais e as células musculares lisas,
envolvidos na circulação e no fluxo sanguíneo que
associadas a constituintes de matriz extracelular, como
serão importantes para o nosso estudo daqui para
elastina e colágeno. A quantidade e configuração
frente.
desses elementos variam ao longo da vasculatura em
razão das necessidades mecânicas e metabólicas locais. MANUTENÇÃO DO FLUXO UNIDIRECIONAL
Nas artérias e veias, a organização se dá em três A manutenção do fluxo no interior do sistema
camadas concêntricas: circulatório depende principalmente da força contrátil
do coração. A contração dos ventrículos ejeta o sangue
PERICITOS
tanto para a circulação pulmonar quanto sistêmica e a
São células do tipo mesenquimal, associadas ao quantidade de sangue ejetada por cada ventrículo,
endotélio dos capilares sanguíneos. São células denominada de débito cardíaco, depende da
relativamente indiferenciadas, no entanto podem se frequência cardíaca e do volume disponível no
diferenciar em fibroblastos, macrófagos ou células ventrículo. O sangue bombeado flui pelas artérias,
musculares lisas, conforme a necessidade. Servem passa pela rede de capilares e retorna aos átrios, em um
como suporte para os capilares. movimento chamado retorno venoso.
O equilíbrio entre o débito cardíaco e o retorno venoso Plaquetas, hemácias e leucócitos. Os elementos
é mantido com a ejeção de sangue pelos ventrículos, a figurados constituem cerca de 45% do volume do
impulsão intermitente do sangue pelos músculos sangue, enquanto o plasma constitui 55% do seu
esqueléticos, o movimento respiratório e a pulsação volume.
arterial, que constituem as outras bombas do sistema.
PERFUSÃO TECIDUAL
Tanto os músculos esqueléticos quanto a pulsação
arterial pressionam as veias em direção ao coração, Chegada de sangue oxigenado aos tecidos.
fazendo com que o sangue flua para os átrios.
O fluxo sanguíneo entre os lados arterial e venoso no
Os movimentos respiratórios aumentam a pressão sistema circulatório depende da diferença de
negativa intratorácica, promovendo a sucção do sangue pressão entre esses dois compartimentos e
das veias sistêmicas em direção ao átrio direito. Já o da resistência oferecida pelos vasos à passagem de
retorno venoso dos pulmões é favorecido durante a sangue. A resistência, por sua vez, é inversamente
expiração, quando há a contração pulmonar e dos proporcional ao comprimento e calibre do vaso,
vasos sanguíneos pulmonares. O fluxo sanguíneo dependendo também do atrito entre as células e a
retrógrado no sistema circulatório é impedido pela superfície endotelial. Logo, é fácil entendermos por
existência das válvulas atrioventriculares, que as arteríolas são importantíssimas no controle da
ventriculoarteriais e venosas, que garantem pressão arterial, pois a resistência periférica,
a unidirecionalidade do fluxo. componente fundamental da pressão, aumenta quanto
menor é o diâmetro do vaso.
A viscosidade do sangue e a velocidade do fluxo fazem
com que os elementos figurados ocupem o eixo da
coluna em movimento, em que os elementos maiores
se deslocam com maior velocidade no centro do vaso e
os menores mais próximos à superfície endotelial, com
menos velocidade. Esse cenário é denominado
de fluxo laminar e evita o contato direto dos
Válvula elementos figurados ao endotélio. O atrito entre os
s cardíacas. elementos figurados e a parede vascular também é
evitado pela força de cisalhamento oferecida pela
FATORES QUE INFLUENCIAM O FLUXO sístole ventricular e anatomia curvada da aorta.
SANGUÍNEO
O sangue é uma suspensão na qual células estão
dispersas em uma parte líquida, o plasma, onde
encontramos muitas moléculas dissolvidas. Junto com Padrão laminar do
as células, essas moléculas determinam a viscosidade fluxo sanguíneo. Hemácias e leucócitos circulam na
sanguínea e, consequentemente, sua fluidez e parte central da coluna de sangue, enquanto plaquetas
velocidade dentro dos vasos. Variações na quantidade e fluem mais perifericamente, próximas ao endotélio.
na forma dos elementos figurados e na composição
plasmática podem causar mudanças na viscosidade A perda do fluxo laminar leva à turbulência do sangue,
sanguínea e alterar a perfusão tecidual. favorecendo a aproximação dos elementos figurados
ao endotélio. Nesse contexto, as plaquetas são
ativadas, aderem ao endotélio e podem contribuir para
trombose e aterosclerose, como veremos mais adiante.
REGULAÇÃO DO SISTEMA
A regulação do fluxo sanguíneo para os tecidos ocorre
na microcirculação, em que as arteríolas podem
apresentar grandes variações na sua luz, com dilatação
ou contração. A vasoconstrição aumenta a resistência
Hemácias vascular periférica que, como já vimos, aumenta a
, plaquetas e leucócitos: os elementos figurados do pressão arterial. Já a vasodilatação arteriolar aumenta o
sangue. fluxo de sangue para os tecidos.
ELEMENTOS FIGURADOS A microcirculação reage a estímulos para compensar
alterações sistêmicas de pressão e volume, além de
responder a estímulos locais quando há aumento pela
demanda de sangue, oxigênio e nutrientes. O controle
da microcirculação é realizado a partir de reguladores
neurais, hormonais, endoteliais e metabólicos.
ATUAÇÃO DOS VASOS LINFÁTICOS
Além dos vasos sanguíneos, os vasos
linfáticos também compõem o sistema circulatório.
Eles possuem paredes finas revestidas por endotélios
especializados e conduzem a linfa, formada a partir da
reabsorção do líquido intersticial filtrado nos capilares Formaçã
sanguíneos. Ela contém água, micro e macromoléculas o do tampão hemostático.
e leucócitos. Após a lesão vascular, mecanismos neurais associados
É importante destacar que, além de oferecer retorno do à secreção local de fatores vasoconstritores pelo
fluido intersticial e leucócitos à corrente sanguínea, os endotélio (como a endotelina) induzem
vasos linfáticos também podem transportar a vasoconstrição. Esse evento é imediato, transitório e
microrganismos e células tumorais, representando uma reduz bastante o fluxo sanguíneo na região, mas não é
importante via para a disseminação de doenças. suficiente para parar totalmente o sangramento, pois é
fundamental a ativação das plaquetas e fatores de
coagulação.
A lesão endotelial expõe o fator de von Willebrand e
o colágeno na matriz extracelular, que promovem
a aderência e ativação plaquetária. Plaquetas
ativadas apresentam importante alteração morfológica,
passando de pequenos discos arredondados para placas
achatadas, emitem prolongamentos que permitem o
aumento da sua superfície de contato e começam a
liberar grânulos secretores, que atuam no recrutamento
de mais plaquetas, formando assim o tampão
hemostático primário.

Os vasos
linfáticos também compõem o sistema circulatório.

Plaquetas ativadas durante a formação do tampão


hemostático primário.

HEMOSTASIA FATOR DE VON WILLEBRAND

Uma vez compreendidos os princípios básicos da É sintetizado por células endoteliais e megacariócitos
circulação, é hora de entender como ocorre o processo (progenitores das plaquetas) e tem como funções
hemostático. A hemostasia ocorre em locais de lesão principais mediar a adesão das plaquetas ao endotélio
vascular, envolvendo plaquetas, endotélio e fatores de na hemostasia e manter os níveis plasmáticos do fator
coagulação. Ela se desenvolve de maneira muito VIII (uma proteína pró-coagulante).
regulada e resulta na formação de um tampão
Além do fator de von Willebrand e do colágeno
constituído de fibrina, hemácias, plaquetas e
subendotelial, o endotélio lesionado também expõe
eventualmente alguns leucócitos, prevenindo ou
o fator tecidual, uma glicoproteína pró-coagulante
limitando uma hemorragia.
ligada à membrana. O fator tecidual se liga e ativa o
fator VII, iniciando uma cascata de reações que resulta
na formação da trombina. A principal função da concentração de mais plaquetas e fatores de
trombina é converter o fibrinogênio presente na coagulação.
circulação em fibrina insolúvel, que forma uma malha
A função plaquetária está relacionada à presença de
e atua na ativação plaquetária, fazendo com que mais
vários receptores glicoproteicos, um citoesqueleto com
plaquetas se juntem ao tampão primário. Esse processo
capacidade contrátil e dois principais tipos de grânulos
consolida a hemostasia primária e culmina na
citoplasmáticos: no grânulo α, encontramos as
formação do tampão hemostático secundário
moléculas de adesão selectina-P; proteínas envolvidas
definitivo.
na coagulação, como o fibrinogênio; fator V; fator de
A última etapa do processo hemostático caracteriza-se von Willebrand; e proteínas envolvidas na restauração
pela estabilização e reabsorção do tampão. A massa do tecido lesado, como a fibronectina. Já nos grânulos
de fibrina polimerizada e plaquetas agregadas sofrem δ, também chamados de densos, encontramos
contração e formam um tampão sólido e firme, que moléculas como difosfato e trifosfato de adenosina
previne hemorragias posteriores no local. Nesse (ADP e ATP), cálcio ionizado, serotonina e adrenalina.
momento, mecanismos de contrarregulação, como
o ativador de plasminogênio tecidual e
trombomodulina, são ativados e limitam a coagulação
no local de lesão. Por fim, há o reparo da área vascular
lesada e posterior reabsorção do tampão.

Plaquetas e
seus principais componentes.
Como mencionado anteriormente, quando ocorre uma
lesão endotelial, ocorre a exposição de moléculas
como o fator de von Willebrand e colágeno no tecido
conjuntivo subendotelial. As plaquetas, uma vez que
encontram e se ligam a essas moléculas, passam por
uma sequência de reações que culminam na formação
do tampão plaquetário.
Esquem
a simplificado das etapas de formação do tampão A adesão plaquetária representa o primeiro passo e é
hemostático. mediada, principalmente, pelas interações com o fator
de von Willebrand. Em seguida, algumas alterações
Agora que você já entendeu os principais eventos morfológicas aumentam a superfície de contato das
envolvidos na hemostasia, vamos conhecer mais plaquetas, acompanhadas por alterações em
detalhadamente seus principais componentes. glicoproteínas e fosfolipídios, que aumentam sua
FATOR TECIDUAL afinidade pelo fibrinogênio e servem de base para os
complexos de fatores de coagulação. Juntamente com
É conhecido também como tromboplastina, está esses dois eventos, ocorre a liberação dos conteúdos
presente nos tecidos e no interior das plaquetas e é dos grânulos, resultando no que chamamos
responsável pela conversão da protrombina em de ativação plaquetária.
trombina na presença de íons cálcio, tendo papel
fundamental no processo de coagulação. A trombina e o ADP iniciam a ativação, que culminam
em um fenômeno conhecido como recrutamento, que
ATIVADOR DE PLASMINOGÊNIO produz ciclos adicionais de ativação plaquetária. Nesta
etapa, há também a produção de prostaglandinas, que
É uma serina protease que converte o plasminogênio
em plasmina, promovendo assim a fibrinólise. atuam como indutores potentes da agregação
plaquetária. As alterações em glicoproteínas, citadas
PLAQUETAS anteriormente, permitem a ligação do fibrinogênio, que
forma pontes entre as plaquetas próximas e favorece
As plaquetas são fragmentos celulares, sem núcleo e
sua agregação. Esse processo é reversível, mas com a
em forma de disco, que se originam dos
ativação da trombina há a estabilização do tampão
megacariócitos em locais como a medula óssea. Como
plaquetário, em um ciclo que envolve mais ativação e
vimos, elas desempenham papel fundamental na
agregação, resultando na contração plaquetária
hemostasia, formando o tampão inicial que cobre a
irreversível.
lesão vascular e fornecendo uma base para a ligação e
direta do fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel,
estabilização do tampão hemostático, ativação e
agregação plaquetária e efeitos pró-inflamatórios, que
contribuem para o reparo tecidual e angiogênese. Além
disso, possui efeitos anticoagulantes ao deparar-se com
o endotélio saudável.
A coagulação deve ser restringida ao local da lesão
vascular e um de seus fatores limitantes é a diluição
Adesã promovida pelo fluxo sanguíneo, que “lava” os fatores
o e ativação plaquetária. de coagulação ativados para serem removidos pelo
Junto com esse processo, há a conversão do fígado. A necessidade da base de fosfolipídios
fibrinogênio em fibrina, também pela atuação da negativos, que é fornecida pelas plaquetas ativadas,
trombina. A fibrina atua como um cimento na massa de representa outro fator limitante. Porém, os mecanismos
plaquetas, criando o tampão hemostático secundário. contrarregulatórios mais importantes são os fatores
expressos pelo endotélio saudável próximo ao local da
lesão, como o ativador de plasminogênio tecidual (t-
PA). Durante a cascata de coagulação, a cascata
fibrinolítica também é ativada, limitando o tamanho do
coágulo fibrinoplaquetário e contribuindo para sua
posterior dissolução. A quebra da fibrina é realizada
pela atividade enzimática da plasmina, em um
processo denominado de fibrinólise firmemente
Tampão controlado.
hemostático secundário, contendo fibrina, plaquetas
ativadas, leucócitos e hemácias.
FATORES DE COAGULAÇÃO
Os fatores de coagulação fazem parte de uma série de
reações enzimáticas conhecidas como cascata de
coagulação, que culmina na deposição de um coágulo
de fibrina. Em cada etapa da reação, encontramos uma
enzima, que é um fator de coagulação ativado; um
substrato, que é uma proenzima inativa de um fator de
coagulação; e um cofator, que atua como acelerador da
reação. No exemplo a seguir, esses três componentes
são montados em uma base de fosfolipídios com carga
negativa, que é fornecida pelas plaquetas ativadas.
O
retorno do fluxo sanguíneo à normalidade “lava” os
fatores de coagulação e contribui para a dissolução do
coágulo.
ENDOTÉLIO
Os eventos de formação, propagação ou dissolução dos
coágulos e trombos são frequentemente determinados
A pelo equilíbrio entre as atividades anticoagulantes e
complexidade da cascata de coagulação: os pró-coagulantes do endotélio vascular. Em condições
polipeptídios em laranja são os fatores inativos; em normais, as células endoteliais expressam um conjunto
azul, os fatores ativos; e em verde, os cofatores. de fatores que inibem as atividades pró-coagulantes e
A trombina é considerada o mais importante fator de outros que aumentam a fibrinólise.
coagulação. Possui várias atividades enzimáticas que Todos esses fatores atuam conjuntamente para prevenir
controlam diversos aspectos da hemostasia e fazem a ocorrência de trombose e limitar o coágulo aos locais
uma ponte entre a coagulação, a inflamação e o reparo de lesão vascular. Porém, uma vez lesionadas ou
tecidual. Entre essas atividades, estão a conversão expostas a moléculas pró-inflamatórias, as células
endoteliais perdem várias de suas propriedades
antitrombóticas.
Estudaremos os mecanismos gerais pelos quais o
endotélio contribui para a trombose mais adiante, mas
aqui é importante discutirmos essas atividades
antitrombóticas do endotélio, que podem ser
direcionadas às plaquetas, aos fatores de coagulação ou
à fibrinólise.
Com todo o conhecimento adquirido até agora, você
deve saber que uma das funções do endotélio saudável Hemorragia durante procedimento operatório.
é servir como barreira, protegendo as plaquetas do As doenças associadas a hemorragias maciças e súbitas
fator de von Willebrand e do colágeno subendotelial. incluem os aneurismas da aorta abdominal,
Porém, o endotélio normal também libera várias complicados pela ruptura da aorta, e o infarto do
moléculas que inibem a ativação e agregação miocárdio, complicado pela ruptura do coração. Entre
plaquetária, como o óxido nítrico e a prostaciclina. As as condições de estresse hemostático, destacamos as
células endoteliais também possuem capacidade de se cirurgias, os procedimentos odontológicos, o parto, os
ligar à trombina, um dos principais ativadores de traumas e a menstruação. Entre esses dois extremos,
plaquetas, alterando assim sua atividade. estão as hemofilias , geralmente hereditárias e que
Em relação à cascata de coagulação, o endotélio podem levar a quadros graves se não tratadas.
normal impede o contato do fator tecidual na parede ANEURISMAS
vascular com os fatores de coagulação. Além disso,
expressa várias moléculas que são antagônicas à É dilatação anormal de uma artéria, um aneurisma
coagulação, especialmente trombomodulina, pode se romper e causar uma hemorragia ou
receptores de proteína C endotelial e inibidores da via permanecer sem estourar durante toda a vida. Pode
do fator tecidual. Por fim, as células endoteliais ocorrer em qualquer artéria do corpo, como as do
sintetizam o ativador de plasminogênio tecidual que, cérebro, do coração, do rim ou do abdome.
como já discutimos, é um componente primordial da
HEMOFILIAS
via fibrinolítica.
Deficiências dos fatores de coagulação.

