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Osteoartrite

Adriana Silva Dias, Alice Abend


Bardagi, Daniela C.M. de Souza,
Giulia Frederico, Juliana C. Cantarani
e Karen Lorencetti
01.
Definição
Insuficiência cartilaginosa decorrente
de fatores mecânicos, genéticos,
hormonais, ósseos e metabólicos→
degradação do tecido cartilaginoso com a
consequente remodelação óssea e
02.
Mecanismos
Fisiopatológicos
Cartilagem Articular Normal
PROTEOGLICANOS (rigidez
compressiva do tecido e capacidade
de sustentar cargas)
Macromoléculas importantes

COLÁGENO tipo 2 (força elástica e


resistência ao cisalhamento)

CONDRÓCITO
CATABOLISMO ANABOLISMO
IL-1, IL-6, TNF-alfa, Inibição das metaloproteinases
metaloproteinases (ITMP e IAP-1) e fatores de
crescimento (IGF-1, TGF-B,
FGF)
Metaloproteinases

Enzimas produzidas e liberadas pelos condrócitos na forma de pró-enzimas


O que são? inativas (colagenose, estromelisina, gelatinase) sob o estímulo de IL-1, TNF-alfa e
IL-6

Como são ativadas? Clivagem proteolítica da sua sequência N terminal pela plasmina

Degradam todos os componentes da matriz extracelular (causando um desarranjo na


O que fazem? rede de proteoglicanos e colágeno)
Desequilíbrio do turnover articular
Fisiopatologia
Pode ser idiopática (primária - mais comum) ou
secundária

Pode ter origem na cartilagem, no osso


subcondral ou na membrana sinovial

Aumento do ativador de plasminogênio,


diminuição do nível de IAP-1 -> aumento da
plasmina

Papel do óxido nítrico (NO) e da apoptose


celular
EVOLUÇÃO
1. Cartilagem mais espessa
(macrófagos e infiltrado
inflamatorio -> sinovite;
aumento do metabolismo dos
condrócitos)
2. Afinamento da face articular
3. Amolecimento da face
articular
4. Desenvolvimento de fendas
verticais (fibrilação)
03.
Alterações
Estruturais na
Cartilagem e
nos Ossos
Alterações Estruturais
➔ Degradação progressiva da cartilagem regular ou irregular, com
diminuição de sua espessura → diminuição da interlinha articular

➔ Eburneação do osso subcondral em áreas de desnudamento da cartilagem


- marfinização → esclerose óssea na zona subcondral

➔ Remodelação óssea com hiperplasia marginal, formação de osteófitos e


irregularidades nas superfícies articulares.

➔ Rarefação óssea localizada com formação de áreas císticas →


Pseudocistos
04.
Epidemiologia e
Comorbidades
Epidemiologia
➔ A prevalência aumenta com a idade;
◆ Pouco comum abaixo dos 40 anos
◆ Mais frequente após os 60 anos.

➔ Aos 75 anos: 85% das pessoas têm evidência radiográfica ou clínica (30
- 50% com dor crônica).

➔ Brasil: prevalência de 16%

➔ Responsável por 30 a 40% das consultas em ambulatórios de


reumatologia.
Fatores de Risco
➔ Idade
➔ Sexo (feminino)
➔ Predisposição genética
➔ Estresse mecânico
➔ Trauma articular
➔ Doenças congênitas/ desenvolvimento de osso e articulação
➔ Afecção articular inflamatória precedente
➔ Doenças endócrino-metabólicas
OA Secundárias
OA secundárias à desorganização da estrutura cartilaginosa
● Alterações estruturais de origem genética (p. ex., condrodisplasias)
● Acúmulo de produtos bioquímicos ou sanguíneos de origem hereditária ou não (p. ex.,
ocronose, hemocromatose, doença de Wilson, hemofilia)
● Alterações decorrentes de distúrbios endocrinometabólicos (p. ex., diabetes,
acromegalia, doença de Kashin¬Beck)
● Ação enzimática resultante da presença de cristais (p. ex., gota, condrocalcinose,
doença por fosfato básico de cálcio)
● Ação enzimática ou imunológica resultante de sinovite inespecífica (p. ex., sinovites
traumática, por corpo estranho, imunológica)
● Invasão por sinovite hiperplásica (p. ex., artrite reumatoide e doenças semelhantes)
● Ação mecânica aguda ou crônica (p. ex., trauma agudo com e sem fratura, doença de
Charcot, trauma postural, trauma ocupacional)
OA secundárias à desorganização da estrutura óssea ou alteração do
alinhamento articular

