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Problemas Neuro-metabólicos: Autismo e Candidíase

Book · January 1999

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2 authors, including:

Daniel Jean Roger Nordemann


National Institute for Space Research, Brazil
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Sumário

Parte 1 – Introdução (1)


Corpo e mente juntos (2)
A Conexão entre a levedura candida e o autismo (6)

Parte 2 - Neuropatias, infecções e distúrbios metabólicos (9)


Efeitos alucinógenos na percepção do autista (10)
Efeitos alucinógenos na percepção do autista. Parte 2: Possíveis
causas e conseqüências (20)
Autismo e infecção do ouvido (24)
Respostas imunológicas defeituosas em pacientes com
candidíase recorrente (30)
Candida albicans e o sistema imunológico (32)
Labirintite ou epilepsia? Não! Infecção intestinal: Sim! (33)

Parte 3 - Neuropatias infecciosas e dietas (37)


Antibióticos, candida albicans, Sensibilidades a alimentos
e autismo (38)
Dextrose e candidíase (48)
Uma intervenção experimental para o autismo: entender e
implementar uma dieta sem glúten e sem caseína (50)
Dieta recomendada - controle de candida albicans (sapinho) (64)

Parte 4 - Consciência, memória, dependências: fatores químicos (67)

Bibliografia recomendada (75)

Alimentos, elementos e substâncias envolvidas (76)

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6
Parte 1
Introdução

1
Corpo e mente juntos

A vida, essa manifestação tão surpreendente num universo de


radiações e matéria, só foi possível porque se encontraram condições
físicas e químicas favoráveis. Entre os principais fatores físicos,
podem ser citados a presença de matéria condensada, a possibilidade
de existência de corpos moles, a faixa de temperatura dos oceanos e
do ar na superfície da Terra, a presença moderada de campos
eletromagnéticos e de partículas, pressões convenientes etc. Entre os
principais fatores químicos, podem ser citados a presença de
oxigênio, de hidrogênio, de carbono e de vários outros elementos.
Ao longo do tempo, a evolução soube, progressiva ou
repentinamente, levar em conta as modificações das condições
ambientais. Portanto, há de se observar que os parâmetros físicos e
as concentrações de elementos ou compostos dentro dos organismos
vivos e no seu meio ambiente ficam dentro de faixas de valores
favoráveis à vida. Muitos elementos ou compostos são necessários à
vida. Sem eles, a vida é ameaçada ou pára. Com concentrações
elevadas demais, eles podem prejudicar a vida e tornarem-se
venenos.
Os animais e em particular os humanos vivem e convivem entre
si no meio ambiente num equilíbrio feito de muitas relações de
interdependência. Essas relações seguem padrões bastante
conhecidos, porém ainda sendo estudados: padrões de alimentação,
de reprodução, de relacionamento social etc.
As condições ou padrões próprios da vida são objetos descritos e
estudados na biologia. O bom funcionamento do corpo humano e os
meios de voltar ao bom funcionamento são assuntos da medicina. A
mente humana e o comportamento social e individual são objetos de
estudos na filosofia e na psicologia. Os problemas ou anomalias do
comportamento são objetos de estudo da psiquiatria. Apesar de
muitos progressos (Kovács, 1997; Schützer Del Nero, 1997), o
mecanismos de relacionamento entre a mente e o corpo não são
ainda inteiramente esclarecidos.

2
As doenças psicossomáticas são conhecidas; elas são as
doenças causadas ou influenciadas por estados da mente. Todo
mundo sabe que uma pessoa triste, desesperada, é um alvo fácil para
muitas doenças que nem é preciso citar aqui. O aspecto inverso
corresponde às alterações da mente ou da saúde mental causadas
por perturbações do funcionamento biológico, físico e químico de
partes do corpo. Este aspecto é menos conhecido e, talvez, em parte
esquecido como fator etiológico de muitas doenças mentais ou
perturbações do estado psicológico das pessoas.
A finalidade deste livro é mostrar, através de exemplos e de
raciocínios simples, as fortes influências negativas que anormalidades
do funcionamento de partes do corpo, em particular as que são
causadas por diversas infecções, podem ter sobre o equilíbrio
psicológico e até sobre a saúde mental.
Os seres vivos são constituídos de células biológicas cujo
funcionamento sintonizado envolve a emissão e recepção de sinais de
vários tipos: físicos, químicos, elétricos. Por exemplo, os sinais
elétricos do coração e do cérebro são conhecidos e analisados
através dos eletrocardiogramas (ECG) e eletroencefalogramas (EEG),
respectivamente. Nas células do sistema nervoso predominam os
sinais elétricos e os sinais químicos. De maneira simplificada, pode-
se dizer que os sinais elétricos são mais utilizados para as
transmissões ponto a ponto como, por exemplo, a transmissão de um
estímulo, de uma região do cérebro para a mão para movimentá-la.
Do outro lado, os sinais químicos, como por exemplo, os
representados pelos hormônios e pelas endorfinas, têm um alcance
maior, pelo envolvimento simultâneo de grupos de células ou de
órgãos.
Muitas disfunções e/ou problemas neurológicos/mentais envolvem
alterações no relacionamento entre sinais químicos e sinais elétricos.
Existe uma forte possibilidade de que grande parte dessas alterações
envolva processos metabólicos (processos ligados ao funcionamento
"material" como alimentação das células, eliminação dos resíduos
etc.). Em outros termos, um metabolismo inadequado pode gerar
problemas neurológicos/mentais, o que já é reconhecido em certos
casos, mas o alcance desta observação pode ser maior do que se
acredita de maneira comum até o presente momento. Essa opinião é,
de uma certa maneira, a contrapartida da teoria das doenças
psicossomáticas na qual se considera que doenças podem ser
causadas por estados psíquicos perturbados. Mas uma teoria não
contradiz a outra, e pode até haver uma certa complementaridade.

3
Além disso, um reconhecimento maior das perturbações do
metabolismo, como possíveis causas de distúrbios
neurológicos/mentais, não descarta certas causas clássicas desses
distúrbios, como anomalias genéticas, atrofia cerebral e processos
degenerativos, observando que neste último caso, há necessidade de
se perguntar se os processos degenerativos não têm causas
metabólicas ou catabólicas (processos envolvendo os resíduos da
alimentação/assimilação).
Por sua vez, estas causas metabólicas ou catabólicas podem ser
causadas por infecções viróticas ou bacteriológicas (incluindo as
infecções causadas por leveduras).
Por que associar perturbações da mente, infecções e
dependências químicas? O relacionamento entre esses assuntos não
pode ser negado: muitas doenças mentais apresentam um quadro
simultâneo de dependência química, seja de remédios, de drogas
num sentido amplo ou de bebida alcoólica. Porém, nossa abordagem
é um pouco diferente: alguns distúrbios mentais, e o caso do autismo
infantil talvez represente o melhor exemplo, podem ser caracterizados
por um estado que parece ser o de uma pessoa sob efeito de agentes
entorpecentes. Neste caso, os agentes entorpecentes podem ser
produzidos dentro do próprio organismo da pessoa. É então fácil de
se perguntar se muitas entre as pessoas adictas a entorpecentes não
tiveram durante a infância, infecções ou perturbações do metabolismo
que as predispõem ao consumo e à dependência de entorpecentes.
Por essas razões, pensou-se dar a este livro um título onde
apareceriam as palavras Neurometabolismo ou Neurologia
metabólica. Porém, este livro não é e não pretende ser um tratado de
medicina: é um livro para o público em geral, entre o qual têm
pessoas com os problemas que abordamos e familiares dessas
pessoas assim como profissionais concernidos. Achamos importante
que a sociedade e as pessoas envolvidas tivessem um certo acesso
ao conhecimento atual sobre as associações entre certas
neuropatologias e infecções, problemas do metabolismo e sobre
possíveis fatores envolvidos nas dependências de drogas e
relacionados com nosso assunto.
As pessoas podem tirar algum benefício imediato da leitura de
partes deste livro, e indiretamente, a médio e longo prazo, pelos
possíveis resultados de pesquisas expandidas e/ou desenvolvidas na
procura das respostas às perguntas ou as dúvidas levantadas sobre
esses assuntos. Os médicos e profissionais de saúde podem ler neste
livro textos sobre observações e fatos que eles poderão relacionar

4
com seus próprios casos clínicos e ansiar por mais conhecimento e
mais pesquisa a respeito. Este livro não pretende apresentar
resultados firmes e definitivos, mas sua finalidade ficará alcançada
se, graças à conscientização da sociedade e dos profissionais de
saúde, mais pesquisa pudesse ser realizada no intuito de providenciar
uma vida melhor para milhões de pessoas já nascidas ou que
nascerão, assim como diminuir drasticamente os custos impostos à
sociedade por estas neuropatologias e dependências químicas.
A maior parte dos assuntos mencionados nesta introdução é
abordada ao longo dos capítulos deste livro. Pode ser que a
abordagem do assunto e/ou a dificuldade de leitura não sejam os
mesmos para todos os capítulos, mas não há necessidade de se ler o
livro na ordem, o leitor pode ir diretamente aos assuntos que mais lhe
interessam, e ele pode voltar mais tarde a um capitulo anterior, para
esclarecimentos ou curiosidade sobre assuntos afins.

5
A conexão entre a
levedura candida e o
autismo
por Stephen M. Edelson, Ph.D.
Center for the Study of Autism, Salem, Oregon

Existem muitos resultados segundo os quais uma espécie de


levedura, a candida (que rima com Canadá) albicans, pode causar o
autismo e exacerbar muitos problemas de comportamento e de saúde
nos autistas, especialmente nos com aparecimento tardio do autismo.
Cenário. A Candida albicans pertence à família das leveduras e é
um fungo monocelular. Esta espécie de levedura é localizada em
muitas partes do corpo incluindo o trato digestivo. De uma maneira
geral, os micróbios benignos limitam a quantidade de leveduras no
trato intestinal, e então, mantém as leveduras sob controle.
Entretanto, a exposição aos antibióticos, especialmente a exposição
repetida, pode destruir esses micróbios.
Disso pode resultar um crescimento excessivo de Candida
albicans. Quando a levedura se multiplica, ela libera toxinas no corpo,
e essas toxinas são conhecidas por incapacitar o sistema nervoso
central e o sistema imunológico.
Alguns dos problemas do comportamento que foram associados
ao crescimento excessivo da Candida albicans compreendem:
confusão, hiperatividade, diminuição de atenção, letargia, irritabilidade
e agressão.
Os problemas podem incluir: dor de cabeça, dor de estômago,
constipação, gases intestinais, fadiga e depressão. Esses problemas
são freqüentemente piores durante dias úmidos e abafados e em

6
lugares com mofo. Além disso, a exposição a perfumes e inseticidas
pode fazer piorar a condição.
O Dr. William Shaw dirigiu pesquisas importantes sobre leveduras
e seus efeitos em autistas. Ele descobriu recentemente metabolitos de
micróbios na urina de criança autista que responderam muito bem
aos tratamentos antifúngicos. O Dr. Shaw e seus colegas observaram
uma diminuição dos ácidos orgânicos na urina assim como uma
diminuição da hiperatividade e do comportamento auto-estimulado e
estereotipado; e um aumento no contato visual, a vocalização e a
concentração.
Existem muitos métodos seguros de tratar o crescimento
excessivo da levedura, como tomar suplementos nutricionais que
recolocam no trato intestinal os “bons” micróbios (por exemplo, o
acidophilus) e/ou tomar remédios antifúngicos (por exemplo, Nistatina,
Ketoconosal, Diflucan). É recomendado também que a pessoa seja
colocada numa dieta especial, pobre em açúcar e outros alimentos
com os quais as leveduras se desenvolvem. É interessante notar que
se a Candida albicans causa problemas de saúde e de
comportamento, uma pessoa ficará freqüentemente incomodada
durante alguns dias depois de um tratamento para matar o excesso de
levedura. A levedura é destruída e os resíduos circulam pelo corpo até
serem excretadas. Então uma pessoa que mostra um comportamento
negativo logo após receber um tratamento para a Candida albicans (a
reação de Herxheimer) mostrará provavelmente uma boa
recuperação.
Por favor, observar: O tratamento para a Candida albicans
raramente leva à cura do autismo. Entretanto, se uma pessoa sofre
deste problema, sua saúde e seu comportamento podem melhorar
após a aplicação desta terapia.
Para aprender mais sobre a levedura e a candida albicans, visite a
páginas do Autism Research Institute na Rede Internet/www. A lista de
publicações do Instituto contém uma grande quantidade de
informações e de livros sobre este assunto. Além disso, William G.
Crook, M.D. escreveu alguns excelentes livros sobre a levedura,
incluindo o clássico The Yeast Connection (1986), The Yeast
Connection and the Woman (1995), e mais recentemente, The Yeast
Connection Handbook (1996).
O Dr. William Shaw fornece também testes de ácidos orgânicos
assim como testes adicionais. Ele pode ser contatado em: The Great
Plains Laboratory for Health, Nutrition, and Metabolism, 9335 West

7
75th Street, Overland Park, KS 66204, U.S.A; telephone: 001(913)
341-8949; and fax: 001(913) 341-6207.

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Parte 2
Neuropatias,
infecções e
distúrbios metabólicos

9
Efeitos alucinógenos
na percepção do autista
por Daniel J. R. Nordemann e João A. Caracas

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE,


CP 515, 12201-970 São José dos Campos - SP
Fax: (012)345 6810
E-mail: nordeman@dge.inpe.br

Trabalho apresentado na I Jornada Paulista sobre Distúrbios do Desenvolvimento;


III Encontro de Amigos do Autista. São Bernardo do Campo, SP, Out. 1996.

RESUMO

Muitos sintomas do autista, como problemas sensoriais, podem


ser associados a distorções perceptivas, que envolvem fenômenos
físicos e biofísicos relativamente simples. A visão e a audição são, no
autista, os sentidos mais afetados. A repulsão à luz emitida por
lâmpadas fluorescentes pode ser associada a uma alteração da
persistência da retina. As reações violentas a certos sons altos e uma
melhor receptividade a sons baixos podem ser explicados por uma
função de transferência entre o ouvido e o cérebro, não igual à da
maior parte das pessoas não autistas.

O comportamento de certos autistas pode ser interpretado em


função destas distorções perceptivas que podem ser causadas por
efeitos alucinógenos de substâncias produzidas, por exemplo, por
leveduras como Candida albicans que é freqüentemente achada no
trato intestinal de autistas. A confirmação dessas observações pode
levar a um progresso notável no diagnóstico, nas intervenções e/ou
nos tratamentos no campo do autismo e possivelmente de outras
psicopatologias.

10
EFEITOS ALUCINÓGENOS

Temple Grandin (1996) observou que "… as lâmpadas


fluorescentes aborrecem certos autistas. Eles podem perceber as
oscilações das ondas elétricas a 60 ciclos por segundo. Para evitar
este problema, coloque a mesa da criança perto de uma janela e não
utilize lâmpadas fluorescentes…". Nós devemos lembrar aqui algumas
propriedades físicas da luz emitida por diferentes fontes: a luz solar é
contínua; a luz de uma lâmpada incandescente é também
praticamente contínua porque ela é gerada por um processo térmico
que envolve a inércia térmica do filamento que fica com temperatura
alta apesar das oscilações da corrente elétrica; a luz de uma lâmpada
fluorescente é modulada porque ela é emitida por um processo de
ionização que segue as variações da tensão elétrica com uma
resposta muito mais rápida do que o filamento de uma lâmpada
incandescente. Por esta razão, a luz de uma lâmpada fluorescente
oscila com breves intervalos escuros entre os momentos de
iluminação a cada 1/120 de segundo por causa de uma espécie de
retificação das oscilações a 60 ciclos por segundo. Os objetos
embaixo de uma lâmpada fluorescente (sem fonte adicional de luz
"contínua") não são iluminados de maneira contínua, mas a maior
parte das pessoas não percebe este efeito de "flicker" por causa da
persistência da retina, exatamente como o movimento nas telas de
cinema e televisão parece ser contínuo apesar de ser representado
por seqüências de imagens, isto é, por processos descontínuos ou
periódicos que não são percebidos em geral.
É possível (provável?) que os autistas tenham uma perturbação
de sua persistência da retina que os faz perceberem o efeito de
"flicker" das lâmpadas fluorescentes, das telas de cinema e da
televisão. A simples observação da aversão de autistas para as
lâmpadas fluorescentes, o cinema e a televisão parece confirmar esta
hipótese.
O que um autista vê e o que ele percebe do movimento com
iluminação alternada (com lâmpadas fluorescentes) ou imagens
seqüenciadas (cinema e televisão)?
Antes de tentar responder a essas perguntas, nós devemos
observar que a alteração da persistência da retina no autista está no
sentido de uma resposta mais rápida às oscilações ou às sucessões
de imagens diferentes. Geralmente, uma resposta mais rápida é
melhor do que uma mais lenta, mas não é o caso aqui, provavelmente
porque o cérebro não é capaz de adquirir ou de processar

11
informações de entrada mais rápidas do que as habituais. Como
primeira tentativa para responder à pergunta acima, é fácil imaginar
que um autista deve perceber o efeito de "flicker" exatamente como as
pessoas não autistas percebem este efeito em ambientes iluminados
com as chamadas luzes "psicodélicas" (luzes moduladas a intervalos
mais lentos de maneira a permitir que as pessoas percebam mesmo a
iluminação alternada) em danceterias, por exemplo. No caso das
cenas com movimento na tela do cinema, os autistas podem perceber
uma sucessão saltitante de imagens fixas, como acontecia com o
cinema nos seus primórdios, quando se utilizava muito menos
imagens por segundo do que hoje em dia. No caso da tela de um
televisor, pode haver a percepção do ponto luminoso que varre a tela
para reconstituir as imagens.
A perturbação da persistência da retina altera provavelmente
também a percepção dos movimentos: movimento de um objeto
sobre fundos diferentes, movimento dos olhos, da cabeça ou do
corpo… É mais difícil imaginar o que um autista percebe neste caso,
mas o movimento não deve ser percebido como as pessoas não
autistas percebem. Um fundo fixo observado com movimento dos
olhos pode parecer estar em movimento e isto pode causar um
grande desconforto, como no caso de tonturas. Isto pode ser também
causa de discordância entre as percepções do mesmo objeto por dois
sentidos diferentes: por exemplo, após o movimento de um objeto
e/ou da mão que "almeja" pegá-lo, o objeto pode não parecer estar,
para o tacto, no lugar onde a visão informa que ele está. Isto combina
com a dificuldade ou a lentidão observada nos autistas ao pegar
pequenos objetos (Meirelles, 1989).
Os autistas não são bons nos jogos de bola: é muito mais difícil
para eles, pegar uma bola que chega ao alcance por um movimento
rápido. Os objetos fixos são muito mais fáceis de tocar ou de pegar.
As pessoas imóveis merecem muito mais atenção e até carinho por
parte de autistas do que pessoas em movimento ou gesticulando. As
dificuldades que os autistas enfrentam quando eles andam ou utilizam
escadas podem ser associadas ao fato de eles verem o chão ou os
degraus como objetos em movimento relativo, e isso os força a
progredir sem inteira confiança de onde eles colocarão os pés. Essas
observações podem explicar também por que os autistas gostam
tanto da imobilidade dos objetos e das pessoas e são tão adversos ao
movimento dos objetos e a qualquer movimento.