Algumas
funções do endotélio saudável, com ênfase na
hemostasia.
ETAPAS E PRINCIPAIS COMPONENTES DO
Sangramento gengival durante procedimento
PROCESSO DE HEMOSTASIA
odontológico.
A especialista Gabriela Cardoso Caldas relembra e
As causas mais comuns de hemorragias leves
reforça os componentes básicos da hemostasia.
incluem uso de aspirina, insuficiência renal
HEMORRAGIA e defeitos hereditários do fator de von Willebrand.
Já as hemorragias anormais, assim como seus efeitos,
Defeitos primários ou secundários na parede vascular, estão relacionadas a alguns princípios gerais de que
nas plaquetas ou nos fatores de coagulação tratamos a seguir:
(componentes que devem funcionar harmoniosamente
para manter a hemostasia) resultam em hemorragias. DEFEITOS HEREDITÁRIOS DO FATOR DE
Os sangramentos anormais variam desde hemorragias VON WILLEBRAND
maciças fatais, associadas à ruptura de grandes vasos
Quando o fator de von Willebrand encontra-se ausente
(a aorta, por exemplo), até defeitos sutis na
ou defeituoso, as plaquetas não conseguem aderir à
coagulação, que são percebidos apenas em condições
parede vascular no local em que ocorreu a lesão. Desse
de estresse hemostático.
modo, a hemorragia não é contida tão rapidamente.
Hematoma no
antebraço.
Epistaxe
DEFEITOS GENERALIZADOS EM PEQUENOS
, o sangramento pelo nariz.
VASOS
DEFEITOS DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA
Apresentam-se normalmente como “púrpuras
Os defeitos plaquetários ou doença de von Willebrand palpáveis” e equimoses (hemorragias com tamanho
normalmente se apresentam sob a forma de pequenos entre 1 e 2cm), características de distúrbios sistêmicos
sangramentos na pele ou nas membranas mucosas, que rompem vasos sanguíneos pequenos, como nas
como petéquias (lesões < 2 mm em diâmetro) vasculites, ou que levam à sua fragilidade, como
e púrpuras (lesões entre 2 mm e 1 cm de diâmetro). na amiloidose (doença rara em que proteínas dobradas
Sangramentos gastrointestinais, epistaxe (sangramento anormalmente formam fibrilas de amiloide que se
pelo nariz) ou a menorragia (menstruação excessiva) acumulam em vários tecidos e órgãos, levando à
são outras formas de sangramentos de mucosas disfunção ou insuficiência do órgão e morte)
associados a defeitos na hemostasia primária. Uma e escorbuto (doença causada pela deficiência de ácido
grande preocupação relacionada ascórbico ou vitamina C e normalmente associada ao
à trombocitopenia (contagem plaquetária muito baixa) aparecimento de hematomas). Tanto nas púrpuras
é a hemorragia intracerebral, que pode levar a óbito. quanto nas equimoses, o volume de sangue que
extravasa é suficiente para formar uma massa palpável
de sangue, o hematoma.
O impacto clínico de uma hemorragia depende do
volume de sangue, da velocidade do sangramento e da
sua localização. Perdas rápidas, de até 20% do volume
sanguíneo, podem ter pouco impacto em adultos
saudáveis, porém perdas maiores podem levar
Hemartrose, o
ao choque hipovolêmico ou hemorrágico.
sangramento em partes moles, como nas articulações.
Sangramentos intracranianos podem levar ao aumento
DEFEITOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA da pressão no local, comprometendo o suprimento
sanguíneo. A perda sanguínea externa, como na
Os defeitos dos fatores de coagulação estão geralmente menstruação ou na úlcera péptica, pode resultar em
associados a sangramentos em tecidos de partes moles, anemia por deficiência de ferro. Porém, quando a
como os músculos e as articulações (hemartrose). hemorragia ocorre em cavidades corporais ou tecidos,
Porém, ainda não é consenso o porquê de os distúrbios as hemácias são retidas e o ferro é reutilizado para a
da hemostasia secundária apresentarem esse padrão de síntese de hemoglobina.
hemorragia. Assim como mencionado nos distúrbios
da hemostasia primária, a hemorragia intracraniana
também pode ocorrer e levar a óbito.
fisiológicas que culminam na trombose são conhecidas
como Tríade de Virchow e compreendem em:

A tríade de
Tomografia Virchow – base da trombose.
computadorizada de cérebro e crânio mostrando
grande hematoma epidural ou hemorragia (em LESÃO ENDOTELIAL
vermelho). Representa quase que inevitavelmente o suporte da
HIPEREMIA E CONGESTÃO formação de trombos na circulação arterial e no
coração, locais onde a velocidade do fluxo sanguíneo é
Quando há um processo inflamatório agudo em alta e normalmente impede a formação dos coágulos.
determinado tecido ou quando forçamos nossos Por conta da composição dos trombos arteriais e
músculos durante a atividade física, ocorre uma cardíacos, que costumam ser ricos em plaquetas,
dilatação arteriolar que leva a um aumento de fluxo supõe-se que a adesão de plaquetas ao endotélio
sanguíneo na região. O processo ativo resultante dessa lesionado e sua posterior ativação sejam pré-requisitos
dilatação é o que chamamos de hiperemia. Os tecidos para a formação do trombo.
envolvidos ficam vermelhos (eritema), por conta do
aumento no volume de sangue oxigenado que chega As lesões endoteliais graves podem iniciar o processo
até eles. trombótico pela exposição do fator de von Willebrand
e fator tecidual, mas a inflamação e outros estímulos
ERITEMA lesivos também podem contribuir para a formação do
trombo pela alteração do padrão de expressão de
Sinal clínico caracterizado por rubor, ocasionado pela
proteínas habituais do endotélio para um padrão que
vasodilatação capilar.
seja pró-trombótico. Essa alteração, geralmente
denominada de ativação ou disfunção endotelial,
pode ser induzida por diversos fatores, como agentes
infecciosos, anormalidades no fluxo sanguíneo e
alterações metabólicas.
As alterações pró-trombóticas principais
Conjuntiva
incluem alterações pró-coagulantes, nas quais as
palpebral hiperêmica no olho direito.
células endoteliais ativadas participam de uma série de
A congestão também decorre do aumento do volume processos que resultam no estímulo plaquetário, no
sanguíneo dentro dos tecidos, mas é um processo aumento da inflamação pela ativação prolongada da
passivo, resultante da diminuição do efluxo sanguíneo trombina e nos efeitos antifibrinolíticos, em que as
de um tecido. A congestão normalmente está células endoteliais secretam inibidores do ativador de
associada ao edema, que se desenvolve por conta do plasminogênio, que limitam a fibrinólise e favorecem o
aumento da pressão hidrostática provocada pela área desenvolvimento do trombo.
congesta. A congestão pode ser sistêmica, como vemos
ANORMALIDADES NO FLUXO SANGUÍNEO
na insuficiência cardíaca ou localizada, em uma
oclusão venosa local e isolada. No fluxo sanguíneo normal, plaquetas e outros
elementos celulares fluem de maneira central,
PRESSÃO HIDROSTÁTICA
separados do endotélio por uma camada de plasma,
É a pressão exercida pelos líquidos existentes no transportados de maneira mais lenta. Alterações no
plasma. fluxo sanguíneo (estase ou turbulência) promovem a
ativação endotelial, aumentando a atividade pró-
TROMBOSE coagulante e adesão leucocitária por meio de
É a formação de coágulos sanguíneos em veias ou mudanças de expressão de moléculas de adesão e
artérias, representando a base das formas mais comuns fatores pró-inflamatórios. Além disso, permitem que as
e graves das doenças cardíacas. As disfuncionalidades plaquetas entrem em contato com o endotélio e
reduzam a diluição e “lavagem” dos fatores de É extremamente importante na cascata de coagulação e
coagulação ativados. sua mutação resulta na perda de um importante
mecanismo antitrombótico, favorecendo uma
A estase (estagnação do fluxo sanguíneo) é o principal coagulação excessiva e a formação de trombos.
colaborador para o desenvolvimento da trombose
venosa, já a turbulência favorece a trombose cardíaca Protrombina ou fator II
e arterial pela disfunção ou lesão endotelial e a
É uma proteína que, quando ativada, promove a
formação de bolsas de estase locais pelos fluxos de
conversão de fibrinogênio em fibrina, que, juntamente
contracorrente.
com as plaquetas, forma uma camada que impede o
sangramento. Logo, a protrombina é fator essencial
para a coagulação sanguínea.
 Secundários (adquiridos): Incluem lesão
Fluxo em padrão tecidual, câncer, repouso prolongado no leito,
laminar e fluxo turbulento. coagulação intravascular
disseminada, trombocitopenia induzida por
As alterações no fluxo sanguíneo contribuem para a heparina (doença que ocorre após a
trombose em diversas condições clínicas. No exemplo administração de heparina não fracionada e
a seguir, observa-se que nos aneurismas a dilatação da induz a formação de anticorpos contra os
aorta e das artérias gerais provoca estase local e complexos de heparina e fator plaquetário 4 na
propensão à trombose. Já a existência de placas superfície de plaquetas e moléculas
ateroscleróticas ulceradas, além de expor o fator semelhantes em células endoteliais). Os efeitos
tecidual e o fator de von Willebrand, também causa induzidos pela ligação dos anticorpos, juntos,
turbulência. Na anemia falciforme, as hemácias produzem um estado pró-trombótico e
alteradas dificultam o fluxo sanguíneo nos pequenos síndrome do anticorpo
vasos, favorecendo a estase e a trombose. antifosfolipídio (condição que possui
manifestações clínicas variadas, como
tromboses recorrentes, abortos repetidos,
embolia pulmonar e trombocitopenia).
Os trombos podem se desenvolver em qualquer local
do sistema cardiovascular e variam no tamanho e na
forma dependendo da causa e região afetada. A partir
do ponto de iniciação, local de fixação na superfície
vascular, os trombos venosos tentem a crescer no
sentido do fluxo sanguíneo e os trombos arteriais em
sentido retrógado, ambos se propagando em direção ao
coração. À medida que o trombo se desenvolve, a parte
crescente fica menos presa à base, podendo se
fragmentar e embolizar.
Aneur
ismas provocam estase local e propiciam a formação
de trombo.
HIPERCOAGULABILIDADE DO SANGUE OU
TROMBOFILIA
Possui papel importante na trombose venosa e pode ser
definida como qualquer distúrbio sanguíneo que
predispõe à trombose. É dividida em distúrbios:
 Primários (genéticos): Entre as causas
hereditárias de hipercoagulabilidade, as
mutações pontuais no gene do fator V e no
gene da protombina são as mais comuns.
Fator V
apresentarem tendência de embolizar os pulmões. As
tromboses venosas profundas das extremidades
inferiores geralmente estão associadas a quadros de
hipercoagulabilidade relacionados a fatores como
repouso e imobilização no leito e à insuficiência
cardíaca congestiva. As tromboses arteriais causam o
infarto agudo do miocárdio, os acidentes vasculares
encefálicos e as doenças arteriais obstrutivas crônicas,
que levam à redução do fluxo sanguíneo nas
extremidades dos membros inferiores.

Trombo no ápice dos ventrículos esquerdo e direito


(setas) sobre áreas brancas de fibrose cicatricial.
Trombose venosa
Conhecida também como flebotrombose, é quase
invariavelmente oclusiva. Como esses trombos
formam-se na circulação venosa lenta, tendem a conter
mais hemácias e são conhecidos como trombos
vermelhos ou de estase.
Trombose arterial
A trombose arterial é frequentemente oclusiva e suas
localizações mais comuns são as artérias femorais,
cerebrais e coronárias. Os trombos arteriais são
normalmente constituídos por plaquetas, fibrina,
hemácias e leucócitos degenerados.
A imobilização prolongada no leito é fator de risco
Caso o paciente sobreviva à trombose inicial, os para o desenvolvimento da trombose venosa profunda
trombos podem ter como destino combinações de das extremidades inferiores.
quatro eventos:
EMBOLIA
É a presença de uma massa solta (sólida, líquida ou
gasosa) no interior de um vaso, transportada pelo fluxo
sanguíneo até locais distantes, que causa geralmente
disfunção tecidual e infarto. O êmbolo pode migrar
pela árvore vascular até encontrar vasos de calibre
muito reduzido, que não permitem sua passagem e
resultam na obstrução vascular, parcial ou total. Além
disso, dependendo de onde tenha se originado, o
êmbolo pode se alojar em qualquer local da
vasculatura. A maioria dos êmbolos são trombos
desalojados, vindo daí o termo tromboembolismo.

Possíveis destinos para o trombo.


Os trombos representam maiores preocupações
clínicas quando embolizam ou obstruem veias ou
artérias. Trombos venosos podem causar congestão e
edema em locais distantes da sua origem, além de
Embolia de
Tromboembolia venosa. líquido amniótico.

Outros êmbolos menos comuns incluem gotículas de EMBOLIA DE LÍQUIDO AMNIÓTICO


gordura, fragmentos de tumor e da medula óssea, Possui taxa de mortalidade de até 80%, embora
bolhas de nitrogênio e corpos estranhos. As apresente baixa incidência. É a quinta causa mais
consequências clínicas da embolia variam de acordo comum de mortalidade materna no mundo e uma
com o tamanho e a posição do êmbolo, assim como do complicação importante do período de parto e pós-
local vascular obstruído. parto imediato, resultando em déficit neurológico
permanente em até 85% dos pacientes sobreviventes.

Presença
de êmbolo (seta) no pulmão. Ruptura
do aneurima.
EMBOLIA PULMONAR
EMBOLIAS SISTÊMICAS
É a forma mais comum da doença tromboembólica e
importante causa de morbidade e mortalidade, Derivam principalmente de trombos
principalmente em pacientes acamados. Ela se origina, cardíacos, murais ou valvares, aneurismas aórticos ou
principalmente, de trombos das veias profundas das placas ateroscleróticas. Nesses casos, para que o
pernas. Suas consequências incluem insuficiência êmbolo seja considerado a causa do infarto tecidual, é
cardíaca direita, hemorragia e infarto pulmonar e morte necessário avaliar o local da embolização e a presença
súbita. ou não de circulação colateral.
MURAIS
Principalmente no endocárdio da aurícula direita e no
ventrículo esquerdo.
VALVARES
Principalmente na aorta e na mitral.
ISQUEMIA
A deficiência no aporte sanguíneo a determinado órgão
ou tecido, geralmente devido a uma obstrução
mecânica arterial ou pela redução da drenagem venosa,
é denominada de isquemia. Diferentemente
da hipóxia isolada, na qual a produção de energia por Perna
meio da glicólise anaeróbica continua, na isquemia, direita isquêmica apresentando sinais de gangrena
além do oxigênio, o fornecimento de substratos para a iminente (manchas arroxeadas).
glicólise também fica comprometido. Ou seja, nos
tecidos isquêmicos, não só o metabolismo aeróbico é HIPOTROFIA OU ATROFIA
afetado por conta da hipóxia subsequente, mas também
É a redução quantitativa dos componentes estruturais
toda a produção de energia anaeróbica. Desse modo, a
celulares, com diminuição do volume das células e dos
isquemia tende a causar lesões celulares e teciduais
órgãos (dependendo do número de células envolvidas).
mais rápidas e intensas que a hipóxia isoladamente.
Muitas vezes é também acompanhada de redução no
HIPÓXIA número de células (hipoplasia).
Condição de baixa concentração de oxigênio nos A possível restauração do fluxo sanguíneo para os
tecidos e órgãos. tecidos isquêmicos pode promover a recuperação
celular, se a lesão for reversível, mas também pode,
O processo isquêmico pode ter como causas contraditoriamente, exacerbar a lesão e levar à morte
funcionais a hipotensão acentuada, a alteração de celular. Essa importante e possível consequência da
hemoglobina e a redistribuição sanguínea, como em isquemia é o que chamamos de lesão de isquemia-
atividades físicas intensas. Já entre as causas reperfusão.
mecânicas da isquemia encontram-se a compressão
vascular (pela presença de tumores, calos ósseos, Durante a reperfusão, ocorre estresse oxidativo,
abscessos e cicatrizes), a obstrução vascular ativação do sistema complemento, sobrecarga de
(decorrente de uma trombose ou embolia) e o cálcio intracelular e infiltração neutrofílica, eventos
espessamento da parede vascular com consequente que causam mais perdas celulares além das já
diminuição da sua luz, como nas arterites e na ocorridas durante o processo isquêmico. A lesão de
arteriosclerose. isquemia-reperfusão mostra-se clinicamente
importante, pois contribui para o dano tecidual nos
infartos do miocárdio e cerebral seguido de terapias
para restaurar o fluxo sanguíneo.
SISTEMA COMPLEMENTO
É composto por uma série de proteínas solúveis e de
seus receptores de membrana, que atuam nas
imunidades inata e adaptativa contra os
microrganismos patogênicos e nas reações
inflamatórias.
A MÓDULO 2
obstrução vascular pela presença de trombos ou
êmbolos está entre as causas do processo isquêmico.
As consequências de um processo isquêmico Descrever os princípios fundamentais de infarto,
dependem da velocidade com a qual a isquemia se aterosclerose, edema e choque
instala, do grau de redução do calibre do vaso afetado, INFARTO
da vulnerabilidade do tecido à falta de suprimentos
sanguíneos e da existência e eficiência da circulação Chamamos de infarto uma área de necrose tecidual
colateral. Dessa forma, as lesões podem ser de causada por isquemia prolongada. Essa isquemia, por
reversíveis e leves até a uma necrose tecidual, sua vez, é causada pela obstrução do suprimento
gangrena e a um infarto isquêmico. A hipotrofia (ou arterial ou da drenagem venosa. Apesar de o infarto
atrofia) e fibrose podem ocorrer como adaptações a agudo do miocárdio ser o mais conhecido, o infarto
uma isquemia gradual e incompleta. pode acometer outros órgãos além do coração: o
infarto cerebral e pulmonar, por exemplo, são
complicações comuns de várias condições clínicas; o
infarto intestinal leva frequentemente ao óbito; e a
necrose isquêmica das extremidades, conhecida
como gangrena, é um grave problema entre indivíduos
diabéticos. Veja o exemplo a seguir.
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
No Brasil, as doenças cardiovasculares, com destaque
para o infarto agudo do miocárdio, representam a
principal causa de óbitos.
Trombose.
A classificação dos infartos se faz pela cor e pela
presença ou não de infecção. Dessa forma, podem ser:
INFARTOS VERMELHOS (HEMORRÁGICOS)
No pulmão, os infartos hemorrágicos são a regra, mas
eles ocorrem nas seguintes circunstâncias:
 Com obstruções venosas (torção testicular).
Dedos do pé gangrenados em razão de isquemia aguda  Em tecidos em que o sangue pode se acumular
de membros. na zona de infarto (pulmão).
A causa da maioria dos infartos é a trombose arterial  Em tecidos com circulação dupla (fígado e
ou embolia arterial. Porém, outras causas menos pulmão, por exemplo), em que o fluxo
comuns de obstrução arterial resultando em infarto sanguíneo de um vaso paralelo, desobstruído,
incluem a compressão extrínseca do vaso (causada pode preencher a área necrótica.
pela presença de um tumor, por exemplo), a
compressão vascular por edema e a torção dos vasos.  Em tecidos previamente congestos, por conta
do fluxo venoso mais lento.
SAIBA MAIS
 Quando há o reestabelecimento do fluxo
A trombose venosa também pode causar infartos, mas sanguíneo para um local de obstrução arterial e
o desfecho mais comum é a congestão. Nesses casos, necrose prévia.
ocorre a abertura de vasos paralelos que permitem
o efluxo vascular e, consequentemente, a melhora
do afluxo arterial. Por isso que infartos causados por
trombose venosa são mais propensos de ocorrer em
órgãos que possuem uma única veia eferente, como os
testículos e o ovário.
EFLUXO
É a saída de um líquido do organismo para fora de uma
região.
AFLUXO
I
É a convergência de um líquido do organismo, em nfarto vermelho pulmonar.
abundância, para uma região ou órgão.
INFARTOS BRANCOS (ANÊMICOS)
Ocorrem com obstruções arteriais em órgãos sólidos de
circulação arterial terminal, como coração, rins e baço,
e onde a densidade do tecido é fator limitante para a
penetração do fluxo sanguíneo na área necrótica.
ocorre no cérebro, pois o infarto nessa região resulta
em necrose liquefativa.

Esque
ma do infarto do miocárdio.
INFARTOS SÉPTICOS
Em relação à presença de infecção, os chamados
infartos sépticos ocorrem quando algum vaso Área de necrose e destruição celular no parênquima
sanguíneo infectado sofre embolia ou quando algum cerebral infartado.
microrganismo se instala no tecido necrosado. Nesses
Os efeitos de uma obstrução vascular podem variar
casos, o infarto converte-se em abscesso e apresenta
desde praticamente nulos até suficientes para levar ao
resposta inflamatória maior.
óbito. Os resultados da oclusão podem ser
influenciados por alguns fatores:
ANATOMIA DO SUPRIMENTO VASCULAR
Órgãos de circulação dupla (pulmões e fígado, por
exemplo) são relativamente mais resistentes ao infarto
que órgãos de circulação arterial terminal (rins e baço,
por exemplo).
VELOCIDADE DA OBSTRUÇÃO
Oclusões de desenvolvimento lento proporcionam
tempo para o desenvolvimento de vias paralelas de
perfusão.
Macroscopia do infarto pulmonar revelando a forma de
cunha (em destaque). VULNERABILIDADE DO TECIDO À HIPÓXIA

Os infartos também podem ser chamados de assépticos Neurônios são mais sensíveis à hipóxia que
quando não têm uma infecção associada. fibroblastos cardíacos.