● Remodelagem acelerada ou aumento da densidade do osso subcondral


(p. ex., doença de Paget, osteopetrose e trauma)

● Necrose óssea (p. ex., necroses assépticas)

● Defeitos do desenvolvimento ou abiotróficos com graus variáveis de


herança (p. ex., displasia congênita do quadril, deslizamento da epífise
da cabeça femoral, alterações da cabeça femoral e das relações do colo
femoral)
05.
Quadro Clínico
➔ Sintomas constitucionais sugestivos de doença
sistêmica estão ausentes.
➔ A dor é o principal motivo que leva o paciente a Principais sintomas das
procurar ajuda médica, sendo sua etiopatogenia Osteoartrites
múltipla.
Dor espontânea (localizada ou
Etiopatogenia da dor irradiada)
Encarceramento do nervo Potencialização Rigidez pós-repouso
psicossomática da dor e
hipertonia muscular
Rigidez e dor protocinética
Reflexo muscular hipertôni- Excitação mecânica de
co, induzido por impulsos nociceptores
próprios e nociceptivos
Parestesias e distesias
aferentes
Melhora ao repouso
Imobilização neurogênica Ativação química de
reativa da articulação nociceptores da sinovial e
região periarticulares
Principais sinais das osteoartrites
Dor e sensibilidade à mobilização, à Mau alinhamento articular e defeitos
palpação ou às manobras posturais, causais ou consequentes

Crepitação palpável, excepcionalmente Alterações da morfologia articular


audível decorrentes da remodelagem

Espasmo e atrofia da musculatura Sinais discretos de inflamação articular,


articular satélite raramente acentuados

Limitação de amplitude articular, em Derrame articular, comumente


geral sem anquilose relacionado a trauma ou uso excessivo
da articulação
06.
Articulações
mais Envolvidas
Localizações
Localizações comprometidas mais frequentemente: Localizações comprometidas
● Coluna cervical; mais raramente:
● Coluna lombar; ● Punhos;
● Mãos → preferencialmente em mulheres; ● Cotovelos;
● Joelhos; ● Ombros;
● Coxofemorais → preferencialmente em ● Tornozelos.
homens;
● Pés.
QUADRIS
➔ Conhecida como coxartrose;
➔ Até os 50 anos de idade, é mais comum no sexo masculino;
➔ Etiologia: defeitos congênitos ou adquiridos; idiopática.
MÃOS
➔ A osteoartrite nas mãos recebe diferentes
nomes de acordo com a localização:
◆ Nódulos de Heberden, nas articulações
interfalângicas distais. →
● Raramente são únicos;
● Têm origem traumática;
● Podem se tornar assintomáticos ou só
esporadicamente sintomáticos.
◆ Nódulos de Bouchard, nas
interfalângicas proximais;
● Raramente precedem os de Heberden;
● Podem inflamar-se.
◆ Rizartrose, na trapézio-metacarpal.
● Predomina no sexo feminino;
● Relacionada a atividades que solicitam a
articulação repetidamente;
● Aspecto “quadrado” da mão. Fonte da imagem: Reumatologia : diagnóstico e tratamento 5ed.
JOELHOS
➔ Gonartrose; ➔ Outros fatores de risco: profissões que
➔ Localização periférica mais comum; exigem flexão prolongada e repetitiva
➔ Predomina entre 50 e 60 anos; dos joelhos;
➔ Amplamente relacionada a obesidade; ➔ Podem ser atingidas: articulações
femoropatelar e femorotibial.

➔ Sinomas variam de acordo com a


gravidade: ➔ Exame físico:
◆ Dor → no início, aparece quando ◆ Aumento de volume da articulação;
a articulação é usada mais ◆ Atrofia do quadríceps;
intensamente. Depois, com o ◆ Dor à palpação das interlinhas
agravamento do processo, surge articulares e à mobilização da
após pequenos esforços e até patela;
mesmo em repouso. ◆ Crepitação palpável à
flexãoextensão.
07.
Exames
Subsidiários
Exames laboratoriais:
● Sangue:
○ Não é indicado como rotina a não ser quando os
sintomas e sinais sugiram artropatia inflamatória
● Liquido sinovial:
○ normalmente classificado como não inflamatório
○ Menos de 2.000 células/mm 3 com predomínio de
mononucleares.
○ Viscosidade reduzida.
Raio-X:
● Redução do espaço articular
● Esclerose óssea subcondral
● Osteófitos
● Cistos
● Erosões ósseas

RM/USS:
● DD
● Identificação de lesões
cartilaginosas precoces.
08.
Envolvimento
Axial
➔ Instala-se tanto nos discos
intervertebrais quanto nas articulações
interapofisárias;

➔ Preferencialmente entre 40 e 60 anos;

➔ Predomínio do sexo masculino;

➔ Processo degenerativo: perda de


hidratação do tecido -> redução da
capacidade de amortecimento ->
transferência de carga para platôs
ósseos-> tornam-se mais densos e
com osteófitos.
➔ Dor moderada, localizada, exacerba-se
com movimentos e melhora com
repouso.

