Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
PROBLEMA 1 – ABERTURA:
CONCEITOS ASSOCIADOS AO ENVELHECIMENTO E
AS DIFERENTES IDADES HUMANAS:
TERMOS E DEFINIÇÕES IMPORTANTES PARA
COMPREENDER O ENVELH ECIMENTO:
Na prática cotidiana, diversos termos são
usados para denominar as pessoas que já
viveram por muitos anos ou esse período da
vida, de forma geral, que recebia
anteriormente apenas a simples definição de
velhice. Nota-se, no entanto, que a atenção
a esse grupo populacional conta com muito
mais nuances e peculiaridades, o que faz
com que diversas denominações sejam
empregadas para melhor acessar esse
grupo, a saber:
 Envelhecimento: essa nomenclatura
corresponde a um processo determinado
não por marcadores biológicos
específicos, mas sim por aspectos
socioeconômicos e legais. Tal fenômeno
é dinâmico e progressivo, marcado por
um conjunto de alterações psicológicas,
bioquímicas e morfofuncionais, que
diminuem a capacidade individual de
adaptação ao meio ambiente, o que torna
o indivíduo que vivencia essa etapa da
vida mais vulnerável a processos
patológicos;
 Velhice: é a fase da vida na qual
“desagua” o envelhecimento, marcada
por diminuição da capacidade funcional
do indivíduo, além de outras mudanças
importantes, sejam elas estéticas
(calvície e canície), sociais
(aposentadoria, dependência financeira),
psicológicas, motoras ou afetivas;
 Velho: mesmo que muito utilizada, essa
palavra carrega múltiplos sentidos
negativos, referindo-se a algo muito
antigo, já obsoleto e potencialmente
descartável por ser ultrapassado. Essa
designação representa o “produto” da
velhice;
 Terceira idade: esse termo surgiu como
forma de determinar o período da vida no
qual um indivíduo se aposentava (nesse
contexto, a primeira idade seria a
infância, e a segunda, a vida adulta ou
laboral). Atualmente, com o aumento da
expectativa de vida, essa palavra vem
sendo usada para designar os adultos
numa fase intermediária entre a idade de
aptidão laboral e a velhice, podendo
apresentar, portanto, cunho negativo.
o A designação “idade madura”
também segue o mesmo propósito
eufemista observado no item acima,
buscando suavizar a passagem do
tempo por meio da aquisição de
atribuições e responsabilidades
típicas de alguém mais velho.
Do ponto de vista médico, alguns conceitos
são importantes para a estratificação do
idoso e de suas demandas, como:
 Geriatria: corresponde à especialidade
médica que tem como foco a atenção à
saúde do idoso, com enfoque em sua
promoção, prevenção de agravos,
tratamento e reabilitação do paciente,
além da realização de cuidados
paliativos;
 Gerontologia: esse campo do
conhecimento se propõe a compreender
o envelhecimento em suas múltiplas
esferas (biológicas, psicológicas e
sociais, por exemplo). Profissionais de
múltiplas áreas atuam no segmento da
gerontologia, com profundo contato com
os geriatras.
 Envelhecimento normativo: esse termo é
empregado como proposta para permitir
a avaliação da ocorrência da velhice, uma
vez que, devido à heterogeneidade do
processo, é difícil selecionar “indivíduos
normais” para compor um controle.
Nesse contexto, o envelhecimento
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normativo representa os fenômenos indivíduos com mais de 65 anos (em
naturais presentes em fases mais países desenvolvidos), ou com idade
avançadas da vida. Nesse grupo ainda se superior a 60 anos (países em
encontram duas categorias, o desenvolvimento e menos
envelhecimento primário, intrínseco ao desenvolvidos). O uso desse critério dá
organismo, e o secundário, que é afetado margem a múltiplas interpretações,
por agentes externos; porém é o mais fácil de ser sistematizado,
 Senescência: esse é o resultado do motivo pelo qual é utilizado em pesquisas
conjunto de alterações físicas, científicas e governamentais;
emocionais e psicológicas típicas do  Idade biológica: pode ser definida pelo
envelhecimento normal; conjunto de mudanças físicas e mentais
 Senilidade: corresponde ao observadas ao longo do processo de
“envelhecimento patológico”, no qual os envelhecimento humano, que se acentua
impactos normais da velhice se somam a após a quarta década de vida. Associado
comorbidades pré-existentes ou criam a esse conceito pode também ser
novos acometimentos, afetando a saúde identificada a idade funcional, que
do indivíduo. mensura a capacidade adaptativa
individual de forma comparativa com a
datação cronológica. Em situações de
carência socioeconômica, por vezes o
envelhecimento funcional precede o
biológico;

AS IDADES DA VELHICE :

A determinação específica da velhice é um

processo difícil, pois, ainda que a idade
represente um marcador pré-determinado, o
cuidado prestado a um indivíduo pelos outros
e por si mesmo ao longo dos anos tem fortes
impactos no desenvolvimento do
 Idade psicológica: busca correlacionar a
envelhecimento. Assim, é possível identificar
idade cronológica do indivíduo e suas
múltiplas “idades”, cada uma delas
capacidades de percepção,
apresentando distintos parâmetros de
aprendizagem e memória, determinantes
avaliação para classificar determinada
para a “funcionalidade” futura do idoso.
pessoa como idosa:
Esse parâmetro é mais subjetivo,
 Idade cronológica: refere-se ao número podendo estar ligado à autopercepção do
de anos discorridos entre o nascimento e paciente quanto a seu envelhecimento;
a avaliação do indivíduo, havendo um  Idade social: esse conceito está ligado à
marco classificador, implementado pela capacidade individual de se adequar a
OMS, que classifica como idosos papéis e responsabilidades na vida em
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comunidade comumente relacionados à
faixa etária da pessoa. Graças a esse
caráter de integração com o cruciais para a atividade celular. Num certo
desenvolvimento da sociedade, tal
parâmetro apresenta significados voláteis
conforme o estado econômico
(principalmente) de determinado local.
TEORIAS DO ENVELHECIMENTO:
O processo de envelhecimento pode ser
atribuído a múltiplos fatores, organizados,
por sua vez, em várias teorias. Uma possível
classificação para esses postulados segue
um modelo dual, que considera se os efeitos
descritos ocorrem na maioria ou na
totalidade das células (teorias
intracelulares), ou se eles apresentam
impactos mais evidentes em componentes
estruturais ou reguladores (teorias
intercelulares). Ainda nesse contexto,
também é necessário considerar se esses
fenômenos são acidentais (teorias
estocádicas) ou resultantes de uma cascata
de processos hierárquicos típicos da espécie
humana (teorias sistêmicas). Nota-se,
portanto, que uma só teoria pode ser
intracelular e estocádica ou intercelular e
sistêmica, e vice-versa.
TEORIAS ESTOCÁDICAS:
Os processos de envelhecimento podem ser
considerados como regulares, uma vez que
ocorrem de forma mais ou menos gradual e
progressiva, reduzindo a aptidão funcional
do indivíduo e determinando um patamar
para a longevidade individual. Dessa forma,
a atribuição exclusiva do envelhecimento a
eventos aleatórios, porém é essa ideia que
se insere como eixo central de teorias
associadas ao acúmulo de incorreções e
lesões moleculares, que ocorrem ao acaso.
Múltiplos mecanismos podem estar
envolvidos nesse processo de preservação
de estruturas defeituosas, como falhas no
processo de reparo genético ou disfunções
na síntese proteica, mas,
independentemente do processo, esse
fenômeno culmina na perda de dados
ponto, a quantidade de macromoléculas
alteradas seria grande o suficiente para
acometer o potencial metabólico celular
como um todo, levando à morte do
organismo.
Dois aspectos devem ser levados em
consideração no estudo do envelhecimento
estocádico: o primeiro corresponde ao modo
de determinação de células e tecidos mais
vulneráveis a esses impactos; e o segundo,
à existência de mecanismos que tornam
alguns organismos mais longevos que
outros, seja por meio de cadeias de reparo
mais eficazes ou da redundância funcional
(“sistemas de backup”). Compreendendo
esses fatores, é possível observar o impacto
de aspectos adaptativos no processo de
envelhecimento, seja entre espécies
distintas ou entre indivíduos de uma mesma
população.
TEORIAS DE USO E DESGASTE:
Esse modelo de explicação do
envelhecimento foi o primeiro a propor um
sistema similar ao de falhas nos processos
de reparo celular e, mesmo que
desatualizada em relação aos outros
mecanismos, ela ainda é empregada como
justificativa para o surgimento da velhice,
principalmente por ser reforçada
cotidianamente de forma disfarçada. As
teorias classificadas como de uso e desgaste
são, provavelmente, as mais antigas
precursoras do conceito de falha em
mecanismos de reparação. Embora
desatualizadas, elas persistem,
possivelmente por serem reforçadas
inconscientemente por observações
cotidianas.
Nesse âmbito, os pequenos acometimentos
moleculares decorrentes de interações com
agentes lesivos ao longo dos anos promove
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uma queda gradual, mas constante, do
desempenho do organismo, até que ele
invariavelmente morra. Esses danos podem
ser causados por um grande número de
eventos, como infecções e traumas, após os
quais a estrutura macroscópica do indivíduo
se recupera, mas os microcomponentes
diretamente envolvidos no processo passam
a apresentar certa deficiência em
comparação com sua funcionalidade
original. Assim, pesquisadores associaram
esse desgaste celular e, consequentemente,
o envelhecimento, a um excesso de uso das
células.
Após quase 40 anos de sua publicação
inicial, essa teoria passa a ser criticada por
quatro pontos principais: o envelhecimento
ocorre independentemente da exposição a
lesões, sendo que a ausência destas não
apresenta impacto positivo na longevidade
do indivíduo; múltiplos “microdanos” podem
aumentar a probabilidade de morte em um
organismo, mas não apresentam relação
direta com o envelhecimento; o papel
protetor da exposição moderada a
estressores; e, por fim, a classificação do uso
e desgaste não como uma teoria individual,
mas sim como componente de outras.
TEORIA DE PROTEÍNAS ALTERADAS:
Essa teoria sugere que, ao longo do tempo,
mudanças começam a surgir em proteínas
logo após o processo de tradução,
provocando alterações em sua forma e
atividade enzimática, o que prejudica a
função da célula como um todo. Tais
mudanças não se relacionam a erros em
aminoácidos ou na interação entre moléculas
promovida por ligações covalentes, mas sim
a uma possível desnaturação desencadeada
dentro do próprio citoplasma da célula.
Assim, seria possível compreender melhor
as alterações que ocorrem com o processo
de envelhecimento, além de, em tese,
identificar determinadas alterações
reversíveis.
A importância desse processo é evidente ao
serem considerados os impactos de
alterações em proteínas estruturais, como a
elastina e os múltiplos tipos de colágeno.
Quando o tecido conjuntivo envelhece,
várias mudanças podem ser observadas,
tanto na estética do indivíduo (altura,
elasticidade da pele) como em sua fisiologia
(aumento da pressão arterial em decorrência
do enrijecimento dos vasos). Essas
estruturas sofrem prejuízo constitucional por
meio de ligações cruzadas, que integram
moléculas umas às outras, o que lentifica o
processo de degradação das fibras
envelhecidas.
Nem toda modalidade de ligação cruzada
aumenta proporcionalmente à idade, sendo
possível inclusive a ocorrência de uma
relação oposta, com redução no número de
interações redutíveis com o passar do
tempo. A maior parte das ligações não
redutíveis, por sua vez, tende a se acumular
com o aumento da idade, em consonância
com a intensificação dos processos de
oxidação.
Dentre os mecanismos de formação de
ligações cruzadas, destaca-se a formação de
produtos finais de glicosilação avançada
(AGE), decorrentes do contato entre
proteínas e glicose. Os AGE têm sua
concentração aumentada em indivíduos de
idade avançada, situação ainda mais
evidente em portadores de DM tipo 1, que
apresentam glicemia elevada, facilitando a
catálise desse processo. Tais alterações
estão associadas ao aumento da
predisposição para certas doenças, ao invés
de efetivamente causá-las, acometendo em
maior proporção os tecidos mais
desgastados, em oposição àqueles mais
jovens.
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Nota-se, no entanto, que não existe uma
progressão linear obrigatória entre idade e
concentração de AGE, que são inicialmente
degradados por macrófagos e substituídas
por estruturas saudáveis no processo de
revitalização celular fisiológico. Em algum
momento, com o enfraquecimento desse
sistema graças a interações ambientais e
genéticas, os produtos da glicosilação e seus
impactos deletérios começam a se acumular.
Algumas situações, como a influência
positiva da prática de atividades físicas e de
uma alimentação com restrição calórica
sobre a formação dos AGE em fibras
colágenas, determinam o papel de fatores
externos sobre a consolidação de ligações
cruzadas. Compostos intracelulares também
podem sofrer com reações de glicosilação,
porém, da mesma forma que em estruturas
intercelulares, a presença de determinados
agentes extrínsecos pode reduzir tais
prejuízos.
Não só proteínas são afetadas por essa
degeneração de AGE, sendo observado que
o DNA também possa ser lesionado, ainda
que o comprometimento seja menor, em
decorrência da maior eficácia dos seus
mecanismos de reparação, capazes de
corrigir de forma eficaz as proteínas
glicosiladas.
Destaca-se também, ao abordar a teoria de
proteínas alteradas, o mecanismo de
processamento desses compostos, que se
torna cada vez mais lento com o passar dos
anos, motivado por fatores ainda
desconhecidas nas vias de degradação
citoplasmáticas.
MUTAÇÕES, DANOS E INSTABILIDADE GENÔMICA:
O processo de degradação do DNA em
algum grau pode também comprometer a
capacidade de funcionamento celular e,
consequentemente, tecidual nas áreas
afetadas. As possíveis mudanças que
acometem o material genético são mutações
e danos. O primeiro grupo corresponde a
alterações diretas na codificação genética,
seja por meio de deleções, acréscimos,
substituições ou rearranjos, mas que sempre
impactam (com maior ou menor potencial
lesivo) a integridade das informações
perpassadas. O segundo, por sua vez, se
refere às múltiplas formas de lesar a dupla
hélice, sejam elas decorrentes de efeitos
intrínsecos ou extrínsecos, causando
rompimento, interrupção ou modificação
estrutural desse material. Os efeitos de
ambos os processos são semelhantes,
podendo interferir na capacidade de
expressão gênica, o que justifica a inserção
de tais mecanismos como promotores do
envelhecimento.
Uma evidência que corrobora essa teoria é a
menor massa molecular de células
senescentes quando em comparação com
estruturas jovens. Esse achado pode ser
atribuído ao maior número de quebras não
reparadas em fitas simples, criando múltiplos
segmentos menores de material genético.
Esse processo pode tanto apresentar um
padrão tecido-específico quanto a idade do
indivíduo, ao passo que em outras
estruturas, essas interferências associam-se
ao estado de saúde do organismo (ex.:
portadores de progeria, ainda que jovens,
apresentam um grande número de
segmentos danificado de DNA).
Por fim, percebe-se que mutações ocorrem
com maior intensidade em indivíduos idosos,
no entanto, tais alterações estão mais
ligadas a processos neoplásicos e
sindrômicos do que em relação aos
mecanismos de senescência.
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TEORIA DO ERRO CATASTRÓFICO:
De forma distinta das já discutidas teorias de
mutação e dano ao DNA, o postulado do
“erro catastrófico” busca associar ao
envelhecimento processos errôneos de
transcrição ou tradução capazes de diminuir
gravemente a capacidade funcional celular
até que ela já não seja mais compatível com
a sobrevivência estrutural. Nesse cenário, a
possibilidade de síntese proteica celular está
fortemente associada não só ao material
genético em si (que não é afetado nesse
caso), mas também aos aparelhos
moleculares responsáveis pela produção
dessas substâncias.
Um erro catastrófico aconteceria no
momento no qual o número de incorreções
cumulativas no processamento de RNA ou
proteínas se tornasse grande o suficiente
para tornar ineficientes os atributos dos
compostos afetados. Assim, com a sucessão
de mortes celulares causadas por erros
isolados, o organismo envelheceria.
Essa teoria é altamente plausível, podendo
ser avaliada por meio de análises como a
eletroforese do material genético, processo
extremamente sensível que permite a
detecção de variações mínimas no peso
molecular ou na carga, indicando que foram
acometias por alguma espécie de alteração.
É improvável, no entanto, que represente um
contribuinte para as alterações típicas do
envelhecimento, pois por vezes a diferença
entre a capacidade de células idosas e
jovens é mínima (ainda assim a ocorrência
de erros na replicação do DNA é uma
situação costumeira, abrangendo erros nos
processos de formação de substâncias).
TEORIA DA DESDIFERENCIAÇÃO:
De acordo com essa abordagem, o
envelhecimento saudável de um organismo
decorre do desvio celular de seu “caminho de
diferenciação” original. Nesse sentido, por
não estar totalmente comprometida com as
funções de um tipo celular, essa estrutura
pode acabar produzindo proteínas e demais
compostos desnecessários ao
funcionamento de processos intrínsecos à
sobrevivência, reduzindo a eficiência da
célula até que o déficit seja extenso a ponto
de degradar o arcabouço estrutural do
indivíduo. De forma geral, qualquer forma de
alteração ou de prejuízo aos mecanismos de
supressão ou estímulo da gênese de células
específicas pode levar aos impactos
postulados por essa teoria, sendo originados
por múltiplos fatores, como a própria
passagem do tempo.
Conforme essa teoria, as mudanças
aleatórias sofridas pelo maquinário de
regulação da expressão gênica podem ser
detectadas de forma objetiva e simples,
observando num determinado tecido
proteínas que normalmente seriam
estranhas a ele. Ainda faltam dados
experimentais para que essa hipótese seja
melhor defendida, porém tais mudanças
estão notadamente ligadas a casos de
neoplasias, quando comparadas aos
mecanismos de desencadeamento da
senescência.
PROCESSOS DE DANO OXIDATIVO E A AÇÃO DE
RADICAIS LIVRES:
Nessa teoria, a longevidade individual estaria
associada de forma inversamente
proporcional aos danos decorrentes da ação
do estresse oxidativo, e, por consequência,
de modo diretamente proporcional à
capacidade da defesa antioxidante do
organismo.
O oxigênio é um componente crucial para a
vida, empregado em processos bioquímicos
no interior das células com o propósito de
gerar-lhes energia, sem a qual
invariavelmente ocorrerá a morte. No
entanto, ainda que eficiente, essa forma de
metabolismo produz como resíduos
espécies reativas de oxigênio (radicais
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livres), que podem causar lesões por
oxidação, estas últimas associadas a um
grande número de doenças.
Com a teoria do dano oxidativo, a quase
totalidade das mudanças fisiológicas típicas
do envelhecimento podem ser atribuídas a
alguma forma de dano decorrente da
presença desses compostos reativos, que
atingem múltiplas biomoléculas do meio
celular, destacando-se a peroxidação de
lipídios e a degradação de DNA e outras
proteínas. A disseminação dessas lesões
estaria relacionada diretamente ao tipo de
radical livre e à capacidade local de defesa a
eles.
Ainda não é possível confirmar ou excluir
essa teoria, pois não existe uma única forma
de avaliação capaz de mensurar todas as
nuances desse postulado. No entanto, um
dos principais pontos para a compreensão
dessa análise é a de que a concentração de
danos se intensifica com a idade, e que a
variação na exposição aos agentes
motivadores justifica as diferenças no
envelhecimento de indivíduos distintos.
Ada que não estejam presentes em todas as
mudanças decorrentes da idade, a
investigação dos radicais livres tem recebido
ainda mais atenção pela mídia e pela
comunidade acadêmica devido à sua
participação em diversas doenças e à
possibilidade de desenvolver medicamentos
baseados na ação de tais compostos, om
intuito de tratar milhares de pacientes.
ACÚMULO DE DETRITOS:
Em linhas gerais, a teoria do envelhecimento
motivada por acúmulo de detritos sugere que
produtos metabólicos incapazes de ser
destruídos por outra via que não a divisão
celular, se depositam de forma excessiva
nas células, promovendo efeitos deletérios
que estimulam a senescência. Algumas
dessas substâncias, como pigmentos
lipídicos de cor castanho-amarelada
conhecidos por lipofuscina, já são bastante
conhecidas, estando bastante concentradas
em estruturas teciduais terminais, como o
músculo cardíaco e neurônios. Alguns
estudos apontam que esse composto está
diretamente associado a algumas
manifestações comuns no envelhecimento,
como a degeneração do cristalino e a
degradação dendrítica.
Nenhuma evidência, no entanto, aponta que
a lipofuscina por si só seja um composto
lesivo ao meio celular ou até mesmo um
marcador biológico. Assim, duas são as
possibilidades, até o momento, para o papel
desses metabólitos na senescência
orgânica: a primeira é a simples ocupação de
espaço físico por materiais inertes, que não
são agressivos isoladamente, mas
prejudicam a célula quando depositadas em
concentração excessiva, enquanto a
segunda corresponde a possível ação tóxica
de tais produtos, promovendo diminuição da
atividade celular “de dentro para fora”. Um
achado que pode descreditar essa teoria a
logo prazo é de que a lipofuscina se acumula
principalmente em tecidos submetidos a
intensa atividade metabólica,
independentemente da idade cronológica do
organismo.
TEORIAS SISTÊMICAS:
Mecanismos biológicos diferem de
computadores e artefatos mecânicos pela
ausência de programações definitivas e
diretas que induzam definitivamente a
ocorrência de um desfecho. Seres humanos,
assim como demais organismos,
apresentam um complexo maquinário
genético, metabólico e celular que interage
de forma direta com o ambiente ao seu redor,
criando assim variações na velocidade,
intensidade e progressão de múltiplos
fenômenos, como o surgimento de
biomarcadores do envelhecimento, de forma
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distinta àquela que é esperada de um
artefato tecnológico.
Ainda que apresentem múltiplas
peculiaridades, o centro de as teorias
sistêmicas tem caráter genético no que diz
respeito à análise da senescência. Não há,
no entanto, determinismo exclusivo no
desfecho desses postulados, uma vez que o
contato com o meio é reconhecido como um
modulador, com variados graus de
importância, para a estipulação da
longevidade.
TEORIAS METABÓLICAS:
Acredita-se que a taxa metabólica é
inversamente proporcional ao tamanho do
indivíduo, havendo um decréscimo geral em
seus níveis com o aumento da idade do
organismo. Assim como outros componentes
de teorias sistêmicas, esses valores podem
sofrer fortes influências do meio, como a
dieta e a temperatura.
No contexto da compreensão do
metabolismo como um agente determinante
da longevidade individual, inserem-se dois
postulados distintos, a saber:
 Taxa de vida: determina que quanto
menor a taxa metabólica basal de um
indivíduo, ou seja, quanto manos as
organelas trabalharem para a produção
de energia, mais longevo será o
organismo. Tal proposição foi
posteriormente descartada, após a
constatação de que não há um potencial
metabólico definido por idade (ex.:
número de calorias utilizáveis por idade),
mas sim um espectro de valores
possíveis, que varia conforme as etapas
da vida;
 Danos mitocondriais: as teorias que
defendem essa hipótese sugerem que o
oxigênio agride de forma cumulativa a
estrutura mitocondrial, reduzindo a
atividade celular e sua capacidade de
síntese proteica. Tal efeito tem mais
destaque em estruturas que pouco ou
não se dividem, havendo, portanto, baixo
potencial de reciclagem celular. Com o
acúmulo de lesões por oxidação, a
mitocôndria produziria cada vez menos
ATP, de forma que a célula passasse a
operar com baixas taxas metabólicas.
TEORIAS GENÉTICAS:
As teorias associadas a esse grupo indica
que alterações na forma de expressão
gênica são capazes de instigar eventos
senescentes nas células de um organismo,
desencadeados por um conjunto de
mecanismos.
A teoria da instabilidade genômica
representa uma das interseções entre
aspectos sistêmicos e estocádicos. Para
essa hipótese, o envelhecimento seria
resultante de alterações na integridade física
do material genético. Nesse contexto se
insere a senescência replicativa, decorrente
do acúmulo de fragmentos de DNA circular
ribossômico, normalmente impedido pela
ação de genes específicos, como o SIR1,
responsável pelo silenciamento dos
processos de transcrição, mas que pode ser
estimulado por alterações em seu processo
de expressão.
Outra possibilidade de acometimento
genético é a teoria da heterocromatinização
progressiva, na qual, com o avanço da idade,
os segmentos codificadores no material
genético (eucromatina), seriam
gradualmente compactados em
heterocromatina, incapaz de serem
transcritos. Assim, o envelhecimento seria
majoritariamente influenciado por um
programa intrínseco, ainda que possa ser
modulado por fatores externos, como a
temperatura e a dieta.
Outros mecanismos que podem consolidar
uma base genômica para o envelhecimento

são o encurtamento dos telômeros, que
promovem a perda de dados genéticos e,
consequentemente, a instabilidade
genômica ao longo da vida.
EPIGENÉTICA E MECANISMOS DE SILENCIAMENTO
GÊNICO:
A participação da epigenética (alterações na
expressão fenotípica de determinada
informação sem a alteração de suas bases
codificadoras) na determinação
envelhecimento se dá de modo integrado a
fatores ambientais, como visto em teorias
ambientais, e à presença de múltiplos
epigenótipos (variações na expressão da
epigenética entre tecidos ou até mesmo
organismos), tornando essa teoria mais um
exemplo de associação entre fatores
estocádicos e sistêmicos.
Indivíduos idosos apresentam epigenomas
modificados, o que pode contribuir, quando
acometendo genes reguladores da morte
celular, para o aparecimento de neoplasias.
Essa interação pode ser um elo que associe
com evidências sólidas o envelhecimento ao
câncer.
É necessário destacar que alterações
epigenéticas podem corresponder a base de
determinados distúrbios também associados
ao envelhecimento, além do
desenvolvimento de doenças.
APOPTOSE:
A morte celular programada, ou apoptose, é
um mecanismo celular crucial para a
manutenção da integridade corporal,
reciclando estruturas danificadas ou
desnecessárias, apresentando mecanismos
complexos que resultam numa espécie de
“suicídio celular”.
De forma a associar esse processo de
“higienização celular” ao envelhecimento,
postula-se que o estresse oxidativo
previamente descrito apresenta um papel
central na determinação da apoptose
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induzida pela idade a partir do acúmulo de
danos ao DNA mitocondrial. Esse processo
pode também estar relacionado a diversos
acometimentos neurocognitivos típicos da
velhice, uma vez que, quando desregulados,
podem deteriorar quantidades excessivas de
neurônios. A presença de mutações no gene
p66sch pode acabar por aumentar a
longevidade de indivíduos, diminuindo o
impacto celular do estresse oxidativo.
do
MECANISMOS DE FAGOCITOSE E AUTOFAGIA:
Ainda que apresente ação restrita, é
comprovado que células senescentes são
dotadas de proteínas de membrana capazes
de marca-las para a degradação por
macrófagos, contribuindo para (mas não
explicando) o envelhecimento. Para o
catabolismo, os mecanismos senescentes
podem ser considerados como um reflexo da
insuficiência de processos catabólicos, com
a impossibilidade de substituir
adequadamente células degradadas ou
exauridas por outras, mais novas.
Como já descrito anteriormente, o acúmulo
de detritos biológicos não é intensificado por
modificações que culminem no excesso da
síntese destes, tornando assim clara a
associação entre esse fator e o processo de
eliminação insuficiente de áreas lesionadas,
decorrente de imperfeições no controle da
autofagia, responsável por degradar grandes
estruturas ou produtores abundantes de
substâncias cruciais para o funcionamento
celular (demais proteínas de vida curta são
degradadas por calpainas e proteossomos).
Existem, atualmente, três formas descritas
para o processo de autofagia: a
macroautofagia, é, aparentemente, a mais
importante, ocorrendo em qualquer material
celular, que é envolvido por um
autofagossomo e hirolisado por lisossomos;
a microautofagia, decorrente da penetração
de pequenos compostos diretamente em
lisossomos por meio de processos de
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invaginação; e, por fim, a autofagia mediada
por chaperonas, processo de degeneração
seletiva marcado pelo seguimento de uma
sequência específica de substâncias, lisina,
fenilalanina, glutamato, arginina e glutamina
TEORIAS NEUROENDÓCRINAS:
As teorias pertencentes a esse grupo
sugerem que a degeneração funcional de
células de função integradora promoveria
não só o envelhecimento, mas sim a um
colapso geral da homeostasia, que pode
resultar na morte do organismo. A idade
pode levar a alterações qualitativas no
material genético codificador de informações
para segmentos importantes do sistema
nervoso, como o eixo hipotalâmico-
hipofisário e o sistema límbico, sendo que a
frequência dessas mutações pode ser
modulada pela exposição a determinados
hormônios.
Junto ao envelhecimento se inserem os
mecanismos crônicos de inflamação,
processos decorrentes do aumento basal
nos níveis de cortisol e hormônios
adrenérgicos. Essa elevação pode também
estar associada ao DM tipo 2, uma vez que
hormônios derivados do estresse podem
levar à resistência à insulina. Para o cortisol,
as mudanças no metabolismo da glicose
podem estar associadas tanto aos impactos
da idade sobre a capacidade imune
individual, como ao sistema de liberação de
insulina.
Centenários apresentam altos níveis
plasmáticos de cortisol, CRH e ACTH,
possíveis indicadores da ativação excessiva
do sistema neuroendócrino como forma de
combater os frequentes processos
inflamatórios sistêmicos, o que relaciona-se
com a teoria da hores, que será discutida
posteriormente.
TEORIAS DE ORIGEM IMUNOLÓGICA:
Os genes associados ao sistema
imunológico podem mediar o
envelhecimento por meio de regulações
básicas, uma vez que seus componentes
estão diretamente associados a demais
sítios cruciais do organismo, porém
alterações nesse mecanismo podem acabar
desregulando a homeostasia e promovendo
a morte. Essa situação pode ser verificada
por meio da variação do número e tipo
predominante de linfócitos com a idade, o
que se relaciona com o processo gradual de
involução morfológica do timo.
O que valida essa teoria é sua abrangência,
justificando aspectos de outros postulados e
conseguindo representar múltiplos sistemas.
Além disso, a capacidade de manutenção da
aptidão imunológica, que atinge seu pico
ainda na juventude, pode auxiliar a modular
a ocorrência precoce ou tardia do
envelhecimento, marcado pelo declínio da
produção de anticorpos e acúmulo de células
de memória, pouco eficazes contra novas
ameaças. Assim, a imunosenescência faz
com que a imunidade inata tenha sua
atividade aumentada ou indiferente à idade,
de forma oposta à imunidade humoral, que
lentamente se degrada em resposta à
exaustão (particularmente pela redução de
células medulares que expressem a
capacidade de produção de novos
anticorpos).
RESISTÊNCIA AO ESTRESSE E A HORMESE:
O envelhecimento implica numa
considerável perda da capacidade do
organismo em responder a estímulos
estressores, porém a exposição controlada
ao estresse pode auxiliar a estimular
mecanismos de reparação e proteção
celular, favorecendo a longevidade, efeito
conhecido como hormese, capaz de justificar
o motivo pelo qual indivíduos que se
exercitam de forma intensa e constante e
fazem uso de dietas restritivas em calorias
vivem mais. A atividade física seria
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
responsável por reduzir a produção de
espécies reativas de oxigênio e,
consequentemente a oxidação proteica e o
desgaste autofágico, enquanto o aumento da
temperatura aumentada ativa
submecanismos de estimulação para
antioxidantes, funcionando como mais uma
linha de defesa para a integridade estrutural
do organismo.
A atividade de degradação e reciclagem
celular por meio de proteassomos é maior
dentre indivíduos que se exercitam, princípio
que também se aplica à reparação do DNA.
ALTERAÇÕES FISIOLÓGI CAS ASSOCIADAS AO
ENVELHECIMENTO:
O envelhecimento saudável (senescente) é
marcado por um conjunto de importantes
alterações na dinâmica corporal, afetando
tanto aspectos estéticos como também
funcionais. Tais alterações surgem ainda
durante a fase adulta, progredindo num ritmo
individual, fortemente associado aos hábitos
de vida e a fatore genéticos específicos.
Mesmo com tais peculiaridades, a
diminuição na função dessas estruturas é um
processo universal e intrínseco ao decorrer
da senescência.
COMPOSIÇÃO CORPORAL:
Não é possível identificar com precisão a
idade cronológica de início do
envelhecimento, porém já aos 25 anos é
possível observar alterações na composição
corporal do indivíduo, momento a partir do
qual a concentração global de células, bem
como a funcionalidade tecidual, começa a
decair. Há uma gradual redução na
quantidade de água no meio intracelular,
tornando o idoso fisiologicamente
desidratado.
Há também uma diminuição no tamanho e
número das fibras musculares,
principalmente de tipo II, responsáveis pela
contração muscular rápida, o que justifica a
diminuição da força de preensão, que chega
a ser 40% menor aos 80 anos ao tomar como
referência valores da segunda década de
vida. Substituindo o músculo, há um
aumento proporcional da gordura, que se
deposita principalmente na cintura pélvica,
que gera mudanças no contorno do corpo,
principalmente em mulheres (formato de
maçã).
PELE:
Na velhice, a pele se torna seca, em
decorrência da diminuição no número de
glândulas sebáceas, e espessa, graças ao
acúmulo de queratina, porém há menor
coesão entre derme e epiderme, o que
favorece o surgimento de feridas e bolhas,
que se alojam nesse novo espaço.
A partir os 30 anos, o número de melanócitos
começa a decair numa escala de 8 a 20%,
por década. Essa condição, junto ao caráter
cumulativo de exposição ao sol, a menor
velocidade de reposição de células epiteliais
e à menor concentração de células de
Langerhans (mediadoras da resposta
imunológica na pele) favorece a ocorrência
de casos de câncer de pele na população
idosa.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Na derme desses indivíduos há menor
número de fibras elásticas e colágenas,
tornando a pele menos resiliente e mais
propensa à formação de rugas levando a
uma perda da resiliência e à formação de
rugas. Também há diminuição da
vascularização, justificando a palidez e a
diminuição da temperatura da pele.
Esse processo de flacidez da pele acomete
todo o corpo, porém as pálpebras
apresentam destaque, pois o campo de visão
lateral se torna mais limitado (decaimento
das pálpebras superiores), aumentando
assim o risco de acidentes. O mesmo
acometimento nas pálpebras inferiores
desloca o orifício de entrada do canal
lacrimal, gerando assim lacrimejamento
constante e incomodativo.
FÂNEROS:
A termorregulação da pele se torna
dificultada, pois para além da supracitada
diminuição dos vasos sanguíneos que
irrigam a pele, há também uma degeneração
de glândulas sudoríparas e perda
considerável da espessura do tecido
subcutâneo.
As glândulas sebáceas mantem suas
concentrações constantes, ao passo que o
tamanho individual aumenta e a produção de
sebo diminui, fenômeno que também afeta o
cerume.
O embranquecimento dos cabelos ocorre
pela perda gradual e progressiva de
melanócitos nos bulbos capilares. Ainda se
tratando dos pelos, as alterações de
crescimento e da aparência são causadas
por um processo complexo associado ao
estado de saúde do idoso.
O número dos corpúsculos de Pacini e
Meissner, responsáveis pela sensação de
pressão e tato leve, diminui, tornando o
indivíduo mais propenso a lesões e
dificultando a execução de determinadas
atividades manuais que exigem destreza. As
unhas passam a crescer em ritmo lenificado
e tornam-se frágeis e quebradiças.
MUSCULATURA:
A força muscular é máxima por volta dos 25
a 30 anos. A partir daí, há um declínio
constante e universal, com variações entre
os diferentes grupos de fibras (ex.: o
diafragma é pouco afetado, ao passo que as
panturrilhas perdem grande parte de sua
força).
A atividade física, independente da idade,
aumenta a força e a velocidade muscular
além de prevenir a perda óssea, as quedas e
melhorar a função articular. Os exercícios
praticados com regularidade diminuem os
fatores de risco para doenças cardíacas,
diabetes e alguns tipos de câncer.
Promovem o bem-estar, melhoram o ritmo do
sono e alcançam benefícios para além do
físico, como maior integração social,
ajudando na esfera psicológica
SISTEMA CARDIOVASCUL AR:
O envelhecimento do sistema cardiovascular
é heterogêneo, com comprometimento em
alguns segmentos, ao passo que em outros
não há alterações significativas.
O aumento da rigidez da parede arterial é um
fenômeno geral, que contribui para muitas
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
alterações do sistema cardiovascular. A
diferença principal se dá na camada média,
que se torna mais rígida (na aterosclerose,
processo patológico cujos impactos ocorrem
na velhice, a área afetada é a camada
íntima) e tem seu diâmetro e espessura
aumentados.
Após os 60 anos a elasticidade vascular se
torna bem diminuída, dificultando ainda mais
o processo de bombeamento sanguíneo na
sístole. O aumento da velocidade da onda de
pulso aórtico e a diminuição da pressão
diastólica são outras consequências desse
enrijecimento.
A frequência cardíaca máxima sob esforço
diminui com o avanço da idade, sendo
inicialmente definida pela fórmula 220 –
idade, alterada posteriormente para 208 –
0,7 × idade. Existe uma marcante diminuição
na resposta do sistema cardiovascular a
estimulação beta-adrenérgica com
consequente redução da frequência
cardíaca máxima. Para compensar essa
baixa resposta, há aumento das
catecolaminas plasmáticas, especialmente
durante exercícios físicos. Entretanto, a
resposta é sutil, havendo aumento do volume
diastólico final.
SISTEMA NERVOSO:
Há pouco impacto funcional na diferença do
tamanho do cérebro de um adulto quando
comparado ao de um idoso, que perde de 2
a 3% de seu volume por década após os 50
anos, e 8% de seu peso.
No idoso, sem déficits aparentes, no córtex e
no cerebelo o número de células permanece
o mesmo ao longo da vida, ao passo que em
outras áreas, pode haver perdas, como no
locus ceruleus, na substância e no
hipocampo. Já as células gliais aumentam
(gliose) com o envelhecimento em resposta
ao dano neuronal, de modo compensatório
para preservar a plasticidade. O número de
células da micróglia, pertencentes ao
sistema imune, se mantém o mesmo. Há
perda dos axônios e redução da mielina que
os envolve.
Em algumas pessoas, o número de dendritos
diminui, perdendo, assim, as sinapses,
alterando a neurotransmissão e,
consequentemente, piorando a comunicação
do sistema nervoso. Entretanto, em
decorrência da plasticidade cerebral, pode
ocorrer aumento da densidade dos dendritos
bem como seu prolongamento, como uma
reação de manutenção da função cerebral.
Além das modificações do sistema nervoso
central, há também a alteração dos nervos
periféricos e da musculatura. As células do
corno anterior da medula diminuem e ocorre
redução da mielina nos nervos sensoriais. As
consequências dessas mudanças incluem
perda da sensação vibratória, do tato e da
dor, assim como a disfunção autonômica, a
qual afeta a reatividade pupilar, a regulação
da temperatura corporal e o controle vascular
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
cardíaco e periférico (Elkind, 2003). Parte da
cognição pode sofrer certa deterioração nas
pessoas idosas saudáveis, como a
velocidade do processamento cognitivo,
menor destreza para executar movimentos
finos e problemas com a memória recente.
No cérebro, há diminiução tanto da água
extracelular quanto da intracelular; lentidão
da síntese proteica; aumento na oxidação
das 1346 proteínas e sua glicolização, com
aumento do acúmulo intraneural
(emaranhados neurofibrilares); diminuição
da síntese lipídica pela variação dos
substratos lipídicos; alteração na membrana
lipídica e na condução nervosa; alterações
circulatórias relacionadas com a mudar de direção no caminho, faz a volta
aterosclerose; diminuição do fluxo
sanguíneo cerebral e da utilização da
glicose. O fluxo sanguíneo e o consumo de
oxigênio são iguais no adulto jovem e no
idoso na ausência de doenças.
Isquemia, hipoxia e hipoglicemia ativam os
receptores glutamato induzindo toxicidade
com consequente morte neuronal. A barreira
hematencefálica protege, por meio do
endotélio, a entrada de substâncias tóxicas
do sangue no cérebro. Com o
envelhecimento, essa barreira torna-se
permeável a muitas substâncias, podendo
ser uma das causas de demência (Clarke,
Sokoloff, 1999; De Boer, Gaillard, 2006).
Apesar de todas as alterações descritas, o
sistema nervoso se mantem íntegro graças à
sua plasticidade e à sua capacidade de
compensar e reparar os danos ocorridos.
POSTURA, EQUILÍBRIO E MARCHA:
Com o avanço da idade, a marcha se altera.
Na maioria das vezes a mulher, tanto adulta
jovem quanto idosa, tem um desempenho
pior quando comparada ao homem. É
comum uma certa hesitação no andar, menor
balanço dos braços e passos menores. Ao
com o corpo em bloco. A postura típica, mais
rígida, como se estivesse em alerta para se
defender de alguma queda, caracteriza-se
pela base alargada, retificação da coluna
cervical, um certo grau de cifose torácica,
flexão do quadril e dos joelhos. Esse
conjunto de fatores indica piora da
estabilidade, podendo até nos fazer pensar
em parkinsonismo.
As alterações da marcha podem ajudar no
diagnóstico clínico. A assimetria dos passos
faz pensar em artrite ou hemiplegia; a falta
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
de movimentos dos ombros em
parkinsonismo; aumento da base em
comprometimento do cerebelo; uma flexão
mais acentuada do tronco pode revelar
dificuldade de visão ou de propriocepção ou
algum dano no sistema vestibular. Para
vencer essas dificuldades, o idoso diminui o
tamanho dos passos e anda mais devagar.
O grande problema nos distúrbios da marcha
é a queda com todas as complicações
posteriores (Timiras, Maletta, 2007) (ver
Capítulo 94, Distúrbios da Postura, Marcha e
Quedas). A prática regular de exercícios
físicos é uma forma de driblar essas
modificações impostas pela natureza
trazendo ainda benefícios tanto neurológicos
quanto mentais, promovendo sensação de
bem-estar e de saúde.
SONO:
O ciclo sono-vigília se modifica com o
envelhecimento. Há a tendência de dormir
mais cedo e acordar mais cedo (Baehr (et al.,
2000). As queixas de insônia, sonolência
diurna, despertares durante a noite e sono
pouco reparador são frequentes. Isso ocorre
porque existem dois tipos de sono: (rapid eye
movement – REM (movimento rápido do
olho), quando acontecem os sonhos, e o não
REM, que se subdivide em quatro estágios.
No idoso, o sono REM praticamente não se
altera. Já no sono não REM ocorre aumento
dos estágios 1 e 2 (facilidade no despertar) e
diminuição dos estágios 3 e 4 que são
exatamente os dois períodos de sono mais
profundo (Roth, Drake, 2004).
Os períodos de apneia ocorrem no sono
REM. São mais frequentes nos idosos,
particularmente, no homem idoso e obeso.
Durante uma noite, um homem de 24 anos
faz, em média, cinco períodos de apneia,
enquanto que um aos 74 anos chega a 50
vezes. Isso leva a um sono entrecortado,
pois a pessoa acorda para restabelecer a
respiração. Com a noite mal dormida, ocorre
sonolência durante o dia, mal humor,
diminuição da memória, cefaleia e até
depressão. Nesse período, podem ser
observadas arritmias cardíacas e
hipertensão pulmonar. Apesar dos estudos,
não se tem a conclusão se essas alterações
do sono, especialmente a hipoxia noturna,
provocam efeitos adversos na função
cerebral.
Outra consequência da alteração da
respiração durante o sono é a ocorrência do
ronco. Os estudos estatísticos mostram que
60% dos homens e 45% das mulheres
roncam frequentemente após os 60 anos.
Outro distúrbio do sono observado é a
síndrome das pernas inquietas. É um
desconforto sentido a cada 30 segundos
durante uma grande parte da noite. Parece
que corresponde a uma incoordenação entre
a excitação e a inibição motora
MEMÓRIA:
Na atualidade, admite-se que as partes do
cérebro responsáveis pela memória
envolvem o hipocampo, o tálamo, o córtex
temporal, frontal e pré-frontal e o cerebelo
(Timiras, Maletta, 2007). Não há dúvidas de
que neurotransmissores, como a acetilcolina
(ACh) e o glutamato, transmissor excitatório
que atua no cérebro e na medula espinal,
estejam envolvidos nos processos de
memória e aprendizado. Tem-se atribuído ao
glutamato acúmulo de radicais livres nos
neurônios com consequente degeneração
neuronal (Gallagher, Colombo, 1995). O
ácido g-aminobutírico (GABA) é o principal
neurotransmissor inibitório no cérebro. O
equilíbrio entre o glutamato – excitatório – e
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
o GABA – inibitório – é essencial para o
funcionamento normal do SNC.
As memórias reflexa medular, sensorial e
implícita pouco se alteram com o
envelhecimento. Já a episódica começa a
diminuir por volta dos 30 anos e declina,
progressivamente, enquanto a semântica
responsável pela recordação de nomes,
palavras e memória espacial pode ser
mantida por toda a vida (Graf, Schaecter,
1985)
SISTEMA RESPIRATÓRIO :
Com o envelhecimento, há grandes
modificações tanto na arquitetura quanto na
função pulmonar. Os primeiros sinais de
piora da respiração pulmonar já podem ser
vistos por volta dos 25 anos. Os pulmões se
tornam mais volumosos, os ductos e
bronquíolos se alargam e os alvéolos se
tornam flácidos com perda do tecido septal.
A consequência é o aumento de ar nos
ductos alveolares e diminuição do ar alveolar
com piora da ventilação e perfusão.
Entretanto, não há interferência na
capacidade pulmonar total. Concorrem para
o declínio da capacidade respiratória os
maus hábitos de vida, a poluição do local de
moradia e trabalho e as doenças
concomitantes.
Inspiração e expiração se dão da mesma
forma do adulto. Na inspiração, participam os
músculos intercostais externos para
elevarem as costelas e o diafragma,
responsável por 75% do aumento do volume
torácico durante a respiração de repouso. A
expiração se faz, basicamente de forma
passiva. Também estão envolvidos os
músculos intercostais internos que, ao se
contraírem, puxam as costelas para baixo e
para dentro, diminuindo o volume torácico.
Caso seja necessário, a musculatura
abdominal e dos ombros pode participar
como músculos auxiliares dos movimentos
respiratórios. Além das alterações descritas,
há falha no controle central (medula e ponte)
e nos quimiorreceptores carotídeos e
aórticos com diminuição da sensibilidade a
Pco2 , Po2 e ao pH, limitando a adaptação
da pessoa idosa ao exercício físico (Reddan,
1981). A maioria dos músculos sofre um
certo grau de sarcopenia, daí a capacidade
da função pulmonar piorar em algumas
pessoas pela diminuição da força e da
resistência da musculatura respiratória.
O tórax se torna enrijecido devido à
calcificação das cartilagens costais e os
pulmões distendidos pela diminuição da
capacidade das fibras elásticas retornarem
após a distensão na inspiração. Com isso o
volume pulmonar e a capacidade ventilatória
diminuem. A capacidade vital pode chegar a
diminuir 75% entre a 2 a e a 7 a décadas,
enquanto o volume residual aumenta em
torno de 50%. A consequência é uma
inadequada oxigenação do sangue enquanto
a Pco2 não se altera.
A produção de surfactante está diminuída
nos idosos, o que favorece a ocorrência de
atelectasias alveolares. O surfactante
também tem função protetora impedindo a
entrada de partículas e aumenta a
capacidade dos macrófagos pulmonares
destruírem bactérias. Ainda na deficiência de
surfactante, há o aumento da permeabilidade
alveolar, podendo levar ao edema pulmonar.
Apesar de sua perda progressiva, a maioria
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
dos idosos é capaz de levar uma vida
normalmente ativa.
SISTEMA HEMATOPIOÉTICO:
Parece que o processo de envelhecimento é
mais lento nas células hematopoéticas
quando comparadas com as outras células.
Especula-se que a reserva das células
pluripotenciais possa ser poupada
contribuindo para a explicação da
longevidade do indivíduo. Já a função da
medula óssea não se modifica. Entretanto,
podem se tornar evidentes, sob condições de
estresse, como no tratamento
quimioterápico. No nascimento, quase toda a
medula óssea apresenta atividade
hematopoética, mas desde a infância ela
começa a ser progressivamente substituída
por tecido adiposo. No adulto, sua atividade
concentra-se na pelve e no esterno. Por volta
dos 70 anos, a celularidade da medula óssea
no osso ilíaco é 30% menor que no adulto.
Apesar dessa modificação, a contagem
celular no sangue periférico é mantida.
O potencial proliferativo da maioria das
células-tronco hematopoéticas é limitado e
diminui com o envelhecimento. Uma vez que
a célula entre no ciclo de divisão torna-se
mais suscetível a mutações devido à
redução da fidelidade de reparo do DNA. O
encurtamento do telômero é observado nos
portadores da síndrome de Werner onde
ocorrem alterações precoces do
envelhecimento (Robertson (et al., 2000).
A vida das hemácias, em torno de 120 dias,
exige contínua renovação dessa população
celular pela medula óssea, mesmo nos muito
idosos, visto que sua principal função é
transportar oxigênio por meio da circulação
para todas as células e tecidos do corpo, de
acordo com suas necessidades. Embora o
envelhecimento não seja causa de anemia,
observa-se mudança do perfil hematológico
sugerindo uma exaustão das células-tronco
hematológicas pluripotenciais, tornando os
idosos mais suscetíveis a essa doença.
Também ocorre aumento da produção de
radicais livres, os quais alteram as funções
celulares e a integridade de suas
membranas. Com isso, as hemácias
deformadas são retiradas de circulação e a
medula óssea acelera a produção em uma
tentativa de reparar o dano. Entretanto, a
aceleração desse processo pode alterar a
composição das membranas das hemácias,
não conseguindo o equilíbrio da renovação
dessas células, podendo surgir anemia e
agregação dos eritrócitos (Gilleece, 2003).
Os principais moduladores hormonais da
eritropoese são a eritropoetina (EPO),
testosterona e IL-3. Os trabalhos mostram
não haver diferença significativa nos níveis
dessas substâncias nos indivíduos idosos
relativas à produção hematopoética. O
(feedback entre hemoglobina e eritropoetina
está mantido, mas a secreção de EPO em
resposta à anemia por deficiência de ferro
está diminuída. Isso ocorre porque as
citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6,
aumentam com o avanço da idade reduzindo
a resposta das células-tronco. Admite-se que
haja maior produção de IL-6 pelos
monócitos, pelas células T, pelas células
endoteliais e pelas células ósseas
(Eisenstaedt (et al., 2006).
SISTEMA URINÁRIO:
Por volta dos 30 anos, a função renal
começa a diminuir de maneira progressiva,
chegando a sua metade aos 85 anos. Aos 60
anos, o rim pesa em média 250 g, aos 70
anos, 230 g e aos 80 anos, 190 g.
Paralelamente, ocorre uma diminuição do
fluxo plasmático de 600 ml/min para 300
ml/min.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Os vasos renais sofrem progressiva
esclerose, levando a uma diminuição da sua
luz, com consequentes modificações no fluxo
laminar do sangue, o que facilita a deposição
lipídica na parede vascular. Assim, as células
musculares são substituídas por colágeno,
reduzindo a elasticidade dos vasos.
O número de glomérulos é reduzido até 1/3
aos 70 anos de idade, bem como o volume.
Há uma expansão das células mesangiais e
espessamento da membrana basal por
mecanismos inflamatórios. Assim, a área de
filtração e a permeabilidade glomerular são
diminuídas, retardando o ritmo da filtração
glomerular. Além disso, os glomérulos
corticais sofrem uma evolução para atrofia e
desaparecimento completo, com perda total
do polo vascular, enquanto nos glomérulos
justamedulares ocorre o desaparecimento
do glomérulo, sem a perda dos seguimentos
das arteríolas aferentes e eferentes que dão
origem a um shunt vascular. Os túbulos
renais sofrem diminuição de seu
comprimento e volume por conta da
isquemia, de modo que há substituição por
tecido conectivo sem sinais inflamatórios. É
um processo independente do dos
glomérulos e apesar das alterações, não
afeta a filtração glomerular.
Também, o fluxo sanguíneo renal é
impactado por um aporte de sangue
diminuído – principalmente ao glomérulo
cortical -, pois há maior vasoconstrição.
Assim, a funcionalidade renal é testada pela
medida do ritmo de filtração glomerular
através da depuração de creatinina
(metabolito cortical), sendo valores normais
entre 80 a 120ml/min para uma área de
1,73m². Avalia-se em conjunto os níveis
plasmáticos, que estão aumentados quando
há comprometimento da função renal, pois
há redução da massa muscular.
Muitas pessoas idosas sofrem perda da
habilidade de concentrar ou diluir a urina de
tal monta que se tornam incapazes de
equilibrar o organismo frente a uma
desidratação ou a uma sobrecarga hídrica.
Se administrarmos solução hipertônica de
cloreto de sódio a uma pessoa idosa, o ADH
se elevará, porém, não haverá retenção de
água como normalmente se poderia esperar.
Esse fato nos leva a concluir que o problema
de concentração urinária não é devido à
diminuição do ADH e sim pela diminuição de
resposta do túbulo coletor ao ADH (Mentes,
2006). Para manter o funcionamento do rim
adequadamente, a pessoa idosa deverá
ingerir 2,5 a 3 l de líquidos ao dia. É difícil
para essas pessoas seguirem tal orientação,
pois, muitas vezes evitam, de propósito,
beber líquidos por medo de sofrerem
constrangimentos devido à incontinência.
Existem outros fatores que corroboram para
a dificuldade em manterem-se hidratados,
como a diminuição do reflexo da sede, a
solidão, a imobilidade e outros
O padrão do ritmo urinário apresenta-se
modificado na pessoa idosa, que passa a
eliminar água e eletrólitos mais a noite que
durante o dia. Essa alteração, conhecida
como poliúria noturna, ocorre por múltiplos
fatores, como a diminuição da capacidade
renal de concentração e conservação do
sódio, assim como a alteração da função do
sistema reninaangiotensina-aldosterona.
Outros fatores também concorrem para essa
diferença
SISTEMA ENDÓCRINO:
Geralmente, os valores de T4 e T3 estão em
níveis normais baixos e os do TSH normais
altos. O TSH elevado e T4 normal pode ser
devido à manutenção da imunorreatividade
do TSH nas análises laboratoriais, porém
com ação biologicamente menos ativa. A

