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© 1989 – Antônio Vera Ramirez
“El Animo del Kiai”
Tradução de Izabel Xrisô Baroni
Ilustração de Benicio
Colaboração de
Silvio Roberto Villar
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ESTE É O INICIO
Jerry Stack era um homem que dificilmente se sentia
aborrecido ou de mau humor, mas naquele momento estava
quase estourando e tudo por causa da senhorita Brigitte
Montfort, a jornalista mais famosa do mundo.
Claro que ele conhecia a senhorita Montfort, embora esta
não o conhecesse... Pudera, nunca fora um sujeito famoso
como ela. Agora, naquele leilão em Hong Kong a senhorita
Montfort estava rodeada de homens de várias
nacionalidades, todos eles procurando bajular a repórter.
Certamente eram colegas que a estavam protegendo durante
sua estada em Hong Kong, mas estava claro que todos se
sentiam enamorados por ela... Aliás, qual o homem que não
se apaixonaria por uma musa tão linda, de olhos azuis
imensos, boca vermelha como uma cereja madura e uma
covinha encantadora no queixo? Realmente era uma mulher
linda e simpática.
Isto é, fora simpática até momentos antes, quando ainda
não estava interessada por aquela katana. Interessado
também estava aquele milionário japonês que agora fazia
lances altíssimos para adquirir a katana, mas tinha elevado
suas ofertas por causa da senhorita Montfort que o
continuava provocando... Jerry Stack desistira de adquiri-la,
pois de maneira alguma poderia dar-se ao luxo de pagar
aquela fortuna por uma arma oriental... embora esta não
fosse uma katana qualquer.
Havia pertencido a um guerreiro samurai do século
XVIII, chamado Akiro Orosawa que depois de muitas lutas e
inumeráveis vitórias a serviço de seu daimio, amo e senhor,
chegou a conquistar por seus próprios méritos, valor e
inteligência a situação de daimio. Contava a lenda que teve a
seu serviço mais de cem samurais e que, como amo e senhor
sempre os havia dirigido com bondade... Maldita mulher!
Por que a senhorita Montfort tinha de estar disputando a
katana que ele tinha almejado possuir? Há muito tempo
vinha sonhando em ter a katana que fora do valoroso Akiro
Orosawa!
— Cinquenta mil dólares! — foi o lance máximo da
senhorita Montfort.
Jerry Stack teve ímpeto de se levantar e abandonar o
leilão que se realizava na Avenida Victoria de Hong Kong.
Por que havia viajado para adquiri-la? Inferno! Viajara para
ver a garota mimada da reportagem mundial mostrar a todos
que tinha dinheiro para satisfazer seus desejos frívolos e para
aborrecer alguém que desejava realizar o sonho de uma
vida...!
Bom, na verdade o japonês que se digladiara com ela
através dos lances também estava de cara fechada.
No final das contas, a senhorita Montfort era a nova
proprietária da katana, mas se ele perdera uma compra
durante o leilão, não devia escabelar-se, muito pior teria sido
se houvesse perdido a última competição de kendo... ou se
tivesse acontecido alguma coisa com sua esposa ou com o
filho que era a alegria de ambos.
E tinha mais, se fosse derrotado quando venceu, quando
lutou com garra e coragem para sair vitorioso naquela
ocasião... que talvez sempre fosse uma das mais importantes
de sua vida... sim, quando conseguiu derrotar alguém que se
dedicou a decepar cabeças...
CAPÍTULO PRIMEIRO
Quero ver o senhor Maeda

Era pouco mais de meio-dia quando o táxi parou na frente


do número 2.665 da Warren Boulevard, em Washington. O
passageiro pagou a corrida, saiu do carro e se encaminhou
para o edifício.
O recepcionista recebeu-o com indiferença, pois o tipo
altão, magro, elegante que tinha um olhar direto, inquisitivo
e sereno num rosto totalmente inexpressivo, não devia ser
uma pessoa importante.
Aproximou-se do balcão da recepção.
— Boa-tarde. O senhor Maeda mora aqui.
Não falou na forma interrogativa, mas como se estivesse
afirmando o que dizia. O recepcionista o fitou com mais
interesse.
— Morava — respondeu. — O senhor não soube do que
aconteceu? O senhor Maeda... está morto. Deceparam sua
cabeça.
A voz do informante chegou a estremecer, mas o recém-
chegado continuou imutável, sem nem sequer piscar um
olho.
— E o senhor Nakajima?
— Nakajima? Esse nome parece ser japonês, não é?
— Sim.
— Aqui só havia um inquilino japonês e este era o senhor
Maeda. O senhor não leu nos jornais... o que aconteceu?
— Então é certo que o senhor Nakajima não vive aqui?
— Sim.
— Talvez o senhor o conheça. Ele e o senhor Maeda
eram muito amigos... O senhor Nakajima não costumava
visitá-lo, ou pelo menos, telefonar-lhe?
— O senhor Maeda não recebia visitas em seu
apartamento e quanto a chamadas telefônicas, estas são feitas
diretamente aos apartamentos e fogem de meu controle.
Nada posso lhe informar a respeito. O senhor é amigo do
senhor Maeda?
O homem tirou do bolso uma caderneta de notas e uma
caneta. Arrancou uma folha do caderno e escreveu alguma
coisa nela e em seguida a entregou ao recepcionista que leu:
Jerry Stack. Mayer Hotel, quarto 308.

— O senhor é Jerry Stack? — perguntou.


— Exatamente e vou pedir-lhe um obséquio, se for
possível, guarde meu nome e meu endereço em Washington.
Se o senhor Nakajima ou algum amigo dele vir aqui...
poderia ter a gentileza de lhe dar um recado: Pedir que me
telefone ou que me procure no hotel?
— Farei o que me pede. Foi algo incompreensível o que
aconteceu com o senhor Maeda... Era um homem muito fino,
muito educado e simpático, também era um homem culto e
as notícias que foram publicadas nos jornais esclareciam ser
um grande cientista e no seu enterro estiveram vários
professores, a maioria membros do Science Club, onde o
senhor Maeda era muito estimado. A voz do povo diz: Deus
os cria, eles se juntam.
— Sim — concordou Jerry Stack. — Obrigada por sua
atenção. Por acaso, poderia emprestar-me a lista telefônica?
