Você está na página 1de 24

Patologia Sistêmica

Patologia: Elementos de uma Doença

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Cristina Jurema Gonçalves Tamagawa

Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Patologia: Elementos de uma Doença

• Introdução ao Estudo da Patologia Geral;


• Etiopatogênese Geral das Lesões;
• Distúrbios do Crescimento: Atrofia, Hipertrofia,
Hiperplasia, Metaplasia.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Abordar a Introdução ao estudo da Patologia geral;
• Estudar a Etiopatogênese geral das lesões;
• Compreender os distúrbios do crescimento: atrofia, hipertrofia, hiperplasia e metaplasia.
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

Introdução ao Estudo da Patologia Geral


A palavra patologia é derivada do grego pathos = doença, sofrimento, e logos = estudo,
doutrina, sendo assim, seu significado é o estudo da doença.

Figura 1
Fonte: Fotolia

Devemos considerar que a definição de Patologia abrange parcialmente os concei-


tos das doenças, que são diversos e poderiam prejudicar o entendimento se compa-
rada com a patologia humana, que abrange todos os aspectos ou segmentos da do-
ença e sua associação com o próprio doente, sendo assim, a Patologia é meramente
uma parcela nessa ampla e complexa matéria da área da saúde.

Podemos então considerar a Patologia como a ciência que compreende as causas


da doença, os mecanismos que as constituem, a localização de sua ocorrência e as
modificações funcionais, morfológicas e moleculares.

É de extrema importância compreender globalmente os mecanismos das doen-


ças, pois isso proporciona estrutura sólida para a compreensão dos aspectos funda-
mentais, como sinais e sintomas, diagnósticos, tratamentos, evolução, prognósticos
e medidas de prevenção.

A diferença Entre Saúde e Doença


A saúde é estabelecida como um estado de adequação do organismo ao ambiente
no aspecto biopsicossocial e espiritual em que o indivíduo habita, em que este se sinta
bem (saúde subjetiva) e não manifeste disfunções no organismo (modificação objetiva).

8
Segundo a Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/1990, os determinantes e condicio-
nantes da saúde são:

Alimentação Meio ambiente Transporte

Moradia Trabalho e renda Lazer e atividade física

Acesso aos bens


Saneamento básico Educação
e serviços assistências

Figura 2 – Determinantes e Condicionantes da Saúde

Importante!
Sendo assim, é importante considerar que a saúde envolve o ambiente em que o indi-
víduo convive. Por este motivo, os vários critérios orgânicos necessitam ser analisados e
avaliados dentro das circunstâncias em que o indivíduo está englobado.

Ter Saúde, Então, é ser Normal?


Não, saúde e normalidade não têm a mesma significação. A saúde é correlacio-
nada diretamente ao indivíduo, enquanto a condição de normalidade (normal) é cor-
relacionada a parâmetros dos componentes estruturais e funcionais do organismo.

A normalidade é determinada com base na análise dos parâmetros predetermina-


dos, empregando-se, para o seu cálculo, metodologias estatísticas. Os valores nor-
mais para especificar parâmetros orgânicos (peso, altura, frequência cardíaca etc.)
são predeterminados a partir de verificações da população de mesma raça, que
convive em ambientes semelhantes, e os indivíduos são saudáveis dentro da definição
enunciada anteriormente.

Já a doença pode ser compreendida a partir da definição biológica de adaptação,


que é uma peculiaridade geral do ser humano e caracterizada pela potencialidade
de ser vulnerável às transições ambientais (irritabilidade) e da produção de respostas
(transições fisiológicas e bioquímicas) eficientes de adaptá-los.

Oposta da saúde, a doença é um estado da ausência de adaptação dos aspectos


biopsicossociais, quando o indivíduo sente-se mal (apresenta sintomas) e/ou manifesta
disfunções orgânicas indicáveis de maneira objetiva (apresenta sinais).

Elementos da Patologia
Toda e qualquer doença possui uma ou mais causas que atuam por diversos me-
canismos, gerando disfunções morfológicas e/ou moleculares nas células que acar-
retam disfunções no funcionamento do organismo e resultam em sinais e sintomas.