diminuição dos hormônios tireoideanos,
especialmente a conversão de T4 em T3
sugere uma ação protetora para o organismo
contra o catabolismo levando à diminuição
da taxa do metabolismo basal (46 kcal em
homens e 43 kcal em mulheres de 14 a 16
anos para 35 kcal e 33 kcal de 70 a 80 anos,
respectivamente) e ao aumento progressivo
do tecido adiposo corporal, o qual,
metabolicamente menos ativo que a massa
magra, diminui a demanda pelo hormônio
tireoideano, fechando o ciclo. Os hormônios
tireoideanos estimulam o consumo de
oxigênio em quase todos os tecidos e
aumentam a taxa do metabolismo celular,
contribuindo para a manutenção da
temperatura corporal. Seu efeito calorigênico
diminui com o aumento da idade, elevando a
suscetibilidade de hipotermia nos idosos. A
resposta ao calor 1354 também está
comprometida devido à menor sudorese. A
redução da resposta febril ao ataque de
diferentes agentes se dá pela incompetência
termorregulatória observada onde
participação dos hormônios tireoideanos
junto com a resposta termostática do
hipotálamo é fundamental (Habra, Sarlis,
2005; Scobbo, 2005). O aumento do
colesterol sérico, assim como das
lipoproteínas de baixa densidade
observadas no envelhecimento, podem ser
devidas ao declínio da função tireoideana.
As glândulas paratireoideanas responsáveis
pela secreção dos hormônios
paratireoideano (PTH) e calcitonina parecem
não alterar suas funções de forma marcante.
Algumas diferenças étnicas e de gênero têm
sido observadas. Mulheres negras e
asiáticas, pós-menopausa, apresentam
baixos níveis de PTH e elevados níveis de
cálcio em relação às mulheres brancas. Os
homens mantêm baixos níveis desse
hormônio, coincidindo com menor incidência
de osteoporose que as mulheres. Já o
aumento do PTH pode ser devido à piora do
(clearance renal ou acúmulo de fragmentos
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
biologicamente inativos. Pode ser ainda uma
resposta compensatória pela redução de
cálcio intestinal (Blumenthal, Perlstein,
1993). Os níveis do cálcio sérico são
mantidos ao longo da vida, porém o
mecanismo da regulação muda com o
avanço da idade. Sabe-se que a manutenção
dos níveis plasmáticos do cálcio, na infância
e na fase adulta, é mantida por meio da
ingesta de cálcio sem perda óssea. Na idade
avançada, a calcemia é mantida pela
reabsorção do cálcio ósseo, mais do que
pela absorção intestinal do cálcio ofertado
pela dieta ou pela reabsorção do mineral
pelo rim. Uma possível explicação para essa
mudança pode ser uma diminuição na
capacidade do PTH de estimular a produção
da forma ativa da vitamina D, a qual estimula
a absorção de cálcio intestinal (Fujita, 1991).
Embora a reabsorção óssea seja
reconhecida quando o PTH está elevado,
existem evidências de que a administração
intermitente do PTH aumenta a força
a mecânica e a massa óssea pela
transformação das células precursoras em
osteoblastos. Esse hormônio também
aumenta a formação óssea, prevenindo a
apoptose dos osteoblastos.
Com o envelhecimento, a hipófise aumenta
de volume e as alterações bioquímicas que
ali ocorrem variam de indivíduo para
indivíduo. Os níveis de melatonina, tanto
diurnos quanto noturnos, diminuem na
maioria das pessoas e interferem no sono,
visto que esse hormônio tem efeito hipnótico.
Além disso, ele possui uma ação protetora
contra os danos oxidativo.
São pequenas as alterações morfológicas
observadas no pâncreas com o
envelhecimento, o mesmo não ocorrendo
com os hormônios. É esperado um leve
aumento da glicemia de jejum relacionado
com a idade (1 mg/dl/década). Para os
idosos ativos pode não haver essa diferença.
Entretanto, após ingesta de alimentos, a
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
glicemia alcança níveis mais elevados e o
tempo de retorno ao normal é mais longo
quando comparado com adultos jovens. A
intolerância à glicose com o envelhecimento
é devido a vários fatores além da diminuição
da insulina (Quadro 83.12). Os mecanismos
que levam ao surgimento da intolerância à
glicose com o envelhecimento ainda não
estão completamente esclarecidos. O fato é
que ocorre menor resposta dos tecidos à
glicose e à insulina.
TRATO GASTROINTESTINAL:
A baixa mineralização óssea observada em
várias partes do esqueleto, na boca,
manifesta-se pela perda do osso alveolar
que, associado à gengivite, constitui outra
causa da perda dentária em adultos
(Chauncey (et al., 1989). Por volta dos 40
anos, a circunferência da arcada dentária
poderá estar 1 centímetro menor, fazendo
com que os dentes tenham maior atrito entre
si, com lesão do esmalte, provocando cáries
e fazendo aparecer o amarelado da dentina.
Esse amarelado associado às manchas do
esmalte originam o escurecimento dos
dentes que vemos com o envelhecimento.
A maior alteração na maxila e na mandíbula
com a idade é consequente às extrações
dentárias com atrofia do osso alveolar
trazendo como resultado a diminuição da
altura da face, mudando seu perfil. Contribui
para essa alteração a diminuição da força de
mastigação pela redução da massa muscular
do masseter e pterigoide. Está claro que as
cáries ou a periodontite não são importantes
para a perda dentária. Os fatores
socioculturais e econômicos, o acesso à
assistência e a disponibilidade da mesma é
que constituem a verdadeira barreira para
mantermos uma dentição saudável.
A mucosa oral se torna fina, lisa e seca.
Perde a elasticidade e parece edemaciada.
A língua também é lisa devido à perda das
papilas podendo trazer alterações no paladar
e sensação de queimação. Isso pode ocorrer
também devido à deficiência de ferro e das
vitaminas B. É comum o aparecimento de
varicosidades, principalmente na língua, não
estando associada a outras doenças. A
capacidade de cicatrização da mucosa oral
mantem-se inalterada.
A motilidade esofágica pode ser anormal no
idoso pela redução da amplitude da
contração muscular após a deglutição e
pelas contrações terciárias, raramente
associadas a queixas. Por serem
assintomáticas, o termo presbiesôfago foi
abandonado por alguns autores. Em 35%
das pessoas entre 50 e 75 anos de idade,
pode ocorrer a incompetência esfincteriana,
permitindo o refluxo do conteúdo ácido do
estômago para a porção distal do esôfago.
Em consequência, pode surgir dor torácica,
por vezes exigindo diferenciação com
problemas cardíacos, e sensação de
queimação, pirose.
No estômago, há diminuição da secreção do
ácido clorídrico e de pepsina, o que dificulta
a digestão de alimentos, principalmente, os
ricos em proteína. Outras enzimas também
estão envolvidas diretamente com a digestão
como, por exemplo, a gastrina. Elas sofrem
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
modificações em todas as fases desde a
síntese, passando pela liberação e resposta
devido às alterações dos receptores. Ainda
pode ocorrer a ruptura da barreira da mucosa
gástrica, permitindo que o ácido clorídrico e
a pepsina da luz do estômago entrem nas
células da mucosa destruindo-as. O
rompimento dessa barreira acontece
também com o uso de anti-inflamatórios,
álcool, cafeína e na presença de bactérias.
Corroborando com a lesão celular a
prostaglandina, um lipídio que estimula a
secreção de bicarbonato protegendo as
células da mucosa, está diminuído. Além
disso, observa-se dificuldade do
esvaziamento gástrico pela diminuição de
sua mobilidade normal, a gastroparesia. Em
decorrência de todas essas modificações
fisiológicas, o estômago fica mais exposto a
lesões, como a gastrite e a úlcera péptica
sendo responsáveis por metade dos
sangramentos digestivos altos ocorridos nos
pacientes acima de 60 anos.
Com o avanço da idade, as vilosidades que
cobrem toda a mucosa intestinal, em camada
única de epitélio colunar, diminuem de altura.
A absorção de várias substâncias está
diminuída, dificultando a compensação nos
casos de carência de algum elemento, como
acontece com as pessoas antes dos 60
anos. 1357 Más-formações vasculares são
comuns no trato digestivo alto, provocando
sangramentos. A nomenclatura utilizada
para essas alterações é confusa, pois utiliza
vários termos indistintamente, como
angiodisplasia, malformação arteriovenosa e
ectasia vascular.
As alterações encontradas no intestino
grosso são praticamente exclusivas do
envelhecimento. A mais prevalente é a
presença de divertículos que podem variar
de 3 mm a 3 cm, sendo encontrados em 30
a 40% das pessoas acima de 50 anos. Eles
surgem devido a um aumento da pressão
intraluminal herniando a mucosa entre as
camadas das fibras musculares lisas.
Complicam com sangramentos digestivos
baixos e processos inflamatórios, a
diverticulite. Com a alteração para uma dieta
com mais fibras, a peristalse se dá
normalmente sem aumentar a pressão
dentro da alça intestinal (Bitar, Patil, 2004). A
constipação intestinal, uma das queixas mais
comuns, ocorre por alimentação pobre em
fibras, baixa hidratação oral e falta da prática
de exercícios físicos regulares. A diminuição
do tônus e da força do esfíncter anal
associados à menor complacência retal
aumentam a chance de incontinência fecal
nas pessoas idosas.
No pâncreas exócrino, a amilase se mantém
em volume constante, porém a lipase e a
tripsina têm a sua produção bastante
diminuída. A despeito da queda dramática da
produção dessas enzimas, não há expressão
clínica, pois precisamos somente de 1/10 da
produção da secreção pancreática para
fazermos uma digestão normal.
Entre os 24 e 90 anos o fígado diminui de
volume em aproximadamente 37% e
também diminui seu fluxo sanguíneo em
35%. Como no pâncreas, escurece pelo
depósito da proteína lipofucsina, o qual
também é visto em outros órgãos,
notadamente no cérebro devido à diminuição
da proteólise intracelular própria do
envelhecimento. O sistema reticuloendotelial
liso dos hepatócitos diminui e está
correlacionado com a redução da
capacidade de metabolizar medicamentos
contribuindo para aumentar a suscetibilidade
do idoso à intoxicação por medicamentos
(Woodhouse, James, 1990). Já a síntese
proteica é mantida. A síntese do colesterol
diminui e há redução da bile total. Como a
função da bile é garantir uma boa digestão e
absorção dos lipídios, essa diminuição da
produção biliar hepática pode agravar a
deficiência de vitaminas lipossolúveis, já
comprometida nas pessoas idosas que, por
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
diferentes motivos, alimentam-se mal,
fazendo dieta pobre em vitaminas
lipossolúveis (Mason, Brunicardi, 2001).
Apesar de todas essas modificações as
provas de função hepática não se alteram.
IMUNOSENESCÊNCIA:
A função imune, como a maioria das
funções, declina com a idade. A marca do
envelhecimento é o progressivo declínio dos
três maiores sistemas de comunicação do
corpo: o imune, o endócrino e o nervoso.
Paralelamente, existe um aumento na
suscetibilidade a infecções, tumores e
fenômenos autoimunes. Entre as incontáveis
variáveis relacionadas com o processo de
envelhecimento, uma das mais controversas
é o perfil imunológico do indivíduo velho. Há
um consenso de que ele se modifica,
tornando-se menos eficiente (Effros, 2004,
2007). Embora virtualmente todas as células
imunologicamente ativas possam exibir
modificações idade-relacionadas, as células
T são as que maior vulnerabilidade teriam
aos potenciais efeitos do envelhecimento.
A mais importante modificação da resposta
imune que ocorre com a idade é um declínio
na função das células T. Outra característica
do envelhecimento do sistema imunológico é
um aumento na proporção das células de
memória (que já tiveram contato com um
antígeno), em relação às virgens (aquelas
que ainda não entraram em contato com um
antígeno), o que resultará em uma
diminuição do potencial de reatividade a
novos antígenos. A redução da atividade do
timo que ocorre no envelhecimento parece
estar relacionada com o aumento de
autoanticorpos que observamos no indivíduo
velho. Com a involução do timo, diminui o
repertório de células T provenientes dele,
inclusive aquelas com capacidade
supressora que impediriam a quebra do
delicado equilíbrio entre estas e as efetoras,
aumentando assim a chance de fenômenos
autoimunes. Tem sido demonstrado que o
envelhecimento é acompanhado por um
progressivo aumento na proporção de
células que funcionam pobremente.
linfócitos de indivíduos velhos não proliferam
com a mesma intensidade de linfócitos de
doadores jovens. O declínio da capacidade
imune com a idade poderia ser atribuído à
prevalência de um linfócito T com fenótipo
senescente. Sua maior característica é a
irreversibilidade da perda de sua capacidade
replicativa. A senescência replicativa é uma
consequência da divisão celular e não de um
tempo cronológico. O número de divisões
celulares, nos quais a senescência é
atingida, depende da espécie, da idade e do
conjunto genético do indivíduo. Assim,
células de origem fetal ou neonatal são
capazes de um número maior de divisões do
que as células de indivíduos velhos – limite
de Hayflick. Com o avanço da idade, há um
aumento no número de células que parecem
normais, mas falham em responder ao
estímulo ativador.
As células do indivíduo velho secretam
menos interleucina-2 (IL-2), importante fator
de crescimento para linfócito T, do que as
células dos jovens. Além disso, células de
doadores velhos não expressam receptor
para IL-2 na mesma proporção. Estudos da
transdução dos sinais mostram que a
mobilização do cálcio, a fosforilação de
proteínas, a ativação de quinases e a
ativação genética para a progressão do ciclo
celular estão modificadas nas células de
indivíduos velhos, comparados com jovens.
A ativação celular por si só resulta em
diferentes padrões de resposta pelas células
de doadores velhos. Enquanto algumas
células podem não liberar interleucina-2 e
interferona-g adequadamente após a
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
ativação, elas liberam outros fatores, como o
fator de necrose tumoral (TNF-a), com
propriedades inflamatórias, interleucina-1,
interleucina-6, mais do que os liberados por
células de indivíduos jovens. A interleucina-6
está relacionada com distúrbios inflamatórios
crônicos, e seus níveis parecem aumentar
com a idade. Assim, existe uma perda da
função celular, uma modificação na
habilidade em responder aos eventos de
ativação e modificações da resposta aos
eventos desta ativação.
A maioria das análises mostra pouca ou
nenhuma modificação do número de
linfócitos B no sangue periférico em
indivíduos velhos. Ocorrem poucas
modificações nos níveis de anticorpos,
incluindo IgA, IgM e IgG, com o
envelhecimento. Enquanto os títulos de
anticorpos para partículas estranhas e a
resposta imune secundária caem com a
idade, os autoanticorpos aumentam.
Aumenta a frequência da autorreatividade
que parece se originar na diminuição do
potencial de regulação imune, ou talvez pelo
fato de que o sistema imune também
preencha a função de remover material
autólogo.
OS SENTIDOS DURANTE A SENESCÊNCIA:
PALADAR:
O paladar e o olfato afetam o apetite, as
escolhas alimentares e a ingesta nutricional.
O cheiro e o gosto dos alimentos preparam o
organismo para a digestão, estimulando
secreções salivares, gástricas, pancreáticas
e intestinais. Tais sensações permitem que
sejam discriminadas as características dos
alimentos e associadas, por aprendizado,
aos efeitos obtidos após a ingestão – como a
saciedade.
A idade avançada, por si só, é um fator de
risco para o surgimento de transtornos do
paladar ou anosmia (incapacidade de
perceber odores). Nos EUA, 40% dos
pacientes que sofrem dessas enfermidades
têm mais de 65 anos. Com o
envelhecimento, as mudanças no paladar e
no olfato podem causar perda do apetite,
escolhas alimentares erradas e desnutrição.
O risco é ainda maior se ocorre pouca
variabilidade na dieta, situação mais comum
em idosos que moram sozinhos. Há
elevações dos limiares para gosto e cheiro;
redução da sensibilidade para estímulos
supralimiares (gostos e odores são sentidos
com menor intensidade); diminuição da
capacidade discriminatória e sensações
distorcidas. Ageusia (perda da gustação);
hipogeusia (redução da sensibilidade a
estímulos gustativos) e disgeusia
(sensações gustativas distorcidas) são
comuns em usuários de medicamentos.
dosos com perda do paladar e desinteresse
pela alimentação são prejudicados em suas
refeições – que são momentos de
socialização familiar – e perdem
oportunidades de estreitamento dos laços
intergeracionais.
Em idosos saudáveis, ocorre somente
modesta redução na sensibilidade gustativa,
enquanto a textura e a temperatura dos
alimentos são percebidas normalmente. A
capacidade de detecção declina de maneira
diferente para cada sensação. A
sensibilidade ao sabor salgado reduz-se,
enquanto o sabor doce é percebido
normalmente. Tais peculiaridades devem ser
consideradas na orientação dietética a
hipertensos e nefropatas.
OLFATO:
No envelhecimento normal, o olfato é mais
frequentemente comprometido do que o
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
paladar. Em idosos, as performances em
testes de capacidade olfatória
correlacionam-se com as de testes de função
cognitiva. A habilidade de identificar odores
depende do lobo temporal medial, afetado
precocemente na doença de Alzheimer, na
demência vascular e no transtorno cognitivo
leve. A capacidade discriminatória para
diferentes odores reduz-se em idosos de
ambos os sexos. As mulheres, porém, têm
melhor desempenho na identificação de
odores que os homens, em todas as idades.
Em idosos, há redução na secreção do muco
nasal, associada à menor fluidez do muco
produzido. Também ocorre substituição
parcial do epitélio sensorial nasal por
mucosa respiratória e redução de sua
espessura, com diminuição da concentração
de neurônios.
VISÃO:
Aos 60 anos, ocorrem alterações anatômicas
e fisiológicas oculares: o diâmetro pupilar
está reduzido a menos da metade do que se
tinha aos 20 anos; as reações pupilares à luz
tornam-se mais lentas; o suporte gorduroso
retro-ocular é perdido, fazendo com que os
olhos localizem-se mais profundamente nas
órbitas, e disfunções nos músculos
extraoculares causam perda da amplitude
nas rotações oculares. Na presbiopia,
caracterizada pela perda da elasticidade da
cápsula do cristalino, ocorre dificuldade no
ajuste refrativo para enxergar alvos próximos
(ler jornais, por exemplo). O idoso normal
perde partes da capacidade de acomodação,
da acuidade visual em meios com pouco
contraste, da adaptação a ambientes
escuros, da tolerância ao brilho, da
capacidade de discriminar cores, da
capacidade de leitura e do 1363 campo
visual atencional ou de processamento
rápido (em que os estímulos são mais
facilmente percebidos). A adaptação ao
escuro declina em decorrência das reduções
do diâmetro pupilar e da velocidade de
condução intraocular do estímulo visual.
Idosos podem cair ao transitarem entre
ambientes com diferentes intensidades de
iluminação.
Com o envelhecimento, pode haver
dificuldade para dirigir à noite, embora a
habilidade visual para a condução veicular
durante o dia seja, em geral, preservada. Há
intolerância às luzes dos veículos que
trafegam em sentido contrário ou dificuldade
para adaptar-se às áreas com pouca
iluminação. Perdas no campo visual e
glaucoma em idosos também determinam
maior risco de acidentes automobilísticos
com vítimas. Os testes padronizados para a
avaliação da acuidade visual não refletem
adequadamente a complexidade de
estímulos envolvida na condução veicular,
que depende dos usos simultâneos das
visões central e periférica, da execução de
tarefas sequenciais e da capacidade de filtrar
eventos irrelevantes.
Em idosos, a perda visual pode instalar-se
gradualmente, não sendo percebida ou
valorizada pelo paciente. Mesmo cientes da
deficiência, alguns idosos preferem não
relatá-la, por considerarem parte do
envelhecimento normal. A avaliação da
acuidade visual deve, portanto, ocorrer
rotineiramente em idosos, principalmente
naqueles com maior risco de doenças
oculares (extremos de idade, hipertensos e
diabéticos). A manutenção da capacidade
para leitura depende da preservação de um
bom campo visual atencional, da acuidade
visual para meios com pouco contraste e dos
movimentos sacádicos oculares. As perdas
do campo visual atencional e da capacidade
de leitura podem ser compensadas por
treinamento, o qual, infelizmente, ainda não
está amplamente disponível.
AUDIÇÃO:
A partir da quarta década de vida, o aparelho
auditivo humano (especialmente nos
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
homens) é progressivamente mais
suscetível às consequências do
envelhecimento. A diferença de gênero na
incidência da perda auditiva relacionada com
a idade diminui nas últimas décadas da vida,
o que sugere que fatores hormonais possam
ter papel fisiopatológico. A presbiacusia é a
doença neurodegenerativa mais comum.
Pode ser consequência de lesões nas
células sensórias do órgão de Corti (com
perdas para sons de alta frequência), nos
neurônios aferentes (com perda na
capacidade de discriminar palavras), na
estria vascular (com redução do volume do
som ouvido), na membrana basilar (com
perda de mais de 50 dB em todas as
frequências) ou no sistema nervoso central
(com dificuldade de compreender o som que
é ouvido).
Mais comumente, na perda auditiva
relacionada com a idade, o déficit começa
para as altas frequências, progredindo para
as médias e baixas com a evolução da
doença. A capacidade discriminatória de
sons com altas frequências é importante em
ambientes com ruído de fundo. Uma das
primeiras manifestações da presbiacusia é a
dificuldade de comunicação nesses
ambientes. Pode haver dificuldade para
escutar os sons das letras “f”, “p”, “s” e “t”. A
leitura labial pode compensar parcialmente
essas perdas. Em ambientes ruidosos, as
palavras em uma frase são mais inteligíveis
que as isoladas, sem o benefício do contexto
em que estão inseridas. O contexto da frase
impõe uma limitação das alternativas
possíveis, afetando significativamente a
inteligibilidade da fala. A previsibilidade das
palavras que serão ouvidas também
influencia a compreensão do que é 1371
ouvido. Uma sentença apresentada a um
ouvinte em um contexto particular,
estabelecido pela situação e por expressões
anteriores, é mais facilmente entendida.
Na presbiacusia, apesar do aumento do
limiar para a percepção sonora (os sons
precisam ter maior intensidade para serem
ouvidos), a tolerância à intensidade do som
mantém-se inalterada, estreitando o
espectro acústico útil. O fenômeno do
recrutamento, em que a sensação de
intensidade sonora experimentada pelo
paciente cresce desproporcionalmente ao
real aumento da intensidade física do som,
prejudica ainda mais sua capacidade
auditiva. Queixas de zumbido podem
ocorrer, na medida em que a perda auditiva
torna-se mais significativa
TATO:
Com o envelhecimento, pode haver
reduções nas sensações de dor, vibração,
frio, calor, pressão e toque. Parte dessas
alterações deve-se a deficiências
microcirculatórias nos receptores periféricos,
na medula espinal ou no córtex cerebral.
Deficiências vitamínicas (principalmente do
complexo B), diabetes melito, uso abusivo de
álcool, doenças renais, mieloma múltiplo,
neoplasias (de pulmão, linfoma, leucemia),
doenças autoimunes, exposição a toxinas e
infecções (vírus da imunodeficiência
humana) pode causar perda sensorial na
forma de neuropatia periférica. Em alguns
casos, após o controle do fator etiológico,
pode haver certa recuperação funcional. A
perda da sensibilidade às alterações de
temperatura faz com que os idosos estejam
mais suscetíveis a hipotermia, queimaduras
(quando aplicam compressas quentes nos
pés) ou congelamento de extremidades
(como na exposição à neve). A redução das
sensibilidades ao toque, à pressão e à
vibração aumenta a possibilidade de
ocorrerem lesões de pele, como as úlceras
de decúbito. A perda das aferências
proprioceptivas pode dificultar a percepção
da posição dos membros em relação ao
chão, causando quedas e úlceras em
extremidades inferiores (como as úlceras
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
dos pés dos pacientes diabéticos com
neuropatia periférica).
ASPECTOS PSICOSSOCIA IS DO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO E A I NSERÇÃO DO IDOSO NA
SOCIEDADE:
A VELHICE COMO UM PR OCESSO SOCIAL:
A transição demográfica é uma das maiores
conquistas da modernidade, pois o controle
de diversas doenças, associado a ampliação
ao saneamento básico e ao maior acesso à
educação permitem que os indivíduos
possam alcançar idades mais avançadas.
Assim, com o aumento gradual no número de
idosos, torna-se necessário compreender as
implicações sociais da velhice.
A sociedade contemporânea busca o
imediatismo e a agilidade, com grandes
exigências de produção para o indivíduo. Por
vezes, é difícil ao idoso se ajustar nesse
contexto, seja devido às limitações
biológicas desse período (menor aptidão
física, surgimento de doenças) ou a
dificuldade de adaptação a um mundo em
constante mudança, porém é necessário
reconhecer seu papel ativo como membro de
uma comunidade, que também pode realizar
tarefas. Essa óptica, no entanto, é
majoritariamente obscurecida pela visão do
idoso como um incômodo, incapaz de atuar
com a velocidade ou segundo os valores
morais ditados pelos jovens.
Por vezes, essa população tem todas as
suas contribuições prévias ao bem-estar
geral (conhecimentos, produção de bens e
serviços) menosprezadas, passando a ser
reconhecidos apenas como um entrave ao
desenvolvimento, um desperdício de
recursos.
Nesse contexto, diversos indivíduos passam
a negar sua existência como idosos e sua
idade, tentando continuar a ser aceitos nos
grupos previamente ocupados por eles. Esse
negacionismo é um desafio a ser vencido,
sendo necessário estimular a vida plena de
cada faixa etária.
A sociedade deve vencer o preconceito
sobre a velhice, deixando de considera-la
com uma doença ou símbolo de
incapacidade, conceito esse que não é
restrito à terceira idade, já que existem
inúmeras crianças, adolescentes e adultos
que também possuem dificuldades.
Na família, o idoso também sofre com a
perda ou diminuição de sua função social.
Em muitas situações, os filhos e netos
ignoram o “histórico” desses familiares, que
já foram chefes, provedores e responsáveis
pela educação das gerações mais novas. Ao
mesmo tempo em que mantém a distribuição
de recursos, proteção e cuidados, também
negligencia o idoso, atribuindo-lhe um status
de inútil, incapaz de dar juízo de valor frente
alguma situação ou tomar decisões por conta
própria.
O IDOSO COMO UM ATOR SOCIAL:
A partir do momento em que o idoso é
considerado como um sujeito capaz de
desempenhar novos papéis sociais,
percebe-se que a visão sobre a velhice
começa a ser alterada, pois o indivíduo
incapaz, inútil e sem utilidade, passa a ser
um novo agente social.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Ao definirem sua identidade, ultrapassando metas a serem alcançadas nas estratégias
os limites do preconceito, os idosos de cuidado voltadas a esse grupo.
começam a estabelecer seu espaço social,
buscando seu reconhecimento pelo que já
realizaram no decorrer de sua trajetória e do
que tem capacidade de desenvolver devido
a sua experiência.

Assim, define-se o envelhecimento ativo

como o processo de otimização das
oportunidades de saúde, participação e
segurança, com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida à medida que as pessoas
ficam mais velhas. Neste sentido, além de
uma maior representatividade do idoso no
meio social, outro fator que se destaca,
refere-se à própria identidade, por meio da
autoafirmação, como também pela elevação
da autoestima.
O ENVELHECIMENTO ATIVO E A SAÚDE:
O maior desafio na atenção à pessoa idosa
é conseguir contribuir para que, apesar das
progressivas limitações que possam ocorrer,
elas possam redescobrir possibilidades de
viver sua própria vida com a máxima
qualidade possível. Essa possibilidade se
torna mais plausível na medida em que a
sociedade consegue reconhecer as
potencialidades e o valor das pessoas
idosas, como mencionado anteriormente.
Assim, de forma a permitir a inserção do
idoso como um membro ativo na sociedade,
a atenção à saúde apresenta papel-chave. A
avaliação funcional busca verificar, de forma
sistematizada, em que grau eventuais
comorbidades impedem o desempenho, de
forma autônoma e independente, das
atividades de vida diária, permitindo o
desenvolvimento de um planejamento
assistencial mais adequado. Esse conceito
surge como um novo referencial proposto
pela Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa (PNSPI). A independência e a
autonomia, pelo maior tempo possível, são
Diante do envelhecimento populacional,
muitas ações estão sendo planejadas para
atender às demandas emergentes. Assim, a
Organização Mundial de Saúde propôs, em
2002, um projeto denominado “Towards Age-
friendly Primary Health Care”, cuja proposta
é adaptar os serviços de atenção básica para
atender adequadamente às pessoas idosas,
tendo como objetivo principal a
sensibilização e a educação no cuidado
primário em saúde, de acordo com as
necessidades específicas dessa população.
O ESTATUTO DO IDOSO:
O envelhecimento é um direito intrínseco ao
indivíduo e a sua proteção corresponde a um
direito social. Desse modo, é dever do
Estado garantir à pessoa idosa a proteção à
vida e à saúde mediante a efetivação de
políticas públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de
dignidade. A garantia desses direitos se dá
por meio do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741,
de 1º de outubro de 2003), considerado uma
das maiores conquistas da população idosa
brasileira.
Dentre os artigos presentes nesse
documento, destacam-se:
 “Art. 2.º O idoso goza de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhe, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e
facilidades, para preservação de sua
saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual,
espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade. “;
 “Art. 3.º É obrigação da família, da
comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta
prioridade, a efetivação do direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, à
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e
comunitária. “;
 “Art. 4.º Nenhum idoso será objeto de
qualquer tipo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou
opressão, e todo atentado aos seus
direitos, por ação ou omissão, será
punido na forma da lei. “;
 “Art. 10. É obrigação do Estado e da
sociedade, assegurar à pessoa idosa a
liberdade, o respeito e a dignidade, como
pessoa humana e sujeito de direitos civis,
políticos, individuais e sociais, garantidos
na Constituição e nas leis. “;
 “Art. 15. É assegurada a atenção integral
à saúde do idoso, por intermédio do
Sistema Único de Saúde - SUS,
garantindo-lhe o acesso universal e
igualitário, em conjunto articulado e
contínuo 12 das ações e serviços, para a
prevenção, promoção, proteção e
recuperação da saúde, incluindo a
atenção especial às doenças que afetam
preferencialmente os idosos. “;
o “§ 3.º É vedada a discriminação do
idoso nos planos de saúde pela
cobrança de valores diferenciados
em razão da idade. ”
 “Art. 19. Os casos de suspeita ou
confirmação de violência praticada contra
idosos serão objetos de notificação
compulsória pelos serviços públicos e
privados à autoridade sanitária, bem
como serão obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos
seguintes órgãos: autoridade policial,
Ministério Público, Conselho Municipal do
Idosos, Conselho Estadual do Idoso e
Conselho Nacional do Idoso. “;
 “Art. 21. O Poder Público criará
oportunidades de acesso do idoso à
educação, adequando currículos,
metodologias e material didático aos
programas educacionais a ele
destinados. “;
o “§ 1.º Os cursos especiais para
idosos incluirão conteúdo relativo às
técnicas de comunicação,
computação e demais avanços
tecnológicos, para sua integração à
vida moderna. “
 “Art. 27. Na admissão do idoso em
qualquer trabalho ou emprego, é vedada
a discriminação e a fixação de limite
máximo de idade, inclusive para
concursos, ressalvados os casos em que
a natureza do cargo o exigir. “;
 “Art. 33. A assistência social aos idosos
será prestada, de forma articulada,
conforme os princípios e diretrizes
previstos na Lei Orgânica da Assistência
Social, na Política Nacional do Idoso, no
Sistema Único de Saúde e demais
normas pertinentes. “.
PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA:
OSTEOPOROSE E ARTROPATIA DEGENERA TIVAS:
OSTEOPOROSE:
A osteoporose corresponde a um distúrbio
de alteração na resistência dos ossos, que
por sua vez é associada a perda da
qualidade estrutural e da redução da massa
óssea, favorecendo a ocorrência de fraturas
sem trauma prévio (quedas da própria
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
altura), deformidades e perda da mobilidade, elasticidade). Osteoblastos e osteoclastos,
tanto em homens quanto mulheres, por sua vez, encontram-se no endósteo,
principalmente na terceira idade. compondo a matriz óssea. Com o avançar da
idade, a estrutura do osso é alterada de um
Em seu estado pré-clínico, essa doença é padrão com maior quantidade de colágeno
evidenciada apenas pela massa óssea para um de maior expressão de minerais,
diminuída, ainda não sendo observadas tornando-o menos maleável e pouco
fraturas ou outros sintomas. Salienta-se que resistente. Na composição geral do
quaisquer ossos podem ser acometidos, com esqueleto, cerca de 80% dos ossos são
exceção do crânio, porém a maior incidência corticais, compactos, com predomínio da
de lesões se dá na porção distal do função protetora, e apenas 20% de ossos
antebraço (fratura de Colles, mais comum trabeculares, esponjosos, onde são
por volta dos 50 anos), no fêmur proximal desempenhadas atividades metabólicas.
(ocorre ao longo da 7º década de vida) e nas
vértebras torácicas e lombares (incidência
maior aos 60 anos). Tais condições podem
não necessariamente mostrarem-se fatais
(incidência de óbitos em 20% das mulheres
com acometimento femoral após 3 meses do
acidente), porém o impacto para a autonomia
e para a autoestima do idoso, bem como
para o sistema de saúde, é elevado, uma vez
que o paciente convive por anos coma
doença;

Ainda que seja primariamente associada ao

envelhecimento e à acentuação de
mudanças fisiológicas na conformação
trabecular, nota-se que indivíduos que não
atingiram seus picos de deposição mineral Ainda que macroscopicamente a estrutura
nos ossos ao longo da infância e da do esqueleto não sofra mudanças
adolescência, seja por acesso nutricional perceptíveis, internamente os ossos são um
precário ou por distúrbios alimentares, tecido em constante modificação, com uma
apresentam maior risco para o constante remodelação ocorrendo ao longo
desenvolvimento de osteoporose sem da vida, mediada pelos osteoblastos e
aumento da desmineralização. osteoclastos, que formam uma unidade
básica multicelular (UBM), em ciclos de
FISOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÕES:
reabsorção e formação.
Os ossos são formados por uma
aglomeração rígida de células do tecido
conjuntivo, como osteócitos, osteoblastos e
osteoclastos, sendo os primeiros imersos
numa matriz com presença de fosfato de
cálcio, também chamado de hidroxiapatita, e
outros minerais (fase inorgânica - O número de UBMs em atividade determina
resistência), além de colágeno, proteínas e a velocidade de degeneração de segmentos
glicosaminoglicanos (fase orgânica - danificados ou velhos de material ósseo,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
com maiores concentrações em estruturas
esponjosas. Os osteoclastos são células
diferenciadas da linhagem dos macrófagos,
multinucleadas, que passam por uma
sequência de eventos de ativação e
migração, regulados por hormônios e
citocinas de ação local, junto ao próprio
microambiente ósseo, de forma a produzir
interleucinas (IL-1, IL-6, IL-4, IL-7, IL-11, IL-
17), TNF-α, TGF-β, prostaglandina E2 e
hormônio para o controle dos osteoclastos. Depois que o pico de massa óssea é
Importantes moduladores para a alcançado, a principal atividade desse
osteoclatogênese, o receptor ativador do sistema passa a ser a remodelação,
fator nuclear kappa beta (RANK) e seu mantendo a massa constante, uma vez que
ligante (RANKL), também podem ser todo o material reabsorvido é usado
destacados como cruciais para a novamente na reestruturação dos ossos. No
compreensão desse mecanismo de controle. entanto, após a 3ª ou 4ª década de vida,
inicia-se uma fase de perda óssea, seja
O RANKL é expresso por osteoblastos e
devido a uma maior ação de osteoclastos ou
seus precursores, ativando seus receptores
pela diminuição da atividade de
de forma a estimular a formação e ativação
osteoblastos, mais evidente após a
de osteoclastos, suprimindo a apoptose. A
menopausa (nos primeiros 10 anos, são
presença de osteoprotegerina (OPG)
perdidos por volta de 0,3 a 2% de massa
bloqueia os efeitos acima mencionados,
óssea anualmente, com maior impacto sobre
exercendo assim um papel antagonista. É
as estruturas trabeculares, que depois se
importante que ambos os compostos sejam
iguala ao cortical).
adequadamente nivelados pelas já citadas
citocinas e hormônios, evitando assim A degradação óssea ocorre em velocidades
doenças de reabsorção. distintas devido principalmente ao tamanho
do esqueleto entre os sexos, sendo o da
mulher menor e mais vulnerável às
alterações nos substratos, condição ainda
mais acentuada com o decréscimo
acentuado nos hormônios gonadais, o que
acontece gradualmente entre homens.

Diversos quadros, como o uso de

corticosteroides, a ativação de linfócitos T
por distúrbios autoimunes, a deficiência de
estrogênio e doenças malignas alteram a
relação RANKL/OPG, causando assim a
osteoclastogênese, acelerando a reabsorção
óssea e induzindo a perda óssea.
Os osteoblastos passam, nesse sistema, a
produzir cada vez menos novas e mais fortes
estruturas, sendo o “afinamento” as
trabéculas um desfecho comum, que evolui
para a perfuração e diminuição da coesão do

osso, aumentando, em resposta,
fragilidade óssea e o risco de fraturas.
Também ocorre, com o envelhecimento, um
decréscimo progressivo da concentração
sérica de cálcio, o que está fortemente
relacionado à diminuição da 25-
hidroxivitamina D graças à menor exposição
a raios solares, e ao consequente menor
metabolismo da forma ativa da vitamina D
(1,25-hidroxivitamina D) nos rins, já
prejudicados pela senescência. Todo esse
processo culmina numa hiperativacão da
paratireoide, o que aumenta o risco para
desenvolvimento de osteoporose, quando
associado a menor atividade dos
osteoblastos e ao hipoestrogenismo.
A osteoporose pode ser classificada como
primária (fisiológica) e secundária, a saber:
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
a  Osteoporose primária ou fisiológica:
decorrente diretamente do
envelhecimento, subdivide-se em tipo 1
(associada ao período pós-menopausa) e
tipo 2 (com caráter senil):
o Tipo 1:
 É geralmente manifestada por
mulheres menos idosas, a partir
dos 50 anos;
 Está relacionada com a
deficiência de estrogênio, seja
ela pelo climatério ou pelo
hipoestrogenismo precoce;
 Marcada por alta reabsorção
óssea, graças à atividade
acelerada de osteoclastos, e por
perda mais acentuada em ossos
trabeculares, com impactos mais
acentuados na coluna vertebral.
o Tipo 2:
 É mais frequente em mulheres
após os 70 anos, ocorrendo
também em homens;
 A reabsorção óssea pode ser
normal ou pouco aumentada e os
osteoblastos encontram-se
menos ativos, com redução na
formação óssea;
 Há acometimento similar em
ossos trabeculares e corticais,
com fraturas frequentes tanto no
esqueleto axial quanto no
apendicular.
 Osteoporose secundária: é resultado de
doenças de base que afetam a massa
óssea:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
QUADRO CLÍNICO: osteoporose como T score (curva
A osteoporose é uma doença geralmente comparada à densidade óssea em adultos
assintomática, com a descoberta do quadro de 20 a 40 anos) < -2,5 desvios-padrão na
ocorrendo normalmente somente após a análise da coluna, do quadril e/ou do
antebraço.
ocorrência de alguma fratura, cujo risco
aumenta em 40%.

Os locais mais afetados por esses tipos de

lesões são vértebras e o fêmur proximal.
Fraturas no punho podem ocorrer em idosos
mais jovens, que projetam os braços para Indica-se que esse tipo de exame seja
minimizar o impacto das quedas. Com a realizado em mulheres com idade igual ou
progressão da doença, a coluna vertebral é superior a 65 anos, e em homens com 70
mais agredida, pois os déficits de marcha e anos de idade ou mais, podendo ser
na força muscular tornam o indivíduo mais antecipada para indivíduos a partir de 50
susceptível a acidentes ao carregar ou anos que apresentem um dos seguintes
levantar peso, caindo sentado. Esses fatores de risco:
quadros normalmente não geram sintomas,
mas nas situações nas quais estão  Baixo peso;
presentes, são representados por dor nas  Histórico de fraturas;
costas, perda de peso, cifose e alterações  História familiar de osteoporose;
posturais incapacitantes. Casos mais graves  Tabagismo;
podem levar a doenças pulmonares  Etilismo;
restritivas, constipação intestinal e plenitude  Uso prolongado de glicocorticoides e
gástrica. anticonvulsivantes.
Com o desenvolvimento de fraturas, os
desfechos podem ser de recuperação
completa, aumento do risco para novas
lesões semelhantes, desenvolvimento de dor
crônica, prejuízo funcional, manifestações
psicológicas, como baixa autoestima,
depressão, ansiedade e fobias, e aumento
da mortalidade individual.

DIAGNÓSTICO:

A clínica não é suficiente para consolidar o

diagnóstico de osteoporose, porém a
realização de anamnese e exame físico
adequados são bastante importantes para
orientar o pensamento etiológico, bem como
identificar fatores de risco, como ocorrência
de fraturas em eventos de baixa energia.

Nesse contexto, a OMS recomenda a

avaliação da densidade mineral óssea a Demais exames laboratoriais podem ser
partir da densitometria, que define a utilizados como forma de avaliação e
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
monitoramento de pacientes diagnosticados
cm osteoporose, de modo a identificar
possíveis causas reversíveis. De modo geral,
são solicitados hemograma, velocidade de
hemossedimentação, cálcio sérico, fósforo
sérico, proteína total, albumina, enzimas
hepáticas, creatinina, eletrólitos, glicemia de
jejum, dosagem de cálcio na urina de 24 h.
Alguns biomarcadores ósseos também
podem ser empregados, principalmente em
pesquisas, para mensurar a velocidade de
degeneração da matriz e o risco de fraturas,
porém esse método é pouco específico, uma
vez que pode ser influenciado por múltiplos
fatores, como o ritmo circadiano individual e
o metabolismo.
As radiografias não são recomendadas para
o diagnóstico do quadro de osteoporose,
pois apenas começam a exibir alterações,
como radiotransparência aumentada
(osteopenia), deformidades vertebrais e
estriações, em estágios tardios. É
necessário, no entanto, classificar como
possível quadro de osteoporose todo
paciente que apresente fraturas
comprovadas por exame radiográfico em
sequência a um evento traumático de baixa
energia (fraturas por fragilidade).
OSTEOARTRITE:
A osteoartrite representa a doença articular
com maior prevalência na população idosa,
motivando a maior parte das queixas de dor
e incapacidade física nesse grupo. Os sítios
mais afetados são as articulações de mãos,
joelhos (maior número de estudos
conduzidos), quadril e vértebras.
Em relação à prevalência por sexo, o
acometimento em mulheres predomina nas
mãos e joelhos, a passo que homens
apresentam maior tendência em desenvolver
o quadro nos quadris (o progresso ainda
assim é mais rápido entre indivíduos do sexo
feminino).
FISOPATOLOGIA:
A cartilagem articular é formada por uma
associação de fluido intersticial, elementos
celulares e moléculas da matriz extracelular,
com uma porcentagem inicial de água que
chega a representar 70% do volume
estrutural total, aumentando com o avanço
da osteoartrite.
As células presentes na cartilagem são
denominadas condrócitos, que sintetizam as
moléculas que compõem a matriz
cartilaginosa, como o colágeno em suas
múltiplas apresentações (destacando-se o
de tipo II, específico e abundante nesse
meio), a elastina, a fibronectina e os
complexos polissacarídeos, sendo os mais
importantes os proteoglicanos, como o ácido
hialurônico. Essa composição garante à
cartilagem a elasticidade e a reversão de
deformidades. Esse tecido tem como papel
absorver os impactos exercidos sobre a
articulação, promovendo um movimento
suave de deslizamento entre as
extremidades ósseas que se dispõem no
local.
A osteoartrite é decorrente de falhas na
cartilagem que circunda as articulações,
podendo ser causadas por aspectos
genéticos, metabólicos, biomecânicos ou
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
bioquímicos. O processo de patogênese
envolve a degeneração e o reparo das já
mencionadas cartilagens, bem como dos
ossos e da sinóvia.
Os condrócitos são fundamentais para o
equilíbrio entre a produção e a degradação
da matriz cartilaginosa, mantendo assim a
função dessa estrutura, sintetizando
componentes da matriz extracelular, como
mencionado anteriormente, mas também
atuando na produção de enzimas
proteolíticas, as metaloproteinases (MMP).
Além disso, essas células são responsáveis
por incitar a ação de interleucinas e fatores
pró-inflamatórios (IL-1β e TNF-α), e fatores
de crescimento (TGF-β). Em situações
normais, a velocidade de formação da MEC
é igual à de destruição, mantendo assim um
equilíbrio.
Fatores mecânicos, no entanto, podem
estimular a maior expressão de citocinas
inflamatórias, rompendo esse balanço, da
mesma forma que contribuintes biológicos
também podem fazê-lo. Com o predomínio
da quebra matricial surge a osteoartrite. A
perda local de proteoglicanos e de colágeno
tipo II se dá inicialmente na superfície da
cartilagem, aumentando o conteúdo de água
na região e reduzindo a força de tensão e a
coesão estrutural da matriz. No líquido
sinovial, os novos elementos produzidos
sintetizados são inferiores aos originais, o
que os torna mais susceptíveis a quadros
lesivos.
O processo pode ser iniciado por eventos
que alteram a função do condrócito, como a
secreção de fatores pró-inflamatórios. Em
resposta a esse estímulo, as células liberam
enzimas proteolíticas (proteinases neutras,
catepsina e metaloproteinases), que
degradam os elementos da matriz
cartilaginosa, causando um adelgaçamento
da estrutura, além de perda da resistência
local. A velocidade na qual esse processo de
destruição ocorre é maior em compostos
osteoartríticos do que na cartilagem normal.
Com a perda da força de tensão e a menor
capacidade de suportar peso, o osso
subcondral será submetido a mais força,
bem como os condrócitos presentes na
região, que irão lierar ainda mais enzimas
degradadoras. Em resposta a todo esse
mecanismo, o osso começará a sofrer
microfraturas, que irão enrijecer a estrutura,
tornando-a menos responsiva à
compressão. Alguns produtos resultantes da
quebra da cartilagem podem estimular a
resposta inflamatória, perpetuando o ciclo
destrutivo.
Não é somente a cartilagem que está
envolvida num quadro de osteoartrite, sendo
evidente a participação da membrana
sinovial, que produz materiais inflamatórios
em quantidade, e do próprio osso
subcondral, cuja esclerose marca o início do
quadro. Esse fenômeno, auxiliado pelo
intenso estresse químico local, favorece o
surgimento de mais estruturas ósseas no
local, aumentando ainda mais a pressão
sofrida pela cartilagem, que se deterioram
mais e tornam-se erodidas.
Os casos de osteoartrite primária são
resultado do envelhecimento natural dos
tecidos da articulação, ao passo que
manifestação secundária pode ser causada
por diversos quadros de base, como
traumatismo, doenças congênitas, depósito
de cristais de cálcio, osteonecrose, artrite
reumatoide, gota, artrite séptica, doença de
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Paget, diabetes melitus e hipotireoidismo,
por exemplo. Nessas últimas situações, a
manifestação clínica pode ser atípica, com
articulações pouco atingidas sendo afetadas.
QUADRO CLÍNICO:
A osteoartrite surge de forma lenta, gradual
e progressiva, instalando-se o longo do
tempo. O sintoma inicial mais comum é
rigidez articular que se estende por menos
de 30 min após acordar ou depois de
momentos de repouso prolongado. Com a
evolução da doença, podem ser observadas
queixas de dor articular, que normalmente
piora com o movimento e é aliviada pelo
repouso do membro.
O exame físico de uma articulação afetada,
mas ainda em fase inicial oscila entre a
normalidade e a presença de crepitações ao
mover a região. Proeminências ósseas
geralmente surgem mais tardiamente. Com a
evolução da doença, podem surgir também
deformidades incapacitantes, como derrame
articular. Se o quadro acomete mais de uma
região, trata-se de osteoartrite generalizada.
Além dessas manifestações iniciais, cada
sítio pode apresentar sinais e sintomas
próprios, a saber:
 Mãos: dificuldade de movimento é uma
queixa comum, representando um
desfecho plausível. São característicos
os nódulos de Heberden e Bouchard,
porém o acometimento pode chegar até a
articulação entre a palma da mão e os
dedos. A realização de trabalhos
manuais, desde limpeza até o artesanato,
pode desencadear dor;
 Pés: o hálux pode sofrer mudanças, pois
a primeira articulação metatarso-
falangiana geralmente é afetada.
Observa-se, além de dor, alterações na
marcha e aumento no risco de quedas;
 Joelhos: a limitação de movimentos, o
derrame articular e as crepitações são
comuns. Em casos mais graves, podem
apresentar-se como varismo e
valguismo. A dor provocada por esse
distúrbio é do tipo mecânica, que piora ao
subir escadas ou assumir a posição
ortostática (de pé);
 Quadril: a dor pode ser localizada ou
atribuída a regiões próximas, como
região lombossacra da coluna ou glúteo
máximo, acontecendo até mesmo de
induzir irradiações para estruturas mais
distantes, como musculatura da coxa e
dos joelhos. Em casos graves, a
deformidade pode causar alterações na
marcha, o que também é visto em
situações nas quais o tamanho dos
membros sofreu mudanças;
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Coluna: as áreas mais flexíveis são as
mais afetadas, como C5, T8 e L3. A
espondilose surge quando os
prolongamentos ósseos decorrentes da
estimulação do crescimento local causam
compressão do canal medular. A dor
pode ser aliviada com a posição sentada
e a coluna fletida. Se uma vértebra se
deslizar sobre a outra, ocorre a
espondilolistese;
 Ombros: a articulação acromioclavicular
é acometida, geralmente com dor na
região anterior, que piora com a
realização de movimentos repetitivos;
 Articulação temporomandibular:
crepitação palpável, audível, há a
presença de crepitações audíveis e
palpáveis com a mastigação. Se o quadro
de osteoartrite for associado a dor
parietotemporal, zumbido e hemianopsia
do lado acometido, há a ocorrência de
Síndrome de Costen.
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico da osteoartrite baseia-se em
aspectos clínicos, com a construção de uma
anamnese sólida, junto a um exame físico de
qualidade, e em achados radiológicos. Não
existe, no entanto, sinais patognomônicos ou
laboratoriais para essa condição
(marcadores inflamatórios normais).
O raciocínio clínico deve se direcionar para a
osteoartrite primária quando o paciente
refere dor nas articulações dos dedos das
mãos, coluna, quadris e joelhos, associada a
crepitações, nódulos ósseos evidentes,
rigidez articular matinal e presença de
osteófitos em radiografias.
Dentre os sinais radiológicos claros para a
osteoartrite estão o estreitamento do espaço
articular, a formação de cistos subcondrais,
a esclerose subcondral e os osteófitos,
caracterizando um quadro hipertrófico, ou
somente redução do espaço articular sem
osteofitose e esclerose, demarcando a
osteoartrite atrófica. Manifestações mais
graves implicam na observação de
subluxações, deformidades e corpos livres
no espaço intrarticular.
A realização de tomografia computadorizada
ou ressonância magnética é recomendada
para pacientes com sintomatologia sugestiva
de acometimento nervoso, com compressão
da raiz dos nervos ou estenose do canal
medular.
Dentre os diagnósticos diferenciais
encontram-se bursite, artrite reumatoide e
osteonecrose.
ARTRITE REUMATOIDE:
A artrite reumatoide é uma doença
inflamatória, crônica, autoimune e sistêmica,
ainda não sendo conhecida sua etiologia.
Esse quadro promove danos graduais e
constantes ao sistema musculoesquelético,
comprometendo múltiplas articulações,
levando o paciente a manifestar dor,
deformidades e desgaste ósseo e
cartilaginoso irreversíveis. Essa condição
acomete todas as faixas etárias, porém tem
sua prevalência aumentada em indivíduos de
40 a 60 anos.
A artrite reumatoide do idoso é uma
manifestação especial, marcada por
manifestações iniciais após os 60 anos. Esse
quadro apresenta algumas especificidades
não encontradas na artrite de
desenvolvimento nos jovens, como:
 Maior similaridade na distribuição entre
sexos (razão de acometimento é próxima
de 1:1), sendo que na artrite de
acometimento precoce esse valor é maior
para mulheres, que tem risco de 2 a 4
vezes maior para o desenvolvimento da
doença;
 Maior tendência para o início agudo,
semelhante a uma infecção;
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Maior frequência de acometimento em
grandes articulações proximais, como
ombros e quadris;
 Sintomatologia sistêmica é mais
frequente, havendo maiores velocidades
de hemossedimentação que em
pacientes jovens om a doença;
 Menor ocorrência de manifestações
extrarticulares;
 Maior gravidade e prejuízo funcional
decorrente das lesões nas articulações.
A artrite reumatoide com início no idoso é
considerada uma doença heterogênea,
subdividida em duas categorias, dispersas
igualmente: a primeira corresponde ao
quadro clássico da artrite reumatoide, que
possui um pior prognóstico tanto para
manutenção da mobilidade quanto para a
mortalidade, com similaridades à doença
deflagrada na juventude, enquanto o
segundo segmento se manifesta com uma
evolução benigna, com clínica semelhante à
polimialgia reumática, caracterizada pelo
acometimento dos ombros, ausência de
erosões articulares e inexistência de fator
reumatoide.
FISOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÕES:
A fisiopatologia da artrite reumatoide é
complexa, contemplando um grande número
de células (células dendríticas, macrófagos,
monócitos, fibroblastos, sinoviócitos,
linfócitos T e B, neutrófilos, mastócitos,
células endoteliais, condrócitos e osteócitos)
e de citocinas, destacando-se a IL-1, o TNF--
α e a IL-6.
O antígeno desencadeante das reações
típicas da artrite, ainda desconhecido, é
apresentado ao linfócito T pelas células
apresentadoras de antígeno, deflagrando
uma cascata de estimulação de macrófagos,
monócitos e fibroblastos, com a liberação de
citocinas, como TNF-α e IL-1, IL-6 e IL-10.
Em seguida, a membrana sinovial se torna o
alvo direto do processo inflamatório, que
altera gravemente sua estrutura, com
hiperplasia, hipertrofia, neoangiogênese,
infiltração celular e fibrose tecidual, dando
origem ao pannus, capaz de invadir e
degradar o osso e as cartilagens adjacentes.
,
Pesquisas apontam que o HLA-DRB1
(antígeno leucocitário humano DRB1) está
fortemente associado à maior propensão
para uma modalidade de doença mais
agressiva. Ainda que esse componente
sempre seja associado ao quadro, variações
em seus alelos podem alterar a expressão
dos sintomas ou a idade de início dos
sintomas.
QUADRO CLÍNICO:
Os sintomas mais característicos da artrite
reumatoide são dor, edema simétrico
poliarticular (acometendo principalmente as
pequenas articulações de pés e mãos).
Individualmente, as articulações mais
afetadas são a segunda e a terceira
metacarpofalangeanas, as interfalangeanas
proximais das mãos, as
metatarsofalangeanas, punhos, joelhos,
cotovelos e ombros. Queixas de dor na
coluna cervical e na articulação
temporomandibular também são frequentes.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Os idosos são mais acometidos por de regressão, mas sim o envolvimento cada
envolvimento singular de articulações, vez mais amplo de articulações, que culmina
principalmente daquelas de maior tamanho, em degeneração rápida na ausência de
como os ombros, que podem ser acometidos tratamento, acometendo 10% dos
por derrame articular. pacientes).