12
Esses fatos podem ser interpretados como se o autista, através
da preferência quase ritualística para o imobilismo e os movimentos
lentos, procurasse a confiança no mundo material que lhe é recusada
pela discrepância entre as percepções dadas por diferentes sentidos.
A respeito da audição e da comunicação oral, foi observado
também que os autistas não respondem convenientemente a sons
que as demais pessoas consideram como normais: um som forte
provoca medo e reclamações, enquanto que palavras sussurradas
podem ser recebidas e entendidas. Pode-se pensar num modelo
muito simples de transmissão, com amplificador/atenuador/filtro, entre
o órgão receptor do ouvido e o cérebro. Esta transmissão apresenta
provavelmente uma função de resposta ou transferência (saída versus
entrada) semelhante à clássica função logística (Haykin, 1994) (Fig.
1). Alguns limiares podem ser indicados como níveis de resposta para
os quais um efeito é produzido: percepção normal, resposta
desagradável ou dor. Tais funções e limiares dependem do espectro
do som; eles são diferentes entre as pessoas e variam com a idade,
mas é possível considerar que para as pessoas não autistas, sem
problema de audição, as funções individuais são semelhantes
qualitativa e quantitativamente. No caso dos autistas, é possível
pensar que a função é bastante diferente da curva média das pessoas
não autistas e que a curva correspondente é distorcida para valores
mais elevados, o que os provê de uma maior sensibilidade para sons
fracos e de sensação dolorosa para sons altos, porém não tão altos.
Uma outra hipótese é que as funções são quase iguais para
autistas e não autistas, mas que os limiares são bem menores no
caso dos autistas, o que evidentemente provoca os mesmos efeitos.
Uma sensibilidade igualmente elevada do tato pode ser uma das
causas da aversão dos autistas ao contato físico com outras pessoas,
porque eles percebem este contato com dor, ou pelo menos como
uma desagradável surpresa quando não há o aviso visual devido à
visão distorcida dos movimentos.
Na maior parte dos casos, parece que as distorções perceptivas
no autista podem provocar desconforto, surpresa, aversão, dor,
dificuldades do comportamento etc. quando apenas um dos sentidos
é envolvido e/ou pelas discrepâncias entre as percepções de sentidos
diferentes.

13
FIG. 1. GRÁFICO DE UMA FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA TÍPICA (FUNÇÃO LOGÍSTICA) PARA
CASOS NORMAL (NORMAL) E HIPERSENSÍVEL (HYPERSENSITIVE). OS LIMIARES PARA
DETECÇÃO (DETECTION) E DOR (PAIN) SÃO INDICADOS ESQUEMATICAMENTE POR LINHAS
HORIZONTAIS. AS ESCALAS DE ENTRADA (INPUT) E SAÍDA (OUTPUT) SÃO REPRESENTADAS COM
UNIDADES ARBITRÁRIAS. (AS CURVAS E OS LIMIARES SÃO INDICADOS APENAS COMO
ILUSTRAÇÃO QUALITATIVA E NÃO CORRESPONDEM A RESULTADOS EXPERIMENTAIS).

Como no caso da visão, onde dissemos que uma percepção mais


rápida é habitualmente melhor do que uma mais lenta, pode ser
observado que a audição dos autistas parece ter sensibilidade maior
do que a dos não autistas, o que pode também ser considerado como
uma qualidade. Mas, mais uma vez, pode ser observado que o
resultado prático de uma maior sensibilidade é desastroso, talvez
porque o cérebro não é capaz de processar sinais mais rápidos do
que os usuais que ele recebe (Haykin,1994).
Também, pode-se questionar se a qualidade maior nos processo
de percepção, quando ela é "dominada" pelo autista não seria a razão
pela qual os autistas "savants" são mais freqüentes entre os autistas
do que pessoas mais inteligentes entre as pessoas não autistas.
Um argumento a favor da hipótese das perturbações na
percepção dos autistas, contra a da alteração permanente das
funções centrais do cérebro, pode ser achada nas dificuldades de se
relacionar as manifestações do autismo e as perturbações nos
eletroencefalogramas (EEG) dos autistas (Schwartzman, 1995). A não
reprodutibilidade e a inconsistência dos resultados de EEG sucessivos
(Small, 1975) sugere possíveis efeitos ligados à alimentação e ao
tempo ocorrido desde a última ingestão de alimentos, o que pode

14
corroborar a hipótese da participação de substâncias geradas por
leveduras nos processos envolvidos. As observações mencionadas
acima e o papel desempenhado pelo cerebelo na aquisição sensorial
(Jia-Hong Gao et al., 1996) sugerem também que este órgão pode ser
envolvido nas distorções perceptivas. Mas a discussão deste tópico
não entra no escopo deste trabalho.

LEVEDURAS NO TRATO DIGESTIVO

Não é fácil relacionar as distorções na percepção sensorial


sofridas pelos autistas às causas intrínsecas do autismo. Se fosse, o
autismo teria sido, ou deveria ter sido, completamente diagnosticado
e, até, talvez, curado. Mas uma visão mais clara sobre as distorções
na percepção sensorial pode ajudar a sugerir mecanismos e/ou uma
conexão maior com as observações de outros problemas ou
patologias dos autistas.
As distorções na percepção sensorial são, pelo menos em parte,
semelhantes às alucinações. As manifestações experimentadas por
usuários de drogas, qualquer que seja a droga usada, incluem
distorções na percepção sensorial.
Alguns autores observaram, assim como nós, a maior presença
de leveduras, como Candida albicans, no trato intestinal de autistas.
Os efeitos alucinógenos de organismos como fungos, leveduras ou os
produtos das fermentações induzidas por leveduras, como por
exemplo o álcool produzido pelo Saccharomyces cerevisiae são mais
do que conhecidos. É então possível perguntar-se se a presença no
corpo de levedura, como Candida albicans (possivelmente em excesso
em relação ao habitual) não pode ser um dos fatores, talvez a causa,
do autismo, através das alucinações provocadas pela presença de
seus produtos na circulação sangüínea (Fig. 2). Pode ser observado
aqui que a ligação sugerida por nós é melhor qualificada pela palavra
"alucinógeno" (ligado a percepção fora da realidade) do que
"psicotrópico" (que age na mente).
Uma possível conexão, entre leveduras e/ou análogos no trato
digestivo e o autismo, pode residir na eficácia observada das dietas
sem glúten e sem caseína no comportamento de autistas: Lisa S.
Lewis (1994) cita além dos resultados positivos observados no seu
filho autista com esta dieta, vários outros trabalhos. Entre eles, o de
Reichelt (Correio eletrônico para Lewis) menciona a similaridade entre
os opióides das proteínas do glúten e da caseína:

15
" Gliadinomorfina (do glúten): Tyr-Pro-Gln-Pro-Gln-Pro-Phe
Casomorfina (da caseína bovina): Tyr-Pro-Phe-Pro-Gly-Pro-Ile"

Fig. 2. Alterações/distúrbios na percepção do autista: possíveis


conexões.

Vale observar que o glúten presente nas plantas da subclasse dos


Monocotyledonae (Exemplos: trigo, aveia, centeio, cevada) é
essencial para o processo de fermentação alcoólica dos açúcares pelo
Saccharomyces cerevisiae. Pode-se perguntar evidentemente, se o
glúten também é necessário para o desenvolvimento da Candida
albicans e qual seria o espectro de substâncias associadas ou
produzidas por ela, como os ergosteróis, ergotamina/ergotina que
produziriam os efeitos alucinógenos mencionados.
A dieta recomendada por Lewis (1994) tem de ser total na
supressão do glúten e da caseína, e cobrir longos intervalos de
tempo. Recomendar-se-ia a leitura cuidadosa do trabalho e
aconselhamento com acompanhamento médico antes de se iniciar
qualquer esforço neste sentido. Um fato previsto e observado pelos
autores após a supressão do leite e a ingestão de inibidor de
candidíase foi um aumento do comportamento violento do autista,

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possivelmente pela falta dos efeitos gerados pela Candida albicans, de
maneira análoga à abstinência ressentida pelos dependentes de
drogas durante a desintoxicação.
Mais pesquisas devem ser realizadas sobre este assunto e sobre
possíveis efeitos similares de outros organismos e/ou outras
substâncias. Algumas linhas de pesquisa devem ser intensificadas ou
abertas para confirmar e prevenir tais efeitos alucinógenos: apoio à
constituição da flora intestinal conveniente nas primeiras semanas de
vida (lembrando que as cólicas do recém nascido são associadas, em
parte pelo menos, à constituição da flora intestinal); eliminação dos
organismos parasitas, ou alimentação parenteral para prevenir a
formação de tais substâncias alucinógenas; neutralização ou
compensação dos efeitos destas substâncias.
As observações descritas neste trabalho evidentemente não
descartam a possibilidade do autismo ter outros mecanismos
envolvidos nas suas causas. Em particular, seria necessário verificar
quais seriam os possíveis fatores de transmissão de mãe para filho, in
utero, durante o parto ou depois, de organismos como as leveduras
citadas. Vale lembrar aqui, a título de exemplo, a possibilidade de
transmissão do vírus SIV (análogo do HIV da AIDS em macacos) por
via oral durante o parto pela ingestão de sangue da mãe pelo filhote
(Baba, 1996; Sternberg, 1996).

INTERVENÇÕES

Além do reconhecimento da conexão entre o autismo e as


distorções perceptivas, com ou sem envolvimento de substâncias
alucinógenas, pode-se pensar em muitos tipos de intervenções. Se o
envolvimento de substâncias alucinógenas for reconhecido, mesmo
que apenas em certos casos, deveria se proceder ou tentar sua
remoção, redução ou supressão de seus efeitos, principalmente para
o autismo diagnosticado em crianças muito jovens (para as quais
pode não se ter chegado ao estágio de "dependência"). Em todos os
casos, resultados positivos podem ser esperados das intervenções
que levam em conta as distorções perceptivas.
Um outro grupo de intervenções inclui intervenções psicológicas e
educacionais que já são amplamente praticadas (Grandin, 1996) e
que podem ser adaptadas ou melhoradas graças a um maior
conhecimento das diferenças de percepção entre os autistas e não
autistas. A recomendação de praticar o treinamento visual (Edelson,
1995 ; Kaplan, 1995) pode permitir ao autista de superar uma parte

17
das dificuldades associadas às distorções visuais. Podem ser
utilizados dispositivos para correção das distorções visuais,
semelhantes aos dispositivos de visão noturna ou capacetes para
realidade virtual, porém com resposta temporal adequada ao
problema da persistência da retina. Para a audição, podem ser
desenvolvidos e utilizados, ao lado do simples abafador de som já em
uso, outros dispositivos como amplificadores de surdez, porém com
resposta de amplificação/atenuação em função da freqüência,
adaptada a cada caso.

CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi sugerido que distorções sensoriais podem ser,


entre outros, fatores importantes envolvidos no autismo e que elas
devem ser investigadas através de observações, experimentação e
modelos utilizando recursos físicos, biofísicos, bioquímicos,
eletrônicos e computacionais disponíveis. As hipóteses sobre as
ligações entre autismo, alucinações, substâncias alucinógenas
produzidas dentro do organismo, assim como o aumento crescente de
conhecimento sobre os processos envolvidos podem resultar em:
1. Diagnóstico precoce, mais objetivo e preciso do autismo.
2. Terapias diversas para minimizar e até suprimir as distorções
perceptivas
3. Métodos de treinamento e educação que levam em conta
essas distorções
4. Uso de dispositivos específicos para treinamento e/ou uso
permanente, para corrigir ou compensar os efeitos das distorções
quando esses não podem ser suprimidos por terapias.
5. Nova visão sobre outras doenças ou perturbações mentais que
podem também ser influenciadas (provocadas?) por efeitos
alucinógenos e/ou substâncias geradas no corpo por organismos
parasitas.

18
Referências Bibliográficas

Baba, T.W., A.M. Trichel, Li An, V. Liska, L.N. Martin, M. Murphey-Corb, R.M.
Ruprecht. Infection and AIDS in Adult Macaques after Nontraumatic Oral
Exposure to Cell-Free SIV. Science, v.272, n.5267, p.1486-1489, June 7,
1996.
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Gao, J.-H., Parsons, L.M., Bower J. M., , Xiong, J., Li, J., Fox, P. T. - Cerebellum
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<http://www.autism.org/temple/tips.html>
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1994. <http://www.princeton.edu/~lisas/gfpak.html>
Meirelles, L. Crianças Autistas. São Paulo, Secretaria Estadual da Cultura, 1989.
(Vídeo)
Schwartzman, J.S. Neurobiologia do autismo infantil. In: Schwartzman, J.S.,
Assumpção Jr., F. B. e colaboradores. Autismo infantil. São Paulo: Memnon,
1995.
Small, J.G. EEG and neurophysiological studies of early infantile autism. Biol.
Psychiat., v.10, p.355-97, 1975. Apud Schwartzman, J.S. Neurobiologia do
autismo infantil. In: Schwartzman, J.S., Assumpção Jr., F. B. e colaboradores.
Autismo infantil. São Paulo: Memnon, 1995.
Sternberg, S. New Study May Redefine High-Risk Sex. Science News, v.149,
p.356-356, 1996.

19
Efeitos alucinógenos
na percepção do autista
Parte 2:
Possíveis causas e
conseqüências
Por Daniel J. R. Nordemann

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE,


CP 515, 12201-970 São José dos Campos - SP
Fax: (012)345 6810 - E-mail: nordeman@dge.inpe.br

RESUMO

Este texto escrito em 1997 complementa o anterior com algumas


reflexões sobre possíveis mecanismos envolvidos no autismo e outras
perturbações neurológicas. São reflexões feitas após a leitura do
excelente livro de Schwartzman (Schwartzman et al., 1995).

FATORES METABÓLICOS

No capítulo Neurobiologia do Autismo Infantil (em Schwartzman


et al., 1995, Capítulo 2, p. 19), Schwartzman cita, entre muitos outros,
os fatores metabólicos. Entre os fatores metabólicos, ele cita a
acidose láctica (p. 23), com manifestação de valores baixos do pH
sangüíneo. Este fator lembra, por sinal, a hiperamoníase com o efeito
inverso, mencionada no caso da síndrome de Rett. Em termos
simples, pode-se dizer, que não é de se estranhar que perturbações
nítidas nos valores do pH do sangue tenham efeitos neurológicos

20
quando se sabe que as conexões neurais, no cérebro e no sistema
nervoso, são feitas através de processos eletroquímicos.
No caso da síndrome de Down, a causa, descoberta pelo médico
e pesquisador francês Jérôme Lejeune, é associada à trissomia 21
que é a presença de um cromossomo 21 a mais. Trata-se de um fator
genética. Porém é possível que suas manifestações principais,
hipotonia muscular e comprometimento intelectual, com vários níveis
entre as pessoas com a síndrome de Down, estejam envolvendo
mecanismos de perturbações metabólicas.

FATORES PSICOLÓGICOS

No capítulo Teorias cognitivas e afetivas (em Schwartzman et al.,


1995, Capítulo 3, p. 91), Araújo menciona a "perda da primordial
diferenciação entre a matéria viva e a não viva". Se uma condição
alucinatória faz com que a criança autista tenha uma visão não
estabilizada do mundo exterior (as imagens percebidas por ela não
permitem, como no caso de tonturas, que o meio externo apareça
como fixo), então o critério primordial de identificação do que é vivo
(os pais, os familiares, os animais…) do que não é vivo (por sinal
chamado também de inanimado*) não existe.
Daí o comportamento não esperado dos autistas, como desprezo
até percepção omissa dos familiares, e, às vezes, em compensação,
amor exagerado a objetos. Numa visão distorcida do mundo em total
e permanente movimento, a referência preferida não é, para a criança
autista, uma mãe carinhosa em movimento permanente e talvez
exagerado (aparentemente gesticulando) na sua visão, porém prestes
a atender seus desejos, mas o objeto do qual o autista percebe
(talvez) menos movimento. Essa observação até leva a pensar no
desagrado provocado no autista pelo deslocamento de objetos que
são do seu interesse, como se o autista tivesse medo de perdê-los
(perdendo assim um ponto de referência) e perseguisse uma maior
tranqüilidade através do menor movimento do objetos percebido na
sua visão alucinada.

* Essas considerações lembram dois versos do poeta francês Lamartine:


"Objets inanimés, avez-vous donc une âme
Qui s'attache à notre âme et la force d'aimer?..."
(Objetos inanimados, têm vocês uma alma
Que se liga a nossa alma e a força a amar?...)
[Lamartine. Milly ou la terre natale. In: G. Pompidou. Anthologie de la poésie
française. Paris, Hachette, 1961, p.260.]