A apresentação dos infartos geralmente se dá na forma HIPOXEMIA


de cunha (ferramenta em forma de prisma agudo em
A condição de hipoxemia (baixa concentração de O2 no
um dos lados), em que o vaso obstruído fica no ápice e
sangue) independente da causa.
a periferia do órgão forma a base. Quando são
recentes, os infartos são mal definidos e levemente
hemorrágicos. Depois de alguns dias, as margens
começam a ficar mais definidas, por conta da região de
hiperemia causada pela inflamação.
A característica histológica dominante do infarto é
a necrose coagulativa isquêmica, mas é importante
lembrar que as alterações microscópicas indicativas da
necrose levam de 4 a 12 horas para aparecer no tecido
morto. A inflamação aguda, resultado da liberação de Os neurônios sofrem danos irreversíveis na ausência
mediadores pelas células necróticas, está presente na de seu suprimento sanguíneo em apenas 3 ou 4
extensão das margens do infarto e mostra-se bem minutos.
definida de 1 a 2 dias. A resposta de reparo inicia-se
ATEROSCLEROSE
nas margens preservadas e, na maioria dos infartos,
resulta na formação de uma cicatriz. Uma exceção
O termo “aterosclerose” foi introduzido no início do Vamos agora conhecer melhor essas duas categorias de
século XX para indicar a lesão arterial por causa do risco. É importante destacar que os fatores de risco têm
espessamento da camada íntima por depósito de efeitos multiplicativos e a existência de dois deles
gordura. Os principais alvos da aterosclerose são as aumenta o risco em aproximadamente quatro vezes,
grandes artérias elásticas, como, por exemplo, a aorta e por exemplo.
a carótida, e as artérias musculares de grande e médio
FATORES DE RISCO CONSTITUCIONAIS
calibres, como as coronárias. O que determina a
chance de desenvolver a aterosclerose, bem como sua O histórico familiar é o fator de risco constitucional
gravidade, é a combinação entre os fatores de risco. mais importante para o desenvolvimento da
Alguns deles são constitucionais e menos controlados, aterosclerose. A predisposição familiar para essa
mas outros são relacionados a comportamentos e condição geralmente envolve vários genes também
podem ser reduzidos com intervenções relacionados com a hipertensão e a diabetes. Além da
genética, a idade também é uma influência dominante.
Embora o desenvolvimento do ateroma seja um
processo normalmente progressivo, não costumamos
observar manifestações clínicas até que as lesões
alcancem o limite da meia-idade.
De fato, a incidência de infarto do miocárdio, por
exemplo, aumenta cinco vezes em indivíduos entre 40
e 60 anos. Um terceiro fator de risco, um pouco
curioso, é o gênero. Mulheres em pré-menopausa, por
exemplo, estão relativamente protegidas contra
aterosclerose em comparação aos homens de mesma
idade, a menos que elas apresentem predisposição para
diabetes, hiperlipidemia ou hipertensão. Porém, após a
menopausa, essa incidência aumenta e costuma
ultrapassar a dos homens. Os efeitos protetores do
estrogênio ainda permanecem em discussão e parecem
Aterosclerose. estar relacionados à idade com a qual a terapia
hormonal é iniciada.
Os fatores de risco, em conjunto, causam lesões da
camada íntima chamadas de ateromas, placas
ateromatosas ou placas ateroscleróticas, que
consistem em lesões elevadas, de centro mole e
grumoso de lipídeos (colesterol e ésteres do
colesterol), cobertas por uma capa fibrosa. Além de
obstruir de maneira mecânica o fluxo sanguíneo, as
placas também podem se romper levando à trombose
vascular obstrutiva.
Outra consequência possível é o aumento da distância
de difusão da luz para a média, causando lesões
isquêmicas e enfraquecimento da parede vascular, o
que resulta na formação de aneurismas. Infart
o do Miocárdio.
FATORES DE RISCO ADQUIRIDOS
A hipercolesterolemia é um dos principais fatores de
risco para o desenvolvimento da aterosclerose,
podendo sozinha iniciar o desenvolvimento do
ateroma. O colesterol está presente nas membranas
celulares, constituindo e modulando a fluidez da
membrana, e é o precursor de todos os esteroides
Amostra de autópsia da aorta mostrando múltiplas importantes do organismo, como, por exemplo,
placas ateromatosas rompidas. estrogênio, testosterona, ácidos biliares etc. Pela
insolubilidade na água, o colesterol e outros lipídeos
encontram-se associados às proteínas plasmáticas, no risco de doença cardíaca isquêmica em até
caso do colesterol às lipoproteínas. 60%.
Cerca de 60% a 70% do colesterol é transportado pela  Sedentarismo como um padrão de vida é um
lipoproteína de baixa densidade (LDL), que é fator de risco adicional para a aterosclerose.
responsável por fornecer aos tecidos periféricos o
colesterol proveniente do fígado. Essa lipoproteína SAIBA MAIS
representa um elevado fator de risco para o Até 20% de todos os eventos cardiovasculares ocorrem
desenvolvimento da aterosclerose. Já a lipoproteína de na ausência de fatores de risco evidentes, como
alta densidade, o HDL, apresenta em sua composição tabagismo e hiperlipidemia. Esses fatores de risco
de 15% a 25% do colesterol e é correlacionada à adicionais também são estudados, como a inflamação
redução do risco, pois mobiliza o colesterol da (que está relacionada com a formação da placa
periferia (incluindo ateromas) e o transporta até o aterosclerótica e sua ruptura, como veremos mais
fígado, para excreção biliar. adiante), os altos níveis de homocisteína sérica,
a síndrome metabólica, o padrão de vida sedentário e
a desregulação da hemostasia.
HOMOCISTEÍNA
É um homólogo do aminoácido natural cisteína, está
presente no plasma sanguíneo e seus níveis elevados
podem causar alterações nos vasos sanguíneos.
SÍNDROME METABÓLICA
Inclui uma série de fatores de risco metabólicos, como
hipertensão arterial, nível elevado de açúcar no sangue,
excesso de gordura corporal em torno da cintura e
níveis de colesterol anormais.
O entendimento contemporâneo
da aterogênese integra os fatores de risco que vimos
anteriormente na chamada hipótese de resposta à lesão,
em que a aterosclerose é vista como uma resposta
Esquema ilustrando o acúmulo de LDL na corrente crônica, inflamatória e reparativa da parede arterial à
sanguínea. lesão ou disfunção das células endoteliais. O ateroma
vai se desenvolvendo a partir das interações entre
Uma conduta alimentar rica em gorduras insaturadas, a
lipoproteínas modificadas, macrófagos e linfócitos T
obesidade e o tabagismo afetam negativamente os
com as células endoteliais e musculares lisas da
perfis dessas lipoproteínas e colesterol. Já a prática de
vasculatura. Vamos ver cada uma das etapas da
exercícios e o consumo moderado de álcool aumentam
aterogênese, como é entendida atualmente:
os níveis de HDL, diminuindo o risco de aterosclerose.
LESÃO E DISFUNÇÃO ENDOTELIAL
Veja a seguir alguns desses problemas.
A lesão ou disfunção das células endoteliais é a base da
 Diabetes induz a hipercolesterolemia e
hipótese da resposta à lesão. A perda da integridade
aumenta acentuadamente o risco para
endotelial, por forças hemodinâmicas, irradiação ou
aterosclerose, acidentes vasculares cerebrais e
por substâncias químicas, resulta no espessamento da
gangrena induzida por ateroma nas
camada íntima. Porém, a disfunção endotelial, sem
extremidades inferiores.
perda da integridade, é a base da maioria dos casos de
 Tabagismo prolongado é um fator de risco aterosclerose e é caracterizada pelo aumento da
bem estabelecido, que aumenta a incidência e permeabilidade endotelial e da adesão leucocitária e
a intensidade da aterosclerose. Por outro lado, pela alteração da expressão genética. A disfunção pode
o abandono do hábito resulta na redução ser causada por fatores variados, como toxinas do
drástica do risco. cigarro, agentes infecciosos e citocinas pró-
inflamatórias. Porém, os desequilíbrios
 Hipertensão arterial também é um fator de hemodinâmicos e a hipercolesterolemia são as duas
risco importante; sozinha pode aumentar o causas mais importantes. De fato, estudos realizados
em laboratório mostraram que o fluxo laminar não
turbulento, unidirecional, leva à expressão de genes e macrófagos ativados, mas também células
endoteliais envolvidos na proteção contra a endoteliais, epiteliais e do tecido conjuntivo – que têm
aterosclerose. a função de mediar e regular as respostas imunológicas
inflamatórias), que criam um ambiente para
recrutamento e ativação de monócitos.
Os monócitos estão entre os cinco tipos de leucócitos
presentes na corrente sanguínea. Estas células são
responsáveis pela produção de mediadores
inflamatórios e sofrem processo de diferenciação,
recebendo o nome de macrófago.

Lesão e
disfunção endotelial.
ACÚMULO DE LIPOPROTEÍNAS
A hipercolesterolemia pode comprometer diretamente
a função das células endoteliais pelo aumento da
Esquema
produção de espécies reativas de oxigênio local, que
ilustrando um linfócito (esquerda) e um monócito
acabam por reduzir a atividade vasodilatadora e causar
(direita).
lesões de membrana e mitocondriais. Além disso,
na hiperlipidemia (níveis de lipídeos anormalmente INFLAMAÇÃO
elevados no sangue) crônica, as moléculas de LDL se
acumulam no interior da camada íntima, onde se O acúmulo de cristais de colesterol e ácidos graxos em
agregam ou são oxidadas pelos radicais livres macrófagos e outras células desencadeia um processo
produzidos pelas células inflamatórias. A LDL oxidada inflamatório. Há então o recrutamento de monócitos,
é acumulada em células musculares lisas e em que se diferenciam em macrófagos e ativação de
macrófagos, que não conseguem realizar a degradação linfócitos T, com produção de mais citocinas e
completa e acabam se transformando no que quimiocinas que recrutam e ativam mais células
chamamos de células espumosas. inflamatórias, como em um ciclo vicioso. A ativação
dos leucócitos, como os macrófagos, e das células
endoteliais também leva à proliferação de células
musculares lisas e à síntese de proteínas da matriz
extracelular.

Macrófagos transformados em células espumosas.


ATIVAÇÃO DE MONÓCITOS
As lipoproteínas modificadas são tóxicas para as
células endoteliais, as células musculares lisas e os Corte histológico de um ateroma, corado por
macrófagos. Além disso, sua captação estimula a hematoxilina e eosina.
liberação de diversas moléculas inflamatórias, como PROLIFERAÇÃO MUSCULAR LISA E SÍNTESE
fatores de crescimento, quimiocinas (família de DE MATRIZ
proteínas pequenas que agem primariamente como
atraentes químicos para tipos específicos de leucócitos) A proliferação de células musculares lisas é
e citocinas (proteínas produzidas por muitos tipos de desencadeada pela liberação de diversos fatores de
células – principalmente linfócitos, células dendríticas crescimento derivados de plaquetas aderidas,
macrófagos, células endoteliais e pela própria célula Podemos concluir que, se a pressão hidrostática estiver
muscular lisa. Esses fatores também estimulam a aumentada ou a pressão osmótica coloidal estiver
síntese de matriz extracelular, e o resultado de todo o diminuída, esse equilíbrio é desfeito e acaba por
processo é a conversão da estria gordurosa, formada aumentar a saída de líquido dos vasos. Uma vez que o
pelas células espumosas, em ateroma maduro. No volume de líquido extravasado excede a capacidade de
exemplo a seguir, vemos um esquema com as etapas drenagem dos vasos linfáticos, ele se acumula nos
envolvidas na progressão das placas ateroscleróticas. tecidos (resultando em edema) ou em uma cavidade
serosa (resultando em efusão).
PRESSÃO HIDROSTÁTICA
É a pressão exercida pelos líquidos existentes no
plasma.
PRESSÃO OSMÓTICA COLOIDAL (OU
PRESSÃO ONCÓTICA)
Progressão da aterosclerose. É a pressão osmótica gerada pelas proteínas
A aterosclerose é a base das doenças vasculares plasmáticas, especialmente pela albumina e pelas
periféricas, cerebral e coronariana e apresenta alta globulinas.
prevalência no mundo todo. O infarto do miocárdio, o
acidente vascular cerebral (AVC), os aneurismas da
aorta e a doença vascular periférica são as principais
consequências da aterosclerose, que é considerada a
doença vascular de maior importância no mundo em
termos de morbidade e mortalidade.
EDEMA E EFUSÃO
Em um cenário fisiológico, a regulação do fluxo dos
líquidos entre os vasos sanguíneos e o espaço
intersticial é controlada pelo equilíbrio que existe entre
a pressão hidrostática e a pressão osmótica coloidal
(ou pressão oncótica). Assim, a tendência da pressão
hidrostática de empurrar água e sais minerais de dentro
dos capilares para o espaço intersticial é balanceada
pela tendência da pressão osmótica coloidal de puxar a
água e os sais de volta para o leito venoso.
Durante esse processo, o líquido acaba por se espalhar
no interstício, mas ele é rapidamente drenado pelos Comparação entre um pé esquerdo normal e outro com
vasos linfáticos, retornando para corrente sanguínea. edema.
Edemas e efusões geralmente estão presentes nos
distúrbios que afetam as funções hepática, renal ou
cardiovascular e podem ser inflamatórios ou não.
Quando relacionados a inflamações, são chamados
de exsudatos e se caracterizam por líquidos ricos em
proteínas, que se acumulam em razão do aumento da
permeabilidade vascular causada pelos mediadores
inflamatórios. O exsudato normalmente se localiza em
um tecido e suas adjacências, mas caso haja
inflamação sistêmica, como na sepse, o edema
generalizado pode aparecer como resultado da lesão e
disfunção endotelial disseminada.
Os vasos linfáticos (em verde) são responsáveis por
drenar o líquido intersticial que se espalha. Por outro lado, edemas e efusões não inflamatórios são
conhecidos como transudatos, líquidos pobres em
proteínas. São comuns em muitas patologias, como
doenças renais, desnutrição grave e insuficiência que levam à redução da síntese de albumina são a
cardíaca. doença hepática grave e a desnutrição proteica. Já a
síndrome nefrótica é causa importante da perda de
albumina, que ocorre através dos capilares
glomerulares com permeabilidade alterada. Qualquer
que seja a causa, a pressão osmótica reduzida gera
edema, redução do volume intravascular e
hipoperfusão renal.
OBSTRUÇÃO LINFÁTICA
A obstrução de vasos linfáticos e o bloqueio da
eliminação de líquido intersticial podem ser causados
por traumas, fibroses, tumores invasivos e até agentes
infecciosos. O resultado da obstrução é o linfedema na
região afetada. Um ótimo exemplo é visto na filariose,
na qual o organismo induz a formação de fibrose
obstrutiva dos canais linfáticos e linfonodos, causando
edema da genitália externa e de membros inferiores,
doença conhecida como elefantíase.
Pern
a direita edemaciada. RETENÇÃO DE SÓDIO E ÁGUA
O aumento da retenção de sódio está associado à
retenção de água e provoca tanto o aumento da pressão
hidrostática (por conta da expansão de volume líquido
intravascular) quanto a diminuição da pressão oncótica
vascular (por causa da diluição). A retenção de sódio
está sempre associada ao comprometimento da função
renal, como vemos nos distúrbios primários do rim e
nos distúrbios cardiovasculares, que diminuem a
perfusão renal.
No esquema a seguir, podemos ver um resumo das
Pr causas fisiopatológicas do edema e da efusão.
esença de edema no pulmão.
Agora que você já conhece o conceito de edema e
efusão, vamos discutir as diversas causas
fisiopatológicas do edema/efusão:
AUMENTO DA PRESSÃO HIDROSTÁTICA
É causado principalmente por disfunções que impedem
o retorno venoso, como na trombose venosa profunda
Caus
e na insuficiência cardíaca congestiva.
as fisiopatológicas do edema e da efusão.
REDUÇÃO DA PRESSÃO OSMÓTICA
É fácil reconhecer o edema macroscopicamente.
PLASMÁTICA
Microscopicamente, ele apresenta-se como
Em condições normais, a albumina (proteína clareamento e separação da matriz extracelular, com
produzida naturalmente pelo fígado. Suas principais uma discreta tumefação celular. Qualquer órgão ou
funções são a manutenção da pressão osmótica, tecido pode apresentar edema, mas é mais comum que
transporte de hormônios, controle do pH e regulação ocorra nos tecidos subcutâneos, pulmões e no cérebro.
dos níveis de líquido entre os tecidos e o sangue) é
responsável por quase 50% das proteínas totais do
plasma. Logo, distúrbios que levam à síntese
inadequada ou aumento da perda de albumina na
circulação são as principais causas da redução da
pressão osmótica plasmática. Exemplos de condições
EDEMA CEREBRAL
Apresenta risco de morte. As efusões peritoneais (as
ascites), comumente resultantes da hipertensão portal,
tendem à contaminação por bactérias, infecções graves
e fatais.
CHOQUE
É um estado de hipoperfusão tecidual, por conta da
diminuição do débito cardíaco ou da redução do
volume sanguíneo circulante, levando à hipóxia
Edema subcutâneo em paciente com doença renal celular. Inicialmente, a lesão celular é reversível, mas o
crônica. choque prolongado leva a danos teciduais irreversíveis
e muito frequentemente a óbito.
EDEMA SUBCUTÂNEO
Hemorragias graves, infarto do miocárdio, embolia
É importante sinalizador de uma possível doença pulmonar e as sepses microbianas são exemplos de
cardíaca ou renal. condições que podem apresentar complicações pelo
choque.
Veja a seguir os principais tipos de choque.
CHOQUE HIPOVOLÊMICO
É o resultado da diminuição do débito cardíaco em
razão da perda de volume sanguíneo. Ocorre nas
hemorragias graves e na perda de líquido derivada de
queimaduras sérias.
CHOQUE CARDIOGÊNICO
Resultado do baixo débito cardíaco pela falência da
bomba miocárdica. Ocorre no infarto do miocárdio
(que gera danos extrínsecos ao tecido), nas arritmias
Edema difuso no interstício pulmonar.
ventriculares e na embolia pulmonar (em que há
EDEMA PULMONAR obstrução do efluxo sanguíneo).

