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PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO

DE DOENÇAS

Iolanda Felipe da Silva Bona


Médica de Família e Comunidade
IESC I
OBJETIVOS:
1. Diferenciar prevenção de doença e promoção da saúde.

2. Conhecer e compreender o modelo explicativo do processo saúde e doença:


Leavell e Clarck (História Natural das Doenças-HND).

3. Classificar os períodos: pré-patogênico e patogênico da HND.

4. Exemplificar os tipos de prevenção primária, secundária e terciária.

5. Caracterizar a prevenção quaternária, segundo Jamouller.

6. Conhecer os conceitos básicos de segurança do paciente.


EPIDEMIOLOGIA
• É a ciência que estuda o processo saúde-doença em
coletividades humanas.

• Analisa a distribuição e os fatores determinantes do risco


de doenças, agravos e eventos associados à saúde.

• Propõe medidas específicas de prevenção, controle ou


erradicação de doenças, danos ou problemas de saúde e
de proteção, promoção ou recuperação da saúde
individual e coletiva.

• Produz informação e conhecimento para apoiar a


tomada de decisão no planejamento, administração e
avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de
saúde.
• A epidemiologia visa:

▫ Descrever a distribuição e a magnitude dos


problemas de saúde nas populações humanas.

▫ Proporcionar dados essenciais para planejamento,


execução e avaliação das ações de prevenção,
controle e tratamento das doenças, estabelecendo
prioridades.

▫ Identificar fatores etiológicos na gênese das


enfermidades.
• Campo sobre o qual trabalha a epidemiologia:
Processo saúde-doença.

• Refere-se a uma ampla gama, que vai desde “o


estado de completo bem-estar físico, mental e
social” até o de doença, passando pela
coexistência de ambos em proporções diversas.
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
• É o nome dado ao conjunto de processos
interativos que compreendem “as inter-relações
do agente, do suscetível e do meio ambiente que
afetam o processo global e seu desenvolvimento,
desde as primeiras forças que criam o estímulo
patológico no meio ambiente, ou em qualquer
outro lugar, passando pela resposta do ser
humano ao estímulo, até as alterações que
levam a um defeito, invalidez, recuperação ou
morte.” (LEAVELL & CLARK, 1976)
• Tem desenvolvimento em dois períodos sequenciados: o
período epidemiológico e o período patológico.
▫ No primeiro, o interesse é dirigido para as relações
suscetível-ambiente;
▫ Ao segundo interessam as modificações que se passam no
organismo vivo.

• Abrange, portanto, dois domínios interagentes,


consecutivos e mutuamente exclusivos, que se
completam:
▫ O meio ambiente, onde ocorrem as pré-condições;
▫ O meio interno, locus da doença, onde se processa, de
maneira progressiva, uma série de modificações
bioquímicas, fisiológicas e histológicas próprias de uma
determinada enfermidade.
• Numa situação normal, na ausência de
estímulos, jamais se exteriorizariam como
doenças.

• Na presença desses fatores intrínsecos


preexistentes, os estímulos externos
transformam-se em estímulos patogênicos.
▫ Dentre as pré-condições internas, citam-se os
fatores hereditários, congênitos ou adquiridos em
consequência de alterações orgânicas resultantes
de doenças anteriores.
▫ Os estímulos externos, como pobreza, devem ser
considerados fatores primários.
• A história natural das doenças nada mais é do
que um quadro esquemático que dá suporte à
descrição das múltiplas e diferentes
enfermidades.

• Sua utilidade maior é a de apontar os diferentes


métodos de prevenção e controle, servindo de
base para a compreensão de situações reais e
específicas e tornando operacionais as medidas
de prevenção.
PERÍODO DE PRÉ-PATOGÊNESE
(EPIDEMIOLÓGICO)
• Representa a própria evolução das inter-relações
dinâmicas, que envolvem, os condicionantes
sociais e ambientais e, os fatores próprios do
suscetível, até que chegue a uma configuração
favorável à instalação da doença.