— Claro — respondeu, entregando-lhe o catálogo.
Stack folheou-o com atenção e o devolveu.
— Novamente, muito obrigado. Adeus.
— Adeus.
Jerry Stack saiu e começou a caminhar até ver um taxi
livre. Chamou-o, entrou nele e deu o endereço do Science
Club que havia apanhado na lista telefônica. Vinte minutos
mais tarde o táxi parava diante de um edifício de dois
andares de linhas antigas, mas muito bem cuidado, com o
nome do clube afixado a parede, perto da porta, com letras
de metal que brilhavam sob os raios do sol.
Jerry Stack entrou no Science Club e sentiu o peso do
silêncio que contrastava com o barulho que havia na Virginia
Avenue. O vestíbulo era amplo, mas estava vazio naquele
momento, somente com duas poltronas, uma mesa e uma
porta à direita. Empurrou-a e entrou em uma saleta adornada
com quadros, um sofá, duas poltronas e... atrás da mesa
estava um homem que ergueu a cabeça ao vê-lo. Stack
aproximou-se.
— Gostaria de ver o senhor Maeda — pediu.
— O senhor Maeda não está mais aqui, ele faleceu —
disse o recepcionista do Science Club. — A notícia de sua
morte saiu em todos os jornais; sua morte teve grande
repercussão... O corpo do senhor Maeda foi encontrado, mas
sua cabeça desapareceu. O crime foi horripilante. Estranho
que o senhor não tivesse lido nada sobre o caso... Quando
entrou, até pensei que fosse um jornalista.
— Não, não... E o senhor Nakajima? Sabe se ele está no
clube?
— Não há nenhum sócio com este nome.
— Puxa! Que contrariedade. Tem certeza que Nakajima
não frequenta este clube? E pensar que fiz uma viagem
inutilmente. O senhor ficaria aborrecido se eu lhe pedisse
para confirmar. Se realmente ele não se encontra nesta sede?
Não é que eu duvide, que pense tenha falhado ao afirmar...
que Nakajima não é sócio, mas talvez embora não sendo
associado pode estar aqui visitando algum amigo...
— Posso chamar o senhor Nakajima pelo alto- falante. O
que deve dizer para avisar que o senhor o está procurando?
— Anuncie que Jerry Stack deseja vê-lo.
O recepcionista pegou o microfone que estava ligado a
todas as dependências do clube e avisou que o senhor Jerry
Stack solicitava ver o senhor Nakajima.
Cinco minutos mais tarde, Jerry Stack se deu por vencido.
Não, parecia que o senhor Nakajima não estava no clube e
nem parecia que houvesse algum sócio que o conhecesse.
Mais uma vez, Stack apanhou a caderneta de notas e
escreveu seu nome, endereço e depois entregou a folha ao
empregado da recepção do Science Club.
— Eu ficaria grato se continuasse chamando o senhor
Nakajima e em caso de encontrá-lo, que o senhor lhe
entregasse esta folha de papel com meu nome e endereço.
Não gostaria de perder minha viagem... Posso contar com
sua ajuda?
— Sem dúvida, senhor Stack.
— Muito obrigado.
Saiu do Science Club e apanhou outro táxi.
— Conhece alguma agência onde alugam carros? —
perguntou ao motorista.
— Sei de um lugar que é tão bom como muitos outros —
retrucou sorrindo, — mas nesta agência eu ganho uma
comissão por cada cliente que apresento. Isso lhe parece
mal?
— Absolutamente.
Quarenta minutos mais tarde, Jerry Stack estava dirigindo
um “Dodge”, modelo 75, de cor grená. Agora já se sentia
mais livre para percorrer toda a cidade de Washington, a fim
de procurar o senhor Nakajima, mas não foi isso o que
aconteceu. Saiu da agência e foi direto para o hotel, porque
não sabia o que mais poderia fazer para localizá-lo.
Deixou o carro no estacionamento do hotel, subiu para
seu quarto, fechou a porta à chave e abriu o armário. Dentro
deste havia somente uma mala de couro fina e elegante e um
estojo negro que media quase um metro de comprimento.
Stack apanhou a mala e a abriu em cima da cama.
Levantou a tampa e só apareceram jornais, vários jornais que
ele pôs em cima da mesa de cabeceira. Fechou-a novamente
e a guardou no armário, junto do estojo negro que tanto
poderia guardar uma flauta ou um telescópio.
Apanhou os jornais e foi sentar-se em uma poltrona que
estava ao lado da cama e começou a reler mais uma vez, as
notícias publicadas sobre o assassinato do cientista japonês
Teruhico Maeda, radicado há vários anos nos Estados
Unidos. Sabia que em nenhum jornal havia menção ao nome
de Nakajima. O que estava explicado de várias maneiras era
a morte de Teruhico Maeda. A notícia do assassinato de um
homem que apareceu decapitado, era por demais horripilante
e se tornava ainda mais horrível por ser esta a primeira vez
que ocorria nos Estados Unidos, porém nos últimos três
meses, outros homens tiveram mortes análogas: foram
assassinados com as cabeças mutiladas e os corpos
submersos em um mar de sangue. Todos os mortos tinham
algo em comum com Teruhico Maeda: eram mentalmente
excepcionais, com quocientes de inteligência elevada, cada
um deles dedicado a uma atividade, tal como política,
economia, medicina, investigações científicas... Os corpos
foram encontrados, mas suas cabeças não, nenhuma delas foi
achada.
Jerry Stack soltou os jornais, passou as mãos pelo rosto e
se esticou na cama. Não para descansar porque não estava
cansado, só queria pensar comodamente. Dificilmente
chegava a sentir cansaço.
Deitou-se e começou a repassar todo o assunto. O que
mais podia fazer se só dispunha daqueles dados? Solicitar a
colaboração da polícia no sentido de ser informado sobre os
resultados obtidos? Claro que não. Em primeiro lugar, a
polícia não iria colaborar com ele, e em segundo lugar, como
poderia solicitar informações se nem jornalista era? Só iria
chamar a atenção de todos sobre si e então, muitos outros
iam querer descobrir qual seu interesse para localizar
Nakajima... o qual ninguém parecia conhecer... Bem, isso
poderia até ser razoável, se se levasse em conta que talvez
Maeda somente tivesse falado dele com...