21
FATORES CEREBRAIS

Diante das idéias expostas acima, há de se perguntar o que


poderia se esperar de intervenções nos fatores metabólicos alterados
(através de remédios ou de dietas adequadas) e nos fatores
psicológicos (através, por exemplo, de treinamento progressivo). O
assunto é complexo e nós leva apenas a respostas parciais.
Pode se dizer, de uma maneira simplificada, que o neném quando
nasce é uma versão de tamanho menor e incompleta do ser humano
adulto. Para se tornar adulto, ele terá que crescer e desenvolver as
funções que ele não possui ao momento de nascer: aptidão a
absorver e digerir alimentos sólidos, capacidade de ter uma vida
social e independente dos pais, capacidade de reprodução etc. Na
capacidade de ter uma vida social, entram os fatores de
aprendizagem do uso dos sentidos, dos órgãos motores e do uso de
sua inteligência. Descobertas neurológicas relativamente recentes
mostraram que essa aprendizagem não é apenas a memorização
inconsciente e, mais tarde, parcialmente consciente de receitas,
regras, processos etc. Essa aprendizagem inclui também o próprio
desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida. Esse
desenvolvimento se faz em quantidade, pelo aumento do número de
neurônios e de suas conexões, o que se constata pelo aumento do
tamanho do cérebro e da massa encefálica. Mas ele se faz também
pela adaptação das ligações em regiões privilegiadas do cérebro a
suas atividades presentes e futuras para realizar uma ou um conjunto
de funções. Isto quer dizer que o cérebro não é apenas um órgão
constituído de um tecido nervoso (onde dominam as células
chamadas neurônios) receptador das informações oriundas do meio
ambiente através dos sentidos como órgãos receptores, mas que ele
comporta uma organização ou estrutura que depende mesmo das
informações adquiridas durante os primeiros anos de vida.
Uma comparação com a memória de um microcomputador talvez
nos ajude a perceber esta particularidade do cérebro: a memória de
um microcomputador (disquete, disco rígido, fita magnética) pode
receber qualquer informação (textos, bancos de dados, programas
etc.); o cérebro, no seu desenvolvimento, adapta-se em sua estrutura
a certas funções que ele terá de cumprir. Fazer o mesmo com uma
memória de microcomputador, seria como adaptá-la à natureza da
informação recebida mexendo nos seus fios elétricos e componentes
eletrônicos. Após ter crescido, o cérebro perde em grande parte sua
faculdade de adaptação na sua estrutura e na sua organização.

22
Existe a possibilidade de os mecanismos de aprendizagem do uso
dos sentidos (por exemplo, visão "fixa" do ambiente e dos objetos
imóveis, audição e interpretação dos sons, correlação das
informações oriundas do tato com as da visão etc.) nos primeiros
anos de vida serem "gravados" nas estruturas cerebrais e não serem
apenas "memorizados". Isto pode fazer com que mesmo a supressão,
pelo uso de remédios ou dietas adequadas, dos efeitos alucinógenos
mencionados não consegue remediar às conseqüências adquiridas
durante o estado alucinado, entre as quais o comportamento autístico
típico. Este fator de persistência dos sintomas pode existir além da
síndrome de abstinência provocada por uma dieta capaz de eliminar
os fatores alucinógenos.
A dificuldade de corrigir o fator cerebral estrutural mencionado
sugere que pode haver impossibilidade de se chegar à cura total do
autismo em crianças mais velhas e adultos. Mas o melhor
conhecimento da etiologia do autismo, nos seus aspectos
metabólicos, psicológicos/psiquiátricos e cerebrais pode permitir
atingir melhorias da qualidade de vida nos casos "maduros" e,
igualmente, ou mesmo mais importante, tomar medidas preventivas
e/ou realizar intervenções com sucesso em caso de autismo com
diagnóstico precoce.

23
Autismo e
infecção do ouvido

Por William G. Crook, M.D.


(1995)

William G. Crook, M.D. recebeu formação médica e treinamento


na Virginia University, no Pennsylvania Hospital, Vanderbilt e
John Hopkins. É membro da American Academy of Pediatrics,
do American College of Allergy and Immunology e da
American Academy of Environmental Medicine

Para
Pais e Profissionais interessados no Autismo

De: William G. Crook, M.D. (Doutor em Medicina)

O termo autismo apareceu no meio da década de 40. Durante


uma ou duas décadas seguintes, a maior parte dos profissionais
diziam: "As causas são desconhecidas". Ainda mais, outros
profissionais colocavam a culpa nos pais. Esses ouviam: "Vocês não
amam o bastante sua criança".
Que injustiça!
Então, na década de 60, Bernard Rimland, Ph.D., pai de uma
criança autista, começou a escrever e falar sobre as causas
nutricionais e metabólicas do autismo. No seu livro, O Autismo Infantil,
ele relata que 30 a 60% das crianças e pacientes autistas respondem
a dose de magnésio e de vitamina B6 maiores do que as habituais.
Os benefícios desses nutrientes foram também confirmados por
outros. Então, um outro nutriente, a dimetilglioxina, foi notado por
melhorar o comportamento autístico e contribuir a um melhor contato
visual e melhorar a fala.

24
Durante os primeiros anos de minha prática como pediatra, eu vi
apenas um único caso de criança com o que hoje é chamado de
desordem de déficit/hiperatividade. Mais tarde, no final da década de
60, o número de casos começou a crescer rapidamente. Outros
profissionais, incluindo médicos e psicólogos, observaram também o
número crescente de crianças com estas perturbações.
Este pacote inclui uma coletânea de documentos que, eu espero,
lhe darão informações e ajuda.

Infecções do Ouvido.

Os problemas do ouvido médio nas crianças e nos jovens


acontecem tão freqüentemente que muitos pais e profissionais os
consideram como sendo inevitáveis, e mesmo "normais".
Durante meus 40 anos de prática da pediatria e das alergias,
milhares de crianças com otite média solicitaram minha ajuda e a dos
meus associados pediatras. Os problemas em certas crianças eram
difíceis de controlar e frustrantes para os pais e as crianças. Portanto,
eu posso apenas me lembrar de um caso único de criança que
desenvolveu mastoidite e outras complicações.
Os antibióticos salvam vidas. Nenhuma dúvida a respeito.
Entretanto, durante os últimos anos, eu comecei a perceber que os
antibióticos podem estar causando efeitos inesperados e
inconvenientes. E eles parecem particularmente aptos para criar
problemas em crianças que são tratadas de maneira repetida ou a
longo prazo com esses remédios.
Minha preocupação sobre o controle "padrão" da otite média é
também a de outros profissionais. Num editorial convidado nos
Annals of Allergy, Raoul Wietzen, especialista de doenças infecciosas
da Universidade de Georgetown, disse: "Na idade de 3 anos, 33% das
crianças já tiveram episódios de otite média com efusão (OME). Com
uma incidência tal de doença clínica, muito mesmo foi aprendido sobre
a patogênese, a etiologia, o diagnóstico e a terapia da OME. Muito,
não!"
Mais recentemente, Kenneth Grundfast, Titular do Departamento
de Otorrinolaringologia do Centro Médico Nacional do Hospital de
Crianças, em Washington, DC, disse que são estimados em um
milhão o número de tubos de timpanotomia que são colocados nos
ouvidos das crianças americanas cada ano e que talvez um número
igual de crianças recebam "antibióticos profiláticos" num esforço para
minimizar a freqüência dos problemas no ouvido. Ainda mais, na

25
discussão sobre o uso de antibióticos, Grundfast sublinha que existem
muitos inconvenientes, incluindo o desenvolvimento de infecções por
fungos, em particular as que são causadas pela levedura comum,
Candida albicans.

Será que as infecções por leveduras no trato intestinal


podem contribuir à "epidemia" de infecções do ouvido nas
crianças americanas?

Na minha opinião, a resposta é "sim". Esta possível relação foi


sugerida em primeiro lugar por C. Orian Truss que descreveu seu
sucesso ao tratar uma criança jovem que teve uma série de infecções
recorrentes do ouvido, com um remédio contra leveduras, a nistatina.
Na discussão de suas observações, o Dr. Truss comentou: "A
reversão súbita de tantos sintomas desde que a nistatina foi iniciada
deixa pouca dúvida sobre o fato da repetição ser sustentada pelo
problema das leveduras. Na minha opinião, isto não é um problema
isolado. É provavelmente muito comum. Os antibióticos salvam vidas,
mas alguns indivíduos ficam com problemas residuais relacionados
com seu uso."

Por que as infecções por leveduras induzidas por antibióticos


podem contribuir aos problemas de ouvido?

Parece que pode haver mecanismos diferentes. O primeiro entre


esses é a imunossupressão induzida pela Candida. Em relatos
publicados nos anos 70, Kazuo Iwata observou "um decréscimo
seletivo do número de células T em animais que foram infectados por
linhagens virulentas de Candida albicans”. Ele acrescentou: "No caso
de infecção por Candida albicans, as toxinas produzidas no tecido
invadido podem agir como um imunossupressor para enfraquecer os
mecanismos de defesa do hospedeiro que envolvem a imunidade
celular."
Num relato posterior de uma pesquisa sobre mulheres com
infecções vaginais recorrentes por leveduras, Witkin afirma: "As
infecções por Candida albicans freqüentemente associadas a
alterações induzidas por antibióticos na flora microbiana, podem
provocar anormalidades na imunidade celular."

26
Quando o sistema imunológico é enfraquecido, os
microorganismos que residem em muitas das membranas mucosas
do corpo podem multiplicar-se, provocando infecções.

Outros processos pelos quais a Candida pode ser


relacionada a problemas recorrentes do ouvido médio

Numa resenha completa de controle de antígenos pelo intestino,


W. Allan Walker, Professor de Pediatria, na Harvard Medical School,
comentou, "existem mais resultados experimentais e clínicos que
sugerem que grandes moléculas antigenicamente ativas podem
penetrar o trato intestinal em quantidades que podem ser
imunologicamente importantes. Esta observação pode significar que o
trato intestinal pode representar uma localização potencial para a
absorção de antígenos de alimentos ingeridos que existem
normalmente no lúmen intestinal".
T.M. Nsouli e associados estudaram recentemente a incidência de
alergia à comida em 104 pacientes com otite média sorosa recorrente
(RSOM). Uma dieta com a exclusão da(s) comida(s) agressora(s)
durante 16 semanas levou a uma melhoria significativa da RSOM em
86% dos pacientes.
Em 1991, J.O. Hunter, do Addensbrooke's Hospital de Cambridge,
apresentou uma hipótese que explica o mecanismo que acontece nas
pessoas que apresentam reações contrárias a alimentos. Ele
sublinhou que os problemas de saúde causados por intolerância a
alimentos seriam mais convenientemente chamados "perturbação
enterometabólica." Ele afirmou: "A microbiologia moderna abriu o
caminho para a manipulação da flora bacteriana para permitir a
correção das intolerâncias a alimentos e o controle da doença."
Nem Hunter nem Walker mencionam o papel possível da
contribuição do desenvolvimento excessivo da candida à flora
anormal do intestino. Porém, a resposta favorável a dietas especiais e
remédios antifúngicos de muitas pessoas com sensibilidade a
alimentos sugere que a proliferação de Candida albicans no trato
digestivo contribui à absorção de alérgenos de alimentos, e para a
sua vez, à RSOM.

27
Os antibióticos são realmente necessários no tratamento da
otite média?

A resposta parece ser "sim" e "não". A resposta recebida pode


depender da pessoa a quem se faz a pergunta.
Os antibióticos são indicados para tratar crianças com infecções
bacterianas agudas purulentas do ouvido médio. Porém eles não
parecem ser necessários para todas as crianças com um resfriado
moderado e as "dores de ouvido" associadas. Eles podem fazer mais
mal do que bem quando tratamentos prolongados são aplicados a
crianças com RSOM. O apoio para este ponto de vista vem de Erdam
I. Cantekin, Ph.D., que relata a "reconsideração de uma pesquisa
publicada anteriormente e que avaliava a eficácia de um tratamento
de duas semanas com antimicróbios em crianças com RSOM."
O relato controvertido de Cantekin foi apresentado como assunto
de primeira página por Tom Yulsman na edição do dia 18 de janeiro
de 1992 do Medical Tribune. O artigo de Yulsman mencionava que: "O
tratamento por antibióticos é o padrão americano de tratamento da
otite média aguda e serosa, mas uma divergência recorrente entre
antigos colaboradores de pesquisa levanta a questão da necessidade
da revisão deste padrão".
Yulsman cita Cantekin, que disse: "A espera vigilante é uma
solução melhor na otite média aguda… com mais de 90% das
infecções resolvidas em poucos dias." Yulsman disse também, "A
literatura médica apresenta algum apoio para a espera vigilante. Em
1981, uma pesquisa holandesa mostrou não haver diferença entre o
uso de antibióticos e miringotomia, antibióticos combinados com
miringotomia e placebo".
Este estudo teve aparentemente um impacto maior na Holanda
onde uma pesquisa feita em 1990 achou que 31% dos médicos
holandeses tratavam a otite média com antimicróbios.
Uma palavra em particular sobre os antibióticos profiláticos.
Apesar de algumas pesquisas terem mostrado que as crianças podem
não desenvolver uma infecção de ouvido quando sob antibióticos,
problemas de ouvido voltam freqüentemente, logo que os antibióticos
não são mais administrados. Com certeza, se antibióticos são
prescritos, a terapia anticandida deveria ser dada ao mesmo tempo.

28
Comentários finais

1. "Espera vigilante" para a criança com otite média moderada.

2. Identificação e eliminação de alimentos alergênicos para a


criança com recorrência de otite média com efusão (OME).

3. Terapia anticandida para a criança que recebe antibióticos de


espectro amplo. Tais terapias incluem "probióticos" (Lactobacillus
acidophilus e Bifidus), extrato de alho e nistatina em pó sem açúcar. A
terapia com um ou mais destes agentes antileveduras pode ser
apropriado para semanas ou meses, mesmo quando a criança
propensa à otite não recebe antibióticos.

4. Limitar a ingestão de sucrose e dextrose na dieta das


crianças de baixa idade, em particular as que recebem antibióticos.
Segue a explicação: Uma pesquisa científica recente em ratos com
sistema imunológico enfraquecido mostrou que o crescimento da
Candida albicans era maior nos que recebiam dextrose na sua
alimentação do que no grupo de controle.

5. Tubos de timpanotomia. Tais tubos podem ser indicados em


algumas crianças com otite média sorosa persistente, incluindo as
com perda de audição. Antes de inseri-los, a atenção deve ser dada
aos fatores da lista acima.

29
Respostas imunológicas
defeituosas em pacientes
com candidíase
recorrente

Por Steven S. Witkin, Ph.D.

Cornell University Medical College,


New York City

A infecção pela Candida albicans, freqüentemente associada a


alterações na flora microbiana induzidas por antibióticos, pode
provocar anormalidades na imunidade celular. Essa imunossupressão
pode ser o resultado de substâncias supressoras produzidas por
macrófagos, pela indução de linfócitos T supressores específicos da
Candida, e/ou pela acumulação de carboidratos da Candida como a
mannan.
A terapia de modulação imunológica com fator de transferência,
levamisole ou ibuprofen foi pelo menos parcialmente efetiva como
adjunção ao tradicional tratamento antibiótico antifúngico.
Infecções clinicamente significativas das membranas mucosas
por Candida albicans acontecem com freqüência crescente. Apesar da
terapia antifúngica, uma subpopulação de pacientes sofre de infecção
recorrente. Pesquisas recentes sugerem que a infecção em si pode
causar imunossupressão. Em adição à criação de uma
susceptibilidade aumentada à reinfecção pela Candida, as alterações
imunológicas podem também ser relacionadas à endocrinopatias
subseqüentes e a formação de anticorpos.

30
Este artigo explora os fatores de predisposição à infecção pela
Candida e os possíveis mecanismos que produzem alterações do
sistema imunológico. Pesquisas recentes do laboratório do autor
sobre a imunossupressão específica da Candida albicans em
pacientes com vaginite recorrente são descritas com detalhes, e as
tentativas de tratamento de candidíase mucocutânea crônica por
agentes imunomoduladores são revistas.

Alterações do sistema imunológico celular

Muitas pacientes com infecção das superfícies de mucosas pela


Candida albicans mostram disfunções tanto imunológicas quanto
endócrinas. Entretanto, a ordem temporal tanto dos sintomas quanto
de suas possíveis interrelações fica na maior parte não resolvida.
Relatórios segundo os quais anomalias imunológicas ou endócrinas
foram revertidas, após terapia antibiótica antifúngica bem sucedida,
leva a acreditar na idéia que essas anomalias podem aparecer como
conseqüências secundárias da infecção por fungos.

Referência bilbiográfica

Witkin, S.S. Defective imune responses in patients with recurrent


candiasis. Infections in Medicine, 129, May/June, 1985.

31
Candida albicans e o
sistema imunológico
por Kazuo Iwata, M.D.
(1967+)

No fim da década de 60, um bacteriologista japonês, Kazuo


Iwata, M.D., começou a estudar Candida albicans. Em 1967, com
seus colaboradores, ele isolou uma poderosa toxina letal, a
canditoxina, de uma linhagem virulenta de Candida albicans (Iwata
and Yamamoto, 1977). Ele e seus colegas publicaram suas
observações sobre esta toxina e seus efeitos no sistema imunológico
em várias ocasiões. No caso de infecção por uma linhagem virulenta
de Candida albicans, um decréscimo seletivo de células T foi
observado de maneira característica. Em caso de infecção pela
Candida albicans, a toxina produzida no tecido invadido pode agir
como um imunossupressor para enfraquecer os mecanismos de
defesa que envolvem a imunidade celular do hospedeiro (Iwata and
Uchida, 1978).

Referências bibliográficas

Iwata, K. and Uchida, K. Cellular Immunity in Experimental


Fungus Infections in Mice: The Influence of Infections and Treatment
with a Candida Toxin on Spleen Lymphoid Cells. Mykosen, Suppl. 1,
p.72-81, 1978.
Iwata, K. and Yamamoto, Y. Glycoprotein Toxins produced by
Candida albicans. Fourth International Conference on the Mycoses,
Proceedings, PAHO Publications n. 356, June 1977.