A artrite reumatoide de início no idoso

apresenta início agudo, com dor e rigidez
matinal, principalmente nos membros
superiores. Ao exame físico, identifica-se um
comprometimento relevante dos ombros,
muitas vezes afetados por sinovite,
acompanhando o desgaste em outras
articulações, com edema de partes moles e
comprometimento da mobilidade.
Laboratorialmente, nota-se que a velocidade
de hemossedimentação frequentemente
está elevada.
Os idosos afetados sofrem mais comumente
com perda de peso, linfadenopatia, mialgia,
neuropatias, anemia e elevação da já citada
velocidade de hemossedimentação e
proteína C reativa elevadas e anemia. As
manifestações clássicas da artrite
reumatoide, como deformações em uma ou
ambas as mãos, são menos comuns.
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico da artrite reumatoide é
bastante difícil, devendo considerar uma
grande diversidade de diagnósticos
diferenciais. Assim, investigações
detalhadas devem ser conduzidas, tornando
o processo bastante lentificado.
O Colégio Americano de Reumatologia
elaborou critérios classificatórios para artrite
reumatoide ainda em 1987, sendo
empregados até a contemporaneidade.
Nessa classificação, um paciente pode ser
enquadrado como portador da doença
quando ao menos 4 dos 7 critérios descritos,
sendo que os primeiros devem persistir por
ao menos 6 semanas.

A artrite reumatoide pode estar associada a

outras doenças crônicas, como
aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica,
diabetes melitus, osteoporose e osteoartrite.
Essas comorbidades podem modificar a
capacidade funcional do idoso, além de
alterar a estrutura articular deste, causando
comprometimento neurológico e atrofia de
partes moles, critérios que elevam o risco
para quedas e fraturas.

A evolução dessa doença é variável,

dividindo-se em 3 padrões principais: tipo
monocíclico (dor e rigidez por até um ano,
havendo remissão sem necessidade de
tratamento intensificado, presente em 20%
Como essa doença pode apresentar
dos casos), tipo policíclico (acomete 70%
diversas especificidades para a
dos pacientes, havendo oscilações entre
apresentação inicial de sintomas,
agravo e recuperação das manifestações
dificultando a adequação aos critérios acima
clínicas, e o tipo progressivo (não há fases
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
citados. Assim, não é necessário esperar o
preenchimento de todos esses parâmetros
para iniciar o tratamento, podendo ser
tomados como base os determinantes de
classificação da artrite reumatoide,
desenvolvidos em 2010.
O fator reumatoide é uma imunoglobulina
IgM anti-IgG encontrada em cerca de 80%
dos pacientes com artrite reumatoide iniciada
ainda na juventude. Na doença do idoso,
esse marcador é detectado em 32% a 89%
dos pacientes. No entanto, somente a
presença desse componente não determina
a ocorrência da artrite, pois 10% dos idosos
saudáveis possuem tal indício.
O antipeptídeo citrulinado cíclico (antiCCP),
apresenta sensibilidade de 80% e
especificidade de 95% para o diagnóstico de
artrite reumatoide. Esse marcador pode ser
observado no soro de portadores da doença
mesmo antes do início da sintomatologia.
A realização de provas de atividade
inflamatória, como velocidade de
hemossedimentação (se eleva mais em
idosos) e proteína C reativa, são
fundamentais para o acompanhamento do
paciente, uma vez são diretamente
associadas ao grau de inflamação articular.
Outros achados laboratoriais possíveis
envolvem anemia normocrômica e
normocítica, trombocitose, eosinofilia,
hipergamaglobulinemia e
hipocomplementemia.
A radiografia de mãos e pés evidencia, nas
fases iniciais da doença, um aumento de
partes moles e presença de osteopenia nas
proximidades da articulação. As erosões
articulares podem surgir tão precocemente
como após 6 meses do início da doença, se
desenvolvendo mais rapidamente ao longo
do primeiro ano. A progressão do quadro traz
ainda redução dos espaços articulares, o que
está associado a uma evolução
desfavorável.
A ultrassonografia vem cada vez mais sendo
utilizada para o diagnóstico da artrite
reumatoide, sendo um método sensível para
identificar sinovite, inflamação de bainhas
tendinosas e erosões. A ressonância nuclear
magnética de articulações pode, por sua vez,
detectar de forma mais acertada as erosões
na artrite inicial quando comparada aos raios
X.
O diagnóstico diferencial deve contemplar
como possibilidades a polimialgia reumática,
osteoartrite, gota crônica e artropatia por
fármacos.
ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS EM OSTEOPOROSE E
ARTROPATIAS DEGENERA TIVAS:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
OSTEOPOROSE:
O tratamento da osteoporose será aplicável
a todos os pacientes com resultados de
densitometria óssea compatíveis com o
diagnóstico (T score < - 2,5 DP) ou que
tenham histórico de fraturas em fêmur ou
vértebras decorrentes de acidentes com
baixo impacto.
Estratégias não farmacológicas são cruciais
para prevenir eventos desencadeantes de
fraturas, tendo enfoque em evitar quedas e
na mudança de hábitos de vida, com adoção
de dietas específicas e rotinas de exercícios
físicos:
 Prevenção de quedas: a avaliação do rico
de quedas deve ser anual, com análise
da marcha e do equilíbrio, bem como do
possível medo de cair, que age tanto
como uma consequência como causa
das quedas. Nesse processo de
investigação, todos os fatores primários
capazes de aumentar o risco de
acidentes devem ser corrigidos;
 Alterações nutricionais: a alimentação
balanceada deve ser uma constante ao
longo da senescência, com atenção
especial para a ingesta de quantidades
adequadas de cálcio (1000 mg para
homens de Maior intensi51 a 70 anos e
1200-1500 mg para homens acima dos
71 anos e mulheres com mais de 51
anos), oriunda de derivados do leite ou de
suplementações. A vitamina D deve ser
suplementada em pacientes com baixa
exposição ao sol e dieta inadequada;
 Exposição saudável (evitando os horários
de 10 às 16 horas) ao sol;
 Exercícios: atividades aeróbicas
associadas a treinamentos de força por
30 a 60 minutos diários, 3 vezes na
semana, favorecem o aumento da
resistência óssea, porém é necessário
que um profissional qualificado avalie o
idoso, indicando programas que não
comprometam sua saúde;
 Combate ao etilismo e ao tabagismo;
O tratamento farmacológico é representado
pela suplementação de vitamina D e cálcio,
nas situações em que somente a mudança
na alimentação for insuficiente para elevar as
concentrações séricas desses componentes,
e medicamentos específicos para a
osteoporose.
As terapêuticas específicas contam com
antirreabsortivos ósseos, osteoformadores e
compostos mistos, tendo como objetivo
impedir a supressão da atividade dos
osteoblastos e balancear a relação
RANKL/OPG.
Independentemente dos métodos adotados
como tratamento, o paciente com
osteoporose deve ser monitorado por meio
de densitometrias ósseas anuais ou bianuais
e radiografias anuais da coluna vertebral de
forma a analisar a ocorrência de fraturas. A
dosagem de biomarcadores ósseos é
realizada antes e após 3 a 6 meses do início
do uso de fármacos antirreabsortivos.
A falha terapêutica ocorre, descartando-se
os casos de má-adesão ao tratamento ou de
osteoporose secundária, quando surgem
duas ou mais fraturas por fragilidade ou na
presença de fraturas incidentais com queda
os valores da densitometria óssea.
OSTEOARTRITE:
O tratamento da osteoartrite deve buscar não
só a melhora clínica do paciente, mas sim o
aumento de sua capacidade funcional e o
retardo da progressão do quadro, visto que
se trata de uma enfermidade crônica,
requerendo interação constante entre
paciente e terapêutica. Assim, a orientação
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
do paciente acerca das implicações do
diagnóstico e das possibilidades de manejo
dos sintomas é fundamental.
O tratamento pode ser não farmacológico,
medicamentoso (com fármacos de ação
rápida para os episódios de dor aguda e
agentes lentos para o manejo da dor cônica)
e cirúrgico, recomendado para situações
mais graves.
Dentre as medidas não medicamentosas,
destacam-se:
 Orientação educacional: o paciente deve
ser informado acerca dos sintomas,
fatores de risco e possíveis implicações
da progressão da doença, de forma
individualizada, pois cada articulação
lesionada terá suas peculiaridades.
Estratégias de adaptação das atividades
diárias às limitações causadas pela
osteoartrite devem ser formuladas;
 Perda de peso: a obesidade está ligada
principalmente ao acometimento dos
joelhos por osteoartrite, podendo
intensificar seus sintomas;
 Repouso: os pacientes com osteoartrite
se beneficiam com o repouso moderado,
porém deve ser evitada a inatividade por
longos períodos, associada à redução da
massa muscular e, consequentemente,
da mobilidade;
 Exercício físico: deve ser prescrito de
forma individual, com intensidade leve a
moderada, de acordo com as articulações
afetadas e o grau de comprometimento
de cada uma. Recomendam-se
treinamentos de marcha, força,
flexibilidade e exercício aeróbico,
evitando atividades que gerem alto
impacto;
 Fisioterapia: busca diminuir a dor e o
desconforto, além de melhorar o
desempenho físico e minimizar os
impactos da perda de mobilidade.
Múltiplos campos dessa área podem ser
aplicados, como termoterapia,
eletroterapia, terapia manual, entre
outras. As principais indicações para
essa modalidade terapêutica são dor e
rigidez articular, anormalidades no uso da
articulação ou desalinhamento, fraqueza
muscular, resistência cardiovascular
reduzida, e alterações na marcha e no
equilíbrio. Os exercícios devem
apresentar carga compatível com o
momento da doença, com menor esforço
durante episódios álgicos;
 Uso de órteses: bengalas, sapatos
ortopédicos e andadores podem auxiliar
a diminuir a dor, infligindo menos pressão
e carga no local lesionado.
Dentre as alternativas farmacológicas,
destacam-se os analgésicos, simples ou
opioides (em casos graves, nos quais a
cirurgia é indicada), anti-inflamatórios não
esteroides, injeções de glicocorticoides ou
hialuronidase, e medicamentos de ação
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
lenta. Nesse grupo, é válido ressaltar a
presença da hidroxicloroquina, que tem
como mecanismo de ação a inibição da IL-1
e de compostos lisossomais, e da
diacrereína, que também antagoniza
interleucinas. O uso de colágeno hidrolisado
pode também ser recomendado para o
controle da dor e o reparo da cartilagem
acometida.
Em caso de falha das terapias acima
descritas, procedimento cirúrgicos podem
ser necessários, como osteostomia (visa
realinhar o eixo do membro) e artroplastia (a
colocação de próteses pode ajudar
indivíduos com déficit de modalidade, porém
deve ser realizada antes que se
desenvolvam deformações relevantes.
ARTRITE REUMATOIDE:
O tratamento da artrite reumatoide tem como
focos principais a remissão do quadro ou, ao
menos, a manutenção da doença num
estado de pouca atividade. As medidas
implementadas buscam, portanto, uma
melhora no quadro de dor e edema, o alívio
da fadiga e a prevenção de deformações e
danos funcionais, o que justifica a
implementação de intervenções precoces e
o monitoramento constante do estado da
doença.
O tratamento não-medicamentoso deve ser
proporcionado ao paciente no início da
doença, de forma a proteger as articulações
e preservar a funcionalidade do aparelho
locomotor. A fisioterapia e a terapia
ocupacional contribuem para manutenção
das atividades da vida diária, ao passo que a
proteção das articulações mantém forte o
arcabouço muscular da região periarticular.
O uso de órteses, como bengalas e
andadores, busca reduzir dores
mioarticulares por fornecerem maior
estabilidade aos membros afetados (uso
contínuo, excedo de aparelhos para os pés).
O aumento do condicionamento físico deve
também ser estimulado, seja por meio de
atividade aeróbica, exercícios resistidos,
alongamento ou relaxamento.
Os fármacos modificadores do curso da
doença são os mesmos tanto para o
tratamento da artrite reumatoide com início
na juventude, como para aquela com
surgimento na velhice, porém é necessário
maior cuidado em relação à comorbidades e
à polifarmácia em idosos. Em relação à
prescrição de anti-inflamatórios, sejam eles
hormonais ou não, é necessário avaliar
detalhadamente os possíveis fatores de
risco, empregando-os nas menores doses e
pelo menor período de tempo possível.
Ainda mais atenção deve ser voltada à
osteoporose comórbida, contemplando a
avaliação do metabolismo de cálcio e a
densitometria óssea. Quando necessário, o
uso de cálcio e vitamina D, bem como de
antirreabsortivos ósseos deve ser prescrito,
impedindo o avanço de quadros lesivos à
matriz óssea.
O tratamento com os medicamentos
modificadores do curso da doença deve
começar tão logo o diagnóstico for
consolidado, sendo implementado na
intensidade necessária para a conquista
breve do controle da doença.
Em pacientes idosos, é recomendado o uso
de cloroquina/hidroxicloroquina ou
sulfassalazina nos casos mais leves, pois o
perfil de efeitos adversos é melhor, tornando
a necessidade de monitoramento menos
frequente. A avaliação por um oftalmologista
é indicada antes que se iniciar o tratamento
com os primeiros medicamentos citados, de
forma a identificar alterações associadas ao
envelhecimento que possam ser
confundidas com efeitos tóxicos dos
compostos antimaláricos.
A hidroxicloroquina e a cloroquina são
eficazes em reduzir parâmetros clínicos e
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
laboratoriais (velocidade de
hemossedimentação), mas não conseguem
retardar a progressão radiográfica da
doença. A sulfassalazina, por sua vez, é
considerada mais efetiva para reduzir a
atividade da artrite, agindo no controle da dor
e na melhoria do quadro clínico como um
todo.
Em casos nos quais as medidas
farmacológicas e de mudanças de hábitos de
vida não foram capazes de controlar o
desenvolvimento da artrite reumatoide ou de
preservar a aptidão para as atividades
diárias, intervenções cirúrgicas podem ser
indicadas. Assim que esse método de
controle se fizer recomendado, deve ser
realizado precocemente, sem aguardar o
comprometimento de múltiplas articulações.
Os principais métodos utilizados no
tratamento cirúrgico são sinovectomias,
correção de tendões (associada ou não ao
procedimento anterior), desbridamento
articular, ressecção artroplástica, artrodese
(junção de articulações) e artroplastias totais.
DOENÇAS MAIS PREVALENTES NA POPPULAÇÃO
IDOSA:
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA:
A hipertensão arterial sistêmica é definida
por pressão arterial sistólica maior ou igual a
140 mmHg e pressão arterial diastólica maior
ou igual a 90 mmHg. Não é somente a tensão
arterial que deve ser considerada nessas
situações, mas também o risco
cardiovascular local, as lesões de órgãos-
alvo e a presença de comorbidades
associadas.
Essa é uma doença muito prevalente entre
os idosos, presente em cerca de 50 a 70%
dessa população. Sem tratamento,
representa um importante contribuinte para
morbidade e mortalidade, porém, com o
controle adequado, as eventuais limitações
são mitigadas, permitindo que os portadores
do quadro mantenham sua qualidade de
vida. Salienta-se, no entanto, que mesmo
que esta seja uma condição frequenta na
velhice, não deve ser taxada como normal.
Alterações fisiológicas do processo de
senescência, como a calcificação e a
esclerose de artérias e a perda de função
renal alteram a dinâmica cardíaca, o que,
junto à influência de múltiplos anos de
comportamentos lesivos leva a um processo
de desregulação pressórica, desenvolvendo
assim um quadro hipertensivo
Em idosos, dois aspectos importantes sobre
a hipertensão se destacam devido a
fenômenos típicos do envelhecimento, a
saber:
 Maior frequência de hiatos auscultatórios,
definidos pelo desaparecimento dos sons
na ausculta com a deflação do manguito,
comumente entre as fases I e II de
Korotkoff. Esse fenômeno pode tanto
subestimar a verdadeira pressão sistólica
quanto superestimar a pressão diastólica;
 Pseudo-hipertensão, marcada por uma
pressão arterial aumentada falsamente
em decorrência dos processos
ateroscleróticos, que enrijecem as
artérias. Esse fenômeno pode ser
detectado pela manobra de Osler, que
consiste na inflação do manguito no
braço até o desaparecimento do pulso
radial. Se a artéria ainda for palpável
após esse procedimento, a pessoa é
considerada Osler-positivo.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Os valores de classificação individual quanto
a pressão arterial se mantém constantes
após os 18 anos (PA normal < 120x80
mmHg; Pré-hipertensão entre 120x80 e
139x89 mmHg; Hipertensão > 140x90
mmHg), não havendo uma nova escala para
a velhice. Para determinar o risco
cardiovascular, no entanto, a idade é um
fator determinante, assim como outras
comorbidades, que constituem o escore de
Framingham.
Os resultados desse tipo de escore permitem
a estratificação do risco de desenvolvimento
de doenças cardiovasculares num período
de 10 anos, servindo como base para a
implementação de estratégias de prevenção,
como mudanças nos hábitos de vida, e
controle, com o uso de medicamentos anti-
hipertensivos.
DIABETES MELLITUS:
O Diabetes Mellitus é uma doença comum e
de incidência crescente que aumenta com a
idade. O diabetes apresenta alta morbi-
mortalidade, com perda importante na
qualidade de vida. É uma das principais
causas de mortalidade, insuficiência renal,
amputação de membros inferiores, cegueira
e doença cardiovascular.
O Diabetes Mellitus é uma doença
metabólica caracterizada por hiperglicemia
associada a complicações, disfunções e
insuficiência de vários órgãos,
especialmente: olhos, rins, nervos, cérebro,
coração e vasos sangüíneos. Pode resultar
de defeitos de secreção e/ou ação da
insulina, envolvendo processos patogênicos
específicos, por exemplo, destruição das
células beta do pâncreas (produtoras de
insulina), resistência à ação da insulina,
distúrbios da secreção da insulina, entre
outros.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
estimou em 1997 que, após 15 anos de
doença, 2% dos indivíduos acometidos
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
estarão cegos e 30 a 45% terão algum grau
de retinopatia, 10 a 20%, terão nefropatia, 20
a 35%, neuropatia e 10 a 25% terão
desenvolvido doença cardiovascular.
A forma de diabetes mais frequente na
população idosa é a diabete mellitus tipo 2,
marcado por um quadro constante de
hiperglicemia em decorrência do aumento da
resistência à insulina, causado por hábitos
de vida prejudiciais. O diagnóstico é selado
por meio de exames laboratoriais, com
glicemia de jejum ≥126 mg/dL, glicemia ao
acaso ≥ 200 mg/dL, associados ao quadro
clínico típico (poliúria, polifagia, polidipsia e
perda de peso).
Nos idosos, a diabetes se manifesta
casualmente como um achado de um
processo simultâneo (infecções), uma
manifestação de complicação típica do
diabetes a longo prazo (distúrbios micro e
macrovasculares), ao acaso, na análise de
uma dosagem glicêmica. Além dos sintomas
clássicos, pode surgir também fadiga, visão
turva, dificuldade de cicatrização e
impotência em homens.
A neuropatia periférica também pode ser
observada de forma inicial, ainda que mais
raramente, manifestada pela presença de
dores semelhantes a radiculopatia. Ocorre
também deterioração neuronal após
desidratação crônica (resultado da
associação entre redução da taxa de filtração
glomerular e menor ingesta de água,
promovendo hiponatremia). A poliúria
diabética pode confundida, em homens
idosos, com um o resultado de um processo
de hiperplasia prostática, ou, de forma geral,
com quadros de incontinência.
Ao lidar com idosos com suspeita ou
diagnóstico de diabetes, é necessário avaliar
atentamente possíveis estruturas
acometidas pelos impactos vasculares e
neurológicos do diabetes, como é o caso do
fundo de olho, da atividade nervosa, renal e
cardiovascular e da integridade da pele,
observando a possível presença de mal
perfurante.
DISLIPIDEMIA:
A dislipidemia corresponde a uma
desregulação nas concentrações séricas de
colesterol total, LDL e triglicérides
(encontram se elevados) ou da fração HDL
do colesterol (é reduzida), que contribuem
ativamente para o desenvolvimento de
aterosclerose. Esse quadro é mais frequente
em mulheres de 65 a 74 anos.
As manifestações mais comuns desse
quadro em idosos são as dislipidemias
secundárias a hipotireoidismo
(principalmente no sexo feminino), diabetes
mellitus, intolerância à glicose, síndrome
nefrótica, obesidade, alcoolismo ou uso de
medicamentos. Esses indivíduos
apresentam discretas elevações de
triglicerídeos, colesterol LDL e colesterol
total.
A obesidade, HAS e DM II são fatores de
risco para a dislipidemia, assim como é mais
prevalente em mulheres pós-menopáusicas,
identificando a possibilidade de atuação do
estrogênio e da progesterona como
protetores dos níveis normais dos
componentes séricos supracitados. A
dislipidemia é considerada um fator de risco
para inúmeras doenças, como as
cerebrovasculares, cardiovasculares e
psiquiátricas.
INCONTINÊNCIA URINÁRIA:
A incontinência urinária é definida como “a
perda de urina em quantidade e frequência
suficientes para causar um problema social
ou higiênico”, variando desde um pequeno e
ocasional escape até a incapacidade de reter
qualquer volume urinário. Esse processo
pode ser oriundo de alterações do corpo, do
uso de medicamentos ou de doenças
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
específicas. A perda involuntária de urina
afeta milhões de pessoas e pode ocorrer em
qualquer idade, porem apresenta predileção
por indivíduos vivenciando o envelhecimento
(50 a 75 anos), principalmente as mulheres
na perimenopausa.
Os episódios de incontinência normalmente
não são relatados espontaneamente pelo
paciente, aumentando de frequência à
medida que também se elevam as
comorbidades apresentadas pelo idoso e o
número de medicações por ele consumidas.
Esse processo favorece o desenvolvimento
de infecções urinárias e do trato genital, de
maceração e perda de integridade da pele,
de úlceras por pressão e celulites, além de
facilitar o surgimento de disfunções sexuais
e de alterações no padrão de sono. Esse
quadro pode ser o primeiro (e às vezes
único) sintoma de um acometimento do
sistema excretor.
A incontinência afeta grandemente a
qualidade de vida dos idosos, gerando
constrangimento e isolamento social, o que
promove o desenvolvimento de quadros
depressivos e de baixa autoestima. Constitui
também uma das principais causas de
institucionalização de idosos.
Dentre as mulheres, a principal alteração
morfofuncional que dá origem a essa
condição é a redução da pressão máxima de
fechamento uretral, decorrente de
procedimentos cirúrgicos ou lesões
vasculares estimuladas por hábitos de vida
prejudiciais e outras comorbidades, como
hipertensão. Para os homens, a hiperplasia
prostática representa o maior contribuinte
para a mudança do comportamento
miccional. Algumas alterações da função
vesical e da uretra ocorrem em ambos os
sexos, incluindo redução da contratilidade e
da capacidade vesical, declínio da
capacidade de controle dos esfíncteres por
adelgaçamento das fibras musculares (a
musculatura não resiste à pressão exercida
pela bexiga) e aumento do volume residual
Além disso, mudanças na mobilidade e da
precisão dos movimentos manuais (longo
tempo para remoção das roupas) e a
modificação no comportamento de filtração
renal para maior produção de urina quando
em decúbito (aumento do retorno venoso)
também podem favorecer a incontinência.
De forma geral, as características da
incontinência urinária em idosos dividem-se
em agudas, também conhecidas como
temporárias, e crônicas, a saber:
 Causas agudas: devem ser descartadas
antes de se proporem novas
intervenções. Elas podem ser:
o Endócrinas: associam-se
principalmente às modificações no
epitélio vaginal após a menopausa,
podendo dizer respeito também a
quadros de hiperglicemia ou
hiperpotassemia;
o Psicológicas: decorrentes de quadros
depressivos, que reduzem a
motivação para dirigir-se ao banheiro,
ou delirantes;
o Farmacológicas: resultam de efeitos
esperados e adversos de múltiplas
classes medicamentosas usadas no
tratamento de comorbidades comuns
entre idosos;
o Infecciosas: as infecções do trato
urinário podem promover quadro de
urgência miccional muito intensa,
sendo rapidamente solucionados;
o Neurológicas: abrangem quadros de
Delirium e de rebaixamento do nível de
consciência;
o Redução de mobilidade;
o Excesso de débito urinário: pode
refletir um estado de hiperglicemia ou
ser reflexo do uso de medicamentos;
o Obstipação intestinal: o impedimento
do trânsito intestinal e a formação de
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
um fecaloma podem tanto causar
incontinência fecal quanto urinária.
 Causas crônicas: dividem-se em quatro
grandes grupos (esforço, urgência,
sobrefluxo e incontinência funcional).
DEPRESSÃO:
A depressão em idosos pode se desenvolver
da mesma forma que entre jovens, surgindo,
nesse caso, nos anos anteriores à
aposentadoria, momento após o qual sua
prevalência diminui, voltando a aumentar
após os 75 anos.
Essa é a doença psiquiátrica com maior
probabilidade de levar um idoso ao suicídio,
costumeiramente realizados com os meios
mais letais, não sendo possível ignorar os
suicídios latentes ou passivos (abandono de
tratamento e recusa alimentar). A maioria
desses indivíduos não teve o quadro
depressivo identificado e tratado
adequadamente.
Alguns fatores diretamente associados ao
envelhecimento agem como fatores de risco
ou desencadeantes para episódios de
depressão, como o isolamento, conflitos
familiares e problemas na comunicação com
outras pessoas. As dificuldades econômicas
e demais estressores do cotidiano também
têm impacto relevante.
É necessário avaliar atentamente os idosos
com sinais de depressão, atentando-se para
a possibilidade de ocorrência de quadros
demenciais como base.
DEMÊNCIA:
A demência é uma síndrome clínica
decorrente de doença ou disfunção cerebral,
crônica e progressiva, na qual múltiplas
funções cognitivas, incluindo memória,
atenção e aprendizado, pensamento,
orientação, compreensão, cálculo,
linguagem e julgamento, são prejudicadas.
Normalmente, esses déficits são
antecedidos por uma fase de regressão do
controle emocional, inaptidão social ou baixa
motivação, afetando assim a realização de
múltiplas atividades cotidianas.
Entre as pessoas idosas, a demência faz
parte do grupo das mais importantes
doenças que geram declínio funcional
progressivo e perda gradual da autonomia e
da independência, com prevalência que
aumenta de forma exponencial em relação
ao envelhecimento.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A doença de Alzheimer é uma forma de
demência de origem cerebral degenerativa
primária, com aspectos neuropatológicos e
neuroquímicos característicos. Essa é a mais
prevalente entre as diversas causas de
demências, associada a diversos fatores de
risco, como hipertensão arterial, diabetes,
processos isquêmicos cerebrais e podem ser referidos, como noctúria, urgência
dislipidemia, além de aspectos genéticos. A
escolaridade elevada e a prática constante
de atividades de estímulo intelectual estão
relacionadas com uma menor frequência de
quadros demenciais.
A demência vascular, por sua vez, não
corresponde a uma doença, mas sim a um
conjunto diverso de síndromes com vários
mecanismos, causas e manifestações
clínicas, representando o segundo grupo
mais prevalente para essa condição em
idosos. Esse termo é comumente utilizado
para descrever os efeitos de grandes lesões
tromboembólicas, mas possui outras
etiologias bastante variadas.
HIPERPLASIA PROSTÁTI CA BENIGNA:
A hiperplasia prostática benigna
corresponde ao aumento não-neoplásico da
próstata, cuja etiologia é associada, ainda
que não definitivamente, a aspectos
hormonais alterados no envelhecimento,
levando ao crescimento celular excessivo.
90% dos homens com 80 anos de idade ou
mais apresentam evidências histológicas
dessa condição, sendo que 81% destes têm
sinais ou sintomas relacionados com
hiperplasia, como retenção urinária aguda.
Há uma desaceleração natural do
crescimento da próstata, fazendo com que
os impactos desse quadro para o surgimento
de incontinências sejam limitados. Além
disso, o jato urinário normalmente perde
força a partir dos 55 anos, mesmo em
indivíduos saudáveis.
Sintomas obstrutivos quanto ao trato urinário
são causados pela dilatação dos lobos lateral
e medial prostáticos, permitindo o
desenvolvimento de hesitação e
gotejamento urinário, constrição abdominal,
e esvaziamento incompleto da bexiga.
Alguns sintomas mais irritativos também
de micção, disúria e incontinência urinária.
DISFUNÇÃO ERÉTIL:
A disfunção erétil é definida como a
incapacidade persistente em chegar e/ou
manter uma ereção suficiente para uma
relação sexual satisfatória. Esse quadro
também é responsável por causar muito
desconforto, principalmente interpessoal.
Alguns critérios permitem a classificação do
fenômeno, que pode ser enquadrado como
presente a vida toda ou adquirido, geral ou
situacional, de origem associada a fatores
médicos, psicológicos ou mistos.
O retardo da ereção é característico do
envelhecimento, pois é nessa fase que
ocorre redução da congestão vascular e da
tensão muscular do saco escrotal, o
prolongamento da fase de platô, a
diminuição do volume de secreção pré-
ejaculatória, o encurtamento do orgasmo, o
enfraquecimento das contrações prostáticas
e a menor força do jato ejaculatório.
A disfunção erétil, no entanto, não é parte da
senescência, uma vez que ela ocorre devido
a desorganização do fluxo de sinais
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
parassimpáticos, que geram a ereção, sendo ambeientes escuros e com superfícies
interceptados por nervos simpáticos que, ao escorregadias.
liberarem noradrenalina, causam
vasoconstrição e perda da ereção.

As origens desse quadro são

majoritariamente orgânica, com destaque
para alterações vasculares. Isso ocorre pela
deficiência na secreção endotelial de óxido
nítrico, que impede a deflagração de uma
resposta vasodilatadora satisfatória.

Ressalta-se a importância de conhecer e A ocorrência de quedas é considerada uma

debater a sexualidade na terceira idade,
tanto para identificar distúrbios do
desempenho sexual que possam afetar
psicologicamente o idoso, mas também para
rastrear e detectar precocemente infecções
sexualmente transmissíveis capazes de
impactar a qualidade de vida do indivíduo,
levando ao surgimento de múltiplas
comorbidades.
QUEDAS E A POPULAÇÃO IDOSA:
síndrome geriátrica e um problema de saúde
pública, com risco que se eleva linearmente
com o envelhecimento da população,
afetando 1/3 daqueles idosos inseridos na
comunidade geral, e até 50% dos que são
habitantes de casas de repouso. A
recorrência é observada em metade dos
casos. Aproximadamente 70% das quedas
ocorrem no ambiente domiciliar,
principalmente em idosos com mais de 75
anos.

DEFINIÇÃO E ETIOLOGIAS: Os impactos físicos decorrentes das quedas

dividem-se em fraturas, contusões, feridas,
Ainda que sejam um termo de fácil definição
hematomas, lesões neurológicas e sequelas
inicial, dificuldades surgem para definir
de imobilização. As consequências
precisamente “quedas” como um termo na
psicológicas desse evento, no entanto,
área da saúde, sendo cunhadas apenas
podem ser englobadas pelo termo “síndrome
como a precipitação repentina e involuntária
pós-queda”, caracterizada por: medo de cair,
de um indivíduo para o solo, posição inferior
perda de autonomia pessoal, alteração nos
àquela que ocupava anteriormente. Não são
hábitos de vida e postura superprotetora de
incluídos nessa classificação os eventos
cuidadores e familiares, o que pode
decorrentes de síncopes, acidentes
contribuir para a deflagração de quadros de
vasculares encefálicos, convulsões,
ansiedade ou depressão.
acidentes inevitáveis e da prática de
exercícios de alta intensidade.

Esse é um evento de etiologia multifatorial,

abrangendo interações entre vários fatores
de risco, sendo os principais o sexo feminino,
a idade avançada, ocorrência de tontura, uso
de múltiplas medicações (polifarmácia),
declínio cognitivo, doenças crônicas
comorbidas, baixo condicionamento físico,
histórico de quedas e contato constante com
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
FATORES DE RISCO PARA QUEDAS:

A maior parte das quedas é um produto da

interação entre individuais (intrínsecos) e
ambientais (extrínsecos). Os primeiros
incluem a idade, o número de quedas
anteriores, a redução da acuidade visual,
tontura, presença de distúrbios do equilíbrio Já tendo sido estabelecidos os preceitos que
e da marcha, lesões prévias do sistema favorecem um indivíduo a cair, algumas
nervoso, doenças do aparelho locomotor e condições e ações podem contribuir para o
comprometimento dos mecanismos desenvolvimento de lesões, como: ausência
reguladores da pressão arterial (favorecem a (ou lentidão) nos reflexos protetivos; baixa
ocorrência de hipotensão postural). densidade mineral óssea; desnutrição; idade
Os fatores extrínsecos, por sua vez, dizem avançada; estado físico (resistência e
respeito às condições da superfície na qual maleabilidade) da superfície-alvo; e
se deambula, à iluminação local, à altura e dificuldade para se reerguer do solo.
espessura de degraus, e a escadas sem
corrimão e a calçados inapropriados, bem
como a fatores “mínimos”, como sapatos
inapropriados (sem “contenção” para o pé),
tapetes dobrados ou soltos, e a presença de
objetos pelo caminho. O uso de certas
medicações, como benzodiazepínicos,
antidepressivos, antipsicóticos,
anticonvulsivantes e antiarrítmicos também
pode justificar a ocorrência desses
fenômenos.

As quedas entre indivíduos que moram em
instituições de longa permanência, como
asilos, decorrem de distúrbios da marcha e
do equilíbrio, vertigem e confusão mental,
enquanto pessoas da comunidade tendem a
cair por muito mais fatores, como problemas
no ambiente, fraqueza ou distúrbios do
equilíbrio e da marcha, tontura ou vertigem,
alteração postural ou hipotensão ortostática,
lesões ao sistema nervoso, síncope e outras
múltiplas causas. No ambiente hospitalar,
tais eventos são ainda mais comuns,
decorrentes da alteração do estado de
consciência, uso de medicações e de
limitações da mobilidade (seja por
incapacidade de se levantar ou por restrição
à eliminação fisiológica no leito).
Quando a queda tem impacto direto no
quadril ou na articulação do punho, a
ocorrência de fraturas é quase certa. Se
“superfícies intermediárias variadas
estiverem dispostas na rota do paciente, o
risco de fraturas diminui, de forma
semelhante àqueles indivíduos capazes de
segurar-se em alguma estrutura.
COMPLICAÇÕES DECORRE NTES DE QUEDAS:
As quedas representam 2/3 de todas as
mortes acidentais na população idosa, sendo
que a maior parte destas ocorre em
indivíduos com mais de 65 anos, em
decorrência das complicações do evento.
Condições letais diretamente associadas ao
ato de cair são raras, acometendo “somente”
2 a cada mil indivíduos na velhice a cada
ano, proporção esta que tende a se elevar
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
com a idade, de forma mais evidente em auxílio. Esse grupo é mais propenso à
homens do que em mulheres. Quase todas desidratação, pneumonia, úlceras de
as mortes são consequentes à fratura de decúbito e rabdomiólise e tendem a ser mais
fêmur proximal. velhos e mais frágeis que os pacientes que
se levantam sem ajuda, sofrendo com maior
O desenvolvimento de lesões após uma risco de mortalidade e déficit funcional.
queda é algo comum, afetando até mesmo ¾
de todas as vítimas. No geral, esses
ESCALAS DE CLASSIFICAÇÃO DO RISCO E
acometimentos possuem baixa gravidade, AVALIAÇÃO DE QUEDAS:
de forma que a procura por atendimento
É importante separar os idosos com histórico
médico é reduzida. As fraturas representam
de queda no último ano (idosos caidores)
o desfecho mais comentado, porém apenas
daqueles que não caíram (idosos não
estão presentes em 10% dos acidentes. O
caidores). Os primeiros podem ser divididos
risco para a ocorrência de traumas diversos
de acordo com a frequência com que as
é maior para quedas externas ao domicílio, o
quedas ocorrem, sendo únicos quando há
que pode estar correlacionado ao aumento
apenas um evento isolado, dificilmente
do engajamento da população senescente
associado a causas de base intrínseca, ou
em atividades físicas e sociais, ou também
recorrentes, com histórico de dias ou mais
às condições precárias de acessibilidade nas
quedas em 12 meses, muito mais atreladas
vias públicas e estabelecimentos comerciais.
a causas intrínsecas.
As consequências desses eventos podem
Não há um único teste físico ou funcional
ser mais sutis, porém não menos sérias que
que, aplicado isoladamente, possa prever o
aquelas de acometimento físico, como é o
risco de queda com boas sensibilidade e
caso da já mencionada síndrome do medo
especificidade e bom valor preditivo. Assim,
de cair, que afeta de 30 a 73% dos idosos.
deve ser utilizado um conjunto de testes de
Um aspecto interessante é que a perda
mobilidade, força muscular, coordenação e
funcional e a restrição da execução de
marcha. A escala de risco de quedas de
atividades decorrente desse transtorno não
Downton é um instrumento de rápida
se limita àqueles idosos que já
aplicação para o avaliador determinar o risco
experimentaram tal tipo de acidente, como
de quedas diante de sinais físicos e mentais
também pode afetar pessoas saudáveis,
apresentados pelo idoso em questão. A
com história negativa de tais fenômenos.
pontuação igual ou superior a 3 indica alto
A perda de confiança na capacidade de risco de quedas.
andar de forma segura sem apoio pode
aumentar o prejuízo funcional, a depressão,
os sentimentos de inutilidade e o isolamento
social. Salienta-se que esse medo pode ser
tanto situacional (aversão à atividade
realizada no momento do trauma) ou geral
(impedimento à realização de qualquer
exercício por receio de se lesionar
novamente)

Após uma queda, até metade dos indivíduos

mais velhos, mesmo que não tenham sofrido
lesões, podem não conseguir levantar sem
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Em idosos que residem na comunidade, são

utilizados com maior frequência o “timed up
and go test”, o step test, o teste de sentar e
levantar da cadeira e o short physical
performance battery. Para idosos
institucionalizados, as escolhas
normalmente recaem sobre o POMA Brasil e
a escala de equilíbrio de Berg.

O Performanceoriented mobility assessment

(POMA), é um instrumento de avaliação
funcional do equilíbrio e da marcha que
avalia o desempenho em tarefas da vida
diária. No teste de equilíbrio, o total de
pontos é 39, que, somados aos 18 pontos de
marcha, totalizam um escore máximo de 57
pontos. O ponto de corte que representa Para avaliação da percepção de autoeficácia
risco de quedas ainda não é bem e do medo de cair, é utilizada a falls eficacy
scale, FESI Brasil. O ponto de corte para
estabelecido.
categorização de um idoso como caidor é 23
pontos, com um escore superior a 31 pontos
significando forte associação com quedas
recorrentes.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

A escala de Morse, aplicável para adultos

com mais de 18 anos, é composta por seis
itens, sendo que para os 4 primeiros as
respostas são dicotômicas, e nos 2 últimos,
baseada na avaliação de descritores. É
atribuída uma pontuação de 0 a 30 pontos às
respostas identificadas como sim ou não e
aos descritores para cada item.

A pontuação total dessa escala varia entre 0

e 125 classificando as pessoas de acordo
com o nível de risco de queda. Assim,
considera-se que a pessoa não tem qualquer
risco se o escore for inferior ou igual a 24. Se
esse valor estiver compreendido entre 25 e
50, considera-se que a pessoa tem um risco
baixo de queda, devendo ser implementadas
medidas padrão de prevenção, e, por fim,
A escala STRATIFY, empregada para caso os resultados sejam iguais ou maiores
pacientes hospitalizados, adultos ou idosos, que 52, o indivíduo apresenta risco elevado,
é constituída por cinco perguntas diretas, sendo alvo de medidas intensas, aplicadas à
respondidas com sim ou não. No entanto, realidade de cada centro de saúde.
para a última pergunta, a estratificação dos
pontos se dá por meio da fusão entre duas
questões de um índice de mensuração da
mobilidade, em relação, respetivamente, à
capacidade do doente em se transferir da
cama para uma cadeira (0 a 3, descrevendo
um espectro de incapacidade à
independência) e ao nível de mobilidade do
doente (0 a 3, novamente polarizando
incapacidade e independência).

Sua pontuação é obtida com base na soma

das respostas de todas as perguntas,
oscilando entre zero e cinco. Uma pontuação
igual a 0 corresponde a um risco baixo, igual
a 1 determina um risco moderado e, por fim,
superior ou igual a 2 expressa um risco
elevado.

FORMAS DE PREVENÇÃO DE QUEDAS
POPULAÇÃO IDOSA:
As principais complicações das quedas são
lesões de partes moles, hospitalização,
longos períodos de restrição ao leito,
institucionalização, aumento do risco de
iatrogenia, fraturas, hematoma subdural,
incapacidade e morte.
De forma a evitar esses desfechos, algumas
medidas práticas, com alto potencial de
implementação doméstica podem auxiliar na
prevenção de quedas, como:
 Utilização de órteses sempre que
necessário;
 Prescrição cuidadosa de medicamentos,
evitando a automedicação;
 Uso de calçados com solado
antiderrapante, com uma restrição
traseira para o movimento dos pés.
Saltos altos e chinelos frouxos não são
recomendados, assim como o uso de
tênis com cadarços;
 Uso de calçadeiras para evitar
hipotensão postural;
 Adaptação dos ambientes de convívio
(domésticos, públicos e políticos):
o Acondicionamento de materiais de uso
frequente, como alimentos
cosméticos em locais de fácil acesso,
evitando o uso de escadas;
o Reorganização do interior
residência, com aprovação do idoso e
dos familiares;
o Remover tapetes do ambiente
doméstico, ou fixa-los firmemente ao
solo;
o Manter sempre uma luz ligada durante
a noite, para iluminar a passagem
entre cômodos;
o Sugerir a colocação de
diferenciador de degraus nas escadas
bem como iluminação adequada da
mesma, corrimãos bilaterais e retirada
de tapetes em ambientes com grande
circulação de pessoas;
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
NA o Instalação de pisos antiderrapantes e
barras de apoio em banheiros;
o Tomar banho sentado no chuveiro,
evitando o uso de banheiras;
o Não trancar a porta do banheiro.
A implementação de um programa de
exercícios com foco na força muscular e no
equilíbrio, elaborado individualmente, é uma
alternativa terapêutica para a redução do
risco de quedas. A prática de Tai Chi pode
também favorecer a mudança da postura e
permitir o alinhamento do eixo do corpo,
minimizando a possibilidade de quedas com
menor impacto articular.
Embora as alterações na visão sejam um
fator de risco estabelecido para quedas,
ainda não há estudos que correlacionem a
correção dessas alterações com a menor
ocorrência de quedas, com exceção para a
primeira cirurgia de catarata.
e
PROBLEMA 2 - ABERTURA:
PREVENÇÃO E COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO
da ARTERIAL SISTÊMICA E DA DIABETES MELLITUS NO
IDOSO:
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA:
A manutenção crônica de níveis pressóricos
elevados pode levar à lesão de vasos por
espessamento de suas paredes, oclusão do
lúmen ou ruptura, reduzindo o fluxo
um sanguíneo para órgãos-alvo (coração, rins e
cérebro), o que, por sua vez, aumenta o risco
de desenvolvimento de distúrbios
complexos, como infarto agudo do miocárdio
ou acidente vascular cerebral.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
alteração entre gasto energético e oferta,
levando à isquemia miocárdica.

IMPACTOS DA HIPERTENSÃO AO CÉREBRO:

ACOMETIMENTOS CARDIOVASCULARES:
No que se refere a acometimentos arteriais,
a elevação pressórica torna a passagem do
sangue lesiva ao vaso, que é desgastado.
Com esse evento, partículas de colesterol
LDL e marcadores inflamatórios passam a
ser atraídos para o local por meio de uma
retroalimentação positiva, depositando-se
abaixo da luz vascular. Essas áreas
danificadas tendem a aumentar cada vez
mais, até ocluir totalmente o espaço
destinado à circulação ou romper o
endotélio, liberando trombos para a corrente
sanguínea.
O cérebro é especialmente vulnerável aos
impactos da hipertensão, seja ela crônica ou
de surgimento repentino (crises). O
acometimento mais encontrado é o
microaneurisma de Charcot-Bouchard
(dilatação das artérias lenticulares) que, caso
não seja revertida, pode levar ao surgimento
de ilhas com diminuição da substância
branca.