Pancadinhas suaves o fizeram cortar a sequência dos
pensamentos. Levantou-se e abriu a porta.
— Senhor Stack?
— Sim. Meu nome é Jerry Stack.
A moça era linda, abriu a bolsa a tiracolo que usava e
apanhou um estojo pequeno que abriu e o mostrou a Stack.
— Sou Sarah Bartow, sargento-detetive do Departamento
de Polícia. Permite que eu entre?
A estupefação do homem durou apenas um segundo, em
seguida afastou-se da porta para a sargento Sarah Bartow
poder entrar. Fechou a porta, sem tirar os olhos da mulher
que lhe sorria amigavelmente. Era linda...! Linda!
— É fácil deduzir-se que não reside em Washington
Stack.
— Não, mesmo.
Sarah Bartow olhava ao redor quando perguntou:
— O senhor conhece alguém nesta cidade?
— O que está acontecendo? — quase sorriu Jerry Stack.
— Eu cometi alguma infração, sargento?
— Creio que não.
— Então, qual é o motivo, desse interrogatório? Sou um
cidadão norte-americano que viaja por seu país. Não vai
querer que eu acredite que todos os forasteiros que chegam a
Washington são submetidos a interrogatório?
— Claro que não, senhor Stack, simplesmente porque
nem todos os forasteiros se interessam por Teruhico Maeda.
— Entendo... E até acho natural que a polícia mantivesse
sua casa sob constante vigilância.
— Certo, senhor Stack. E quem é o senhor Nakajima que
foi procurar no Science Club?
— Não pensei... Trabalha muito rápido, sargento.
— Procuramos trabalhar com a maior rapidez possível,
mas neste caso não conseguimos muita coisa. Imagine que o
senhor é nossa única pista e talvez esse senhor Nakajima se
transforme na próxima. E um japonês que ninguém nunca
ouviu falar ou viu, mas como o está procurando, pode...
— Infelizmente, eu tampouco conheço o senhor
Nakajima.
— Nesse caso, por que está tão interessado nele?
— Isso somente é de minha conta.
— Não gostaria de complicar sua vida, não é, senhor
Stack?
— Se for preciso, sim.
Sarah Bartow ficou surpresa com a resposta; geralmente
todos davam uma resposta negativa, pois poucas pessoas
gostariam de arranjar complicações.
— É bom ter cuidado. Posso conseguir uma ordem de
detenção e levá-lo para o Departamento a fim de ser
submetido a um interrogatório mais rígido.
— Posso antes lhe pedir dois favores, sargento?
— Sim.
— Primeiro, indique-me um bom advogado da cidade e
quando ele chegar, poderá dizer-lhe o motivo pelo qual estou
detido.
— O senhor é um homem bastante irônico.
— Sou irônico, mas honrado. Deseja mais alguma coisa,
sargento?
— Posso solicitar informações sobre o senhor
diretamente em Los Angeles e poderei obter a resposta em
menos de duas horas.
— Sargento, cada um é dono de seu tempo. Tem telefone,
estou referindo-me a seu telefone particular.
— Claro que tenho.
— Gostaria que me desse o número e que também me
dissesse a que hora larga o plantão. Gostaria de convidá-la
para jantar.
Sarah Bartow o fitou com surpresa e em seguida, sorriu.
— Não deve abandonar a cidade, senhor Stack.
— Pensei que me fosse dar o número do telefone.
— Não terá dificuldade em encontrá-lo, isto se realmente
desejar tê-lo. Está na lista telefônica e poderá pedi-lo no meu
Departamento.
— Jamais eu teria pensado que fosse tão fácil.
— Isso somente porque o senhor gosta de complicar sua
vida.
— Talvez seja isso mesmo, sargento.
— Até a vista, senhor Stack.
— Até à noite, sargento.
Sarah Bartow saiu, fechando a porta. Jerry deitou-se
novamente, já não estava surpreso. Era natural que a polícia
estivesse vigilante, a fim de encontrar alguma possível pista
que esclarecesse a morte violenta que Teruhico Maeda
sofrera, ainda mais quando parecia não haver qualquer pista
positiva. O que também podia ser entendível: Maeda era um
japonês dedicado à ciência e não devia ter sido um homem
que perdesse seu tempo com diversões ou bate-papos com
amigos alheios a seus estudos científicos.
Jerry Stack levantou-se inopinadamente da cama; talvez
conseguisse alguma coisa no Centro Anatômico, onde
Maeda costumava passar a maior parte de seus dias
pesquisando. Não fora ao Centro de propósito, julgando que
a polícia o mantinha sob observação. Porém, os fatos
mudaram depois de ter recebido a visita do sargento Bartow.
Já não ia prorrogar sua ida ao Centro Anatômico..., talvez lá
conseguisse alguma informação sobre o invisível Nakajima
que devia ser outro japonês dedicado a estudos científicos.
“Se eu for agora mesmo, não darei tempo para a sargento
mobilizar seus homens que deverão ficar de tocaia vigiando
Jerry Stack. Preciso adiantar-me e andar depressa” —
pensou sorrindo.
Apanhou a lista de telefones que tinha no quarto e
procurou o número do Centro Anatômico. Ja discá-lo quando
sorriu e, novamente, folheou o catálogo procurando o
número de Sarah Bartow. Encontrou-o com facilidade.
Discou para o Centro Anatômico.
—...?
— Centro Anatômico?
—...!
— Boa-tarde. Estou tentando localizar o doutor
Nakajima, mas não o encontrei em sua residência. Seria
possível faiar com ele, por favor?
—...?
— Sim, espero. Obrigado.
Jerry ficou aguardando na linha e pensando que deveria
advertir Nakajima que a polícia já tinha conhecimento de sua
existência e que a bela sargento Bartow andava querendo
apanhá-lo com unhas e dentes...
—...?
— Sim, sim, diga-me.
—...
— Que pena — decepcionou-se Stack. — Eu tinha quase
certeza que iria encontrá-lo nesse Centro. Perdoe-me por ter
telefonado.
Desligou, deitou-se de novo e pôs as mãos sobre o ventre.
Suas mãos eram musculosas, mas também delicadas e seus
dedos eram longos. Tinha mãos que serviriam para um
estudo de anatomia muscular: perfeitas, fortes e bem
cuidadas.
