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Tópico 01
Patologia Geral
Pode-se ainda definir saúde como um estado de adaptação do organismo físico, psíquico ou
social em que se vive, de modo que o indivíduo se sente bem e não apresenta alterações
orgânicas evidentes. Entretanto, doença é um estado de falta de adaptação a um estado físico,
psíquico ou social, no qual um indivíduo sente-se mal e/ou apresenta alterações orgânicas
evidentes (BRASILEIRO FILHO, 2016, p. 1).
A Patologia pode ser dividida em dois grandes ramos conhecidos como Patologia Geral e
Patologia Especial. A patologia geral está envolvida com as reações básicas das células e
tecidos aos estímulos anormais subjacentes a todas as doenças. Esse ramo estuda os aspectos
comuns às diferentes doenças no que se refere as suas causas, mecanismos, lesões e alterações
de função. Desta forma, faz parte do currículo de todos os cursos das áreas de Ciências da
saúde. Já a Patologia Especial, também conhecida como sistêmica, examina as doenças que
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2. Áreas da Patologia
Para entendermos como uma doença é desenvolvida, temos que imaginar uma trajetória desde
o que causou a doença, considerando todas as alterações na forma e função das células
daquele tecido, até as queixas atuais do paciente. Todas as doenças têm causa (ou causas) que
atuam por determinados mecanismos, produzindo alterações morfológicas e/ou moleculares
nos tecidos. Isso resulta em alterações funcionais no organismo ou em parte dele dando início,
então, às manifestações clínicas. A Patologia pode ser dividida em 4 áreas que ilustram essa
trajetória. São elas:
Etiologia – que significa o estudo das causas. Há séculos, a humanidade tenta descobrir a
causa (ou causas) de diferentes doenças. Esse conceito vem desde 2500 a.C., quando os
acadianos acreditavam que, quando alguém ficava doente, era por um castigo, ou por obra de
agentes externos, como o frio, maus odores, espíritos malignos ou deuses. Em tempos
modernos, existem duas classes principais de fatores que causam a doença, conhecidas como
fatores etiológicos. São eles: fatores etiológicos (intrínsecos ou genéticos) e fatores
etiológicos adquiridos (incluindo os fatores infecciosos, nutricionais, químicos e físicos).
Algumas doenças possuem mais de uma causa e podem ser resultado de uma combinação
entre os fatores genéticos e adquiridos, como o câncer, por exemplo. E por que será que é tão
importante a descoberta do fator etiológico? A descoberta da causa continua, até hoje, sendo a
base do diagnóstico e, consequentemente, do tratamento correto da doença. Além disso,
quando se conhece a causa, é possível, em vários casos, desenvolver medidas de prevenção
daquela doença.
Anatomia Patológica – que significa o estudo das alterações morfológicas, ou seja, da forma
dos tecidos que, em conjunto, recebem o nome de lesões. As alterações morfológicas referem-
se às alterações na estrutura das células ou dos tecidos, que são características da doença, ou
podem até ajudar no diagnóstico da doença como, por exemplo, a forma alterada de uma
hemácia nos casos de anemia falciforme, em que as hemácias têm o formato de uma foice.
Fisiopatologia – que significa o estudo das alterações funcionais dos órgãos afetados. As
alterações morfológicas das células podem influenciar o funcionamento normal delas e,
consequentemente, do órgão ou tecido. Isso dará início às características ou manifestações
clínicas da doença.
Qual é a diferença entre sinais e sintomas?
O estudo dos sinais e sintomas das doenças é o objetivo da área da propedêutica, também
conhecida como semiologia. A finalidade dessa área é fazer o diagnóstico da doença, ou seja,
descobrir qual é a doença para, a partir daí, estabelecer o tratamento e medidas preventivas.
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Assista ao vídeo abaixo para saber mais sobre a importância da Patologia e o papel do
Patologista no diagnóstico das doenças.