Microinfartos silenciosos também são

recorrentes, detectados apenas pelo
aumento de sua extensão, que causa
sintomas degenerativos progressivos, como
demência, sendo possível detectar os focos
O principal impacto da HAS sobre o coração por meio de exames de imagem, como a
é a hipertrofia de suas fibras musculares, tomografia computadorizada.
espessando as paredes do ventrículo
esquerdo, que se tornam mais pesadas e
detentoras de menor espaço para reserva
sanguínea. Este aumento de massa não
ocorre de forma coordenada com a elevação
da capacidade circulatória das coronárias,
por vezes já afetadas por bloqueios parciais
induzidos pela aterosclerose, o que acarreta
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
COMPLICAÇÕES RENAIS DA HIPERTENSÃO:
Os rins são fortemente impactados pelo
aumento da pressão arterial. Os glomérulos,
unidades funcionais dos rins, apresentam
estrutura extremamente fina, o que faz com
que qualquer elevação nos valores
pressóricos locais possa ser danosa
(hipertensão glomerular), diminuindo a
função renal de forma silenciosa e lenta,
porém progressiva.
O principal achado é o aumento na excreção
de albuminas, diminuindo a função de
filtração renal, que pode evoluir, caso
intervenções não sejam tomadas em tempo
hábil, na insuficiência o órgão. Essas lesões
podem ser ainda amis intensas e ocorrer
mais cedo em pacientes com diabetes
comorbida.
RETINOPATIA HIPERTENSIVA:
A prevalência de lesões na retina cresce com
o aumento da pressão arterial. Com o
aumento crônico desses níveis, os vasos
sanguíneos presentes na retina tornam-se
mais espessos, com hiperplasia da túnica
médica e degradação dos fluidos oculares,
dando origem a retinopatia hipertensiva, que
progride até que a vasculatura seja
totalmente invadida por acúmulos lipídicos e
pontos de espessamento.
CRISE HIPERTENSIVA:
Crises hipertensivas podem ocorrer em
pacientes não controlados (PA basal maior
ou igual a 140x90 mmHg), seja pela não-
adesão ao tratamento, devido a interações
medicamentosas entre anti-hipertensivos e
outros fármacos, pela resistência em adotar
mudanças nos hábitos de vida (dieta
hipossódica, prática de atividades físicas e
redução no consumo de álcool) ou pelo
ganho repentino de peso. Esse quadro
corresponde a uma emergência, uma vez
que a velocidade excessiva de circulação do
sangue (PA acima de 180x120 mmHg) pode
acabar por romper alguma estrutura
vascular, resultando em graves hemorragias.
Dessa forma, é necessário atentar-se aos
sinais de alerta:
 Cefaleia intensa;
 Perda de consciência;
 Dor torácica;
 Náuseas e/ou vômitos;
 Tontura;
 Alterações visuais;
 Taquicardia.

PREVENÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
COMPLICAÇÕES:
De forma a evitar todos os desfechos
negativos, o paciente deve ser orientado a
realizar consultas de rotina para avaliação da
pressão arterial e eventual alteração
terapêutica. Nesse momento, podem ser
solicitados um hemograma (avaliação da
função renal), uma urinálise e um
eletrocardiograma, de forma a observar
possíveis cardiopatias comorbidas.
DIABETES MELLITUS:
A Diabetes Melitus (DM) é uma disfunção
metabólica crônica caracterizada por
hiperglicemia e elevadas concentrações de
hemoglobina glicada, podendo ou não serem
acompanhadas por glicosúria.
manifestação mais comum em idosos
corresponde ao DM tipo 2, associado a um
quadro de resistência tecidual à insulina.
COMPLICAÇÕES AGUDAS:
Ainda que o maior destaque seja associado
a quadros crônicos (que serão explanados
posteriormente), a DM pode originar
disfunções agudas, correlacionadas à maior
dificuldade de acesso da glicose às células.
Os principais desfechos são a hipoglicemia,
a cetoacidose diabética, e o coma
hiperosmolar.
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS:
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
DE Quadros crônicos de aumento da
concentração plasmática de glicose é
responsável por lesões e quadros de
insuficiência em múltiplos órgãos, com
destaque para o coração, vasos sanguíneos,
olhos, rins e nervos, impactos que podem ser
classificados como neuropáticos, micro e
macrovasculares. Até mesmo pacientes
recém-diagnosticados podem manifestar
esses efeitos, uma vez que eles podem se
desenvolver sem a ocorrência dos sintomas
clássicos (poliúria, polifagia, polidipsia e
perda de peso).
A
As complicações cardiovasculares são,
como mencionado anteriormente, os
desfechos mais comuns dessa doença,
sendo os idosos ainda mais propensos ao
quadro em decorrência da aterosclerose,
comum nessa população. A ocorrência de
distúrbios visuais, bem como de
incontinência fecal e urinária, é maior entre a
população diabética na terceira idade,
quando em comparação com indivíduos
saudáveis do mesmo grupo etário, sendo a
relação com o primeiro acometimento ligada
ao desenvolvimento de glaucoma, catarata e
retinopatias hipertensivas.
Os principais fatores de risco associados ao
desenvolvimento de tais condições são o
consumo de álcool e tabaco, o controle
precário das taxas metabólicas, histórico de
complicações, HAS comórbida e a longa
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
duração da doença. Assim, para evitar a
possibilidade de ocorrência desses
fenômenos, o paciente diabético deve ser
acompanhado anualmente a partir do
diagnóstico, momento no qual identificam-se
incorreções no tratamento ou lhe são feitos
ajustes.
RETINOPATA DIABÉTICA (MICROVASCULAR):
A retinopatia diabética é uma das principais
causas de cegueira, com início de suas
manifestações normalmente ocorrendo após
o 5º ano do surgimento da doença, podendo
afetar 60 a 80% dos pacientes com 15 ou
mais anos convivendo com a DM. Dentre os
fatores de risco para o surgimento dessa
complicação encontram-se a já mencionada
duração da doença, o controle inadequado
dos níveis glicêmicos.
Esse quadro pode apresentar-se em três
tipos distintos: retinopatia não proliferativa,
pré-proliferativa e proliferativa. Na primeira
fase, microaneurismas podem ser vistos na
fundoscopia de olho, cujo número pode
predizer a progressão do acometimento
local. A ocorrência de vazamento de
lipoproteínas ou líquido seroso na região da
mácula pode dar origem a um quadro de
edema, com comprometimento da visão
central. Em etapas mais avançadas,
caminhando para a proliferação, é possível
observar pontos algodoados na retina,
decorrentes de infartos A presença de
pontos algodoados (exsudatos moles)
devido a infartos. Além desse acometimento
oftalmológico, percebe-se que a prevalência
de catarata é duas vezes maior em pacientes
diabéticos do que em indivíduos saudáveis.
NEFROPATIA DIABÉTICA E INSUFICIÊNCIA RENAL
(MICROVASCULAR):
A retinopatia diabética e a nefropatia
apresentam os mesmos fatores de risco para
seu surgimento, no entanto, a HAS destaca-
se por apresentar papel determinante para o
desenvolvimento e progressão desse último
quadro.
O tratamento da hipertensão com inibidores
da enzima de conversão da angiotensina
(IECA) impedem a progressão da nefropatia
diabética, o que também pode ocorrer por
meio de bloqueadores dos receptores de
angiotensina (ARB), tanto em pacientes com
DM tipo 1 como tipo 2. Os benefício de
ambos os medicamentos citados
independem de sua capacidade reguladora
da pressão arterial.
No ocidente, o estágio final da insuficiência
renal tem como principal causa a DM2, uma
vez que a nefropatia diabética pode ser
clinicamente assintomática por mais de 10 a
15 anos, evoluindo gradualmente para
manifestações de maior gravidade.
A microalbuminúria age como um bom
marcador para o monitoramento da doença,
devendo ser dosada inicialmente no
momento do diagnóstico, com repetição
anual para comparação dos valores. Por
vezes a nefropatia em idosos pode ter outras
causas, sendo necessário afastá-las de
forma a proporcionar um melhor tratamento.
Assim como a microalbuminúria, a creatinina
sérica deve ser avaliada a cada ano,
representando outro importante fator para a
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
determinação da taxa de filtração glomerular.
A dosagem de creatinina também deve ser
realizada anualmente.
MACROANGIOPATIAS (MACROVASCULAR):
As complicações macrovasculares
associadas a lesões no coração, cérebro e
membros inferiores estão associadas ao
processo de aterosclerose, que é deflagrado
em idosos pelo acúmulo de fatores
predisponentes. Mesmo que seja mais
comum nesse grupo, indivíduos senescentes
portadores de DM são de 2 a 4 vezes mais
prováveis de desenvolver alguma doença
cardiovascular, dobrando novamente caso
ele seja um homem, e de 3 a 4 vezes, em
mulheres.
Somente a de hiperglicemia pós-prandial já
representa um fator de risco isolado para
mortalidade por todas as causas acima
citadas. Esse momento de elevação pode
preceder a fase sintomática do quadro,
promovendo lesões vasculares decorrentes
do aumento agudo da glicosilação das
proteínas reguladoras da circulação, que
também geram espécies reativas de
oxigênio, promovendo quadros de
vasoconstricção e profundos danos
celulares, como a ativação da coagulação, o
aumento da expressão de moléculas de
adesão endotelial e a maior formação de
colágeno. Esse conjunto de fatores não só
altera a estrutura vascular, como também dá
início a processos inflamatórios,
hipercoagulabilidade e alterações
plaquetárias.
Pacientes diabéticos têm maior
probabilidade de desenvolver um quadro de
infarto agudo do miocárdio, apresentando
também um pior prognóstico que indivíduos
saudáveis. A mortalidade nesses grupos
também é elevada devido à maior incidência
de insuficiência cardíaca, infarto recorrente e
arritmias. A doença arterial periférica
também se enquadra como um distúrbio
associado à DM, manifestando-se como
aneurisma aórtico, isquemia aguda dos
membros ou gangrena de membros
inferiores.
NEUROPATIA DIABÉTICA:
A neuropatia apresenta diversas formas de
apresentação, porém a mais frequente é a
polineuropatia distal simétrica, que afeta as
fibras sensoriais e motoras. O paciente
diabético deve ser investigado para o
surgimento desse acometimento, uma vez
que ele é bastante frequente e, por vezes,
assintomático, elevando o risco lesões nos
pés, graças à redução de sensibilidade.
A neuropatia autonômica representa um
importante marcador para doenças
cardiovasculares e também um grande fator
de risco para quedas. Normalmente, essa
manifestação é observada junto a neuropatia
periférica, compondo um quadro de
hipotensão ortostática, aumento de
frequência cardíaca, diarreia diabética,
bexiga neurogênica e impotência. A forma
mais comum, no entanto, é a neuropatia
simétrica sensitivo-motora distal.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Essa é a complicação mais comum do DM,
gerando um conjunto de sintomas que
interferem na regulação dos sistemas
nervoso periférico sensitivo, motor e
autonômico, podendo acometer múltiplos
filamentos neurais ou apenas um feixe, ser
aguda ou crônica ou demonstrar ou não uma
sintomatologia.
comuns dentre diabéticos do que em relação
a população geral.
Na maior parte dos casos, o grau de
comprometimento da região é associado a
um quadro prévio de neuropatia diabética, no
qual o portador não sente suas extremidades
que podem ser afetadas por feridas de longa
cicatrização, ulcerando facilmente o local.
Infecções associadas ao quadro são outro
ponto de preocupação, pois aumentam o
risco de desenvolvimento de gangrena e a
necessidade de amputação.

As consultas de rotina devem ser ainda mais

Os principais sintomas associados a esse
quadro são:
detalhada em pacientes com DM 2, com
maior enfoque nos pés, realizando o teste de
sensação protetora plantar, que pode facilitar
a identificação de verificação de indivíduos
em risco de ulceração.

 Dores contínuas e constantes;

 Sensação de queimação e ardência;
 Formigamento;
 Dores espontâneas repentinas, sem
causas aparentes;
 Exacerbação da dor em decorrência de
estímulos pequenos ou não dolorosos.
De forma geral, cerca de 40% dos pacientes
diabéticos apresentam alguma forma de
neuropatia. Ainda nesse grupo, quase 60%
dos portadores de DM desenvolve a
neuropatia após 25 anos ou mais de
diagnóstico.

PÉ DIABÉTICO:

O pé diabético representa uma das mais

impactantes complicações acarretadas pela
DM, gerando, na maioria das vezes,
amputações não traumáticas, 15 vezes mais
PREVENÇÃO CONTRA O DESENVOLVIMENTO DE
COMPLICAÇÕES:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Medidas preventivas podem ajudar
globalmente o paciente diabético, tendo
como principais pontos a interrupção do
fumo, o tratamento da hipertensão, da
obesidade e da dislipidemia, iniciar o
tratamento com ácido acetilsalicílico e adotar
a prática de exercício físico. O tabagismo
contribui para a elevação do (já aumentado)
risco cardiovascular para diabéticos. Além
disso, aumenta o risco de aparecimento
prematuro de nefropatia e neuropatia.
A obesidade e a retenção hídrica
apresentam grande relevância na
fisiopatologia da hipertensão diabética, o que
faz com que medidas não farmacológicas
como redução do peso, implementação de
uma dieta hipossódica, exercício e controle
no consumo de álcool podem ser efetivas.
Nos diabéticos, as dislipidemias mais
encontradas, em geral, são a algodão;
hipertrigliceridemia (redução do HDL em
decorrência do aumento do LDL), distúrbio
que apresenta a mesma prevalência entre
diabéticos e não diabéticos). O tratamento
inicial da dislipidemia baseia-se em dieta,
perda de peso, prescrição de exercícios
físicos e melhora do controle da glicemia.
Nas situações nas quais os objetivos de
contenção e prevenção não são obtidos, a
intervenção medicamentosa deve ser
instituída, optando por estatinas como
agentes de escolha.
Idosos já são aconselhados a observar a
ocorrência de eventuais sintomas
cardiovasculares, uma vez que o risco para
o desenvolvimento de doenças desse
aparelho é ainda maior dentre pacientes na
terceira idade, ainda mais dentre diabéticos.
A maior parte dos distúrbios microvasculares
pode ser evitada, retardada ou revertida por
um rígido controle glicêmico, buscando por
valores próximos à normalidade tanto em
jejum como no período pós-prandial,
espelhados pela hemoglobina glicosilada.
No combate ao desenvolvimento do pé
diabético, boa parte das medidas preventivas
se baseia na orientação da população,
podendo ser feitas em domicílio. No entanto,
é necessário que esse paciente sempre
esteja sendo avaliado pela equipe de saúde
local, de forma a avaliar pequenas evoluções
que talvez passassem despercebias. Ao
paciente, orienta-se que:
 Os pés sejam examinados diariamente;
 Sejam detectados calos, rachaduras ou
ulcerações e avisados ao
médico/enfermeiro responsável de forma
rápida, para impedir o avanço das lesões;
 Sejam usadas meias sempre limpas e de
 Seja dada preferência a calçados
confortáveis e macios, com ausência de
cadarços (sempre amaciá-los em casa);
 O paciente evite andar descalço em casa;
 Lave seus pés diariamente, com água
morna e sabão neutro, secando muito
bem os espaços interdigitais.
 Uso de hidratantes atópicos;
 As unhas sejam cortadas,
horizontalmente e de forma uniforme.
CONSULTAS GERONTOLÓG ICAS NA ATENÇÃO
BÁSICA:
A avaliação abrangente do estado de saúde
de um idoso exige sensibilidade em relação
às preocupações dos pacientes, atenção
para os detalhes de possíveis múltiplos
processos clínicos simultâneos,
comunicação com a equipe multidisciplinar e,
por vezes, muita paciência. No atendimento
ao idoso, o progresso terapêutico é
observado mais lentamente, e os métodos
de diagnóstico podem ser diferentes ou mais
sutis que em adultos jovens. De forma geral,
esse processo é fruto da inter-relação entre
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
indícios físicos, características psicológicas
e do contexto socioeconômico do paciente,
tendo a capacidade funcional deste como
elemento central.
AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA:
A avaliação geriátrica ampla (AGA) é um
mecanismo multidimensional para o
diagnóstico de déficits ou habilidades de um
idoso, mensurados por meio dos pontos de
vista médico, psicossocial e funcional.
Caracteriza-se como ampla por contemplar
todas as dimensões do bem-estar individual
de uma só vez, diferindo de um simples
atendimento ao se concentrar na população
mais frágil, por depender de um contato
constante com a equipe interdisciplinar, e ao
enfocar o estado funcional do indivíduo e sua
qualidade de vida. O uso de escalas de
avaliação é um dos fatores que assegura a
conexão entre os membros da equipe,
promovendo uma maior capacidade de
interpretação e comparação dos dados
obtidos ao longo do tempo de contato.
A AGA pode ser feita pelo médico em seu
consultório, mas pode apresentar resultados
ainda melhores ao ser conduzida, pela
equipe interdisciplinar, nos diferentes locais
de atendimento ao idoso, com ampla
reprodutibilidade na atenção básica. Os
objetivos principais desse método são a
formulação de um diagnóstico global, o
desenvolvimento de planos terapêuticos e de
reabilitação, e o melhor gerenciamento de
recursos. As principais áreas a serem
analisadas são as doenças crônicas, a
função física e mental e as condições sociais
e familiares. A avaliação clínica detalhada
faz parte desse processo, sendo necessária,
portanto, a realização de anamneses e
exames físicos ricos em detalhes.
Três grandes domínios foram estruturados
pela OMS de forma a delimitar os pontos a
serem conceituados numa avaliação
geriátrica ampla, a saber:
 Deficiência: comprometimento de partes
do corpo, aparência ou função de um
órgão/sistema;
 Incapacidade: perda ou diminuição na
aptidão em determinada habilidade;
 Desvantagens: restrições ou perdas
sociais/ocupacionais vivenciados por
uma pessoa, implicando em
dependência.
ANAMNESE:
A anamnese geriátrica apresenta
especificidades relativas à faixa etária dos
pacientes, como restrições na comunicação
e risco de coleta de dados pouco confiáveis.
A existência de indivíduos poliqueixosos
pode dificultar o fluxo do atendimento, da
mesma forma que pessoas que omitem ou
não detalham adequadamente os sintomas
(seja por medo ou déficit cognitivo) podem
interferir na formação de uma hipótese
diagnostica.
De forma a superar tais empecilhos, a
adoção de técnicas como interrupção de
ruídos do ambiente, fala lenta e com tom
mais grave, manutenção da atenção sempre
voltada para o paciente e iluminação
adequada podem ser úteis.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

A coleta de dados sobre queixa principal e

interrogatório sintomatológico é ainda mais
importante em pacientes geriátricos, pois
múltiplas doenças evoluem de forma sutil ou
com sintomatologia distinta da manifestada
em adultos, sendo necessária a composição
de um bom arcabouço de informações.
Alguns sintomas podem ser destacados
como pontos-chave para o diagnóstico de
doenças muito prevalentes ou de fortes
impactos ao bem-estar, como é o caso da
angina, incontinência urinária, esquecimento
ou síncope.

A compreensão do ambiente
socioeconômico do paciente e de sua
capacidade funcional apresentam papel
crucial na determinação do impacto potencial
de uma doença para a saúde global do idoso.
Nesse aspecto, torna-se importante a
avaliação dos anseios e sentimentos dos
familiares, principalmente quando o paciente
encontra-se fragilizado. Esse contato visa
principalmente orientar tal grupo acerca dos
cuidados necessários e das possibilidades
de recuperação, de forma a gerar cuidadores
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
comprometidos com a recuperação do muitas apresentando fortes impactos à
paciente. qualidade de vida do paciente.

Pacientes senescentes apresentam um

extenso histórico médico, assim como
podem frequentemente fazer uso de uma
grande lista de medicamentos. Esses dois
aspectos devem ser prontamente
registrados no prontuário do paciente, pois
podem colocar em perspectiva os sintomas
referidos elo paciente, elaborando
associações entre possíveis etiologias, além
de permitir que o planejamento terapêutico
seja feito de forma individualizada,
minimizando o risco de interações
medicamentosas e estimulando a adesão ao
tratamento.

EXAME FÍSICO:

Alguns aspectos do exame físico são

particularmente importantes na população
geriátrica, como a avaliação da acuidade
visual e auditiva e a análise da marcha e do
equilíbrio, aspectos que, se alterados,
podem ser compensados ou revertidos,
melhorando a qualidade de vida do paciente.
A palpação abdominal cuidadosa é capaz de
indicar quadros graves, como o aneurisma
aórtico, que pode necessitar de intervenções
cirúrgicas para ser corrigido
adequadamente. O exame do estado mental AVALIAÇÃO FUNCIONAL:
é especialmente relevante, podendo detectar
A capacidade funcional individual deve
precocemente quadros demenciais.
sempre ser um ponto de destaque para a
A interpretação de exames laboratoriais deve avaliação de pacientes geriátricos, pois esse
ser feita atentamente, correlacionando os parâmetro pode interferir da mesma forma,
parâmetros observados na anamnese e no ou até mesmo de modo mais severo, no
exame físico com os resultados numéricos bem-estar do paciente do que aspectos
dos exames. Um vício que deve ser relacionados diretamente ao mecanismo de
superado é atribuir resultados anormais à saúde-doença.
“idade avançada”. Enquanto é verdade que
achados anormais são comuns em pacientes
geriátricos, poucos refletem realmente
alterações do envelhecimento. Assim, a
interpretação descuidada de um parâmetro
laboratorial pode causar o subdiagnóstico ou
subtratamento de condições diversas,

A função pode ser mensurada e expressa de
forma similar a uma equação matemática, o
que permite sistematizar sua avaliação.
Desse modo, é possível descrevê-la como:
As barreiras ambientais podem ser físicas,
que impedem o funcionamento ideal de
pessoas com restrições de mobilidade ou
pouca força muscular e psicológicas,
principalmente associadas à aversão ao
risco, tendo ela partido do próprio paciente
ou de seus familiares e cuidadores. Ambas
podem, caso não removidas ou frente à não
adaptação individual, diminuir
independência do idoso.
Para determinar a função do paciente, ele
deve ser avaliado conforme a capacidade de
desempenhar diversas atividades básicas e
cotidianas. As informações podem tanto ser
fornecidas pelo idoso como por seu cuidador,
havendo melhor acuidade caso seja possível
observar a execução em tempo real. Há,
para classificar o desempenho, três graus de
dependência:
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Capacidade de realizar as tarefas sem
assistência humana (entram nesse grupo
os pacientes que fazem uso de auxílio
físico, mas mantêm sua independência);
 Capacidade de realizar tarefas com certo
grau de assistência humana;
 Incapacidade total de realizar tarefas,
mesmo que com assistência.
A avaliação cognitiva funcional permite que
quadros demenciais e depressivos sejam
detectados com mais rapidez e precocidade,
uma vez que são causas relevantes de
aumento da dependência e
institucionalização em idosos. O
desempenho físico e social é dependente
dos resultados de cognição, justificando a
necessidade da análise constante desse
fator. Existem várias escalas para avaliar o
estado cognitivo, sendo a mais utilizada o
a
Mini-exame do Estado Mental (MEEM). A
escala de depressão geriátrica (GDS) é uma
das mais utilizadas para detectar quadros
depressivos em idosos, porém, o diagnóstico
não deve ser unicamente pontuado nos
resultados dessa investigação.
Também são de fundamental importância
para determinar a funcionalidade dos idosos
as informações sobre o estado nutricional
dos pacientes, uma vez que esses dados
refletem sua condição geral de saúde. No
entanto, como essa comunidade é bastante
heterogênea, a uniformização dos
parâmetros analisados é afetada, sendo
necessário avaliar tais resultados
individualmente. à desnutrição, porém essa
influência é limitada por múltiplos outros
fatores.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
As medidas antropométricas fazem parte da
avaliação nutricional, e, com base nelas, é
possível calcular o índice de massa corporal
(IMC), obtido por meio da razão entre a
massa e o quadrado da altura. Para idosos,
as faixas de resultados e seus significados
diferem daquelas destinadas aos adultos,
sendo expressas abaixo:
 Normal: de 22 a 27 kg/m2;
 Sobrepeso: > 27 a 29,9 kg/m2;
 Obesidade: > 30 kg/m2.
A medida da circunferência abdominal
também é bastante importante, sendo que
valores maiores que 94 cm nos homens e
superiores a 80 cm nas mulheres são
considerados marcadores de risco para
doenças cardiovasculares. Valores mais
altos, como 102 cm em homens e 88 em
mulheres, denotam risco elevado para
hipertensão, diabetes e dislipidemia.
Como parâmetro para avaliação de massa
muscular e da sarcopenia, é utilizada a
medida da panturrilha (deve ser maior ou
igual a 31 cm). Essa investigação é
relevante, pois a sarcopenia reduz as
condições para a realização de tarefas de
uma vida independente e acarreta maior
possibilidade de quedas.
Um bom suporte social e familiar é capaz de
manter o idoso na comunidade e evitar a
institucionalização. Nesse sentido, o
isolamento social corresponde a um fator de
risco para a morbidade e a mortalidade. Por
ser mais difícil intervir no contexto social de
forma direta e eficaz, o médico pode acabar
ignorando esse aspecto, o que aumenta os
riscos de falha terapêutica. É necessário
considerar, como médico, a importância da
autopercepção do idoso, de seus anseios e
expectativas, pois assim e possível criar
planos de ação em conjunto com maior
especificidade, reconhecendo limitações e
potencialidades do paciente e de seu
entorno.
Um aspecto que nunca deve ser esquecido
nesse processo de avaliação é o estresse do
cuidador, que se dedica em tempo integral,
sem direito a descanso. A necessidade de
acompanhamento desse indivíduo se baseia
no fato de que um cuidador estressado não
conseguirá manter um bom padrão de
atendimento. De forma a promover o cuidado
adequado, o indivíduo deve ter períodos de
descanso e férias, além de treinamento
adequado, seja ele um membro da família ou
um cuidador terceirizado.
CONSEQUÊNCIAS PSICOS SOCIAIS DA
APOSENTADORIA:
O processo de envelhecimento é um
momento bastante heterogêneo, uma vez
que envolve opiniões e definições subjetivas
e pessoais acerca do que é de fato
envelhecer, mediada pelo autoconceito e
pelo impacto de experiências e pareceres
externos. Ocorre uma mudança de posição
da pessoa não só na sociedade, mas em
suas relações pessoais e familiares.
Tais alterações representam a tendência de
a comunidade “repelir” os idosos num
momento no qual esse grupo necessita de
apoio, seja pela diminuição de sua
capacidade funcional para o mercado de
trabalho ou pela incapacidade social de se
lidar com a velhice.
Nesse contexto, a aposentadoria supera a
condição de direito previdenciário, tornando-
se um momento crucial de ressignificação da
identidade, que abrange múltiplos processos
psicossociais. Há, por vezes, uma oposição
entre o sentimento de crise, com o
reconhecimento da passagem do tempo e a
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
perda da energia, e a sensação de liberdade
oriunda da alteração na rotina, o que cria
dois grandes modos de enxergar esse
período: com tensão e dificuldade de
adaptação ao novo momento; ou como uma
forma de intensificação das fontes de
satisfação, motivada pelo aumento do tempo
livre disponível.
A sociedade atual carrega de muito
significado o trabalho em razão de
representar uma fonte de recursos materiais
e de status social, além de ser uma ponte
para a inserção de um indivíduo em múltiplos
grupos sociais. Dessa forma, com a
desvinculação da atividade laboral, o idoso
pode enfrentar uma perda de suas
referências ou de sua identidade (passa a
ser inútil, incapaz de conquistar novas
oportunidades). É por isso que a
manutenção da autonomia durante toda essa
etapa de transição é fundamental.
Ainda é possível contribuir com a sociedade
mesmo após a aposentadoria, situação que
teve seu debate iniciado com a cunhagem do
termo “envelhecimento ativo”, que consiste
na maior inserção do indivíduo como ator
social, fornecendo-lhe mais oportunidades
de acesso à saúde e em segurança,
promovendo a manutenção ou o aumento da
qualidade de vida ao longo da velhice.
O risco de depressão nesta fase do
envelhecimento é elevado, havendo
destaque para alguns possíveis fatores
indutores, como a diminuição da renda
mensal e a perda do status de trabalhador. A
aposentadoria, associada ao desemprego, a
falta de cuidado, a perda conjugal, o abuso
de álcool e o baixo suporte social/familiar
também podem ser considerados como
possíveis causadores da depressão após a
aposentadoria.
ATIVIDADE FÍSICA NA TERCEIRA IDADE:
A qualidade de vida engloba o
desenvolvimento físico, social, psicológico e
espiritual dos indivíduos. O físico é definido
pela atividade funcional, força, cansaço e
outros sintomas. O bem-estar social está
relacionado à afetividade, entretenimento,
trabalho, situação econômica e sofrimento
familiar. O psicológico, por sua vez,
transparece por meio dos medos e
angústias, capazes de gerar doenças, e, por
último, o espiritual, que tem seu significado
baseado em aspectos como valor, sentido e
transcendência, seja intrínseca ou em
relação ao meio.
No envelhecimento, a qualidade de vida
pode ser associada à percepção e
expectativas individuais, tomando como
referência os aspectos já mencionados
anteriormente. Para o idoso, são importantes
os aspectos relacionados à cultura, valores e
metas a serem alcançadas, assim como
expectativas e preocupações em relação à
própria vida cotidiana.
A atividade física desempenha papel
importante na qualidade de vida,
apresentando papel central em múltiplas
atividades do programa Estratégia de Saúde
da Família (ESF) como forma de alcançar a
promoção da saúde e a prevenção de
doenças crônicas, garantindo à população
longevidade e bem-estar. A prática de
atividade física é um benefício indispensável
à saúde corporal e psicológica,
principalmente na terceira idade, quando a
capacidade funcional sofre declínio e surgem
múltiplas doenças.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O hábito da prática de atividade física
proporciona ao idoso um estilo de vida
saudável, mantendo sua autonomia e
liberdade para realizar tarefas cotidianas,
promovendo sua independência. Apresenta
relevância ao minimizar pontos negativos
ocasionados pelo envelhecimento em seus
processos fisiológicos e psicológicos,
minimizando riscos associados ao estresse,
depressão e perda da capacidade funcional.
A autoestima, decorrente das atitudes
positivas ou negativas do indivíduo perante a
si próprio, pode estar associada à qualidade
de vida dos idosos. Esse conceito relaciona-
se à autoimagem de forma interdependente,
e com o envelhecimento, há a tendência de
redução de ambas Nesse contexto, a prática
de dança pode suprimir desejos reprimidos,
além de permitir a fuga da solidão.
A ocupação do tempo livre por parte dos
idosos com atividades que propiciem prazer
mostra-se uma estratégia útil para minimizar
os efeitos do envelhecimento. Mesmo que
apresente benefícios físicos, como a
superação do sedentarismo, o aumento do
controle motor e o papel de controle para
doenças crônicas, a dança se destaca é no
aspecto social, representando uma
alternativa de ressignificação da idade e do
papel social do idoso, permitindo que ele crie
conexões com diversos membros de sua
comunidade.
Vista como exercício físico, a dança ajuda o
idoso a sair do isolamento que a
aposentadoria provoca no indivíduo, bem
como contribui para a independência social e
a autoestima, prevenindo possíveis doenças.
A dança é uma atividade física bem aceita
pelos idosos devido ao favorecimento de
relacionamentos e recordações pessoais,
apresentando uma grande riqueza de gestos
e movimentos.
PROBLEMA 2 - INTERMEDIÁRIA:
MODIFICAÇÕES DA PERCEPÇÃO SENSORIAL EM
IDOSOS:
Os sentidos (paladar, olfato, visão, audição e
olfato) são os mecanismos pelos quais o ser
humano percebe as informações e interage
com o meio ambiente. No envelhecimento,
da mesma forma que os demais sistemas do
organismo, os órgãos associados a essas
funções passam por mudanças, que podem
ser fisiológicas (senescentes) ou patológicas
(senis).
O enfrentamento desta perda de conexão
com o meio externo implica em sérios
impactos à qualidade de vida do idoso, seja
pela maior dificuldade em se relacionar com
familiares e amigos, ou pela perda da
capacidade funcional individual. Assim, a
avaliação geriátrica de pacientes com tais
déficits deve ter como principal motivador a
reabilitação desse grupo, de forma a
promover maior autonomia na velhice,
reconhecendo as novas limitações, assim
como seus impactos individuais, tanto no
paciente quanto em sua família.
PALADAR:
O paladar, junto ao olfato, apresenta grande
poder sobre o apetite, o consumo de
nutrientes e a escolhas alimentares, pois o
sabor prepara o organismo para todo o
processo de digestão, deflagrando a
secreção de enzimas salivares, estomacais
e pancreáticas. Essa integração entre
aspectos sensoriais e metabólicos permite
que sejam identificadas características
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
específicas de cada alimento, criando
preferências individuais, assim como os
efeitos decorrentes de seu consumo, como a
saciedade.
Existem cinco grupos básicos de sabores:
amargo, ácido, salgado, doce e umami. A
sensação do “gosto” é resultado da interação
entre esses componentes com as
informações aromáticas de determinado tipo
de comida.
O envelhecimento representa um período no
qual os indivíduos são naturalmente mais
propensos ao desenvolvimento de
alterações no paladar e/ou do olfato (como a
anosmia, definida como a perda da
percepção de odores). Graças a esses
acometimentos, surgem também impactos
metabólicos, como inapetência, redução da
qualidade da ingesta alimentar e disfunções na cavidade oral, distúrbios
desnutrição, situações que requerem ainda
mais atenção em idosos solitários, uma vez
que estes podem não variar o cardápio
diariamente. Além disso, a diminuição da
interação com a família no momento das
refeições pode acabar dificultando a conexão
entre gerações distintas. De modo geral,
destacam-se como alterações perceptivas
do paladar:
 Aumento do limiar para detecção de
gostos;
 Menor sensibilidade para reconhecer
sabores (hipogeusia);
 Redução da capacidade de diferenciação
entre sabores (disgeusia - dá origem a
“reações cruzadas”;
 Aguesia (perda da gustação).
o Tais efeitos são ainda mais comuns
em indivíduos em uso de múltiplas
medicações.
Pacientes oncológicos na terceira idade
podem ser ainda mais afetados, uma vez que
os rádio e quimioterápicos levam à
degradação física das papilas gustativas,
que até então eram preservadas em
detrimento da diminuição de sua
funcionalidade.
Com o envelhecimento senescente, é
observada apenas uma pequena diminuição
na sensibilidade gustativa, sem que
alterações sejam percebidas no
reconhecimento de texturas e temperaturas.
Cabe salientar que cada estímulo terá uma
velocidade de decréscimo distinta em sua
percepção, fazendo com que alguns sabores
sejam afetados mais precocemente que
outros. Essa condição deve ser reconhecida
e monitorada especialmente em pacientes
com hipertensão ou distúrbios renais, pois a
capacidade de detecção de sabores
salgados é prejudicada em detrimento da
apreciação dos doces, modificando os
comportamentos nutricionais (maior uso de
sal). Tais impedimentos podem surgir de
sistêmicos, alterações olfatórias (a exemplo
da rinite), lesões ao sistema nervoso central,
consumo de medicações por períodos
prolongados, carência nutricional ou por
causas idiopáticas.
Mulheres, principalmente aquelas que fazem
uso crônico de antidepressivos, anti-
hipertensivos e anti-histamínicos, são mais
propensas a desenvolver quadro de boca
seca, que também é comum dentre os
idosos.
O prazer em se alimentar pode ser diminuído
pela presença de cáries e demais quadros
periodontais, uma vez que causam dor e
desconforto ao mastigar devido a infecções
locais, o que pode levar a uma condição
geral de depleção nutricional. Próteses
dentárias mal implantadas ou com pouca
manutenção e cuidado também podem
afetar o processamento do alimento e a
gustação, além de poder prejudicar o olfato,
pois ao recobrirem o palato duro, tais
estruturas impedem a propagação de odores
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
rumo aos receptores localizados na cavidade
nasal.
Para recuperar o interesse dos idosos no ato
de se alimentar, uma as estratégias é o maior
uso de condimento saudáveis no preparo
dos insumos, pois eles realçam o sabor e o
odor dos alimentos, estimulam o fluxo
salivar, aumentam a ingesta alimentar e
melhoram a imunidade. A suplementação
alimentar pode ser indicada em casos
específicos.
Quanto à prevenção, é possível agir
amplamente para impedir ou controlar o
processo de perda sensorial. Destacam-se a
orientação quanto a higiene bucal, o controle
do risco cardiovascular (doenças que
acometem a irrigação encefálica podem ter
impacto direto sobre o reconhecimento de
estímulos sensoriais), e o combate ao
tabagismo.
OLFATO:
O olfato é, no processo de envelhecimento
normal, comprometido mais frequentemente
que o paladar, sendo possível observar uma
associação entre o “desempenho olfatório”
de um indivíduo e os testes de função
cognitiva por ele realizados. A identificação
de cheiros é fortemente dependente do lobo
temporal medial, que sofre com degradação
precoce em portadores da doença de
Alzheimer, nos transtornos cognitivos leves e
nos acometimentos vasculares. Ainda que
esse seja um fenômeno comum a todos os
sexos, as mulheres retêm melhor
capacidade de detecção olfatória quando
comparadas a homens.
Múltiplos fatores podem acelerar esse
processo de degradação celular, como a
exposição a poluentes, tabaco e a infecções
respiratórias, que desregulam a produção do
muco que protege o epitélio nasal,
normalmente sensível a estímulos externos.
Além de agentes ambientais, também são
possíveis causas de perda do olfato na
senescência a ocorrência de traumas que
acometam a lâmina crivosa (por onde
passam os filamentos do nervo olfatório), as
infecções respiratórias e alergias.
Em idosos, o já supracitado muco já se
apresenta alterado, com menor viscosidade
e menor capacidade de produção. Também
ocorre uma substituição parcial do epitélio
sensorial da cavidade nasal por mucosa
respiratória e redução de sua espessura,
com diminuição da concentração de
neurônios sensoriais.
Caso o dano infligido à percepção olfatória
seja realmente irreversível (anosmia), os
idosos devem ser orientados quanto a
alterações em sua rotina de forma a manter
a segurança, como a instalação de
detectores de vazamento de gás e o respeito
aos prazos de validade de alimentos
industrializados e caseiros, identificados
sempre em indivíduo rotulado.
VISÃO:
A visão envolve a capacidade de não
somente perceber, mas sim de diferenciar e
interpretar informações oriundas de
estímulos luminosos. A precisão desse
processo, também denominada acuidade
visual, está associada à capacidade de
distinção entre múltiplas informações em
contraste com um plano de fundo.
Para que o fenômeno de percepção visual
ocorra, é necessário que a luz visível
atravesse a córnea, o cristalino e o corpo
vítreo e atinja a retina e suas células (cones,
que formam uma imagem nítida e com
detalhes, e bastonetes, determinantes para a
visão em baixa luminosidade), emitindo
impulsos elétricos ao cérebro por meio do
nervo óptico, promovendo assim a
interpretação das imagens vistas.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A visão pode ser classificada em central
(obtida a partir da fóvea) e periférica
(decorrente de estímulos no restante da
retina). A fóvea corresponde ao ponto de
maior especialização para a consolidação de
imagens, sendo rica em cones. Tal distinção
é relevante para caracterizar os múltiplos
acometimentos que reduzem o campo de
observação.
O equilíbrio postural é uma combinação de
fatores visuais e vestibulares, o que faz com
que mudanças em qualquer um desses
componentes provoquem distúrbios de
marcha, perda de equilíbrio, fraqueza e
aumento no risco de desenvolvimento de
quedas.
Com o envelhecimento, problemas visuais
começam a surgir: 14% dos idosos entre 70
e 74 anos apresentam algum tipo
significativo de dificuldade em enxergar,
índice que chega a 32% dos indivíduos
“muito idosos” (acima dos 85 anos). Quase a
totalidade desse grupo requer o uso de
algum tipo de lente corretiva ao longo da
vida.
Ainda na sexta década de vida, alterações
anatômicas e fisiológicas afetam os olhos,
como a (drástica) redução no diâmetro
pupilar, a lentificação das respostas dessa
estrutura à luz, a redução na capacidade de
movimentação do globo ocular em
decorrência do desgaste da musculatura a
ele relacionada e, por fim à perda do
arcabouço de gordura que auxilia na
implantação dos olhos, “empurrando-os”
para o fundo das órbitas.
O avanço da idade pode causar perda da
elasticidade dos músculos que regulam a
espessura do cristalino, resultando em maior
dificuldade em ajustar a distância focal para
identificar pontos próximos do observador, o
que pode culminar em maior esforço para a
leitura, por exemplo. Além disso, no
envelhecimento normal também podem
surgir déficits na capacidade de acomodação
à luz (lentidão no ajuste a ambientes
escuros, maior sensibilidade a ambientes
muito iluminados), da acuidade visual em
meios de menor contraste, da discriminação
de cores (principalmente entre azul e verde),
e do campo visual atencional (área na qual
múltiplos estímulos são captados e
processados simultaneamente). Esses
fatores, principalmente aqueles relacionados
à luminosidade e ao processamento de
informações, influem na capacidade de
condução veicular em indivíduos na terceira
idade, principalmente à noite, aumentando o
risco de acidentes.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A avaliação da acuidade visual deve ser
realizada rotineiramente em idosos,
principalmente naqueles com maior risco de
doenças oculares, pois os
comprometimentos a esse sistema podem se
instalar lentamente ou não serem relatados
espontaneamente.
A visão subnormal na velhice apresenta
fortes correlações com quadros como
declínio cognitivo, doença cardíaca, quedas,
artrose, fraturas no fêmur e quadril,
hipertensão, comprometimento da qualidade
de vida e depressão. Esses indivíduos
principalmente aqueles que sofrem
simultaneamente com outro processo
degenerativo, seja ele sensorial, físico ou de
cognição, correm risco ainda triplicado de
apresentar dificuldade para sair de casa e
cuidar de sua própria alimentação, e
duplicado de terem dificuldades nas
transferências, com perda da mobilidade.
Como a maioria dos idosos com perda visual
ainda apresentam graus variados de
capacidade residual, a reabilitação pode
representar uma grande oportunidade para a
reconquista de capacidade funcional pelo
idoso. Os principais objetivos desse
processo são restabelecer a autonomia e
melhorar a qualidade de vida. Algumas
metas específicas podem ser
implementadas, quando o indivíduo
necessita realizar algum tipo de ação para
manutenção de sua saúde, como aplicar
insulina. A reabilitação visual está indicada
para pacientes com acuidade visual menor
que 20/50 (no melhor olho), perda de campo
visual central ou periférico com acuidade
visual intacta, pouca sensibilidade a
contraste, hipersensibilidade a brilho,
dificuldade na adaptação às mudanças
luminosidade e naqueles com lesões nas
vias ópticas.
O uso de lentes corretivas pode aumentar o
risco de quedas e tropeços inicialmente.
Mudanças posturais podem ser
recomendadas de acordo com o intuito de
melhorar o aproveitamento de lentes
multifocais, como é o caso da inclinação do
pescoço ao fazer pequenos deslocamentos.
O suporte familiar é o fator que mais
influencia na continuidade do uso de
equipamentos de auxílio à visão, devendo
ser orientada a adaptar certas estruturas do
ambiente doméstico e a evitar confusões na
comunicação, que deve ser bem clara e
direcionada.
DEGENERAÇÃO MACULAR RELACIONADA COM A
IDADE:
A degeneração macular é o distúrbio
associado à perda grave de visão mais
prevalente em indivíduos com mais de 50
anos no ocidente. Esse acometimento é
oriundo do desgaste da mácula, que
normalmente manifesta-se de forma não
macular (conhecida também como atrófica
ou não exsudativa, representando a maior
parte dos casos), ou vascular (serosa ou
exsudativa). Dentre os fatores de risco estão
o sexo feminino, etnia caucasiana,
portadores de hipertensão, dislipidemia e
doenças cardiovasculares, e o tabagismo.
As manifestações clínicas desse processo
são a metamorfopsia (distorção da imagem)
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
e estocoma central, que progride A retinopatia representa a maior e principal
gradualmente até a deficiência visual grave. causa de perda visual dentre idosos
Há também dificuldade para reconhecer diabéticos, apresentando um processo de
faces e ler, o que pode contribuir para a evolução normalmente assintomático, o que
intensificação do isolamento social, prejuízo se mantém constante até etapas com
na capacidade de estimação de distâncias acometimento retiniano mais grave.
ou profundidades, acometendo a
deambulação, e deficiência no O tempo de convivência com a diabetes
reconhecimento de cores ou contrastes, eleva o risco de desenvolvimento de
impactando na realização de atividades desgaste visual, afetando 23,9% dos
domésticas e no lazer. O comprometimento indivíduos não insulinodependentes com
ocular unilateral precede o início dos mais de 10 anos com a doença, e 37,2% dos
sintomas bilaterais. dependentes de insulina com mesma
cronologia.

É possível classificar esse quadro em duas

categorias distintas, tendo como base a
ocorrência e a extensão da formação de
novos vasos na retina, a saber:

 Retinopatia diabética não proliferativa: há

presença de hemorragias retinianas,
microaneurismas, cruzamentos
arteriovenosos e exsudatos, que podem
ser rígidos ou algodonosos;
 Retinopatia diabética proliferativa: a
De forma a conter os efeitos negativos da formação de novos vasos pode implicar
perda visual, os idosos passam a em hemorragias na retina e no humor
desenvolver áreas de fixação (focalização da vítreo, além de reações fibróticas
imagem) preferenciais na retina, ao invés de reacionais.
utilizarem a fóvea, que é afetada pelo O borramento visual pode ocorrer em ambas
desgaste macular. as formas de retinopatia, caso a fóvea seja
afetada, assim como escotomas,
O diagnóstico pode ser realizado por meio da descolamentos de retina, metamorfopsia,
angiografia com contraste, permitindo menor sensibilidade a cores e baixa
também que seja delimitada a área total tolerância à luminosidade, e, em casos mais
afetada. O tratamento desse quadro baseia- graves, cegueira. Perdas visuais súbitas,
se na terapia fotodinâmica com verteporfina, semelhantes a ter um véu sobre os olhos,
que degrada novos vasos formados, e a podem ocorrer frente a quadros
fotocoagulação a laser. hemorrágicos, que também podem, junto ao
descontrole glicêmico (promove a
desidratação do cristalino) e a edemas,
afetar a acuidade visual.