As pálpebras se fecharam lentamente e ele adormeceu.
Dormiu por mais de duas horas e quando o telefone soou,
acordou sem sobressaltos e o atendeu.
— Sim?
—...?
— Sim, sou eu. Quem está falando?
—...?
— Lógico que me interessa.
—...
— Posso estar aí em meia hora, mais ou menos.
Desculpe-me se eu me atrasar por alguns minutos, não
conheço Washington muito bem.
—...
— Obrigado. Vou já para aí.
Desligou e ficou pensativo, depois abriu o armário e
apanhou o estojo comprido; abriu-o e ficou olhando o sabre
reluzente e ligeiramente encurvado, e uma bainha em
diagonal. Um sabre maciço, pesado, que no Japão era
denominado de katana.
Jerry Stack fechou o estojo, segurou-o pela alça e
abandonou o quarto que ocupava no Mayer Hotel

CAPÍTULO SEGUNDO
O encontro marcado

Primeiramente, procurou um mapa da cidade na portaria


do hotel e quando o recebeu, não encontrou com muita
facilidade o local onde a moça havia determinado que eles se
encontrariam. Estava curioso para conhecer a jovem de voz
muito doce e envolvente. Só esperava que ela fosse paciente
e compreensiva para aceitar seu atraso.
Finalmente, chegou ao lugar que achou fosse o
combinado para o encontro, uma estrada que corria paralela
ao Rio Potomac, apenas separada deste por uma faixa mais
ou menos larga de árvores.
Quando freou o “Dodge” já estava anoitecendo, mas pôde
ver perfeitamente o carro que estava parado no acostamento,
discretamente protegido sob algumas árvores copadas. No
céu, o insólito resplendor do sol que mais parecia despedir-se
das cerejeiras em flor.'
Jerry Stack desceu do carro depois de deixá-lo fora da
estrada. Olhou para as árvores floridas e pensou que jamais
veria outras cerejeiras tão lindas como as que vira no Japão.
— Senhor Stack? — perguntou uma voz de homem.
Olhou para o outro carro e viu o indivíduo parado perto
da porta. Acreditou que não houvesse mais ninguém no
interior daquele veículo. O outro fez sinal para aproximar-se,
Jerry apanhou o estojo de dentro do “Dodge” e caminhou
vagarosamente para onde ele estava. Reparou que o ruído
dos passos estavam amortecidos pelo solo arenoso.
— Sim, mas marquei encontro com...
— Ela o está esperando a margem do rio.
Jerry encolheu os ombros e ambos se encaminharam em
silêncio para o arvoredo. Enquanto caminhava, examinava o
sujeito disfarçadamente. Era de raça branca, alto, forte,
estava muito bem vestido e aparentava mais de trinta anos. À
medida que se aproximavam, o ruído das águas barulhentas
também ia aumentando.
Já estavam perto da margem do Potomac quando ele viu a
mulher sentada de costas, certamente contemplando a beleza
do rio. Somente quando estavam a poucos metros de
distância, ela se levantou e olhou para ambos.
Jerry Stack engoliu em seco. Devia ser jovem, tinha um
corpo perfeito, curvilíneo, uma voz cristalina e suave, mas
parecia não gostar de exibir sua beleza facial, pois o rosto
estava totalmente encoberto por uma máscara semelhante às
que os atores japoneses usavam ao se apresentarem no
Teatro Noh.
— Boa-tarde, senhor Stack — cumprimentou-o com voz
musical. — O senhor se atrasou mais do que eu podia
esperar.
— Lamento — respondeu, recobrando-te da surpresa. —
Cheguei a poucos dias da Califórnia e não conheço
Washington muito bem.
— O senhor fez uma viagem longa.
— Hoje em dia, os aviões resolvem esses pequenos
problemas.
— Claro. O senhor é amigo do doutor Maeda?
— De certo modo.
— O que significa esse de certo modo?
Jerry aproximou-se lentamente e percebeu que o sujeito
atlético o seguia, mas não estava preocupado com ele. Toda
sua atenção estava fixa na moça de máscara que cada vez,
parecia mais graciosa. Suas mãos eram lindas, brancas, de
uma delicadeza incrível, com as unhas pintadas de vermelho
intenso.
— O senhor Maeda era amigo de um amigo meu.
— E o senhor Nakajima?
— Este foi mencionado em uma carta que o senhor
Maeda escreveu a outro amigo que também é meu amigo.
— E quem é este amigo?
— Não gostaria de parecer grosseiro, mas me parece que
a senhorita já fez muitas perguntas, enquanto eu ainda não
fiz nenhuma.
— Nunca é tarde para começar — riu a moça.
— Começarei pela mais lógica: Quem é a senhorita?
— Pode chamar-me de Kami,
Jerry Stack contemplou suas mãos, os cabelos louros que
emolduravam a máscara e murmurou:
— Evidentemente, não é japonesa.
— Claro que não... Por que eu teria de ser japonesa?
— Poder-se-ia pensar fosse ao vê-la usando essa máscara.
Depois, seu nome é genuinamente japonês e não me parece
muito adequado a uma moça dos tempos atuais. Kami
significa Divindade.
— Não pensei que fosse um homem tão culto, senhor
Stack.
— Creio que e hora de se parar com tantos rodeios.
Senhorita; com quem estou falando?
— Já disse que pode chamar-me de Kami.
— Está bem, senhorita Kami. Vejamos, soube que eu
andei procurando o senhor Nakajima porque fiz questão de
não usar subterfúgios nesta procura... Estava mesmo
desejando entrar em contato com alguém que estivesse
relacionado com ele ou com o doutor Maeda. E agora
pergunto: Quais são os propósitos que tem em mente para
aceitar este contato?
— Vejo que com o senhor a conversa tem que ser direta,
concreta e rápida. Muito bem, vou colocar-me em seu nível:
Queremos saber por que está procurando Nakajima e o que
sabe a seu respeito.
— Esta conversa me faz lembrar o cata-vento que por
muitas voltas que dê, jamais chegará a lugar algum.
— Lamento, mas somos nós que faremos as perguntas.