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Como toda doença começa a nivel celular, nós estudaremos, nessa disciplina, as causas,
mecanismos moleculares e alterações estruturais de uma lesão celular.
Um exemplo fácil para entendermos uma adaptação celular: no caso dos
halterofilistas ou pessoas que praticam musculação com frequência, ocorre um
crescimento dos músculos. As fibras musculares frente a uma carga excessiva de
trabalho aumentam de tamanho e adquirem um novo equilíbrio, permitindo a sua
sobrevivência a um nível de maior atividade. Se as células musculares aumentam de
tamanho, consequentemente, o músculo aumenta de tamanho.
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E o contrário? Na falta de estímulos, ocorre uma outra resposta adaptativa, na qual há uma
diminuição do tamanho e/ou número das células. Exemplo: após retirarmos o gesso de uma
perna quebrada, nota-se que o tamanho da perna está menor.
4. Adaptações Celulares
Como explicado na primeira parte deste tópico, as células, para manter um estado de
hemostasia, precisam se adaptar constantemente. As adaptações celulares podem ser
fisiológicas, sendo, geralmente, respostas à estímulos anormais de hormônios ou outras
substâncias químicas endógenas como, por exemplo, o aumento do tamanho da mama durante
a puberdade ou a indução da lactação pela gravidez. As adaptações patológicas podem ter
mecanismos semelhantes, mas elas dão às células a capacidade de modular seu meio ambiente
e, assim, evitar uma lesão. As principais adaptações celulares de crescimento e diferenciação
são: Hipertrofia, Atrofia, Hiperplasia e Metaplasia.
Hipertrofia
A hipertrofia é uma adaptação celular na qual ocorre o aumento do tamanho das células e,
consequentemente, um aumento do tamanho/volume do órgão. Isso acontece devido a uma
maior síntese de componentes estruturais dentro da célula. Assim, o órgão hipertrofiado não
possui novas células, mas apenas células maiores.
É importante entendermos que essa adaptação pode ser fisiológica ou patológica, dependendo
do estímulo e do tempo decorrido. A hipertrofia acontece por uma demanda funcional maior
ou por uma estimulação hormonal específica. A hipertrofia fisiológica ocorre em
determinados órgãos em algumas fases da vida, como nos casos do aumento do tamanho da
mama e do útero durante o período gestacional, como fenômenos programados. Entretanto, as
hipertrofias patológicas não são programadas e aparecem em consequência dos estímulos
variados.
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A hipertrofia celular fisiológica que ocorre no útero durante a gravidez é estimulada por
hormônios estrogênicos através dos receptores do músculo liso. Essa interação dos hormônios
com o DNA da célula resulta em uma maior produção de proteínas e, dessa forma, ocorre o
aumento do tamanho das células e do útero consequentemente.
Outro exemplo de hipertrofia ocorre frequentemente nos halterofilistas, atletas e pessoas que
praticam musculação, nas quais podemos notar um ganho de massa muscular, ou nos
indivíduos que trabalham em atividades que exigem grande esforço físico aos músculos
esqueléticos das regiões submetidas ao trabalho. Há um crescimento muscular devido ao
aumento da atividade metabólica decorrente da maior carga de trabalho. O miocárdio também
pode sofrer hipertrofia. Nos casos de sobrecarga do coração por obstáculo ao fluxo sanguíneo
ou do volume de sangue, a parede do coração sofre hipertrofia.
Algumas pessoas desenvolvem uma hipertrofia patológica da musculatura lisa de órgãos ocos.
É o que acontece, por exemplo, com a musculatura lisa da parede da bexiga quando há
obstrução urinária. Alguns homens desenvolvem uma hiperplasia da próstata e essa provoca
uma estenose do canal da uretra, ou seja, devido à redução da luz da uretra, a musculatura lisa
da bexiga tende a aumentar sua contração para tentar reestabelecer a eliminação normal de
urina. Esse processo leva à hipertrofia da musculatura lisa da bexiga, devido ao maior esforço
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necessário para eliminar a urina. Assista ao vídeo abaixo para conhecer o efeito da hiperplasia
prostática benigna na bexiga.