É um problema clínico comum, frequentemente CHOQUE ASSOCIADO À INFLAMAÇÃO


observado na insuficiência ventricular esquerda e SISTÊMICA
também na insuficiência renal, na inflamação ou
Resultado da ação de diversos tipos de agressão, como
infecção pulmonar. Os edemas pulmonares geralmente
traumas, pancreatite e infecções microbianas. Ocorre a
são acompanhados pelas efusões pleurais, podendo
liberação de mediadores inflamatórios, que levam à
comprometer a troca de gases pela compressão do
vasodilatação arterial, perda de líquido intravascular e
parênquima pulmonar.
represamento do sangue venoso. O resultado desse
processo é a diminuição da perfusão tecidual, hipóxia e
uma série de alterações metabólicas que levam à
disfunção dos órgãos e, caso persistam, à falência dos
órgãos e à morte. O choque causado pela infecção
microbiana (choque séptico), por exemplo, é causa
líder de mortalidade nos centros de tratamento
intensivo.
Com menos frequência, o choque pode ocorrer em
acidentes anestésicos, lesões da medula espinal
(choque neurogênico) ou em uma reação de
hipersensibilidade mediada por anticorpos IgE
(choque anafilático). Em todas essas formas, a
vasodilatação aguda resulta na hipotensão e na redução
Abdome de indivíduo com ascite (efusão peritoneal).
da perfusão tecidual.
Nos casos graves, o processo entra em um estágio
irreversível, em que a lesão tecidual generalizada
reflete na liberação de enzimas lisossomais, que
acabam agravando ainda mais o estado de choque.
Caso haja penetração da microbiota intestinal na
circulação, o choque séptico bacteriano pode se
sobrepor. Na fase irreversível, mesmo que os efeitos
hemodinâmicos sejam corrigidos, a piora da
Reações progressão clínica é tão intensa que a sobrevivência
de hipersensibilidade exacerbada, mediada por não seria possível.
anticorpos da classe IgE, podem resultar em choque
anafilático. LESÃO ANÓXICA

SAIBA MAIS Na lesão anóxica, há privação total de oxigênio. É uma


condição extrema da hipóxia.
As causas do choque associadas à inflamação
sistêmica, de origem microbiana ou não, produzem um CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS DO CHOQUE
conjunto de achados clínicos que são conhecidos
Os resultados clínicos do choque dependem de sua
como síndrome de resposta inflamatória sistêmica.
causa.
FASES DO CHOQUE
Choques hipovolêmico e cardiogênico
O choque é um distúrbio progressivo que pode levar à
O paciente apresenta hipotensão, pulso fraco e rápido,
morte se não corrigido a tempo. Os mecanismos exatos
pele cianótica, fria e pegajosa.
envolvidos na evolução do choque séptico, por
exemplo, ainda representam um desafio clínico. Choque séptico
Porém, a menos que a agressão seja suficientemente
A pele pode apresentar-se inicialmente corada e
grave e fatal, como nas hemorragias pela rotura de um
quente, por conta da vasodilatação periférica.
aneurisma da aorta, os choques hipovolêmico e
cardiogênico tendem a evoluir em três fases genéricas, Embora inicialmente a ameaça à sobrevivência do
são elas: paciente esteja ligada à causa que precipitou o choque
(como hemorragia grave ou infarto do miocárdio), o
FASE NÃO PROGRESSIVA
próprio estado de choque produz disfunções cardíacas,
Inicialmente, diversos mecanismos neuro-humorais cerebrais e pulmonares. Além disso, o desbalanço
são ativados e contribuem para manter o débito eletrolítico e a disfunção metabólica exacerbam o
cardíaco, a pressão sanguínea e a perfusão de órgãos quadro clínico.
vitais. O resultado são efeitos como taquicardia,
Os pacientes que progridem no choque apresentam
vasoconstrição periférica e conservação de líquido
insuficiência renal caracterizada pela diminuição do
pelos rins.
débito urinário e por um grave desequilíbrio
FASE PROGRESSIVA hidroeletrolítico. O prognóstico varia de acordo com a
origem e duração do choque: a maioria dos pacientes
Se as causas do choque não forem controladas, ocorre jovens e saudáveis acometidos por choque
uma evolução quase imperceptível para a fase hipovolêmico sobrevive com tratamento adequado. Já
progressiva, caracterizada pela hipoperfusão tecidual e o choque séptico ou cardiogênico associado a um
início do agravamento do desequilíbrio circulatório e extenso infarto do miocárdio apresenta altas taxas de
metabólico. Uma vez que o fornecimento de oxigênio mortalidade, mesmo com excelente atendimento
permanece inadequado, a respiração aeróbica celular é médico.
substituída pela glicólise anaeróbica, produzindo
excessivamente ácido lático, um quadro conhecido TIPOS DE CHOQUE E PATOGENIA DO
como acidose láctica. Essa acidose leva à diminuição CHOQUE SÉPTICO
do pH tecidual e ao enfraquecimento da resposta
A especialista Gabriela Cardoso Caldas fala sobre
motora dos vasos: as arteríolas se dilatam e o sangue
o choque séptico, causa líder de mortalidade nos
começa a se acumular na microcirculação. O resultado
centros de
é agravamento do débito cardíaco, lesão
anóxica endotelial e hipóxia tecidual generalizada, que Tema 4
afetam os órgãos vitais e os levam à falência.
Inflamação, reparo tecidual e neoplasias
FASE IRREVERSÍVEL
DESCRIÇÃO neoplasias, as suas características gerais, a
epidemiologia do câncer, entender o papel dos proto-
Inflamação aguda e crônica. Princípios fundamentais
oncogenes, dos genes supressores de tumor, os tipos de
do processo de regeneração e cicatrização. Conceitos
agentes carcinogênicos e os aspectos clínicos das
gerais, aspectos epidemiológicos e clínicos das
neoplasias.
neoplasias benignas e malignas.
MÓDULO 1
PROPÓSITO
Compreender o processo inflamatório nos permite
diferenciar as características das respostas Descrever as características gerais dos processos
inflamatórias aguda e crônica, as formas de reparo inflamatórios agudo e crônico
tecidual e os princípios gerais da neoplasia, sua
epidemiologia e seus aspectos moleculares e clínicos. VISÃO GERAL DA INFLAMAÇÃO: DEFINIÇÃO
E CARACTERÍSTICAS GERAIS
OBJETIVOS
Inflamação (do latim inflamare, que significa “pegar
MÓDULO 1 fogo”) é uma resposta dos tecidos vascularizados a
lesões e agentes agressores. Embora, à primeira vista,
Descrever as características gerais dos processos
pareça apenas uma reação nociva, a reação
inflamatórios agudo e crônico
inflamatória é essencial à nossa sobrevivência. Ela tem
MÓDULO 2 por objetivo eliminar do nosso organismo tanto a causa
inicial da lesão celular, que pode ser um
Reconhecer o processo de reparo tecidual, as microrganismo ou algum tipo de toxina, quanto as
características fundamentais da regeneração e possíveis consequências dessa lesão, que são células e
cicatrização de lesões tecidos necrosados. Porém, embora a reação
MÓDULO 3 inflamatória seja um dos componentes mais
importantes da resposta imunológica, combatendo
Identificar os conceitos gerais, a epidemiologia e as muitos agressores, ela própria pode causar danos ao
características das neoplasias benignas e malignas organismo.
MÓDULO 4
Descrever os agentes carcinogênicos e os aspectos
moleculares e clínicos das neoplasias
INTRODUÇÃO
Quase todos os seres vivos, desde o procarionte mais Inf
simples até o ser humano, possuem estratégias lamação em vários locais do corpo.
adaptativas para responder a estímulos prejudiciais,
com objetivo de manter o bom funcionamento do A reação inflamatória é conhecida há muito tempo,
organismo. Essa resposta abrange uma série de tendo algumas de suas características clínicas descritas
alterações imunes, bioquímicas e fisiológicas, em papiro egípcio, aproximadamente no ano 3000 a.C.
conjuntamente denominadas de inflamação. Vamos Porém, somente no século I d.C., foram descritos os
visitar as características gerais do processo quatro sinais cardinais da inflamação. São
inflamatório e nos aprofundar nos dois tipos de eles: rubor (vermelhidão), tumor (edema), ardor (cal
resposta inflamatória: a aguda e a crônica. or) e dolor (dor). A caracterização do processo
inflamatório baseado em sinais cardinais, deu-se
Em seguida, trabalharemos o processo de reparo exclusivamente a partir de observações de inflamações
tecidual, importantíssimo para a sobrevivência do agudas, em locais onde era possível a observação a
organismo. Veremos os mecanismos de regeneração de olho nu, como a pele e a garganta. No século XIX, um
órgãos parenquimatosos e os tipos de cicatrização, quinto sinal – perda de função – foi adicionado.
classificados por primeira e segunda intenção.
Vamos estudar também as neoplasias. Como você deve
saber, os processos de proliferação e diferenciação são
extremamente complexos e regulados. Alterações
nesse sistema regulatório apresentam crucial
importância, além da alta prevalência e gravidade.
Vamos então nos familiarizar com a nomenclatura das
adaptativa contra os microrganismos patogênicos e nas
reações Inflamatórias.
VOCÊ SABIA
A chamada imunidade inata é a primeira barreira
contra infecções. Seus componentes incluem, além dos
leucócitos e das proteínas do sistema complemento,
células dendríticas e epiteliais. Juntos, eles atuam na
Os sinais cardinais da inflamação.
eliminação de células danificadas do próprio
Um dos primeiros trabalhos de observação do processo organismo e de corpos estranhos.
inflamatório foi realizado no final do século XVIII e,
além da descrição macroscópica, esse estudo levantou
a hipótese da relação entre a inflamação e a circulação
sanguínea. No século seguinte, foram realizados os
clássicos trabalhos experimentais de inflamação, que
mostravam as alterações vasculares e o processo
exsudativo celular após irritação direta da pele,
utilizando um modelo de membrana interdigital de rã.
Após a descoberta da histamina – o primeiro mediador
da inflamação –, logo no início do século XX, os
estudos experimentais progrediram e multiplicaram-se, leuc
possibilitando o melhor entendimento do processo ócitos na circulação sanguínea.
inflamatório e do tratamento das inflamações. Até
metade do século XX, aproximadamente, os Uma vez enviados aos tecidos lesados, ou com
conhecimentos sobre inflamação ainda eram presença dos agentes agressores, os leucócitos e outros
considerados separados dos de Imunologia, que eram componentes da defesa são ativados, para que possam
baseados, até então, quase inteiramente na ação dos eliminar essas moléculas indesejadas. Caso o processo
anticorpos. inflamatório não ocorresse, as infecções passariam
despercebidas, e os ferimentos ou tecidos lesados
Uma das características-chave do processo nunca cicatrizariam.
inflamatório é o recrutamento de leucócitos, anticorpos
e proteínas do sistema complemento, que estão na Dentre as causas mais comuns e clinicamente
circulação, para os locais onde é necessário eliminar os importantes da inflamação, estão as infecções,
agentes agressores. Essas agressões podem ser causadas diretamente por bactérias, vírus, fungos,
externas ao organismo, de natureza física, química ou parasitas ou indiretamente por toxinas microbianas.
biológica, ou internas, como o estresse metabólico
celular. Ou seja: a inflamação é um evento frequente e
pode ser causada por uma diversidade de estímulos, e
não necessariamente de natureza infecciosa.
LEUCÓCITOS
Os leucócitos, também conhecidos como glóbulos
brancos, são um conjunto de células que atuam
principalmente na defesa do nosso organismo,
protegendo-o contra organismos invasores e
desencadeando respostas imunológicas. Eles podem
ser divididos em células mononucleares (linfócitos T,
linfócitos B, células natural killer, monócitos,
macrófagos e células dendríticas) ou
polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos, basófilos
e mastócitos).
SISTEMA COMPLEMENTO Porém, o processo inflamatório pode possuir causas
O sistema complemento é composto por uma série de variadas. São elas:
proteínas solúveis que atuam nas imunidades inata e
direcionadas contra antígenos próprios, no caso de
doenças autoimunes, ou são reações excessivas contra
alguma substância, como ocorre nas alergias.
De forma genérica, o processo inflamatório é dividido
em etapas:
PRIMEIRA ETAPA
O reconhecimento de agentes agressores é a primeira
etapa da resposta inflamatória. Ele é feito por
células epiteliais, células dendríticas, macrófagos
residentes, leucócitos ou outros tipos celulares que
possuam receptores capazes de reconhecer
microrganismos e produtos de dano celular. Essas
células, juntamente a seus receptores, representam uma
adaptação evolutiva dos organismos frente à presença
NECROSE TECIDUAL de agentes indesejados.

Leva à inflamação independentemente da causa da SEGUNDA ETAPA


morte celular, podendo ser por isquemia (redução do
Ocorre após o reconhecimento do agente agressor
fluxo sanguíneo), trauma, lesões físicas (queimaduras,
pelos tipos celulares descritos anteriormente, quando
por exemplo) e químicas (exposição a algumas
há a liberação de mediadores, como citocinas e
substâncias tóxicas).
quimiocinas, que vão atuar no recrutamento de
leucócitos e proteínas plasmáticas. Durante o
recrutamento, os vasos sanguíneos se dilatam e
PRESENÇA DE CORPOS ESTRANHOS aumentam sua permeabilidade, causando a redução do
fluxo sanguíneo. Com isso, os leucócitos e outras
Como suturas e sujeiras, que podem causar inflamação
moléculas recrutadas podem aderir à parede vascular e
à medida que levam ao dano tecidual ou transportam
migrar para o local da lesão.
microrganismos. Além disso, algumas substâncias
endógenas, presentes no próprio organismo, podem ser TERCEIRA ETAPA
depositadas nos tecidos, como os cristais de colesterol
na aterosclerose, e causar essa reação. Após recrutamento e ativação dos leucócitos, eles
fagocitam e destroem os agentes agressores nos
tecidos, assim como as células mortas durante a lesão.
A ativação, assim como o recrutamento dos leucócitos,
é feita tanto por mediadores liberados pelas células
reconhecedoras do agente agressor quanto por
proteínas plasmáticas circulantes.
QUARTA ETAPA
Uma vez que o agente agressor é eliminado, inicia-se a
conclusão do processo inflamatório. Ela ocorre porque
os mediadores e componentes de defesa esgotam-se e
são dissipados. Mas não é só isso! Temos também a
ativação de mecanismos anti-inflamatórios, que entram
em ação para controlar a resposta inflamatória e evitar
que sejam causados danos excessivos ao organismo.
QUINTA ETAPA
Quando o objetivo de eliminar o agente agressor é
alcançado, há a restauração do local da inflamação à
sua normalidade. Porém, outros desfechos para o
REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE processo inflamatório existem e dependem da natureza
da lesão, intensidade, do local e da resposta do
Ocorrem quando o sistema imune causa danos ao hospedeiro. Veremos isso quando discutirmos a
próprio indivíduo. As respostas lesivas são inflamação aguda.
DICA ETAPAS DO PROCESSO INFLAMATÓRIO
As etapas do processo inflamatório podem ser Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre as etapas
lembradas como os “5 Rs”: do processo inflamatório e os efeitos sistêmicos da
inflamação.
Reconhecimento do agente agressor
Existem dois tipos de inflamação: a inflamação aguda
Recrutamento de leucócitos
e a crônica. Vamos conhecê-las?
Remoção do agente agressor
INFLAMAÇÃO AGUDA
Regulação e resolução da resposta
A inflamação aguda é uma resposta rápida à lesão ou à
Restauração do tecido presença de microrganismos invasores. Ela possui dois
componentes principais: as alterações vasculares e os
A figura a seguir mostra um resumo dessas etapas. eventos celulares.
As alterações vasculares são caracterizadas pela
dilatação de pequenos vasos, levando ao aumento do
fluxo sanguíneo (vasodilatação), e pelo aumento da
permeabilidade dessa vasculatura, que permitirá que
proteínas plasmáticas e leucócitos saiam da circulação
em direção ao local da lesão ou inflamação. Essas
alterações iniciam-se logo após a agressão.
A vasodilatação é induzida pela ação de vários
mediadores químicos (principalmente a histamina) na
musculatura lisa dos vasos sanguíneos. Ela ocorre,
primeiro, nas arteríolas, seguida do aumento dos
E outros capilares ao redor. O resultado imediato é o
tapas envolvidas na inflamação. aumento do fluxo sanguíneo, que é justamente a causa
do calor e da vermelhidão no local da inflamação. Uma
Como aprendemos, a inflamação é um processo útil na vez que os vasos são dilatados, ocorre o aumento da
remoção e eliminação de agentes agressores, com permeabilidade da vasculatura, com extravasamento de
posterior reparo tecidual. Porém, a resposta fluido, que é rico em proteínas para os tecidos
inflamatória é capaz de causar danos aos tecidos extravasculares.
normais. Existem diversas doenças nas quais a reação
inflamatória é mal direcionada (contra antígenos HISTAMINA
próprios nas doenças autoimunes, ou contra antígenos
A histamina é uma amina biogênica, que atua como um
ambientais geralmente inofensivos nas alergias) ou mal
mediador da inflamação. É uma substância
regulada. Nesses casos, a inflamação, que deveria ser
vasodilatadora envolvida em processos bioquímicos de
protetora, torna-se a causa da doença.
respostas imunológicas, como o extravasamento
SAIBA MAIS plasmático, que resulta no aparecimento de edemas,
vermelhidão, coceira etc.
A reação inflamatória é causa de doenças crônicas
comuns, como artrite reumatoide, aterosclerose e ARTERÍOLAS
fibrose pulmonar.
As arteríolas são vasos sanguíneos de pequeno calibre,
que resultam da ramificação das artérias. A partir das
arteríolas, o sangue é direcionado aos capilares
sanguíneos.
SAIBA MAIS
A saída de fluidos, células e proteínas do sistema
vascular para o interior de tecidos é chamada de
exsudação. O exsudato, então, é um fluido
extravascular que possui elevada concentração de
proteínas. Ele resulta do aumento da permeabilidade
dos vasos sanguíneos, que pode ser provocada por uma
Mão de um paciente com artrite reumatoide. reação inflamatória. Porém, quando há desequilíbrio
osmótico ou hidrostático ao longo da parede vascular, CÉLULAS ENDOTELIAIS
mas sem o aumento da permeabilidade, ocorre o que
As células endoteliais são células achatadas, com
chamamos de transudato: um fluido com baixo teor
espessuras variadas, que recobrem todo o interior dos
proteico e pouco ou nenhum material celular.
vasos sanguíneos, principalmente dos capilares,
O edema é o acúmulo de fluidos extravasculares no
formando a parede do vaso.
tecido, que pode ser ou um exsudato ou um transudato.
O pus é um exsudato inflamatório, rico em leucócitos, Durante o desenvolvimento da estase, os leucócitos
restos celulares e microrganismos. circulantes vão se acumulando ao longo do endotélio,
da parede vascular. Ao mesmo tempo, ocorre a
ativação das células endoteliais por mediadores
produzidos no local da lesão ou infecção. Uma vez
ativadas, essas células passam a apresentar altos níveis
de moléculas de adesão, às quais os leucócitos aderem,
e, logo depois, migram através do endotélio para
dentro do tecido.

Foto mostrando o edema na mão direita.