➔ Pode se tornar irradiada e grave quando


há compressão de raízes nervosas.
Nesse caso a dor é insuportável e o
paciente não encontra posição para
aliviá-la.
Coluna cervical
➔ Segmentos mais atingidos: C5-C6 e C6-C7;
➔ Dor espontânea ou provocada pelos movimentos do pescoço
➔ Sintomas: variam de acordo com área inervada pela raiz
comprometida:
1. Occipito-atloidiana, átlas-áxis, C2-C3: cefaleia, nucalgias,
torcicolos, nevralgias cérvico-occipitais.
2. C4-C7: dores cervicais e nos membros superiores - nevralgia
cervicobraquial a mais importante
➔ Síndrome da insuficiência vertebrobasilar
➔ Mielopatia secundária a OA cervical
Coluna cervical

Fonte: Coluna vertebral / [organizador] Jamil Natour. —. ed. — São Paulo : etera Editora,
Coluna torácica
➔ Mais precocemente atingido;
➔ Raramente produz sintomas;
➔ Dor interescapulovertebrais ou intercostais, manifestações pseudo
viscerais.
Coluna lombar
➔ Discrepância clínico-radiológica
➔ Dor com ritmo mecânico: inicialmente localizada -> distribuição difusa -
> participação miofascial
➔ Piora com decúbito, sendo mais frequente à extensão
➔ Abaulamentos e herniações dos discos -> dor irradiada e/ou
manifestações parestésicas ou motoras -> L4L5 ou L5S1 -> claudicação à
marcha e piora à extensão e permanência em pé.
Hiperostose senil anquilosante
➔ Homens de meia idade e idosos
➔ Calcificação e ossificação dos ligamentos
da face anterolateral da coluna vertebral
➔ Poupa articulação sacroilíaca
➔ Com frequência envolve esqueleto
periférico: proeminências ósseas, esporões,
calcificações de ligamentos
➔ Associação com obesidade, HA, afecção
coronariana e diabetes
➔ Dorsalgia, lombalgia, dores tipo intercostal
ou ciática.
09.
Tratamento
Medicamentoso
Fármacos sintomáticos de curta duração e fármacos
de ação lenta
Sintomáticos de curta
duração

Analgésicos

Fármaco inicial, dor leve a moderada. Dose 1,5 a 3g/dia. Pode acarretar dano
Paracetamol hepático.

1000 a 1500mg/tomada.
Dipirona

Cuidado com obstipação e sedação excessiva, potencializando risco de


Opioides quedas.
Sintomáticos de curta
duração

AINEs

Idade ≥65 anos, presença de comorbidades, uso de corticoesteroide


Inibidores da oral, história de úlcera péptica e/ou sangramento alto e uso de
COX-2
anticoagulante.

Podem ser usados com gastroprotetores (inibidores da bomba de


Não seletivos prótons)
Uso tópico de
antinflamatórios e
analgésicos

Eficaz no alívio da dor, principalmente em mãos e joelhos


Capsaicina creme
Inibe a ação da substância P, neuropeptídio liberado por terminais de
0,025 ou 0,075%
nervos sensoriais centrais e periféricos e que participa do processo
inflamatório
Resultados após 2 a 4 semanas
Não há razão para corticoesteroides sistêmicos.
Fármacos de ação lenta

Boa opção ao uso isolado de analgésicos e AINEs

Faz parte dos glicosaminoglicanos da matriz da cartilagem


Sulfato de Modelos animais: redução degradação da cartilagem e aumenta
Glicosamina síntese de proteoglicanos;
Humanos: Eficaz no controle da dor, potencial modificador de
Fármaco com maior número
de estudos! doença -> menor perda do espaço articular
Depende do sal empregado e sua manufatura; estocagem e
manipulação do produto
Efeito colateral: aceleração do trânsito intestinal e flatulência
Seguro.
Fármacos de ação lenta

Boa opção ao uso isolado de analgésicos e AINEs

Polissacarídeo composto por glicosaminas


Sulfato de Inibição da síntese de IL-1 e efeitos anabólicos sob matriz
Condroitina cartilaginosa
Eficaz no tratamento sintomático de joelho e quadril
Associação com glicosamina: bons resultados.
Fármacos de ação lenta