9
9
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

A Patologia engloba os conceitos a seguir:


• Etiologia: estudo das causas que geram determinada doença;
• Patogênese: estudo dos mecanismos das doenças;
• Alterações morfológicas: estudos das alterações morfológicas dos tecidos.
Também denominada anatomia patológica;
• Fisiopatologia: estudo das disfunções funcionais de sistemas e órgãos.
Para complementar o entendimento, ainda temos a Semiologia, que engloba o es-
tudo dos sinais e sintomas das doenças. Já a Propedêutica é o diagnóstico das doen-
ças, determinada por meio de exames laboratoriais e de imagem, consequentemente
é determinado o prognóstico, o tratamento e a prevenção das doenças; o conjunto
desses elementos compõe a Medicina. Para melhor compreensão da relação entre
os elementos de uma doença e as áreas de estudo da Patologia e da Medicina, segue
um esquema na Figura 3.

Várias doenças possuem elementos comuns e os peculiares. Exemplo do sarampo,


da caxumba, rubéola e varicela, que são doenças diferentes, as quais têm em comum
a circunstância de serem causadas por vírus e de apresentarem disfunções, contudo,
em cada órgão acometido por elas ocorrem alterações funcionais e morfológicas
peculiares de cada doença.

Causas Mecanismos Lesões Alterações Sinais


funcionais e sintomas

Etiologia Patogênese Alterações Fisiopatologia Propedêutica


morfológicas

Diagnóstico
Patologia
Prognóstico
Terapêutica
Prevenção

Medicina

Figura 3 – Elementos de uma doença e sua relação com


as áreas de estudo da Patologia e da Medicina
Fonte: Adaptado de BRASILEIRO FILHO et al., 2019, p. 1

A Patologia geral aborda as causas, os mecanismos patogenéticos, as lesões es-


truturais e alterações da função das diversas doenças, além disso, aborda os elemen-
tos etiológicos, patogenéticos e fisiopatológicos das doenças.

10
Agressão, Defesa, Adaptação e Lesão
Uma agressão pode ser constituída por meio da capacidade de reação do organis-
mo após qualquer estímulo do meio ambiente, e pode ocorrer variação conforme a
intensidade e o tempo de contato desse estímulo com o organismo humano.

Após o contato aos possíveis estímulos, o organismo possui diversas respostas


defensivas ou adaptativas. Ele é adaptativo a qualquer situação com limitado ou
inexistente dano. Contudo, em diversas situações, podem ocorrer múltiplas lesões,
agudas ou crônicas, causadoras das doenças.

Para compreensão adequada, a seguir será abordada separadamente cada respos-


ta defensiva ou adaptativa do organismo humano:
• Agressão: pode ser ocasionada por agentes biológicos, físicos e químicos, por
disfunções genéticas, nutricionais, metabólicas ou do próprio sistema imunoló-
gico do organismo. A etiopatogênese geral das lesões será abordada de maneira
minuciosa posteriormente;
• Defesa: são numerosos os mecanismos de defesas do organismo. Além das
barreiras químicas e mecânicas, temos a pele e mucosas. Os outros mecanismos
são: a fagocitose, sistema complemento, processo inflamatório (resposta inata
e resposta adaptativa), sistema de reparo do DNA e radicais livres. É de extre-
ma importância frisar que podem ocorrer disfunções do sistema imunológico,
levando ao aparecimento de doenças;
• Adaptação: ocorre quando as células do próprio organismo humano possui
capacidade de modificação de suas funções para adaptar-se às alterações insti-
gadas por estímulos. A adaptação geral, atípica e estruturada que o organismo
produz diante das inúmeras agressões por fontes físicas, químicas, biológicas ou
emocionais (estresse);
• Lesão: são disfunções moleculares, morfológicas e/ou funcionais que ocorrem
no organismo humano por meio das células e dos tecidos. As disfunções morfo-
lógicas constituem as lesões, que podem ser macroscópicas ou microscópicas.
As disfunções moleculares podem ser constatadas por metodologia da biologia
molecular ou bioquímicas. Já as disfunções funcionais ocorrem por modifica-
ções celulares do organismo humano e caracterizam a fisiopatologia.

Como as patologias ocorrem e evoluem de diversas formas e as lesões são dinâ-


micas, essas disfunções são chamadas de processo patológico, já que ocorre uma
sequência de fenômenos. Vale ressaltar que as circunstâncias morfológicas da lesão
diversificam de acordo com a fase que a patologia é analisada. A sequência de fenô-
menos das patologias está indicada na Figura 4.