• Podem ocorrer situações que vão desde um


mínimo de risco até o risco máximo,
dependendo dos fatores presentes e de que
maneira esses fatores se estruturam.
FATORES SOCIAIS

• O componente social na pré-patogênese, pode


ser definido como uma categoria residual:
▫ Conjunto de todos os fatores que não podem ser
classificados como componentes genéticos ou
agressores físicos, químicos e biológicos.
FATORES SOCIOECONÔMICOS
• Os grupos sociais economicamente privilegiados
estão menos sujeitos à ação dos fatores
ambientais.
▫ A desnutrição, as parasitoses intestinais, o
nanismo e a incapacidade de se prover estão
sempre presentes em situação de miséria.
FATORES SOCIOPOLÍTICOS
• São alguns dos fatores políticos que devem ser
fortemente considerados ao se analisarem as
condições de pré-patogênese no nível social:
▫ Instrumentação jurídico-legal;
▫ Decisão política;
▫ Higidez política;
▫ Participação consentida e valorização da
cidadania;
▫ Participação comunitária efetivamente exercida;
▫ Transparência das ações e acesso à informação.
FATORES SOCIOCULTURAIS

• Devem ser citados preconceitos, hábitos,


crendices, comportamentos, normas e valores,
valendo como fatores pré-patogênicos
contribuintes para difusão e manutenção de
doenças.
FATORES PSICOSSOCIAIS
• Estes estímulos têm influência direta sobre o
psiquismo humano, com consequências somáticas e
mentais danosas.
▫ Ausência de relações parentais estáveis, desconexão
em relação à cultura de origem, falta de apoio no
contexto social em que se vive, condições de trabalho
extenuantes ou estressantes, promiscuidade,
transtornos econômicos, sociais ou pessoais, falta de
cuidados maternos na infância, carência afetiva de
ordem geral, competição desenfreada, agressividade
vigente nos grandes centros urbanos e desemprego.
FATORES AMBIENTAIS
• Além de incluir o ambiente físico, que abriga e torna possível
a vida autotrófica, e o ambiente biológico, que abrange todos
os seres vivos, inclui também a sociedade evolvente, sede das
interações sociais, políticas, econômicas e culturais.

• O ambiente físico que envolve o ser humano moderno


condiciona o aparecimento de doenças cuja incidência
tornou-se crescente a partir da urbanização e da
industrialização.

• O ambiente físico dos locais de trabalho pode, em razão dos


fatores presentes, estar associado à produção de doenças.

• No ambiente humano, o uso de medicamentos é outro fator


importante que pode compor a estrutura epidemiológica de
doenças não infecciosas.
FATORES GENÉTICOS

• Em relação à incidência de doenças, percebe-se


que, quando ocorre a exposição a um fator
patogênico externo, alguns dos expostos são
acometidos e outros permanecem isentos.
MULTIFATORIALIDADE
• Ao se considerarem as condições para que a doença tenha
início em um indivíduo suscetível, é necessário levar em conta
que nenhuma delas será, por si, suficiente.

• Quanto mais estruturados estiverem os fatores, maior força


terá o estímulo patológico.

• São denominados agentes patogênicos os que levam estímulos


do meio ambiente ao meio interno do ser humano, como
verdadeiros mensageiros de uma pré-patologia gerada e
desenvolvida no ambiente e como iniciadores e mantenedores
de uma patologia que passará a existir no ser humano.

• São de natureza física, química, biológica ou psicológica.


PERÍODO DE PATOGÊNESE
(PATOLÓGICO)
• Esse período se inicia com as primeiras ações
que os agentes patogênicos exercem sobre o ser
afetado.

• Seguem-se as perturbações bioquímicas em nível


celular, continuam com as perturbações na
forma e na função e evoluem para defeitos
permanentes, cronicidade, morte ou cura.
• Serão considerados quatro níveis de evolução no
período de patogênese:
INTERAÇÃO ESTÍMULO-SUSCETÍVEL
• Nesse estágio, a doença ainda não se desenvolveu,
porém estão presentes todos os fatores necessários
para sua ocorrência.

• Alguns fatores agem predispondo o organismo à


ação subsequente de outros agentes patógenos.