A permeabilidade vascular é resultado da abertura de
espaços entre as células endoteliais, com consequente
saída de fluidos através do endotélio. Vários
mecanismos são responsáveis pelo aumento de
permeabilidade, e o mais comum é a contração das
células endoteliais, induzida pela histamina, resultando
no aumento dos espaços entre células. Porém, a lesão
endotelial, direta ou induzida por leucócitos, também
pode ocorrer, resultando em necrose e separação das
células endoteliais.
Embora a vasodilatação cause inicialmente o aumento
do fluxo sanguíneo, a perda de fluidos através do Migração de leucócitos pelos espaços entre células
endotélio e o diâmetro aumentado do vaso levam a um endoteliais até o local da lesão.
fluxo sanguíneo mais lento, com aumento da
concentração de hemácias nos pequenos vasos e ATENÇÃO
consequente aumento da viscosidade do sangue. Essas Os vasos linfáticos também participam da inflamação
alterações caracterizam o que chamamos de estase, aguda. Uma das funções do sistema linfático é filtrar e
que é conhecida como congestão vascular e é a causa fiscalizar os fluidos extravasculares. Durante a reação
da vermelhidão localizada no tecido inflamado. A inflamatória aguda, tanto os vasos linfáticos como os
vasodilatação é rapidamente seguida pelo aumento da sanguíneos se proliferam, para lidar com o aumento da
permeabilidade vascular, que culmina no carga. O fluxo linfático, portanto, é aumentado e
extravasamento de fluidos e na consequente auxilia na drenagem do edema, resultado do aumento
diminuição do fluxo sanguíneo. da permeabilidade vascular. No processo de resolução
da infecção, os vasos linfáticos atuam na reabsorção do
fluido extravascular. No entanto, leucócitos, restos
celulares e microrganismos também podem ser
drenados pela linfa.

Esquema mostrando as alterações vasculares com a


vasodilatação.
por moléculas de adesão presentes nos dois tipos
celulares e que são reforçadas por citocinas, secretadas
pelas células sentinelas nos tecidos como resposta aos
agentes agressores, garantindo que os leucócitos sejam
recrutados para os locais onde os estímulos estão
presentes.
QUIMIOCINAS
São uma família de proteínas com baixo peso
molecular e que agem primeiramente como atraentes
químicos para tipos específicos de leucócitos.
CITOCINAS
Os eventos celulares incluem o acúmulo dos Citocinas são proteínas produzidas por muitos tipos
leucócitos na parede vascular, migração para o sítio da celulares (principalmente linfócitos, células dendríticas
lesão e posterior ativação, com o objetivo de eliminar o e macrófagos ativados, mas também células
agente agressor. Trata-se de uma consequência das endoteliais, epiteliais e do tecido conjuntivo), que têm
alterações vasculares. Por isso, os leucócitos mais por função mediar e regular as respostas imunológicas
importantes na reação inflamatória são aqueles que inflamatórias.
realizam a fagocitose, como os neutrófilos e
macrófagos. Essas células ingerem e destroem ATENÇÃO
microrganismos, tecidos necróticos e outras Os grupos mais relevantes de moléculas que
substâncias indesejadas. Além disso, também participam da adesão e migração de leucócitos são
produzem fatores de crescimento que atuarão no formados pelas selectinas e integrinas, presentes tanto
processo de reparo tecidual. No entanto, não podemos na superfície dos leucócitos quanto das células
esquecer que, quando essas células são fortemente endoteliais.
ativadas, podem ocorrer danos nos tecidos.
MIGRAÇÃO NOS TECIDOS EM DIREÇÃO AOS
ESTÍMULOS QUIMIOTÁTICOS:
Após atravessarem o endotélio, os leucócitos penetram
nos tecidos lesionados e continuam migrando em
direção ao local da lesão por um processo chamado
de quimiotaxia. Várias moléculas (exógenas ou
Neutrófilos endógenas) podem atuar como quimioatraentes, como
, os leucócitos mais abundantes do sangue. produtos bacterianos, citocinas, componentes do
O caminho dos leucócitos, desde o endotélio vascular sistema complemento e alguns metabólitos. Todos eles
até o tecido, é um processo regulado e mediado por se ligam a receptores específicos na superfície dos
moléculas de adesão e quimiocinas. Ele pode ser leucócitos, induzindo a migração dessas células e
dividido da seguinte forma: seguindo os estímulos inflamatórios.

MARGINAÇÃO, ROLAMENTO E ADESÃO AO


ENDOTÉLIO:
Em uma condição normal, no vaso sanguíneo, o fluxo
de hemácias ocorre de maneira central, deslocando os
leucócitos em direção à parede do vaso. No início de
um processo inflamatório, o fluxo sanguíneo torna-se
mais lento, e mais leucócitos assumem uma posição
periférica ao longo da parede vascular. Esse processo é
chamado de marginação. Depois, os leucócitos Marginação, rolamento e migração de leucócitos pelo
começam a fazer ligações transitórias com o endotélio, endotélio.
separando-se e ligando-se novamente às células A natureza do infiltrado inflamatório varia conforme o
endoteliais, fazendo o rolamento. Por fim, os tempo e o tipo do estímulo. Normalmente, em
leucócitos param em certo ponto da parede vascular, infecções agudas, ocorre o predomínio de neutrófilos
onde realizam a adesão de maneira mais firme. A nas primeiras 24 horas, que são substituídos por
ligação de leucócitos às células endoteliais é mediada
monócitos e macrófagos em até 48 horas. A razão disso eliminação dos agentes infecciosos e das células
é que os neutrófilos são mais numerosos no sangue e necrosadas. Todas as moléculas envolvidas na
respondem rapidamente às quimiocinas. Entretanto, destruição do material fagocitado são concentradas no
possuem vida curta nos tecidos, entrando em apoptose fagolisossomo, fazendo com que essas substâncias, que
e sendo substituídos por monócitos, que, além de são potencialmente lesivas, sejam separadas do
sobreviverem por mais tempo, proliferam-se nos restante do citoplasma e do núcleo do fagócito.
tecidos.
QUIMIOTAXIA
Locomoção seguindo um gradiente químico. Nesse
caso, um gradiente químico de quimiocinas e outras
moléculas quimioatraentes.
ATENÇÃO
Em certas infecções, como as causadas por bactérias
do gênero Pseudomonas, os neutrófilos são
continuamente recrutados para os infiltrados
inflamatórios. Já em infecções virais, os linfócitos Etapas da fagocitose.
costumam ser as primeiras células a chegarem ao local.
Em reações alérgicas, os eosinófilos podem ser o tipo Você sabia que os neutrófilos possuem um mecanismo
celular predominante no infiltrado inflamatório. especial de defesa, em resposta a agentes infecciosos
(principalmente bactérias e fungos) e mediadores
Uma vez recrutados para o local de infecção ou morte inflamatórios?
celular, os leucócitos precisam ser ativados para
realizarem suas funções. O reconhecimento de As armadilhas extracelulares de neutrófilos (as
microrganismos ou de produtos de morte celular NETs) são redes fibrilares extracelulares que possuem
presentes nos receptores de leucócitos induz alta concentração de substâncias antimicrobianas e são
a ativação dessas células. As respostas funcionais mais liberadas nos locais de infecção, prendendo os
importantes na destruição de microrganismos e outros microrganismos e evitando que eles se espalhem pelo
agentes agressores são a fagocitose e a morte organismo.
intracelular. A fagocitose é um processo complexo,
que envolve o remodelamento da membrana
plasmática e alterações no citoesqueleto. Ela
compreende três principais fases: o reconhecimento e a
ligação da partícula a ser ingerida pelo fagócito, a
ingestão dessa partícula e, por fim, a morte ou
degradação do material ingerido.

Fagócito
ativado, englobando bactérias presentes no tecido.
Após a ligação da partícula aos receptores do fagócito,
há a emissão de pseudópodes ao redor dela e, em
seguida, a membrana plasmática do fagócito se fecha, Candida albicans cobertas pelas NETs (quadrado
formando uma vesícula (fagossomo) que engloba a branco).
partícula. O fagossomo, então, funde-se ao lisossomo A seta mostra a levedura C. albicans.
celular, formando o fagolisossomo. A destruição dos
microrganismos e de outros agentes agressores Como já aprendemos, os leucócitos podem causar
fagocitados é realizada tanto pelas enzimas lesão em células e tecidos normais, e isso ocorre pela
lisossômicas liberadas quanto pelas espécies reativas ação dos mediadores inflamatórios nesses tecidos. Em
de oxigênio e de nitrogênio. Essa é a etapa final da algumas infecções de difícil eliminação, como a
tuberculose, a resposta imune prolongada e contínua que restaram puderam se regenerar. Porém, muitas
contribui mais para a doença que o próprio agente variáveis, como a natureza, intensidade, o local e a
etiológico. Além disso, o dano pode ser causado resposta do hospedeiro, podem modificar o processo
quando a resposta inflamatória é inapropriadamente básico da inflamação; assim, podemos ter outros dois
direcionada contra tecidos saudáveis do hospedeiro, finais para a inflamação, além da resolução:
como no caso das doenças autoimunes, ou quando ela
é excessiva contra substâncias ambientais geralmente
inofensivas, como nas doenças alérgicas. Em todas
essas situações, os mecanismos envolvidos na ação
antimicrobiana são os mesmos que causam lesões em
tecidos normais. Isso porque, uma vez ativados, os
leucócitos e seus mecanismos não distinguem o
hospedeiro do agressor.
ATENÇÃO Possíveis resultados da inflamação aguda.
Os leucócitos ativados, especialmente macrófagos,
possuem várias outras funções na defesa do organismo,
pois produzem citocinas, que atuam tanto na
amplificação quanto na limitação da resposta
inflamatória; fatores de crescimento, que estimulam a
síntese de colágeno; proliferação de células endoteliais
e fibroblastos, além de produzirem enzimas, que vão
atuar na remodelação do tecido conjuntivo. Por isso, os
macrófagos são células muito importantes na
Tecido
inflamação crônica e no reparo tecidual.
cicatrizado após lesão.
REPARO POR MEIO DE CICATRIZAÇÃO OU
FIBROSE:
Ocorre após grande destruição tecidual, ou quando a
lesão envolve tecidos que apresentam baixa ou
nenhuma capacidade de regeneração ou quando existe
exsudato abundante de fibrina no tecido. Nesses casos,
o tecido conjuntivo prolifera para dentro das áreas de
dano ou exsudato, substituindo o tecido anterior por
massa de tecido fibroso.
Macr
ófago fagocitando bactérias. Fique tranquilo, pois, no próximo módulo, vamos
conhecer e entender como isso ocorre.
O processo inflamatório precisa ser rigorosamente
regulado para minimizar os danos aos tecidos. EVOLUÇÃO DA RESPOSTA AGUDA PARA A
Normalmente, a inflamação tende a diminuir com a INFLAMAÇÃO CRÔNICA:
remoção do agente agressor, porque os mediadores que A cronificação do processo inflamatório ocorre quando
a induzem são produzidos somente enquanto o há a persistência do agente agressor ou alguma
estímulo permanece, sendo degradados pouco tempo interferência no processo de reparo, impedindo a
depois. Além disso, como já comentamos, os resolução da resposta inflamatória aguda.
neutrófilos possuem curta duração nos tecidos. Por
fim, à medida que a resposta inflamatória vai SAIBA MAIS
cumprindo seu papel, há a produção de vários sinais de
Como vimos, as respostas inflamatórias agudas são
alerta para o fim da reação.
caracterizadas principalmente pela dilatação dos vasos
Esse fim, em um cenário ideal, significa que houve sanguíneos de menor calibre e pelo acúmulo de
sucesso na eliminação do estímulo agressor e a leucócitos e fluidos no tecido extravascular. Porém,
restauração do local da inflamação à sua normalidade. alguns outros padrões morfológicos dependem da
Esse processo é chamado de resolução, quando a lesão causa da inflamação, do tipo de tecido e do local
é eliminada, ou de curta duração, quando houve envolvido (para conhecer mais sobre esses padrões,
pouca destruição dos tecidos envolvidos e as células não deixe de visitar o Explore +).
INFLAMAÇÃO CRÔNICA Como já visto anteriormente, sob certas circunstâncias,
reações imunológicas são ativadas de maneira
Como aprendemos, a inflamação crônica pode
inapropriada ou excessiva contra tecidos do próprio
representar uma evolução da inflamação aguda, ou
indivíduo, levando às doenças autoimunes. O que
pode ter início como uma resposta de baixo grau e
ocorre é o estímulo de uma reação crônica por
contínua, sem qualquer manifestação aguda anterior. A
autoantígenos, que se retroalimenta e se perpetua,
inflamação crônica é uma inflamação onde a lesão do
causando danos teciduais crônicos e inflamação. A
tecido e as tentativas de reparo dessa lesão vão existir
artrite reumatoide é um bom exemplo dessas doenças.
conjuntamente, em várias formas, e por bastante
Há também as doenças alérgicas, que são respostas
tempo, podendo chegar a meses de ocorrência.
imunológicas que ocorrem de maneira inapropriada
O QUE PODE CAUSAR A INFLAMAÇÃO contra substâncias ambientais comuns. A asma
CRÔNICA? brônquica é um exemplo de doença alérgica crônica.

INFECÇÕES PERSISTENTES Alguns tipos de resposta inflamatória crônica podem


desempenhar papéis importantes na patogênese de
Essas infecções causadas por microrganismos que são algumas doenças que normalmente não são
difíceis de eliminar, como alguns vírus (o vírus da consideradas inflamatórias, como a doença de
hepatite C, por exemplo), microbactérias (causadoras Alzheimer, o diabetes do tipo 2 e algumas neoplasias,
da tuberculose), fungos e parasitas. Algumas vezes, a em que o estímulo inflamatório promove o
resposta inflamatória apresenta um padrão específico, desenvolvimento de tumores.
que é chamado de reação granulomatosa. Já em
outros casos, uma vez que a inflamação aguda não se Ao contrário da inflamação aguda, a inflamação
resolve, evolui para a inflamação crônica. Um exemplo crônica é caracterizada por infiltrado inflamatório de
é a ocorrência de uma infecção bacteriana pulmonar células mononucleares, como macrófagos, linfócitos
que não foi eliminada e evolui para a formação de um e plasmócitos; pela destruição tecidual, que é
abscesso pulmonar crônico (para conhecer mais sobre induzida tanto pelo agente agressor quanto pela própria
a inflamação granulomatosa, visite o Explore +). reação inflamatória; e pelas tentativas de reparo, por
meio da substituição do tecido lesado por tecido
EXPOSIÇÃO CONTÍNUA E PROLONGADA A conjuntivo. Essa substituição é realizada pela
AGENTES POTENCIALMENTE TÓXICOS proliferação de vasos sanguíneos, a angiogênese, e
Esses agentes podem ser endógenos ou exógenos, principalmente pela fibrose.
como as partículas de sílica, que, quando inaladas de
forma recorrente, geram, a longo prazo, uma doença
pulmonar conhecida como silicose.

B
ases da inflamação crônica.
ANGIOGÊNESE
A angiogênese é o processo de desenvolvimento de
novos vasos sanguíneos a partir dos vasos sanguíneos
existentes.
O tipo celular predominante em grande parte das
P
inflamações crônicas são os macrófagos. Eles
ulmão de um trabalhador de minas acometido por
normalmente são encontrados espalhados pela maioria
tuberculose e silicose.
dos tecidos conjuntivos, além de locais específicos,
A aterosclerose, por exemplo, nada mais é do que um como fígado, baço, pulmões e linfonodos. Os
processo inflamatório crônico da parede arterial macrófagos contribuem para a resposta crônica ao
causado parcialmente pelo excesso de produção e secretarem citocinas e fatores de crescimento, que vão
deposição de colesterol e outros lipídeos endógenos. atuar em várias células, destruindo os agentes
agressores e tecidos, assim como na ativação de outras
DOENÇAS DE HIPERSENSIBILIDADE células, especialmente os linfócitos T. Os macrófagos
ativados participam ativamente da eliminação dos a sobrevivência do organismo. Ele ocorre a partir de
agentes lesivos e do início do reparo tecidual, porém dois tipos de reação, que resumiremos aqui e
também são responsáveis por grande parcela da discutiremos com detalhes mais adiante:
destruição tecidual que ocorre na inflamação crônica.
REGENERAÇÃO
Quando o agente agressor é eliminado, os macrófagos
podem deixar o local da lesão ou persistir Ocorre em tecidos que apresentam capacidade de
continuamente, através da circulação e proliferação no substituir os componentes lesados e retornar à
sítio da inflamação. normalidade. O processo de regeneração ocorre a partir
da proliferação de células que sobreviveram à
lesão e mantiveram sua capacidade multiplicativa,
como é o caso dos epitélios da pele e do intestino e
alguns órgãos parenquimatosos, em especial o fígado.
A proliferação celular é rigidamente controlada por
sinais promovidos pelos fatores de
crescimento (produzidos especialmente por
Macr macrófagos ativados pela lesão tecidual, células
ófago ativado emitindo pseudópodes. epiteliais e estromais) e pela matriz extracelular.
Outro tipo celular presente nas reações inflamatórias PROCESSO DE REGENERAÇÃO
crônicas são os linfócitos T e B. Os macrófagos, entre
outras funções, produzem citocinas que estimulam as
respostas de células T. Uma vez ativadas, as células T
também produzem citocinas, que recrutam e ativam
macrófagos. Essas interações resultam, então, em um
ciclo de respostas celulares que estimulam e sustentam
a inflamação crônica.

Três etapas do processo de regeneração.