11
11
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

Causas

Período Sem
de incubação manifestações

Período Sinais e sintomas


prodrômico inespecíficos

Período Sinais e sintomas


de estado típicos

Sem sequela
Cura
Com sequela

Cronoficação
Evolução
Complicações

Óbito

Figura 4 – Respostas do organismo às agressões


Fonte: Adaptado de BRASILEIRO FILHO et al., 2019, p. 1

Classificação e Terminologia das Lesões e das Patologias


Ao agredirem o organismo, as lesões afetam um órgão que pode afetar as célu-
las, componentes intercelulares, circulação sanguínea ou inervação, sendo assim, as
lesões podem ser classificadas em cinco grupos, distinguidos conforme o alvo aco-
metido. Veja a seguir o quadro com os tipos de lesões.

Quadro 1 – Classificação das lesões

São aquelas que podem modificar o metabolismo das células, acarretando


Lesões celulares letais degenerações, ou podem modificar os mecanismos que determinam a pro-
liferação e a diferenciação celular.

São aquelas em que as células mantêm-se vivas, podendo transcorrer re-


Lesões celulares não letais torno ao estado normal depois de findada a agressão.

São alterações da substância amorfa e de fibras elásticas, colágenas e


Alterações do interstício reticulares, que podem ocorrer modificações estruturais e sedimentos de
substâncias instituídas in situ ou advindas da circulação.

São as que compreendem: hiperemia, hipovolemia, isquemia, trombose,


Distúrbios de circulação embolia, hemorragia e o edema.

As modificações localizadas nas inervações, infelizmente, ainda pobre-


Alterações da inervação mente conhecidas.

12
Acesse a apostila “Noções de Patologia”, e faça a leitura das páginas 1 a 5.
Disponível em: https://bit.ly/2FxcePE

Etiopatogênese Geral das Lesões


As lesões e doenças são produzidas por variadas agressões. Qualquer estímulo da
natureza pode provocar lesão, dependendo da capacidade de reação, da intensidade
e do tempo de ação.

Os fatores de lesões e doenças são divididos em exógenos (do meio ambiente) e


endógenos (do próprio organismo). Como as lesões são ocasionadas usualmente da
relação do micro-organismo com o sistema imunitário, é recorrente a combinação
dos fatores exógenos e endógenos no princípio de uma lesão ou doença.

As agressões agem por variados mecanismos, sendo os mais importantes e popu-


lares. A seguir, serão discutidos esses mecanismos:
• Mecanismo das agressões:
• Hipóxia e anóxia;
• Radicais livres;
• Anormalidades em ácidos nucleicos e proteínas;
• Reação imunitária;
• Agentes físicos.

A seguir, será abordado de forma sucinta cada tipo de mecanismo das lesões.

Hipóxia e Anóxia
A redução da oferta de oxigênio é denominada hipóxia, já a cessação de O2 é
chamada anóxia. A redução ou cessação do fluxo sanguíneo consiste em uma isque-
mia; dependendo da potência e da permanência da isquemia e da suscetibilidade das
células à abstenção de O2 e nutrientes, as células deterioram ou morrem. Há dois
tipos de lesões por hipóxia:

Lesões reversíveis induzidas por hipóxia: as transformações são reversíveis e de-


nominadas, de modo geral, de degenerações. Se a hipóxia dissipa, a célula restaura seu
metabolismo, adequa a estabilidade hidroeletrolítica e retorna à normalidade;
• Lesões irreversíveis induzidas por hipóxia: se a hipóxia permanece, as modi-
ficações eletrolíticas e na sintetização de lipídeos e proteínas passam a agredir as
membranas citoplasmáticas e de organelas; as modificações tornam-se irreversí-
veis e constantemente a célula morre por necrose ou por apoptose.

13
13
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

As células possuem resistências diferenciadas na ocorrência de hipóxia. Exem-


plo, as células do miocárdio podem apresentar uma resistência de 30 minutos,
já as células neurais do cérebro não toleram mais de 3 minutos de hipóxia. A
pouca intensidade da hipóxia pode ocasionar degenerações e levar a apoptose;
se a intensidade for acentuada, acarreta a necrose. Esses termos serão aborda-
dos posteriormente, atente-se!

Além das lesões citadas, há a lesão por reperfusão.