Boa opção ao uso isolado de analgésicos e AINEs

⅓ óleo de abacate e ⅔ de óleo de so


Inibem a IL-1 e estimulam síntese de colágen
Extratos não
saponificados de Melhora dos sintomas em joelho e quadril
soja e abacate

Menos citados em recomendações


Fármacos de ação lenta

Boa opção ao uso isolado de analgésicos e AINEs

Inibe IL-1 por reduzir receptores nos condrócitos, reduzindo síntese


de metaloproteases e elevando a produção de colágeno e
Diacereína proteoglicanos.
Estudo OA de joelho -> superior ao placebo na melhora da dor
Efeito colateral: diarreia.
Menos citados em recomendações
Fármacos de ação lenta

Boa opção ao uso isolado de analgésicos e AINEs

Inicialmente sugerida para tratamento da OA erosiva das mãos


2002: Consenso brasileiro de OA -> opção válida para tratamento.
Hidroxicloroquina

Disponível no setor público, baixo


custo
Medicação intra-articular

Efeito estimulador na própria articulação


FDA: Tratamento para OA sintomática de joelho que não tenham
Ácido hialurônico respondido a medidas não farmacológicas e analgésicas.
3 a 5 aplicações semanais
Citada em recomendações de
sociedades médicas Geralmente em joelhos, quadris e ombros.
Medicação intra-articular

Persistência de sintomas (com exuberância de sinais inflamatórios)


Hexacetonido de triancinolona: mais utilizado, em razão do maior
Corticoesteroides tempo de permanência restrita a articulação infiltrada.
Efeito dura 1 a 3 meses.
ESQUEMA TERAPÊUTICO:

Medicamentos isolados ou associados


Cuidado com prescrição de glicosamina e
diacereína, por causa do efeito intestinal.

Cloroquina + fármacos de ação lenta

Infiltrações com corticoide


Em caso de persistência de sintomas em uma
ou poucas articulações.
10.
Tratamento
Complementar
Tratamento não farmacológico
➔ Orientação médica e apoio psicológico
➔ Exercícios Físicos
➔ Repouso quando necessário
➔ Orientações sobre as atividades de vida diária e ocupacionais → Proteção
articular
➔ Perda de peso
➔ Órteses
➔ Medicia física
Fonte: Reumatologia : diagnóstico e tratamento 5ed.
Fonte: Reumatologia : diagnóstico e tratamento
5ed.
Fonte: Reumatologia : diagnóstico e tratamento 5ed.
Tratamento Cirúrgico
Se tratamento conservador ineficaz

➔ Osteotomias: corrigir o desalinhamento articular e evitar a


concentração de carga.

Fonte da imagem: http://www.runco.com.br/especialidades/osteotomias/


Tratamento Cirúrgico
➔ Artroplastias totais: devem ser reservadas para estágios mais avançados
da doença e pacientes mais idosos, tendo em vista a durabilidade das
próteses.

Fonte da imagem: https://interfisio.com.br/a-importancia-dos-exercicios-na-artroplastia-total-de-


quadril/
Tratamento Cirúrgico
➔ Artrodeses: só devem ser cogitadas em casos excepcionais.

Fonte da imagem: https://www.especialistadacoluna.com.br/tratamentos/estabilizacao-rigida-fusao-artrodese/


CASO CLÍNICO

Maria da Silva, feminino, 67 anos, viuva, aposentada, natural e procedente de


Campinas-SP.
QD: “dor nas juntas dos joelhos há 8 meses”

HPMA: paciente refere artralgia em joelhos há 8 meses, com piora há 3 meses.


Refere piora ao subir e descer escadas e ao se levantar e agachar. Refere também
rigidez matinal de cerca de 15 minutos e estalidos ao movimentar os joelhos.
Sedentária, IMC 33 kg/m², nega outros sintomas.
AP: HAS, apendicectomia prévia.

Ao Exame Físico: Nódulos de Heberden e Bouchard; punhos e


metacarpofalangeanas sem alterações. Crepitações à movimentação dos joelhos; dor
a mobilização patelar. Membros simétricos.
Referências

Reumatologia : diagnóstico e tratamento / Marco Antonio P.


Carvalho ... [et al.]. ¬ 5. ed. ¬ Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2019.

Medicina Interna de Harrison / Tinsley Randolph Harrison… [et


al] ¬ 15. ed. ¬ Rio de Janeiro McGraw-Hill, 2002.
OBRIGADA!

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