Durante a regeneração tecidual, a proliferação celular é
acompanhada pelo desenvolvimento de células
Intera maduras a partir das células-tronco teciduais. Essas
ção entre macrófagos e linfócitos na inflamação células vivem em nichos especializados e atualmente
crônica. acredita-se que a lesão desencadeie sinais nesses
locais, ativando a proliferação e a diferenciação das
Além dos macrófagos e linfócitos, outros tipos células-tronco quiescentes em células maduras que irão
celulares também podem participar da resposta repovoar o tecido lesado.
crônica, como os eosinófilos, mastócitos e neutrófilos.
Os mamíferos apresentam capacidade regenerativa de
Algumas respostas inflamatórias crônicas, como a tecidos e órgãos limitada. Apenas alguns componentes
inflamação granulomatosa, dependem das respostas de da maioria dos tecidos conseguem recuperar-se
células T. Além disso, essas células podem ser a completamente.
população celular dominante em doenças autoimunes e
de hipersensibilidade. CICATRIZAÇÃO

MÓDULO 2 Caso os tecidos não consigam restituírem-se ou se a


lesão das estruturas de suporte tecidual for extensa, o
reparo ocorre por meio da cicatrização, que é a
deposição de tecido conjuntivo ou fibroso. Nós
Reconhecer o processo de reparo tecidual, as sabemos que a cicatriz não é normal, mas ela fornece
características fundamentais da regeneração e
uma estabilidade estrutural para que o tecido lesado
cicatrização de lesões
possa voltar a funcionar.
INTRODUÇÃO AO REPARO TECIDUAL
REGENERAÇÃO X CICATRIZAÇÃO
O reparo tecidual refere-se à restauração da arquitetura
e função tecidual após uma lesão e é fundamental para
medula óssea e alguns tipos de células epiteliais, como
as da epiderme, cavidade oral, as do trato biliar,
gastrointestinal e urinário. Todos esses locais podem
regenerar-se logo após a lesão tecidual, contanto que a
reserva de células-tronco esteja devidamente
preservada.
CÉLULAS HEMATOPOIÉTICAS
Células progenitoras que dão origem a todas as células
sanguíneas e do sistema imune, como os leucócitos.
ESTÁVEIS
Células de tecidos estáveis são quiescentes, no estágio
G0 do ciclo celular, apresentando atividade
proliferativa mínima em um ambiente normal. Porém,
uma vez que haja a lesão tecidual, elas são capazes de
se dividir e sua proliferação é particularmente
importante na cura das feridas. Células estáveis
constituem o parênquima da maior parte de órgãos
sólidos, como pâncreas, rins e fígado. Células
Mecanismos de reparo tecidual – Regeneração e endoteliais, fibroblastos e células musculares lisas
cicatrização. também são consideradas células estáveis. Esses
Vários tipos celulares se proliferam durante o reparo tecidos e células apresentam capacidade regenerativa
tecidual, como os fibroblastos, células endoteliais limitada após eventuais lesões, com exceção do tecido
vasculares e as próprias células teciduais hepático.
remanescentes. Os fibroblastos atuarão principalmente PERMANENTES
na formação da cicatriz, caso o tecido lesado não possa
ser reparado por regeneração. As células endoteliais Células de tecidos permanentes são consideradas
vasculares se proliferam para criação de novos vasos terminantemente diferenciadas e não proliferativas,
sanguíneos (angiogênese) que forneçam nutrientes como é o caso da maioria dos neurônios e das células
para o processo de reparo. Já as células remanescentes cardíacas. A lesão nesses órgãos é irreversível e
se proliferam com o objetivo de tentar restaurar o caracteristicamente resulta em cicatriz, sendo
tecido danificado. insuficiente qualquer capacidade proliferativa existente
para regenerá-los.
SAIBA MAIS
Atualmente, acredita-se que a maioria dos tecidos
contêm proporções variáveis de células lábeis, estáveis
e permanentes, embora seja difícil quantificá-las. Além
disso, a proliferação celular representa apenas uma via
de regeneração e as células-tronco contribuem de
forma importante para esse processo.

Os fibroblastos são células importantes na formação da Agora vamos estudar o processo de regeneração e
cicatriz. cicatrização de forma mais detalhada.

A forma de reparo é determinada em parte REGENERAÇÃO PARENQUIMATOSA


pela capacidade de proliferação intrínseca desse A regeneração dos tecidos lesados varia de acordo com
tecido. Com base nisso, podemos dividir os tecidos do a classificação desse tecido e com a gravidade da
corpo (e suas células) em três grupos: lesão. Em tecidos lábeis, como é o caso dos epitélios
LÁBEIS OU INSTÁVEIS da pele e do trato intestinal, as células danificadas são
rapidamente substituídas pela proliferação das células
Células de tecidos lábeis são constantemente perdidas residuais e diferenciação das células-tronco, como já
e substituídas pela maturação de células tronco e comentamos. Porém, é importante ressaltar que esse
posterior proliferação das células maduras. Exemplos processo só ocorre se a membrana basal, a matriz
de células lábeis são as células hematopoiéticas da
extracelular, estiver íntegra, pois será fonte dos fatores extensa por uma inflamação ou infecção, que acometa
de crescimento necessários para o reparo. o tecido como um todo, a regeneração é incompleta e
vem acompanhada da formação de cicatriz, processo
que falaremos a seguir. Em casos de abcesso hepático,
com destruição extensa do fígado, por exemplo, ocorre
a formação de cicatrizes fibrosas mesmo que os demais
hepatócitos tenham capacidade de se regenerar.
CICATRIZAÇÃO SEQUÊNCIA, FASES,
MECANISMOS, TIPOS E COMPLICAÇÕES
Caso ocorra uma lesão tecidual grave ou crônica, de
O epitélio da pele é composto por células lábeis. modo que a regeneração não seja suficiente para
reparar o dano tecidual, ou se os tecidos lesados sejam
Quando ocorre perda de hemácias, durante a lesão formados majoritariamente por células permanentes,
tecidual, essa perda é compensada pela proliferação de acontece uma substituição das células lesadas
células-tronco hematopoiéticas da medula óssea e de por tecido conjuntivo, formando uma cicatriz. Porém,
outros tecidos, ativado por fatores estimuladores de também podemos ter uma combinação, entre a
colônia, que são produzidos em resposta ao baixo regeneração de algumas células e a cicatrização.
número de hemácias.
VOCÊ SABIA
Em órgãos parenquimatosos com células estáveis, a
regeneração ocorre, mas com exceção do fígado, é um
processo limitado. O pâncreas, a tireoide e o pulmão,
por exemplo, são tecidos que apresentam certa
capacidade regenerativa. Quando um paciente é
submetido à remoção de um rim, ocorre uma resposta
compensatória do outro rim, pela hipertrofia e Cicatriz em ombro.
hiperplasia das células do ducto proximal. Ainda não
sabemos ao certo quais são os mecanismos que possam Ao contrário da regeneração, que envolve a restituição
explicar essa resposta, mas muito provavelmente dos componentes teciduais, a formação de cicatriz é
envolvem fatores de crescimento e interação das como se fosse uma espécie de “remendo” nos tecidos
células com a matriz extracelular. lesados.

Falamos que o fígado é a exceção à regra da A cicatrização é um processo que ocorre após lesões
regeneração limitada dos tecidos estáveis. Você sabe causadas por traumatismos ou pela morte celular.
o porquê?
O fígado humano apresenta uma capacidade
regenerativa extraordinária, conforme demonstrada por
seu crescimento após hepatectomia parcial. A
regeneração desse órgão acontece por meio de dois
mecanismos muito importantes e que já foram
comentados, que são a proliferação das células
remanescentes, os hepatócitos, e o repovoamento
Ela é didaticamente dividida em três
celular a partir de células progenitoras.
fases: inflamatória, proliferativa e de maturação.
Fase inflamatória: tem início imediatamente após a
lesão e envolve alterações vasculares e eventos
celulares. Inicialmente, para reduzir a perda sanguínea,
há a liberação de moléculas vasoconstritoras. A
constrição vascular é transitória e imediatamente
Mecanismos de regeneração hepática seguida pelo desencadeamento do processo de
hemostasia, que culmina na formação de um coágulo
É importante comentarmos que a arquitetura normal formado por fibrina, colágeno e plaquetas ativadas.
dos tecidos só pode ser regenerada se o tecido residual Uma vez que o coágulo (tampão fibrino-plaquetário)
estiver estruturalmente ileso. Caso ocorra uma lesão
auxilia na prevenção de hemorragias, a resposta que estimulam a proliferação dos fibroblastos,
inflamatória se inicia. Ocorre um aumento da produção de colágeno e a transformação em
permeabilidade vascular, que favorece a migração de miofibroblastos, promovendo a contração da ferida.
leucócitos, principalmente neutrófilos, para o local da
lesão. De fato, os neutrófilos são as primeiras células a
chegar no local de dano, iniciando a eliminação do
agente agressor e de células mortas. Gradativamente
são substituídos por macrófagos. Os macrófagos, além
de ajudarem na remoção do tecido morto e combate a
possíveis microrganismos, secretam citocinas e fatores
de crescimento que atuam na angiogênese, na
produção de colágeno por fibroblastos e na síntese de
matriz extracelular, fatores fundamentais para a
transição para a fase proliferativa.

TGF-Β
Fator de crescimento transformante beta é uma
proteína que controla a proliferação, diferenciação
celular e outras funções na maioria das células.
Fase de maturação: a característica mais importante
dessa fase é a deposição de colágeno de maneira
organizada. O colágeno produzido inicialmente é
mais fino que o colágeno da pele normal. Com o
tempo, esse colágeno inicial é reabsorvido e é
produzido um colágeno mais espesso. Essas mudanças
resultam no aumento da força tensora da ferida. A
reorganização da nova matriz extracelular é uma etapa
crucial do processo de cicatrização, na qual
ANGIOGÊNESE fibroblastos e leucócitos secretam colagenases que
atuarão na degradação da matriz antiga. Portanto, em
Processo de formação e proliferação de novos uma balança que equilibra a síntese da nova matriz e a
capilares sanguíneos. degradação da matriz antiga, só veremos sucesso na
cicatrização quando houver maior taxa de deposição de
Fase proliferativa: também chamada de fase de
colágeno e síntese da nova matriz extracelular.
granulação, a fase proliferativa é constituída das etapas
de epitelização, angiogênese e formação de tecido de
granulação. A epitelização é um processo que ocorre
de maneira precoce. Caso a membrana basal esteja
intacta, as células epiteliais migram em direção
superior e as camadas superficiais são restauradas
rapidamente, em aproximadamente 3 dias. Porém, caso
a membrana basal tenha sofrido danos, as células
epiteliais das bordas da lesão começam a se proliferar
para tentar reestabelecer a barreira protetora. Já a
angiogênese é caracterizada pela migração de células
endoteliais e formação de capilares, essenciais para a
adequada cicatrização. A etapa final é a formação do
tecido de granulação, na qual os fibroblastos vizinhos
migram para o local da lesão e são ativados, saindo do
VOCÊ SABIA
seu estado de quiescência. Há a liberação de fatores de
crescimento, como o PDGF (fator de crescimento Usamos o termo tecido de granulação por causa da
derivado de plaquetas) e de citocinas, como o TGF-β, aparência rósea, macia e granular vista sob a crosta de
uma ferida cutânea. Na histologia, observamos a
proliferação de fibroblastos e capilares novos e
delicados, em uma matriz extracelular frouxa,
geralmente com a mistura de células inflamatórias,
principalmente macrófagos.
Até aqui, nós aprendemos os princípios gerais e
mecanismos de reparo por meio da regeneração e
formação de cicatriz. Agora, comentaremos o processo
de cicatrização de feridas cutâneas, que dependendo
da natureza e do tamanho da lesão, pode ser
classificado de duas formas:
Cicatrização por primeira intenção: ocorre quando a
lesão acomete apenas a camada epitelial. O reparo
consiste basicamente no processo de cicatrização que
comentamos anteriormente: fase inflamatória,
proliferativa e de maturação.

2
Há a proliferação de células epiteliais e de fibroblastos,
além da fagocitose do coágulo pelos leucócitos
oriundos do processo inflamatório.

1
O coágulo é formado e ocupa o espaço do sangue
extravasado pelo corte. A reação inflamatória é
induzida pela liberação de mediadores liberados pelos
componentes do tampão hemostático e das células
remanescentes das bordas.

3
Por fim, inicia-se a produção de tecido conjuntivo
cicatricial e a regeneração do epitélio.
EXEMPLO
Um exemplo clássico é quando temos um corte limpo
e sem infecção (normalmente cirúrgico) e suas bordas
são aproximadas por suturas. Esse tipo de reparo é
mais rápido e forma uma cicatriz menor, uma vez que
a fenda da ferida causa apenas a interrupção focal da
continuidade epitelial e a destruição tecidual nas
bordas é menor.
Formaçã
o da cicatriz por primeira intenção.
2
Cicatrização por segunda intenção: ocorre em
grandes feridas, abcessos, ulcerações e no infarto de Em seguida, ocorre o desenvolvimento abundante do
órgãos parenquimatosos, onde há extensa perda celular tecido de granulação, acúmulo de matriz extracelular e
e tecidual. Nesses casos, o reparo envolve uma formação de uma grande cicatriz.
combinação entre os processos de regeneração e
cicatrização.

3
1 Além disso, a contração da ferida, pela ação dos
miofibroblastos, geralmente ocorre nas lesões de
Os mecanismos da cicatrização por segunda intenção
grande superfície. O processo de contração ajuda a
assemelham-se aos de primeira intenção, porém na
fechar a ferida, uma vez que diminui o espaço entre as
cura por segunda intenção há a intensificação do
bordas, e é uma característica importante desse tipo de
processo inflamatório (especialmente se houver
cicatrização.
infecção).
O QUE VOCÊ ENTENDE POR FIBROSE?
RESPOSTA
Esse termo é empregado para indicar a ocorrência da
deposição excessiva de colágeno e outros componentes
de matriz extracelular nos tecidos, normalmente em
um processo patológico induzido por estímulos lesivos
persistentes, como as infecções crônicas. Tipicamente
associada à perda tecidual, a fibrose possui REPARO TECIDUAL:
mecanismos idênticos aos da cicatrização da pele. DIFERENÇAS ENTRE O SISTEMA NERVOSO
Além disso, pode ser responsável pela disfunção e até CENTRAL E PERIFÉRICO
insuficiência dos órgãos.
Neste vídeo, vamos discutir as características e as
A formação da cicatriz e do tecido de granulação diferenças entre o reparo no sistema nervoso central e
podem apresentar dois tipos de complicação: a ruptura periférico.
da ferida, que chamamos de deiscência, e a ulceração.
FATORES QUE INFLUENCIAM O REPARO
A deiscência não é muito comum, acometendo com
TECIDUAL
maior frequência pacientes que passaram por uma
cirurgia de abdômen. Vômitos e tosse podem produzir Uma variedade de fatores pode alterar o processo de
estresse mecânico sobre a ferida. A ulceração de reparo tecidual, reduzindo sua qualidade e a adequação
feridas ocorre devido à vascularização inadequada do processo de reparo ativo.
durante o reparo, como é o caso das feridas de
membros inferiores de indivíduos com aterosclerose. FATORES LOCAIS

Além disso, quando há a formação excessiva de Fatores locais


componentes do processo de cicatriz, podemos ter  A infecção é um importante fator que leva à
como consequência as chamadas cicatrizes demora no processo de reparo.
hipertróficas e os queloides. As cicatrizes
hipertróficas são cicatrizes salientes, devido ao  A presença direta ou indireta de
acúmulo excessivo de colágeno. Caso essa cicatriz microrganismos prolonga a resposta
cresça além dos limites da ferida original, sem inflamatória, aumentando a lesão tecidual
apresentar regressão, é chamada de queloide. Em geral, local.
as cicatrizes hipertróficas se desenvolvem após
 A presença de corpos estranhos, como
traumas ou lesões térmicas que envolvem as camadas
pedaços de vidro, impede o reparo completo.
mais profundas da derme.
 Pressão local ou torção, assim como
outros fatores mecânicos, podem provocar
separação ou abertura espontânea (deiscência)
das feridas.
 A perfusão tecidual insatisfatória, decorrente
de lesões vasculares como na aterosclerose ou
por distúrbios hemodinâmicos também retarda
ou impede a cicatrização, pois reduz o
fornecimento de O2 e nutrientes para os tecidos
Formação de queloide na superfície da mão. lesados.
Outra anormalidade envolvida na cicatrização das
feridas é a granulação exuberante. O que ocorre é a
formação excessiva de tecido de granulação, causando
protusão acima do nível da pele e dificultando a A infecção é um fator complicador do reparo tecidual.
reepitelização. Porém, a granulação excessiva pode ser FATORES SISTÊMICOS:
removida por procedimentos de cauterização e excisão
cirúrgica. Fatores sistêmicos

SAIBA MAIS  O diabetes melito é uma das causas sistêmicas


mais importantes de anormalidades no reparo
Conforme já demonstramos, no processo normal de de lesões, devido a lesões vasculares (hipóxia)
cicatrização, a contração da ferida é uma característica e alterações em células fagocíticas que
importante. Uma vez exacerbada, a contração resulta favorecem infecções.
na contratura e deformidade da ferida e dos tecidos
ao redor dela. Essas anormalidades são comumente  O estado nutricional do indivíduo também
observadas após queimaduras graves, geralmente na apresenta influência importante no reparo: a
palma das mãos, planta dos pés e parte anterior do deficiência de proteínas, de vitamina C ou de
tórax, podendo comprometer o movimento das zinco retarda a cicatrização, pois interfere
articulações. diretamente nos processos de síntese de
colágeno.
 O tabagismo pode prejudicar a cicatrização Identificar os conceitos gerais, a epidemiologia e as
uma vez que a nicotina provoca vasoconstrição características das neoplasias benignas e malignas
e o monóxido de carbono tem efeitos anti-
NOMENCLATURA
inflamatórios.
A palavra neoplasia é derivada da junção das palavras
 A administração
gregas neo, que significa novo, e plasis, que significa
de glicocorticoides (esteroides) pode levar ao
formação. Apesar de bem conhecido pelos médicos e
enfraquecimento da cicatriz devido aos efeitos
profissionais da saúde, definir adequadamente o termo
anti-inflamatórios e à diminuição da fibrose.
neoplasia é uma tarefa complexa. Atualmente,
 O local da lesão e as características do neoplasia pode ser definida como um distúrbio de
tecido lesionado também são fundamentais proliferação celular, acompanhado da redução ou perda
para determinar o processo de reparo. de diferenciação, e desencadeado por uma série de
mutações adquiridas que vão afetar uma única célula e
 A resposta inflamatória sistêmica, que sua respectiva progênie. Essas mutações oferecem para
acompanha infecções e queimaduras extensas, as células neoplásicas uma vantagem de sobrevivência
também reduz a eficiência da cicatrização pela e crescimento, por isso a proliferação dessas células é
baixa perfusão tecidual e aumento de excessiva e independente dos sinais fisiológicos de
moléculas anti-inflamatórias. crescimento, a que todas as outras células normais são
 Um último fator muito importante é, sem submetidas.
dúvidas, o tipo e a extensão da lesão. Vimos Antigamente, o termo tumor (oncos, do grego) era
que tecidos lábeis e estáveis são capazes de sinônimo de edema causado pelo processo
restaurarem-se completamente. Porém, caso a inflamatório. Porém, ao longo dos anos, chamamos de
lesão seja extensa, a regeneração será tumor um neoplasma, ou seja, um novo crescimento.
incompleta. Já nos tecidos compostos por A oncologia é o estudo dos tumores ou neoplasmas. Os
células permanentes, a lesão resulta na componentes básicos de qualquer tumor são a presença
cicatrização, podendo haver tentativas de de células neoplásicas clonais, que vão constituir
compensação funcional pelos componentes
o parênquima tumoral e o tecido conjuntivo, os vasos
íntegros, como ocorre no reparo do infarto do
sanguíneos e as células do sistema imune inato e
miocárdio.
adaptativo, que juntos formam o estroma reativo do
PERFUSÃO TECIDUAL INSATISFATÓRIA tumor.