32
Labirintite ou epilepsia?
Não!
Infecção intestinal?
Sim!

Por Daniel J. R. Nordemann

Labirintite?

Luiza é bibliotecária no nosso instituto. Ela está na faixa dos 50


anos, peso um pouco acima do valor recomendado para sua altura.
Ela é bem casada, tem duas filhas e uma netinha de dois anos de
idade. Ela é muito simpática. Indo à biblioteca, perguntei sobre sua
saúde e ela me contou que estava voltando de um mês de licença
médica motivada por uma crise aguda de labirintite. Batemos papo
sobre o assunto e descobri muitos fatos interessantes e
provavelmente correlatos.
O início da crise de labirintite foi de repente, às três horas da
manhã, depois de Luiza ter sido acordada por causa de uma
manifestação súbita e forte de diarréia. Tentando levantar-se, ela
sentiu tonteiras intensas, bateu contra um armário e contra a cama,
caiu para trás e machucou-se. O desespero do seu marido foi grande
e, sem experiência anterior de situação semelhante, não soube o que
fazer. O diagnóstico de labirintite foi estabelecido pelo médico que a
examinou. Mais tarde, espontaneamente, Luiza comparou sua crise
aguda a uma situação de entorpecimento e ressaca de abuso de
bebida alcoólica.

33
Luiza confessou ter tido candidíase genital em várias
oportunidades de sua vida e conhece e já usou a pomadas com
nistatina. Sua neta, da qual ela cuida em parte estava, nesta época,
com a presença de sapinhos ao redor da boca, sapinhos que ainda
tem e que, por sinal, são difíceis, talvez impossíveis, de se eliminar
segundo a Luiza. Outro fato importante: a neta de Luiza, desde seu
nascimento até seis meses de idade, sofreu quase que
permanentemente de fortes cólicas, que já fizeram chorar a avó, de
tanto desespero de ver a neta sofrer tanto. A mãe desta neta bem
amada, também, tem a presença de candidíase no seu histórico
médico.
Depois do desaparecimento das manifestações de tonteiras, Luiza
foi submetida por seu médico a um teste de labirintite provocada e
percebeu que os sintomas ressentidos neste teste eram nitidamente
diferentes dos ressentidos durante sua crise aguda.
Diante da acumulação de tantos fatos, podemos nós perguntar se
Luiza não foi vitima de uma intoxicação intestinal que teria provocado
essas manifestações de tonturas. Um desequilíbrio súbito da flora
intestinal, com a participação possível de Candida albicans pode ser
sugerido como causa dos sintomas ressentidos por Luiza, porém a
ausência de exame de fezes com cultura não permite ter certeza
absoluta.
Em casos semelhantes, os médicos consultados deveriam
solicitar testes laboratoriais adequados para confirmar ou rejeitar um
possível diagnóstico de infecção intestinal com efeitos alucinógenos
e/ou psicotrópicos.

Epilepsia?

Daniel (um dos autores deste livro) desmaiou pela primeira vez
quando tinha trinta anos. Foi durante férias na Grécia. Ele dedicava
seu tempo à redação de sua tese de doutorado, à sua namorada e ao
mergulho à pouca profundidade apenas com esnorquel. O tempo era
muito agradável, o Sol muito quente e a costa grega rica em plantas e
peixes coloridos de muitas espécies. Mas a maior parte das pessoas
do grupo eram atingidas por diarréia típica de verão, apesar de a
comida ser excelente e aparentemente de boa qualidade, mas era, de
qualquer jeito, comida grega, com bastante óleo de oliva e mariscos,
incluindo mexilhões pescados em abundância pelo próprio Daniel,
para o agrado da turma e dos demais clientes do café onde a turma
fazia suas refeições. Este café estava à beira da praia e as mesas

34
eram colocadas na beira da rua, acima da praia. No fim da tarde,
Daniel e suas amigas tomam um cerveja na espera do jantar. De
repente, Daniel vira de lado e cai de uma altura de mais ou menos um
metro na areia da praia. Uma dezena de curiosos está em pé ao redor
dele, e eles discutem, em grego, sobre os possíveis motivos do
desmaio. Daniel acorda-se, não se lembrando onde estava, ouve a
animada conversa em grego e pensa que morreu e que se encontra
no paraíso, onde evidentemente fala-se grego! Daniel já estava bem.
Percebeu que estava vivo, sem mais problema, nem foi ver um
médico e terminou feliz suas férias, com boas lembranças e a tese
praticamente completamente redigida.
No ano seguinte, Daniel acompanhado de sua namorada, foi
passar suas férias no sul da Itália, as primeiras férias depois da tese.
As atividades são quase as mesmas. Os problemas de diarréia
também. Por sinal o sul da Grécia era chamado de Grande Grécia na
antiguidade pelos gregos. Um dia no início do jantar, num hotel de
alto padrão desta vez, Daniel sentiu se bastante mal, de uma maneira
que talvez anunciasse um possível desmaio. Ele resistiu, bebeu um
copo de água e não desmaiou.
Outro desmaio. Daniel tinha 33 anos, era solteiro ainda, morava
sozinho e praticamente não tinha problemas de saúde. Em vários
anos, ele faltou no trabalho por motivo de saúde menos do que um
dia por ano. Um dia, de manhã, Daniel sente os efeitos de uma forte
diarréia, com fezes de cor escura, quase preta. Ele se levanta, anda
alguns metros e cai desmaiado. Pouco tempo depois, ele se acorda e
chama um médico generalista que pede muitos exames laboratoriais:
análise bastante completa de sangue, radiografia dos intestinos, uma
vez que Daniel acredita ter desmaiado por causa da dor de barriga
intensa associada à diarréia, eletroencefalograma, para ver possíveis
indícios de epilepsia. Nenhum exame acusou qualquer anormalidade.
O médico concluiu que era uma possível manifestação de
comicialidade (isto é, epilepsia) e recomendou a Daniel para não se
expor a situações potencialmente perigosas em caso de desmaio. Ele
recomendou também que Daniel desistisse de dirigir carros.
O terceiro, e último desmaio até o presente momento, foi numa
clínica depois de cirurgia de hérnia inguinal dupla. A manhã do dia
que seguiu a cirurgia, ele chamou a enfermeira e pediu ajuda para ir
ao banheiro. A enfermeira ajudou e saiu. Daniel desmaiou no
banheiro. Felizmente, ele não se machucou. E quando a enfermeira
voltou, meia hora mais tarde, ele lhe contou que desmaiou e voltou
para cama sozinho depois de acordar. O cardiologista de Daniel foi

35
chamado, parece que desta vez foi apenas devido à uma baixa de
pressão consecutiva à cirurgia.
Eu tinha praticamente esquecido esses episódios até ter a
conversa com Luiza que mencionei acima. Lembrei-me também nesta
oportunidade de uma manhã, quando adolescente, na qual uma
vizinha, de um apartamento vizinho ao de meus pais me chamou,
apavorada, porque o marido dela tinha desmaiado quando sentado no
vaso sanitário. Ajudei a remover seu marido para um sofá. Me foi dito
que era provavelmente o coração. O marido recuperou-se facilmente e
não soube mais nada a respeito dos seus problemas de saúde.
Não podemos deixar de pensar que episódios de desmaio depois
de diarréia podem ser mais freqüentes do que se acredita e que
podem ter um aspecto infeccioso, e que substâncias produzidas pela
infecção, que é a causa da diarréia, podem perturbar, desequilibrar o
funcionamento do cérebro até o ponto de produzir o desmaio.

36
Parte 3
Neuropatias infecciosas
e dietas

37
Antibióticos,
candida albicans,
sensibilidade a alimentos
e autismo

Por William G. Crook, M.D.,


(1993)

Durante mais de 40 anos de prática da pediatria, eu vi e tratei


milhares de crianças com otite média, sinusite, bronquite e outras
infecções. Para tratar essas crianças, eu prescrevi muitos antibióticos.
Junto com a maior parte dos médicos e dos pacientes, eu considerei
os antibióticos como sendo "remédios milagrosos". Sem dúvida eles
salvaram muitas vidas.
Entretanto, durante os últimos anos, eu comecei a perceber que
os antibióticos, em particular os de amplo espectro, podem estar
causando efeitos inconvenientes. Eles causam problemas
especialmente em crianças que são tratadas de maneira repetida ou a
longo prazo com esses remédios.
Estou preocupado pelo controle "padrão" da otite média. Minha
preocupação é compartilhada também por outros profissionais.
Por exemplo, num editorial convidado nos Annals of Allergy,
Raoul Wietzen, especialista de doenças infecciosas da Universidade
de Georgetown, disse: "Na idade de 3 anos, 33% das crianças já
tiveram episódios de otite média com efusão (OME). Com uma
incidência tal de doença clínica, muito mesmo foi aprendido sobre a
patogênese, a etiologia, o diagnóstico e a terapia da OME. Muito,
não!"

38
Mais recentemente, Kenneth Grundfast, Titular do Departamento
de Otorrinolaringologia do Centro Médico Nacional do Hospital de
Crianças, em Washington, DC, expressou suas preocupações sobre o
uso crescente de "antibióticos profiláticos". Ainda mais, na discussão
sobre o uso de antibióticos, Grundfast enfatizou que existem muitos
inconvenientes, incluindo o desenvolvimento de infecções por fungos,
em particular as que são causadas pela levedura comum, Candida
albicans.
Voltando ao passado. Durante as décadas de 50 e 60, na minha
intensa prática de pediatria geral, eu vi apenas ocasionalmente uma
criança perturbada por hiperatividade, falta de atenção e outros
problemas de comportamento ou aprendizagem. Eu não vi nenhuma
criança com autismo ou perturbações invasoras do desenvolvimento
com sintomas de autismo associado.
Mas no início da década de 70, crianças com hiperatividade, falta
de atenção e outras perturbações do sistema nervoso começaram a
"aparecer". Em 1973, vinte e quatro anos após ter aberto meu
consultório de pediatria, eu vi minha primeira criança autista.
Durante um período de cinco anos a partir do dia primeiro de
janeiro de 1973, eu vi 182 pacientes novos com hiperatividade e falta
de atenção e 7 pacientes novos com problemas de natureza autística.
Eu submeti todas essas crianças a dietas de eliminação/competição e
eu fiquei ao mesmo tempo encantado e espantado pela resposta da
maioria desses jovens: 136 das 182 crianças hiperativas ou com falta
de atenção responderam favoravelmente, mesmo drasticamente, às
mudanças dietéticas (Crook, 1980).
Os componentes alimentares que desencadeavam reações do
sistema nervoso incluíam o açúcar, os corantes alimentares, o trigo e
o milho. Além disto muitos outros alimentos podem causar reações.

Sensibilidade aos alimentos e autismo

Algumas crianças autistas são sensíveis aos alimentos que elas


ingerem cada dia. Eu baseio esta afirmação na minha experiência
com crianças autistas desde o início da década de 70. Seguem
minhas observações sobre Ann Mallette, uma jovem que eu vi pela
primeira vez com a idade de 8 anos, com a maior queixa de um
comportamento "estranho". Segundo à palavras da mãe de Ann, "Ann
vive num outro mundo".

39
Durante o primeiro ano de sua vida, seu crescimento e seu
desenvolvimento foram normais. Durante seu segundo ano, ela se
tornou freqüentemente "fora do espaço" e mostrava muitas
manifestações estranhas no comportamento, quase como um adulto
com esquizofrenia. Sua fala regrediu e mostrou muitos sintomas
autísticos.
Quando ela tinha 4 anos e meio, um psicólogo notou: "Em
nenhum momento Ann se relacionou comigo de maneira direta.
Algumas vezes, ela respondia, mas apenas de maneira fugaz, e sem
nenhum contato visual. O conteúdo de sua fala era sem sentido e sem
relação com qualquer coisa acontecendo na minha presença. A maior
parte do tempo, ela estava com ecolalia. Seu nível de atividade
poderia ser descrito como sendo de hiperatividade. Todas as
tentativas de testes falharam".
Na época de sua primeira visita, Ann foi submetida à dieta de
alimentos escassos ou do "homem das cavernas" (Nesta dieta, a
criança evita todos os alimentos que ela comia mais do que uma vez
por semana. Entretanto, ela tem ainda mais do que o suficiente para
comer. Segue um breve resumo da dieta habitual: Qualquer fruta
salvo laranja, maçã e bananas. Nenhum salame, presunto, carne de
vaca, porco, frango. Todos os grãos foram eliminados. O amaranto
pode ser utilizado como substituto dos grãos. Apenas água mineral
engarrafada ou água de fonte é utilizada como bebida). Em uma
semana, ela mostrou uma melhora significativa com mais contato
visual, menos hiperatividade e nenhuma ecolalia.
Depois de seguir a dieta durante uma semana, os alimentos
eliminados foram ingeridos de novo, um por dia. Seguem as reações
anotadas pela sua mãe: O açúcar provoca mau humor, irritabilidade e
uma personalidade desagradável. O milho, o trigo e outros grãos
provocam hiperatividade, alucinações, expressões faciais bizarras e
gesticulação, assim como uma flexão estranha de suas mãos. O leite
provoca irritabilidade e a coloca "fora do espaço".
Esses alimentos foram eliminados e Ann foi posta numa dieta
rotativa com uma ampla variedade de alimentos saudáveis. Apesar de
Ann ter melhorado, ela continuou a mostrar muitos sintomas. Ela foi
então examinada pelo psiquiatra ortomolecular de Nova Iorque, Alan
Cott, que achou que Ann tinha níveis notavelmente elevados de
chumbo nos cabelos, no sangue e na urina. Megavitaminas foram
prescritas e os níveis de chumbo de Ann voltaram gradualmente ao
normal durante o ano seguinte.

40
Nos anos seguintes, apesar de ter havido alguns altos e baixos,
Ann continuou a realizar progressos notáveis e, em 1991, ela formou-
se na universidade e está trabalhando agora em Vanderbilt.
Meu segundo paciente autístico, Dwayne de 9 anos de idade,
chegou para mim também em 1973. Como Ann, o histórico do seu
desenvolvimento precoce foi normal. Então, segundo sua mãe, "entre
1 e 2 anos, ele começou a girar e olhar suas mãos. Às vezes, ele nem
notava a presença da gente ou de suas irmãs. Depois de 2 anos, seus
problemas continuaram e tornaram-se piores. Ele começou a se retrair
e a se comportar de maneira estranha; seu desenvolvimento tornou-se
mais lento. Nós o levamos a todo lugar para procurar ajuda.
Recebemos todos os tipos de conselhos. Ritallin, Mellaril e outros
remédios foram prescritos. Tentaram-se Programas Especiais de
Educação; nada adiantou. Finalmente, nós paramos com esses
remédios e houve uma pequena melhora. Ainda ele continua a se
retrair, ele dorme pouco e gira, especialmente com música. Ele não se
comunica com ninguém, salvo comigo".
No momento de sua primeira visita, prescrevi a dieta do homem
das cavernas. Depois de uma semana, ele tornou-se mais atento e
menos hiperativo. Ele mostrou um comportamento onde ele gira
menos. Na volta dos alimentos, ele mostrou as seguintes reações:
O trigo e o açúcar provocam tendência à briga e comportamento
anti-social. O milho o torna mais introvertido. Ele fala mais consigo.
Outros alimentos também causam sintomas.
Após um mês com a dieta de eliminação, sua mãe contou:
"Dwayne é mais calmo e seu comportamento social é melhor; ele gira
raramente. Seu nariz parou de escorrer. Ele é menos desajeitado e
tem coordenação muito melhor. Ele aprendeu o alfabeto inteiro e pode
soletrar e ler muitas palavras, o que ele não podia fazer antes. Além
da dieta, nós também acrescentamos vitaminas e elementos minerais,
em particular as vitaminas B e o magnésio".
Como Dwayne vive a 400 milhas do meu consultório no West
Tennessee, as visitas de retorno foram feitas pelo correio e pelo
telefone. As sensibilidades aos alimentos continuam. Em junho de
1975, a mãe de Dwayne escreveu: "se Dwayne toma apenas uma
colher das de chá de açúcar, ele precisa de 2 ou 3 horas para se
acalmar. Algumas colheres de trigo e cereais provocam também um
comportamento hiperativo por algumas horas. O leite provoca
incontinência e dois ovos o tornam desajeitado”.

41
A resposta de Dwayne não foi tão dramática quanto a de Ann.
Mas, ele fez progresso. Em junho de 1985, sua mãe me mandou o
seguinte relatório: "Dwayne começou a escola pública em 1981 e
formou-se em 1985 com avaliações B e C. Ele está matriculado agora
numa escola profissional para ser pedreiro. Ele anda de motocicleta
todos os dias. Apesar de ele ainda ser do tipo solitário, ele atua na
igreja local e toca o órgão em alguns eventos. Ele limpa a cozinha e
corta a grama. Ele toma um complexo de multivitaminas e minerais,
porém nenhum remédio. Ele continua sem comer pão de trigo, pão de
milho nem bebe leite”.
O pai de Dwayne comentou: "Antes de iniciarmos a dieta, ninguém
acreditaria que Dwayne pudesse passar um só dia na escola. Nos
estamos contentes e orgulhosos do seu sucesso. Além disto, as
conquistas de Dwayne incluem um discurso na Convenção do Autismo
do Estado da Louisiana".

O excesso de levedura no trato intestinal provocado pelos


antibióticos poderia contribuir para perturbações do sistema
nervoso da criança?

Na minha opinião, a resposta é "sim". A relação da levedura com


essas e outras perturbações foi sugerida em primeiro lugar por C.
Orian Truss, M.D. Este médico do Alabama descreveu seu sucesso
no tratamento de uma criança que foi incomodada por infecções
recorrentes do ouvido, com o remédio Nistatina contra leveduras. Na
discussão de suas observações, Truss comenta: "A rapidez da
reversão de tantos sintomas após o início da Nistatina deixa pouca
dúvida que o problema das leveduras está relacionado ao círculo
vicioso. Na minha opinião, isto não é um problema isolado. Isto é
provavelmente muito comum. Os antibióticos salvam vidas, mas alguns
indivíduos ficam com problemas residuais associados ao seu uso".
Apesar do Dr. Truss não descrever crianças com autismo
associado à Candida, ele observou que após terapias repetidas com
antibióticos, algumas crianças ficam com um "efeito residual
devastador no temperamento e nas funções intelectuais."
Eu fiquei sabendo das observações de Truss pela primeira vez
em 1979. Em 1982, eu vi Rusty, uma criança de 5 anos e meio com
problemas múltiplos. Foi incomodado por cólicas, resfriados
recorrentes e infecções do ouvido durante seu primeiro ano de vida.
Segundo sua mãe, ele tinha em média uma infecção de ouvido por
mês.