RETINOPATIA DIABÉTICA:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O controle da glicemia, da pressão arterial e
de níveis lipídicos deve ser realizado
constantemente entre idosos com diabetes e
retinopatia, de forma a prevenir o risco de
novas complicações, detectando
precocemente os indícios destas. A
estratégia terapêutica deve ser
individualizada, considerando-se o contexto
clínico e sociocultural do paciente. Um
exemplo é a monitorização menos agressiva
da insulina, indicada para indivíduos já
bastante prejudicados pelo
comprometimento visual, que pode ser
irreversível.
Ainda que não manifestem sintomas, visuais,
diabéticos devem ser submetidos a um
exame oftalmológico anual, tendo como
objetivo analisar a possível progressão do
desgaste epitelial. No processo de
fotocoagulação, vasos neoformados são
cauterizados, minimizando o risco de
hemorragia local.
CATARATA:
A catarata corresponde ao processo de
opacificação do cristalino, tornando a
passagem de luz cada vez mais difícil. Esse
fenômeno pode ser ocasionado apenas pelo
envelhecimento, porém também pode ser
associado a traumas na região dos olhos,
inflamação, uso de corticoides, diabetes
mellitus, distúrbios nutricionais e exposição a
raios UV. Sua prevalência aumenta com a
idade, variando de 2,5% entre indivíduos de
52 a 64 anos, até 45% naquelas entre 75 e
85 anos, com destaque para a população
negra.
As manifestações sintomáticas desse
quadro incluem redução na acuidade visual,
hipersensibilidade à luminosidade,
borramento da visão, metamorfopsia e
alteração na percepção de cores. Um dos
primeiros indícios da catarata pode ser a
dificuldade em dirigir durante a noite, em
decorrência da menor tolerância aos faróis
dos carros que percorrem o sentido oposto.
Lentes de contato e óculos podem auxiliar a
minimizar erros de refração, reduzir o
incômodo pelos reflexos, alterar o contraste
e até mesmo “nivelar” a capacidade visual
entre os olhos, representando medidas
paliativas adequadas para a redução do
impacto dos sintomas em pacientes com
risco operatório. Nesse contexto, o
tratamento cirúrgico da catarata consiste na
remoção do cristalino, seja integralmente ou
de somente um segmento, beneficiando a
maior parte dos pacientes, ainda que esteja
associado a um pequeno risco de perda
visual permanente. Para ajustar a
capacidade de refração da luz, pode ser
implementada, no mesmo procedimento de
retirada do cristalino, uma lente intraocular,
ou serem indicadas lentes corretivas.
Quando bem indicada, a correção cirúrgica
está associada ao aumento da qualidade de
vida em idosos.
GLAUCOMA:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O glaucoma é marcado pelo aumento da
pressão intraocular, fenômeno que danifica
gradualmente o nervo óptico e a retina. Caso
não seja controlado a tempo, esse processo
pode culminar com a degeneração do disco
óptico, a redução progressiva do campo
visual periférico e, em situações mais
complexas, a incapacidade visual
acentuada.
A idade avançada corresponde ao maior
fator de risco para o surgimento do
glaucoma, sendo que 75% dos indivíduos
que apresentam disfunções visuais em
decorrência dessa doença apresentam mais
de 65 anos. A prevalência do quadro também
é maior dentre negros, portadores de
hipertensão, diabetes e miopia em alto grau,
além de indivíduos com histórico familiar
favorável, com parentes próximos
portadores de glaucoma.
Na população senescente, o glaucoma se
manifesta, principalmente, de duas formas,
com ângulo aberto e com ângulo fechado. A
primeira manifestação é marcada pela
ineficiência de drenagem do humor aquoso,
que se acumula, deflagrando um quadro de
hipertensão intraocular, capaz de lesar a
retina e o nervo óptico. No glaucoma de
ângulo fechado, o mesmo problema de
“escoamento” ocorre, porém desta vez ele se
dá na porção anterior do olho, entre a íris e a
córnea.
A apresentação de ângulo aberto é a mais
prevalente, podendo evoluir de forma
assintomática até estágios moderados da
doença, momento a partir do qual são
notadas alterações no campo visual
periférico, como a visão em túnel, percebidas
como se partes dos objetos estivessem
“faltando” (é importante destacar que até
mesmo a porção central da visão pode ser
afetada em estágios mais avançados).
Exercícios intensos podem causar visão
turva ou dor ocular, em decorrência da
elevação da pressão.
Antes mesmo do início da diminuição do
campo visual, alguns sintomas podem surgir,
de maneira incipiente, sem causar
incômodos significativos, como a cefaleia
após a leitura ou em ambientes mal
iluminados, a piora da visão noturna e a
dificuldade em perceber cores.
O tratamento do glaucoma pode ser
farmacológico, cirúrgico misto, incorporando
aspectos de ambos. Caso opte pelo primeiro,
o paciente deve ser informado que ele é
ininterrupto, a ser mantido mesmo nos
momentos assintomáticos. Múltiplos
métodos cirúrgicos podem ser empregados,
porém o mais comum é a trabeculectomia,
que consiste na drenagem do olho afetado,
de forma que o humor aquoso possa escoar.
DISTÚRBIOS NAS VIAS ÓPTICAS E NO CÓRTEX
CEREBRAL:
A visão pode ser afetada por qualquer tipo de
agressão, desde aquelas que afetem a retina
até impactos amis graves ao próprio córtex
visual. Os maiores causadores desses
eventos são acidentes vasculares, traumas e
tumores. Para diferenciar o caráter das
lesões é empregado o quiasma óptico (ponto

de cruzamento das fibras), dividindo o
sistema visual em periférico (pré-
quiasmático) e central (pós-quiasmático).
Esse método de divisão é importante, pois
antes do quiasma, as lesões apresentam
local ipsilateral ao olho afetado, ao passo
que danos ao próprio quiasma, como um
tumor hipofisário, implicam em prejuízos aos
campos visuais temporais dos dois olhos
(hemianopsia bitemporal), e lesões
unilaterais pós-quiasmáticas acometem os
hemicampos visuais de ambos os olhos
(perda visual homônima). Por vezes, alguns
danos parciais ao campo visual são
menosprezados pelo paciente, causando
dificuldade na leitura ou negligência visual
(indivíduo ignora as partes do corpo no
hemisfério prejudicado).
Um contingente relevante de pessoas
desenvolve alguma forma de impedimento
visual após acidentes vasculares
encefálicos. Esses comprometimentos
podem ser evidentes ao tentar pegar objetos,
dirigir (perda da visão de profundidade) e ler.
Deficiências viso-perceptuais e viso-
cognitivas podem resultar em agnosia visual,
ou seja, no não reconhecimento de objetos
visualizados.
CERATOCONJUNTIVITE SICCA:
O olho é revestido pelo filme lacrimal,
camada de mucina, água e óleo que contribui
para a manutenção da lubrificação local,
fundamental para a preservação da saúde do
epitélio da córnea. Com a função palpebral
preservada, essa película é conservada.
Assim, distúrbios que impedem
fechamento completo dessas estruturas,
como redução do tônus muscular e paralisias
faciais, ou afetam a capacidade de piscar,
tais como a exposição a telas, dirigir durante
a noite e ler por longos períodos de tempo,
podem fazer com que a água presente no
filme evapore, alterando a dinâmica entre
essa estrutura e o olho.
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Inicialmente, sugere-se que essa
desregulação implique na elevação da
osmolaridade da lágrima, que apenas
deflagra uma cascata de feedback positivo
baseada no surgimento de inflamação
reacional e disfunções ainda maiores no
filme lacrimal.
Irritações na conjuntiva e olhos secos são
queixas comuns dentre os idosos, porém,
paradoxalmente, o lacrimejamento também
ocorre, só que de forma reflexa. Dentre os
fatores de risco para a ceratoconjuntivite
sicca são a idade avançada, gênero
feminino, tabagismo, exposição a poluentes,
uso constante de aparelhos eletrônicos e o
consumo de antidepressivos e
antiespasmódicos. Pacientes que realizaram
intervenções cirúrgicas oftalmológicas ou
que utilizam lentes de contato também são
propensos ao surgimento de tais
manifestações.
A síndrome sicca, frequentemente associada
ao uso de medicamentos, abrange não
somente o ressecamento dos olhos, como
também da boca e da mucosa vaginal. A
associação entre o quadro de
ceratoconjuntivite na senescência e
acometimentos sistêmicos é bastante rara,
podendo estar relacionada ao lúpus
eritematoso sistêmico, à sarcoidose, linfoma
e leucemia.
O diagnóstico desse quadro está depende da
demonstração da ineficácia lacrimal junto à
presença de lesões na superfície ocular.
Dentre os possíveis tratamentos encontram-
o se lágrimas sintéticas, colírios lubrificantes e
anti-inflamatórios de uso tópico. A escolha do
melhor método de controle da
ceratoconjuntivite deve levar em
consideração aspectos cognitivos e físicos
do paciente que possam impedir a
administração correta de tais substâncias
(seja pela força necessária para liberar o
líquido ou pela incapacidade de aplicar um
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
certo número do gostas nos olhos). A
orientação quanto ao repouso visual também
é positiva, evitando que o idoso mantenha a
exposição a agentes lesivos.
Por vezes, a ceratoconjuntivite pode ser
resultante de blefarites e meibiomites, ou até
mesmo da falta de higiene palpebral. Em
condições mais graves, intervenções
cirúrgicas podem ser indicadas.
AUDIÇÃO:
No processo normal da audição, ondas
sonoras propagadas no ar penetram o
conduto auditivo externo, atingindo a
membrana timpânica, que começa a vibrar.
Essa movimentação é transmitida pelos
ossículos do ouvido médio rumo à janela
oval, comprimindo a perilinfa e a endolinfa,
líquidos situados na cóclea, e estimulando o
órgão de Corti, na membrana basilar.
Tais estímulos mecânicos são
transformados em informações elétricas
pelos cílios do órgão de Corti, permitindo
assim que sejam enviados ao cérebro pelo
nervo vestibulococlear. No córtex auditivo
primário são diferenciadas frequências e
intensidades para as ondas sonoras,
auxiliando também o processo de
localização da fonte emissora. Além disso, o
restante das regiões associadas à audição
presentes no sistema nervoso central
favorece a correlação dos sons aos
processos de linguagem associados,
estimulando respostas adequadas.
A endolinfa é uma substância produzida pelo
ligamento espiral e a estria vascular, que
apresenta potencial elétrico cuidadosamente
preservado, de forma a manter a função das
células sensoriais corticais. Tais estruturas,
quando danificadas por algum agente, não
se regeneram, graças à elevada
especificação. O sistema vestibular,
associado ao equilíbrio, está intimamente
conectado à cóclea.
As perdas auditivas podem ser distinguidas
como de condução (periférica, na qual a
dispersão da informação ocorre durante o
percurso até a cóclea), sensorineural
(também conhecida como central, marcada
pelo acometimento coclear ou do nervo
vestibulococlear) ou mista. Esse
comprometimento apresenta relevância
diretamente proporcional ao grau da perda
auditiva e de quais frequências foram
afetadas, sendo necessário investigar mais
atentamente condições nas quais houve
comprometimento em identificar danos na
identificação de sons agudos (de maior
frequência) e mais altos (maior amplitude).
Os impactos da perda auditiva são
fortemente sentidos nos idosos, que deixam
de engajar-se em atividades sociais pela
perda funcional e pelas implicações
psicológicas e sociais deste evento.
A forma mais conveniente de se avaliar a
perda auditiva é a subjetiva, na qual o
paciente e questionado sobre a presença de
dificuldades com a audição, encaminhando
pacientes queixosos para o especialista. Nos
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
indivíduos sem manifestações diretas de
comprometimento auditivo, é possível
mensurar de fato qual a capacidade de
percepção ao solicitar que o paciente
identifique sons de um relógio analógico,
perceba a fricção de dedos próxima ao
pavilhão auditivo, ou que repita palavras
ditas por alguém localizado atrás do
indivíduo.
A presença de pelos no ouvido externo e a
maior produção de cerume em idosos,
principalmente em homens, pode resultar em
obstruções do conduto. Caso haja
impactação de tampão ceroso, é necessário
removê-lo antes de proceder com as
avaliações auditivas.
Uma forma de avaliação da acuidade
auditiva é o teste do sussurro, no qual o
examinador se posiciona atrás do paciente,
de forma a evitar leitura labial, e oclui o
conduto do ouvido não examinado. Em
seguida, sussurra três números ou letras ao
acaso, que são corretamente identificados
em idosos saudáveis ao executar esse
processo em ambos os ouvidos. Em caso de
resultado insatisfatório, pode-se tentar mais
uma vez, com outro conjunto de
informações. Se o indivíduo apresentar
performance menor que 50%, a avaliação
detalhada por especialistas é recomendada.
Algumas letras, faladas em frequência
elevada, podem resultar em um menor
desempenho para indivíduos com
presbiacusia. Os testes de Weber e Rinne
são menos confiáveis na identificação de
distúrbios auditivos em ambulatório, porém
devem ser considerados como inícios de
encaminhamento em caso de resultados
anormais.
A realização de audiometria permite
observar a qualidade do processamento
central das informações auditivas periféricas.
O resultado do processo pode, no entanto,
não espelhar a real perda funcional, já que
idosos com perda auditiva leve podem ter
grande disfunção funcional.
As principais causas da perda auditiva
associada ao envelhecimento são as perdas
de células sensoriais auditivas e de
neurônios dos tecidos nervosos da cóclea,
limitando as possibilidades de recuperação
tecidual. É nessas últimas situações que
aparelhos auditivos se tornam mais úteis.
Quando a prescrição da prótese auditiva é
guiada pelo audiograma, melhora a
habilidade auditiva e a discriminação da fala.
Há benefício na qualidade de vida, reduzindo
os efeitos psicológicos, sociais e emocionais
da perda auditiva relacionada com a idade.
Caso não seja possível retomar a
capacidade funcional por meio de aparelhos
auditivos individuais, a recomendação de
implantes cocleares é mais relevante.
Enquanto os primeiros aparelhos apenas
amplificam o som que chega à cóclea (tora o
efeito do instrumento limitado à capacidade
auditiva residual), os últimos estimulam
diretamente o nervo vestibulococlear. A
reabilitação bem-sucedida depende da
ressignificação de atividades, da
estimulação à socialização e d o suporte
familiar.
PRESBIACUSIA:
O aparelho auditivo humano, especialmente
dentre homens, começa a se degradar por
volta da quarta década de vida, refletindo os
impactos do envelhecimento. Aos poucos, a
diferença entre sexos para a perda auditiva
começa a se reduzir, o que sugere um
possível papel hormonal para a fisiopatologia
desse quadro.
A presbiacusia representa a doença
neurodegenerativa com acometimento
auditivo mais comum. Esse quadro pode ser
produto de lesões nas células sensoriais do
órgão de Corti, afetando a captação de sons
de alta frequência, nos neurônios aferentes,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
que afetam o reconhecimento de palavras,
na estria vascular, que causa diminuição no
volume escutado, na membrana basilar, que
leva a perdas de faixas superiores a 50dB
em todos os tipos de frequência, ou no
sistema nervoso central, que orna difícil o
reconhecimento e a compreensão do que e
escutado.
O início desse déficit se dá, com maior
frequência, para frequências elevadas,
progredindo gradualmente para sons mais
graves, representando a evolução da
doença. Essa discriminação é importante
para a interação do indivíduo em ambientes
com ruídos de fundo, permitindo que a
atenção seja direcionada para a A perda auditiva de origem central pode ser
compreensão de um diálogo em detrimento
do barulho geral. Dessa forma, uma das
primeiras manifestações da presbiacusia é a
dificuldade de comunicação em tais
ambientes (a compreensão de discursos
entremeados é mais complexa do que a de
palavras isoladas). O discernimento entre os
sons das letras “f”, “p”, “s” e “t” pode estar
afetado, mas a leitura labial auxilia a superar
esse inconveniente.
Na presbiacusia, mesmo que haja um maior
ponto de corte para que os sons sejam
detectados (necessidade de maior
intensidade/volume), a tolerância a tais
estímulos permanece constante, reduzindo o
“espectro auditivo). Relatos de zumbido
podem ocorrer à medida que a perda auditiva
se torna mais exacerbada.
Mais da metade dos fatores interferentes no
processo de perda auditiva podem ser
associadas a aspectos genéticos, ainda que
seja difícil determinar a relevância disto para
a população geral. A exposição a ruídos, o
tabagismo, doenças das vias respiratórias,
infecções virais ou bacterianas, a diabetes
mellitus e o uso de medicamentos (como
diuréticos, quimioterápicos e antibióticos)
podem estar relacionados com esse quadro.
A ação farmacológica relacionada à perda da
audição é a lesão oxidativa, fenômeno que
pode também ser causado pelo contato com
solventes e produtos industriais. É postulado
que as modulações metabólicas decorrentes
do diabetes causem hipóxia, com liberação
de radicais livres de oxigênio,
desestabilizando colágeno e microtúbulos
celulares, causando assim apoptose celular.
A hipertensão e a dislipidemia também têm
poder lesivo, uma vez que podem
comprometer a irrigação da estria vascular,
alterando a produção de endolinfa, o que
pode levar a uma redução na transmissão
sonora coclear.
secundária a distúrbios degenerativos
oriundos no próprio sistema nervoso central,
como acidentes vasculares encefálicos e
tumores, ou a efeitos centrais induzidos por
ação periférica, como a privação sensorial.
O reconhecimento da presbiacusia deve ser
rapidamente seguido pela implementação de
medidas para a reabilitação, uma vez que a
lentificação desses processos está
associada a um prognóstico pior, com
déficits na fala decorrentes da ausência de
retorno auditivo.
Algumas medidas preventivas podem
diminuir o risco de desenvolvimento da perda
auditiva associada à idade, como a redução
da exposição à ruídos, combate ao
tabagismo e ao etilismo, e à redução da
prescrição de compostos ototóxicos. A
prática constante de atividades físicas, além
de reduzir o risco cardiovascular, contribui
para a manutenção da vascularização
adequada aos sistemas de processamento
auditivo, agindo como fator protetor ao
desenvolvimento da presbiacusia.
TATO:
O sistema sensorial somático, por meio de
seus múltiplos receptores espalhados pelo
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
corpo, permite que múltiplos estímulos sejam
percebidos, como tato, pressão, vibração,
propriocepção, dor e variações de
temperatura, sendo que as estruturas
responsáveis por identificar o toque, a
pressão e a vibração são terminações
nervosas cutâneas. Os receptores para a
propriocepção, por sua vez, localizam-se nas
cápsulas das articulações, tendões e nos
músculos esqueléticos. Com o acionamento
de tais captadores, o estímulo passa a ser
conduzido por neurônios da raiz dorsal da
medula rumo ao sistema nervoso central. É
nessa região que todas as informações
coletadas serão encaminhadas para os
córtices somestésicos primário e secundário,
tornando-se sensações. Os estímulos
mecânicos na região da cabeça, por sua vez,
são enviados ao sistema nervoso central
diretamente pelos ramos do nervo trigêmeo.
Com o envelhecimento, as sensações de
dor, vibração, frio, calor, pressão e toque
podem apresentar-se reduzidas, o que pode
ocorrer devido a déficits na microcirculação,
afetando algum dos pontos-chave para a
percepção somática. Deficiências
vitamínicas do complexo B, diabetes,
disfunções renais, etilismo, neoplasias,
intoxicações e doenças autoimunes também
podem ter papéis bastante relevantes na
função sensorial, desta vez sob a forma de
neuropatia periférica. Para algumas das
etiologias supracitadas, é possível
reconquistar certa reabilitação sensorial.
A redução na capacidade de perceber as
diferentes temperaturas faz com que idosos
sejam mais susceptíveis a hipo/hipertermia,
assim como queimaduras e congelamento
de extremidades, provocados pela aplicação
de compressas.
Com a diminuição da sensibilidade ao toque
e à pressão, lesões se tornam ainda mais
prováveis e preocupantes sendo necessário
o monitoramento constante de pés e do
dorso, que se mantém em contato constante
com poltronas ou com o leito, favorecendo o
surgimento de úlceras. Por fim, a diminuição
da capacidade de propriocepção, ou seja, o
menor reconhecimento do posicionamento
do corpo e de seus apêndices, promove uma
maior tendência a quedas e tropeços, cujas
implicações são debilitantes ao bem-estar
físico e psicológico do idoso.
O teste do monofilamento de Semmes-
Weinstein (proteção sensorial) pode ser
utilizado para avaliar a sensibilidade tátil
plantar em diabéticos, correlacionando-se
com a presença de neuropatia periférica.
Orientações para a manutenção da
segurança pessoal devem ser fornecidas a
todo idoso com suspeita ou comprovação de
déficit sensorial.
FISIOPATOLOGIA DOS DISTÚRBIOS DE EQUILÍB RIO
E VERTIGEM EM IDOSOS:
O equilíbrio é um mecanismo automático,
executado de forma inconsciente, e que
permite que um indivíduo resista às ações
desestabilizadoras promovidas pelo meio,
garantindo também sua mobilidade. A
manutenção desse sistema requer um
conjunto de estruturas com funções
associadas: o sistema vestibular, que
detecta o equilíbrio sensorial, os olhos (mais
valorizados na fase adulta) e o sistema
proprioceptivo. O termo tontura é utilizado de
forma ampla para se referir às múltiplas
variações anormais da posição do corpo em
relação ao meio, sendo, na maioria das
vezes bastante vagas e inconsistentes.
A ocorrência de estímulos sensoriais
conflitantes, traumas e mudanças no
processo de integração do sistema nervoso
central e de suas ramificações motoras
podem ser causas desse grande “sintoma”.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Algumas consequências desse quadro na
população idosa são quedas, redução da
capacidade funcional e desenvolvimento do
medo de cair.

ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO EQUI LÍBRIO:

O labirinto é um componente bilateral do

sistema do equilíbrio, consolidando as
funções de percepção dos movimentos,
posicionamento do pescoço e da cabeça e
A ampola, localizada próxima ao utrículo, é
de coleta de informações necessárias para a
deformada pela circulação da endolinfa,
manutenção do equilíbrio. Tal estrutura
auxiliando a determinar a velocidade e
localiza-se dentro do osso temporal, sendo
intensidade do movimento. Os cílios do
formada pelo labirinto ósseo e pelo labirinto
sáculo, por sua vez, informam sobre a força
membranoso. Este último é recoberto
da gravidade, e o movimento vertical,
externamente pela perilinfa e internamente
enquanto os do utrículo fornecem dados
pela endolinfa (ambos os líquidos atuando
sobre o movimento horizontal. A variação
simultaneamente para a audição e para o
muito rápida nos estímulos captados, como
equilíbrio), apresentando três partes: a
ocorre no interior de um avião, por exemplo,
cóclea, o vestíbulo e os canais
pode levar a quadros de náusea e tontura,
semicirculares que, por meio do epitélio
uma vez que as estruturas ciliadas presentes
sensorial, recebem e enviam as informações
nos canais semicirculares são
do som (ramo coclear) e as do movimento
bombardeadas por informações conflitantes
(porção vestibular) ao sistema nervoso
(cinetose). No repouso há uma descarga
central por meio de um dos nervos
simétrica, tônica, mas, caso essa dinâmica
cranianos.
seja alterada por alguma lesão unilateral, a
vertigem e a tontura podem surgir mesmo em
repouso.

Cada labirinto possui três canais

semicirculares, um horizontal e dois verticais,
um sáculo e um utrículo com receptores
sensoriais (os cílios com otolitos e seus
cristais de carbonato de cálcio).
O sistema vestibular está integrado a
diversas estruturas importantes para o
equilíbrio estático (corpo em relação ao
chão), dinâmico (posição em resposta aos
movimentos com aceleração angular) e sua
manutenção, como o labirinto, os núcleos
vestibulares no tronco cerebral, o cerebelo,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
os órgãos da visão e audição, o sistema
proprioceptivo e o córtex cerebral.
O sistema vestibular age como a fração
sensorial; o cerebelo e o cérebro são
“processadores” que recebem e fundem as
informações vestibulares, proprioceptivas e
visuais, sendo que as primeiras passam por
mais um segmento integrador, o tálamo; ao
passo que o sistema muscular é o efetor para
a preservação do equilíbrio.
As vias vestibulares dividem-se em
conscientes e inconscientes. As vias
conscientes são fibras vestíbulo-talâmicas
que projetadas rumo ao córtex cerebral,
responsáveis pela percepção ativa da
vertigem. As vias vestibulares inconscientes,
por sua vez, dirigem-se para o cerebelo,
onde podem induzir a manifestação de
incoordenação e lateropulsão (dificuldade de
se manter estável após movimento lateral)
em quadros patológicos.
O nervo vestibulococlear se divide em fibras
vestibulares ascendentes (vestíbulo-
oculomotoras), responsáveis pela produção
de movimentos oculares compensatórios
(preservação do campo visual),
descendentes (vestíbulo-espinais)
relacionadas com os reflexos posturais, e
fibras vestíbulo-cerebelares, associadas à
coordenação corporal e à manutenção do
tônus postural.
As conexões neurovegetativas vestibulares
ocorrem entre o núcleo vegetativo
hipotalâmico, a substância reticular bulbar e
mesencefálica e nervo vago. É por esse
motivo que náuseas, alterações na pressão
sanguínea, sudorese, palidez e vômitos são
tão observados após a estimulação
vestibular excessiva, sendo induzidos de
forma reflexa.
As informações proprioceptivas permitem a
manutenção do equilíbrio estático e
dinâmico, sendo oriundas dos receptores
para tato e pressão, de fusos musculares e
cápsulas articulares, promovendo o envio de
informações das várias partes do corpo para
o sistema nervoso central, mantendo assim
o ajuste tônico-postural. Dessa maneira, é
possível compreender como patologias
envolvendo essas vias de processamento,
com as neuropatias periféricas, interferem no
equilíbrio e na marcha.
IMPACTOS DO ENVELHECIMENTO SOBRE O
EQUILÍBRIO:
O envelhecimento senescente torna o
indivíduo mais susceptível a quadros de
“tontura”, assim como lentifica as fases de
convalescência para distúrbios associados
ao equilíbrio. Essa dinâmica está relacionada
a uma diminuição na função das atividades
centrais, bem como dos aferentes periféricos
presentes nas estruturas labirínticas,
proprioceptivas e retinianas.
Nota-se, portanto, que os processos
degenerativos se tornam responsáveis pela
ocorrência de vertigem ou tontura
(presbivertigem) e do desequilíbrio
(presbiataxia) na população geriátrica. A
compensação vestibular, mecanismo de
recuperação para essas manifestações, tem
capacidade de ação associada à substituição
sensorial (capacidade de outras fibras
perceberem os mesmos estímulos). No
entanto, essa alternativa tem poder de ação
limitado, fazendo com que os sintomas
retornem frente à deterioração severa de tais
receptores.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Essas alterações degenerativas acontecem
nos olhos, junto aos déficits visuais, nos pés,
devido à redução da percepção tátil, e nos
cílios sensoriais presentes nos canais
semicirculares, havendo perda de 20% no
utrículo, e 25% no sáculo. Os cristais de
carbonato de cálcio presentes nos otólitos
também são prejudicados. A maior latência
do reflexo óptico-cinético sugere que a
sensibilidade de idosos a estímulos giratórios
é menor, fazendo com que a instalação de
quadros de desequilíbrio seja ainda mais
facilitada. Déficits na irrigação do tronco
cerebral, do córtex e do cerebelo também
podem atuar para o aparecimento desse
sintoma.
A visão e o reflexo vestíbulo-ocular declinam
com a idade, sendo que os impactos da
perda da acuidade visual contribuem de
modo significativo para a alteração do
equilíbrio, dada a importância dessa via para
a compensação do equilíbrio em adultos.
A presbivertigem é um quadro de
instabilidade decorrente da perda da
percepção periférica durante o movimento,
resultando em desenvolvimento do medo de
cair e na adoção de um padrão de marcha
cadenciado, com passos curtos e lentos,
deslizando os pés no chão. Os pacientes
inseridos nesse quadro evitam mudar de
posição enquanto deambulam, com receio
de terem sua posição desestabilizada. No
entanto, é necessário empregar uma
avaliação bastante cuidadosa nos indivíduos
com essa marcha cautelosa, uma vez que
este pode preceder múltiplos quadros
orgânicos.
De forma geral, o envelhecimento afeta a
habilidade do sistema nervoso central
desempenhar a interpretação dos sinais
vestibulares, visuais e proprioceptivos
associados à manutenção do equilíbrio
corporal, assim como diminui a capacidade
de modificação dos reflexos adaptativos.
Esse processo também dá início a uma
perda progressiva de células ciliadas dos
receptores sensoriais periféricos,
degradando e mielinizando as fibras do
nervo vestibular. Estes processos
degenerativos são responsáveis pela maior
ocorrência de vertigem ou tontura
(presbivertigem) e de desequilíbrio
(presbiataxia) na população geriátrica
CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DA TONTURA:
Como mencionado anteriormente, a tontura
é um termo guarda-chuva, abrigando, de
forma imprecisa, diversos sintomas que se
associam com a sensação de desequilíbrio.
De forma a facilitar a compreensão das
queixas pelo médico, existem métodos para
classificar a tontura em periférica
(comumente associada a disfunções no
ouvido interno e no nervo vestibulococlear,
com presença de náuseas e vômitos
relevantes, perda auditiva e instalação rápida
de mecanismos de compensação, sem
sintomas neurológico), e central (possui
envolvimento do sistema nervoso central,
resultante de processos inflamatórios,
tumorações ou acometimentos vasculares,
manifestando quadros mais longos e
moderados, com perturbações neurológicas
frequentes).
Uma outra divisão distingue seis grupos de
tontura, a saber:
 Otológica (associada ao sistema
vestibular periférico);
 Central (ocasionada por acometimentos
do tronco cerebral e cerebelo);
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Proprioceptiva (decorrente de neuropatia
periférica);
 Visual;
 Psicológica;
 Idiopática.
É também possível segmentar
manifestações de tontura quanto à duração
e apresentação dos episódios, podendo ser:
 Episódica: isolada em episódios
individuais e agudos, pode ser fruto de
neurite vestibular, trauma, infecção ou de
um quadro vascular;
 Recorrente: presença intermitente de
episódios, associados à enxaqueca,
doença de Ménière e paroxismos
vestibulares;
 Contínua: episódios persistentes, sendo
fruto da perda vestibular bilateral, doença
cerebelar, mal de Parkinson, mielopatia
ou de neuropatias;
o Menos de 1 min: episódios agudos
que geralmente decorrem de doença
vestibular periférica como a vertigem
postural paroxística benigna;
o Mais de 1 min: quadros que perduram
por mais de 1 min, até 1 h ou 2 h
podem ser causados pela doença de
Ménière, pela hipoperfusão cerebral
transitória (pré-sincope) ou por
episódios psicogênicos de
fobia/ansiedade;
o Até 1 dia: quadros que se estendem
por horas podem ser produto de
quadros de labirintite viral, distúrbios
vasculares ou doença de Ménière.
Nota-se que a grande maioria das etiologias
apontadas para a tontura inserem-se em
uma das seguintes categorias
(independentemente das classificações
prévias): doença vestibular periférica
(VPPB), doenças cardiovasculares, tontura
multissensorial, doenças cerebrovasculares
do tronco cerebral, doenças neurológicas,
doenças psiquiátricas e síndrome da
hiperventilação.
SINTOMAS ASSOCIADOS À TONTURA:
Quatro principais grupos de sintomas são
descritos para auxiliar a definir quadros de
tontura, sendo que é possível que um
mesmo paciente atenda a critérios de duas
manifestações distintas, ou até mesmo não
se incluam em nenhuma das categorias, pois
esses processos geralmente são
simultâneos. Tais classes sintomáticas são:
 Vertigem. É um sintoma de origem
vestibular, marcada pela sensação de
“girar em torno de si mesmo” ou de que o
ambiente girando ao seu redor. Esse
processo geralmente é acompanhado por
sensação de queda, náuseas, vômitos,
palidez, sudorese e desequilíbrio,
acentuados com a movimentação e
mudança de posição da cabeça. Esse
quadro é frequentemente episódico, sem
alterações no estado de consciência, mas
que pode ser grave devido ao início
súbito. A cinetose seria uma forma
fisiológica de vertigem, observada em
movimentos de embarcações ou aviões;
 Desequilíbrio: corresponde à percepção
da instabilidade da postura e da marcha,
com ameaça eminente de queda. As
estruturas mais envolvidas são os
membros e o corpo, sem participação da
cabeça. No idoso, esse quadro mostra-se
tipicamente como contínuo, com melhora
em decúbito ou na posição sentada. A
ocorrência de tal distúrbio está associada
a doenças neuromusculares,
cerebelares, neuropatias periféricas e
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
redução do condicionamento físico.
Algumas etiologias comuns envolvem
doença vestibular bilateral grave,
acidente vascular cerebral, déficits
neurológicos e sensoriais, doença
cerebelar e neuropatia periférica;
 Pré-síncope: representa a sensação de
desmaio, que pode ou não ser
acompanhada por zumbidos, fraqueza
generalizada, palidez, embaçamento da
visão, sudorese e (real) perda de
consciência. Esse tipo de quadro
normalmente é episódico, com gravidade
diretamente proporcional à redução no
fluxo sanguíneo cerebral. Possíveis
causas incluem isquemia secundária a
causas cardiovasculares, hipotensão
postural e o uso de medicações;
 Tonturas inespecíficas: sua classificação
é mais difícil, sendo um encaixe por
exclusão, no qual se inserem todos os
quadros com sintomas distintos dos das
demais categorias. É possível descrever
tal manifestação como confusão mental,
cabeça pesada/leve, sensação de
flutuação ou embriaguez, cansaço, perda
da concentração e ansiedade. Sintomas
somáticos podem ser observados.
ETIOLOGIAS PARA A TONTURA:
Como mencionado anteriormente, é possível
encaixar a quase totalidade dos quadros
associados ao termo tontura em 7 grandes
classes etiológicas, que podem ser
facilmente identificadas ao se analisar o
episódio sob a óptica das categorias dos
sintomas (vertigem, desequilíbrio, pré-
síncope e causa desconhecida). Em idosos,
no entanto assim como a sintomatologia não
é exclusiva de uma das classes, as causas
do quadro também serão múltiplas.
Dentre os principais fatores de risco para o
surgimento de tonturas estão o sexo
feminino, a idade avançada, doenças
cardiovasculares, depressão distúrbios do
sono, problemas de visão, uso de múltiplas
medicações, presença de três comorbidades
simultâneas, quedas e problemas de
mobilidade.
Devido à alta sensibilidade do sistema
vestibular, é frequente a relação de sintomas
vestibulares com alterações metabólicas, já
que a orelha interna requer muita energia
para o seu adequado funcionamento. Assim,
podem ocorrer manifestações de tontura (em
alguma de suas classes) em quadros de
diabetes, hiperinsulinemia ou hipoglicemia,
hipertrigliceridemia, hiperlipidemias e
alterações metabólicas decorrentes da
insuficiência renal crônica.
DOENÇAS ASSOCIADAS À TONTURA:
DOENÇAS VESTIBULARES PERIFÉRICAS:
VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA
(VPPB):
A VPPB representa uma das causas mais
frequentes de tontura, podendo ocorrer em
qualquer faixa etária, ainda que mais
comumente dentre idosos, com aumento
progressivo do risco com a idade, atingindo
o pico por volta dos 60 a 70anos. O ponto de
início dos sintomas geralmente corresponde
à movimentação da cabeça, principalmente
durante a mudança de posição na cama ou
ao se levantar. Há um pequeno intervalo
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
entre esse gatilho e a vertigem, que
desaparece após cerca de 30 segundos.
A patogênese desse quadro costuma ser
associada à presença de “detritos” que
resultam da degeneração do utrículo,
mantidos suspensos pela endolinfa até se
fixarem aos canais semicirculares, criando
uma falsa sensação de movimento que
determina vertigem, nistagmo e náuseas. A
etiologia, no entanto, normalmente é
idiopática.
A VPPB é uma síndrome clínica bem
definida, com diagnóstico claro e com um
tratamento seguro e efetivo, facilmente
reprodutível. A manobra de Epley, bem como
outros exercícios vestibulares, pode ser
usada como terapêutica eficaz. Tais
manobras consistem em uma sequência de
movimentos da cabeça e do tronco com o
propósito de rodar o canal semicircular
posterior, redirecionando os detritos rumo ao
utrículo, onde não causam desconforto.

A manobra de Hallpike é um teste que pode

ser utilizado para o diagnóstico da VPPB.
Baseada na mudança de posição do
indivíduo do estado sentado à posição
deitada, com a rotação de 45° para os lados
direito e esquerdo, voltando para a situação
inicial, essa manobra deve contar com a
observação atenta para a presença de
nistagmo em qualquer uma das etapas. Se
esse sinal surge com latência de 30 a 60
segundos, o teste é validado como positivo,
consolidando o diagnóstico de vertigem
posicional paroxística benigna.

DOENÇA DE MÉNIÈRE:

A doença de Ménière é um acometimento da

Nesse exame, duas características são
importantes: se o paciente não desenvolve
nistagmo, não é VPPB, e, caso não haja
latência entre o surgimento desse sinal e a
movimentação, é necessário considerar o
quadro como vertigem de origem central.
orelha interna, definida pela tríade tontura,
zumbido e surdez. A redução na absorção da
endolinfa causa um aumento de pressão
endolinfática, que comprime estruturas
sensoriais da cóclea e do labirinto vestibular,
dando origem aos sintomas. A passagem da
endolinfa da parede da membrana do nervo
vestibular leva à alteração da condução
nervosa, dando a sensação de ouvido cheio,
tontura, zumbido, nistagmo e posteriormente
déficit auditivo, com predomínio nos sons de
baixa frequência.
O tratamento dessa condição busca,
principalmente, evitar as alterações
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
osmóticas da endolinfa, o que é alcançado
pelo uso empírico de diuréticos, pela adoção
de uma dieta hipossódica e pela interrupção
do tabagismo e do consumo de cafeína.
Quadros refratários às tentativas
terapêuticas medicamentosas podem ser
direcionados para a cirurgia, que consiste na
descompressão do excesso da linfa com ou
sem a utilização de uma derivação (shunt).
LABIRINTITE:
A labirintite apresenta quadro
sintomatológico de evolução lenta, se
estendendo por horas. O surgimento dos
sintomas frequentemente está associado a
infecções otológicas ou meníngeas. Ao
exame físico surge nistagmo espontâneo,
teste de Hallpike positivo e instabilidade
postural. Pode haver perda auditiva de
moderada a grave do lado afetado.
O tratamento consiste no manejo dos
sintomas e na realização dos exercícios
vestibulares, podendo ser recomendada a
implementação de aparelhos para auxiliar na
reabilitação auditiva, situação normalmente
associada a quadros graves.
TONTURA MULTISSENSORIAL:
A tontura multissensorial é bastante comum
em idosos, marcada pela presença de
doenças multissistêmica. Dentre as
manifestações comuns associadas ao
quadro encontram-se menor acuidade visual
e auditiva, baixo condicionamento físico,
doença da coluna cervical, neuropatia
periférica, hipofunção vestibular e efeitos
adversos de medicamentos. O diagnóstico é
confirmado quando múltiplas etiologias são
confirmadas. A principal queixa que dá
margem à investigação desse quadro é a
instabilidade postural, que se acentua ao
andar fora de casa e em superfícies
desniveladas.
Por ser multifatorial, o tratamento dessa
apresentação de tonturas depende da
melhora dos acometimentos sistêmicos que
compõem o problema, como o uso de lentes
corretivas, o ajuste de tratamentos
farmacológicos, a prática de exercícios
físicos, a reabilitação vestibular e o uso de
aparelhos auditivos. É necessário pontuar
que situações que envolvem várias
informações sensoriais simultâneas
aumentam os sintomas.
SÍNDROME DE HIPERVENTILAÇÃO:
Este quadro, de origem psicogênica, é
marcado pela sensação referida pelos
pacientes de que não conseguem inspirar ar
suficiente, passando a inspirar mais fundo e
aumentar a frequência ventilatória. Essa
condição pode surgir em decorrência de
crises de ansiedade ou ataques de pânico,
assim como por disfunções fisiológicas. Com
o aumento do número de inspirações por
minuto, ocorre uma redução no PCO2 e
aumento no PO2.
A hiperventilação causa sintomas como
formigamento, atordoamento, tontura e
cefaleia, podendo chegar até à perda de
consciência. A redução acentuada do dióxido
carbono sérico leva a uma alcalose
respiratória que determina vasoconstrição,
reduzindo assim o aporte de oxigênio no
sistema nervoso.
O tratamento é dirigido à causa-base do
quadro, com o paciente sendo orientado a
praticar técnicas de diminuição da frequência
respiratória, como meditação. Caso isso não
seja possível, o uso de oxigênio suplementar
pode ser recomendado.
COMBATE AO ISOLAMENT O SOCIAL EM IDOSOS:
Por muitos anos, os idosos foram
observados e rotulados conforme a Teoria do
Desapego, que postulava que, com o
envelhecimento individual, a pessoa iria
naturalmente para um processo de
isolamento. Ocorreria uma perda de
interesse pela realização de atividades e
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
pelo contato com as demais pessoas, com
tendência a um menor comprometimento
emocional e a consolidação de um
comportamento introspectivo, num
movimento constante para o declínio de
funções.
Esse seria um processo natural e desejado,
pois esse afastamento garantiria a proteção
do idosos e de sua reputação frente a
eventos como a diminuição de seus
desempenhos laboral e sexual. Assim, o
afastamento global se instala sem que sejam
feitas objeções, deixando os senescentes
“quietos no seu canto”.
Tal Teoria já foi refutada, dando espaço a
uma nova forma de compreender a velhice,
que passa a ser não um momento para
preservar ao máximo a juventude,
mascarando os processos em curso, mas
sim uma etapa de empoderamento e
reconhecimento da autonomia e dignidade
do idoso, caminhando para sua auto-
realização.
O isolamento social corresponde a um
problema altamente impactante à saúde da
população idosa, tanto no que diz respeito
aos aspectos psicológicos e sociais, como
em relação a marcadores físicos, uma vez
que pesquisas indicam que os níveis de
inflamação e os hormônios relacionados ao
estresse encontram-se elevados em
situações de ostracismo, aumentando assim
o risco de ocorrência de doenças
cardiovasculares e metabólicas, ou até
mesmo o suicídio.
A ocorrência desse tipo de afastamento é
mais prevalente dentre idosos jovens, com
menos de 65 anos, comportamento este que
pode estar associado ao período da
aposentadoria, marcado por crises
identitárias, redução na autoestima
(desvalorização por perda de status) e
fragilidade psicossocial. Com a consolidação
desse processo, o convívio social, os
relacionamentos interpessoais e as trocas de
experiência, antes possibilitadas pelo
trabalho, muitas vezes são substituídas pelo
isolamento e pela ociosidade, levando à
sensação de dificuldade para o
estabelecimento de novas relações sociais.
Esse comportamento recluso não é apenas
direcionado a vínculos familiares, que por
vezes não apresentam qualidade, ou a perda
das relações conjugais, mas sim a uma
manifestação geral de distanciamento da
comunidade e de suas redes de suporte.
No entanto cabe diferenciar os conceitos
“solidão” e “isolamento social”: o primeiro
pode ser desejado e não implicar em
prejuízos à qualidade de vida individual, ao
passo que o segundo está associado
diretamente à percepção subjetiva do
isolamento, havendo uma diferença entre as
interações sociais desejadas e as reais.
Dessa forma, é possível que um senescente
se sinta sozinho mesmo rodeado de
pessoas, da mesma forma que um idoso que
decida morar sozinho não está
necessariamente isolado.
O estímulo ao convívio social causa
impactos positivos na autoestima e na
resiliência dos idosos, com consequente
melhora em sua qualidade de vida. Dessa
forma, de modo a auxiliar o idoso a superar
a reclusão, é necessário associar essa figura
ao procedimento de envelhecimento ativo,
incorporando no atendimento a esta
população princípios como a integralidade, a
intersetorialidade, a participação, o
empoderamento e o respeito à diversidade
na atenção à saúde do idoso.
PROBLEMA 3 - ABERTURA:
DISTÚRBIOS GASTROINT ESTINAIS NA TERCEIRA
IDADE:
O envelhecimento traz consigo uma
diminuição gradual da integridade fisiológica
do corpo, que resulta em diminuição da
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
capacidade funcional de órgãos e sistemas,
tornando o indivíduo mais vulnerável a
morbidades diversas.
Os acometimentos ao trato gastrintestinal
envolvem todos os papeis desse maquinário,
como a motilidade, secreção de enzimas e
hormônios, a digestão e a absorção de
nutrientes ou medicamentos. Mesmo que
não existam enfermidades exclusivamente
associadas à velhice nesse conjunto de
órgãos, algumas doenças apresentam maior
prevalência dentre os idosos, que podem
necessitar de mecanismos distintos de
manejo.
DOENÇAS QUE AFETAM A CAVIDADE ORAL:
 Edentulismo e doenças periodontais: a
perda dos dentes não é inevitável após o
envelhecimento, constituindo o resultado
de um processo complexo de interação
entre má higiene dentária e doenças
concomitantes na região oral. Mesmo que
o acesso à água tratada com flúor e as
recomendações para a manutenção da
dentição natural tenham reduzido a
incidência desse problema, ele ainda se
faz presente, trazendo sérios impactos à
qualidade de vida do idoso. A doença
periodôntica, que tem como
apresentação clínica inflamação e
retração gengival, com exposição da raiz
do dente e perda da estrutura óssea de
sustentação, representa a principal causa
de perda dos dentes na população adulta.
O tabagismo e a osteoporose podem ser
descritos como dois dos principais fatores
de risco para esse processo, grupo esse
que também abrange indivíduos
dependentes funcionalmente, uma vez
que são incapazes de realizar sua própria
higiene oral;
 Disfagia orofaríngea: manifestada como
dificuldade na passagem do bolo
alimentar da cavidade oral ao esôfago
durante a deglutição, acompanhada por
tosse ao deglutir e regurgitação nasal, é
reflexo de alterações neuromusculares
que afetam a língua, a faringe e o
esfíncter esofágico superior. As principais
etiologias associadas a esse déficit são
acidentes vasculares cerebrais,
esclerose múltipla, miastenia gravis,
doença de Parkinson, demência e
distrofia muscular. Cerca de 13% dos
indivíduos com mais de 65 anos são
afetados por esse problema, porém não
são conscientes do fato, o que atrasa a
busca por auxílio médico e amplia o risco
de complicações, como pneumonia por
aspiração, desnutrição ou desidratação;
 Neoplasias de cavidade oral: o tabagismo
e o etilismo correspondem a fatores de
risco importantes para o desenvolvimento
desses cânceres, que afetam mais
homens que mulheres. O local mais
frequente é a língua, seguida pelos
palatos, gengivas e o lábio. Na
apresentação lingual, as lesões
indicativas do quadro podem se
apresentar como ulcerações ou placas de
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
coloração branca ou avermelhada, manifesta-se de forma variada,
comumente com a periferia abrangendo desde dor
hiperceratótica. Quando o tumor atinge a retroesternal/epigástrica, pirose, tosse
mucosa bucal, as manifestações podem crônica e disfagia até sangramentos do
incluir ulcerações, massa endurecida e TGI alto, que por vezes podem estar
placas brancas. “silenciados” e não serem reportados
graças ao longo período de convívio com
DISTÚRBIOS ESOFÁGICO S: o quadro. Dentre os fatores que tornam a
 Disfagia esofágica: diferentemente do DRGE tão evidente após o
quadro orofaríngeo já descrito, a disfagia envelhecimento encontram-se a
esofágica corresponde à dificuldade de obesidade, as alterações fisiológicas
movimentação do bolo alimentar por esse sofridas pela mucosa, a redução da
canal em direção ao estômago, motilidade esofágica, o maior uso de
resultando comumente em dor torácica medicações, e a prevalência elevada de
ou regurgitação. Dentre as possíveis infecções por H. pylori.
etiologias para o quadro encontram-se
neoplasias, infecções, acalasia
(infiltração linfoide que degrada células
do plexo mioentérico), estenoses,
espasmos, alterações no peristaltismo e
o etilismo;

 Esôfago de Barrett: corresponde à

substituição do epitélio escamoso distal
do esôfago por células metaplásicas
colunares, associado por vezes a casos
 Neoplasias Esofágicas: divididas em crônicos de DRGE não controlada. O
espinocelular e adenocarcinoma, têm quadro é, em idosos, frequentemente
como fatores de risco o assintomático, porém é possível
tabagismo/consumo de bebidas observar, dentre os sintomas mais
alcoólicas, e a presença de esôfago de referidos, pirose, regurgitação, odinofagia
Barrett, respectivamente, e dor retroesternal;
correspondendo ao quarto tipo de câncer
mais prevalente na população geral. O
quadro clínico pode envolver disfagia,
odinofagia, regurgitação ou hematêmese,
sendo possível também o
desenvolvimento de compressão da veia
cava superior, fístulas esofágicas ou
rouquidão (comprometimento nervoso);
 Doença do Refluxo Gastresofágico
(DRGE): uma das doenças mais
frequentemente observadas em idosos,

 Esofagite ou lesões de origem
medicamentosa: frequentes na
população idosa em decorrência do
grande volume de fármacos prescritos,
têm como apresentação desde dor
torácica e odinofagia até hiperemia da
mucosa, úlceras e estenoses, geralmente
autolimitadas com a suspensão do
medicamento causador. Outros fatores
que podem favorecer o desenvolvimento
desse quadro são a redução da
motilidade esofágica e a ingesta de
comprimidos com pouca água.
DOENÇAS QUE AFETAM O ESTÔMAGO:
 Doença péptica ulcerosa: é a principal
causa de dispepsia em idosos, se
manifestando principalmente por meio de
lesões gastroduodenais. Nessa
população, a velocidade
esvaziamento gástrico, assim como a
concentração de ácido clorídrico nas
secreções gástricas, a secreção de
pepsina e de fatores protetores da
mucosa encontram-se reduzidas. As
úlceras duodenais são comumente
associadas a infecções pela H. pylori, que
aumenta os níveis de gastrina e, por
consequência, favorece a hiperplasia de
células parietais próximas ao duodeno,
liberando compostos ácidos nessa
região. A principal manifestação clínica é
a dor epigástrica em queimação, que
surge após as refeições, podendo ser
combatida por meio de remédios ou da
ingesta de alimentos. Úlceras gástricas,
por sua vez, são mais prevalentes e
menos diagnosticadas em idosos, tendo
forte correlação com o uso excessivo de
anti-inflamatórios não esteroides e
infecções bacterianas. O sintoma mais
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
relatado é também a dor epigástrica, que
piora com a alimentação e o uso de
medicamentos;
 Gastrite: esse é um termo amplo que se
divide em tipo A, de origem autoimune e
localização delimitada ao corpo do
estômago, e tipo B, associada a
infecções por H. pylori e delimitada ao
antro. Essa segunda forma pode evoluir
com maior facilidade para quadros de
gastrite atrófica, nos quais a mucosa se
torna fina e as glândulas são degradadas,
aumentando a probabilidade de
surgimento de câncer de estômago. Os
sintomas mais comuns são sensação de
plenitude epigástrica, desconforto na
porção superior do abdome náusea e
pirose;
 Sangramento gastroduodenal
(hemorragia digestiva alta): distúrbio
bastante comum em idosos, é um grande
causador de morbimortalidade e
internações, principalmente no que se
refere aos acometimentos altos. Nessa
população, as principais etiologias dessa
de
modalidade de hemorragia são
esofagites, gastrites ou úlceras pépticas,
que podem ser potencializadas por
comorbidades, como hepatopatias,
disfunções cardiovasculares e uso de
anticoagulantes. Os sintomas mais
frequentes nesse quadro são
hematêmese e melena, com menor
frequência de episódios dispépticos em
pacientes na velhice, assim como
manifestações prévias ao sangramento
em si;
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Neoplasia gástrica: problema de saúde
pública, é um tipo de câncer típico do
idoso, com incidência maior por volta da
7ª década de vida, principalmente em
homens. Os fatores associados ao
surgimento desse tipo de câncer são o
tabagismo, deficiências vitamínicas,
ingesta elevada de sal e ocorrência
crônica de gastrite atrófica. A
apresentação clínica desse quadro é, por
vezes, branda, apenas manifestando
perda de peso, A apresentação clínica do
câncer gástrico pode ser frustrada, às
vezes cursando apenas com perda de
peso, diminuição do apetite e fraqueza,
sendo os sintomas “típicos” (anorexia,
saciedade precoce e abdome doloroso à
palpação) são evidentes em apenas 20%
dos casos;

DOENÇAS INTESTINAIS E ORIFICIAIS:  Diverticulite: esse termo pode ser

empregado para descrever duas
 Hemorragia digestiva baixa:
condições distintas, que representam os
sangramentos após o ligamento de Treitz
mais comuns acometimentos ao intestino
manifestam-se principalmente por
grosso no mudo ocidental: a diverticulose
melena, que podem ter expressão
e a diverticulite em si. A doença
oscilando entre leve ou maciça. Dentre as
diverticular é pouco frequente em
principais causas para esse quadro,
indivíduos com menos de 40 anos, com
destacam-se hemorroidas e fissuras
prevalência aumentando com o avanço
anais, diverticulite, distúrbios
da idade, sendo que aos 80 anos, 70%
inflamatórios, pólipos/câncer colorretal e
dos americanos são afetados pelo
lesões intestinais. A idade média de
quadro. A diverticulose é um fenômeno
pacientes com sangramento digestivo
adquirido marcado pela formação de
baixo varia de 63 a 77 anos;
divertículos, pequenas dilatações da
mucosa e/ou submucosa do cólon,
motivado pelo aumento de pressão
intraluminal no órgão, que prejudica
pontos de inserção vascular,
principalmente no cólon sigmoide e
descendente.
A diverticulite representa a complicação
de um quadro de diverticulose,
descrevendo a inflamação dos
prolongamentos formados, que pode
apresentar vários graus de gravidade e
múltiplos desfechos próprios, como
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
perfurações da parede intestinal,
sangramentos, peritonite e formação de
abcessos. Esse último quadro manifesta-
se principalmente por dor abdominal,
alterações no movimento intestinal e
hematoquezia;
 Câncer colorretal: o CCR é uma forma de
 Pólipos intestinais: pólipos são dilatações
pequenas na mucosa colônica ou retal,
que majoritariamente não apresentam
risco de malignidade. As formas com
maior potencial de desenvolvimento
neoplásico (adenomas) dão início a uma
cascata de carcinogênese que dá origem
ao câncer colorretal, mas que também
pode ser contida precocemente por meio
da colonoscopia. Normalmente, tais
alterações não apresentam sintomas,
que, quando presentes, apresentam-se
como sangramento, saída de muco com
as fezes, alterações no funcionamento do
intestino e, de forma menos comum,
dores abdominais;
 Constipação: na terceira idade, a
neoplasia que acomete os segmentos do
intestino grosso (cólon, reto e ânus),
tendo como principais fatores de risco o
histórico familiar de câncer, a idade
avançada, dietas baseadas em gorduras
animais; baixa ingestão de frutas,
vegetais e cereais integrais,
etilismo/tabagismo, obesidade e o
sedentarismo. Tal quadro é
frequentemente assintomático, no
entanto alguns sintomas de alerta se
destacam, como mudanças no hábito
intestinal, dor abdominal, alterações no
aspecto fecal e presença de sangue nas
fezes. Algumas apresentações menos
frequentes são dor em baixo ventre,
anemia, presença de muco nas fezes,
queda no estado geral, obstruções
intestinais agudas, massa abdominal
palpável e peritonite fecal;
associação entre a menor mobilidade
intestinal e o uso de medicamentos e
condições de saúde potencialmente
obstipantes justifica a maior prevalência
da constipação, principalmente em
mulheres. Clinicamente, a definição mais
simples para esse quadro é a evacuação
inferior a três vezes por semana. Há, no
entanto, várias outras definições
baseadas em múltiplas escalas
internacionais, como a Roma II.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Conceitualmente, é possível segmentar a
constipação intestinais em dois grupos, o
de causas primárias, e o de causas
secundárias, sendo que o primeiro ainda
se divide em:
o Constipação intestinal funcional ou
com trânsito intestinal normal: a
velocidade com a qual o bolo fecal
perpassa o intestino é mantida nos
parâmetros normais. O diagnóstico
clínico é frequente nesses casos;
o Constipação intestinal com trânsito
intestinal lento: o bolo fecal mantém-
se por mais tempo no intestino
grosso. Nessa manifestação, a
obstipação se associa à distensão
abdominal e diminuição dos ruídos
hidroaéreos. Ainda que sua etiologia
não seja totalmente conhecida,
alguns possíveis mecanismos
envolvem anormalidades no plexo
mesentérico, inervação colinérgica
incompleta e disfunções na placa
motora;
o Disfunção anorretal: essa forma de
constipação ocorre em decorrência
da má coordenação muscular pélvica
na defecação, causando assim
sintomas como sensação de
evacuação incompleta, obstrução à
eliminação das fezes ou a idosos;
necessidade de manipulação digital
no orifício retal.
O mnemônico dos 4 “Ds” auxilia a
compreender algumas das principais
condições capazes de desencadear
quadros de obstipação, sendo de grande
importância para a elaboração de um
diagnóstico: Deambulação, Dieta,
Doenças e Drogas;
 Diarreia: essa disfunção pode ser
definida como redução da consistência
das fezes (tornam-se amolecidas ou
liquefeitas) associada a mais de três
evacuações diárias, porém a definição
sofre com a subjetividade, uma vez que o
número de defecações normal pode
variar entre indivíduos. Também é
possível haver confusão por parte do
paciente em diferenciar quadros
diarreicos e incontinência fecal. O tempo
de duração dos sintomas permite
diferenciar diarreia aguda (menos de 2
semanas de evolução, frequentemente
de origem infecciosa) da persistente
(mais de 2 semanas) e da crônica (mais
de 4 semanas). Parte desses casos pode
ser desencadeada por comorbidades
pré-existentes ou pelo uso de
determinados medicamentos. A doença
celíaca e doenças inflamatórias
intestinais correspondem ao diagnóstico
diferencial de diarreias crônicas em
 Incontinência fecal: esse quadro, definido
como a eliminação involuntária de fezes,
é comum dentre idosos, representando
um problema com amplos impactos
sociais e de higiene. A causa pode ser
congênita ou adquirida, sendo que nesse
último caso, resulta de enfermidades
localizadas na região anal, de traumas,
de cirurgias no períneo que podem exigir
a secção dos músculos do esfíncter, ou
de cirurgias para tratamento de câncer;