• Lesão por reperfusão: ocorre quando há hipóxia por longo período nos teci-
dos, acarretando a deterioração da lesão quando decorre a restauração do fluxo
sanguíneo e reoxigenação do tecido. Já as lesões por anóxia prolongada são
pouco modificadas após a reperfusão, ainda que transcorra a expansão da lesão
nas suas bordas.

Radicais Livres
Os radicais livres são moléculas que evidenciam um elétron não conectado no
orbital externo, o que as convertem em muito reativas com outras moléculas. Os
ácidos nucleicos, lipídeos e diversos aminoácidos são essencialmente disponibilizados
para produzir radicais livres. Os radicais livres provocam lesões nas células porque
reagem com ácidos nucleicos, lipídios e proteínas.

Alterações em Ácidos Nucleicos e Proteínas


As proteínas cumprem funções primordiais às células, e modificações na quan-
tidade ou qualidade de proteínas são causas constantes e essenciais de doenças e
lesões. A carência de uma enzima resulta no acúmulo do seu substrato, o que leva
a uma doença. Ocorrem várias anormalidades na quantidade, e/ou na função de
proteínas provocam agressões variadas.

Reação Imunitária
O mecanismo de defesa do organismo mais importante contra microrganismos
nocivos é a resposta imunitária, além disso, tem participação na reparação de lesões
ocasionadas pelos mais diversos agressores.

A reação imunitária age por meio de mecanismos celulares e humorais, dos quais
atuam elevada quantidade de moléculas e outros componentes, muitas vezes em
comunicação com outros sistemas de defesa. A reação imunitária morfologicamente
manifesta-se pela reação inflamatória que será abordada na unidade III, fique ligado!

Agentes Físicos
Qualquer agente físico pode produzir lesão à estrutura orgânica. Por serem mais
primordiais, serão abordados os seguintes agentes físicos:

14
• Força mecânica: a força mecânica provoca diversas lesões, intituladas lesões
traumáticas. As principais são:
» Agressões por meio da força mecânica: Abrasão, Laceração, Contusão,
Incisão, Perfuração e Fratura.
• Variações da pressão atmosférica: o ser humano tolera melhor a elevação
da pressão atmosférica do que a sua queda. A diminuição de 50% da pressão
atmosférica é capaz de provocar danos significativos. Exemplo: síndrome da
descompressão e efeitos de grandes altitudes;
• Variações de temperatura:
» Ação local de baixas temperaturas: o frio restrito a uma região localizada
provoca lesões que necessitam da velocidade e da intensidade da queda da
temperatura, suficiente ou insuficiente para congelar a água do organismo;
» Ação local de altas temperaturas: o calor provoca lesões chamadas de quei-
maduras, que são classificadas em:
» Primeiro grau: distinguida por dor, hiperemia e edema moderado no tegumento;
» Segundo grau: caracterizada por bolhas e necrose da epiderme;
» Terceiro grau: caracterizada pela necrose de todas as camadas de pele,
podendo alcançar os ossos.
• Eletricidade: as sequelas lesivas da corrente elétrica devem-se à:
» Disfunção elétrica em tecidos: que acontece diretamente no músculo cardíaco,
nos músculos esqueléticos e no tecido nervoso. Produção de calor;
» Radiações ionizantes: no indivíduo são advindas de: inalação ou ingestão de
poeira ou alimentos que possuem fragmentos radioativos; submeter a radiações
para diagnósticos e/ou tratamentos; acidentes com máquinas ou aparelhos que
emitem radiação e bombas nucleares. As radiações ionizantes: danificam os
tecidos diante da ação direta sobre os ácidos nucleicos, carboidratos, lipídeos
e proteínas, podendo acarretar fragmentações, religações e ionização de radi-
cais. Ação indireta, por meio de radicais livres, a partir da ionização da água.