Diminuição da irrigação de sanguínea em um Os oncologistas classificam os tumores e seu


determinado tecido. comportamento biológico com base principalmente no
componente parenquimatoso. Porém, o crescimento e a
Afinal, a inflamação é ou não é importante para o disseminação dos tumores são altamente dependentes
reparo? do seu respectivo estroma.
Quando o desfecho da resposta inflamatória é Um tumor é denominado benigno quando avaliamos
a resolução, ou seja, quando a lesão é eliminada, de seus aspectos macro e microscópicos e os
curta duração ou quando houve pouca destruição dos consideramos relativamente inocentes. Ou seja, esse
tecidos envolvidos, há a liberação de vários fatores de tumor vai se manter localizado, não se disseminando
crescimento e as células remanescentes conseguem para outras áreas, podendo, dessa forma, ser removido
regenerar a área lesada. Porém, a acentuação da por cirurgia local. Porém, mesmo que geralmente não
resposta inflamatória e sua desregulação podem causem a morte do paciente, tumores benignos podem
prejudicar o reparo tecidual, aumentando a liberação ocasionar morbidade significativa, sendo fatais em
de metaloproteinases que levam ao desequilíbrio da algumas vezes.
relação entre síntese e lise de componentes da matriz
extracelular. Por isso, a inflamação é um processo que MORBIDADE
deve ser rigorosamente regulado, a fim de
Refere-se ao conjunto dos indivíduos que adquirem
proporcionar um reparo tecidual satisfatório.
doenças (ou doenças específicas) num dado intervalo
VERIFICANDO O APRENDIZADO de tempo em uma determinada população. A
morbidade mostra o comportamento das doenças e dos
MÓDULO 3 agravos à saúde na população.
Normalmente, os tumores benignos são denominados
pela ligação do sufixo –oma ao nome do tipo celular
que originou aquele tumor. Tumores de células
mesenquimais geralmente seguem essa regra:
condroma significa um tumor cartilaginoso benigno,
enquanto fibroma refere-se a um tumor benigno em
tecidos fibrosos. Os tumores epiteliais benignos são
classificados a partir das células de origem, ou pelo
padrão microscópico, e outros pela característica
macroscópica. Tumores epiteliais benignos que
produzem projeções visíveis, semelhantes a verrugas, a
partir de suas superfícies, são
denominados papilomas.
Ilustração
em 3D de um tumor maligno.
Para nomear os tumores malignos, são usadas algumas
expressões. Exemplos: sarcomas designam os tumores
malignos que surgem de tecidos mesenquimais sólidos
(fibrossarcoma, condrossarcoma etc.). Neoplasias
malignas de células formadoras do sangue são
chamadas de leucemias ou linfomas. Já o termo
carcinoma denomina os tumores malignos originários
de células epiteliais, de qualquer camada germinativa.
Algumas vezes, o tecido ou o órgão que deu origem ao
tumor pode ser identificado e é adicionado à sua
Papiloma descrição, como o carcinoma de células escamosas
plantar. broncogênico. Porém, muitas vezes, a composição
celular do tumor apresenta origem tecidual
De forma diferente, os tumores malignos, que são desconhecida. Nesses casos, chamamos de tumor
conhecidos coletivamente como cânceres, apresentam maligno indiferenciado.
capacidade de invadir e destruir o tecido à sua volta,
disseminando-se para outros locais do corpo, levando à VOCÊ SABIA
morte do indivíduo. Porém, uma vez diagnosticados
Quando uma neoplasia, seja ela benigna, seja maligna,
precocemente, podem ser removidos cirurgicamente ou
apresenta projeções macroscopicamente visíveis acima
tratados de maneira eficaz
da superfície da mucosa, projetando-se, é chamada de
com quimioterapia ou radioterapia. Atualmente,
pólipo.
embora ter um câncer não seja sinônimo de morte, a
designação “maligna” de um tumor deve ser
investigada com atenção.
QUIMIOTERAPIA
Quimioterapia é um tratamento que utiliza
medicamentos para destruir as células neoplásicas que
formam um tumor. Estes medicamentos são
administrados por via intravenosa e são levados a todas
as partes do corpo, destruindo as células tumorais e
impedindo que elas se espalhem pelo corpo.
RADIOTERAPIA

Radioterapia é um tratamento no qual se utilizam lipos intestinais.
radiações ionizantes (raio X, por exemplo) para
A nomenclatura de tumores contém alguns termos
destruir um tumor ou impedir que as células
inapropriados, mas que ainda são muito utilizados na
neoplásicas se proliferem. Pode ser utilizada em
clínica médica. Linfoma e melanoma, por exemplo,
conjunto com a quimioterapia ou outros tratamentos.
que soam como benignos, são utilizados para designar
certas neoplasias malignas.
Normalmente, as células que formam o parênquima de funções de suas células de origem, diferentemente de
tumores benignos ou malignos são semelhantes entre tumores malignos, que podem adquirir funções
si. Porém, em alguns poucos casos, ocorre uma inesperadas devido aos distúrbios na diferenciação.
diferenciação de um único clone celular neoplásico,
TAXA DE CRESCIMENTO
que resulta em um tumor misto, como o tumor misto
de glândula salivar, onde os componentes celulares são Tumores benignos normalmente apresentam
epiteliais, mas o estroma possui componentes ósseos e crescimento progressivo e lento, e podem sofrer
cartilaginosos. Todos esses elementos derivam de um paralisação ou regressão. Além disso, as mitoses são
único clone, que é capaz de produzir células epiteliais normais, sendo raras as figuras mitóticas. Por outro
e mioepiteliais. A designação de preferência para esse lado, tumores malignos apresentam crescimento
tipo de neoplasia é adenoma pleomórfico. irregular, podendo ser lento ou muito rápido. A
presença de mitoses não significa que o tumor seja
É importante ressaltar que, na grande maioria das
maligno ou mesmo neoplásico, porém numerosas
neoplasias, os tumores são compostos por células de
figuras mitóticas, atípicas e bizarras, como fusos
uma única camada germinativa (endoderma,
mitóticos multipolares, são características
mesoderma ou ectoderma). Porém, existe uma
morfológicas de tumores malignos.
exceção: o teratoma é um tumor que contém células
pertencentes a mais de uma camada germinativa. Ou INVASÃO LOCAL
seja, as células podem se diferenciar e originar
neoplasias, que contêm osso, epitélio, gordura e até A capacidade de invasão, assim como o
nervos, tudo de maneira desordenada. desenvolvimento de metástases, é a característica mais
confiável para diferenciarmos tumores benignos dos
malignos. As neoplasias benignas costumam crescer
como massas coesas, que permanecem bem
demarcadas nos locais de origem, sem infiltrarem,
invadirem ou causarem metástase. Por outro lado,
tumores malignos costumam ser pouco demarcados,
infiltrando-se no tecido ao redor.
METÁSTASE
Teratoma ovariano. Metástase refere-se à propagação de um tumor para
outras áreas não relacionadas ao tumor primário.
CARACTERÍSTICAS DAS NEOPLASIAS
Neoplasias benignas não formam metástase, sendo
BENIGNAS E MALIGNAS
essa uma característica de tumores malignos. Todos os
A distinção entre tumores benignos e malignos tumores malignos possuem o potencial de causar
geralmente é feita com base em uma série de metástase, porém alguns tipos raramente causam. Em
características, entre elas o grau de diferenciação, a geral, a probabilidade de um tumor causar metástase
taxa de crescimento, invasão local e disseminação a está relacionada ao baixo grau de diferenciação,
distância. invasão local agressiva e rápido crescimento. A
disseminação dos tumores malignos pode ocorrer
GRAU DE DIFERENCIAÇÃO através do seu implante direto em cavidades ou
Em geral, tumores benignos são bem diferenciados, superfícies corporais, por disseminação hematológica
sendo difícil distinguir microscopicamente as células ou linfática.
neoplásicas das normais adjacentes. Por outro lado, GRAU DE DIFERENCIAÇÃO
tumores malignos são bem menos diferenciados ou
completamente indiferenciados (anaplásicos), sendo Refere-se ao nível de semelhança das células do
a anaplasia uma das características da malignidade. A parênquima tumoral e das células parenquimatosas
orientação de células anaplásicas também se mostra normais correspondentes, seja no aspecto funcional,
alterada, com crescimento desorganizado. Células seja no aspecto morfológico.
cancerígenas normalmente apresentam variações em
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER
seu tamanho e sua morfologia, sendo denominadas
pleomórficas. Além disso, a morfologia nuclear O câncer é uma das principais causas de morte em todo
também se mostra anormal, com núcleos o mundo, sendo responsável por milhões de óbitos a
desproporcionalmente grandes e cromatina cada ano. Estima-se que uma a cada seis mortes esteja
desorganizada. Em relação à funcionalidade, células relacionada à doença. Apesar da alta mortalidade em
neoplásicas benignas são mais propensas a manter as nível global, são os países mais pobres que concentram
as maiores taxas de letalidade. Isso mostra como o
fator econômico apresenta influência nas estratégias e
políticas de prevenção, diagnóstico precoce e
tratamento. A estimativa para as próximas duas
décadas é o aumento do número anual de casos de
câncer, mas com diminuição das mortes prematuras
por diagnósticos tardios ou falta de acesso ao
tratamento adequado.
Desde a década de 1960, observamos diminuição do
número total de mortes provocadas por doenças
infecciosas e o aumento das chamadas doenças
crônicas não transmissíveis, como:
HIPERTENSÃO ARTERIAL
DIABETES
CÂNCER
Essas doenças são consideradas silenciosas e estão Tipos de câncer e suas estimativas globais de
associadas a 72% dos óbitos no Brasil. A mudança do incidência.
perfil epidemiológico está relacionada ao avanço
tecnológico, que permitiu o desenvolvimento de novas Pesquisas recentes têm demonstrado que alguns tipos
vacinas e novos medicamentos, e às melhorias em de câncer, como o sarcoma de Kaposi – uma neoplasia
saneamento básico nas cidades, que trouxeram mais endotelial –, o câncer de colo do útero e o câncer
qualidade de vida para a população. nasofaríngeo são mais frequentes em países com
menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por
As diferenças observadas entre as taxas outro lado, os cânceres colorretal, de pulmão e tireoide
de incidência de cada tipo de câncer em países de são mais frequentes em países com alto IDH. É claro
diferentes continentes indicam que as estratégias de que essa relação não é determinante, mas é proveitosa
enfrentamento devem ser desenhadas de acordo com o para pensarmos como o acesso à saúde é importante no
contexto de cada país. controle da doença. O sarcoma de Kaposi, por
INCIDÊNCIA exemplo, é uma neoplasia associada a pacientes com a
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
Número de novos casos surgidos em determinada (SIDA/AIDS).
população e em determinado intervalo de tempo.
Os cânceres de próstata e mama são aqueles que
apresentam os maiores números de novos casos no
mundo. Por esse motivo, políticas públicas de controle
vêm sendo gradualmente implementadas e, hoje, são
uma prioridade do nosso Sistema Único de Saúde, o
SUS.

Lesões do sarcoma de Kaposi.


Para pensarmos nas mudanças na epidemiologia do
câncer, podemos tomar como exemplo o caso do
câncer de pulmão. Provavelmente, você já assistiu a
algum filme ou série de época, principalmente os que
se passam em meados do século XX, em que era
comum fumar. O tabagismo era mais do que um
hábito, tratava-se de um fator cultural muito presente.
No final da década de 1980, cerca de 43% dos homens
e 27% das mulheres eram fumantes no Brasil.
Com fortes políticas e estratégias de combate ao
tabagismo implementadas pelo Ministério da Saúde,
esses números diminuíram significativamente, o que As estimativas globais indicam o aumento do número
reduziu também as doenças e as mortes relacionadas a de novos casos no mundo: segundo a Organização
esse problema. É muito provável que você já tenha Mundial da Saúde (OMS), em 2008 e 2018, foram
visto nas embalagens de cigarros aquelas fotos que notificados 12.6 e 18.1 milhões de novos casos,
alertam para as consequências do uso, ou mesmo respectivamente. A projeção é que, em 2040, esse
algum aviso proibindo fumar em locais fechados. número alcance 29.4 milhões de casos. O aumento
considerável será reflexo não apenas do real aumento
de novos casos, mas da crescente sensibilidade dos
sistemas de saúde, fruto de um claro e sólido
investimento no controle da doença. Logo, mais
pessoas terão acesso aos sistemas e ao diagnóstico
precoce. Por outro lado, espera-se que a mortalidade
diminua expressivamente, pelo fortalecimento das
estratégias de controle e prevenção, maior acesso aos
serviços de saúde e desenvolvimento de novos e mais
eficazes tratamentos.
DIAGNÓSTICO E EPIDEMIOLOGIA DO
CÂNCER

Vacina contra Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre o


o HPV. diagnóstico e epidemiologia do câncer no Brasil.

Essas e outras estratégicas combinadas colocaram o MÓDULO 4


Brasil em destaque na luta antitabaco. Outro exemplo é
a vacinação contra o papilomavírus humano
(HPV) no Brasil, que certamente diminuirá as taxas de Descrever os agentes carcinogênicos e os aspectos
câncer de colo do útero nas próximas décadas. moleculares e clínicos das neoplasias

Você verá mais adiante que muitos agentes estão BASES MOLECULARES DO CÂNCER
associados ao processo de desenvolvimento do câncer
Ao longo das décadas, a ciência aprofundou
(carcinogênese), inclusive os agentes infecciosos,
consideravelmente o conhecimento dos mecanismos
como vírus e bactérias. Países do continente africano
envolvidos nos processos celulares e moleculares da
têm as maiores taxas globais de casos de câncer
carcinogênese. As próprias tentativas de combate à
atribuídos a agentes infecciosos. A alta prevalência de
doença resultaram em descobertas fantásticas, que,
HPV, vírus das hepatites B e C, herpes vírus humano
inclusive, foram reconhecidas com prêmios Nobel.
tipo 8 e vírus Epstein-Barr associada à infecção pelo
Para entendermos a biologia do câncer, é necessário
vírus HIV aumentam bastante o risco para
conhecer as características fenotípicas comuns dos
aparecimento de diferentes cânceres. Os principais
tumores, que são passadas para as outras células
tipos relacionados a essa associação são o sarcoma de
cancerígenas por meio de alterações genéticas
Kaposi, linfoma não Hodgkin e o câncer cervical
e epigenéticas.
invasivo. Fica evidente, então, que, embora fatores
genéticos e ambientais contribuam conjuntamente para EPIGENÉTICAS
o desenvolvimento do câncer, as influências
ambientais (agentes infecciosos, consumo de álcool, Epigenética refere-se a outros fatores além da
tabaco, dieta, história reprodutiva e carcinógenos sequência de DNA, os quais regulam a expressão
ambientais) parecem ser os fatores de risco dominante gênica (e, portanto, o fenótipo celular).
para a maioria dos tipos de câncer. Estima-se que todos os cânceres apresentam oito
MAS QUAL O PRINCIPAL FATOR DE RISCO alterações fundamentais em sua fisiologia celular. São
PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER? elas:

Segundo o Observatório Global do Câncer da AUTOSSUFICIÊNCIA NOS SINAIS DE


Organização Mundial da Saúde, o tabagismo é o CRESCIMENTO
principal fator de risco, sendo associado a cerca de Os genes que promovem a proliferação de células
22% das mortes pela doença. O câncer de pulmão tem normais são chamados de proto-oncogenes. Nas
a maior taxa de mortalidade entre todos os tipos de células cancerígenas, por outro lado, encontramos
câncer. os oncogenes, que são versões mutadas ou
superexpressas dos proto-oncogenes. Os oncogenes supressores de tumor e seus respectivos produtos são
codificam proteínas chamadas oncoproteínas, que responsáveis por frear essa proliferação. Logo, caso
possuem a capacidade de promover o crescimento ocorram anomalias nesses genes, teremos
celular independentemente dos sinais de crescimento a diminuição da inibição do crescimento, que é uma
normais, e, assim, fogem do controle do crescimento marca da carcinogênese. As proteínas codificadas
celular, proliferando continuamente. pelos genes supressores de tumor formam um sistema
de checagem de todos os pontos do ciclo celular,
evitando o crescimento descontrolado. Muitas delas,
como as proteínas RB e p53, reconhecem sinais de
estresse celular, principalmente o dano ao DNA, e
respondem finalizando a multiplicação celular.
RB
O RB é um gene regulador negativo fundamental do
Crescimento cancerígeno. ciclo celular, na transição da fase G1 para S, atuando
também no controle da diferenciação celular. Quando
Os proto-oncogenes participam das vias de sinalização hipofosforilada, RB exerce um efeito antiproliferativo
que levam à proliferação, e os proto-oncogenes de pró- e, uma vez que haja sinalização de fatores de
crescimento codificam, por exemplo, fatores de crescimento, RB é hiperfosforilada e inativada. Na
crescimento, transdutores de sinal ou componentes do maioria dos cânceres humanos, esse gene está
ciclo celular. Já os oncogenes correspondentes diretamente ou indiretamente inativado. Um dos
codificam oncoproteínas que apresentam funções mecanismos que comprometem a funcionalidade da
semelhantes às suas versões normais, mas elas, em RB são mutações em um dos quatro genes que regulam
geral, são constitutivamente ativas, resultado sua fosforilação. Com isso, praticamente todas as
da contínua ativação dos proto-oncogenes mutados células cancerígenas apresentam desregulação no
correspondentes, e favorecem as células ponto de checagem G1/S, proliferando-se
autossuficientes em crescimento. indefinidamente.
As mutações pontuais nos genes da família RAS são o TP53
tipo mais comum de anomalia envolvendo proto-
oncogenes humanos. A proteína RAS, codificada pelos O TP53 regula a progressão do ciclo celular, o reparo
genes de mesmo nome, atua como um transdutor de do DNA, a senescência celular e a apoptose. Com
sinal extracelular, ou seja, auxilia na comunicação da todas essas funções, não é difícil imaginar que
membrana celular com o núcleo, principalmente na mutações de perda de função nesse gene ocorram em
transmissão de sinais estimulatórios de crescimento. A praticamente todos os tipos de câncer, incluindo os
forma inativa da proteína RAS é ligada a GDP, carcinomas de pulmão, de cólon e mama, as três
enquanto a ligação a GTP promove sua ativação. principais causas de morte por câncer. Realmente, o
Mutações em RAS fazem com que essa proteína TP53 é o gene que mais sofre mutação em cânceres
permaneça ativada, ligada a GTP, promovendo humanos e, na maioria dos casos, as mutações estão
continuamente o estímulo de pró-crescimento celular. presentes em ambos os alelos. A proteína p53,
codificada pelo gene TP53, faz parte de um sistema de
Estima-se que até 20% de todos os tumores humanos sinais que detectam danos ao DNA, encurtamento de
apresentam mutação das proteínas RAS, mas, em telômeros, hipóxia e o estresse causado pelo excesso
alguns tipos específicos, a frequência de mutação é de sinalização pró-crescimento.
muito maior. Cerca de 90% dos adenocarcinomas
pancreáticos, por exemplo, apresentam mutação VOCÊ LEMBRA ONDE ISSO PODE OCORRER?
pontual em RAS. NAS CÉLULAS QUE APRESENTAM
PROTO-ONCOGENES MUTAÇÕES EM GENES RAS, POR EXEMPLO!

Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre proto- ATENÇÃO


oncogenes: a importância do gene MYC. É importante lembrar que tumores sem mutação no
INSENSIBILIDADE AOS SINAIS INIBIDORES TP53 e RB apresentam, em vez disso, mutações que
DE CRESCIMENTO afetam proteínas que regulam a função de RB e da
p53. Com a perda de função da p53, por exemplo, o
Como aprendemos, os proto-oncogenes conduzem à dano genômico segue sem reparo, mutações em proto-
proliferação normal das células. Já os genes oncogenes e em outros genes se acumulam, e a célula
vai trilhando um caminho perigoso, rumo à A resistência à senescência aumenta a capacidade
transformação maligna. replicativa, mas não torna a célula imortal. Essas
células entram em uma fase chamada crise mitótica e
ALTERAÇÃO DO METABOLISMO CELULAR
morrem, num fenômeno que está associado ao
Mesmo em um ambiente com doses suficientes de encurtamento progressivo dos telômeros. A
oxigênio, as células tumorais apresentam uma manutenção dos telômeros é vista em quase todos os
mudança no metabolismo celular, caracterizado por tumores pela regulação positiva da telomerase. Alguns
altos níveis de absorção de glicose e aumento da outros tumores ainda utilizam outro mecanismo
conversão de glicose para lactose, pela via glicolítica. dependente da recombinação de DNA, denominado
Esse fenômeno, chamado de efeito Warburg é alongamento alternativo de telômeros.
conhecido como glicólise aeróbica, permite a síntese CAPACIDADE DE AUTORRENOVAÇÃO
de macromoléculas e organelas que são necessárias
para o rápido crescimento celular. Como os cânceres são imortais e se proliferam
indefinidamente, acredita-se que eles devam conter
EVASÃO DA APOPTOSE células que possuem capacidade de autorrenovação, as
A morte celular pela apoptose é uma resposta protetora chamadas células-tronco do câncer. O número dessas
a condições patológicas que poderiam contribuir para a células em tipos específicos de câncer, assim como sua
malignidade se as células defeituosas permanecessem identidade, ainda é motivo de debate, e os
viáveis. Vários sinais, como danos ao DNA, pesquisadores permanecem incertos se essas células
desregulação de algumas oncoproteínas e a perda de são comuns ou raras nos tumores.
aderência celular à membrana basal, podem MANUTENÇÃO DA ANGIOGÊNESE
desencadear a apoptose. Anomalias nas vias da
apoptose (intrínseca ou extrínseca) estão presentes em As células neoplásicas não são capazes de crescer sem
células cancerígenas, sendo as lesões que desativam um suprimento vascular; assim, a angiogênese tumoral
via intrínseca (mitocondrial) as mais comuns. Nesse deve ser induzida. A vascularização de tumores é
caso, o mecanismo de neutralização da ação das essencial para o fornecimento de nutrientes e remoção
proteínas anti-apoptóticas, como a BCL2, é um dos de resíduos do catabolismo, sendo controlada pelo
mais estabelecidos. Em mais de 85% dos linfomas de equilíbrio entre fatores angiogênicos e
células B foliculares, o gene anti-apoptótico da BCL2 antiangiogênicos, produzidos pelas células estromais e
é superexpresso, devido a uma translocação genômica. tumorais. Em tumores angiogênicos, a balança pesa
para o lado dos promotores da angiogênese. Além
POTENCIAL DE REPLICAÇÃO ILIMITADO disso, outros fatores regulam a angiogênese, como a
(IMORTALIDADE) p53, que induz a síntese do inibidor da angiogênese
Assim como as células-tronco, os tumores possuem trombospondina-1. Por outro lado, a sinalização de
capacidade irrestrita de proliferação. Além disso, todos RAS, por exemplo, regula positivamente a expressão
os cânceres contêm células que são imortais. de VEGF, que é um fator pró-angiogênico.

Três fatores, conjuntamente relacionados, parecem ser Apesar disso, a vasculatura tumoral não é totalmente
fundamentais para a imortalidade das células normal, apresentando um padrão aleatório de conexão,
cancerígenas. São eles: com vasos permeáveis e dilatados. O acesso dos
tumores a esses vasos anormais é um dos fatores que
EVASÃO DA SENESCÊNCIA contribui para a metástase. Dessa forma, a angiogênese
A grande maioria das células normais podem se dividir é considerada um fator fundamental para a
de 60 a 70 vezes. Após esse limite, essas células malignidade.
entram em senescência, deixando o ciclo celular e
nunca mais se dividindo.
O estado de senescência está associado à regulação
positiva de supressores de tumor, como a p53, que
mantém a RB em um estado hipofosforilado, que
favorece a interrupção do ciclo celular. Como já
Ilustraçã
comentamos, o ponto de checagem do ciclo celular
o da vasculatura tumoral.
G1/S, que é dependente de RB, é interrompido em
quase todos os cânceres, por meio de várias aberrações INVASÃO E METÁSTASE
genéticas e epigenéticas.
EVASÃO DA CRISE MITÓTICA
A invasão local de um tumor, assim como a metástase, da resposta imune, como o crescimento seletivo de
é um marco da malignidade, resultado de interações variantes antígeno-negativas, redução ou perda da
entre as células tumorais e o estroma tecidual normal. expressão de antígenos de histocompatibilidade e
Alterações nas moléculas de adesão intercelular imunossupressão, mediada pela expressão de certos
resultam na dissociação entre as células, sendo o fatores pelas células tumorais, como o TGF- β.
primeiro passo do processo de invasão. O segundo
passo é a degradação da membrana basal, assim como As células tumorais também podem adquirir diversos
do tecido conjuntivo intersticial, seguido das alterações tipos de mutações oncogênicas, caracterizadas por
na ligação das células tumorais e as proteínas da matriz mutações cromossômicas pontuais e outras anomalias
extracelular. A última etapa da invasão é a locomoção, cromossômicas não aleatórias, como translocações,
que impulsiona as células neoplásicas através das deleções e amplificações de genes. Além das alterações
membranas basais e da matriz degradada. Em relação à cromossômicas, as alterações epigenéticas possuem
migração, alguns tumores apresentam tropismo por um papel importante na malignidade das células
algum órgão, por conta da expressão de receptores de cancerígenas. Essas alterações incluem o silenciamento
adesão ou quimiocinas, que possuem seus ligantes dos genes supressores de tumor pela hipermetilação do
expressos nas células endoteliais do local metastático. DNA e as alterações globais na metilação e em
histonas. A aquisição dessas alterações, tanto genéticas
quanto epigenéticas, pode ser acelerada
pela instabilidade genômica tumoral e
pela inflamação promotora do câncer.

R
esumo das principais características fenotípicas e
genotípicas do câncer.
INSTABILIDADE GENÔMICA TUMORAL
Anomalias genéticas que aumentam as taxas de
mutação são muito comuns em cânceres, acelerando a
aquisição de mutações necessárias para a
transformação e posterior progressão do tumor.
INFLAMAÇÃO PROMOTORA DO CÂNCER
A infiltração de um câncer provoca uma reação
inflamatória crônica, comparada a uma ferida que não
cicatriza. Em pacientes com estágios avançados de
câncer, a reação inflamatória é tão intensa que pode
causar sinais e sintomas sistêmicos, como veremos a
seguir.
AGENTES CARCINOGÊNICOS
CARCINOGÊNESE QUÍMICA

Metástases de alguns tipos de cânceres. A carcinogênese é um processo de múltiplas etapas e,


para compreender a carcinogênese química, é
EVASÃO DA RESPOSTA IMUNE necessário que você conheça seus principais estágios: a
O tumor, bem como os antígenos tumorais (produtos exposição das células a uma dose suficiente de agentes
de proto-oncogenes mutados e proteínas carcinogênicos resulta no que chamamos de iniciação.
superexpressas ou expressas de forma aberrante, por As células iniciadas são células alteradas,
exemplo), pode ser reconhecido pelo sistema potencialmente capazes de gerar um tumor. A
imunológico do indivíduo como “não próprio” e ser iniciação, que ocorre de maneira rápida e irreversível,
destruído. Existem diversas formas de evasão tumoral provoca um dano permanente ao DNA (mutações),
mas, de maneira isolada, não é suficiente para a Os hidrocarbonetos policíclicos, presentes em
formação do câncer. Após a exposição ao agente combustíveis fósseis, são os mais potentes
iniciador, o surgimento de tumores pode ser induzido carcinógenos químicos indiretos. Os promotores
por um agente promotor, que estimula a proliferação carcinogênicos químicos, como ésteres de forbol,
das células mutadas. hormônios, fenóis e drogas, não são mutagênicos, mas
sua aplicação leva à proliferação e expansão clonal das
Os agentes promotores não são por si só
células iniciadas.
carcinogênicos, sendo que as alterações celulares
causadas por eles não afetam o DNA diretamente e são CARCINOGÊNESE POR RADIAÇÃO
reversíveis. Porém, a proliferação celular das células
A radiação na forma de raios ultravioleta (UV) da luz
iniciadas pode levar a outras mutações adicionais,
solar ou na forma de radiação ionizante possui efeito
resultando no aparecimento de um clone canceroso.
carcinogênico. Acredita-se que os raios UVB sejam os
responsáveis pela indução dos cânceres de pele, como
carcinoma de células escamosas, carcinoma
basocelular e melanoma da pele. A carcinogênese
provocada pela luz UVB ocorre através da promoção
de formação de dímeros de pirimidina no DNA. Essas
ligações resultam na distorção da hélice do DNA,
impedindo o pareamento adequado com a fita
complementar. Esses dímeros são normalmente
reparados pela via de reparo de DNA; com a exposição
solar excessiva, as fitas mutadas tornam-se frequentes
e superam a capacidade de reparo, levando ao câncer
em alguns casos.
A proteção solar é de fundamental importância na
exposição à radiação UVB.
Além disso, as radiações ionizantes eletromagnéticas
Esq (raios X e raios γ) e particuladas (partículas α e β,
uema geral das etapas envolvidas na carcinogênese prótons e nêutrons) também são carcinogênicas. A
química. exposição a essa radiação de forma médica,
ocupacional, os acidentes em usinas nucleares e até
Os agentes químicos carcinogênicos iniciadores
mesmo a explosão da bomba atômica culminaram no
possuem, em sua estrutura,
aparecimento de vários cânceres. Essa radiação gera
grupos eletrófilos altamente reativos, que danificam
ruptura do cromossomo, translocações e, com menos
diretamente o DNA, resultando em mutações e,
frequência, mutações pontuais, resultando em danos
eventualmente, em câncer.
genéticos e carcinogênese.
ELETRÓFILOS
QUALQUER TIPO CELULAR PODE SER
Um receptor de par de elétrons, um reagente que TRANSFORMADO EM UMA CÉLULA
procura elétrons. CANCERÍGENA SE HOUVER EXPOSIÇÃO
SUFICIENTE À RADIAÇÃO!
As substâncias químicas que podem causar a iniciação
da carcinogênese são classificadas em duas categorias: CARCINOGÊNESE MICROBIANA

AÇÃO DIRETA Diferentes microrganismos são capazes de induzir


alterações no DNA, como é o caso do HPV, produzir
Nesta categoria, as substâncias não precisam da proteínas que interferem na transcrição dos genes,
conversão metabólica para se tornarem carcinogênicos, como o HTLV-1, produzir oncoproteínas com a
como os agentes alquilantes utilizados na inativação de genes supressores e induzir uma
quimioterapia. inflamação crônica imunologicamente mediada, com
AÇÃO INDIRETA proliferação e dano genômico a longo prazo, como
ocorre com os vírus das hepatites B e C e com a
Nesta categoria, as substâncias não são ativas até que bactéria Helicobacter pylori.
sejam convertidas para um carcinógeno final.
PARA CONHECER MAIS COMO ESSES
ORGANISMOS PROVOCAM A
CARCINOGÊNESE, NÃO DEIXE DE VISITAR Outro aspecto clínico que pode ser observado em
O EXPLORE+. pacientes com câncer é a perda progressiva da gordura
e massa magra corporal, associada à fraqueza
ASPECTOS CLÍNICOS DAS NEOPLASIAS profunda, anorexia e anemia. Esse processo é
O câncer é compreendido como um conjunto de denominado caquexia e está associado à perda
diferentes doenças de variadas localizações que uniforme de gordura e músculo magro, elevada taxa
podem, mesmo quando em uma única localização, metabólica basal e a algumas evidências de inflamação
apresentar alterações fenotípicas e genotípicas nos sistêmica.
tipos celulares envolvidos na formação do tumor.
A localização do tumor, seja ele benigno, seja maligno,
é um fator crítico para os efeitos clínicos. A presença e
o crescimento da massa neoplásica podem
prejudicar tecidos vitais, fornecendo um local
apropriado para o aparecimento de infecções. Além
disso, o conhecimento da localização do tumor é
fundamental para o manejo do paciente oncológico.

A
caquexia é um aspecto clínico que pode ser observado
em pacientes com câncer.
Embora os mecanismos responsáveis pelo
A desenvolvimento da caquexia no câncer não sejam
presença e o crescimento da massa neoplásica podem ainda bem compreendidos, estudos indicam que a
prejudicar os tecidos adjacentes. associação da doença com o sistema imune, a partir da
liberação de mediadores, pode ter papel importante na
Tumores pancreáticos e alguns tipos de tumores perda de massa corporal.
neurológicos são de difícil intervenção cirúrgica e
medicamentosa, além de alto grau de agressividade e Em alguns pacientes oncológicos, há o
invasividade. Outro exemplo são os tumores em desenvolvimento de sinais e sintomas que não são
glândulas endócrinas, como a hipófise, que podem prontamente explicados pela localização anatômica do
levar a disfunções hormonais de graves consequências. tumor, ou pelos aspectos hormonais provenientes do
A secreção crônica excessiva de insulina em adultos tecido no qual o tumor surgiu. Essas manifestações são
pode ser indicativa de tumor nas células beta conhecidas como síndromes paraneoplásicas e
pancreáticas, chamado de insulinoma. Apesar de raro, antecedem e acompanham o progresso do câncer,
a grande maioria dos insulinomas é benigno, sendo os desaparecendo com a cura e reaparecendo se houver
malignos geralmente deficientes na excreção da recidiva. No caso das dermatoses paraneoplásicas,
insulina, tamanha a diferenciação fenotípica das existem as dermatoses reveladoras de câncer interno,
células tumorais. como acantose nigricante
maligna, pênfigos, eritema gyratum
No caso dos tumores hipofisários, principalmente os repens, tromboflebite migratória, entre outras.
adenomas, as manifestações clínicas estão relacionadas
ao tipo celular secretor específico que está Embora existam diversos tipos de câncer de pulmão, o
transformado. Por exemplo, existem adenomas carcinoma broncogênico é o mais comum, tendo a sua
hipofisários lactotróficos (secretor de prolactina), origem quase sempre relacionada ao fumo crônico. O
gonadotróficos (secretor de hormônio luteinizante e sintoma mais recorrente e precoce é a tosse, sendo
hormônio folículo estimulante), somatotrófico observada em até 70% dos pacientes. Outras
(secretor de hormônio do crescimento), entre outros. manifestações, como obstrução dos brônquios,
Os adenomas podem ter como consequência a diminuição da capacidade respiratória, sibilos e
manifestação de alterações visuais, pela compressão do expectoração hemóptica (expectoração de sangue),
nervo óptico, ou alterações endócrinas, como a podem aparecer, dependendo do estágio e da
interrupção do ciclo menstrual, produção de leite fora localização pulmonar do tumor. Em situações mais
do período de lactação (podendo acometer também graves de invasão do tumor para outras áreas
homens), impotência e perda da libido. intratorácicas, isso pode resultar no acometimento da
pleura e de estruturas do sistema nervoso central, como
o plexo braquial.
ACANTOSE NIGRICANTE MALIGNA
Refere-se a um padrão de reação inespecífica
caracterizada por hiperqueratose e hiperpigmentação
da pele relacionadas a alguma neoplasia maligna
interna.
PÊNFIGOS
Doença autoimune caracterizada pelo aparecimento de
bolhas dérmicas.
ERITEMA GYRATUM REPENS O apoio
Múltiplas placas eritematosas descamativas, podendo psicológico é fundamental no acompanhamento
vir acompanhadas de intenso prurido. do paciente com câncer.

TROMBOFLEBITE MIGRATÓRIA Você deve ter percebido que as manifestações clínicas


do câncer se baseiam, em muitos casos, na localização
Trombose venosa superficial que ocasiona um do tumor, seja ele restrito ao órgão de origem, seja
processo inflamatório local. quando já se estende a outros tecidos.
A classificação de um câncer é baseada no grau de
diferenciação das células neoplásicas, no número de
mitoses e na sua arquitetura celular. Os critérios para
cada classificação variam para os diferentes tipos de
tumores, mas geralmente são compostos de duas
(baixo e alto grau) a quatro categorias. Entretanto, essa
tarefa não é nada fácil. No caso dos tumores de mama,
por exemplo, existe grande heterogeneidade fenotípica,
com tumores de graus, estágios e tipos histológicos
Tosse, o sintoma mais precoce e comum do carcinoma diferentes.
broncogênico.
A dor no paciente oncológico é fator agravante na
diminuição da qualidade de vida, e sua incidência
aumenta com a progressão da doença, podendo afetar
até 70% dos pacientes, sendo 90% destes em estado
avançado. Curiosamente, cerca de 20% dos pacientes
relatam que a dor está associada à terapia, e não
propriamente à doença. Em muitos casos, é necessária
a administração simultânea de analgésicos para conter
a dor, incluindo opioides, como a morfina.
Não menos importante, é preciso atentar para os
cuidados psicológicos do paciente com câncer.
Frequentemente, sintomas como perda ou diminuição
do convívio social, da integridade física, estreitamento
do círculo social, incapacidade de manter a rotina pré-
diagnóstico e descrença religiosa são descritos nos
pacientes neoplásicos. Hostilidade, ansiedade, culpa,
depressão e psicose também são reações comuns.

Tumores de mama apresentam grande heterogeneidade


fenotípica, com graus, estágios e tipos histológicos
diferentes.
Atualmente, é imprescindível a associação de dados
histológicos, anatômicos, imunológicos e genéticos
para compreender por completo determinado fenótipo
tumoral.
Outro método importante utilizado para inferir a
provável agressividade clínica de um tumor é
o estadiamento. O estadiamento dos cânceres sólidos
baseia-se no tamanho da lesão primária, no grau de
disseminação para os linfonodos regionais e na
presença ou ausência de metástases via hematológica.
Hoje em dia, o principal sistema de estadiamento é
do American Joint Committee.
ESSE SISTEMA USA UMA CLASSIFICAÇÃO
CHAMADA DE TNM, ONDE:

✔ T SIGNIFICA TUMOR PRIMÁRIO

✔ N, ENVOLVIMENTO DOS LINFONODOS


REGIONAIS

✔ M, METÁSTASE

ESSA CLASSIFICAÇÃO TAMBÉM VARIA PARA


TIPOS DIFERENTES DE CÂNCER.
A lesão primária (T) varia de T1 a T4, com aumento
crescente. Caso seja uma lesão in situ, ela é
identificada como T0. O N0 significaria ausência de
envolvimento de linfonodos, enquanto N1 a N3
representam envolvimento crescente de linfonodos.
M0 significa ausência de metástases, enquanto M1 ou
M2 indicam a presença de metástases. A identificação
do tumor dentro dessas escalas é necessária para que o
prognóstico seja o mais assertivo possível e para
auxiliar na escolha terapêutica mais eficaz para o
paciente.

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