42
No início, o desenvolvimento de Rusty foi normal. Se sentou com
6 meses, ficou em pé com 8 meses e andou através da sala com 11
meses. Sua fala se desenvolveu normalmente e com um ano ele
podia dizer 20 palavras. Mas então seu progresso pareceu parar.
Durante seu segundo ano de vida, ele mostrou sintomas de
hiperatividade e com dois anos, seu sistema nervoso piorou. Alguns
sintomas leves de autismo começaram a aparecer e a comunicação
tornou-se um problema crescente.
No momento de sua primeira visita a mim, Rusty foi colocado na
dieta do homem das cavernas. Após a observação desta dieta durante
uma semana, sua mãe relatou: "Rusty mostrou uma tremenda
melhora. Ele respondeu melhor e começou a cooperar". Depois de
Rusty ter comido cogumelos, sua mãe relatou; "Ele se tornou
selvagem, hiperagressivo, desagradável, chorava e atirava objetos.
"Leveduras provocavam a mesma reação. Outros alimentos, incluindo
trigo, milho e uva passas também causavam reações, algumas muito
fortes”.
A história de Rusty, com infecções do ouvido que foram tratadas
por aplicações repetidas de antibióticos, mais o surto repentino de
sintomas quando confrontado com leveduras e cogumelos, me
fizeram pensar que seus problemas eram relacionados, em parte, à
Candida albicans.
De acordo com isto, como parte do seu tratamento, ele recebeu a
Nistatina e foi colocado numa dieta sem levedura e sem açúcar. Após
três meses desta terapia, os professores de Rusty relataram "uma
melhora drástica no seu comportamento e boa vontade para
aprender."
Em abril de 1982, a mãe de Rusty me mandou este relato: "Rusty
continua a melhorar. Agora ele escreve mais do que seu alfabeto e
conhece o alfabeto na ordem até o H. Ele utiliza mais linguagem e
coloca palavras juntas. Ele se veste sozinho e está se abrindo para o
mundo".
No ano seguinte, o comportamento autístico de Rusty continuou a
melhorar. Entretanto havia altos e baixos. A exposição a fumaças
químicas provocava uma piora; sua família observou também que
doses maiores de vitaminas B, em particular B6, eram fundamentais
para seu funcionamento perfeito. Rusty continuava a precisar de
educação especial. (Não tive mais relatos de Rusty e de seus
progressos durante a última década).

43
Por que as infecções por leveduras induzidas por antibióticos
podem contribuir para infecções recorrentes do ouvido,
hiperatividade e autismo?

Parece haver vários mecanismos. O primeiro deles é a


imunossupressão induzida pela Candida. Em relatórios publicados na
década de 70, um pesquisador japonês, Kazuo Iwata, M.D. observou:
"Um decréscimo seletivo do número de células T em animais que
foram infectados por linhagens virulentas de Candida albicans". E ele
afirmou: "Em caso de infecção pela Candida albicans, as toxinas
produzidas nos tecidos invadidos podem agir como um
imunossupressor para incapacitar os mecanismos de defesa que
envolvem a imunidade celular do hospedeiro".
Num relato posterior de uma pesquisa sobre mulheres com
infecções vaginais recorrentes por leveduras, um pesquisador da
Cornell Medical Scool, Stephen S. Witkin afirma: "As infecções por
Candida albicans freqüentemente associadas a alterações induzidas
por antibióticos na flora microbiana, pode provocar anormalidades na
imunidade celular".
Quando o sistema imunológico é enfraquecido, os
microorganismos que residem em muitas das membranas mucosas
do corpo podem multiplicar-se, provocando infecções.
Segue uma segunda maneira pela qual a Candida pode ser
relacionada a problemas de saúde em crianças: O equilíbrio normal
dos microorganismos no trato intestinal é perturbado e a membrana
mucosa protetora que encobre o trato intestinal fica enfraquecido. O
resultado disto é que alérgenos dos alimentos são absorvidos
O apoio para este ponto de vista pode ser achado numa resenha
completa sobre o controle dos antígenos (alérgenos) pelo intestino, no
qual W. Allan Walker, M.D., Professor de Pediatria, na Harvard
Medical School, comentou, "existem mais resultados experimentais e
clínicos que sugerem que grandes moléculas antigenicamente ativas
podem penetrar o trato intestinal em quantidades que podem ser
imunologicamente importantes. Esta observação pode significar que o
trato intestinal pode representar uma localização potencial para a
absorção de antígenos de alimentos ingeridos que existem
normalmente no lúmen intestinal".

44
Em 1991, J.O. Hunter, médico britânico, apresentou na revista
britânica The Lancet uma hipótese que, segundo ele, explica o
mecanismo que acontece nas pessoas que apresentam reações
contrárias a alimentos. Ele sublinhou que os problemas de saúde
causados por "intolerâncias a alimentos" seriam mais
convenientemente chamados "perturbação enterometabólica." Na sua
argumentação seguinte, ele afirmou: "A microbiologia moderna abriu o
caminho para a manipulação da flora bacteriana para permitir a
correção das intolerâncias a alimentos e o controle da doença."
Nem Hunter nem Walker mencionam o papel possível da
contribuição do desenvolvimento excessivo da candida à flora
anormal do intestino. Porém, a resposta favorável a dietas especiais e
remédios antifúngicos, sugere que a Candida albicans tem um papel
nas causas da otite média, da hiperatividade, falta de atenção e
autismo.
Existe ainda outra maneira pela qual a Candida pode ser
relacionada a problemas de saúde nas crianças: a sensibilidade à
Candida. Segundo James H. Brodsky, M.D., professor na Georgetown
University School of Medicine: "Existem bastantes resultados para
sugerir que Candida albicans é um entre os micróbios mais
alergênicos." Parece razoável concluir que as alergias à candida
podem contribuir para infecções recorrentes do ouvido e para o
desenvolvimento subseqüente de sensibilidades a alimentos,
hiperatividade e possivelmente autismo.

O açúcar favorece o desenvolvimento das leveduras

Algumas pesquisas dos anos 80 sobre mulheres com


vulvovaginites recorrentes mostraram que as mulheres que
consomem dietas ricas em açúcar eram mais aptas a desenvolver
vulvovaginites recorrentes. Mais adiante, na década de 90,
pesquisadores do St. Jude Hospital realizaram pesquisas em ratos
com sistema imunológico enfraquecido que foram colonizados por
candidíase gastrointestinal.
Os resultados mostraram que o crescimento e a invasão
gastrointestinal da candida eram aproximadamente 200 vezes maiores
nos ratos que recebiam dextrose em sua alimentação do que no grupo
de controle.

45
Dessensibilização reforçada por enzima (EPD)

Na década de 60, Len McEwen, médico britânico, começou a


estudar e usar um novo tipo de vacina que ele achou eficaz no
tratamento de pessoas com alergias de inalação e sensibilidades a
alimentos. Em 1992, com dois colegas, ele relatou o uso de
dessensibilização reforçada por enzima (EPD) num teste duplamente
cego entre 40 crianças com perturbação de comportamento
hipercinético associado a alimentos. Entre os 20 pacientes que
receberam o tratamento ativo, 16 tornaram-se tolerantes em relação
aos alimentos sensibilizadores, comparados com 4 dos 20 que
receberam um placebo.
Esses pesquisadores afirmam: "Nossos resultados mostram que a
EPD permite às crianças com hipercineticidade provocada por
alimentos de ingerir alimentos que tinham sido identificados como
responsáveis de seus sintomas". (Egger et al., 1992).

Comentários finais

Na base de minha própria experiência na prática médica e na


experiência de outros médicos e pais:
A maior parte das crianças com hiperatividade, falta de atenção e
outras perturbações do sistema nervoso, incluindo o autismo, são
sensíveis aos componentes dietéticos comuns. A sensibilidade a
qualquer comida pode causar problemas. O açúcar, o leite, o trigo, o
milho, levedura, os corantes e aditivos alimentares são agressores
comuns.
Tais sensibilidades não podem ser detectadas pelos testes de
alergia habituais ou pelos testes de sangue atualmente disponíveis.
A relação entre sensibilidades aos alimentos e sintomas do
sistema nervoso pode ser prontamente identificada na maior parte das
crianças através de uma dieta de eliminação/questionamento
cuidadosamente planejada e convenientemente executada. A fase de
eliminação da dieta dura aproximadamente uma semana, às vezes
mais.
Se e quando a criança melhora nesta dieta, os alimentos
eliminados são ingeridos de novo à razão de um alimento por dia e as
reações são anotadas. Os alimentos que provocam reações sensíveis
são evitados durante 4 a 8 semanas (às vezes mais). Depois, eles
podem ser tolerados na base de um rodízio.

46
As sensibilidades aos alimentos parecem mais capazes de se
desenvolver em crianças que receberam tratamentos repetidos ou
prolongados de amoxillin, Ceclor, Keflex e outros remédios
antibióticos de amplo espectro. Tais remédios levam ao
desenvolvimento exagerado de uma levedura comum, Candida
albicans, no trato digestivo, produzindo o que foi chamado de "
intestino poroso" ("leaky gut").
Toxinas e alérgenos de alimentos de vários tipos são mais aptos
de serem absorvidos e essas substâncias podem afetar
negativamente o sistema nervoso da criança.
Dietas especiais e medicações antileveduras não propiciam um
"conserto imediato" ou uma "cura" para a criança com autismo e
problemas afins do desenvolvimento. Entretanto, muitas crianças com
estes problemas podem ser ajudados com um programa de
tratamento que inclui:
- a identificação e a eliminação dos alimentos que provocam
reações sensíveis,
- o uso de nistatina (sem açúcar), Diflucan e/ou outros remédios
antifúngicos,
- a restrição na dieta de açúcar, xarope de milho e outros
carboidratos simples.
Um novo tipo de imunoterapia, a dessensibilização reforçada por
enzima (EPD), foi apresentada recentemente por providenciar uma
ajuda significativa, mesmo drástica, para um grupo de crianças com
hiperatividade associada a alimentos. Talvez esta mesma terapia
possa no futuro providenciar ajuda a crianças autistas que são
perturbadas com sensibilidades a alimentos.

Referências bibliográficas

Crook, W.G. Antibiotics, Candida albicans, Food Sensitivities and Autism.


Presentation, Stanford, Connecticut, Georgiana Organization, Inc., May 1993.
Crook, W.G. Can what a child eats make him dull, stupid or hyperactive? Journal of
Learning Disabilities, v.13, n.53-58, May 1980.
Egger, J., Stolla, A., McEwen L.M. Control Trial of Hyposensitization in children with
food induced hyperkinetic syndrome. Lancet, v.339, p.1150-1153, 1992.

47
Dextrose e candidíase

citações de Sergio L. Vargas e colaboradores


(1991).

Introdução

A colonização de Candida albicans no trato gastrointestinal


oferece um nicho para a disseminação da candidíase. Não há método
satisfatório para prevenção da candidíase. A redução dos substratos
utilizáveis que facilitam o crescimento da Candida pode constituir uma
única abordagem para controlar o crescimento excessivo
gastrointestinal e a subseqüente invasão pela Candida albicans.

Discussão

Crescimento gastrointestinal e invasão foram aproximadamente


200 vezes maiores na dextrose do que nos grupos de controle ou de
xilitol. A disponibilidade de dextrose permitiu à Candida albicans
colonizar e invadir o trato gastrointestinal a um nível maior quando
comparado ao do xilitol e do controle. A correlação direta das
contagens de Candida albicans nas fezes, com invasão da mucosa
gastrointestinal fornece argumentos para a hipótese do limiar da
invasão. Nenhuma invasão foi detectada se as contagens de Candida
albicans eram abaixo de 2 x 105 cfu/g de fezes.

Conclusões

A dextrose administrada por via oral aumenta a colonização


gastrointestinal e a invasão subseqüente de Candida albicans
comparada a administração de xilitol.

48
A substituição da dextrose pelo xilitol de valor calorífico
semelhante pode oferecer uma diminuição do risco de mucosite ou
candidemia durante os períodos de imunossupressão.

Outras citações

Nós estudamos os efeitos de uma suplementação na dieta de


carboidratos, na colonização e invasão do trato gastrointestinal em
ratos. Os resultados indicam que a ingestão de glicose na dieta é um
fator determinante do crescimento de Candida albicans no trato
gastrointestinal (Vargas et al., 1993).

Referências bibliográficas

Vargas, S.L. e colaboradores. 31st ICAAC, Chicago, IL,1991. (Apresentação de


poster)
Vargas, S.L.; Patrick, C.C.; Ayers, G.D.; Hughes, W.T. Modulating effect of
dietetary carbohydrate supplementation on Candida albicans colonization and
Invasion in a neutropenic mouse model. Infection and Immunity, v.61, n.2 ,
p.619-626, 1993.

49
Uma intervenção
experimental:
Entender e implementar
uma dieta sem glúten e
sem caseína

Por Lisa S. Lewis, Ph.D.


(1994)
http://www.princeton.edu/~lisas/gfpak.html

Nos três últimos anos, desde que meu filho foi diagnosticado
como tendo autismo, eu passei centenas de horas em bibliotecas e
em ligações com a rede e bancos de dados computadorizados. Como
eu trabalho na universidade, tenho acesso a estes recursos e o
treinamento e a prática para usá-los. Através destes meios e da
conexão com uma rede mundial de computadores (a chamada via
expressa da informática), eu fui capaz de juntar uma grande
quantidade de informações.
Em 1993, eu comecei uma experiência dietética que se mostrou
muito benéfica para meu filho. Como eu passei tanto tempo e gastei
tanta energia procurando respostas para saber porque isto ajudou
meu filho e como implementar esta dieta, decidi juntar o que achei e
compartilhá-lo com outros pais e profissionais. Espero que vocês
achem este pacote útil. Por favor, sinta-se à vontade para
compartilhá-lo com quem pode ser beneficiado ou pode simplesmente
procurar mais informações.
Para falar mais sobre este assunto, você pode mandar
mensagens para lisas@pucc.princeton.edu.

50
O que é o Glúten?

Os glútens são proteínas achadas na subclasse das


monocotiledôneas no reino da plantas. Essas plantas são membros
da família das gramíneas como trigo, aveia, cevada, centeio e seus
derivados. Os derivados incluem: malte, cereais, amido, vegetais
hidrolizados/proteínas de plantas, vinagres de cereais, álcoois de
cereais, temperos e os aglutinantes e recheios encontrados nas
vitaminas e remédios. A caseína é uma fosfoproteína do leite que tem
uma estrutura molecular muito parecida com a do glúten.
O artigo seguinte foi escrito pelos membros da Unidade de
Pesquisa do Autismo da Universidade de Sunderland (Grã Bretanha)
e é copiado com licença. [Textos entre colchetes são observações da
Dra. Lisa S. Lewis].

O uso de dietas sem Glúten e sem Caseína pelos autistas

Essas notas devem ser consideradas como observações. Elas


não constituem uma recomendação ou o reconhecimento de um
método dietético para aliviar os sintomas do autismo. A decisão de
seguir um método deste tipo depende apenas do autista ou das
pessoas que têm a responsabilidade e cuidam dele.

Dados preliminares

No início da década de 80, alguns pesquisadores, entre eles,


Herman e Panksepp, observaram a semelhança entre os efeitos
comportamentais de animais submetidos a opióides, como a morfina,
e os sintomas do autismo. Num artigo muito especulativo, Panksepp
sugeriu um mecanismo pelo qual autistas poderiam ter níveis
elevados de opióides que estão naturalmente presentes no Sistema
Nervoso Central (= cérebro) dos humanos. O mais conhecido destes
compostos opióides presentes naturalmente é a beta-endorfina (=
morfina endógena) e, com certeza, existe uma certa correlação entre
os efeitos conhecidos deste composto e os sintomas do autismo.
Pouco depois disto, Gillberg mostrou provas de níveis elevados
de "substâncias parecidas com endorfinas" no fluído cerebrospinal de
alguns autistas. Em particular, os níveis elevados apareciam nas
crianças que pareciam sentir menos dor que a população normal e
que mostravam um comportamento com auto-ferimentos. Mais ou
menos na mesma época, Reichelt mostrou a presença de peptídeos

51
anormais na urina de autistas. Nós mesmos, como bastante outros
grupos, tentamos reproduzir seus resultados. Apesar de sua técnica
ser relativamente simples, havia dificuldades técnicas e essas
tentativas foram sem êxito. Mais adiante, nós mudamos para uma
técnica mais sofisticada e conseguimos confirmar os resultados de
Reichelt. Na urina de 50% dos autistas aparecem níveis elevados de
substâncias com propriedades semelhantes às esperadas de
peptídeos opióides.
As quantidades destes compostos, achados na urina, são muito
maiores para ser originadas pelo SNC (Sistema Nervoso Central). As
quantidades são tais que elas podem apenas ser derivadas da
degradação incompleta de certos alimentos. As proteínas consistem
de longas cadeias de unidades conhecidas como aminoácidos. As
proteínas normais são digeridas por enzimas nos intestinos, e são
quebradas nestas unidades. Entretanto, se por alguma razão, esta
digestão é incompleta, seu resultado consistirá em curtas cadeias
destes aminoácidos (conhecidas como peptídeos). É sugerido que
estes peptídeos podem ser biologicamente ativos e podem dar os
sintomas que nós observamos no autismo. A maior parte destes
peptídeos será eliminada na urina, onde Reichelt e nós os achamos.
Uma pequena fração chegará ao cérebro e interferirá com
transmissões de tal maneira que a atividade normal fica alterada ou
interrompida. Pode ser que estes compostos, eles mesmo, tenham
um efeito direto na transmissão ou que eles se liguem às enzimas que
quebrarão nossas enzimas naturalmente presentes. As conseqüências
serão as mesmas em ambos os casos.
É bem conhecido que a caseína do leite (de mulher ou de vaca)
degrada-se no estômago para produzir um peptídeo conhecido como
casomorfina, que como seu nome indica, tem atividades opióides.
Efeitos semelhantes são observados com o glúten do trigo e de outros
cereais (aveia, cevada e centeio) para o qual os compostos formados
são as gluteomorfinas (ou gliadinomorfinas).
Se a hipótese do excesso de opióides é correta, muitas
estratégias podem ser adotadas. Em primeiro lugar, o Naltrexone,
remédio anti-opióide, pode ser considerado e resultados promissores
foram relatados.
[Nota: uma pesquisa recente dirigida por Magda Campbell com
41 crianças, não deu resultados positivos com doses baixas de

52
Naltrexone. É possível que doses fracas de Naltrexone não dão
resultados positivos. É possível que as doses eram fracas demais,
mas agora, a efetividade desta intervenção médica deve ser
questionada].
De maneira alternativa, a dieta que exclui a caseína (leites e
derivados) ou o glúten (trigo e outros produtos de cereais) poderia ser
considerada. Deve ser possível determinar pelo espectro dos
peptídeos urinários se a caseína ou o trigo (glúten), ou os dois devem
ser evitados, mas tais conclusões são prematuras neste estágio. Foi
observado que as crianças cujo autismo aparece no ou na época do
nascimento podem ter problemas com a caseína enquanto que as
crianças cujo autismo torna-se aparente com aproximadamente dois
anos, quando uma dieta baseada no trigo é provavelmente adotada,
têm dificuldades particulares com o glúten. Algumas crianças podem
ter dificuldade com os dois.
Os colegas de Reichelt na Noruega publicaram dados que
indicam a efetividade de tais programas dietéticos, mas essas
pesquisas não podem ser consideradas como conclusivas. Não houve
outra tentativa real para demonstrar a efetividade de tais dietas com
base científica. Muita gente experimentou individualmente e relatou
respostas com sucesso, mas tais provas não podem ser
consideradas, de jeito nenhum, como conclusivas. Nas pesquisas de
Rimland sobre relatórios de pais, entretanto, os resultados parecem
ser muito melhores do que os obtidos com qualquer teoria baseada
nos remédios.