— Não serei eu quem vai respondê-las, mas como sou
uma pessoa razoável, posso propor-lhe um trato: Se me puser
em contato com o senhor Nakajima, eu poderei dizer a ele
tudo que deseja saber sobre mim e os motivos porque desejo
encontrá-lo.
— O quê o senhor Maeda escreveu na carta que enviou
ao amigo comum?
— Por acaso, a senhorita também é o senhor Nakajima?
— Não — riu a moça.
— Sinto muito, mas não posso responder-lhe.
— É muito teimoso; já pensou que posso forçá-lo a falar?
O rosto de Jerry Stack era anguloso, pétreo e
impenetrável, mas as feições se desanuviaram quando ele a
ouviu e seus lábios se distenderam em um sorriso.
— Por que está rindo? — exclamou Kami.
— Sou um tipo bem-humorado e sei apreciar uma boa
piada.
A moça fez um aceno breve ao homem que estava atrás
de Jerry Stack. Este captou o sinal e sua reação foi veloz e
fulminante, até dando a impressão que o outro se movia em
câmara lenta. Virou-se, levantou a perna com tal velocidade
que o adversário não teve tempo para defender- se. Recebeu
o chute no queixo e caiu de costas no chão. Gritou de dor e
ainda tentou levantar-se, mas foi naquele instante que
recebeu o peso do estojo negro no nariz e dessa vez, caiu
sem sentidos.
A moça gritava algo que Jerry não entendia, enquanto
procurava afastar-se correndo. Ele foi mais veloz, lhe
interceptou o caminho e antes que Kami pudesse prever o
que estava acontecendo, Stack arrancou-lhe a máscara com
um só puxão.
— Deus! — exclamou o rapaz com repulsa.
Diante de seus olhos estava o rosto mais horrendo que já
vira em toda sua vida, cheio de cicatrizes e marcas de
queimaduras e no meio daquela carne vermelha, repuxada,
dois olhos furiosos que o fitavam com ódio.
No primeiro instante ficou pasmo, perplexo, mas reagiu
rapidamente quando ouviu o barulho de um corpo se
despencando de uma árvore. Virou-se e ainda pegou o
terceiro homem saltando de um galho para juntar-se aos dois
outros companheiros que o tinham precedido. Os três
empunhavam sabres de lâminas curtas e largas que pôde
classificar facilmente como alfanje.
— Cortem a cabeça desse bruto! — gritava Kami,
tentando ajustar a máscara novamente ao rosto.
O homem que estava mais próximo lançou-se contra
Stack, mantendo o sabre levantado, pronto para entrar em
ação... porém, seu assombro foi indescritível quando viu que
o rapaz caminhava em sua direção, com suas mãos fortes e
firmes em posição de ataque e foi o que aconteceu: segurou-
o pelo pulso direito, levantou-lhe o braço e o torceu com
força, procurando levantá-lo ao máximo. Seu corpo se
deslocou do chão e praticamente voou até chocar-se a uma
árvore, onde caiu desacordado. O Kiai fora muito bem
aplicado.
Os outros dois já se preparavam para atacá-lo, mantinham
os sabres levantados, talvez esperando que ele novamente
fosse repetir o mesmo golpe. Mas desta vez, Stack jogou-se
no chão e rolou pelo solo até aproximar-se do estojo da
katana japonesa. Abriu-o e apanhou o sabre.
— Matem-no agora mesmo! — gritava Kami em
desespero.
Jerry Stack apanhou o sabre japonês com ambas as mãos
e o colocou verticalmente ante seu rosto. O gesto foi tão
natural que os homens chegaram a se surpreender.
Stack levantou a katana um pouco mais e se lançou
contra os adversários, brandindo a arma, enquanto de seu
ventre brotava um vigoroso Kiai:
— Doloooooooooooo...!
Um dos homens abriu os olhos e viu aquele rosto
anguloso que tinha dois olhos negros e brilhantes... As mãos
musculosas e firmes que sustinham o sabre no ar, a poucos
centímetros acima de sua cabeça e compreendeu que estava
vivo por clemência do desconhecido. Porém, minutes mais
tarde, tentou atacá-lo novamente. A katana se movimentou
com rapidez e o golpeou nas costas, derrubando-o
fulminantemente.
Os outros dois olhavam para Stack que continuava
sussurrando:
— Doloooo...
Ele sabia quais eram as intenções daqueles dois sujeitos
que continuavam segurando os sabres chineses muito usados
para as mutilações, quando estes resolveram atacar o
inimigo, ouviram a voz que ordenava:
— Quietos! Que ninguém se mova! — ordenou uma voz
firme de mulher.
Kami ficou assustada, desorientada e começou a correr na
direção das árvores, sendo seguida pelos seus dois auxiliares.
— Parem ou disparo! — gritou a mesma voz.
Os dois homens continuaram correndo e aquele, que fora
ferido com o golpe de sabre desferido por Stack também se
levantou, cambaleando e começou a correr para alcançar os
companheiros. Enquanto isso, o primeiro que perdera os
sentidos já se tinha recobrado e tentou apanhar a arma do
coldre.
Pack, pack pack!, a pessoa que dera ordem para todos
pararem, agora disparava na direção de Kami e seus homens.
O único que permanecera no local da luta, viu a moça que
chegava correndo, levantou a pistola... mas recebeu um
golpe de sabre no braço tão forte que lhe partiu o osso do
pulso. A dor foi insuportável e a arma foi cair longe.
Pack, pack!, disparou novamente a pessoa que chegava.
Jerry Stack se jogou no chão, enquanto o homem ferido
procurava escapar, fugindo.
Pack, pack!, ressoaram mais dois disparos.
— Está com vontade de matar-me? — gritou Stack.
As balas voavam por cima dele, mas evidentemente não
eram disparadas contra ele. Segundos mais tarde, um grito de
dor e quase ao mesmo tempo o ruído do carro ao afastar-se.
A sargento Bartow saiu correndo por entre as árvores,
olhou para Stack e avisou:
— Não se mova de onde está!
Continuou correndo na direção dos fugitivos, sempre
disparando.
Jerry Stack se levantou e sacudiu a poeira que estava em
suas roupas. Em seguida, guardou o sabre japonês no estojo
que deixou encostado em uma árvore. Depois recolheu o
único sabre tipo alfanje que tinha abandonado e logo em
seguida, ouviu mais dois disparos efetuados pela pistola da
sargento Bartow e sorriu.