Agentes Biológicos
Agentes biológicos incluem todos os microrganismos que podem penetrar o cor-
po humano e ocasionar doenças infectocontagiosas. Também existem artrópodes
que podem penetrar na pele e ocasionar as lesões. As lesões por agentes biológicos
podem produzir lesões por:
• Vírus: a penetração de um vírus no corpo ocorre por meio do sistema digestó-
rio, respiratório, por inserção na pele, pela mordida de animais, pela picada de
artrópodes, por pequenos traumatismos ou por inserção direta no sangue;
• Bactérias: para ocasionar uma doença, a bactéria primeiramente necessita co-
lonizar o organismo, a partir de sua aglutinação a várias células; logo após,
sucede sua multiplicação bacteriana e a instalação de uma infecção;

15
15
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

• Outros agentes infecciosos: em lesões ocasionadas por fungos, protozoários


e vários helmintos, os mecanismos de produção das lesões ocorrem pela ação
direta do parasita sobre tecidos ou ação indireta por meio da resposta do sis-
tema imunológico.

Agentes Químicos
Os agentes químicos podem ser substâncias tóxicas e medicamentos. Ocorrem
por meio de dois mecanismos:
• Ação direta: por meio da deterioração ou morte celular; deformações do inters-
tício; mutações no genoma, levando à metamorfose maligna. Quando ocorre
durante a gestação, podem acarretar efeitos teratogênicos e, consequentemente,
uma má formação congênita;
• Ação indireta: é uma situação rara, ocorre como antígeno ou como hapteno, es-
timulando resposta imunitária celular ou humoral responsável por variadas lesões.

Os efeitos do agente químico dependem de: dose, vias de infiltração e absorção,


transporte, armazenamento, metabolismo e excreção; além disso, dependem das ca-
racterísticas do indivíduo, como padrão genético, idade, gênero, condições de saúde,
entre outros.

Contaminantes Alimentares
Durante o processo de preparação, armazenamento e transporte dos alimentos,
é possível ocorrer contaminação por vários tipos de fungos, que possuem a capaci-
dade de liberar toxinas que acarretam lesões. As condições e variações de umidade e
temperatura facilitam a produção de toxinas e, consequentemente, a contaminação
de alimentos.

Assista ao vídeo “Patologia: Aula 9 - Causas das lesões celulares” da Escola CVI, que explica
detalhadamente esse assunto tão importante para a continuidade da nossa matéria.
Disponível em: https://youtu.be/-xjnwmyb8Ko

Distúrbios do Crescimento: Atrofia,


Hipertrofia, Hiperplasia, Metaplasia
Os distúrbios do crescimento são também denominados proliferação e diferencia-
ção celulares. São processos complexos e excessivamente controlados por um sistema
agregado, que retém as células dentro de limitações fisiológicas. As modificações nos
processos de regulação acarretam disfunções de proliferação e/ou de diferenciação.

Veja uma representação gráfica dos distúrbios do crescimento:

16
Figura 5 – Principais Fatores da Atrofia
Fonte: BRASILEIRO FILHO et al., 2019, p. 175

Atrofia
A atrofia é a redução adquirida do tamanho de uma célula, tecido ou órgão, com
consequente redução da sua atividade metabólica. A escassez de nutrientes ou de
estimulantes que coordenam a atividade celular geram a atrofia e a redução do me-
tabolismo. Os principais fatores da atrofia são:
• Redução da atividade;
• Perdada inervação;
• Redução do suprimento sanguíneo;
• Redução da nutrição;
• Redução da estimulação endócrina;
• Envelhecimento.
A célula atrofiada não possui mais suas funções normais, e sua qualidade e inten-
sidade são diretamente prejudicadas. As mutações ocorrem no citoplasma, porém
com o volume regular no núcleo da célula. Nos tecidos e órgãos há redução do tama-
nho e/ou número de células, com elevação ou não de estroma fibroso.
A célula atrofiada tem quantidade reduzida de retículo endoplasmático e mito-
côndrias. Pode também evidenciar vacúolos autofágicos, englobando fragmentos de
retículo endoplasmático, mitocôndrias membranas. Parte dos resíduos das células
pode tolerar a fagocitose e perdurar como fragmentos residuais. A seguir, veremos
vários mecanismos da atrofia:
• Atrofia por inanição: A deficiência da absorção de nutrientes advinda da falta de
ingestão, absorção ou metabolização de alimentos ocasiona caquexia (emagreci-
mento geral), com danos físicos, mentais e emocionais. Os principais fatores são
a fome, anorexia nervosa e as neoplasias. Os tecidos mais impactados, em ordem
decrescente, são: subcutâneo, muscular e linfático, pele, glândulas e ossos;
• Atrofia senil: Com o envelhecimento, vários órgãos sofrem os efeitos da atrofia,
como os ovários após a menopausa. Os fatores do envelhecimento não estão bem
determinados, todavia deve haver preponderância do catabolismo sobre o anabo-
lismo. Na população idosa ocorre a formação de aterosclerose advinda de uma
circulação ineficiente e a perda da elasticidade da pele, causando enrugamento.
No processo de envelhecimento ocorre diminuição integralizada dos órgãos.