Aspectos práticos

Os processos teóricos descritos aqui são mais de natureza


toxicológica do que alérgica. Os resultados são mais semelhantes ao
envenenamento do que a uma grande sensibilidade como acontece
nas doenças celíacas ou na sensibilidade a certos corantes
alimentares. A remoção dos produtos que contêm glúten e/ou caseína
exige a participação ativa de todos os que estão concernidos com o
bem-estar da criança. Os testes foram freqüentemente estragados por
um familiar bem intencionado que não sabia das instruções dadas
pelos pais, ou por escolas ou terapeutas que pensavam que os
pedidos eram bobagens. Os atendentes devem se certificar que a
dieta está sendo seguida antes de se ter a possibilidade de qualquer
avaliação. Produtos sem glúten e caseína, assim como conselhos
sobre seu uso, estão disponíveis nas farmácias. Lojas de produtos

53
naturais e sadios podem ser um recurso melhor. Nutricionistas e
especialistas em dietética devem saber aconselhar nisto.
No início, os resultados podem ser negativos, estômago
perturbado, ansiedade, necessidade de atenção e mau humor leve. A
experiência ensina que estes são bons sinais e precursores de uma
resposta positiva. Reichelt recomenda um período de teste de três
meses. Se não funciona durante este tempo, é pouco provável que
funcione.
[Numa mensagem para Lisa S. Lewis, Reichelt sugeriu um
período de um ano].
A experiência sugere também que os resultados são mais visíveis
em crianças mais jovens. Os efeitos em pessoas já crescidas
parecem ser menos impressionantes. Sendo que o autismo pode ter
muitas causas possíveis, não é surpreendente que uma solução única
não sirva para todos os casos.

Conclusões

Apesar de que as hipóteses possam parecer refutáveis em muitos


aspectos, existem muitos elementos que as comprovam. As idéias
são compatíveis com praticamente todos os dados biológicos sobre o
autismo e valem ser levadas em consideração.
O método dietético deve ser considerado ainda como
experimental e nenhum resultado positivo pode ser prometido ou
exigido. O uso da dieta pode ser muito menos prejudicial que qualquer
outra intervenção médica ou tratamento terapêutico. Nós ficaríamos
felizes em receber qualquer retorno de quem utiliza tais modificações
dietéticas para a melhoria do autismo.

Autism Research Unit


School of Health Sciences
University of Sunderland
Sunderland, Grã Bretanha SR2 7EE, Reino Unido.
tel: 0044-91 510 8922; fax 0044-91 567 0420

54
Uma citação da mensagem de Reichelt para Lisa S. Lewis:

"Em geral nós recomendamos uma dieta sem glúten e caseína


para autistas. A razão disto é que os peptídeos opióides da gliadina
têm a mesma estrutura que as casomorfinas da caseína. Nós
recomendamos também a adição de multivitamina com traços de
elementos minerais e magnésio, fígado de bacalhau e cálcio."
"Nós retiramos habitualmente ambos, caseína e glúten. Os
opióides destas proteínas são muito semelhantes:
Gliadinomorfina (do glúten): Tyr-Pro-Gln-Pro-Gln-Pro-Phe
Casomorfina (da caseína bovina): Tyr-Pro-Phe-Pro-Gly-Pro-Ile
Os efeitos da dieta quando ela é útil, tendem a ser cumulativos.
Deve ser tentada durante 1 an.".

Artigos relacionados

Gillberg, C. The role of endogenous opioids in autism and possible relationships to


clinical features. In Wing, L. (ed.) Aspects of autism: Biological Research.
London : Gaskell:, p. 31-37, 1988.
Knivsberg A-M et al. Dietary intervention in autistic syndromes. Brain Dysfunction,
v.3, p.315- 27, 1990.
O'Reilly, B. A. and Waring. R.H. Enzyme and sulfur oxidation deficiencies in autistic
children with known food/chemical intolerances. Xenobiotica, v.20, p.117-122,
1990.
Panksepp, J. A neurochemical theory of autism. Trends in Neuroscience, v.2,
p.174-177, 1979.
Shattock, P. and Lowdon, G. Proteins, peptides and autism; Part 2: Implications for
the education and care of people with autism. Brain Dysfunction, v.4, p.323-
334, 1991.

Mensagem de P. Shattock sobre dieta


(30 de junho de 1994)

Essas idéias rodaram por aqui durante um certo tempo e


esperamos poder obter provas que as possam apoiar ou refutar. A
teoria do autismo pelo excesso de opióides e as teorias que vêm dela
são ainda especulativas. Existem evidências sugestivas a favor; a
base teórica é fundamentalmente razoável e o conceito global muito
sedutor. Entretanto isto não constitui uma prova.
Nossa pesquisa envolve a coleta de amostras de urina de uma
amostragem significativa de autistas e de vários grupos de controle.
As amostras serão divididas em três. Reichelt (na Noruega) utilizará

55
seus (dois) métodos (baseados nas peneiras moleculares e
imunoteste). Nós usaremos dois métodos completamente diferentes
(HPLC) e Eletroforese Capilar. Mike Gardner (em Bradford, Reino
Unido) utilizará um método cromatográfico completamente diferente.
Naturalmente, todas as análises serão realizadas às cegas em relação
aos diagnósticos clínicos. Nós todos estaremos procurando por
conteúdos anormais de peptídeos nas urinas. Ao todo, entretanto,
cinco métodos diferentes de análise serão utilizados. Pouca pesquisa
no campo do autismo foi feita com um estudo tão rigoroso.
O planejamento de uma pesquisa com cruzamento duplo às
cegas e que utiliza intervenção dietética apresenta dificuldades.
Realizar tal estudo com medidas significativas é ainda mais difícil.
Obter a aprovação ética para um estudo deste tipo, no qual autistas
devem comer dietas experimentais, deve ser problemático (pelo
menos deste lado), mas nós teremos finalmente que resolver estes
problemas. A opinião segundo a qual nenhuma terapia pode ser
verificada por provas científicas é característica do charlatão; isto não
é aceitável. Nós estamos obtendo constantemente apoio anedótico
para essas idéias e tentaremos de confirmá-las usando entrevistas (e
talvez análises de urina) nos meses que vêm.

História do filho Sam de Paul Shattock.

Meu filho Sam tem seis anos, e foi diagnosticado como PDDNOS
(autista) quando tinha três anos e meio. Nós pensamos que seu
desenvolvimento foi normal durante os 18 primeiros meses de sua
vida. Com dois anos e meio, Sam foi num programa de intervenção
precoce onde foi dito que ele tinha problemas de integração sensorial.
Com três anos, ele foi num turno por dia, numa escola maternal para
crianças com distúrbios múltiplos, e teve terapia particular de fala.
Apesar de ele ter com dois anos a fala apropriada para a idade de 13
meses, era muito aquém da fala de seus pares e era caracterizado
por uma elocução ecolálica (convenientemente colocada). Quando
Sam fez três anos e meio, seu pai estudou o DSMIII-R e realizou que
PDDNOS era o único diagnóstico adaptado a seu filho.
Depois de um neurologista ter confirmado o diagnóstico do meu
marido, nós procuramos uma avaliação educacional independente no
Instituto Eden em Princeton, New Jersey. Uma colocação mais
específica para o autismo foi recomendada, e Sam foi aceito no
Centro Douglass de Distúrbios do Desenvolvimento para o ano
seguinte. Entretanto nós tinhamos um verão para matar, e este verão

56
foi mesmo a morte. O comportamento de Sam passou a ser
impossível e, pela primeira vez, a agressão foi predominantemente
caracterizada. Eu suprimi os derivados do leite de sua dieta, a título
de experiência. As agressões diminuíram, apesar de continuar a ser
um problema significativo.
Sam se saiu muito bem na sua nova escola, e as técnicas de
modificação do comportamento (incluindo aversões suaves) foram
tentadas para eliminar seu comportamento agressivo. Cada uma
dessas intervenções comportamentais ajudaram por um tempo, mas
nada suprimiu o comportamento agressivo. Ultimamente, nós ficamos
preocupados com as técnicas de aversão e achamos que, de fato,
elas aumentavam o comportamento agressivo e, então, retiramos a
permissão para seu uso.
Em junho e julho de 1993, a agressividade de Sam aumentou de
repente. O número de agressões chegou a mais de 10 em um turno
de 5 horas na escola. Sem saber o que mais fazer, eu decidi mexer de
novo com a dieta de Sam. Escolhi retirar o trigo porque eu sabia que
é um alérgeno comum. Após cinco dias, as agressões de Sam
diminuíram drasticamente. Para o resto do ano escolar, suas
agressões eram, em média, 6,1 por dia. Durante seu mês de férias,
Sam não agrediu de jeito nenhum. Quando ele voltou à escola em
setembro, suas agressões diminuíram ainda mais, até, em média,
2,47 por dia durante os sete meses seguintes. Também, Sam
começou a falar sobre suas agressões. Mesmo quando ele perdia o
controle, ele agora podia me dizer "eu não quero bater ou chutar", e,
então, nós passamos a poder discutir seu comportamento com ele e
sugerir alternativas.
Em novembro de 1993, achei os artigos de Reichelt e de Shattock
e acreditei que era o glúten que provavelmente era significativo, em
vez do trigo. Eu passei a utilizar a aveia e a farinha de centeio, e
ambas estes cereais têm altos teores de glúten. A partir de novembro
de 1993, o glúten foi eliminado da dieta de Sam. Eu não vi as
mudanças imediatas que eu vi quando nós retiramos o trigo mas, com
certeza, sua progressão continuou.
Na primavera de 1994, Sam foi colocado numa estrita dieta
antilevedura com doses elevadas do remédio antifúngico Nistatina.
Disseram-nos que, se o tratamento era para ser benéfico, nós
veríamos no início uma regressão. Nós de fato vimos uma regressão
que durou 3 semanas e que foi seguida por uma melhoria lenta,
porém firme, na fala e no comportamento. Durante este período, as
agressões de Sam voltaram ao nível de antes da dieta. Desde então,

57
as agressões ficaram, em média, inferiores a 5 por dia. (A maior parte
do comportamento agressivo concentraram-se em dois diasdurante
este verão, Excluindo os dados desses dias, a média cai para 1,076
por dia).
Eu não tenho a pretensão de que a única coisa que ajudou o Sam
tenha sido sua dieta sem glúten. Ele esteve dois anos completos
numa excelente escola especial. Ele teve terapia de fala cada semana
desde a idade de 3 anos, terapia de integração sensorial desde a
idade de 4 anos, e ele usou óculos de prismas aparelhados ("yoke
prism glasses") durante um ano. Uma dose de 0,05 mg de clonidine
cada noite mantém seu nível de atividade na faixa normal.
De qualquer jeito, a mudança após a remoção do trigo é
incontestável, como a que aconteceu nas ocasiões nas quais ele
ingeriu glúten acidentalmente. Em quatro ocasiões diferentes, Sam
ingeriu glúten sem o nosso conhecimento, e as mudanças foram
rápidas e bastante nítidas. Em cada caso fomos capazes de
determinar o que causou a brusca e felizmente curta regressão.
Eu não posso estar segura do que mais ajudou o Sam.
Entretanto, uma vez que tenho o registro diário do seu
comportamento e muitas de suas expressões vocais, desde quando
ele tinha 3 anos, eu posso correlacionar as mudanças com
intervenções particulares. Porque o autismo é um distúrbio de
etiologias múltiplas, é pouco provável que todos os autistas poderão
ser beneficiados com esta dieta. Eu acredito fortemente, entretanto,
que esta abordagem vale a pena ser tentada.
Uma vez que Sam respondeu tão bem a uma dieta sem glúten (e
muito reduzida em caseína), me sinto frustrada que muitos pais não
têm vontade de tentar esta dieta. Entretanto, eu também sei que tive
sorte. Meu filho não é exigente na comida e ele aceita os vários
substitutos que eu lhe ofereço. Ele pode agora monitorar sua própria
dieta até um certo ponto, recusando pão ou bolachas "comuns". Ele
também come uma grande variedade de alimentos, a maior parte
dela, sadia. Ele toma com pouca dificuldade os suplementos de
vitamina que eu lhe dou.
Para uma criança com uma dieta muito restritiva, eu começaria
com testes de laboratório para determinar se ele se beneficiará com a
dieta. Evidentemente, todos os pais de crianças com dietas muito
restritivas vão querer aumentar as escolhas de alimentos que a
criança aceitará. Entretanto, se os resultados positivos de testes
mostram que o glúten ou a caseína podem prejudicar o SNC (Sistema
Nervoso Central), a mudança de dieta é crucialmente importante.

58
Mesmo para crianças que aceitam voluntariamente os substitutos do
trigo e do leite, estes testes representam uma primeira etapa
conveniente. Os testes não serão mais válidos depois de o glúten e/ou
a caseína terem sido removidos da dieta da criança por qualquer
intervalo de tempo.
Nota final: O doutor que prescreveu o programa antilevedura para
Sam, o Dr. Sidney Baker de Weston, Connecticut, USA, pediu
também extensivas análises de sangue, urina, saliva e fezes.
Enquanto que a maior parte era normal, Sam era deficiente em oito
aminoácidos. Ele era seriamente deficiente em cinco deles e com
zinco baixo. Seguindo a recomendação do Dr. Baker, Sam tomava
cada dia: composto de vitaminas SuperNuThera, L-lisina, zinco e
glutathione reduzido.

A história de Jake

Jake nasceu quando Sam tinha três anos e nós observamos com
cuidado seu desenvolvimento. Quando Jake fez 9 meses, nós
começamos a ficar muito preocupados. Ele mostrava pouco
desenvolvimento pré-verbal. Ele não tentava balbuciar e emitia muito
poucos sons. Na mesma época, o pediatra disse que ele estava
pronto para o leite. O leite de vaca pareceu provocar uma mudança
imediata no Jake. Ele passou a exigir atenção e tinha mais
desarranjos de estômago. Eu voltei imediatamente na loja para
comprar substituto do leite ("formula"). Então num momento que
retrospectivamente parece como uma iluminação, no lugar comprei
leite de soja ("soy formula"). Em dois dias, Jake ficou mais feliz do
que ele jamais foi. Em três dias, ele dizia "mamamamam" "dadadada"
etc. No seu primeiro aniversário, Jake tinha aproximadamente 10
palavras; com 15 meses, ele tinha 200; com 18 meses, ele falava com
frases. Ele continua a se desenvolver como um menino
inacreditavelmente imaginativo e verbalmente precoce. Além da
alegria que ele trouxe a seus pais, ele é o melhor "terapeuta" que Sam
jamais teve! Será que eu o salvei do autismo? Ou de qualquer outro
distúrbio do desenvolvimento? Eu jamais saberei.