— Nove, acabou sua munição, sargento — avisou em voz
alta.
Realmente os pack, pack silenciaram, o barulho do carro
de Kami já vinha de longe e quase em seguida, apareceu
Sarah Bartow com a arma na mão e cara zangada.
— O que é isso? — perguntou, mostrando o alfanje.
— Um bart cham dao.
— O quê?
— Uma arma chinesa, um sabre muito usado para a
mutilação de cabeças por aqueles que sabem manejá-las
bem.
A sargento pareceu ficar irritada repentinamente.
— Está se sentindo bem? — perguntou, abruptamente.
— Muito bem, obrigado. E a senhorita?
— Eu tamb... O que é isso, está caçoando de mim?
— Somente me esforço para ser cortês.
— Eu lhe disse para não sair da cidade!
— Sim, cometi uma descortesia ao desobedecê-la e
espero que meu castigo não seja pesado, sargento...
Conseguiu alguma coisa com sua pirotecnia?
— Com minha o quê?
— Com seu pim-pam-fogo! — respondeu, apontando
para a pistola.
— Creio que feri um deles, mas as balas acabaram.
— Isso jamais me acontece, nunca fico sem munição e
minhas armas têm funcionamento inesgotável.
— Esse sabre é seu?
— Não. Um dos homens que queriam cortar minha
cabeça o deixou aqui.
— Está bem. O que aconteceu?
— Já sei qual é seu número de telefone, mas não tive
oportunidade de convidá-la para o jantar. E se eu tivesse
telefonado, não a teria encontrado nem em casa e nem no
Departamento, pois estava rondando meu hotel para vigiar-
me.
— E foi isso que valeu, senhor Stack, porque se eu não
tivesse interferido com minha pistola, certamente o senhor
teria perdido a cabeça.
— Estou muito agradecido e sinceramente, não sei o que
poderia fazer sem a cabeça.
— O senhor é muito irônico, senhor Stack.
— Somente com os amigos.
— É muito amável, mas agora me conte, o que aconteceu
aqui?
Jerry Stack colocou o alfanje sob a axila e moveu a mão
direita descrevendo pequenos círculos com o dedo índice.
— O que está fazendo? — surpreendeu-se a policial.
— Estou fazendo uma ligação telefônica — respondeu,
fingindo colocar o fone ao ouvido.
— É a sargento Bartow quem está falando?
— Deixe de tolices! — exclamou Sarah.
— Perdão, creio que errei o número... — novamente
fingiu “marcar” outro número telefônico e insistiu: — É a
sargento Bartow?
— Eu mesma — respondeu com maus modos.
— O que deseja?
— Sargento, sou Jerry Stack e tal como já lhe falei,
gostaria de convidá-la para jantar comigo. Estará livre esta
noite?
— Sim, às sete horas — Sarah respondeu, sorrindo.
— Magnifico, às sete e meia passarei para apanhá-la. Está
bem?
— Sim.
— Ótimo. Espero que tenha um belo vestido de noite.
— Essa parte fica por minha conta.
— Ah, por favor, abandone essa cara de polícia.
— E qual deveria usar?
— A cara de garota bonita e simpática. Aposto que com
esta carinha vai conseguir muito mais do que me mostrando
seu emblema no estojo. Faça uma prova e depois me conte
os resultados. Outra coisa: como sou forasteiro, não sei onde
poderei levá-la. Poderia me sugerir um lugar agradável?
— Evidente.
— Perfeito. Até as sete e meia, sargento.
— Creio que deveria chamar-me de senhorita Bartow,
pois à noite não estarei de serviço.
— Tudo bem, senhorita Bartow. Até as sete e meia.
— Em ponto, senhor Stack.
— Clique! — disse o rapaz, simulando desligar o
aparelho.
— Clique! — imitou-o, rindo.
E para surpresa dela, Jerry Stack a ignorou
completamente e se encaminhou para a estrada. A sargento
Bartow estava atônita, esperando que ele parasse e lhe
falasse alguma coisa, mas não foi isso o que aconteceu.
Stack chegou na estrada, abriu a porta do “Dodge” e
arrancou. Afinal das contas, já cortara a “ligação”.
Sarah Bartow também andou até onde deixara o carro e
quando ligava o motor pensou com bom humor:
“Que tipo mais esquisito... mas também muito
interessante! Garanto como o jantar não será apenas um
divertimento. Ele que se prepare!”
CAPÍTULO TERCEIRO
Um jantar estimulante

Eram exatamente sete e meia quando soou a campainha


da porta do apartamento da senhorita Sarah Bartow. Teve a
impressão que ela já o esperava parada diante da porta
porque esta foi aberta imediatamente.
Primeiro entregou-lhe um ramo de violetas e em seguida
falou:
— Boa-noite, senhorita Bartow.
— Entre, senhor Stack. Obrigada pelas violetas, são as
minhas flores preferidas.
— Fico satisfeito por ter acertado na escolha.
— Tenho certeza de que o senhor é daqueles que sempre
acabam acertando — disse a moça, enquanto fechava a
porta.
— Por que me diz isso? — surpreendeu-se Jerry.
— Ora, acaba de chegar a Washington e já manteve
contato com os... cortadores de cabeças.
— Apenas um fator favorável da sorte. A senhorita está
divina. Não, não! — parecia até assustado. — Eu não queria
dizer isso! Só queria que soubesse que está muito elegante e
encantadora.
— Na verdade eu gostava mais de ser divina.
— Porém não ficará satisfeita se eu lhe falar de certa
divindade... de Kami.
— Do que está falando? O que é Kami?
— Há tempo para se tratar daquela divindade.
— Certo. O senhor também está elegante e gostei que
tivesse escolhido um simples terno escuro. Eu poderia ficar
impressionada se o visse usando um traje a rigor.
— Compreendo, eu poderia ficar irresistível. Então, já
podemos ir?
— Senhor Stack, pensei que talvez pudéssemos jantar
aqui mesmo, seria mais íntimo e tranquilo. O que acha?
— Além de ser sargento policial também sabe cozinhar?
— Não sou uma boa cozinheira, mas defendo-me.
— Fantástico. Nós dois ficaremos sozinhos, presumo.