▫ A má nutrição predispõe à ação patogênica do bacilo


da tuberculose; altas concentrações de colesterol
sérico contribuem para o aparecimento da doença
coronariana; fatores genéticos diminuem a defesa
orgânica, abrindo a porta do organismo às infecções.
ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS, HISTOLÓGICAS E FISIOLÓGICAS

• Nesse estágio, a doença já está implantada no


organismo afetado. Embora não se percebam
manifestações clínicas, já existem alterações histológicas
em nível de percepção sub-clínica de caráter genérico.

• Pode ser percebida por meio de exames clínicos ou


laboratoriais orientados.

• É o chamado período de incubação.

• Algumas doenças não passam desse estágio.


▫ Devido às respostas dadas pelas defesas orgânicas, podem
regredir desse estágio patológico ao de saúde inicial.
SINAIS E SINTOMAS
• É o estágio denominado clínico, iniciado ao ser
atingida uma massa crítica de alterações
funcionais no organismo acometido.

• A evolução da doença encaminha-se então para


um desenlace:
CRONICIDADE
• A evolução clínica da doença pode progredir até o
estado de cronicidade ou conduzir o doente a um
dado nível da incapacidade física por tempo
variável.

• Pode também produzir lesões que serão, no futuro,


uma porta aberta para novas doenças.

• Do estado crônico, com incapacidade temporária


para o desempenho de alguma atividade específica,
a doença pode evoluir para invalidez permanente,
morte ou cura.
PROMOÇÃO DA SAÚDE
• Visa reduzir as diferenças no estado de saúde da
população e assegurar oportunidades e recursos
igualitários para capacitar todas as pessoas a
realizarem completamente seu potencial de saúde.

• Isso inclui uma base sólida:


▫ Ambientes favoráveis, acesso à informação, a
experiências e habilidades na vida, bem como
oportunidades que permitam fazer escolhas por uma
vida mais sadia.

• As pessoas não podem realizar completamente seu


potencial de saúde se não forem capazes de
controlar os fatores determinantes.
PREVENÇÃO DA DOENÇA
• Visa ao emprego de medidas de profilaxia a fim de impedir
que os indivíduos sadios venham a adquirir a doença.

• Deve começar no nível das estruturas políticas e econômicas.

• Prevenção em saúde pública é a ação antecipada, tendo por


objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença.

• Pode ser feita nos períodos de pré-patogênese e patogênese.

• O conhecimento da história natural da doença favorece o


domínio das ações preventivas necessárias.
PREVENÇÃO QUATERNÁRIA
• Ação feita para identificar um paciente ou
população em risco de supermedicalização,
protegê-los de uma intervenção médica invasiva e
sugerir procedimentos científica e eticamente
aceitáveis.

• É uma forma de questionar e compreender


continuamente os limites do trabalho do clínico
geral/médico de família.

• A prevenção quaternária é um termo novo para um


conceito antigo: “primeiro, não causar dano”.
SEGURANÇA DO PACIENTE
• Visa a redução dos riscos de danos desnecessários
associados à assistência em saúde.

• Segundo a OMS, um em cada quatro pacientes


sofrem algum dano ao procurar um atendimento na
atenção primária ou ambulatorial:
▫ Erros de diagnóstico;
▫ Erros no tratamento;
▫ Decorrente da forma e organização do serviço;
▫ Comunicação inter profissional e entre os profissionais
e os pacientes.
• O atendimento inseguro acontece como um
problema geral no sistema de saúde.

• A Segurança do Paciente é um direito de todos


aqueles que vão a um serviço de saúde, ou seja,
ele não precisa sofrer danos ao buscar cuidados
de saúde, pois este deve ser um local seguro, que
proteja aqueles que o procuram.
Referências Bibliográficas
GUSSO, G.; LOPES, J.M.C. Tratado de medicina da família e comunidade: princípios, formação e
prática. Porto Alegre, 2012. Cap.31.
ROUQUAYROL, M.Z.; SILVA, M.G.C. Epidemiologia & saúde. 8.ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018.
Cap.2.
Associação Hospitalar Moinhos de Vento. Segurança do Paciente na Atenção Primária à
Saúde:Teoria e Prática. Tiago Chagas Dalcin, Carmen Giacobbo Daudt … [et al.,]. – Associação
Hospitalar Moinhos de Vento: Porto Alegre, 2020. (Cap. 1).
Obrigada!

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