Observe que a hipertrofia, em muitos casos, é um processo reversível, ou seja, após a remoção
do estímulo, as células voltam ao tamanho normal. Porém, eventualmente, a hipertrofia atinge
um limite além do qual o crescimento da massa muscular não consegue mais compensar a
maior sobrecarga, levando ao aparecimento de lesões.
Atrofia
A atrofia é uma forma de resposta adaptativa na qual ocorre a diminuição do tamanho e/ou
número das células e, consequentemente, do tamanho do órgão. Essa adaptação pode ser
observada quando um membro é imobilizado por gesso ou quando os músculos ficam
paralisados por causa da perda da inervação, como nos casos da poliomielite, ocorrendo a
atrofia do músculo. Podemos observar uma redução quantitativa dos componentes estruturais
e das funções celulares. Isso resulta em uma diminuição do volume/tamanho das células e dos
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órgãos atingidos. Muitas vezes, ocorre também a diminuição do número de células. Assim,
podemos entender a classificação da atrofia: a primeira forma é a atrofia simples, em que
ocorre a diminuição apenas do tamanho da célula, não havendo alteração no número de
células. Esse processo se dá por diminuição do anabolismo. A segunda forma de atrofia é
conhecida como atrofia numérica, em que ocorre a diminuição do número de células graças
ao processo de apoptose, uma via de morte celular programada a qual estudaremos
posteriormente. A terceira forma de apoptose é conhecida como atrofia mista, em que ocorre
uma redução do número e do tamanho das células.
Essa adaptação pode ser fisiológica ou patológica. A atrofia fisiológica ocorre na senilidade
quando todos os órgãos e sistemas do corpo reduzem suas atividades metabólicas e,
naturalmente, diminui-se o ritmo de proliferação celular. Se compararmos, na imagem abaixo,
o tamanho do cérebro de um homem com 82 anos de idade com o cérebro de um homem com
36 anos de idade, observaremos que o cérebro do homem de 82 anos é menor, com menos
substância cerebral. Neste caso, ocorreu uma atrofia progressiva, à medida que a aterosclerose
diminuiu o aporte sanguíneo do cérebro.
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B: Atrofia do cérebro idoso de 82 anos de idade com aterosclerose. Atrofia ocorreu pelo
envelhecimento e pela redução do fluxo sanguíneo com perda de substância cerebral.
A atrofia fisiológica é irreversível, como nos casos de redução do tamanho de órgãos pelo
processo normal do envelhecimento, na involução do timo após a puberdade, ou na mama e
útero após a menopausa. Não há prejuízo funcional, porque fica mantido um novo estado de
equilíbrio, um novo estado de homeostasia.
Para reduzir seu tamanho, as células precisam diminuir a produção de proteínas, do seu
conteúdo. Histologicamente, essas células possuem menos componentes estruturais como
mitocôndrias, miofilamentos e uma menor quantidade de retículo endoplasmático. Também
podemos notar um aumento no número de vacúolos autofágicos. Como vocês sabem, esses
vacúolos são limitados por membranas dentro da célula. Dentro deles, fragmentos dos
componentes celulares são digeridos por enzimas lisossomais, pelo processo de autofagia.
Hiperplasia
Podemos definir a hiperplasia como o aumento do número de células num órgão, ou parte
dele, em função da maior demanda metabólica. Logo, as células capazes de realizar divisão
mitótica se dividem ao enfrentar uma agressão ou estímulo, aumentando o volume do órgão
envolvido. As células adultas não possuem a mesma capacidade de crescimento hiperplásico.