59
Análise dos peptídeos urinários

Uma vez que a modificação da dieta é muito menos invasiva ou


prejudicial que a maior parte das intervenções, experimentar este
método pareceria lógico. Muitas crianças autistas, entretanto, têm
hábitos alimentares tão esquisitos que a idéia de retirar qualquer coisa
de seu repertório de comidas mete medo no coração de seus pais.
Por esta razão, alguns preferem realizar análise da urina de suas
crianças para a presença de peptídeos urinários achados por Reichelt
e outros. Se nenhum peptídeo é achado, é improvável que a dieta
ajude a criança. De qualquer jeito, se os peptídeos estão presentes e
escapam do intestino para a corrente sangüínea, acredita-se que eles
podem "imitar" neurotransmissores e então provocar a confusão dos
sinais sensoriais.
Há apenas um laboratório nos Estados Unidos (que eu saiba) que
realiza esta análise. Porque esta faz parte da pesquisa do laboratório,
não há despesa para o teste. As instruções para a amostragem e o
envio podem ser obtidos chamando o Dr. Robert Cade na
Universidade da Flórida em Gainesville. Seu assistente, Malcom
Privette pode ser achado no (001)904-392-8952. O Dr. Cade não se
interessa especificamente na intolerância do glúten nos autistas, mas
parece querer testar amostras de vários autistas. Se o teste dos
peptídeos urinários é positivo, você ainda não saberá se o problema é
a caseína ou o glúten (ou os dois). O Dr. Cade pede que os
participantes façam também uma análise de sangue (por um outro
laboratório e ao custo de US$50) que deveria determinar qual proteína
é problemática. O Sr. Privette pode lhe dar esta informação também.
O soro do sangue é testado para os anticorpos IgA e IgG para as
seguintes proteínas: gliadina, glúten, lactalbumina, beta-
lactoglobulina, caseína e ovalbumina. Se você já tentou a dieta, você
não apreenderá nada de significativo do teste da urina. Pela
eliminação do glúten e da caseína da dieta da criança, você retirou a
fontes dos peptídeos. Pode se tomar muito tempo para voltar aos
valores dos níveis pré-dieta (linha de base), e isto não é aconselhável,
especialmente se a dieta mostrou-se benéfica.

Teste para a doença celíaca

"A doença celíaca (CD) (também conhecida como enteropatia de


sensibilidade ao glúten) é uma doença crônica na qual a má absorção
dos alimentos é causada por uma lesão característica da mucosa do

60
intestino fino. A lesão é produzida, através de mecanismos não claros,
por constituintes protéicos de algumas sementes de cereais". (J.S.
Trier, 1993) Tradicionalmente, os médicos suspeitaram a CD apenas
em pacientes com crescimento reduzido, problemas gastrintestinais
extremos e fezes gordurosas. É conhecido agora que muitos
pacientes com uma sensibilidade ao glúten bastante séria para
danificar a parede do intestino não mostram tais sintomas!
Nos pacientes com CD, a parede intestinal é extremamente
porosa; não apenas os nutrientes são inadequadamente absorvidos,
mas as moléculas grandes que deveriam estar contidas pela parede
intestinal, não o estão. Isto pode ser o caminho pelo qual peptídeos
inadequadamente digeridos passam para corrente sangüínea e, então,
atravessam a barreira sangue-cérebro. Por isto, a suspeita de que a
CD está presente em algumas crianças autistas que se beneficiariam
de uma dieta sem glúten, não é inconsistente com a teoria do excesso
de opióides de Reichelt e Shattock.
Vários especialistas em autismo parecem ter rejeitado, há muito
tempo, a idéia do que o glúten pudesse se um fator causal
significativo. Entretanto, o glúten existe como "ingrediente escondido"
em muitas comidas, remédios e até nas cola dos envelopes que
lambemos. É possível que crianças autistas, colocadas numa
chamada dieta sem glúten, tenham ingerido por inadvertência glúten
em quantidades muito pequenas. Para as pessoas com doença
celíaca completamente detonada, quantidade muito pequenas podem
ser tóxicas.

Deficiência de sulfur-transferase

Estudos preliminares de Rosemary Waring, da Universidade de


Birmingham, Reino Unido, sugerem uma anormalidade no sistema
"sulfur-transferase" nas pessoas com autismo.
Não conheço nenhum laboratório neste país (nos Estados Unidos)
que teste a "sulfur-transferase". Tampouco não existe qualquer
tratamento padrão, recomendado.
Apesar de não poder ser provado ainda, tem boa evidência que a
dieta que elimina o glúten e/ou a caseína pode ser verdadeiramente
benéfica. Num manuscrito não publicado, Waring e Reichelt (1993)
disseram: "Nós pensamos que os peptídeos evidenciados podem ser
o ponto chave da etiologia da doença. As exorfinas não aumentam
apenas o isolamento social. mas podem causar inibição do
amadurecimento do Sistema Nervoso Central. Uma outra observação

61
é igualmente interessante: porque a maior parte dos peptídeos
bioativos são achados em diferentes comprimentos de cadeias, mas
com atividade similar, defeitos de peptidases diferentes causariam
perfis de sintomas e perfis de peptídeos semelhantes porém não
idênticos".
Eles acreditam que isto indica que tais "peptídeos efetivantes"
seriam o "caminho final comum a diferentes subtipos clínicos que
envolvem diferentes comprimentos de peptídeos. Isto sugere também
que outras doenças podem exibir sintomas autísticos se os peptídeos
são envolvidos, como é observado na doença celíaca”.

Produtos sem glúten e caseína, e fornecedores


ou como alimentar sua família sem pirar.

Diversifique a dieta com idéias de outras culinárias étnicas que


dependem do arroz. Entre numa biblioteca e consulte os livros de
cozinha chinesa, japonesa e indiana (você sabia que a maior parte
das bibliotecas públicas tem coleções de livros de cozinha?). Mesmo
os alimentos habituais, como o arroz, são preparados de maneiras
bem diferentes em outras culturas. O risoto é uma mudança deliciosa
em relação ao arroz branco. Consulte alguns livros sobre a comida
mexicana, onde milho e arroz juntos com feijão podem ser usados
para criar pratos nutritivos que não contêm trigo. Aprenda a engrossar
molhos com farinha de arroz achada em lojas asiáticas e "marinades"
utilizando molho de soja sem trigo (lojas de alimentos
dietéticos/naturais). Aprenda sobre muitos usos do tofu e de seus
derivados. Massas de vários formatos são feitas com milho e arroz e
podem ser achadas nas lojas de alimentos dietéticos/naturais.
Você sabia que podia fazer um delicioso "gratiné" com
espaguete? Faça-o com espaguete de milho, cozinhando apenas "al
dente". Acrescente ovos batidos, misture bem e coloque num prato
para ir ao forno. Recheie com o que você quiser, carne assada com
molho "marinara" é ótima, e asse no forno.
As "batatas fritas" de marca Pringles eram sem problema, mas
elas são feitas agora com amido de trigo.

62
Referências e algumas receitas

Os dois livros escritos por Bette Hagman, "The Gluten Free


Gourmet" e "More From the Gluten Free Gourmet" publicados por
Holt, são excelentes. Cada um tem mais de 200 receitas sem glúten
para pão, bolachas, pizza, torta de frango etc. Eles são também
cheios de conselhos sobre como adaptar receitas comuns e o que
usar como substitutos. O segundo tem muitas receitas de pão
especialmente adaptadas para as máquinas atuais de fazer pão. Se
você achar tempo para fazer o pão, não será um castigo ele ser sem
glúten. Os pães comprados na loja são apenas aceitáveis, mas os
feitos em casa são muito bons.
"Allergy Cooking With Ease" de Nicolette Dumke e "The Allergy
Self-Help Cookbook" de Marjorie Hurt Jones, publicados por Rodale
Press são também úteis. Uma vez que as pessoas com dietas com
restrição de leveduras são aconselhadas a retirar também o glúten,
"The Candida Control Cookbook", de Gail Burton, é uma boa fonte de
receitas.
"The Practical Gluten-Free Cookbook" de Arlene Stetzer é
disponível nos Main Street Systems (Estados Unidos) 001(608) 534-
6730. "No-Gluten Children's Cookbook" de Pat Cassidy ($25.50) , RAE
Publications, PO Box 731, Brush Prairie, WA 98606, Estados Unidos.

63
Dieta Recomendada:
Controle de
candida albicans
(sapinho)

por Sandra Leahy


(1994)

A Candida é um fungo encontrado no trato gastrointestinal. Ela


prospera a partir dos açúcares, dos carboidratos refinados e dos
alimentos com glúten. Ela é normalmente controlada pela presença
no intestino de fungos benéficos e de bactérias que ajudam à digestão
de nossa ração diária. Tratamentos por antibióticos, infecções
gastrointestinais e uma dieta prolongada de carboidratos refinados
pode destruir o equilíbrio normal da flora intestinal e produzir um
excesso de Candida albicans.
O excesso prolongado de Candida pode comprometer a saúde e
predispor a muitos problemas que incluem:
- Resposta imunológica enfraquecida e susceptibilidade para
desenvolver infecções recorrentes.
- Flutuações nos níveis de açúcar no sangue, que fazem com que
a pessoa se sinta cansada, com tonturas e ansiosa para comer
alimentos doces.
- Indigestão com bastante arrotos e desconforto abdominal.
- Coceira vaginal e/ou anal, e infecção por sapinho nesta região.

A finalidade da dieta é de fazer a Candida "morrer de fome" por


falta de sua fonte de alimentação, e promover o crescimento de flora
intestinal saudável.

64
É recomendado seguir a dieta tão rigorosamente quanto possível
durante 2 a 3 semanas e então reintroduzir progressivamente alguns
alimentos e monitorar a reação a estes alimentos. Qualquer alimento
que não produz a volta dos sintomas pode ser ingerido com
moderação e os que causam a reincidência devem ser evitados a
maior parte do tempo. A severidade da infecção pela Candida deve
determinar a severidade e a duração da manutenção da dieta.

Alimentos que devem ser evitados:

- Carboidratos refinados.
- Todos os açúcares, as farinhas (farinha de trigo, "do reino"),
bolos, bolachas, refrigerantes, sucos de frutos de garrafa, de lata ou
de caixinha, pirulitos, chocolate, molho de tomate, sorvetes.
- Todos os produtos feitos com leveduras: pão, bolos de massa e
produtos de extratos de leveduras, molho de soja.
- Produtos de fermentação: vinho, cerveja, vinagre de malte,
picles.
- Frutos secos, por causa do seu teor elevado de açúcar e
tendência à presença de mofo na sua superfície.
- Pasta de amendoim industrializada freqüentemente feita com
adição de açúcar.
- Carnes defumadas como salame, que atraem mofo.
- Melões que reconhecidamente agravam os sintomas da
Candida.
- Queijos, por serem fabricados com fungos e bactérias que
encorajem o desenvolvimento da Candida.
- Iogurtes com sabor, por ter adição de açúcar.
- Derivados do leite em geral, em particular no início da dieta.

Alimentos que podem ser comidos:

- Peixe fresco, frango, ovos e carne (esta última,


moderadamente).
- Todas as verduras.
- Feijão, lentilha, moyashi, sementes e nozes.
- Iogurte simples rico em acidophillus/lactobacillus.
- Arroz, milho, trigo-mouro, painço .
- "Ryvita" e alguns biscoitos "'água e sal" e pães, feitos sem
levedura, que podem substituir o pão comum.

65
- Água de coco não industrializada e carne do coco, rica(s) em
ácido caprílico que inibe o crescimento da Candida.
- Alho e gengibre, que são alimentos antifúngicos.
- Óleos virgens, espremidos a frio (suco de limão, azeite
doce/óleo de oliva e "cheiro verde" picado representam um
maravilhoso substituto dos molhos de salada industrializados).
- Frutos frescos, com a condição de terem sido muito bem
lavados antes.

Beber todo dia muita água tratada para ajudar o corpo a


eliminar as toxinas que resultam da eliminação da cândida
Certificar-se de que se tem evacuação do intestino PELO MENOS
uma vez por dia, para jogar fora todos os resíduos indesejáveis no
intestino.
Existem remédios de ervas ["fitoremédios"] e homeopáticos
disponíveis que ajudarão e darão apoio ao corpo para ganhar a
batalha contra a Candida. Discutir este assunto com o médico.
A finalidade desta dieta é eliminar a infecção pela , mas
depende da pessoa observar um estilo de vida e hábitos alimentares
que garantam que a reincidência não acontecerá.

TUDO BEM !

Informações para contato:

Practice of Wholistic Medicine [Prática da Medicina W'holística]


PO BOX 5, Yungaburra Qld 4872, Austrália
Tel: 0061 70 911 775; Fax: 0061 70 953 832;
"Cairns" Tel: 0061 70 312 270
E-mail: wholemed@altnews.com.au
Copyright 1996 info@altnews.com.au

66
Parte 4
Consciência,
memória,
dependências:
fatores químicos

67
O homem é um animal evoluído porque possui individualmente
linguagem, consciência, memória… e a humanidade e os indivíduos
que a compõem são também considerados como evoluídos porque
possuem linguagem, memória, agricultura, tecnologia/engenharia,
consciência coletiva… Do ponto de vista do desenvolvimento
individual, a diferença entre uma pessoa (criança/homem/mulher) e
um recém nascido é que este último, apesar de já possuir até um
certo ponto, os mesmos órgãos e feições do que os seres adultos,
não adquiriu ainda os mecanismos/conhecimentos que lhe permitirão
mais tarde e aos poucos tornar-se evoluído e adequadamente inserido
na sociedade. Já foi reconhecido que entre a célula fecundada e o
indivíduo completo existe uma progressão/evolução que apresenta
semelhança com a evolução biológica à escala de milhões de anos. O
desenvolvimento psíquico da criança apresenta também uma
semelhança com o desenvolvimento da humanidade desde o homem
primitivo.
Quais são os processos e as etapas pelas quais o feto e o recém
nascido passam para adquirir o conhecimento e os mecanismos que
lhe permitirão sua inserção, boa na maior parte dos casos, na
sociedade?
Algumas observações nossas já poderiam ser aplicadas ao feto
no seu desenvolvimento físico e psíquico, mas para simplificar e
exemplificar, consideraremos o recém nascido. Ele tem que satisfazer
suas necessidades básicas (como dizem os especialistas em
Qualidade Total), em primeiro lugar respirar, o que ele não fazia antes
de nascer. O mecanismo é instintivo, quase que automático. A
transição entre o útero da mãe e o mundo exterior foi brutal, ele pode
sofrer e tem a possibilidade de reclamar e a obrigação de convencer
os presentes de sua existência como ser vivo e atrair a atenção pelos
clássicos choros.
Satisfação das necessidade básicas: choro, sede, fome, dores
(primeiras cólicas: instalação da flora intestinal que já mexe com o
cérebro pela sensação de dor, e isto é apenas o início). Em seguida,
conhecer e reconhecer o meio ambiente (os familiares, o berço, a
roupa, o quarto, o apartamento, a casa, a rua, o jardim etc.). Essa
noção lembra, para os especialistas a do reconhecimento das feições
amplamente usado na análise das imagens digitais, como, por
exemplo, no sensoriamento remoto. Mais tarde vem a aprendizagem
de palavras associadas a objetos/sensações e da própria linguagem
usando/brincando com as palavras, numa semântica e gramática
elementares. A linguagem primitiva é orientada para objetos, conceito

68
que a matemática computacional aplicou recentemente em relação a
linguagens de alto nível.
O reconhecimento das feições do meio ambiente próximo e das
pessoas representa a comparação das informações adquiridas pelos
sentidos, visão, tato etc. com a memória de informações adquiridas
anteriormente. Se há concordância, dentro de um padrão de
tolerância, a criança sente-se em confiança com o ambiente. Se há
uma certa discordância tolerável, a criança adapta a informação
memorizada, e isto representa uma certa aprendizagem, ou seja, um
aumento do conhecimento do meio ambiente. Se a discordância não é
tolerável, pelos critérios pessoais da criança, esta sente-se agredida e
reage de uma maneira ou outra, defende-se, fecha-se ou agride de
uma maneira ou outra. Este processo de reconhecimento corresponde
de uma certa maneira a uma tomada de consciência não formalizada.
Os animais devem ter mecanismos comparáveis a estes, como
podem atestar as pessoas que convivem com animais domésticos,
cachorros e gatos em particular. Ligando com um assunto tratado
também neste livro, é provável que os autistas tenham dificuldades
com este tipo de processos devido as distorções sofridas por eles nas
informações transmitidas dos órgãos dos sentidos até o cérebro, uma
vez que essas distorções prejudicam sobremaneira e
permanentemente o reconhecimento de feições do meio ambiente, o
que explicaria parte do comportamento deles em relação às pessoas e
aos objetos.
A consciência mais organizada e estruturada provavelmente
depende da linguagem. O pensamento é um processo mais “linear”,
isto é, é mais uma sucessão de processos elementares, do que uma
análise consciente global. Esses processos elementares, de uma
maneira ou outra, parecem apoiar-se, na conscientização das
palavras (chegada à memória “consciente”), cada uma com seu
significado memorizado, que vêm se “costurando” numa corrente
linear em frases, de acordo com a gramática da língua falada. Mais
uma vez, deve ser mencionada uma analogia com a computação:
existe uma analogia certa entre esta corrente de palavras e as
correntes de caracteres manipuladas pelo processador do
computador. Como é também mencionado neste livro, as
comparações entre computador, rede neural e cérebro são apenas
comparações para fins didáticos e não analogias estreitas. Porém a
familiaridade com os processos utilizados nos computadores e nas
linguagens computacionais pode ajudar a descrever qualitativamente
processos elementares do funcionamento do cérebro.