17
17
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

As causas do envelhecimento ainda não estão totalmente determinadas, todavia


são consideradas relevantes:
» Células têm número limitado de divisões;
» Ineficiência de reparo de DNA;
» Radicais livres;
» Redução de eliminação de proteínas e organelas alteradas;
» Diminuição de estímulos endócrinos.
• Atrofia por desuso: A estagnação reduz o metabolismo celular, ocasionando
a atrofia. Os músculos sofrem atrofia quando não utilizados, além disso, ocorre
obstrução de ductos excretores e fibrosamento de tecidos glandulares;
• Atrofia isquêmica: Ocorre devido à redução da circulação sanguínea, como
nos episódios de trombose;
• Atrofia por compressão: A pressão sobre um tecido retarda o seu crescimento
e, consequentemente, provoca a atrofia. Exemplo: o parênquima renal sofre
atrofia ocasionada pela retenção urinária;
• Atrofia endócrina: As glândulas e os tecidos que dependem da excreção hor-
monal sofrem atrofia na insuficiência dos hormônios na circulação sanguínea;
• Atrofia por perda de inervação: A atrofia muscular acontece com a ausência
da irrigação e/ou a falta de movimento da região. As fibras ficam ínfimas e com
aparência angulada devido à pressão das fibras adjacentes normais. A diminui-
ção do volume não é seguida por perda de núcleos, e assim a densidade nuclear
se eleva. As fibras podem restabelecer o tamanho normal.

Assista ao vídeo “Patologia: Aula 6 – Adaptações celulares – atrofia” e veja outra forma
de explicação sobre a atrofia, com exemplos claros e objetivos para que você fixe bem esse
tópico tão importante para os profissionais de Óptica e Optometria.
Disponível em: https://youtu.be/MlP4JHBqOms

Hipertrofia
A hipertrofia é o aumento dos elementos estruturais e das funções celulares, con-
sequentemente ocorre elevação do volume das células e dos órgãos impactados. Para
que transcorra a hipertrofia, são essenciais: o fornecimento de oxigênio e de nutrien-
tes, o que deve sustentar a elevação de disposição das células; as células necessitam
ter organelas e sistemas enzimáticos completos; células lesionadas não alcançam a
hipertrofia como as células normais; estímulo nervoso, no caso das células dos mús-
culos. Sem inervação, a musculatura não se hipertrofia de maneira adequada.

A hipertrofia é uma forma de adaptação a maior exigência de trabalho. Seus


principais exemplos são:
• Hipertrofia da musculatura uterina na gravidez;

18
• Hipertrofia do miocárdio: Quando há sobrecarga do coração por obstáculo
ao fluxo sanguíneo ou por aumento do volume de sangue, a parede cardíaca
sofre hipertrofia;
• Hipertrofia da musculatura esquelética: como acontece em atletas ou em
trabalhadores que fazem grande esforço físico;
• Hipertrofia da musculatura lisa de órgãos ocos: a montante de um obstáculo,
como ocorre na bexiga quando há obstrução urinária;
• Hipertrofia de neurônios motores no hemisfério cerebral não lesado em caso
de hemiplegia.
Os estimulantes que geram a hipertrofia agem em diversos genes, os quais reú-
nem numerosas proteínas, entre elas: causas de crescimento, receptores de causas
de crescimento e proteínas estruturais.
Os órgãos com hipertrofia apresentam-se com peso e volume elevados. Nas célu-
las com hipertrofia, tanto o citoplasma quanto o núcleo apresentam volume aumen-
tados; em células que não se fracionam, pode haver poliploidia nuclear.