— Como Adão e Eva.
— Está sugerindo que nos dispamos?
A moça começou a rir, segurou o braço dele e o levou
para a sala, onde a mesa já estava preparada para dois e
decorada com um castiçal de prata e velas vermelhas.
— Gostei do lugar. Só espero que o restaurante não seja
caro demais.
— O que deseja tomar?
— Suco de tomate.
— Que pena! Eu tinha preparado martinis!
— Está bem, hoje tomarei um martini.
— Nunca bebe?
— Somente bebo e fumo em circunstâncias muito
especiais e, como pode imaginar, também não faço uso de
drogas.
— O senhor é um atleta, senhor Stack?
— Não, apenas procuro viver uma vida sadia. Posso
ajudá-la em alguma coisa?
— Não, não, tudo está pronto. Sente-se que lhe servirei o
martini.
— Pouquinho, por favor e com um iceberg dentro.
Sarah riu e minutos mais tarde estavam sentados no sofá.
Ele olhava para a garota e a cada minuto a achava mais
linda, mais atraente. Não sabia se era porque o joelho tinha
ficado descoberto quando ela cruzara as pernas ou se era
porque os seios túrgidos se mostravam no decote amplo ou
se porque seu corpo sinuoso e flexível o excitava, porém de
uma coisa tinha certeza: só desejava beijar aquela mulher
maravilhosa.
— E agora, senhor Stack, o que tem para me contar sobre
os fatos que aconteceram junto ao Potomac? — perguntou,
sorrindo.
— Aconteceram assim: depois que a senhorita me deixou
sozinho no hotel, deitei-me e adormeci. Só acordei com a
campainha do telefone e...
Quando acabou o relato, Sarah murmurou:
— Parece que não podemos ter mais dúvidas, finalmente
conseguimos um contato com aquela gente, senhor Stack.
— Conseguimos?
— Entenda, a polícia utilizará todas as informações que
nos fornecer, embora creia que estas só valerão quando
declinar o nome desse amigo do senhor Maeda que lhe
comunicou sobre Nakajima.
— Esse nosso amigo está longe daqui e tenho a certeza
que nada tem a ver com tudo que está acontecendo. Tenho
certeza que nada mais sabe do que escreveu em sua carta.
— E eu poderia ver essa carta?
— Creio que sim — sorriu Jerry, apanhando uma folha de
papel dobrada que lhe entregou.
Sarah desdobrou o papel com muito interesse e o fitou
consternada.
— Foi escrita em chinês!
— Não, em japonês — corrigiu-a.
— O senhor sabe japonês?
— Defendo-me — repetiu as palavras que tinha escutado
antes.
— Será que o senhor a traduziria para mim?
— Por quê, não? Comecemos:
Jerry,
Vá a Washington e tente entrar em contato com
Teruhico Maeda, no 2.665, Warren Boulevard.
Entrou em contato com o Kuro Arashi e solicitou
uma investigação porque teme que alguém esteja
tramando algo que poderá ter consequência
horrível. Maeda disse que há dias foi procurado
por um japonês que lhe era desconhecido e que se
apresentou como Nakajima e este homem lhe fez
algumas revelações assustadoras sobre certas
pesquisas que estariam sendo realizadas em
caráter sigiloso e que poderiam render verdadeiras
fortunas e que também poderiam ajudar muitíssimo
seus estudos científicos. Atualmente, Teruhico
Maeda se dedica a um estudo das células
cerebrais, visando prolongar sua vitalidade, de
modo que fosse retardada a natural degeneração
que acontece nos cérebros humanos depois de uma
determinada idade. E se o método descoberto por
Maeda fosse empregado nos cérebros ainda jovens,
aumentaria a inteligência do homem e conservaria
tanto a juventude do cérebro, como a do corpo
humano, uma vez que já está comprovado que é o
cérebro a fonte que gera a energia “elétrica” que
existe no corpo. Nada mais sei sobre Maeda e suas
pesquisas, mas procure entrar em contato direto
com ele; diga-lhe que foi a Kura Arashi que o
enviou e sei que responderá todas as perguntas que
lhe fizer. Espero que possa localizar Nakajima e se
ele realmente estiver tramando algo
verdadeiramente prejudicial aos cérebros
humanos, elimine-o. Com meu afeto...

Sarah Bartow estava estupefata e exclamou:


— Eliminá-lo! O que isso significa e quem é esse seu
amigo? A carta não está assinada, só tem esse desenho que
parece...
— Uma estrela — sorriu Jerry Stack. — Esse é o
emblema da Kuro Arashi.
Sarah apanhou a carta e ficou olhando para o desenho que
estava substituindo a assinatura. Era, de fato, uma estrela
negra, de seis pontas e que tinha no centro, como se fosse um
rosto, dois orifícios brancos que poderiam ser dois olhos
transbordantes de ira e a boca era feita com um risco curvo
que tinha os extremos virados para baixo, também
demonstrando um gesto hostil e amargo.
— Kuro Arashi é uma seita?
— O nome significa Tempestade Negra e é uma
organização beneficente.
— Senhor Stack, parece que gosta de se divertir, não é
verdade? Por acaso é um dos membros dessa... Tempestade
Negra?
— Sim.
— Céus! Não entendo como um homem inteligente e
culto pode fazer parte de uma seita! E o que significa o
elimine-o? Está mandando matá-lo?
— Esse é um dos significados da palavra, não é?
— Não pode estar falando sério!
— Talvez porque esteja com muita fome e quando não
alimento meu corpo, o cérebro começa a degenerar e não sei
o que digo.
— Oh, sim... vamos jantar.
A comida estava gostosa e a senhorita Bartow
demonstrou que a profissão de policial não era incompatível
com a habilidade culinária.
— Tudo muito delicioso, muito saboroso! É verdade que
fez tudo sozinha?
— Bem, como sabe alguns pratos vêm parcialmente
preparados. Gostou realmente, senhor Stack?
— Eu nunca minto, senhorita Bartow.
— Quer dizer que só me contou a verdade?
— Claro e espero que a tenha ajudado.
— Não sei — vacilou Sarah. — Na verdade não temos
pista alguma a não ser o senhor Nakajima. Foi uma pena que
eu não pudesse ver a chapa daquele carro, mas já estava
anoitecendo.