69
Todos somos dependentes de algo,
mas alguns o são mais do que outros…

A vida depende de insumos fundamentais. Nós, humanos, como


a maior parte dos animais, dependemos de alimentos, de água, de
calor, da luz. Dependemos de sexo como indivíduos e a humanidade
depende também da reprodução por via do sexo heterossexual para
sua perenidade. De certa maneira, na cidade, dependemos do
comércio de alimentação, da energia elétrica, dos transportes, da
televisão, dos médicos, de eletrodomésticos, do nosso trabalho
(pensar nos problemas dos desempregados), do dinheiro, dos bancos,
dos meios de comunicação (correio, telefone…) etc. Temos que
reconhecer que somos dependentes desses bens ou serviços, sem os
quais a vida não é possível, facilitada ou feliz. Somos dependentes
porque fomos treinados para isto. Até a mídia e a propaganda
contribuem para nos tornar dependentes dos bens de consumo e dos
serviços.
Mas existem também pessoas que são dependentes de drogas,
de bebida alcoólica, de chocolate etc. O consumo moderado de
bebida alcoólica é admitido, e até incentivado através da propaganda.
Os efeitos do consumo excessivo de bebida alcoólica traz efeitos
nocivos e é reprovado pela sociedade como um todo. Porém ele é
tolerado pela maior parte de seus membros, adictos ou não dessas
bebidas.
Existe a possibilidade dos dependentes químicos, das drogas ou
das bebidas alcoólicas, se livrarem de suas dependências, dentro de
certos limites. Porém as estatísticas mostram que as chances de
recaída são grandes, devido ao grande poder de atração das drogas e
do álcool para os antigos dependentes. De certa maneira, e, em
certos casos oficialmente, o alcoolismo é considerado como sendo
uma doença. Os fatores de predisposição à dependência química não
são completamente conhecidos: fatores hereditários são considerados
importantes, fatores sociais também, incluindo as condições de vida
durante a infância, a falta de afeto, o abandono, a tendência à
depressão etc.
O cérebro funciona com estímulos de dois tipos: estímulos
elétricos, correntes elétricas variáveis e pulsos, evidenciados nos
exames de Eletroencefalografia (EEG) e estímulos químicos,
presentes nas comunicações entre sinapses dos neurônios. De uma
maneira simplificadora pode se dizer que os sinais elétricos são

70
locais/localizados e de natureza especializada/fina e os sinais
químicos são mais difusos, de maior alcance.
O estado geral da mente, bem estar, mal estar, enjôo etc. são
provavelmente associados a sinais químicos… São também
provavelmente estes sinais que regem o mal-estar associado à
síndrome de abstinência e que levam o indivíduo, para sair desse
mal-estar, a tomar uma nova dose da droga ou da bebida alcoólica. A
predisposição pode ser um processo que acontece durante a infância
quando, no trato digestivo, existe a produção de substâncias
entorpecentes, como álcool e semelhantes, como peptídeos de
degradação inadequada das proteínas ou permeabilidade excessiva
do intestino a estas substâncias presentes naturalmente ou por
infecção no intestino.
Assim, um possível fator de predisposição à dependência química
que praticamente não é reconhecido pode ser a existência no corpo
da criança de substâncias de efeitos semelhantes aos dos
entorpecentes. Fora e dentro do corpo, certas leveduras podem
transformar açúcares em álcool, ou gerar peptídeos, produtos de
degradação das proteínas semelhantes às endorfinas. Álcool,
peptídeos, endorfinas e com certeza muitos outros podem ter efeitos
visíveis e levar a um comportamento anormal da criança, como, por
exemplo, no caso do autismo. Em outros casos, a criança aprende, de
uma maneira ou outra, a conviver com essas substâncias e seus
efeitos, mas ao crescer, e se a produção dessas substâncias passa a
ser insuficiente, por exemplo por mudanças hormonais no
crescimento ou mudança de dieta, o adolescente ou o adulto poderá
inconscientemente, diante das manifestações de uma síndrome de
abstinência, procurar restabelecer o abastecimento dessas
substâncias ou de equivalentes através do uso, e mais tarde, do
abuso, de bebidas alcoólicas ou de entorpecentes.
Essa observação não deve ser entendida como uma desculpa
para os adictos de bebidas alcoólicas ou de entorpecente. Ela deve
ser entendida como a sugestão de um possível fator ou mecanismo
para o início das dependências químicas. Se isso pode explicar parte
ou totalidade das dependências químicas, não podemos responder
agora. Mas existe a possibilidade de esta pergunta ser respondida um
dia. Este dia pode não estar tão longe se a sociedade decidir e aceitar
fazer esforços para desenvolver pesquisas orientadas para este
assunto. Não é necessário explicar porque vale a pena sugerir e
realizar tais pesquisas: se os mecanismos sugeridos acontecem, e
acreditamos que eles acontecem, haveria a possibilidade de

71
intervenção neles e de diminuir, talvez até suprimir, as dependências
químicas e através disto, de livrar a humanidade, de muitos dos
males e gastos associados a elas.
Para reforçar o argumento a favor da pesquisa sobre as possíveis
causas bioquímicas das dependências químicas, podem ser citados
alguns dos prejuízos causados por elas: dissolução das famílias dos
envolvidos; acidentes de tráfego e de trabalho; ausências e baixo
rendimento no trabalho; violência; mortes prematuras por suicídio ou
assassinato; disseminação de doenças; corrupção e ganhos ilícitos
associados à produção e ao comércio dos entorpecentes; custos
elevados de saúde pública; infelicidade associada a todos os prejuízos
citados etc.

Um futuro sem neurose e sem dependência?

Essa idéia merece algumas explicações: por futuro, entende-se


futuro da humanidade, do gênero humano, num sentido bem coletivo,
uma vez que o assunto passa da aplicação para a saúde pública de
observações de casos individuais e de grupos maiores com o devido e
necessário envolvimento dos poderes públicos, da classe médica e
das indústrias farmacêuticas. Por neurose, entendem-se distúrbios da
mente, talvez mais do lado neurológico que envolve as relações
causais bioquímicas e biofísicas do que do lado da psiquiatria. Por
dependência, entendem-se todos os tipos de dependências químicas
que envolvem o uso descontrolado de entorpecentes de qualquer
natureza, incluindo até o consumo exagerado de bebidas alcoólicas.
Este livro não pretende fazer uma demonstração das teses
defendidas nem dar receitas prontas e universais para eliminar
distúrbios mentais e dependências químicas. Que o leitor perdoe a
brincadeira: isto seria uma loucura. Este livro visa sugerir e divulgar
relações entre processos biológicos que envolvem os distúrbios
neurológicos/mentais, as dependências químicas e certas infecções.
Ele pretende abrir um caminho no qual mais pesquisas deverão ser
feitas sobre essas relações. Uma das importantes finalidades dessas
pesquisas é, evidentemente, criar condições nas quais as pessoas, e
portanto a humanidade, se veriam livres de grande parte dos males
citados. Nem de todos evidentemente. Cura ou prevenção? Tentar
achar meios de curar é um grande alvo, porém difícil, e ninguém deve
dar falsas esperanças. Prevenir é provavelmente mais ambicioso e
demorado, porém, possivelmente mais fácil de se alcançar. Mas é um
alvo à escala de tempo relativamente grande, anos e talvez décadas.

72
Mas vale a pena tentar, na base das evidências que este livro
pretende mostrar.

Medidas preventivas individuais para prevenir infecções,


neuropatologias e dependências.

Antes de tudo, prevenir. Por isto lutar a todos os níveis para


eliminação da candidíase, particularmente em mulheres em idade
reprodutiva e grávidas. Maiores precauções no parto para evitar a
contaminação da mãe para o recém nascido (limpeza do recém
nascido, em particular da boca para evitar a ingestão de resíduos de
sangue maternal). Verificar se entre as componentes da infecção
hospitalar não há leveduras, candida etc.
Pode-se tentar melhorar as condições dos autistas através da
aplicação de dietas adequadas para eliminação da candidíase,
combinadas com o uso de remédios (Nistatina). Mas existe um forte
efeito de abstinência. Portanto pode haver mais efetividade pela
prevenção das neuropatologias que podem ter fatores metabólicos em
suas etiologias.
Observações semelhantes podem se aplicar ao caso das
dependências químicas: prevenir parece mais promissor do que tentar
curar (se a cura das dependências fosse fácil, teria sido descoberta há
tempo). Mais pesquisas são necessárias para ambos os casos.

Medidas preventivas coletivas para prevenir infecções,


neuropatologias e dependências.

Existem maneiras de passar da prevenção individual à prevenção


a nível de sociedade/ humanidade. Se as vacinações são obrigatórias,
porque não o seriam as medidas de prevenção contra dependências
químicas e problemas mentais? Seria possível realizar campanhas de
intervenção em saúde pública: Exames quantitativos de presença de
Candida albicans para mulheres em idade reprodutiva e para crianças
recém nascidas. Poderia se recomendar a eliminação da Candida
albicans com Nistatina e dietas adequadas (Recomendações gerais
visando mudança de hábitos alimentares com a adoção de dietas
adequadas).
Será ousadia demais falar de medidas preventivas coletivas
contra as dependências químicas, que seriam o equivalente das
vacinações contra as doenças infecciosas?

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74
Bibliografia recomendada
Atkins, Robert C. Candidiasis - Potentially Crippling Complication.
Six alternative treatments your doctor won't tell you about. Agora
Publications, 1996.
Atkins, Robert C. Probiotics fight antibiotics overkill (Candida
albicans). Health Revelations (Agora Publications), Vol. iV, Nr. 2, p. 4,
Feb. 1996.
Atkins, Robert C. Lifting the shroud of brain (Candida albicans).
Health Revelations (Agora Publications), Vol. iV, Nr. 4, p. 2, Apr.
1996.
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros Atrasos do
Desenvolvimento. Brasília. Coordenadoria Nacional para Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, 1993.
Kovács, Zsolt L. O Cérebro e sua Mente. Uma Introdução à
Neurociência Computacional. São Paulo: Edição Acadêmica, 1997.
Nordemann, D.J.R.; Caracas, J.A. Efeitos alucinógenos na
percepção do autista. I Jornada Paulista sobre Distúrbios do
Desenvolvimento; III Encontro de Amigos do Autista. São Bernardo do
Campo, SP, Out. 1996.
Préfaut, J.-M. Maman, pas l'hôpital!. Paris, Robert Laffont, 1997.
Rocha, P. P. A Saga do Autismo. Rio de Janeiro: Editora
LELU/APARJ, 1991.
Sacks, O. Enxaqueca. Cia. das Letras, 1970.
Sacks, O. O Tempo de Despertar. Cia. das Letras, 1974.
Sacks, O. Um Antropólogo em Marte. Cia. das Letras, 1995.
Sacks, O. A Ilha dos Daltônicos. Cia. das Letras, 1996.
Schützer Del Nero, H. O Sítio da Mente. Pensamento, Emoção e
vontade no Cérebro Humano. São Paulo: Collegium Cognitio, 1997.
Schartzman, J.S. Autismo infantil. Brasília, Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência -
CORDE, 1994.
Schartzman, J.S.; Assumpção Jr, F.B. e colaboradores. Autismo
infantil. São Paulo, Memnon Edições Científicas, 1995.
Werner D. Onde não há Médico. São Paulo. Edições Paulinas,
1981.
Zehentbauer, J. Drogas Endógenas. Buenos Aires: Ediciones
Obelisco, 1995.

75
Alimentos, elementos e
substâncias envolvidas
Acetona (CH3 CO CH3): sua presença em excesso no organismo chama-se
acetonúria e é um distúrbio grave do metabolismo.
Açúcar: Ver sacarose.
Álcool (C2H5 OH) Produto da fermentação do açúcar por uma levedura (Cerevisae
saccharomycete). Está presente nas bebidas chamadas bebidas alcoólicas.
O abuso faz muito mal ao organismo (cirrose do fígado) e a mente (delírio).
Alimentos e alergias alimentares. Exemplos: Alergia ao leite (caseína) que talvez
leva a diabetes e alergia ao trigo (glúten).
Amoníaco (NH4 OH): sua presença em excesso no organismo chama-se
hiperamoníase e é um distúrbio grave do metabolismo provavelmente envolvido
na síndrome de Rett.
Antibióticos: Não abuse; Se for possível não use; Não se medique sozinho.
Cacau: matéria prima do chocolate extraída do fruto do cacaueiro (Theobroma
cacau)
Cafeína: substância excitante presente no café e chá da Índia. É a cafeína que é
responsável por tirar o sono de quem bebe muito café.
Café: bebida feita a partir das sementes torradas e moídas do cafeeiro (Coffea
arabica). O café contém cafeína. A variedade C. arabica mais produzida na
América Latina contém menos cafeína e menos sódio que a variedade C.
robusta produzida na África.
Canditoxina: Toxina gerada pela levedura Candida albicans (Candidíase)
Carboidrato: Genericamente, todos os compostos de carbono, hidrogênio e
oxigênio como glicose, sacarose etc. (os açúcares)
Caseína: proteína do leite
Chá: bebida feita pela infusão em água quente de folhas de várias plantas. O chá
da Índia é feito com folhas do arbusto Camellia sinensis da família Theaceae.
O chá contém cafeína.
Chocolate: Coisa gostosa de se comer. Foi descoberto recentemente que certa
proteína presente no chocolate é bem semelhante a uma que se encontra na
maconha. Observar que existem viciados e viciadas no chocolate. História a
seguir.
Coca: Arbusto; de suas folhas é extraída a cocaína.
Coca-Cola: A bebida gaseificada Coca-Cola não contém mais extrato de folhas de
coca. Entretanto, ela contém cafeína.

76
Cocaína: Alcalóide branco ou incolor extraído das folhas da planta coca. Provoca
euforia e cria dependência com fortes sintomas de abstinência.
Crack: Derivado da cocaína com maiores efeitos devastadores.
Dextrose: Açúcar em C6 cuja solução na água tem poder rotatório a direita para a
luz polarizada.
Droga: Significa tanto remédio quanto entorpecente; este último sentido é o que
prevalece hoje em dia.
Endorfinas: proteínas envolvidas nos mecanismo químicos de transmissão entre
neurônios. A produção de endorfinas é envolvida nos efeito
entorpecentes/analgésicos dos exercícios físicos intensos (malhação com
mais de 3 horas por dia; superar a dor nas provas de atletismo).
Entorpecentes. Exemplos: cocaína, morfina, anfetaminas, canabina, produtos
derivados de cogumelos (peyoltl), Santo Daime, casca de banana ("Fly
National"). Reconhecer a dualidade de efeitos: - os de efeitos
rebaixadores/tranqüilizadores de atividade cerebral: funções estabilizadores e
de agüentar a sociedade. Uso de beta-bloqueadores pelos assaltantes; - os de
efeitos elevadores de atividade cerebral: Ajuda para escapar dos limites; ficar
"alto"; aumento correlato da delinqüência.
Ergotoxina: proteína presente no joio e responsável pelos envenenamentos
causados pela ingestão acidental de joio quando presente ao lado do trigo.
Excitantes. Exemplos: cafeína (no café e no chá preto), teobromina (no chocolate)
Ferro (Fe). O exemplo do ferro no organismo é bastante interessante. Ele é
necessário à vida, sendo um dos componentes essenciais da hemoglobina.
Antes de examinar os possíveis efeitos de um excesso de ferro nos
organismos, gostaria de lembrar uma importante hipótese sobre a
produtividade de biomassa dos oceanos. A cadeia alimentar no oceano vai dos
organismos menores que constituem o plâncton até os peixes e mamíferos
maiores, cada espécie alimentando-se em geral de organismos menores. Por
sua vez o plâncton alimenta-se dos resíduos dos organismos maiores, num
exemplo característico de reciclagem natural. Os fatores físicos como
temperaturas, circulações oceânicas, têm grande importância na produtividade
de biomassa e portanto das abundâncias nas diversas espécies. O ferro foi
citado como um importante fator químico da regulação da produtividade
primária ao nível do plâncton, e, em particular, o ferro de origem cósmica,
oriundo de micrometeoritos e da ablação de meteoritos maiores. O efeito dos
enxames de meteoros pode ter um efeito que se acrescenta ao efeito sazonal,
e a abundância relativa entre anos diferentes pode desencadear variações
importantes na produtividade global do oceano. Nos mamíferos e nos
pássaros, o ferro é um constituinte básico dos glóbulos vermelhos, as
hemácias que transportam o oxigeno dos pulmões até os órgãos e os
músculos. A falta de ferro gera a conhecida anemia. Pesquisas recentes
indicam que o ferro tem um papel importante na oxidação do colesterol, na
hipertensão arterial e no diabetes. Uma pesquisa feita na Finlândia por J.
Salonen sobre 1900 homens entre 42 e 60 anos mostrou que os indivíduos
com maiores reservas de ferro tinham um risco de sofrer um enfarte duas

77
vezes maior do que nos outros. Poderia haver um papel do ferro no sentido de
contribuir ao depósito do colesterol nas artérias. Se este depósito de colesterol
é devido, mesmo que indiretamente, a uma infecção das paredes arteriais,
será que o ferro não estaria favorecendo a proliferação do organismo que é a
causa desta infecção?
Glicose (C6H12O6):carboidrato presente nas frutas
Glúten: proteína do trigo e responsável pela alergia ao trigo.
Leite: Alimento líquido produzido pelas fêmeas dos mamíferos. Contém água,
gordura, lactose (açúcar), proteína (caseína que pode provocar alergia em
certos casos).
Levedura: os fermentos naturais são leveduras assim com a Candida albicans
causadora da candidíase.
Levulose: Açúcar em C6 cuja solução na água tem poder rotatório a esquerda para
a luz polarizada.
Maconha (Canabis sativa): Erva que se fuma, com efeitos alucinógenos. Outros
nomes: cânhamo (fazem-se cordas de uso geral e para a marinha); marijuana
(espanhol); hemp (inglês); chanvre (francês). Certas pessoas consideram a
maconha como um entorpecente suave que não leva à dependência. Certos
recomendam o uso da maconha para minimizar a dor e abrir o apetite no caso
de pessoas com Aids (com a sabia recomendação de secar bem a erva no
forno antes para eliminar o mofo).
Morfina: derivado do ópio; efeitos analgésicos (suprime as dores) e gera euforia.
Entorpecente que altera profundamente a saúde mental.
Nistatina: antibiótico usado (por via oral e/ou em pomada) contra a Candida
albicans
Ópio: Substância extraída de frutos imaturos de papoulas (Papaver) e utilizada
como narcótico. Opiáceo ou opiato: medicamento que contém ópio ou um
derivado do ópio, cuja ação principal é aliviar a dor.
Opióide: Substância que possui atividade semelhante à do ópio mas não se deriva
deste.
Penicilina: antibiótico produzido naturalmente por fungos (Penicillium) ou por
síntese química. A penicilina (descoberta por Flemming em 1928) foi o
primeiro dos antibióticos a ser utilizado para fins terapêuticos.
Peptídeos: proteínas curtas de degradação das proteínas mais compridas. Os
peptídeos gerados por degradação incompleta das proteínas no trato digestivo
podem ser envolvidos nos efeitos alucinógenos sofridos pelos autistas
portadores de candidíase.
Sacarose (C12H22O11): constituinte principal do açúcar.
Tetraciclina (Tetracyclin): antibiótico de uso comum.
Uréia (NH2CONH2): composto de degradação normal das proteínas. A uréia é
eliminada pela urina.

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Impresso nas oficinas da
Gráfica Palas Atena

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