Assista ao vídeo “Patologia: Aula 5 – Adaptações celulares – hipertrofia” sobre a hipertro-


fia com exemplos por meio de imagens comparativas que enriquecerão seu conhecimento.
Disponível em: https://youtu.be/QkRo0NRCINs

Hiperplasia
A hiperplasia compreende a elevação do número das células de um órgão, por
elevação da proliferação e/ou por redução da destruição de células. A hiperplasia só
ocorre em órgãos que possuem células replicativas. A hiperplasia pode ser fisiológica
ou patológica.
O órgão apresenta-se com volume e peso elevados. Em órgãos hiperplásicos,
transcorre elevação na síntese de elementos de crescimento e de seus receptores,
além de intensificação de rotas intracelulares de incitações da divisão celular. Se a
causa da hiperplasia for eliminada e as condições das células retornarem ao normal,
é denominada hiperplasia reversível.
Para ocorrer hiperplasia são essenciais o suprimento sanguíneo e a integridade
morfológica e funcional das células e da inervação. A hiperplasia é gerada por ele-
mentos que instigam as funções celulares, sendo também uma forma de adequação
das células ao excesso de trabalho.

Assista ao vídeo “Patologia: Aula 4 – Adaptações celulares – hiperplasia” sobre a hiperplasia


para continuar o entendimento dos mecanismos celulares desse tão importante distúrbio
de crescimento. Disponível em: https://youtu.be/o3NfarvbZ_E

19
19
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

Metaplasia
A metaplasia é a mutação de uma espécie de tecido maduro em outra de mesma
linhagem; uma espécie de epitélio altera-se em outra espécie epitelial, mas um epi-
télio não se altera em tecido mesenquimal. A metaplasia é o resultado da inativação
de alguns genes e desrepressão de outros. A metaplasia é um processo reversível, e
os tipos mais recorrentes são:
• Transformação de epitélio estratificado pavimentoso não ceratinizado em epi-
télio ceratinizado;
• Epitélio pseudoestratificado ciliado em epitélio estratificado pavimentoso, cera-
tinizado ou não;
• Epitélio mucossecretor em epitélio estratificado pavimentoso;
• Epitélio glandular seroso em epitélio mucíparo;
• Tecido conjuntivo em tecido cartilaginoso ou ósseo;
• Tecido cartilaginoso em tecido ósseo.

A metaplasia é também um progresso adaptativo que se manifesta em resposta


a diversas agressões, e, como regime generalizado, o tecido com metaplasia é mais
persistente a agressão.

Assista ao vídeo “Patologia: Aula 7 – Adaptações celulares – metaplasia” sobre a metapla-


sia para para continuar o entendimento desse processo adaptativo das lesões.
Disponível em: https://youtu.be/07Si_9EgPkc

Em Síntese
A Patologia é a ciência que abrange as causas das doenças, os mecanismos que as cons-
tituem, a localização de sua ocorrência e as modificações funcionais, morfológicas e mo-
leculares, além disso, aprendemos sobre a diferença de saúde e doença, elementos da
Patologia, classificação e terminologias das lesões.
As lesões e doenças são produzidas por variadas agressões. As agressões agem por di-
versos mecanismos: hipóxia e anóxia, radicais livres, alterações em ácidos nucleicos e
proteínas, reação imunitária, contaminantes alimentares e agentes físicos, químicos e
biológicos. Conhecendo os mecanismos das lesões, ficará mais fácil você entender o que
acontece nas células que sofreram lesões e quais são os seus mecanismos de defesa.
Os distúrbios do crescimento são processos complexos e excessivamente controlados, e
cada distúrbio possui as suas características definidoras. Os distúrbios de crescimento
abordados foram a atrofia, hipertrofia, hiperplasia, metaplasia.

20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Patologia: Aula 4 – Adaptações celulares – hiperplasia
https://youtu.be/o3NfarvbZ_E
Patologia: Aula 5 – Adaptações celulares – hipertrofia
https://youtu.be/QkRo0NRCINs
Patologia: Aula 6 – Adaptações celulares – atrofia
https://youtu.be/MlP4JHBqOms
Patologia: Aula 7 – Adaptações celulares – metaplasia
https://youtu.be/07Si_9EgPkc
Patologia: Aula 9 - Causas das lesões celulares
https://youtu.be/-xjnwmyb8Ko

Leitura
Noções de Patologia
https://bit.ly/2FxcePE

21
21
UNIDADE Patologia: Elementos de uma Doença

Referências
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia Geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.

COTRAN, R. S. Patologia estrutural e funcional. 7. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier,


2005.

22

Você também pode gostar