 Fissuras anais: o termo “fissura anal” é
mais comumente associado a rasgos
longitudinais no canal anal, normalmente
se estendendo a partir da linha denteada,
que define a transição entre o epitélio
intestinal e a pele. Algumas
manifestações que precedem o perianal. A etiologia para ambas as
desenvolvimento dessa condição são
constipação e diarreia. Os primeiros
sintomas após a formação da lesão, por
sua vez, a dor anal (geralmente
ocorrendo após a defecação e persistindo
por horas) e o sangramento anorretal,
que pode ser um fator de confusão para
o diagnóstico de hemorroidas.
 Hemorroidas: hemorroidas são
agrupamentos de tecido endotelial
vascular, músculo liso e tecido conjuntivo
dispostos em camadas ao longo do canal
anal. Em indivíduos saudáveis, essas
estruturas formam uma espécie de
“acolchoamento” que favorece
manutenção da continência fecal. O
processo sintomático associado a esses
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
clusters pode se subdividir em dois tipos:
as hemorroidas internas, localizadas
acima da linha denteada, são recobertas
por epitélio colunar e fibras nervosas
viscerais que não realizam captação de
estímulos dolorosos, sendo classificadas
quanto à extensão do acometimento; As
hemorroidas externas, por sua vez,
localizam-se já abaixo dessa delimitação,
sendo revestidas por epitélio escamoso e
por nervos somáticos associados à
geração de respostas de dor, porém são
geralmente assintomáticas, a menos que
entrem em estado de trombose
(episódios álgicos intensos e agudos).
Com a resolução desse quadro, algumas
pregas cutâneas podem permanecer,
criando assim problemas com a higiene
manifestações ainda é indefinida, porém
vários estudos apontam o papel de dietas
com baixa ingesta de fibras e da
constipação para a instalação do quadro.
Teorias mais atuais apontam que essa
obstipação resulta em estresse crônico
das fibras musculares e desidratação do
bolo fecal, que acaba por degenerar os
tecidos de suporte ao ânus, formando tais
prolapsos vasculares. Alguns dos
sintomas gerais mais comumente
associados a hemorroidas são prurido
anal, sangramento, incontinência fecal,
dor e eliminação de muco.
a
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
ABANDONO DE IDOSOS – IMPACTOS anos finais, mas infelizmente esta não é a
SOCIOECONÔMICOS E CU LTURAIS E POLÍTICAS DE realidade para a maior parte da população
ENFRENTAMENTO: nessa faixa etária, o que dá margem a
múltiplas intervenções jurídico-legais no
IMPACTOS DO ABANDONO E DA NEGLIGÊNCIA tema.
PARA COM IDOSOS:
Assim, de forma a preservar o direito e a
O abandono de idosos é um fenômeno que
dignidade da pessoa idosa, o Estatuto do
coloca em risco a saúde pública em todo o
Idoso, implementado por meio da Lei nº
globo, disseminação esta que dificulta (mas
10.741/2003, conta com os seguintes
não impossibilita) a delimitação desse
artigos: “Art. 2. O idoso goza de todos os
conceito, alinhado pela OMS como “um ato
direitos fundamentais inerentes à pessoa
ou omissão isolado ou repetido que afete a
humana, sem prejuízo da proteção integral
relação de confiança em qualquer
de que trata esta Lei, assegurando-se lhe,
relacionamento, trazendo risco ou danos ao
por lei ou por outros meios, todas as
idoso em qualquer aspecto”. Essa condição
oportunidades e facilidades, para
coloca em risco a autonomia e o bem-estar
preservação de sua saúde física e mental e
do senescente, que apresenta, frente a
seu aperfeiçoamento moral, intelectual,
essas adversidades, maior mortalidade e
espiritual e social, em condições de liberdade
risco de desenvolvimento de transtornos
e dignidade.” e “Art. 3. É obrigação da
comórbidos, como declínio da capacidade
família, da comunidade, da sociedade e do
funcional, transtornos mentais, estresse
Poder Público assegurar ao idoso, com
fisiológico, distúrbios orgânicos, disfunções
absoluta prioridade, a efetivação do direito à
nutricionais e aumento do risco para
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à
tentativas de suicídio, principalmente dentre
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
mulheres.
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
Na maioria dos casos, os perpetradores do respeito e à convivência familiar e
abandono são familiares, filhos ou parentes comunitária”.
próximos. Nesse contexto de desprezo e
Ainda acerca do Estatuto do idoso, o art. 6.
rompimento de laços afetivos, o indivíduo
Determina que qualquer pessoa tem o deve
sente-se desamparado e vazio, o que
de comunicar a uma autoridade casos de
intensifica os efeitos deletérios dos
infrações quaisquer aos direitos da pessoa
processos fisiopatológicos que já acometem
idosa, ao passo que no art. 3., parágrafo
o corpo no envelhecimento. O contexto do
único, V, está definido o papel familiar e
abandono é vivenciado em todas as classes
social na manutenção de seus direitos
sociais, não se refletindo somente em asilos,
básicos de forma prioritária, a saber: “É
mas sim no próprio domicílio, local no qual
obrigação da família, da comunidade, da
há inexistência ou fragilidade de laços
sociedade e do poder público assegurar ao
afetivos e de convívio familiar, fazendo com
idoso, com absoluta prioridade, a efetivação
que o idoso se mantenha na expectativa de
do direito à vida, à saúde, à alimentação, à
receber telefonemas ou visitas que nunca
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
chegam.
trabalho, à cidadania, à liberdade, à
Espera-se que a família seja o porto seguro dignidade, ao respeito e à convivência
de um indivíduo na velhice, dando a ele a familiar e comunitária. Parágrafo único. A
atenção e a proteção necessárias para que garantia de prioridade compreende: V –
seja mantida sua qualidade de vida em seus priorização do atendimento ao idoso por sua
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
própria família, em detrimento do
atendimento asilar [...].”
Atualmente encontra-se em processo de
tramitação o Projeto de Lei nº 4.229/2019,
que sujeita pais que abandonarem
afetivamente seus filhos a pagamento de
indenização por dano moral, o que acaba por
impactar na Lei nº 10.741 de forma a prever
também esse direito aos pais que são
renegados por sua prole. Esse instrumento
legal pode alterar a forma com a qual tais
denúncias de negligência são conduzidas,
favorecendo a luta da pessoa idosa em prol
de seu bem-estar e de sua dignidade.
A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO E O ESTATUTO DO
IDOSO:
A Política Nacional do Idoso (PNI) foi criada
em 1994 por meio da Lei nº 8.842, tudo sido
regulamentada pelo decreto no 1.948, de 3
de julho de 1996. Esse documento apresenta
como objetivo a garantia dos direitos sociais
do idoso, fornecendo a ele condições que
permitam o exercício de sua autonomia e sua
integração e participação efetiva no corpo
social. O inciso III do art. 3o reforça o
comando constitucional da isonomia ao
dispor que o idoso não deve sofrer
discriminação de qualquer natureza. O inciso
IV reconhece o idoso como sujeito
responsável pela efetivação da lei; e o inciso
V afirma o caráter heterogêneo da velhice.
No entanto, esse texto ainda contava com
limitações e entraves burocráticos que
dificultavam a implementação de seus
preceitos, como a imprecisão na delimitação
de autores para as medidas propostas e a
mudança de “chefia” para a pasta, que
passou do Ministério da Previdência e
Assistência Social para a Secretaria de
Direitos Humanos, que em pouco contribuiu
para estabelecer atribuições concretas para
o projeto.
Assim, 10 anos após a publicação da Lei que
primeiro instituiu a PNI, foi publicada a Lei no
10.741, de 1º de outubro de 2003, fruto de
intensa mobilização de movimentos sociais,
construindo assim o Estatuto do Idoso. Este
novo documento conta com sete títulos, que
abrangem os direitos fundamentais, as
medidas de proteção, as políticas de
atendimento ao idoso, o acesso à justiça, os
crimes e demais disposições que digam
respeito à faixa etária em questão. O sistema
de garantias previsto no Estatuto é composto
pelas seguintes instituições e órgãos:
Conselhos do Idoso, SUS, Sistema Único de
Assistência Social (Suas), Vigilância em
Saúde, Poder Judiciário, Defensoria Pública,
Ministério Público e Polícia Civil.
Como parte dos desdobramentos da PNI, foi
promulgada pela Portaria nº 1.395, de 10 de
dezembro de 1999, a Política Nacional de
Saúde do Idoso (PNSI), atualizada pela
Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2006,
criando assim a Política Nacional de Saúde
da Pessoa Idosa (PNSPI). Tal organização
tem como finalidade a recuperação,
preservação e promoção da autonomia e da
independência dos indivíduos senescentes,
obtidas por meio da institucionalização de
medidas de cunho individual e coletivo para
esse fim, de forma integrada aos preceitos
do SUS.
A PNSPI deve superar o grande desafio que
reside na articulação entre os componentes
desse complexo sistema de saúde e às
demandas da população assistida num
contexto fortemente marcado por
disparidades sociais diversas.
PROBLEMA 3 - INTERMEDIÁRIA:
DISTÚRBIOS NEUROCOGNITIVOS NO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO:
O processo de envelhecimento pode
discorrer-se de forma normal, denominada
senescência, ou envolver fenômenos que
reduzem a capacidade funcional do
indivíduo, apresentação conhecida como

senilidade. O avanço senescente da idade é
considerado saudável, mantendo
preservadas as funções sociais, pessoais e
cognitivas do idoso, seja de forma bem-
sucedida, sem ônus, ou de modo usual, no
qual há alguns prejuízos que são
compensados. Nas situações nas quais tais
deficiências são mais extensas ou graves
(processo senil), as implicações às
atividades da vida diária são marcantes,
podendo levar a um quadro de déficit
cognitivo, capaz de afetar a memória, a
organização e a capacidade de
planejamento e/ou tomada de decisões.
O termo incapacidade cognitiva
empregado para descrever tais impactos às
funções mentais superiores, sendo que, de
modo a pertencerem a essa categoria, é
necessário que haja prejuízo
funcionalidade e autonomia do indivíduo (tais
critérios descrevem o Transtorno Cognitivo
Leva – TCL, descrito posteriormente). Assim,
um critério essencial para o correto
diagnóstico desse quadro é o
estabelecimento de diminuição da aptidão
individual para a realização das atividades da
vida diária.
Ao contatar-se a condição de incapacidade,
vários diagnósticos se tornam possíveis,
como disfunções induzidas por
medicamentos, diminuição da capacidade de
atenção ou depressão. Essa última etiologia
pode também receber outras nomenclaturas,
que destacam suas consequências tanto ao
afeto quanto à funcionalidade cognitiva,
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
como seudodemência, síndrome demencial
da depressão ou distúrbio cognitivo-afetivo.
Para classificar determinadas manifestações
como demência é crucial que haja uma
avaliação clínica detalhada, com anamnese
é que deve ser confirmada por um “informante”
que more junto ao paciente, assim como que
a origem dos sintomas típicos não seja
melhor explicada por nenhuma outra
na disfunção. Na avaliação, as modificações
identificadas no estilo de vida do paciente
são comparadas aos estados pregressos,
delimitando assim o prejuízo à capacidade
de realização de afazeres e a dependência
real do indivíduo.
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE (TCL):
O Transtorno Cognitivo Leve representa
todas as manifestações relatadas por idosos
com queixas referentes à memória, mas que
não são suficientes para contemplar os
critérios diagnósticos para a demência (não
são extensas ou graves o bastante). Assim,
para ser caracterizado como portador de
TCL, o idoso deve apresentar queixas
associadas à memória (de preferência
verificadas por um acompanhante),
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
desempenho diminuído em testes validados
para mensurar a retenção de informações,
manutenção das demais funções em
parâmetros normais, e a ausência de
demência. Também é possível, para alguns
autores, subdividir o TCL em
subclassificações, amnésico ou não
amnésico, que são, em seguida, novamente
segregados em acometimento individual ou
comprometimento de múltiplos domínios.
Existe uma correlação positiva entre o
transtorno cognitivo leve e o
desenvolvimento de quadros demenciais. A
modalidade amnésica de múltiplos domínios,
por exemplo, pode levar à Doença de
Alzheimer, demência vascular ou depressão,
ao passo que o TCL não-amnésico de
domínio único, principalmente aqueles nos
quais há déficit em funções executivas
(controle emocional e formação de
pensamentos) pode evoluir para uma
demência fronto-temporal. Por fim, o TCL
não-amnésico de múltiplos domínios tem
maior correlação com quadros demenciais
decorrentes de alterações nos corpúsculos
de Levy ou no sistema vascular.
DEMÊNCIAS:
Os quadros demenciais propriamente ditos
são caracterizados por mudanças no
comportamento e déficit cognitivo
significantes para a realização adequada das
atividades diárias de um indivíduo. As
principais apresentações encontradas sob
esse “termo guarda-chuva” são a Doença de
Alzheimer e a demência vascular,
representando cerca de 90% de suas
etiologias. Essa identificação é importante
para que as intervenções adequadas sejam
implementadas para causas comórbidas
e/ou reversíveis, além de permitir o
planejamento detalhado dos cuidados aos
pacientes.
O envelhecimento é o principal fator de risco
para o surgimento da demência, porém
múltiplos hábitos associados ao estilo de
vida (e, portanto, modificáveis) podem ser
destacados. Esse é o caso da hipertensão,
do diabetes, da dislipidemia, da baixa
escolaridade, e do tabagismo. Alguns fatores
protetores também são observados, como a
interação social e o engajamento em
atividades que promovam o estímulo
intelectual (montagem de quebra-cabeças
ou caça-palavras, por exemplo).
As demências, em suas múltiplas etiologias,
podem ser categorizadas como
evolutivas/irreversíveis, que levam a uma
perda cognitiva gradual e progressiva, seja
por alterações neurodegenerativas ou
vasculares, estáticas, como a demência
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
vascular controlada, ou potencialmente
reversíveis, como aquelas apresentações
decorrentes de hipovitaminose de vitamina
B12, hipotireoidismo, hematomas subdurais
ou comprometimento cognitivo traumático.
Estas últimas possuem chance de regressão
por meio do tratamento adequado da causa-
base.
DEMÊNCIAS PROGRESSIAS (DOENÇAS
DEGENERATIVAS):
DOENÇA DE ALZHEIMER:
A doença de Alzheimer (DA) é a principal
causa de demência, correspondendo a cerca
de 60% de todas as manifestações. No
entanto, a etiologia desse quadro, em
específico, ainda não é conhecida, sendo as
atuais suspeitas direcionadas a mutações
nos genes da presenilina (presenilina I e II) e
da proteína precursora do amiloide (APP),
ambas afetando a consolidação e o
metabolismo da proteína precursora do
amiloide, de forma a criar depósitos de um
peptídeo (beta-amiloide) sobre os neurônios,
que, quando em volume suficiente para
formar placas, levam à morte celular.
O impacto neurocognitivos decorrente dessa
doença apresenta progressão gradual,
normalmente com platôs evolutivos curtos,
com sobrevida média de cerca de 10 anos
após o diagnóstico (esse marco se refere
principalmente à idade avançada dos
pacientes). Quando em estágios mais
graves, os indivíduos afetados acabam
restritos ao leito e incapazes de falar, vindo a
óbito por meio da aspiração pulmonar.
O início do quadro sintomático é mais
frequente durante a 8ª ou 9ª década de vida,
porém mutações genéticas podem resultar
no desenvolvimento precoce da DA, por volta
dos 50 ou 60 anos de idade. De forma geral,
esse quadro se instala de forma insidiosa,
tendo os déficits de memória como os
eventos de maior destaque, primeiramente
afetando a memória episódica e o
aprendizado, evoluindo com prejuízos em
outras funções cognitivas, como cálculo,
julgamento e pensamento abstrato.
Pacientes nas fases intermediária vivenciam
disfunções na articulação da fala como
disfasia ou apraxia, nas quais há grande
dificuldade em “encontrar” a palavra
necessária para completar o sentido do
discurso. Em estágios graves, por fim,
mudanças comportamentais (delírios, ações
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
impulsivas, agressividade) são evidentes,
assim como dependência total para as
atividades da vida diária e o ciclo sono-
vigília.
DEMÊNCIAS VASCULARES:
Doenças cardiovasculares, comuns no
processo de envelhecimento, podem
deflagrar o aparecimento de quadros
demenciais, que representam a segunda
maior causa para esse grupo de alterações.
As demências vasculares (DV) normalmente
se iniciam mais precocemente que o
Alzheimer, tendo maior prevalência em
homens (ao contrário do primeiro). A
sintomatologia se apresenta tipicamente de
modo súbito, perpetuando de forma
gradativa, com mudanças rápidas no
funcionamento cognitivo, o que não ocorre
na DA.
A prevalência de demência vascular na
população dos Estados Unidos oscila entre
0,2%, para indivíduos de 65 a 70 anos, e
16%, para pessoas com mais de 80 anos de
idade. Nos três primeiros meses que
sucedem um acidente vascular cerebral,
cerca de 30% dos pacientes são
diagnosticados com quadros demenciais. Há
a também a possibilidade de manifestações
combinadas de DV e DA ocorrerem num
mesmo indivíduo, com prevalência de 44,6%
na 8ª década de vida. Observa-se um maior
acometimento de homens e negros quando
comparados a indivíduos do sexo masculino
e de etiologia caucasiana.
De forma geral, o quadro clínico da DV varia
conforme a localização do infarto ou da lesão
encefálica, que podem ocorrer
individualmente ou de forma múltipla.
Doenças que acometem grandes vasos
comumente dão origem a múltiplos infartos
corticais (síndrome demencial cortical
multifocal), ao passo que manifestações
microvasculares, decorrentes principalmente
da cronicidade de comorbidades como
hipertensão e diabetes, promovem a
isquemia da substância branca
periventricular, consolidando a demência
subcortical, com alterações frontais, perdas
na função executiva, comprometimento de
memória, déficit atencional, depressão e
disfunções motoras e urinárias.
Para caracterizar adequadamente a DV, são
necessários três elementos básicos:
síndrome demencial, doença
cerebrovascular e uma relação temporal
significativa que conecte ambas. Assim, para
o diagnóstico de demência vascular, tanto a
anamnese quanto os exames de imagem
devem apontar indícios de doença
cerebrovascular considerada relacionada
com a demência. Os sinais neurológicos
focais presentes em pacientes incluem
resposta extensora plantar (sinal de Babinski
positivo), paralisia pseudobulbar, marcha
anormal, parestesia distal ou perda de
sensibilidade.
O diagnóstico diferencial entre a doença de
Alzheimer e a DV é difícil, pois múltiplos
quadros vasculares do cérebro podem levar
a um comprometimento cognitivo capaz de
dar origem a manifestações demenciais,
como infartos grandes, infartos lacunares e
doença de pequeno vaso. O advento da
ressonância magnética permite a
identificação de lesões típicas e também
favorece o direcionamento da investigação
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
para as causas de base desse acometimento
(hipertensão mal controlada ou embolia, por
exemplo). Os déficits cognitivos vasculares
podem ser subcorticais, corticais ou mistos,
dependendo do local de ocorrência do dano
encefálico.
OUTRAS MODALIDADES DEMENCIAIS:
 Demência por Corpúsculos de Lewy
(DCL):
A demência por corpúsculos de Lewy (DCL),
conhecida também como doença difusa com
corpúsculos de Lewy, está se consolidando
como uma das mais frequentes causas de
quadros demenciais em idosos, afetando
cerca de 20% dos indivíduos com mais de 65
anos com sintomas associados a esses
quadros.
A DCL é caracterizada pela deposição de
agrupamentos eosinofílico arredondados, os
corpúsculos de Lewy, que se disseminam
difusamente no córtex cerebral no tronco
encefálico. Essas estruturas são formadas
por células do sistema imune e por proteínas
neurofilamentares, ubiquitina e,
principalmente, alfa-sinucleína. Cabe
ressaltar que tanto essa modalidade
demencial quanto a Doença de Parkinson
estão associada à presença desses
clusteres, dispostos em segmentos distintos
do encéfalo, tornando necessária uma
investigação detalhada para diferenciar tais
manifestações.
Em indivíduos saudáveis, a alfa-sinucleína é
responsável por um conjunto de funções
importantes para a integridade das células
do sistema nervoso, com destaque para a
sua ação sináptica. Nos quadros de Doença
por Corpúsculos de Lewy, essa proteína se
aglomera no interior dos neurônios,
inicialmente nas regiões reguladoras da
memória e do movimento, reduzindo o
funcionamento destas estruturas e induzindo
a morte celular. Assim, a DCL resulta em
lesões cerebrais e perda cognitiva
significante.
O diagnóstico clínico dessa condição é
realizado quando ocorrem os seguintes
eventos: demência persistente por ao menos
6 meses de duração com declínio cognitivo
oscilante, de forma concomitante a episódios
de confusão mental; quedas recorrentes;
alucinações (em sua maioria, visuais);
rigidez muscular e lentidão de movimentos; e
sensibilidade a antipsicóticos convencionais.
Não estão inclusos no diagnóstico de DCL os
indivíduos que apresentaram manifestações
de parksonismo no ano que antecedeu o
surgimento dos sintomas, de forma a
segregar portadores da doença que tenham
se tornado demenciados.
 Demência frontotemporal:
A demência causada por doença de Pick
ocorre por meio de disfunções
neuropatológicas ao córtex frontal, como é o
caso do acometimento frontotemporal (DFT),
que lesa as funções associadas a essa área
(ex.: afasia), sem prejuízo cognitivo das
atribuições mediadas pelas regiões
posteriores do cérebro.
O início da DFT é geralmente mais precoce
que o das demais demências (após os 40
anos de idade), com grande padrão de
herança familiar (20% dos casos), com
aspecto autossômico dominante.
Em oposição ao Alzheimer e às demais
demências degenerativas, a DFT apresenta
sintomatologia primária que prioriza os lobos
frontais e temporais anteriores, com
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
comprometimento menor da memória
episódica e maior frequência de alterações
comportamentais (desinibição, desatenção,
inflexibilidade, impulsividade, menor senso
crítico e baixa perseverança). Se as
interferências forem temporais, prevalecem
as alterações na linguagem, com afasia
progressiva e demência semântica.
 Demência por HIV:
A demência por HIV é decorrente de
alterações neurofisiológicas motivadas pelo
vírus, tendo como achados degradação
difusa da substância branca e das estruturas
subcorticais. A sintomatologia dessa
apresentação tem como manifestações
típicas o esquecimento, a lentidão dos
movimentos, menor capacidade de
resolução de problemas e baixa
concentração. Como impactos
comportamentais, destacam-se
delírios/alucinações, reclusão social e
apatia.
Esse quadro não é restrito somente à
população idosa, podendo afetar crianças
que foram contaminadas por meio da
transmissão vertical do vírus. Nesses casos,
os sintomas mais evidentes são atraso no
desenvolvimento cognitivo e déficit motor.
DELLIRIUM:
O delirium, ou estado confusional agudo, é
um transtorno neurocognitivo de impacto
comportamental oriundo de
comprometimentos temporários à atividade
cerebral associados a uma causa orgânica.
A instalação do quadro é, portanto, súbita,
abrangendo a consciência, a atenção, a
cognição e a percepção em intensidades
variáveis (flutuantes) ao longo do dia.
A prevalência dessa condição é bastante
elevada em idosos, atingindo cerca de 14%
em indivíduos com mais de 85 anos de
idade, ainda que, na população geral, esses
valores sejam mais baixos, em torno de 1 a
2%. Nos serviços de emergência, o delirium
afeta até 30% dos pacientes na terceira
idade, sendo ponto de partida para a
investigação de múltiplas desordens
médicas.
Além das manifestações supracitadas, o
delirium geralmente está associado a
perturbações no ciclo sono-vigília, seja com
sonolência diurna (excessiva ou não),
insônia ou agitação noturna, chegando, em
alguns casos, a uma inversão completa dos
comportamentos diurnos e noturnos.
Perturbações emocionais como ansiedade,
depressão, irritabilidade, euforia ou apatia
também são comuns, podendo haver rápida
oscilação entre estados do humor distintos.
A expressão dessas alterações torna-se
evidente quando o idoso grita, amaldiçoa, se
queixa ou murmura, principalmente a noite
ou em ambientes com privação de estímulos.
Os idosos, já comprometidos por déficits
energéticos e neurológicos típicos do
envelhecimento, se tornam muito mais
vulneráveis ao desenvolvimento de delirium,
manifestado de forma hiperativa, hipoativa
ou misto. O entanto, apenas a primeira
categoria é detectada prontamente na
prática clínica diária, mesmo que represente
apenas uma fração do total de casos. As
principais etiologias de base para a
instalação do delirium são quadros
infecciosos, hospitalizações, uso excessivo
de medicamentos e intercorrências clínicas
de quadros prévios, destacando-se a
demência.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
instrumento mais utilizado para esse fim é a
Escala de Depressão Geriátrica (EDG),
composta por um conjunto de perguntas
objetivas pontuadas, sendo que o aumento
do valor obtido é diretamente proporcional à
probabilidade de adequação diagnóstica.

DEPRESSÃO EM IDOSOS:

A depressão é um distúrbio clínico frequente

marcado por alterações persistentes no
humor e possível diminuição da capacidade
cognitiva, capaz de induzir o indivíduo a um
quadro de catatonia. Sua etiologia ainda não
é totalmente estabelecida, no entanto
Esse transtorno pode surgir em qualquer
algumas teorias se destacam, como as
etapa da vida, tendo prevalência de cerca de
hipóteses de disfunções genéticas na
15% na população idosa, percentual esse
produção de serotonina, e a influência de
que pode chegar a 50% com a análise de
marcadores inflamatórios sobre a fisiologia
indivíduos institucionalizados. Em reação ao
neuronal.
sexo, mulheres apresentam de 1,5 a 3 vezes
A sintomatologia típica é marcada por humor mais chances de desenvolver depressão,
deprimido, desinteresse em realizar tendência esta que se inicia na adolescência.
atividades cotidianas, alterações no hábito
A evolução desse quadro é imprevisível,
de sono, mudanças repentinas no peso
sendo possível haver quadros remissivos por
corporal, redução na capacidade de
meses ou anos e também pacientes que
concentração, fadiga, ideias infundadas de
nunca vivenciaram momentos de regressão
culpa ou autodepreciação e pensamentos
dos sintomas. A cronicidade dos episódios
recorrentes de morte. Para que seja
depressivos eleva de forma significativa a
adequadamente definido como depressivo,
probabilidade de aparecimentos de
esse quadro deve persistir por mais de 2
transtornos da personalidade, ansiedade e
semanas, não estando associada ao uso de
abuso de substância subjacentes,
substâncias, abuso ou ao luto.
diminuindo as chances de seguimento
adequado do tratamento.

Devido à alta vulnerabilidade da população

idosa para o desenvolvimento de depressão
e a magnitude de seus impactos para a
qualidade de vida, recomenda-se que esse
grupo seja monitorado frequentemente para
a detecção precoce de sintomas. O
Dentre os principais fatores de risco
associados ao desenvolvimento de
depressão na terceira idade encontram-se o
isolamento social, a viuvez, o sexo feminino,
condição socioeconômica precária, baixa
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
capacidade funcional, dor crônica, ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS NO APARELHO
comorbidades, disfunções cognitivas e o uso UROGENITAL E O PROCE SSO DE
de múltiplas medicações. Algumas situações ENVELHECIMENTO:
que podem agir como gatilhos para o início
de um episódio depressivo são o luto PATOLOGIAS DO TRATO URINÁRIO:
recente, abuso de substâncias, a vivência de
momentos familiares adversos e a mudança INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO:

de habitação (institucionalização ou casa de A infecção do trato urinário (ITU) é

filhos ou parentes). categorizada como um processo de
colonização bacteriana em tecidos de
PREVENÇÃO DE ALTERAÇ ÕES NEUROCOGNITIVAS qualquer componente das vias urinárias.
EM IDOSOS: Múltiplas formas de categorização podem
Dentre as principais medidas preventivas ser empregadas para melhor organizar as
para o surgimento de distúrbios apresentações dessa condição, como em
neuropsiquiátricos (como demência, delirium relação à localização (ITU alta x baixa),
e depressão), destacam-se: frequência (esporádica/isolada x
recorrente/persistente), sintomatologia
 Prática de atividade física: a realização (assintomática x sintomática – consideração
de pelo menos 150 minutos semanais de ainda mais importante na abordagem ao
exercícios aeróbios de intensidade idoso) e à gravidade do quadro (não
moderada por indivíduos com mais de 65 complicado x complicado).
anos (ou 3 sessões de atividades de
prevenção de quedas e aumento do
equilíbrio, em situações de restrição de
mobilidade) auxilia a reduzir o risco de
desenvolvimento de demência de forma
indireta, minimizando o impacto ou a Há duas grandes vias que promovem o
chance de desenvolvimento de desenvolvimento das ITU: a primeira,
comorbidades que atuem como base ascendente, é a forma de acesso mais
para o quadro demencial; comum para as bactérias, ao passo que a via
 Combate ao tabagismo e etilismo; hematogênica representa uma modalidade
 Mudança de hábitos alimentares: menos frequente, permitindo que bactérias
destaca-se o papel da dieta circulantes pelo organismo afetem as
mediterrânea, rica em oleaginosas, estruturas de filtração do sangue.
frutas, verduras e peixes, em oposição ao Independentemente do modo de
consumo excessivo de carne vermelha, colonização, o desenvolvimento ou não de
sal e alimentos processados presente na quadros patológicos irá depender de
maior parte dos países ocidentais; características do agente agressor, como
 Controle do peso; virulência e reações metabólicas de defesa,
 Controle da hipertensão arterial, diabetes e de aspectos do hospedeiro, como a força
melitus e dislipidemia; do sistema imune. Nas situações nas quais
 Interação social; esse equilíbrio é afetado (na terceira idade,
 Engajamento em atividades de em decorrência da degradação dos sistemas
estimulação cognitiva. de proteção), é instalado o quadro de
infecção.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Diversos tipos de bactérias podem causar
danos ao sistema urinário, sendo a E. coli a
mais encontrada. Na população idosa, no
entanto, também é frequente a observação
de outras variantes de interesse, como
Klebsiella, Proteus, Enterobacter e representada por episódios de candidíase,
Pseudomonas, levando ao desenvolvimento
de quadros complicados. É também nesse
grupo etário que se concentra a maior
prevalência de infecções polimicrobianas,
principalmente dentre indivíduos
institucionalizados.
Os sintomas das ITU são diversos, e, para a
população idosa, essa determinação pode se
tornar ainda mais trabalhosa, uma vez que
manifestações atípicas podem surgir. Em
infecções baixas, a sintomatologia usual
abrange disúria, urgência miccional e
poliúria, porém eles não são
patognomônicos do quadro. Dentre as
manifestações atípicas, destacam-se a
anorexia e a prostração, que interferem
ainda mais no processo de raciocínio clínico.
Na pielonefrite, por sua vez, a dor lombar e a
febre alta típicas podem ser substituídos ou
mascarados por manifestações
gastrintestinais como náuseas, vômitos, e
dor abdominal, ou por acometimentos de
outras ordens, como confusão mental
acentuada, desidratação ou choque.
INCONTINÊNCIA URINÁRIA:
A incontinência urinária é definida como
perda involuntária da urina, apresentando-
se, na população idosa, como um processo
sindrômico e multifatorial decorrente da
interação entre deteriorações normais da
velhice lesões patológicas ao sistema
nervoso ou urinário, uso de medicamentos,
declínios cognitivos e a presença de
comorbidades. Ainda que tal condição cause
um grande impacto negativo à qualidade de
vida dos indivíduos por ela acometidos, a
incontinência permanece sendo
subdiagnosticada e, por consequência,
A prevalência e a gravidade da incontinência
urinária aumentam com o envelhecimento,
sendo maiores entre mulheres (23 a 32%) do
que entre os homens (17 a 21%). Esse
quadro é responsável por alta morbidade,
úlceras por pressão, ITU, quedas e distúrbios
do sono, além de reduzir a autoestima e a
autonomia do indivíduo, que se torna recuso
e mais propenso ao surgimento de distúrbios
depressivos. Além disso, promove
sobrecarrega de familiares e cuidadores,
intensificando o risco de institucionalização.
Mesmo que o envelhecimento não seja um
fator determinante para o desenvolvimento
da incontinência urinária, esse período induz
certas alterações que aumentam a
susceptibilidade ao problema. Tais
mudanças são:
 Na bexiga:
o Diminuição da capacidade vesical;
o Redução da contratilidade e
hiperatividade do músculo detrusor;
o Aumento do volume residual.
 Diminuição da pressão de fechamento da
uretra (escape);
 Aumento do volume prostático;
 Aumento na produção de urina durante a
noite;
 Redução da produção estrogênica
feminina;
 Maior incidência de ITU recorrentes.
A incontinência urinária é classificada em
transitória (reversível) e estabelecida
(persistente), tendo suas características
descritas a seguir:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 Incontinência transitória ou reversível: O fator responsável por desencadear
A forma transitória da incontinência urinária tal apresentação é a contração
caracteriza-se por escapes de urina sem a desregulada da bexiga
presença de alterações no trato urinário (hipersensibilidade do detrusor), que
inferior. A etiologia dessa manifestação pode geralmente ocorre sem que haja
ser associada a múltiplos eventos de caráter outras mudanças na dinâmica
agudos, comumente reversíveis, expressos muscular.
pelo mnemônico DIURAMID. Em pacientes muito fragilizados, no
entanto, é possível observar a
ocorrência de uma variante
denominada “hiperatividade do
detrusor com redução da
contratilidade”. As manifestações
clínicas envolvem urgência e
frequência urinária aumentadas, com
jato fraco e grande volume residual,
podendo ser confundidas com
impactos da obstrução do canal
uretral.
A bexiga hiperativa é uma síndrome
 Incontinência estabelecida: caracterizada por urgência urinária
A incontinência estabelecida corresponde às acompanhada ou não por
apresentações que não podem ser incontinência, mas em geral
relacionadas a comorbidades pré-existentes associada à intensificação da
ou ao efeito de medicamentos, persistindo ao frequência e noctúria. Esclerose
longo do tempo. Múltiplos mecanismos múltipla, doença de Parkinson, AVC
fisiológicos podem de alguma forma estar e demência podem representar
evolvidos: hiperatividade ou hipoatividade doenças neurológicas de base que
muscular do detrusor, alteração da pressão podem desencadear o quadro, mas
uretral, obstrução da saída da bexiga e na maioria das situações ainda é
distúrbios funcionais. mantido caráter idiopático.
o Incontinência de esforço:
É possível segmentar esse grupo em
A incontinência de esforço ocorre
subcategorias, conforme a sintomatologia
quando a pressão intra-abdominal
clínica, sendo descritas como:
supera a pressão de fechamento
o Incontinência de urgência (bexiga esfincteriano, sem que haja estímulo
hiperativa): por contração vesical. Corresponde
A incontinência de urgência ao tipo mais comum de incontinência
representa a forma amis comum em mulheres jovens e ao segundo
desse distúrbio em idosos, mais prevalente dentre as idosas.
independentemente do sexo. Suas Nesse grupo demográfico, a perda
principais características são o urinária pode ocorrer em decorrência
desejo de urinar (urgência), que é da hipermotilidade uretral
seguido pela perda (moderada ou (deslocamento da uretra com a
intensa) de urina, que ocorre realização de alguma atividade), ou
involuntariamente. por deficiências intrínsecas ao
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
esfíncter uretral, resultantes de
traumas cirúrgico-obstétricos. Nos
homens, a realização de
prostatectomia radical pode induzir
ao aparecimento desse quadro, uma
vez que lesões ao esfíncter são
comuns.
o Incontinência por transbordamento:
A incontinência por transbordamento,
conhecida também como de
hiperfluxo, é a apresentação de
gotejamento contínuo de urina
associado a um jato urinário fraco,
esforço miccional, hesitação e
aumento de frequência (que leva à
noctúria).
Dois grandes mecanismos distintos
são responsáveis pelo
desenvolvimento desse
acometimento: a hipocontratilidade
do detrusor e a obstrução da saída
vesical. A primeira dessas etiologias
ocorre em até 10% dos idosos, em
decorrência da neuropatia periférica,
e de lesões às vias nervosas
eferentes ligadas à musculatura
vesical. Distúrbios obstrutivos
surgem, no homem, devido à
estenose uretral ou ao aumento
prostático, e, nas mulheres, devio a
prolapsos graves da bexiga ou útero
e a cicatrizes deixadas por lesões à
uretra.
o Incontinência mista:
A incontinência mista ocorre quando
mais de uma forma de escape
urinário está presente num mesmo
paciente (a musculatura detrusora se
contrai em excesso, ao passo que o
esfíncter não se mantém
adequadamente fechado).
o Incontinência funcional:
Caso as estruturas que moderam o
processo de micção não apresentem
nenhuma alteração, a incontinência é
atribuída a causas funcionais. Tais
etologias correspondem a qualquer
acometimento, seja ele psiquiátrico,
motor, cognitivo ou ambiental
(espaços mal iluminados, com risco
de quedas) que impeça a chegada no
banheiro a tempo para esvaziar a
bexiga.
GLOMERULOPATIAS:
As glomerulopatias são distúrbios
associados ao funcionamento glomerular,
responsável pela ultrafiltração do sangue,
apresentando múltiplas etiologias e
manifestações clínicas, podendo apresentar
caráter agudo ou crônico. Os idosos não
apresentam diferenças em relação a outros
grupos etários no que diz respeito à
sintomatologia de cada uma dessas
variantes, porém podem ser encontradas
prevalências distintas entre essas
classificações.
As glomerulopatias podem ter três
apresentações clinico-laboratoriais: a
síndrome nefrótica, caracterizada como uma
disfunção renal que cursa com edema em
vários graus, havendo também proteinúria de
24 horas superior a 3 g/dl, hipoalbuminemia
e dislipidemia. Nessa apresentação, a
função renal encontra-se preservada, assim
como a pressão arterial; a segunda
manifestação, que apresenta sintomatologia
concordante com a da síndrome nefrótica,
sem que, no entanto, os valores laboratoriais
alcancem os mesmos índices; e a síndrome
nefrítica, marcada por edema, hipertensão e
hematúria associada a deposição de
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
cilindros granulares ou hemáticos. Nesse
quadro, a função renal é diminuída de forma
mais precoce, sendo possível que ela se dê
ainda nos momentos de instalação da
doença.
Tais manifestações podem ser causadas
vários tipos de comprometimentos basais da
filtração glomerular, a saber:
 Lesão mínima:
Essa variação, ainda que mais prevalente
em crianças em idade escolar, pode ser
encontrada em outras faixas etárias, como a
população idosa. O curso é insidioso, com
edema que pode variar desde brando até
uma disseminação generalizada (anasarca)
e proteinúria que comumente atinge níveis
nefróticos.
 Esclerose segmentar e focal:
Apresenta prevalência em ascensão entre
idosos, sendo, atualmente, mais comum em
indivíduos jovens. A sintomatologia do
quadro envolve proteinúria que pode ou não
ser incompatível com a síndrome nefrótica,
associada a prejuízos na função renal e à
hipertensão. Por volta de 30% dos pacientes
afetados por essa manifestação podem
evoluir para insuficiência renal crônica.
 Glomerulonefrite membranosa:
A glomerulonefrite membranosa é uma
modalidade comum de comprometimento
glomerular em idosos, com sintomatologia
insidiosa que pode ou não corresponder à da
síndrome nefrótica. Por vezes o quadro de
insuficiência renal já está instalado no
momento do diagnóstico da glomerulopatia.
 Amiloidose:
A amiloidose primária é uma forma de
glomerulonefrite progressiva causada pelo
acúmulo tecidual de imunoglobulinas na
ausência de estímulos inflamatórios, sendo
provocada pela infecção concomitante por
outras doenças. A incidência da doença
afeta cerca de 10% de pacientes de 60 anos
ou mais.
 Glomerulonefrite crescêntica (rápida
progressão):
Diferentemente das apresentações
previamente descritas, a glomerulonefrite
crescêntica possui como manifestação
clínica a síndrome nefrítica, tendo
surgimento súbito, com degradação renal
acelerada. Além disso, a hipertensão se
manifesta de forma agravada junto à oligúria,
edema e hematúria com eliminação de
cilindros e proteínas. Esse é o quadro mais
frequentemente associado à insuficiência
rena aguda em idosos.
DOENÇAS RENAIS:
Indivíduos na velhice vêm sendo cada vez
mais afetados por doenças renais ao longo
das últimas décadas, tendência que é
acompanhada por um aumento na procura
de nefrologistas por parte desse grupo, o que
promove melhora relevante na sobrevida e
na qualidade de vida de pacientes com
comorbidades associadas ao impacto renal.
De forma geral, idosos afetados por essas
doenças são avaliados em busca de perdas
na função renal e da proteinúria:
 Lesão renal aguda:
A lesão renal aguda (LRA) é definida como
uma deficiência súbita na capacidade de
filtração glomerular, afetando o equilíbrio
ácido-básico e eletrolítico, a regulação da
pressão arterial, o metabolismo de minerais
e a eritropoese. Essas alterações iniciais são
acompanhadas por aumento na
concentração de ureia e creatinina e pela
diminuição do volume urinário produzido
para valores de menos de 0,5 ml por kg,
estendendo-se por ao menos 6 horas.
Essa manifestação pode ser pré-renal, renal
ou pós-renal, sendo que a primeira está mais
atrelada ao contexto do envelhecimento,
associada a redução no volume intravascular
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
efetivo e à hipoperfusão renal, podendo
facilmente impactar o parênquima dos rins
caso não seja detectada e tratada
prontamente. Vários fatores podem ser
responsáveis pelo desenvolvimento dessas
lesões, como o uso de determinados
medicamentos com toxicidade elevada, a
redução do volume renal pela senescência,
a infusão de contraste para exames
radiológicos, ocorrência de sepse e
diminuição cirúrgica do fluxo sanguíneo na
região.
 Lesão renal crônica:
No idoso, a lesão renal crônica (LRC) pode
se apresentar sem os sinais clássicos de
uremia devido ao agravamento de
enfermidades pré-existentes, como
disfunções cardiovasculares e metabólicas.
A intensidade da LRC pode ser classificada
de acordo com o ritmo do nível de filtração
glomerular:
 Estágio I: marcado pela presença de
impacto renal com manutenção ou
aumento da taxa de filtração glomerular
(maior ou igual a 90 ml/min/1,73 m²);
 Estágio II: diminuição leve no ritmo de
filtração (60 a 89 ml/min/1,73 m²);
 Estágio III: presença de déficit moderado
na taxa de filtração glomerular (30 a 59
ml/min/1,73 m²);
 Estágio IV: o comprometimento para a
filtração de sangue se torna mais
acentuado (15 a 29 ml/min/1,73 m²);
 Estágio V: a lesão é acompanhada por
taxa de filtração de15 ml/min/1,73 m² ou
por outra condição que indique a
necessidade de hemodiálise.
DISFUNÇÃO ERÉTIL:
A disfunção erétil (DE) representa o
problema da sexualidade masculina de maior
impacto a qualidade de vida individual, sendo
definida à grosso modo como a incapacidade
de manter a ereção suficiente para uma
relação sexual satisfatória (orgasmo).
Na maior parte dos casos, a DE é causada
por distúrbios orgânicos, mais comumente
de origem vascular (baixa liberação de óxido
nítrico impede a vasodilatação adequada),
de forma que os riscos para surgimento
destas patologias também se aplicam à
disfunção erétil. Nota-se que a presença
desse quadro pode ser um indicador precoce
de alguma doença associada ao sistema
circulatório, precedendo por até mesmo anos
eventos de maior gravidade, como infartos e
acidentes vasculares cerebrais.
Além dessas etiologias, disfunções
metabólicas, como o diabetes, alterações no
funcionamento tireoidiano (hipo ou
hiperfuncionamento), e insuficiências renal e
hepática, alterações prostáticas, como a
hipertrofia prostática benigna, e transtornos
psiquiátricos como ansiedade e depressão,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
podem estar correlacionados ao surgimento
da DE. Em idosos, doenças neurológicas são
etiologias comumente associadas à estado geral, além de dor abdominal
disfunção, sendo as mais relevantes a
neuropatia diabética, sequelas de AVC e o
mal de Parkinson.
ACOMETIMENTOS PROSTÁTICOS:
Mesmo que a próstata não seja uma
estrutura estritamente vital, essa glândula de
apenas 20 gramas está inserida num lugar
de destaque no contexto geriátrico, devido à
alta incidência e prevalência de patologias
que interferem amplamente na qualidade de
vida do homem durante o envelhecimento.
Processos congestivos, inflamatórios ou
neoplásicos da próstata se tornam cada vez
mais comuns a partir da meia idade,
momento a partir do qual sintomas
associados a alterações na micção
começam a ser relatados. Em indivíduos
jovens e de até 60 anos de idade é mais
prevalente o quadro de prostatite (inflamação
que pode ser causada por bactérias ou por
alterações no fluxo do fluido seminal, por
exemplo), ao passo que, em idosos,
predominam a hiperplasia prostática benigna
e o adenocarcinoma de próstata.
PROSTATITES:
A prostatite crônica corresponde ao principal
diagnóstico urológico para homens em sua
5ª década de vida, porém, mesmo com
tamanha prevalência, o manejo ainda é
difícil, resultando por vezes na
antibioticoterapia empírica, que ignora a
diminuta presença bacteriana em amostras
do fluido seminal e da urina.
As prostatite de categorias I e II, menos
comuns, relacionam-se a casos de infecção
bacteriana. A primeira caracteriza-se por
sintomas e sinais de infecção aguda, com
toxemia e febre frequente, não obrigatória,
principalmente frente a múltiplas
comorbidades. Também são observados
quadros de confusão mental, letargia,
calafrios, disúria, polaciúria e queda do
suprapúbica e ocasional retenção urinária
aguda. A segunda manifestação
corresponde à de infecções urinárias
recorrentes, causadas pelos mesmos
microrganismos, mas com sinais e sintomas
mais brandos, diminuindo a suspeita
diagnostica.
A categoria III abrange a prostatite crônica
asséptica e a síndrome de dor pélvica
crônica (SDPC), podendo segmentar-se em
IIIA, com presença de infiltrados
inflamatórios nas secreções prostáticas, e
IIIB, nos casos em que há ausência desses
indícios. A sintomatologia é bastante diversa,
desde dores a micção, diminuição de fluxo
urinário, nictúria, disúria, polaciúria, dor
pélvica inespecífica, e sinais irritativos, que
podem assumir caráter flutuante.
Na categoria IV, encontram-se os pacientes
assintomáticos, mas que apresentaram
alterações em algum exame de
monitoramento, como toque retal, dosagem
de PSA ou biópsia glandular. Nesses casos,
a detecção do carcinoma prostático é rara.
As etiologias mais frequentes para os casos
de prostatite, em suas múltiplas
apresentações são:
 Disfunção miccional por alteração da
pressão intravesical;
 Refluxo ductal intraprostático;
 Colonização por bactérias diversas;
 Doenças autoimunes;
 Etiologias irritativas associadas à urina;
 Cistite intersticial.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENGNA (HPB): A sintomatologia da HB apresenta três
A hiperplasia prostática benigna (HPB) é grandes componentes, a saber:
uma das doenças que mais afeta homens  Estáticos ou mecânicos: corresponde ao
idosos, com cerca de 90% dos octogenários impacto do aumento da massa prostática
apresentando evidências histológicas dessa sobre as estruturas adjacentes, sendo
condição, com 10% desenvolvendo mediado pela ação da di-
sintomatologia urinária típica (graças à hidrotestosterona na inibição da
íntima relação entre próstata, bexiga e apoptose celular (processo incentivado
uretra). por anormalidades causadas pelo
envelhecimento em diversos fatores de
crescimento e seus receptores);
 Dinâmicos: são associados ao tônus
muscular elevado das fibras da cápsula
prostática e do colo da bexiga, podendo
também ser justificados pelo
adensamento de receptores
adrenérgicos do tipo alfa-1 na região
(vasoconstrição);
 De disfunção vesical ou detrusora:
representam as respostas adaptativas
vesicais perante as alterações
supracitadas, podendo causar quadros
Dependendo do tempo transcorrido desde o irritativos com sintomas de urgência e
início do aumento da proliferação celular e frequência miccional (menor
também da capacidade de adaptação complacência). Posteriormente, ocorrem
muscular, o paciente pode manter-se perda da capacidade contrátil do detrusor
assintomático ou apresentar múltiplos sinais e deterioração da capacidade de
de desconforto em intensidades distintas, esvaziamento vesical, dando origem a
como sintomas do trato urinário baixo, além hesitação e aumento no volume residual
de hematúria, aumento do desenvolvimento urinário.
de litíase vesical, incontinência urinária,
infecções locais recorrentes, e insuficiência
renal, sintomas estes que não
necessariamente apresentam caráter
progressivo.

A idade, a hereditariedade e a presença dos

hormônios androgênios atuantes são os
maiores fatores de risco para o
desenvolvimento da HPB, com ausência de
relações entre a maior prevalência desse
distúrbio e variáveis como raça, fumo,
obesidade, vasectomia e atividade sexual.

ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O adenocarcinoma prostático é uma
neoplasia de alta prevalência em todo o
mundo, correspondendo à segunda maior
causa de morte associada ao câncer dentre
homens (atrás apenas do carcinoma de
pulmão) e ao terceiro principal motivador de
óbitos dentre homens brasileiros. Tal
manifestação apresenta um diferencial
dentre as demais neoplasias, pois pode ser
precocemente diagnosticada e tratada de
forma curativa.
O crescimento do câncer da próstata
depende da perda do equilíbrio entre a
proliferação e a morte celular programada
geneticamente. O surgimento de lesões
precursoras do câncer, como lesões
intraepiteliais, está associado ao aumento
nos ritmos de proliferação e de morte celular,
criando um meio favorável à ocorrência e
perpetuação de mutações genéticas, e à
redução posterior da morte celular
programada e consequente elevação da
replicação celular displásica. Um número
expressivo (9% do total de diagnósticos e
45% daqueles realizados antes dos 55 anos)
de homens carrega proto-oncogenes, que
favorecem a desregulação dos meios de
contenção da proliferação neoplásica.
Graças aos programas de rastreamento e à
dosagem de PSA como um marcador para o
desenvolvimento tumoral, a maior parte dos
casos de adenocarcinoma de próstata é
detectada precocemente, ainda em estágios
assintomáticos. Em quadros avançados,
mas ainda restritos aos limites glandulares,
são comuns queixas miccionais associadas
à obstrução uretral, assim como hematúria,
resultante da invasão do trígono da bexiga e
da degradação tecidual local. Quando ocorre
metástase, a depender das estruturas
afetadas, surgem sintomas como dores nos
ossos, perda de peso, linfedema, trombose
venosa em membros inferiores,
hemospermia e uremia.
No entanto, em contraste com a informação
apresentada anteriormente, o rastreamento
(investigação ativa geral de um grupo
demográfico vulnerável) para o câncer de
próstata não é recomendado como uma
estratégia universal, uma vez que o PSA
(antígeno prostático específico) não está
totalmente correlacionado com a
agressividade da tumoração ou com seu
potencial evolutivo, de forma que o excesso
de exames levou à detecção de
apresentações clinicamente irrelevantes
para os pacientes, que foram submetidos a
um momento de estresse, assim como
procedimentos invasivos, que não lhes
trouxeram benefícios à qualidade de vida.
Esse teste é relevante principalmente no
acompanhamento de homens com 45 anos
de idade que apresente risco elevado para o
desenvolvimento do câncer, seja por
histórico familiar ou por manifestações
clínicas correspondentes.
PROBLEMA 4 - ABERTURA:
SEXUALIDADE E AFETIV IDADE NO
ENVELHECIMENTO:
A sexualidade é parte fundamental do ser
humano, sendo observada em todas as
etapas de sua vida, com expressões
variadas conforme as diferentes faixas
etárias, características cultuais e traços
individuais. Esse termo não se refere
somente ao ato sexual em si, mas sim a
todos os mecanismos de obtenção do
prazer, o que faz com que sentimentos como
amor, companheirismo e cumplicidade
estejam inseridos nesse contexto.
A afetividade, por sua vez, pode ser definida
como o sentimento que motiva o
desenvolvimento do amor e da intimidade
com outro indivíduo. Nota-se que esse termo
se relaciona à inteligência emocional, uma
vez que a consolidação de relações
saudáveis e seguras favorece o
desenvolvimento de habilidades cognitivas.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A intimidade, por fim, corresponde a laços
fortes de confiança entre duas pessoas,
promovendo o compartilhamento de
pensamentos e atitudes afetuosas, bem
como o contato direto das realidades de
ambos.
O envelhecimento e suas mudanças físicas
(funcionais e estéticas) representam um forte
fator de influência na vivência da
sexualidade, porém a expressão desse
conceito também é afetada por questões
subjetivas, como características sociais e
culturais. Todo esse processo pode acabar
por interferir na atuação e na vivência, por
parte do idoso, de múltiplos papéis, sendo
um deles o de “indivíduo sexual”.
Uma vivência sexual ativa na terceira idade
está associada a experiências anteriores
prazerosas, assim como além da
identificação com referenciais da sociedade
na qual esse indivíduo está inserido. O
aumento da expectativa de vida requer
mudanças nos paradigmas relacionados à
vivência da sexualidade nesse período da
vida, devendo ser entendida como parte
integrante de uma velhice com qualidade de
vida.
A expressão da sexualidade entre idosos se
torna cada vez mais constante, sendo fruto
de satisfação tanto física quanto mental, de
forma que a esse conceito deixou de ser
apenas uma necessidade biológica e passou
a assumir caráter prazeroso e essencial.
Destaca-se ainda que nessa fase da vida,
esses indivíduos continuam apresentando
desejo semelhante ao de etapas anteriores,
sendo que as mudanças decorrentes do
envelhecimento sobre quesitos físicos e
fisiológicos são superadas através da
descoberta de novos prazeres e formas de
expressão dessa prática.
A dificuldade de comunicação entre o
senescente e o profissional de saúde é
facilmente observada na negligência da
abordagem da sexualidade no meio da
assistência básica, situação que também é
de responsabilidade do poder público que,
ao desprezar a existência desse fenômeno,
possibilita a infecção de diversos indivíduos
desse grupo com infecções sexualmente
transmissíveis graças à falta de
acompanhamento e orientação. Isto pode ser
exemplificado por dados nacionais que
indicam que o índice de HIV/AIDS entre as
pessoas idosas já ultrapassou o de
adolescentes entre 15 e 19 anos.
Assim, resgatar o direito do idoso a uma vida
sexual implica pensar que o amor se
transforma e apresenta diferentes
manifestações, que se estendem desde a
ternura, aos os contatos físicos erógenos. O
senescente não deixa de amar, mas
reinventa as experiências amorosas,
associando a elas novos significados e
necessidades, processos estes que devem
ser reconhecidos e acessados no que tange
à atenção em saúde.
TIPOS DE DISFUNÇÕES SEXUAIS NO IDOSO:
Idosos continuam a ser as mesmas pessoas
que eram na juventude, apresentando
desejos e necessidades pessoais que se
alteram à medida que atravessam as
diversas etapas da vida, não devendo ser
descartados ou menosprezados. Ainda que
múltiplas mudanças físicas, metabólicas e
psicológicas estejam associadas ao
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
envelhecimento, o prazer obtido da relação
sexual se mantém o mesmo vivenciada no
início da adultez, não sendo normais as
condições que dificultam ou impedem o
alcance dessa sensação por parte do
indivíduo (mesmo que apresentem alta
prevalência entre os senescentes).

Nas mulheres, as queixas de alterações no

comportamento sexual surgem já no período
de pré-menopausa, representadas pela
dispareunia, diminuição da libido (fortemente
associada a mudanças na autoimagem)
redução da lubrificação vaginal. Tais
condições podem ainda ser intensificadas
por aspectos socioambientais, como a perda
de um cônjuge (causa impactos mais
frequentemente no sexo feminino), o
desenvolvimento de transtorno depressivo,
ou por problemas de cunho financeiro.
Grande parte dos senescentes do sexo
masculino relatam que a idade impacta em
sua sexualidade, indicando como um dos
principais indícios desse fenômeno o
aumento do tempo necessário para a
excitação sexual. No entanto, por mais que
essa condição seja observada
frequentemente após os 60 anos, ela não
indica que há um comprometimento da
aptidão sexual ou do alcance do prazer, mas
sim promove condições ideais para a
mudança de características culturais
estereotipadas para o sexo em função de
práticas mais confortáveis e adequadas às
novas imposições da idade.

A prevalência de prejuízos percebidos na

performance sexual em homens tende a se
elevar com a idade, principalmente quanto à
redução do desejo e a alterações na
qualidade e duração da ereção. Tais índices
apresentam uma tendência geral de
Monitoramentos hormonais em homens mais
aumento, passando de valores inferiores a
velhos demonstram uma redução de 1 a 2%
5% em jovens e adultos para cerca de 35%
na concentração de testosterona livre a cada
dos idosos. Nota-se também, na população
ano durante o intervalo dos 45 aos 50 anos,
masculina, que tais desfechos,
bem como redução na presença de
principalmente de disfunção erétil, são mais
dehidroepiandrosterona (DHEA) e aumento
comuns em indivíduos com comorbidades,
sérico de FSH, LH e globulina ligante ao
quando comparados a seus pares
hormônio sexual (SHBG), induzindo o
previamente hígidos.
organismo a um estado geral de redução da
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
obtenção de androgênios. Tais quedas
podem causar sintomas como alterações de
humor, sudorese elevada, redução da força
muscular, diminuição da libido e disfunção
erétil.
DISFUNÇÃO ERÉTIL:
A alteração da expressão da sexualidade
mais comum dentre homens no processo de
envelhecimento é a disfunção erétil (DE),
definida como a incapacidade em manter
uma ereção suficiente para que ocorra uma
relação sexual prazerosa, impactando
amplamente na qualidade de vida dessa
população. Esse fenômeno pode ser
decorrente de alterações hormonais típicas
do avançar da idade ou devido a
comorbidades prévias, como doenças
vasculares ou neurológicas.
Esse quadro, para indivíduos com mais de
60 anos, é majoritariamente causado por
acometimentos orgânicos, principalmente de
cunho vascular (em indivíduos mais novos, a
depressão e os problemas conjugais
representam as etiologias mais prevalentes).
Para a manutenção regular de uma ereção,
os corpos cavernosos, estruturas que se
relaxam de forma a permitir o preenchimento
sanguíneo dos espaços lacunares, são
irrigados por meio das artérias peniana e
cavernosa, com o fluxo de sangue sendo
mantido por meio da compressão de
estruturas venosas regionais. Além disso, o
sistema nervoso central apresenta papel-
chave nesse processo, com fibras
parassimpáticas estimulando a ereção, e
ramificações simpáticas promovendo o
escoamento sanguíneo por meio da
liberação de norepinefrina. Todo o
mecanismo supracitado necessita do
relaxamento da musculatura lisa, que por
sua vez é mediado por meio do aumento da
concentração de GMPc no interior da célula,
estimulada pela secreção de óxido nítrico,
um potente vasodilatador.
Nota-se, portanto, que o simples
desencadeamento de uma ereção requer
que as estruturas anatômicas locais estejam
saudáveis (veias, artérias, músculos e
nervos), de forma que traumas, múltiplas
malformações e doenças que atacam tais
tecidos podem levar a situações de
desenvolvimento de DE (mesmo que na
velhice destaque-se as últimas).
Os principais fatores de risco para o
desenvolvimento da disfunção erétil podem
ser fortemente correlacionados àqueles
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
descritos para doenças cardiovasculares,
dada a íntima relação de causalidade entre
ambas as patologias (disfunção endotelial
resulta em menor secreção de óxido nítrico,
o que afeta a duração máxima da ereção),
permitindo a postulação de que “o que faz
mal para o coração também faz mal para o
pênis”. Assim, incluem-se nesse contexto a
hipertensão, diabetes melitus, dislipidemias
e o tabagismo. Percebe-se também a DE
representa um indício clínico precoce de
disfunções cardiovasculares, precedendo
em vários anos a ocorrência de fenômenos
obstrutivos graves ou de demais quadros de
alta complexidade.
Para além de disfunções arteriais,
acometimentos venosos também podem
implicar em dificuldade na manutenção de
uma ereção rígida, pois o escoamento
sanguíneo por vênulas subdérmica impede o
acúmulo adequado de pressão nos espaços
lacunares, impossibilitando a perpetuação
do estado de retenção do fluxo de sangue.
Tal quadro pode ser produto de traumas,
fístulas arteriovenosas ou da doença de
Peyronie.
No sistema endócrino, os quadros mais
comumente associados à DE são o
hipogonadismo, as disfunções funcionais
tireoidianas, hiperprolactinemia, e o diabetes
melitus. As insuficiências renal e hepática
são patologias metabólicas de impacto
sistêmico que causam DE. A hipertrofia
prostática benigna também está associada a
dificuldades com ereção.
No panorama do senescente, doenças
neurológicas também se fazem presentes
como etiologias da DE. Assim, destacam-se
como as mais importantes a neuropatia
diabética, a Doença de Parkinson e as
sequelas deixadas por AVC. Caso o
indivíduo tenha passado por uma cirurgia
extensa na região pélvica, como a remoção
total da próstata, por exemplo, a disfunção
erétil pode ser um desfecho comum, também
decorrente de lesões aos nervos.
Por fim, é válido destacar o papel do uso de
medicações como fator desencadeante para
a DE, que se torna especialmente relevante
na atenção à população geriátrica que se
encontra em uso de um grande número de
formulações. Os fármacos mais associados
à ocorrência desse evento são os anti-
hipertensivos, com destaque para os
diuréticos e aqueles de ação central (não
seletivos).
EJACULAÇÃO RETARDADA :
A ejaculação retardada é marcada pelo
retardo ou completa incapacidade em se
alcançar o estado de ejaculação e/ou
orgasmo, mesmo sob a presença de
estímulos sexuais adequados. É necessário
destacar que o diagnóstico é
fundamentalmente baseado nos relatos do
indivíduo, não havendo um marcador
temporal preciso para classificar ou não esse
fenômeno
Essa condição pode ser frequentemente
atrelada a disfunções neurológicas, nas
quais há a perda de nervos sensoriais
periféricos de condução rápida, minimizando
a capacidade de resposta à estimulação
genital. Nota-se também que, em idosos, o
hipoandrogenismo também pode ser
enquadrado como uma possível etiologia,
uma vez que a produção do líquido
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
espermático se torna diminuída (menor ação
da testosterona sob a próstata).
TRANSTORNO DO DESEJO SEXUAL MASCULINO
HIPOATIVO:
O transtorno do desejo sexual masculino
hipoativo é definido como a redução drástica
ou ausência do desejo do homem por
atividades de cunho sexual, que também
pode ser evidente pela inexistência de
pensamentos ou fantasias sexuais. Cerca de
41% dos homens de 66 a 74 anos vivenciam
tal disfunção, que apresenta graves impactos
à qualidade de vida individual. Para ser
configurado como transtorno, no entanto,
essa “apatia” deve ser recorrente ao longo de
seis meses de forma a descartar quaisquer
mecanismos adaptativos em decorrências
de alterações ao ambiente ou às relações
afetivas.
Dada a condição de uso excessivo de
medicações por parte da população idosa, as
queixas de disfunção sexual devem ser
adequadamente investigadas, pois múltiplos
fármacos comuns no tratamento de
comorbidades frequentes reduzem o
desempenho e/ou o desejo por sexo,
evitando análises invasivas e
desconfortáveis em busca de alterações
orgânicas.
Esse quadro deve, obrigatoriamente,
apresentar relação temporal entre o início da
administração ou a suspensão de
determinado composto e o início dos
sintomas. Além dos já citados anti-
hipertensivos, outras classes
medicamentosas podem induzir ao
surgimento de sintomas de cunho sexual,
como opioides e antipsicóticos.

Por vezes, a ocorrência desse fenômeno

está atrelada a preocupações quanto ao
desenvolvimento de disfunções na ereção ou
na ejaculação, uma vez que, frente à
dificuldade de executar uma dessas duas
funções cruciais ao sexo, o interesse pessoal
pela atividade diminui. Homens com esse
quadro frequentemente não iniciam uma
atividade sexual e que são minimamente
receptivos às tentativas da parceira de iniciá-
la.

DISFUNÇÃO SEXUAL IND UZIDA POR ABORDAGEM FARMACOLOGICA DAS DINFUNÇÕES

MEDICAMENTO: SEXUAIS:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O tratamento para disfunções sexuais
percorreu um longo caminho através da
história, perpassando pelo consumo de
animais e plantas com características fálicas,
ingeridos sob a crença de serem
afrodisíacos, até alcançar os protocolos
contemporâneos, nos quais fármacos são
empregados juntamente a medidas
psicoterapêuticas de modo a abordar de
forma multifacetada as etiologias do quadro.
Múltiplas drogas apresentam forte potencial
para serem adotadas para esse fim, no
entanto apresentam efeitos adversos que
podem gerar danos teciduais, como o
priapismo, reduzindo assim sua
empregabilidade.
Os medicamentos de escolha para o
tratamento da disfunção erétil são os
inibidores da fosfodiesterase tipo V,
representados principalmente pela
sildenafila, descoberta acidentalmente
(inicialmente pesquisada como mecanismo
terapêutico para cardiopatias) como
influenciadores desse mecanismo, pela
tadalafila (maior tempo de ação) e
vardenafila. Esses compostos não causam
ereção constante e desvinculada do desejo
sexual, mas sim aumentam a reação erétil
frente à estimulação adequada.
A fosfodiesterase V, encontrada na
musculatura lisa do corpo cavernoso, no
músculo esquelético, no músculo liso
visceral e vascular, nos tecidos cerebelar e
pancreático, nas plaquetas, nos rins e nos
pulmões, é o composto responsável por
suprimir a ação do GMPc, mediador que
promove a secreção de óxido nítrico por
meio dos nervos nitrégicos e a formação da
guanilil cliclase, precursora desse primeiro
mensageiro. A elevação intracelular de
GMPc favorece a vasodilatação por meio da
ativação da proteína quinase G, culminando
assim na ereção peniana. Dessa forma, o
uso de tais medicamentos permite que o
efeito desses componentes sobre a
musculatura lisa seja prolongado, mantendo
o pênis ereto por períodos de tempo mais
extensos.
A ação desses fármacos não é, no entanto,
seletiva, fazendo com que outros leitos
vasculares sejam afetados. Dessa forma, é
possível administrar os inibidores da PDE V
no tratamento de outras condições, como a
hipertensão pulmonar.
A sildenafila atinge seu pico de concentração
no plasma após 30 a 120 minutos após a
administração por via oral, tempo este que
pode aumentar caso o indivíduo tenha
realizado consumo de alimentos junto ou
após o uso do medicamento, condições
estas que justificam a necessidade de ingerir
o composto por volta de 1 hora antes do ato
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
sexual. Em seguida, seu metabolismo é
iniciado por meio do citocromo P450 34A (via
principal), que promove a N-desmetilação da
sldenafila, gerando um metabólito com 50%
da afinidade inicial pela PDE-V, que é
completamente degradado, com meia-vida
de 4 horas. Esse processo é induzido pela
carbamazepina, rifampicina e barbitúricos, e
inibida pela cimetidina, antibióticos,
antifúngicos e por alguns antivirais. Como a ALTERNATIVAS NO TRATAMENTO DAS
tadalafila apresenta meia-vida mais longa DISFUNÇÕES SEXUAIS:
que a sildenafila, ela pode ser tomada com
MUDANÇA DE HÁBITOS DE VIDA:
muito mais antecedência.
As mudanças no estilo de vida, como o
combate ao sedentarismo, ao tabagismo e
ao etilismo, bem como o controle do peso,
representam um importante mecanismo para
controle dos fatores de risco para disfunções
sexuais, devendo também ser empregados
juntos a terapêuticas farmacológicas de
forma a potencializar os resultados destas.
Uma forma de interação farmacodinâmica
bastante importante compartilhada por todos PSICOTERAPIA:
os inibidores da fosfodiesterase V se dá com
A terapia sexual apresenta enfoque
todos os nitratos orgânicos, que elevam o
comportamental, com a resolução de
GMPc e, portanto, tem ação bastante
conflitos no desenvolvimento precoce,
aumentada pela sildenafila e similares.
resolução de problemas conjugais e
Assim, caso o indivíduo esteja
aceitação de impulsos sexuais para o ego.
concomitantemente em uso de nitratos
Esse método busca minimizar os sintomas
(reguladores da pressão arterial), é
imediatos da disfunção erétil, devendo ser
contraindicado o uso de quaisquer
empregada conjuntamente a métodos
medicamentos que afetem a PDE-V.
farmacológicos para o melhor manejo do
Diversos efeitos adversos dos inibidores de distúrbio.
fosfodiesterase V são associados à
Idealmente, essa modalidade terapêutica
capacidade vasodilatadora em outros pontos
garante melhores resultados quando ambos
do corpo, sendo os mais comuns a
os parceiros estão envolvidos, uma vez que
hipotensão, cefaleia, e o rubor. Graças a
dúvidas podem ser sanadas entre as partes
uma pequena atividade cruzada entre os
envolvidas. É enfatizado que o sexo é um ato
inibidores da PDE-V e a fosfodiesterase VI,
mútuo entre dois indivíduos, que requer
presente na retina, alterações visuais, como
intimidade e comunicação, exercitados por
a cianopsia, também podem ser relatadas
meio de atividades que promovam o alcance
(tal condição implica em contraindicação
do prazer sem necessidade de performance,
para o uso desse medicamento por
tornando a expressão da sexualidade mais
portadores de retinopatias degenerativas).
confortável.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
TERAPIA HORMONAL:
A reposição hormonal com testosterona não
representa o tratamento de primeira linha
para a disfunção erétil, devendo ser utilizada
apenas em quadros associados ao
hipoandrogenismo, já que pode aumentar a
libido, mas não apresenta efeitos na
manutenção da ereção peniana. Assim, essa
modalidade terapêutica, ainda que não seja
eficaz no manejo da DE, pode ser
empregada no tratamento da disfunção do
desejo sexual masculino hipoativo.
A principal forma de administração desse
composto é por meio de ésteres injetáveis de
testosterona, disponíveis no Brasil em
múltiplas variantes. A aplicação deve ser
repetida a cada 2 ou 3 semanas, para
medicamentos de curta duração, e a cada 6
ou 12 semanas para aqueles de longa
duração. A principal substância empregada
nesse processo é o undecanoato de
testosterona (após a degradação da porção
éster, metabolizado como testosterona
endógena), em doses de 160 mg diárias por
via oral, embora não haja relatos de que sua
administração melhore a função sexual.
ASPECTOS GERAIS ASSOCIADOS À FARMACOLOGI A
NA POPULAÇÃO IDOSA:
POLIFARMÁCIA:
A conceituação mais adequada para
polifarmácia na contemporaneidade é o “uso
rotineiro de quatro ou mais medicamentos
simultâneos por um paciente, sejam eles
prescritos, isentos de prescrição ou outros
medicamentos tradicionais”, delimitada pela
OMS em suas campanhas em prol da
segurança do paciente. Ainda não há, no
entanto, parâmetros específicos na literatura
médica para a adequada definição da
polifarmácia, com múltiplos pontos de corte
sendo adotados para ambientações e
períodos de tempo variados, sendo também
observado o uso do termo para apenas se
referir à administração de medicamentos
sem indicação clínica.
A polifarmácia é associada ao aumento na
ocorrência de eventos e reações adversas,
interações medicamentosas, tempo de
hospitalização e mortalidade. O uso de
múltiplos medicamentos, no entanto, pode
ser fundamentado em indicações clínicas, de
forma segura e efetiva, permitindo assim a
criação do termo “polifarmácia apropriada”
nessas condições.
A polifarmácia entre idosos é uma condição
bastante preocupante, pois déficits
cognitivos e alterações na acuidade visual
podem promover confusões e erros de
medicação. Essa situação ainda é
intensificada pela baixa escolaridade de
parte dessa população, que intensifica os
riscos de uso em doses e intervalos
inadequados.
Independente da faixa etária, é necessário
evitar a polifarmácia nas situações em que
ela não for indicada oficialmente por um
médico, dados os riscos associados à essa
prática. Dessa forma, é imperativo que os
diversos níveis de atenção à saúde
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
delimitem protocolos e estratégias de
mitigação dessa tendência. Na assistência
básica, por exemplo, deve-se garantir que os
medicamentos em uso seja necessários,
monitorando sua efetividade e segurança de
forma contínua, evitando, em seguida, a
realização de trocas medicamentosas e
executando ajustes de dose de forma
gradual. Graças ao estado de alerta quanto
ao uso desmedido de remédios, várias
estratégias de “desprescrição” vêm sendo
desenvolvidas, com o intuito de identificar e
descontinuar o uso de medicamentos
inefetivos, inadequados ou desnecessários
para a manutenção do quadro clínico atual
de um paciente, realizadas de forma
cooperativa entre ele e a equipe
multiprofissional.
A participação do paciente deve ser
estimulada nos processos de
“desprescrição”, principalmente quando
realizado com idosos, de forma a empoderar
o indivíduo em seus processos de cuidado,
permitindo que faça perguntas, identifique
pontos que requerem mudanças e auxilie a
gerenciar sua própria terapia
medicamentosa, garantindo autonomia e
independência.
IMPACROS DO ENVELHECIMENTO SOBRE A ADESÃO A
TERAPIAS FARMACOLÓGICAS:
A escolha do tratamento farmacológico
adequado em geriatria é um processo
complexo, que requer diagnósticos
acurados, uma vez que as manifestações
sintomáticas podem ser atípicas, não
relatadas ou expressas de forma vaga.
Como os pacientes idosos costumam ser
poliqueixosos, a investigação de sintomas
acaba sendo feita de forma superficial, com
prescrições isoladas para cada
acometimento (polifarmácia) ao invés de se
realizar uma análise completa, tendo como
objetivo interligar possíveis achados.
A adesão ao tratamento tem papel central
para seu sucesso em todas as faixas etárias,
porém os pacientes senescentes
apresentam, além da polifarmácia e dos
esquemas terapêuticos complexos, diversas
outras barreiras para atingir tal patamar. Um
desses possíveis impedimentos é o caráter
crônico da maioria das doenças que
acometem esse grupo, pois os impactos
catastróficos tendem a demorar para
acontecer, de forma contrastante aos efeitos
de doenças agudas, e os a necessidade do
manejo da condição em estado de latência
implicam em custos constantes, o que não
ocorre para distúrbios momentâneos e
autolimitados. Além disso, destacam-se
também déficits cognitivo-sensoriais,
dificuldade de acesso a meios de transporte
e o uso de embalagens de difícil abertura.
De forma a superar esse desafio, múltiplas
estratégias podem ser implementadas, como
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
a redução no número de medicamentos
prescritos, a simplificação dos esquemas
terapêuticos, a redução do número diário de
administrações, e a associação entre
determinada medicação e momentos da
rotina diária. Orientar familiares e cuidadores
acerca do papel de cada substância e de
suas instruções de uso também é
imprescindível, permitindo assim que eles
auxiliem o idoso no processo de adesão.
O ENVELHECIMENTO E AS MUDANÇAS NA
FARMACOLOGIA:
Diversas mudanças de caráter biológico e
fisiológico que ocorrem durante o processo
de envelhecimento acabam por impactar em
processos associados à farmacologia,
alterações estas que refletem quadros
individuais, sendo, portanto, difíceis de
rastrear. Na maioria das vezes, essas
situações dizem respeito a aspectos
fisiológicos individuais, como hidratação,
nutrição e o débito cardíaco do paciente, e a
interação desses fatores com as
características de um certo fármaco, ao invés
de serem diretamente produto do avançar da
idade. Assim, destacam-se as alterações
sofridas nos processos de:
 Absorção: corresponde ao processo
menos afetado pelo envelhecimento,
mesmo que diversas modificações
fisiológicas tenham potencial para causar
interferências (ex.: redução da motilidade
do TGI);
 Distribuição: pode sofrer mudanças
clinicamente significativas com o
envelhecimento, afetando o processo de
propagação de substâncias
farmacológicas pelo corpo. A albumina
sérica, principal proteína de ligação para
medicamentos, tende a diminuir,
principalmente em pacientes
hospitalizados, o que resulta em maiores
concentrações de princípio ativo livre
capaz de interagir com o meio. Mudanças
na composição corporal (maior acúmulo
de gordura e desidratação) também
podem afetar significativamente a ação
de um fármaco por meio da redução de
sua velocidade de distribuição (Vd) e,
consequentemente, sua meia-vida. Por
outro lado, os fármacos que são
distribuídos na gordura corporal
apresentam maior Vd, culminando em
efeito medicamentoso prolongado;
 Metabolismo: sobre com alterações
complexas e imprevisíveis. A fase
preparatória do metabolismo, que conta
com processos de oxidação, redução e
hidrólise passa a se reduzir com o avanço
da idade, de forma mais acentuada
dentre homens. A fase ativa do
metabolismo (biotransformação), por sua
vez, se mantém relativamente constante;
 Excreção: os processos de eliminação
dos metabólitos apresentam tendência
mais previsível de alterações, tornando o
processo cada vez mais lento, e os
medicamentos ativos por longos períodos
de tempo;
 Sensibilidade tecidual: os idosos
apresentam sensibilidade variada aos
efeitos farmacodinâmicos, ou seja, às
interações entre o princípio ativo de um
medicamento e o seu sítio de ação.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
SUSCEPTIBILIDADE A EFEITOS ADVERSOS:
As reações adversas a fármacos
correspondem à forma mais comum de
iatrogenia, tendo sua incidência ainda mais
elevada em pacientes idosos hospitalizados
(25% comparado a aproximadamente 10%
em pessoas entre 40 e 50 anos). Muitos
medicamentos são capazes de desencadear
reações adversas desagradáveis e, em
algumas vezes, causadoras de riscos à vida
ou déficits funcionais. A estreita relação entre
níveis terapêuticos e tóxicos para
medicamentos para o tratamento de doenças
cardiovasculares e a sensibilidade do
cérebro envelhecido aos fármacos
anticolinérgicos são fatores que aumentam
as chances de desenvolvimento de efeitos
adversos graves. Em algumas situações, as
próprias alterações típicas da senescência,
como a excreção renal reduzida e a duração
de ação prolongada, predispõem às reações
adversas.
Como os sintomas podem ser inespecíficos
ou mimetizar outras doenças, as reações
adversas a fármacos podem facilmente ser
ignoradas ou passar despercebidas. Assim,
os pacientes e seus familiares/cuidadores
devem ser orientados a reconhecer e relatar
eventos atípicos, principalmente aqueles
com potencial gravidade. Por vezes um outro
medicamento é prescrito para tratar esses
sintomas, contribuindo para a polifarmácia e
para o aumento da probabilidade de novas
interações medicamentosas adversas.
Os tipos mais comuns de interações
medicamentosas são o deslocamento do
fármaco de seus locais de ligação proteica
por outros compostos mais competitivos, a
indução ou supressão do metabolismo de
outros princípios ativos e os efeitos aditivos
sobre a pressão arterial e na função mental.
Além do potencial para interagir com outras
medicações, várias dessas podem interagir
de forma adversa com condições clínicas
subjacentes no idoso, criando assim
interações “fármaco-paciente”.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
NECESSIDADES NUTRICI ONAIS NA TERCEIRA
IDADE:
O processo de envelhecimento fisiológico já
implica em alterações na composição
corporal, com a diminuição na altura corporal
e as flutuações no peso, decorrentes da
diminuição da massa muscular e do
conteúdo de água no corpo. Assim, nota-se
que as necessidades nutricionais da
população idosa são diferentes daquelas
aplicadas a indivíduos jovens, pois seus
processos metabólicos e absortivos estão
prejudicados, o que pode facilitar o
surgimento de múltiplos problemas de
saúde, como a desnutrição, ou agravar
outras condições pré-existentes.
A perda ponderal não intencional é
corresponde ao preditor mais consistente
para o declínio nutricional e também para a
ocorrência de mau prognóstico. Por outro
lado, a obesidade e o ganho de peso
também são sinais de desnutrição entre os
idosos, representando uma preocupação
cada vez maior nessa faixa etária devido aos
impactos causados à qualidade de vida, ao
relacionamento pessoal, à exclusão social, à
limitação nas atividades e pela dificuldade de
mobilidade.
NECESSIDADES ENERGÉTICAS E VITAMÍNICAS DO
IDOSO:
O avanço da idade promove uma drástica
redução na necessidade energética
individual, causada, em parte, por uma
intensa perda de massa muscular, que reduz
a demanda do organismo por substratos.
Nessa população, acometida também por
alterações nos processos de motilidade e
secreção no TGI, a ingesta alimentar se
torna comprometida, tanto em qualidade,
com consumo de produtos com volumes
elevados de sal e açúcar (de forma a suprir
déficits sensoriais), quanto em quantidade,
com refeições fracionadas, numa tentativa
de favorecer o processo de digestão e
aproveitamento dos nutrientes.
É possível estimar as necessidades
energéticas de um indivíduo senescente por
meio da avaliação do gasto metabólico
associado ao estado de estresse ao qual o
corpo é submetido diariamente, sendo que
situações mais graves implicam numa maior
demanda calórica. Nessa classificação,
situações de estresse leve implicam num
gasto de 20 kcal/kg/dia, condições
moderadas, de 25-30 kcal/kg/dia, e
contextos severos levam a um dispêndio de
35 kcal/kg/dia.
No que diz respeito à necessidade de
compostos alimentares específicos na
terceira idade, destacam-se as seguintes
características:
 Proteínas: como o corpo do idoso
apresenta cerca de 70 a 80% da
concentração de proteínas existente
durante a juventude, as necessidades
nutricionais para esse nutriente também
são reduzidas. No entanto, como os
processos que implicam na degradação
desses compostos em suas unidades
funcionais é deficitário nesse grupo,
torna-se preciso fornecer quantidades
específicas de tal macronutriente (0,8
g/kg/dia), de forma a não sobrecarregar o
sistema renal;
 Fibras e carboidratos: o consumo de
carboidratos (devem corresponder a 45-
65% de todo o volume alimentar
consumido num dia) auxilia na
manutenção do indivíduo dentro dos
limites calóricos, porém disfunções no
metabolismo desses compostos são
frequentes, evidenciadas pela elevada
prevalência de diabetes tipo 2 com o
envelhecimento. A ingestão de 21 a 30 g
diárias de fibras associadas à hidratação
adequada são mecanismos capazes de
prevenir a constipação intestinal, o que
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
pode também afastar o risco de
desenvolvimento de determinadas
neoplasias;
 Lipídeos: tais substâncias possuem
funções energéticas, estruturais e
hormonais para o organismo, permitindo
também que vitaminas lipossolúveis
sejam adequadamente metabolizadas. A
ingestão recomendada desses
componentes é de 20% a 35% do valor
calórico total. Por vezes, idosos são
submetidos a processos restritivos
intensos devido a doenças comórbidas
associadas ao consumo de gorduras,
porém essa proibição acaba por retirar o
prazer da alimentação, uma vez que as
refeições têm sabor e textura alterados;
 Vitaminas e minerais: as vitaminas
participam de diversos processos
biológicos e atuam como cofatores de
várias enzimas envolvidas no
metabolismo ou no sistema de oxidação,
contribuindo para a remoção de agentes
lesivos. Na terceira idade, a prevenção
das deficiências é tão importante quanto
a reposição, sendo que ambas devem ser
realizadas de forma a atender os
parâmetros de cada composto,
adequando-se às necessidades de cada
indivíduo. A hipovitaminose pode ser
causada pela diminuição da ingestão,
redução da absorção, pelo aumento do
consumo, pelas alterações da flora
intestinal ou pelas disfunções no
metabolismo. Nesse contexto, destacam-
se:
o Vitamina A: em doses excessivas,
pode causar dor óssea,
hepatoesplenomegalia, descamação
da pele, queda de cabelo, náuseas,
prurido, cefaleia, aumento da fosfatase
alcalina, xeroftalmia, ulcerações de
córnea, hemeralopia (cegueira
noturna), fraturas espontâneas e
deposição pericapsular de cálcio;
o Vitamina D: pode ser sintetizada pela
pele durante exposição solar ou pela
ingesta alimentar de leite e derivados,
óleo de fígado de peixe e gema de ovo.
A transformação da vitamina D em sua
forma ativa necessita do
funcionamento adequado do fígado e
dos rins, permitindo as múltiplas
conversões que ocorrem desde a
penetração inicial dos precursores na
corrente sanguínea. A suplementação
dietética é indicada para diminuir o
risco de fratura e aumentar a
densidade mineral óssea;
o Vitamina E: apresenta grande
propriedade antioxidante, protegendo
as células dos efeitos nocivos das
substancias tóxicas. As principais
fontes de vitamina E são os vegetais,
germe de trigo, gema de ovo,
margarina e legumes. Cerca de 50%
da vitamina E presente nos alimentos
são absorvidos pelo trato entérico,
sendo absorvida no fígado, tecido
adiposo e músculos. As alterações
clínicas da hipovitaminose se
manifestam por degeneração neuronal
(ataxia, diminuição de reflexos,
alternação na propriocepção e na
sensibilidade vibratória, neuropatia
periférica, miopatia degenerativa). Nos
idosos, a deficiência de vitamina E
ocorre em dietas ricas em gordura, de
forma que a esteatorreia, colestase e
síndromes disabsortivas podem
contribuir para esse fenômeno;
o Vitamina K: essa vitamina é
necessária para a síntese dos fatores
de coagulação II, VII, IX e XI, proteína
C e proteína S. São fontes de vitamina
K os vegetais verdes, carne de porco,
fígado, óleos vegetais. A manifestação
clínica mais importante da deficiência
da vitamina K é o sangramento;
o Vitamina B1 (tiamina): Atua no
metabolismo, na síntese da

acetilcolina e está presente nas
membranas dos axônios, participando
no funcionamento do sistema nervoso.
São fontes de tiamina as leveduras,
grãos integrais, carne de porco e
fígado, legumes, batatas e nozes,
fígado, ervilha seca, feijão, melancia,
aveia, semente de girassol, germe de
trigo, amendoim, leite, aves, peixes,
leguminosas;
o Vitamina B2 (riboflavina): é o
componente essencial de compostos
envolvidos na fosforilação oxidativa e
na síntese de adenosina trifosfato
(ATP). A deficiência dessa vitamina é
manifestada clinicamente
fotofobia, fraqueza, confusão, ardência
ocular, glossite, perda de peso, e
anemia normocrômica e normocítica;
o Vitamina B6 (piridoxina): atua no
metabolismo dos aminoácidos e
ácidos graxos, na conversão do
triptofano em niacina, na síntese da
heme e dos neurotransmissores com o
ácido gama-aminobutírico (GABA),
tendo como manifestações clínicas da
deficiência alterações
personalidade (irritabilidade,
depressão), insônia, dermatite
seborreica, e anemia microcítica
hipocrômica na presença de ferro
sérico normal;
o Vitamina B12: sua eficiência é
frequente em idosos, sendo esse
composto necessário para todas as
células que sintetizam o DNA,
facilitando o metabolismo do ácido
fólico. A absorção da vitamina B12
ocorre no intestino delgado depois de
ter sido ativada no estômago com a
ingestão do alimento. A presença do
fator intrínseco é fundamental para sua
absorção. As manifestações clínicas
são glossite, parestesias
extremidades e demência em casos
mais avançados;
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
o Ácido fólico: é uma vitamina do
complexo B que atua em conjunto com
a vitamina B6 e B12 na formação dos
eritrócitos normais. Sua deficiência é
responsável pela anemia
megaloblástica;
o Vitamina C: participa na formação de
catecolaminas, na formação de alguns
aminoácidos e no aumento da
absorção de ferro pelo intestino. A
ausência de concentrações
adequadas de vitamina C causam o
escorbuto, aumento na formação de
cálculos de oxalato no rim e lesões do
colágeno.
por  Hidratação: A privação de água no
organismo pode ocorrer tanto pelo menor
consumo dessa substância por idosos
(menos sede) quanto pelas alterações na
função dos rins. Por vezes, o quadro de
desidratação nessa população é
irreconhecível, porque pode manifestar-
se como quedas, confusão mental,
alteração no grau de consciência,
fraqueza ou mudança no estado funcional
ou fadiga. Essa situação é ainda mais
da grave nos períodos de calor, de forma
que o senescente deve ingerir água
mesmo que sem sede, numa dose média
de 1,5 litros diários.
De forma a estabelecer metas e diretrizes
acessíveis à população idosa, foram criados
os 10 passos para uma alimentação
saudável, a saber:
 1º passo: Faça três refeições ao dia (café
da manhã, almoço e jantar) e, caso
necessite de mais, faça outras refeições
nos intervalos;
 2º passo: Dê preferência aos grãos
integrais e aos alimentos em sua forma
mais natural. Inclua nas principais
refeições alimentos como arroz, milho,
de
batata, mandioca/macaxeira/aipim;
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
 3º passo: Inclua frutas, legumes e
verduras em todas as refeições ao longo
do dia;
 4º passo: Coma feijão com arroz, de
preferência no almoço ou janta;
 5º passo: Lembre-se de incluir carnes,
aves, peixes ou ovos e leite e derivados
em pelo menos uma refeição durante o
dia. Retirar a gordura aparente das
carnes e a pele das aves antes da
preparação torna esses alimentos mais
saudáveis;
 6º passo: Use pouca quantidade de
óleos, gorduras, açúcar e sal no preparo
dos alimentos;
 7º passo: Beba água mesmo sem sentir
sede, de preferência nos intervalos entre
as refeições;
 8º passo: Evite bebidas açucaradas
(refrigerantes, sucos e chás AVALIAÇÃO NUTRICIONA L NA TERCEIRA IDADE:
industrializados), bolos e biscoitos
A história clínica e o exame físico
recheados, doces e outras guloseimas
representam a base da avaliação nutricional
como regra da alimentação;
que deve ser complementada por
 9º passo: Fique atento às informações
parâmetros antropométricos, laboratoriais e
nutricionais disponíveis nos rótulos dos
imunológicos. A anamnese deve ser
produtos processados e
meticulosa e abordar alterações de peso,
ultraprocessados para favorecer a
hábitos alimentares, redução do apetite,
escolha de produtos alimentícios mais
alteração do padrão alimentar, mudanças no
saudáveis;
trânsito intestinal, uso de medicamentos,
 10º passo: Sempre que possível, coma
bem como avaliar a condição
em companhia.
socioeconômica, a capacidade funcional e a
ingesta alcoólica. O exame físico também
deve ser detalhado, com grande enfoque
para a hidratação, fácies, respiração, exame
de pele e fâneros. É necessário também
observar a perda de tecido subcutâneo,
massa muscular e presença de edema.

Para a correta avaliação nutricional, são

importantes dois aspectos distintos da
nutrição: a ingestão dietética, por meio do
uso de um registro alimentar, e o estado
nutricional. De um modo geral, pode-se
avaliar esse último parâmetro com a
utilização de várias técnicas, que combinam
a história clínica, a antropometria, exames
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
laboratoriais, testes de capacidade funcional
e análise da força muscular.
O questionário de Mini avaliação Nutricional
(MAN) apresenta grande sensibilidade para
a detecção de desnutrição em idosos,
classificando-o, de acordo com o grau
nutricional, em eutrófico (MAN = 24),
desnutrido (MAN < 17) ou em risco de
desnutrição (MAN entre 17 e 23,5). Esse
teste é formado por questões simples que
avaliam peso, altura e perda de peso, o
modo de vida, uso de medicações, a
mobilidade, aspectos alimentares, e a
autopercepção da nutrição e saúde geral
pelo indivíduo.
As medidas antropométricas são utilizadas
para detecção e monitoramento de
desnutrição. Os parâmetros mais utilizados
são altura, peso, índice de massa corporal,
circunferência muscular e prega cutânea.
Para os idosos restritos ao leito ou que não
conseguem ficar em pé ou aqueles
portadores de grandes deformidades de
coluna vertebral, pode-se utilizar o
comprimento da perna (altura do joelho), que
não se altera com a idade. Assim, a altura
pode ser estimada para o sexo masculino e
feminino respectivamente, de acordo com as
equações: ((2,02 x (altura do joelho) – (0,04
x (idade) + 64,19, e ((1,83 x (altura do joelho)
– (0,24 x (idade) + 84,88.
A medida das dobras cutâneas é utilizada
para avaliar a reserva de gordura
subcutânea, de forma a espelhar o conteúdo
de gordura corporal total. As medidas são
feitas utilizando as dobras cutâneas triciptal,
biciptal, subescapular e suprailíaca, sendo a
primeira a mais representativa da gordura
corporal.
A OMS recomenda a avaliação da
circunferência total do braço como parâmetro
nutricional antropométrico na avaliação da
massa muscular. Os valores obtidos são
comparados a tabelas padronizadas que
classificam a gravidade da perda muscular
em leve, moderada ou grave. Outros
parâmetros como circunferência da
panturrilha, circunferência da cintura e do
quadril também podem ser utilizados
O IMC, parâmetro de monitoramento
sistematizado para o acompanhamento do
estado nutricional do indivíduo, é alterado na
terceira idade, tendo como base a redução
da altura corporal, a possibilidade de
oscilações no peso, variações na densidade
(e, portanto, na massa) óssea, e diminuição
da massa muscular. Assim, foi necessário
modificar os pontos de corte para
classificação do idoso dentro dos grupos pré-
definidos por essa escala, que passam a ser
descritos apenas por baixo peso, peso
adequado e sobrepeso.
ASPECTOS ASSOCIA DOS À DESNUTRIÇAO NA
TERCEIRA IDADE:
A população idosa encontra-se em estado de
vulnerabilidade aumentado para a
desnutrição, com a presença de múltiplos
fatores de risco pouco observados em outras
faixas etárias, como:
 Disfunções fisiológicas e metabólicas do
envelhecimento;
 Sarcopenia: o círculo vicioso que advém
dessa situação constitui um dos desafios
na atenção do idoso: sarcopenia,
fraturas, imobilização, desnutrição, piora
da síntese proteica e piora da sarcopenia.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
Dentre essas causas somente a
desnutrição e a inatividade podem ser
evitáveis;
 Disfagia;
 Perda de peso involuntária: a perda
ponderal é, muitas vezes, ignorada pelo
idoso e por seu acompanhante, podendo
passar despercebida pelos profissionais
de saúde. A principal causa referida pelo
senescente é a perda do apetite
(anorexia do idoso). Para evitar que esse
emagrecimento se mantenha
indetectado, recomenda-se que sejam
realizadas avaliações nutricionais
semestrais, com o registro do IMC, peso
e circunferência da panturrilha desse
indivíduo;
o A redução de peso de 5% ao longo de
1 ano ou de 10% num período de 5 a
10 anos está associada a um
aumento de mortalidade e morbidade
(quedas, perda da capacidade
funcional, depressão, etc.), podendo
elevar o risco de hospitalização.
As causas de desnutrição podem ser
metabólicas, orgânicas ou psicossociais. A
anorexia no idoso é multifatorial, sendo a
etiologia mais comum para a perda de peso
não intencional. Além disso, os demais
fatores de risco para a desnutrição no idoso
podem ser representados como os 9D do
emagrecimento: Drogas, Depressão,
Disfagia, Dentição, Demência, Doenças,
Diarreia, Disgeusia e Disfunção.
Mudanças fisiológicas associadas ao
envelhecimento também predispõem o
indivíduo à perda de peso, como alterações
sensoriais, diminuição na eficiência da
mastigação, esvaziamento gástrico
lentificado e alterações neuroendócrinas.
Tais alterações podem causar, para além da
falta de apetite, menor prazer em alimentar-
se e saciedade precoce, o que pode induzir
o surgimento de um processo de
desnutrição.
A obesidade, de etiologia multifatorial, ocorre
em consequência de alterações metabólicas
das células adiposas. Esse distúrbio pode vir
a causar desnutrição, não pela ingesta de
quantidades insuficientes de alimento, mas
sim pela baixa qualidade dos mesmos.
Outras implicações ao metabolismo podem
ser atribuídas a esse quadro, como:
 Resistência à insulina;
 Estado pró-inflamatório constante
(devido à liberação de citocinas;
 Aumento de ACTH, cortisol, TSH e
leptina no plasma, promovendo
respostas constantes de estresse;
Ação basal pró-coagulante, elevando o risco
de doenças cardiovasculares.
PROBLEMA 5 - ABERTURA:
DOENÇAS PULMONARES NO IDOSO:
DOENÇA PULMONAR OBST RUTIVA CRÔNICA
(DPOC):
A doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) pode ser definida, fisiologicamente,
como a ocorrência crônica de obstrução ao
fluxo aéreo decorrente da associação entre
enfisema e a quadros de bronquite
persistente, que se desenvolve de forma
insidiosa até o início da manifestação
sintomática. Esse fato se deve à capacidade
de adaptação individual à redução gradual
da capacidade física e pulmonar.
Essa doença corresponde à quarta maior
causa de morte entre indivíduos de 70 a 90
anos de idade, mas também representa uma
importante fonte de morbidade e de
diminuição na qualidade de vida individual,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
sendo diagnosticada em aproximadamente
4% dos homens e 2% das mulheres com
mais de 45 anos. Os portadores apresentam
risco elevado para o desenvolvimento de
infecções virais ou bacterianas, levando
muitos idosos a serem admitidos em centros
de tratamento intensivo.
A DPOC é um espectro de doenças,
abrangendo bronquite crônica, enfisema e
asma. Surgem danos tanto nas vias
respiratórias quanto nos alvéolos, com maior
exacerbação em tabagistas, resultando em
processos inflamatórios nessas áreas,
mediados pela ação de citocinas, proteases
e agentes oxidantes. Esse quadro é
previnível e tratável, sendo capaz de
impactar de forma significativa na qualidade
de vida de seus portadores.
A bronquite crônica é marcada pela presença
de tosse produtiva na maioria dos dias, por
no mínimo 3 meses por 2 anos consecutivos,
desde que sejam afastadas outras etiologias
cardiopulmonares de mesmos sintomas. O
enfisema é diagnosticado
anatomopatologicamente e caracterizado
pela degradação alveolar, o que por sua vez
promove o aumento dos espaços aéreos e à
perda da elasticidade pulmonar, gerando
assim um quadro de bloqueio das vias
aéreas periféricas. Podem-se observar
diferentes padrões para essa condição: o
enfisema centroacinar, que ocorre
predominantemente nos bronquíolos
terminais, e o enfisema pan-acinar, que
envolve uma destruição generalizada.
O quadro de asma se diferencia mais da
DPOC por se iniciar na infância ou
adolescência, ser associada fortemente a
fatores hereditários e por apresentar maior
chance de reversibilidade, seja ela
espontânea ou induzida pelo tratamento com
broncodilatadores ou corticosteroides. Os
pacientes afetados por essa doença
apresentam tosse crônica, chiado episódico
típico e hipersecreção brônquica. É possível,
no entanto, que alguns indivíduos
desenvolvam quadros irreversíveis e
graduais de bloqueios nas vias aéreas,
desenvolvendo assim uma forma de doença
pulmonar obstrutiva crônica junto aos
episódios asmáticos.
Dentre os fatores de risco responsáveis por
desencadear processos obstrutivos,
destacam-se:
 Tabagismo: corresponde ao principal
comportamento de risco para o
desenvolvimento da DPOC em todo o
mundo. O uso crônico do cigarro promove
tanto obstrução de vias aéreas quanto
hipersecreção de muco, e também o
tabagismo passivo pode ter impacto
sobre o surgimento da doença,
principalmente no período fetal, momento
no qual há o crescimento pulmonar;
 Poluição do ar: a exposição constante à
fumaça preta está diretamente associada
ao desenvolvimento de bronquite crônica;
 Exposição ocupacional: trabalhadores
que apresentem contato contínuo com
pós ou fumaça podem ser mais
propensos ao desenvolvimento de
enfisema e DPOC principalmente quando
esse comportamento é simultâneo ao
tabagismo;
 Infecções pulmonares: a ocorrência de
distúrbios infecciosos ao longo da vida,
principalmente no primeiro ano, aumenta
o risco individual para DPOC;
 Prematuridade;
 Nutrição precária: déficits das vitaminas
A, C e E (antioxidantes);
 Aspectos genéticos (com destaque para
a deficiência de antiproteases).