As células lábeis, como as da epiderme e as células do trato intestinal, têm grande potencial
de fazer hiperplasia, pois se proliferam bastante. As células estáveis, como as células do osso,
cartilagem e do musculo liso, possuem um potencial hiperplásico limitado, pois não têm
grande potencial de fazer mitose. Entretanto, as células permanentes, como as células
nervosas musculares, cardíacas e esqueléticas não fazem hiperplasia, pois não são capazes de
se proliferar.
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A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica. Os dois tipos mais comuns de hiperplasia
fisiológica são: a hiperplasia hormonal e a hiperplasia compensatória. A hiperplasia
compensatória ocorre em um determinado órgão para compensar uma perda ocorrida no local
como, por exemplo, após hepatectomia parcial, os hepatócitos iniciam sua atividade mitótica
para repor a porção do fígado perdida.
É de fundamental importância que saibamos que, após o período menstrual, ocorre uma
hiperplasia fisiológica do endométrio mediada pela ação de hormônios pituitários e estrogênio
ovarianos, pois o útero deve se preparar para receber um possível embrião. Caso não ocorra a
concepção, essa hiperplasia fisiológica é interrompida pela progesterona e, após 10 a 14 dias,
essas células se descamam do endométrio, causando a menstruação. Porém, quando há um
desequilíbrio entre a ação do estrogênio e da progesterona, pode ocorrer a hiperplasia
patológica das glândulas endometriais, com consequente persistência do sangramento
menstrual. Se a estimulação pelo estrogênio diminuir, essa hiperplasia desaparece.
Entretanto, a hiperplasia patológica pode, eventualmente, desenvolver um câncer.
Em mulheres, o aumento de estrogênio resulta em hiperplasia da mama e/ou do
endométrio. Isso aumenta o risco de desenvolvimento de câncer nesses órgãos.
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Metaplasia
Podemos conceituar a metaplasia como uma resposta adaptativa reversível, em que um tipo de
célula adulta (epitelial ou mesenquimatosa) mais sensível à uma agressão é substituída por
outro tipo de célula adulta, mais capaz de suportar o ambiente hostil. Na metaplasia, um tipo
de epitélio se transforma em outro tipo epitelial, mas o epitélio não se transforma em um
tecido mesenquimal.
A metaplasia também pode ocorrer nos casos de inflamações crônicas, como no colo uterino e
na mucosa gástrica.
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A metaplasia pode ser considerada uma alteração indesejável, porém necessária, pois o
epitélio metaplásico é mais resistente ao agente agressor que o de origem. Entretanto,
mecanismos de proteção inerentes a células de origem, como os cílios da mucosa respiratória,
são perdidos, pois as novas células não possuem os mesmos mecanismos de proteção. Vale
lembrar que a persistência do agente causador também pode induzir a transformação
cancerosa do epitélio metaplásico.
5. Conclusão
Este tópico procurou mostrar a diferença entre doença e saúde e o papel fundamental da
Patologia no entendimento e tratamento das doenças. A disciplina de Patologia geral é comum
a todos os cursos da área de saúde. As áreas da Patologia geral estudadas foram etiologia,
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6. Referências
BRASILEIRO FILHO, Geraldo (Ed.). Bogliolo Patologia Geral. 7. ed. Rio de Janeiro, RJ:
Guanabara Koogan, 2016 e edições anteriores.
FARIA, J. Lopes de. Patologia geral: fundamentos das doenças, com aplicações
clínicas. 4. ed., atual. e ampl. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010 e edições
anteriores.
KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. (Ed.). Robbins & Cotran: Patologia:
bases patológicas das doenças. 9. ed. Rio de Janeiro, RJ:
YouTube. (2014, novembro, 21). Hospital de Amor.. Dose de Saúde – O que é a Patologia
(Dr. Cristovam Scapulatempo). Duração: 4min56. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=JzG8UYS-JhY>.
YouTube. (2017, abril, 20). Clinica Uro Onco. Próstata/ Hiperplasia Benigna/ HPB/ Sintomas/
Diagnostico/ Tratamento/ Urologista. Duração: 1min58. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Za0ao8U7n0E>.