FISIOPATOLOGIA:
Três grandes componentes estão presentes
no processo patogênico da DPOC, podendo
ser resultante de quaisquer dos quadros que
formam o espectro dessa doença. Tais
condições são:
 Hipersecreção mucosa:
É um resultado da exposição ao tabaco ou a
inalação de demais irritantes do sistema
respiratório. O mecanismo de
desenvolvimento específico desse fenômeno
não é estabelecido, mas supõe-se que ele
envolva a ativação das terminações
nervosas sensoriais nas vias respiratórias,
com consequente aumento da secreção
mucosa e efeitos estimulantes produzidos
por enzimas derivadas do neutrófilo, tais
como quinases e elastases. Com a
cronificação do quadro, as glândulas
submucosas se tornam hiperplásicas e as
células caliciformes se proliferam por meio
da ação excessiva de fatores de
crescimento.
 Desequilíbrio entre proteases e anti-
proteases:
O enfisema surge a partir de um
desequilíbrio entre proteases (enzimas que
degradam estruturas alveolares)
antiproteases (compostos que impedem a
ocorrência dessa ação). Dentre esses
compostos, destaca-se a alfa-1-antitripsina
(ou alfa-1-antiprotease), proveniente
principalmente do plasma sanguíneo, a qual
pode ser associada a 1% das formas de
DPOC em caso de deficiências genéticas em
sua formação. Assim, o desgaste enzimático
da elastina torna o pulmão menos elástico,
favorecendo o desenvolvimento de quadros
obstrutivos.
O tabagismo estimula que os leucócitos
polimorfonucleares pulmonares formem
radicais livres e oxidantes, capazes de
causar sérios danos celulares. Esse
processo, denominado estresse oxidativo,
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
inativa as antiproteases de proteção e causa
peroxidação de lipídeos nas vias
respiratórias e alvéolos, que se tornam mais
susceptíveis a inflamações.
Nos processos inflamatórios da DPOC, os
macrófagos e neutrófilos fazem o papel-
chave, tendo como prováveis mediadores as
interleucinas secretadas por alguns dos
componentes da imunidade inata, como as
IL6 e IL-8, TNF-α e a PDE-4. A bronquite
asmática e a bronquite crônica decorrem da
inflamação das vias respiratórias de
condução, ao passo que o enfisema é o
resultado da inflamação alveolar.
 Obstrução de vias respiratórias
periféricas:
O processo obstrutivo é provavelmente
associado a inflamações cronificadas
provocadas por compostos irritantes,
caracterizando-se pela infiltração neutrofílica
a partir de macrófagos. Tal situação pode
estimular a secreção de estruturas
produtoras de fibrinogênio, que irão fibrosar,
de forma normalmente delimitada, as vias
aéreas periféricas.
e
Alguns pacientes podem vir a desenvolver
quadros de DPOC sem a presença de
relações com o tabagismo, apresentando
uma variedade de sub-etiologias:
 Deficiência de alfa-1-antitripsina:
incorreções genéticas podem induzir a
um profundo quadro de deficiência dessa
anti-protease, o que faz o parênquima
pulmonar se tornar ainda mais
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
susceptível aos danos causados por
proteínas endógenas, levando assim a
quadros de enfisema grave (se tornam
ainda piores dentre fumantes);
 Discinesia ciliar primária: esse quadro
leva a alterações nos cílios de todo o
coro, tornando o portador mais
susceptível a sinusite e otite crônicas,
além da DPOC. Os homens acometidos
por essa condição são estéreis, pois os
seus espermatozoides não conseguem
se locomover. As formas mais graves
dessa doença podem levar à destrocardia
e bronquiectasia, no entanto, é mais
comum que esses pacientes
desenvolvam alguma forma leve de POC.
QUADRO CLÍNICO:
A progressão da Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica é de ao meos 30 anos
desde o surgimento das manifestações
clínicas, que nem sempre estão presentes
durante os estágios iniciais do quadro
(geralmente há apenas tosse matutina,
associada pelo portador ao consumo de
cigarros nesse período do dia). Nos estágios
mais avançados, por sua vez, sinais físicos
são evidentes, como a hiperinsuflação
pulmonar e o rebaixamento diafragmático.
Além disso, sintomas frequentes são tosse
produtiva, infecções respiratórias
oportunistas e sibilos audíveis. Pacientes
com DPOC na terceira idade podem também
apresentar sintomatologia atípica, com
fadiga, diminuição da mobilidade e
depressão, ao invés dos quadros de
bronquite crônica identificados em indivíduos
jovens e tabagistas.
A ocorrência de hiperinsuflação
deformações na caixa torácica, geralmente
atribuídas à osteoporose, levam ao
desenvolvimento de cifose, que causa
distância dos batimentos cardíacos,
alterações no movimento do tórax, maior
abaixamento traqueal e hiper-ressonância
durante a inspiração. Na ausculta pulmonar,
os murmúrios vesiculares encontram-se
diminuídos, e o período expiratório se
estende ao realizar manobras forçadas. Ao
exame físico, a musculatura acessória
mostra-se bastante destacada,
principalmente no pescoço, e há tiragem
intercostal inferior devido à mudança de
posição do diafragma.
A análise do escarro desses indivíduos
frequentemente aponta para a presença
acentuada de citocinas pró-inflamatórias e
potenciais patógenos do sistema
respiratório.
Alguns indícios evidenciados na anamnese
apresentam características típicas da DPOC,
como:
 História tabagismo intenso por longos
períodos de tempo;
 Tosse e expectoração crônicas, que
inicialmente eram restritas ao turno da
manhã, mas que passaram a se espalha
ao longo do dia;
 Secreção de caráter mucoso, que
aumenta de quantidade durante
exacerbações do quadro;
 Intensificação sazonal da tosse;
 Início insidioso de dispneia ao esforço,
com sibilo ou sensação de aperto no
tórax;
 Desenvolvimento de insuficiência
cardíaca ou respiratória, dando origem à
classificação blue bloater (cianótico
congesto);
 Desenvolvimento de dispneia e sibilância
extremos, com enfisema pronunciado e
pouca ou nenhuma expectoração,
criando o grupo pink puffer (soprador
róseo);
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
o A maior parte dos pacientes apresenta
alguma forma de combinação entre
ambos os subtipos apresentados
acima, sendo incomum a manifestação
exclusiva de uma destas categorias.
PNEUMONIAS:
A pneumonia é a principal causa de
morbimortalidade por doenças infecciosas
dentre a população geriátrica, tendo também
papel expressivo dentre as solicitações de
hospitalização e os encaminhamentos para
unidades de terapia intensiva. Tal condição é
ainda mais grave em idosos
institucionalizados em asilos, que
apresentam 10 vezes mais chances de
desenvolver a doença.
De forma a compreender melhor os impactos
dessas doenças, é necessário diferenciar
pneumonite de pneumonias. O primeiro
termo refere-se a um quadro inflamatório
agudo que pode ou não ser infeccioso,
delimitado ao parênquima. A segunda
nomenclatura, por sua vez, insere-se no
contexto supracitado, descrevendo as
variantes infecciosas, virais, bacterianas
(principais agentes etiológicos na terceira
idade) ou fúngicas, desse acometimento. É
crucial realizar essa delimitação
principalmente em situações nas quais não
há acesso a métodos diagnósticos, pois
algumas manifestações, como a irritação
decorrente da aspiração pulmonar de
conteúdo gástrico, podem resultar em ambos
os desfechos supracitados, e a terapêutica
deve ser acertada.
De forma a facilitar a organização dos
protocolos de tratamento e a escolha dos
antibióticos, realiza-se a classificação das
pneumonias em idosos quanto ao local de
aquisição, a ocorrência de comorbidades e o
estado imunológico do paciente. Esse
processo é importante, pois em cerca de
metade dos casos não é possível identificar
com clareza o agente etiológico.
No grupo das pneumonias comunitárias,
ainda é possível segmenta-las em
verdadeiras, nas quais não houve contato
recente por parte do paciente com serviços
de saúde, e aquelas relacionadas a esses
ambientes. Nessa última divisão também são
encontrados casos de infecções adquiridas
no convívio social por indivíduos em uso de
equipamentos de suporte médico ou em
tratamentos com monitoramento constante
pela equipe de saúde, como curativos ou
quimioterapia. Os pacientes com infecções
relacionadas com os serviços de saúde
geralmente são mais idosos, com maior
número de comorbidades, mais infecções
por bactérias multirresistentes, maior
frequência de pneumonia aspirativa e pior
prognóstico do que os pacientes com
pneumonias comunitárias verdadeiras.
As pneumonias adquiridas no hospital são
aquelas que ocorrem após 2 dias ou mais da
admissão, podendo ser classificadas como
sendo de início precoce (de 2 a 4 dias após
a hospitalização) ou de início tardio (5 ou
mais dias após a hospitalização). As últimas
manifestações têm maior probabilidade de
serem causadas por microrganismos
resistentes, criando um pior prognóstico para
o paciente afetado. É importante destacar a
ocorrência da pneumonia por ventilação
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
mecânica, que ocorre após 48 a 72 horas da
inserção da cânula, correspondendo a um
importante causador de morbidade em
idosos submetidos a essa forma de suporte
de vida.
PATOGENIA:
Três mecanismos patológicos permitem o
desenvolvimento de quadros de pneumonia,
como a colonização microbiana da
orofaringe, a inalação de aerossóis
contaminados e, de forma menos comum, a
propagação hematogênica dos agentes
etiológicos, instalados em sítios infecciosos
extrapulmonares.
Diversos fatores podem levar o idoso a uma
maior predisposição para o desenvolvimento
de pneumonias, sendo o de maior relevância
a infecção pelo vírus Influenza (gripe). No
entanto, destacam-se também como
preditores importantes a desnutrição, a
fragilidade e as doenças pulmonares e
cardiovasculares pré-existentes. No que se
refere a comorbidades, as mais comuns são
a DPOC, doenças cardíacas crônicas,
hipertensão, diabetes melitus e cânceres.
Mesmo com a redução da atividade
mucociliar e a diminuição da resposta imune
a novos patógenos, o envelhecimento não é
o único fator a ser associado ao
desenvolvimento de pneumonias na terceira
idade. A probabilidade do surgimento dessa
doença é maior em indivíduos com
exposição crônica ao tabaco ou com outros
distúrbios respiratórios já responsáveis por
diminuição da reserva pulmonar.
Em relação à imunosenescência, observa-se
diminuição na produção de anticorpos e IL-2,
da função dos linfócitos T, e dos níveis
séricos de IgM, culminando assim numa
menor reação celular à estímulos nocivos.
Aumentos dos níveis séricos de
autoanticorpos, de imunoglobulinas IgA e da
atividade do sistema complemento podem
também estar presentes. Há também
declínio funcional dentre macrófagos e
neutrófilos pulmonares, dificultando ainda
mais a mediação de respostas imunes nessa
região.
A colonização da orofaringe corresponde ao
primeiro grande passo para o surgimento de
pneumonias, principalmente naquelas
adquiridas por idosos institucionalizados ou
hospitalizados. Staphylococcus aureus e
bactérias gram-negativas são mais
observadas nessas populações,
principalmente em idosos já afetados por
doenças pulmonares crônicas, xerostomia
ou com redução de mobilidade. Com 5 dias
de internamento, cerca de 40% dos
pacientes sofreram colonização bacteriana
por organismos Gram-negativos. Em
indivíduos em estado de saúde critico, essa,
porcentagem chega a 60%. Na comunidade,
por sua vez, 6% têm sua orofaringe
colonizada e nos asilos, 22%.
Idosos com acidez gástrica diminuída (seja
por distúrbios de secreção ou pelo uso
excessivo de medicamentos), ou disfunções
dentárias, como doença periodontal, higiene
oral inadequada e dentição prejudicada,
também apresentam maior risco para
desenvolverem pneumonia.
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A aspiração, por vezes despercebida, de
microrganismos é o principal mecanismo
para o desenvolvimento das pneumonias. A
aspiração é frequente durante o sono de
adultos saudáveis, mas os mecanismos de
oclusão da glote, o reflexo da tosse, a ação
adequada dos mediadores imunes e o
movimento de batimento ciliar evitam a
instalação de quadros infecciosos
recorrentes, processos estes que se
encontram deficientes em idosos,
acometidos por quadros predisponentes,
como a DPOC.
Nos hospitais e instituições de longa
permanência, descuidos simples, como com
a correta assepsia das mãos ou com a
manutenção de um campo estéril durante
procedimentos podem levar ao surgimento
de doenças respiratórias graves, não sendo
rara a observação de bactérias associadas à
pneumonia. Dentre as intervenções e
processos invasivos com maior relação com
o desenvolvimento dessa doença estão a
intubação traqueal, a alimentação parenteral
e a ventilação mecânica, que induzem o
acúmulo de microrganismos nas vias aéreas
inferiores.
QUADRO CLÍNICO:
A pneumonia, assim como as demais
doenças que acometem a população
geriátrica, frequentemente apresenta
manifestações clínicas atípicas ou
inespecíficas, como perda de apetite,
alterações no humor, incontinência, quedas
e síncope, fenômeno que se torna ainda
mais comum com o avanço da idade,
representando o desgaste corporal
sistêmico, exacerbado em indivíduos
fragilizados. As pneumonias não são uma
exceção: um terço dos casos não apresenta
febre, e muitos podem não referir tosse ou
dispneia.
Um dos achados com maior relevância é a
prevalência elevada do delirium como
manifestação sintomática (por vezes como a
única sintomatologia), seja em indivíduos
com demência ou naqueles previamente
lúcidos. Outra condição de destaque é o
déficit funcional, com diminuição da
capacidade de execução das atividades da
vida diária, que acomete cerca de 50% dos
pacientes com pneumonias, mas que pode
ser menosprezada pelas equipes de saúde
como sendo reflexos comuns do
envelhecimento.
A taquipneia é um dos únicos sinais físicos
capazes de serem mensurados e dotados
certa capacidade de identificação para os
quadros de infecções pulmonares. A
frequência respiratória normal para um idoso
é de 16 a 25 irpm, sendo que valores
superiores a esse limite têm sensibilidade de
90% e especificidade de 95% para o
diagnóstico de pneumonia.
Nos hospitais, principalmente dentre os
pacientes com suporte ventilatório, o
diagnóstico de pneumonia baseia-se na
presença de febre, leucocitose, secreção
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
traqueal com pus e de novos infiltrados na
radiografia do tórax, além da observação de
culturas bacterianas positivas. Dentre os
idosos, no entanto, essa situação se
complica mais uma vez, pois tais achados
podem não ser evidentes, dando lugar ao
agravamento da insuficiência respiratória, a
piora da função mental e a falência de
órgãos.
Graças às diversas manifestações clínicas, a
pneumonia em idosos deve ter, como
diagnósticos diferenciais a insuficiência
cardíaca, a tuberculose, o tromboembolismo
pulmonar, neoplasias e micoses diversas.
Não é incomum a coexistência de uma ou
mais doenças com a pneumonia. É
necessário que a equipe de saúde
mantenha-se atenta às atipias na
sintomatologia desse grupo, pois o
menosprezo de sinais de alerta pode ser
responsável pelo aumento na ocorrência de
morbidades e na intensificação da
mortalidade.
TUBERCULOSE PULMONAR:
A tuberculose pulmonar é uma infecção
bacterina altamente contagiosa, causada
pelo Bacilo de Koch (Mycobacterium
tuberculosis), sendo apenas uma das
manifestações dessa doença.
Segundo a OMS, cerca de 1/3 da população
mundial é portadora do Bacilo, podendo agir,
na maioria das vezes, como reservatórios
para esse patógeno. A tuberculose
corresponde a uma das 10 principais causas
de morte em todo o mundo, com maior
concentração desses desfechos em países
em desenvolvimento econômico, a maioria
dos quais alcançam índices de letalidade de
20%. Nota-se, no entanto, que em regiões
nas quais forma implementadas medidas
eficazes de prevenção, como a vacinação
compulsória, o maior adensamento de casos
se concentra na população idosa, pois
infecções ativas podem ser reativadas em
maior intensidade do que os casos
adquiridos na comunidade. A mortalidade é
ainda mais elevada para a população idosa,
uma vez que esse grupo já apresenta, por
vezes, diminuição na capacidade
cardiorrespiratória, e também um acúmulo
de comorbidades, como o tabagismo e o
etilismo.
PATOGÊNESE:
PRINMOINFECÇÃO – TUBERCULOSE PRIMÁRA:
Com a diminuição do risco de transmissão
comunitária de tuberculose, o momento
inicial de contato com o Bacilo de Koch
ocorre cada vez mais tarde ao longo da vida,
frequentemente acometendo adultos, mas
também alguns idosos, que podem vir a
apresentar “nova primoinfecção” depois de
anos da exposição original. Quando
inalados, as bactérias alcançam os alvéolos,
principalmente nas regiões médias e de
base, que são mais oxigenadas, sendo
degradados por macrófagos rapidamente. O
desenvolvimento da infecção a partira desse
momento é dependente tanto da virulência
desse microrganismo, como também da
intensidade da resposta imune do
hospedeiro: os bacilos que não foram
adequadamente degradados irão se
multiplicar gradualmente até que consigam
se sobrepor aos macrófagos e que sejam
disseminados para o parênquima pulmonar.
Monócitos locais não ativados e macrófagos
circulantes serão atraídos, criando um
processo que se estende por semanas, com
crescimento exorbitante do número de
bactérias. Após 3 semanas, podem surgir
“metástases”, com a disseminação do bacilo
para regiões extrapulmonares através dos
vasos linfáticos e da corrente sanguínea,
destacando-se as áreas mais densamente
oxigenadas (cérebro e rins, por exemplo).
Todo esse processo irá continuar até que a
imunidade específica contra o patógeno seja
criada.

O ponto de partida para uma “virada
imunológica” por parte do portador ocorre
caso este tenha condições de desencadear
reações celulares, inicialmente mediadas por
linfócitos T CD4 e pelas interleucinas por
eles secretadas, responsáveis por induzir a
migração de novas estruturas linfocitárias e
macrófagos, modulando sua função. Esses
últimos tipos celulares apresentam maior
poder de ação no combate ao bacilo,
promovendo fagocitose destes e a liberação
de substâncias adjuvantes ao trabalho das
interleucinas, capazes de causar febre,
emagrecimento e necrose tecidual, de forma
a suprimir as fontes energéticas espoliadas
pelo microrganismo.
Enquanto fomenta as bases da imunidade
adaptativa para o M. tuberculosis, o
organismo também desenvolve
hipersensibilidade do tipo retardado (HTR),
que marca para destruição os macrófagos
que servem como reservatório para o bacilo.
Embora esta seja uma resposta inflamatória
acelerada que causa lesões teciduais a
longo prazo, ainda compõe um mecanismo
ágil e potente que impede a multiplicação do
agente agressor, ainda que às custas de
algumas células. O meio extracelular,
desfavorável à sobrevivência do bacilo, torna
mais fácil sua eliminação
A resposta imune consolidada, tanto nos
pulmões quanto nos demais tecidos afetados
pela tuberculose irá, após 2 ou três semanas
do primeiro contágio, dar origem à formação
de granulomas, células gigantes oriundas de
macrófagos capazes de frear a propagação
bacilar. Alguns desses componentes,
quando propositalmente não encapsulados,
migram para o centro dessa estrutura, sendo
ali degradados, deflagrando o processo de
necrose caseosa. Esse processo permite o
surgimento de uma “infecção controlada”,
uma vez que o pH ácido e a hipóxia permitem
a manutenção de algumas bactérias em
estado latente por muitos anos. As únicas
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
“provas” que restam da infecção serão a
reação positiva à baciloscopia de escarro e o
surgimento ocasional de um granuloma nas
áreas média ou inferiores do pulmão e um
linfonodo hilar calcificado, denominados em
conjunto complexo primário ou de Ghon.
Caso um destes focos se rompa no espaço
pleural, é possível dar origem a um quadro
de pleurite tuberculosa, uma complicação
precoce da primoinfecção. O dano é ainda
a
maior se tais núcleos extravasarem para a
corrente sanguínea, liberando múltiplos
bacilos por todo o corpo e aumentando o
risco de desenvolvimento de formas miliares,
com micropontos de formação caseosa em
vários órgãos. O envolvimento renal ocorre
quando ocorre a multiplicação de
microrganismos situados em focos corticais,
resultando em lesão necrótica que drena e
alcança o sistema coletor. Atingindo essa
região, é quase certa a formação de focos de
infecção ao longo de todo o restante do trato
urinário.
REATIVAÇÃO DA TUBERC ULOSE:
O envelhecimento pode trazer consigo
alterações na imunidade humoral e,
principalmente, na forma celular, o que
propicia a reativação dos focos contendo o
M. tuberculosis em seu estado de dormência.
O declínio na capacidade replicativa de
linfócitos está presente tanto em indivíduos
com doenças crônicas, como também
naqueles hígidos. A ação dessas estruturas
depende tanto do estímulo promovido pelo
antígeno como também da ativação
linfocitária mediada pela secreção de IL-2,
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
porém, na velhice, há menos receptores para
esse composto. Com essa deterioração na
proliferação e na atividade das células de
defesa, o organismo torna-se menos capaz
de manter reações de citotoxicidade e de
hipersensibilidade retardada.
Assim, a vigilância imunológica direcionada
aos bacilos se torna mais frágil, o que
permite a reativação de lesões prévias
mesmo após décadas da exposição inicial ao
patógeno. Tal situação é bastante comum
dentre idosos, sendo mais frequente que
casos de contaminação exógena. Alguns
fatores tornam o indivíduo mais propenso a
esse desfecho, como diabetes, neoplasias,
insuficiência renal, etilismo e desnutrição,
uma vez que interferem com as funções
orgânicas de defesa.
O processo de reativação da tuberculose
pulmonar é marcado por um quadro
inflamatório exacerbado, causando
consolidação (observada por meio da
alteração da dinâmica dos ruídos
hidroaéreos e do frêmito toracovocal),
criação de granulomas com necrose
caseosa, liquefação tecidual, cavitação,
necrose e disseminação bacilar pelos
brônquios. A formação de focos de fibrose
não é incomum, dando origem a atelectasias
e desvios da traqueia, o que impacta ainda
mais a capacidade ventilatória do portador
da doença.
Com todas as alterações do sistema mune
previamente citadas, os granulomas podem
ter sua formação desestimulada, compondo
estruturas com menor capacidade de
destruição bacteriana. Esse processo, por
sua vez, leva a uma intensificação da
cavitação óssea, da destruição tecidual e da
lesão endotelial nos vasos sanguíneos. Tais
fenômenos ocorrem com frequência nas
áreas médias e inferiores dos pulmões de
idosos, ao invés dos ápices (locais
esperados de reativação, por serem menos
perfundidos e mais oxigenados).
QUADRO CLÍNICO:
A tuberculose pulmonar representa a forma
mais frequente de apresentação dessa
doença na população geriátrica e, nesse
grupo, os sintomas apresentam-se em
grande intensidade, que se torna ainda mais
exacerbada com o aumento da idade do
paciente no momento do diagnóstico. Esse
fenômeno se deve, provavelmente, ao maior
período de tempo discorrido entre o início da
ação do bacilo e a implementação da
terapêutica adequada, que favorece a
formação de lesões e pontos de necrose ao
longo do parênquima pulmonar. Há grande
frequência de tosse (95% dos pacientes),
expectoração (87%), emagrecimento,
fraqueza muscular e dispneia dentre esses
indivíduos, o que afeta em grande escala sua
capacidade de engajamento em atividades
cotidianas.
O processo de determinação diagnóstica da
tuberculose pode ser mais difícil m idosos,
uma vez que a ausência de reações
inflamatórias de qualidade tende a manter as
respostas ao teste tuberculínico como não
reativas. Quando há a formação de lesões
extensas e caseificação, as cavidades
bacterianas encontram-se reduzidas devido
ao menor “poder de fogo” imunológico, o que
afeta a capacidade de coletar quantidades
significantes do bacilo, o que exige a
implementação de outros métodos de
análise, mais demorados. Os focos de
necrose tecidual também apresentarão
probabilidade muito baixa de rompimento, de
forma que a hemoptise não é frequente.
Dentre outras situações típicas do processo
de envelhecimento que dificultam a coleta de
escarro para análise encontram-se a
diminuição da atividade de carreamento
mucociliar, ainda mais exacerbada em
tabagistas, e a diminuição da expansibilidade
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
e elasticidade dos pulmões e alvéolos, que
diminuem a qualidade da tosse.
Por vezes os sintomas da tuberculose
poderão ser associados de forma incorreta a
outras doenças comuns dentre os idosos.
Nesse contexto, destaca-se a presença de
tosse em um paciente previamente tabagista
que tenha desenvolvido DPOC, perda do
apetite e emagrecimento em indivíduos
depressivos ou dispneia em cardiopatas com
insuficiência cardíaca congestiva. Sobre este
último ponto, é importante ressaltar que
pacientes acamados ou amplamente
debilitados podem deixar de relatar a
dispneia por se encontrarem num estado de
restrição de mobilidade intenso o suficiente
para que esse sintoma não mais se
manifeste. Além do mais, também é válido
lembrar que, na terceira idade, a
sintomatologia de diversas doenças se
manifesta atipicamente, necessitando assim
de avaliações constantes por parte da equipe
multiprofissional.
ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENT O
PULMONAR:
Com o aumento cada vez mais expressivo da
população idosa, torna-se imperativo que as
alterações morfofuncionais dos diversos
órgãos e sistemas do corpo humano sejam
conhecidas, o que permite a diferenciação,
com maior facilidade, entre manifestações
comuns à faixa etária do indivíduo e aquelas
associadas a quadros patológicos.
A maturação pulmonar e, por conseguinte,
seu pico funcional, acontecem por volta dos
20 a 25 anos de idade, sendo seguida por
uma fase progressiva de decréscimo na
capacidade respiratória, limitando assim a
passagem adequada do fluxo de ar a partir
dos 40 anos, processo causado
principalmente por alterações na dinâmica
entre pulmões (que apresentam reservas
deficitárias de colágeno e elastina), a caixa
torácica e a musculatura associada. Outra
alteração sofrida pelos pulmões é o aumento
do diâmetro dos ductos alveolares, redução
do tamanho dos sacos alveolares (e efetivos
pontos de trocas gasosas), com aumento da
lâmina basal do alvéolo, criando assim o
enfisema senil, evidente mesmo em não
fumantes.
A fisiopatologia do enfisema senil ainda é
incerta, porém já é sabido que o
envelhecimento não afeta, fisiologicamente,
os níveis ou o desempenho do surfactante e
de suas células produtoras (pneumócitos tipo
II), sendo necessário, portanto, descrever
outras causas para essa condição. Nesse
contexto, destaca-se a mudança na
configuração estrutural do colágeno e a
presença de elastina mal consolidada no
parênquima pulmonar, o que resulta numa
redução na elasticidade do órgão, que se
torna gradualmente mais rígido com a idade,
sendo necessária uma maior distensão para
o mesmo aporte de gases. Para completar o
quadro, após os 50 anos de idade, ocorre
uma degradação nas fibras elásticas que
auxiliam a manter os alvéolos pérvios, o que
resulta em um menor tempo de
aproveitamento da inspiração (aumento do
volume de oclusão, ou seja, do número de
segmentos respiratórios que tem seu fluxo
impedido).
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
O sistema respiratório apresenta, como
principais componentes os pulmões, a
parede torácica e o diafragma, todos
essenciais para a mecânica respiratória. Há
uma íntima relação entre cada uma dessas
estruturas e o conceito de complacência, que
pode ser definido como a capacidade de
resistência a pressões variáveis sem que
haja perda de integridade física. Nesse
contexto, incluem-se, no funcionamento
desse sistema, as complacências pulmonar
e da parede torácica, a primeira sendo
responsável por regular a capacidade e a
velocidade de expiração, e a segunda, o
potencial máximo de inspiração. No
processo de envelhecimento, a osteoporose
diminui, de forma gradual, ou aguda, no caso
de fraturas, a altura média das vértebras
torácicas, o que impacta tanto na estatura
média do indivíduo, como também na
conformação de sua caixa torácica. Além da
osteoporose, destaca-se a contribuição do
aumento do diâmetro anteroposterior do
tórax (decorrente da calcificação das
articulações condroesternais) e o
desenvolvimento de cifose, todos estes
processos afetando diretamente a expansão
dessa região e o posicionamento resultante
do diafragma, que passa a apresentar
déficits em suas contrações.
Pouco é conhecido acerca do
envelhecimento do diafragma, para além das
informações supracitadas. Supõe-se, no
entanto, que a perda progressiva de massa
muscular, particularmente nas fibras de
contração rápida (tipo II), leve a uma
diminuição na capacidade de tensão
muscular necessária a essa estrutura. Além
disso, alterações nas fibras nervosas
motoras periféricas também são relatadas,
havendo especial trofismo pelos fixes
musculares semelhantes aos
diafragmáticos. Devido a esse conjunto de
fenômenos, o trabalho muscular e o
dispêndio energético direcionados à
respiração se tornam mais exacerbados.
Graças à ampla superfície epitelial e à
exposição constante do indivíduo a
compostos inalantes possivelmente tóxicos,
mecanismos de limpeza gerais, como a
secreção brônquica, e componentes da
resposta imune, como neutrófilos e
macrófago, encontram-se presentes e ativos
nos pulmões, prevenindo o surgimento de
inflamações e infecções recorrentes. Com o
envelhecimento, no entanto, evidencia-se
uma alteração na proporção de neutrófilos,
com redução do número de macrófagos (que
passam a produzir radicais livres em maior
quantidade), além da maior presença de
imunoglobulinas IgA e IgM e da presença de
linfócitos T auxiliares (quando em
comparação com suas variantes citotóxicas).
Essa última situação direciona, de forma
geral, a resposta imune a um estado de
coordenação menos ativa, com diminuição
do poder destrutivo contra patógenos. Esse
quadro, junto à exposição contínua a
estruturas antigênicas, promove
inflamações, principalmente nas vias aéreas
inferiores, que, por sua vez, acabam por
induzir a degeneração alveolar.
As análises de função pulmonar entre jovens
e a população geriátrica apresenta algumas
alterações expressivas, no entanto é difícil
padronizar valores de referência para cada
grupo, principalmente pela mudança
constante na estatura do idoso. Dentre as
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
principais mudanças encontradas,
destacam-se:
 Aumento do espaço morto (ou volume
residual, quantidade de ar que se
mantém nos pulmões após a expiração
forçada) em 50% entre os 20 e os 70 anos
de idade;
 Decréscimo de 75% da capacidade vital
(quantidade máxima de ar que pode ser
movimentada pelos pulmões), formada
pela soma dos volumes corrente
(quantidade de ar que entra e sai dos
pulmões a cada respiração), de reserva
inspiratória (volume de ar alcançado ao
realizar uma inspiração forçada), e de
reserva expiratória (quantidade máxima
de ar que pode ser expirada);
 Aumento da capacidade residual
funcional (volume de reserva expiratória
mais volume residual), de forma que os
idosos necessitem de maior aporte de
gases que os jovens;
 Queda do volume expiratório forçado no
primeiro segundo (FEV1, volume de ar
eliminado no 1º segundo de uma
expiração máxima) e da capacidade vital
forçada (CVF, volume máximo que
perpassa os pulmões após uma
inspiração e expiração forçadas);
Apesar de todas as mudanças associadas ao
rendimento da respiração, não são
comumente observadas, no envelhecimento
saudável, alterações específicas em curvas
de fluxo inspiratório, ainda que o valor do
fluxo inspiratório máximo seja diminuído com
a idade.
O volume corrente mantém-se o mesmo
entre a população idosa e adultos jovens,
porém, graças aos impactos do
envelhecimento obre os componentes
mecânicos da respiração, torna-se
necessário aumentar a frequência
respiratória para a manutenção da
oxigenação sanguínea. Essa dinâmica reduz
a reserva funcional dos pulmões e produz
diminuição da resposta ventilatória à hipóxia
e à hipercapnia em idosos ao repouso, o que
torna esse grupo vulnerável a súbitas
alterações na concentração de gás
carbônico e oxigênio.
Os receptores beta-adrenérgicos presentes
nos pulmões têm sua densidade mantida
com o avanço da idade, porém algumas
estruturas de alta afinidade são degradadas,
o que promove a queda de atividades
mediadas pela adenilil ciclase (segundo
mensageiro).
Mesmo com todas as alterações
supracitadas, o sistema respiratório segue
apto, ao longo de todo o envelhecimento, a
manter ventilação e oxigenação adequadas
quando o idoso se mantém em repouso. Há,
no entanto, uma diminuição gradual na
reserva respiratória, o que afeta a resposta
do organismo à hipóxia e à hipercapenia,
favorecendo assim o desenvolvimento de
quadros de insuficiência respiratória quando
há elevada demanda desse sistema (ex.:
frente a quadros de pneumonia), tornando
assim esse indivíduo mais susceptível a
hospitalizações, complicações e a óbitos.
PLANOS DE SAÚDE E O ENVELHECIMENTO:
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A saúde suplementar brasileira surgiu em
1970 de forma paralela ao aumento do
mercado de trabalho formal, havendo uma
considerável expansão no número de
operadoras de seguros na década de 1980,
iniciando o acesso individualizado a tais
serviços. De forma a regulamentar a
atividade desse novo setor, foi publicada, em
1998, a Lei nº 9.656, responsável por definir
juridicamente o que seriam os planos ou
seguros-saúde (quaisquer empresas que
fornecessem a “prestação continuada de
serviços ou cobertura de custos assistenciais
a preço pré ou pós estabelecido, por prazo
indeterminado, com a finalidade de garantir,
sem limite financeiro, a assistência à saúde,
pela faculdade de acesso e atendimento por
profissionais ou serviços de saúde,
livremente escolhidos, integrantes ou não de
rede credenciada, contratada ou
referenciada, visando a assistência médica,
hospitalar e odontológica, a ser paga integral
ou parcialmente às expensas da operadora
contratada [...]”). Ainda do ponto de vista da
fiscalização, foi criada em 2000, pela Lei nº
9.961, a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), que se mantém até a
contemporaneidade como mediadora das
relações entre as operadoras e o
consumidor.
Ainda que o sistema de saúde brasileiro seja
público, os planos de saúde ainda
representam uma parcela considerável
desse conglomerado, abrangendo mais de
60 milhões de brasileiros, sendo que destes,
40 milhões são inscritos em serviços de
assistência médica (com 12,6%
representando idosos). Todo esse
contingente populacional é atendido por uma
dentre as mais de 800 operadoras ativas.
Esses indivíduos são, no entanto,
distribuídos de forma bastante desigual ao
longo do território nacional, pois a cobertura
tende a ser maior nas áreas urbanas e nos
estados com maior renda e oferta de
empregos.
A implementação de medidas de regulação
por parte das operadoras de seguro-saúde
(ex.: carência) busca inibir o uso excessivo
de seus serviços, diminuindo assim suas
despesas. Tal prática pode ter como
propósito a manutenção da sustentabilidade
econômico-financeira do setor, uma vez que
seus custos crescem cada vez mais, por
meio do aumento da procura de cuidados
médicos e da incorporação de novas
tecnologias. Caso sejam aplicadas de forma
correta, essas medidas ainda podem
promover a melhor utilização da saúde
privada por seu público-alvo, no entanto,
inserem-se como possíveis riscos o atraso
no tratamento de doenças, o aumento no
número de internações e a menor utilização
de centros de prevenção em saúde.
A carência é definida como um período
durante o qual o consumidor, mesmo
quitando as mensalidades, não pode se
beneficiar de determinadas coberturas. A
cobertura parcial temporária, por sua vez, é
a “carência” aplicada a doenças e lesões
preexistentes. Segundo a Lei nº 9.656/98, os
prazos máximos de carência são de 24 horas
para casos de urgência e emergência, 300
dias para parto e 180 dias para demais
atendimentos. Para planos de saúde,

classificam-se como casos de emergência
aqueles que geram risco imediato de vida ou
de lesões irreparáveis para o paciente, ao
passo que eventos de urgência são aqueles
resultantes de acidentes pessoais ou de
complicações no processo gestacional.
O período máximo de imposição da
cobertura parcial temporária, por sua vez, é
de 24 meses. Essa classificação não é
aplicada para todos os procedimentos, mas
para os que são eventualmente demandados
pelo consumidor e são considerados de alta
complexidade pela ANS, fazendo uso de
insumos de alta tecnologia para tratar de
quadros prévios declarados no momento do
cadastro no seguro-saúde. Caso o
consumidor deseje mitigar esse intervalo de
tempo, ele deve prestar o pagamento de
agravo, que consiste num aumento
temporário no valor da mensalidade para
custear eventuais procedimentos motivados
pela pré-existência de complicações.
CONTRATAÇÃO POR IDOSOS E REAJUSTE
PREÇOS EM SEGURO -SAÚDE:
A negação da contratação de um plano de
saúde tendo como critério apenas a idade ou
a condição de saúde do consumidor é
discriminatória e ilegal, tendo sido
sancionada efetivamente pela ANS em 2011.
Nota-se, no entanto, que esse percalço
evitado pela população geriátrica é
mascarado por outro, o reajuste de preços,
muitas vezes abusivo, associado ao avanço
da idade do contratante.
Além de mudanças anuais no valor cobrado
pelos serviços prestados pela operadora, o
consumidor se submete ao pagamento de
reajustes por faixa etária, aplicados quando
o indivíduo atinge certos marcos descritos
em contrato. A justificativa proposta para tal
condição é a intensificação do uso das
instalações e dos recursos da seguradora
com o envelhecimento de seus beneficiários,
o que resulta em maiores despesas pela
Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
contratada. O Estatuto do Idoso proibiu que
alterações nas prestações fossem aplicadas
a indivíduos com mais de 60 anos de idade,
de forma a limitar a última faixa aos 59 anos,
cujo valor associado não deve ultrapassar
em 6 vezes aquele cobrado a indivíduos
pertencentes à 1º classificação (de forma
que os usuários mais jovens custeiem,
parcialmente, as despesas dos mais velhos).
Nesse contexto, de forma a impedir que o
maior percentual desses reajustes seja
direcionado aos usuários das últimas faixas
etárias, a RN n° 63/2003 determina, que a
variação acumulada entre a sétima e a
décima faixas não pode ser superior à
variação acumulada entre a primeira e a
sétima faixas.
De forma geral, as faixas etárias dispostas
na RN n° 63/2003 são:
 0-18 anos;
 19-23 anos;
 24-28 anos;
DE
 29-33 anos;
 34-38 anos;
 39-43 anos;
 44-18 anos;
 19-53 anos;
 54-58 anos;
 59 anos ou mais.
O percentual utilizado como referência para
a readequação das mensalidades não é
definido pela ANS, ficando a cargos de cada
operadora. No entanto, para o Sistema
Nacional de Defesa do Consumidor, caso
ocorra um percentual de aumento muito alto
de uma só vez, mesmo que previsto em
contrato, tornando tal decisão passível de
questionamento jurídico.
MORTE ENCEFÁLICA:
A definição de morte mais aceita, em termos
médicos, é o término das funções vitais,
considerando que é difícil precisar o exato
momento da sua ocorrência por não
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
constituir um fato instantâneo, mas sim, uma
sequência de fenômenos gradativamente
processados nos vários órgãos e sistemas
de manutenção da vida. Com o tempo,
passou-se a acreditar que a morte não
estava relacionada apenas com a cessação
da respiração e com a assistolia, mas
também com a perda das funções do tronco
e do córtex cerebral.
A ME, que começou a ser estudada a partir
de 1968, é a constatação irremediável e
irreversível da lesão nervosa e significa
morte clínica, legal e social. Devido aos
dilemas éticos que surgiram, critérios clínicos
e tecnológicos para constatação de ME
foram definidos no Brasil em 1997, pela
Resolução do Conselho Federal de Medicina
(CFM) nº 1480, de 21 de agosto de 1997. Os
critérios são baseados na ausência da
atividade cerebral, incluindo o tronco
encefálico e foram disciplinados pelo CFM e,
em atenção ao previsto no art. 3 da Lei nº
9434/97, que considera a remoção de
órgãos, tecidos e partes do corpo humano
para fins de transplantes.
O diagnóstico de ME é obrigatório e a
notificação é compulsória para a Central
Estadual de Transplantes (CET). Para tanto,
deve ser aberto o protocolo para todos os
pacientes com suspeita de ME,
independentemente da possibilidade de
doação ou não de órgãos e/ou tecidos.
A ME geralmente decorre da associação do
aumento da pressão intracraniana,
diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e
hipóxia do tecido encefálico. Isso acontece
porque a maioria das causas que levam a
ME induzem a descompensação do
equilíbrio entre os componentes
intracranianos (cérebro, liquor e sangue)
responsáveis pela manutenção da pressão
intracraniana. Aumentos da pressão
intracraniana causam diminuição do fluxo
sanguíneo cerebral e, consequentemente,
hipóxia tecidual.
Há lesão irreversível da célula nervosa, por
alteração da permeabilidade celular e
distúrbios eletrolíticos no interior da célula.
Com a destruição progressiva do cérebro e
tronco encefálico, várias funções vitais ficam
comprometidas. Ocorre o descontrole da
temperatura corporal, com tendência à
hipertermia mantida e, mais frequentemente,
à hipotermia.
Também é comum a labilidade
hemodinâmica. Numa fase inicial, há a
tempestade autonômica, com liberação
maciça de neurotransmissores e hormônios,
que podem levar a hipertensão e taquicardia.
Na sequência, pode haver hipotensão
arterial com necessidade de drogas
vasoativas.
A depleção do hormônio antidiurético (ADH
ou vasopressina) induz distúrbios do sódio,
como a diabetes insipidus. Há risco de
hipernatremia e depleção do espaço
extracelular. Pode haver também perda dos
níveis adequados dos hormônios da tireóide
e do cortisol.
PROTOCOLOS EM MORTE ENCEFÁLICA:
CRITERIOS NECESSÁRIOS PARA A ABERTURA:
O início de um protocolo para comprovação
de morte encefálica deve ser bem
embasado, e, para tanto, é necessário
comprovar que o paciente preencha alguns
critérios. Primeiro, é essencial que o paciente
esteja em Glasgow 3, sem movimentos
respiratórios voluntários e sem fatores
confundidores para o coma, como uso de
sedação e bloqueadores neuromusculares,
hipotermia ou distúrbios metabólicos graves,
hipóxia ou hipotensão. Todo paciente em
suspeita de morte encefálica também deve
ter comprovação de uma lesão estrutural
encefálica de gravidade suficiente por meio
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
de exames de imagem (tomografia ou
ressonância magnética) de forma a justificar
o exame neurológico encontrado.

Para a hemodinâmica, o ideal é iniciar o

protocolo com o paciente sob doses estáveis
de vasoativos e com exames de perfusão
compensados, não sendo o choque uma
indicação para abertura desse processo. EXAMES REALIZADOS:
Quanto aos níveis pressóricos, é necessário
avaliar se a pressão arterial média encontra- O protocolo de morte encefálica contempla a
se maior ou igual a 65 mmHg. realização de dois exames clínicos, um teste
de apneia e um exame complementar
A temperatura deve estar acima de 35˚C, comprobatório.
com retardo no início do protocolo até a
adequada correção da hipotermia. Todas as
drogas sedativas, hipnóticas, bloqueadoras
de impulsos neuromusculares e anestésicas
devem ser suspendidas, levando em
consideração o tempo de meia-vida para
degradação do princípio ativo e a forma de
excreção de cada fármaco.

As avaliações clínicas devem ser executadas

por dois médicos diferentes, sem vínculo
com possíveis equipes de transplante, e
capacitados para determinar a morte
encefálica. Enquadra-se como capacitado o
profissional que apresenta um ano de
experiência no atendimento de pacientes
comatosos e tenha participado de 10
protocolos de morte encefálica, ou aquele
que, mantido o mesmo tempo de atuação,
tenha realizado um curso reconhecido de
capacitação no tema.
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Um dos exames deve ser feito,
preferencialmente, por um neurologista,
intensivista ou médico especialista em
Medicina de Urgência, porém, na
indisponibilidade desses indivíduos, dois
outros profissionais qualificados podem dar
continuidade ao protocolo. Essa avaliação
deve confirmar que o paciente está em coma
aperceptivo (ausência de resposta motora
após compressão do leito ungueal), sem
reflexos de tronco e com ausência de
incursões respiratórias aparentes.
A descrição completa desse procedimento
deve ser preenchida no termo de
determinação de morte encefálica e no
prontuário. Em caso de lesões unilaterais
que impeçam a verificação de algum reflexo,
essa avaliação pode ser feita
contralateralmente, porém, caso esse
comprometimento seja bilateral, o protocolo
é interrompido. Reflexos osteotendinosos,
cutâneo plantar em flexão extensão,
cremastérico, ereção peniana, arrepios, sinal
de Lazarus e opistótono podem ocorrer, mas
não indicam descarte do dagnóstico de
morte encefálica.
Esses processos de avaliação devem ser
realizados com o menor intervalo de tempo
possível entre eles, de forma a evitar o
desgaste excessivo dos órgãos. Para
indivíduos acima dos 2 anos de idade, o
período mínimo de espera é de 1 hora.
O teste de apneia realiza o estímulo do
centro respiratório por meio da hipercapnia
induzida, tendo como objetivo avaliar a
integridade da região pontobulbar. Essa
etapa requer que o paciente seja
adequadamente monitorizado e assistido, de
forma a preservar sua segurança durante o
teste. Idealmente, o indivíduo a ser
submetido a esse procedimento deve estar
hemodinamicamente compensado, com
pressão arterial sistêmica igual ou superior a
100 mmHg e pressão arterial média igual ou
maior que 65 mmHg, sem arritmias, sem
hipóxia (SatO2 >94%), com temperatura
normal (T >35 C°) e controle metabólico
adequado.
O teste será considerado positivo caso não
sejam detectados quaisquer movimentos
respiratórios e a gasometria final demonstre
pCO2 acima de 55 mmHg. Frente à presença
de movimentos respiratórios, o teste é
considerado negativo, e deve ser
interrompido automaticamente.
Caso o paciente apresente sinais de
instabilidade como hipotensão arterial,
hipóxia ou arritmias, a avaliação deve ser
interrompida, com reconexão do paciente ao
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
ventilador mecânico, tendo resultado
inconclusivo para morte encefálica. Essa
definição também se aplica para os testes
em que o tempo de apneia foi concluído, mas
a gasometria final não atingiu pCO2 maior
que 55 mmHg.
O exame complementar pode ser realizado
tanto após a abertura do protocolo como
depois da segunda avaliação clínica. A sua
proposta consiste em evidenciar, de forma
incontestável, a ausência de atividade ou de
perfusão encefálica. A escolha do método
utilizado dependerá da sua disponibilidade,
das vantagens e desvantagens de cada
exame e da condição clínica do paciente,
não havendo recomendações baseadas na
faixa etária:
 Eletroencefalograma: detecta a atividade
elétrica cerebral, sendo necessário um
exame com, no mínimo, 21 canais. Como
vantagem, pode ser feito na beira do leito
e tem como desvantagem a interferência
com os outros equipamentos eletrônicos;
 Doppler transcraniano: método não-
invasivo que avalia o fluxo sanguíneo
cerebral. É um exame portátil, feito ao
lado do leito do paciente, porém, pode
apresentar falsos negativos, com fluxo
cerebral mesmo em paciente
comprovadamente com morte encefálica,
em indivíduos submetidos à craniectomia
descompressiva ou válvula de derivação
ventricular, neonatos com fontanela
aberta e uso de balão intra-aórtico;
 Arteriografia cerebral: avalia o fluxo
sanguíneo após a injeção de contraste
nas artérias carótidas e vertebrais. Ainda
que bastante sensível e específico, esse
método necessidade de mobilização do
paciente até um centro cirúrgico e ainda
necessita da aplicação de substâncias
radioativas, que podem afetar a função
renal do paciente;
 Cintilografia cerebral: demonstra a
circulação sanguínea por meio da injeção
de radioisótopo tecnécio, apresentando,
portanto, as mesmas dificuldades do
método anterior;
Caso a realização de um primeiro exame não
indique resultados compatíveis com a morte
encefálica, é recomendado que seja feita sua
repetição após um prazo de 24 a 48 horas,
sem a inviabilização do protocolo e sem que
seja necessário realizar novamente algum
dos exames prévios. A fim de garantir a
segurança do processo, o mesmo tipo de
exame deve ser utilizado, com eventuais
trocas devendo ser acompanhadas pela
equipe de transplantes.
PROCEDIMENTOS IMPLEMENTADOS APÓS O
TÉRMINO DO PROTOCOLO:
Após a realização de todas as etapas do
protocolo, é feito o diagnóstico da morte
encefálica, momento a partir do qual o
paciente é legalmente declarado morto e o
termo de declaração de morte encefálica é
preenchido e encaminhado para o centro
estadual de regulamentação de transplantes.
Caso a doença de base do paciente seja
decorrente de morte violenta, os documentos
para encaminhamento do corpo para o IML
devem ser providenciados, mas, se a morte
decorrer de causas naturais, é preenchida a
declaração de óbito de forma direta. No
horário do óbito deve constar o momento da
conclusão da última etapa do protocolo.
Com a consolidação diagnóstica concluída,
esse parecer deve ser informado e explicado
adequadamente para a família por parte da
equipe médica, sanando todas as eventuais
dúvidas sobre o tema. Caso o paciente seja
um potencial doador de órgãos, uma nova
equipe formada por membros da Comissão
Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e
Tecidos para Transplantes, deverá
entrevistar a família quanto à possibilidade
de doação. Com a aprovação familiar, o
suporte será mantido ao doador até o
momento da coleta, porém, caos se recusem
 Júlia Figueirêdo – PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
ou o indivíduo não seja candidato à doação
de órgãos, os instrumentos de manutenção
da vida devem ser desligados, conforme
previsto na Resolução do Conselho Federal
de Medicina n.1826 de 24 de outubro de
2007 e no parágrafo único do Art. 19 do
Decreto 9175/2017.
IMPACTOS FAMILIARES E PSICOLÓGICOS NA
ACEITAÇÃO DO FIM DA VIDA:
A situação de doença crítica, principalmente
quando implica em internamento na UTI,
revela-se como um evento estressor de
relevância para a família, tanto física quanto
emocionalmente. Esse estado deixa
transparecer a vulnerabilidade do doente,
que é compartilhada por seus
acompanhantes, de forma que o tema da
moléstia é afastado o máximo possível.
Sabendo-se que o momento de admissão ao
contexto de internamento é uma etapa de
grandes crises, é crucial que a equipe de
saúde, com destaque para a enfermagem, se
mostre ativa fornecendo suporte aos
familiares do paciente, de forma a consolidar
laços que permitam maior confiança deste
com as terapêuticas implementadas.
Nota-se que, com o recebimento da notícia
de iminência da morte de um familiar, assim
como no processo efetivo de enfrentamento
do óbito, o luto se faz presente. O
reconhecimento desse processo e de suas
características é fundamental para fornecer
o suporte adequado àquele indivíduo,
permitindo que ele se adapte às mudanças
decorrentes da perda. Assim, as cinco fases
do luto são:
 Negação;
 Raiva;
 Barganha;
 Depressão;
 Aceitação.
O PROLONGAMENTO DA MORTE E O “BOM
MORRER”:
A eutanásia corresponde ao processo de
“boa morte” ou morte adequada. Existem
pelo menos quatro tipos de eutanásia,
divididos em duas categorias: a voluntária e
a involuntária, e a passiva e a ativa. Na
eutanásia ativa, também conhecida como
positiva ou direta, o paciente recebe uma
injeção ou uma dose letal de medicamentos.
Na passiva, ou negativa/indireta, o evento
desencadeador da morte é a omissão
acordada, na qual não é fornecido ao
indivíduo alguma forma de suporte
necessária para sua sobrevivência. O
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enquadramento como voluntária ou não No entanto, ressalta-se que esse profissional
depende da participação do paciente no também deve explicar as implicações dessa
processo: na primeira, ele é parte da conduta e também elucidar os demais meios
decisão, enquanto que na segunda forma, a alternativos para manejo do quadro. Graças
ação é praticada sem o seu consentimento a esse instrumento, consegue-se preservar a
expresso. autonomia individual e a dignidade do
paciente, que receberá os cuidados
Outra classificação permite segmentar a necessários ao alívio de seu sofrimento. É
eutanásia em libertadora, abreviando a dor dada, inclusive, a opção de solicitar alta do
de um doente incurável, piedosa, aplicada a hospital, podendo morrer de maneira mais
pacientes terminais inconscientes, e humana e digna, ao lado da sua família.
eugênica, tipo realizado pelos nazistas para
eliminar indivíduos com distúrbios Nesse contexto, os testamentos vitais se
psiquiátricos e sociais.de forma a “purificar a inserem como instrumentos éticos e legais
raça ariana”. onde se registram as vontades antecipadas
de um indivíduo frente à incerteza de
No contexto da morte e da participação capacidade futura, indicando de maneira
médica nesse processo, dois conceitos ainda positiva ou negativa a utilização de métodos
devem ser destacados: exaustivos para o prolongamento da vida.
 Distanásia: representa a morte lenta, com Esse documento pode ser expresso de
muito sofrimento. Com o tempo, essa múltiplas formas, mas idealmente, isso deve
nomenclatura também passou a ser ocorrer por meio de um documento escrito de
sinônimo para um tratamento fútil e inútil. próprio punho pelo paciente, e registrado em
Os processos realizados têm o objetivo cartório, consolidando assim suas vontades
não de prolongar a vida, mas sim de invioláveis.
controlar e prolongar a morte por meio da
obstinação terapêutica;
 Ortotanásia: esse termo tem sentido de
morte ao seu tempo, sem que sejam
realizados tratamentos desproporcionais
e com baixa efetividade para melhorar o
estado de saúde do paciente. Essa
representa uma forma de preservar a
dignidade da vida frente ao processo de
morte, permitindo que o curso natural de
eventos se desenvolva.
A aprovação e publicação da resolução CFM
nº 1.805 de 2006 coloca como base o
respeito pela vontade do paciente e o
consentimento livre e esclarecido
estabelece, em seu Art. 1º, que o médico
pode limitar ou suspender procedimentos e
tratamentos que prolonguem a vida do
doente em fase terminal, de enfermidade
grave e incurável, respeitando a vontade do
próprio paciente ou de seu responsável legal.