— A polícia deve ter mais informes porque já houve
outros casos de decapitação. Foi uma pena que eu não
pudesse chegar a tempo para ajudar o senhor Maeda, mas só
recebi a carta depois dele estar morto. Só desejo saber qual a
relação que existe entre sua morte e às dos outros cientistas.
Em casos como esses sempre existe um denominador
comum, que em muitas ocasiões servem como pistas.
Ela abriu a boca para responder, mas desistiu e só depois
de alguns segundos, sorriu.
— Senhor Stack, convidou-me para jantar somente para
sondar-me e saber se a polícia tem alguma pista?
— Bem... A ideia inicial foi sua.
— Não acredito! Um cidadão comum tentando provocar
uma confissão de um policial que está trabalhando num caso
difícil! O senhor é único!
— Não creia. Há outros homens como eu.
— Duvido muito. E outra coisa, o que quis dizer com: A
ideia inicial foi sua?
— Sim, quando eu a conheci em meu hotel, pensei que a
senhorita podia ser uma pessoa mais fácil de tratar...
— Café? — propôs Sarah, sorrindo.
— Naturalmente, depois de um jantar delicioso como
este, só um café.
Quando tomavam o café, Sarah acendeu um cigarro, mas
não aparentava desejos de fumar; seus olhos continuavam
olhando Stack que continuava sentado a seu lado no sofá, até
que ele a fitou com surpresa.
— Vê algo diferente em minha cara?
— Não, na verdade estou surpreendida porque quando o
vi hoje de tarde no hotel me pareceu, não direi um homem
feio, mas austero, anguloso e...
— Desagradável, não é?
— Quase — riu Sarah. — No entanto, agora... parece-me
mais simpático... Acreditaria se eu lhe dissesse que me
agrada... muito?
— Acreditaria — confirmou Stack. — Sou um sujeito
que sempre dei sorte com as mulheres. Então quando estive
no Oriente, elas ficavam loucas quando me viam ou falavam
comigo.
— E isso quer dizer?
— Que tomei banho com quem quis e como quis.
Sarah soltou uma risada deliciosa.
— Pois eu já tomei meu banho, senhor Stack.
— Acredito, pois está limpinha e usa um perfume
inebriante. Mas vou dizer-lhe outra coisa: Limpeza nunca fez
mal a alguém.
— Em resumo, está pretendendo... levar-me ao banho?
— Não há necessidade de ser esta noite, poderá ser
amanhã de manhã...
Sarah não respondeu. Pôs o cigarro no cinzeiro. Jerry a
abraçou pela cintura e a atraiu para si, suavemente. Ela
fechou os olhos e entreabriu os lábios, sentindo a mão
masculina deslizar por seus ombros quase desnudos. Stack
beijou-a e sentiu como procurava aproximar-se mais a ele e
como tremia em seu peito. Sentia o contato da pele macia,
sedosa de seus braços nas orelhas e pescoço, os lábios
obedientes que se moldavam aos seus numa entrega total... O
beijo se prolongou tanto que Sarah começou a respirar com
força pelo nariz e forma entrecortada.
— Algo vai mal? — perguntou ele em sussurro.
Ela negou com um gesto e tomou a iniciativa do beijo
enquanto as mãos dele não paravam, tocando seus ombros
delicadamente. Ela estremecia... e isso foi tudo. Sua
respiração agora estava mais agitada e ele a deitou no sofá.
— Não... Não, não, não...
Jerry beijou-a na boca, de novo, logo, amassou-a com o
peso de seu corpo, mas ela continuava agarrada a seu
pescoço, quando de repente soltou-se, separou sua boca da
dele e tentou empurrá-lo.
— Não, não — suplicou. — Não podemos... eu estou a
serviço muito importante e não quero envolver as...
— Na vida há tempo para tudo — sussurrou ele.
— Não... E tem mais, você me mentiu, não me disse toda
a verdade...
— Certo — concordou. — Porém na vida há certas coisas
que um homem não pode fazer sozinho e nem tampouco uma
mulher pode.
— Não, Stack... Este caso é muito importante para mim...
Diga-me tudo que sabe a respeito dele e... depois acabaremos
tudo... que queremos fazer.
— Se você me dissesse o que há em comum entre esses
assassinatos, talvez eu pudesse chegar a conclusão. Se
juntássemos tudo que sabemos, todas as informações, todos
os dados...
— Diga-me a verdade e eu verei se...
— Logo... Logo, meu amor. Agora...
Colou novamente seus lábios à boca de Sarah que se
abriu como uma flor em pleno sol. Através da camisa, sentia
o calor e a agitação da mulher. Cobriu-a com mais força e
ela soltou um gritinho abafado.
— Não! Agora não, por favor!
Mais uma vez se apoderou de sua boca, Sarah estremecia
sob seu corpo naquele poderoso contato final... e foi, naquele
exato momento, que o telefone tocou.
Sarah Bartow estremeceu, soltou um grito, deslizou sob
seu corpo e ficou ajoelhada no tapete, perto do sofá, com os
cabelos revoltos e a respiração agitada. Os olhos muito
arregalados o contemplavam, enquanto o telefone continuava
soando.
Só depois de ter chamado seis ou sete vezes, ela atinou
arrumar o vestido nos ombros e o atendeu.
— Sim? — quase gritou.
—...?
— Não, não está acontecendo nada... Nada importante.
—...?
— Sim,.. Está aqui, senhor.
—...?
— Alguma coisa... amanhã falaremos. Boa- noite.
Desligou e ficou olhando para Jerry Stack que já estava
de pé e a olhava fixamente com um olhar inexpressivo e com
o semblante carregado.
— Parece que nenhum de nós dois jogamos limpo, não é?
— O que está querendo dizer?
— Meu amor, seus métodos policiais para conseguir os
dados que precisa não são muito usuais. Imagino que seu
chefe ligou para saber se eu já tinha falado algo que pudesse
ser aproveitado na elucidação do crime. Só espero que
amanhã, você possa lhe apresentar um relatório minucioso.
Você se portou como uma rameira, supondo que eu, na
situação frustrante em que me encontro fosse revelar tudo
que deseja saber.
— Stack, não seja tão áspero. Você também esperava que
eu lhe adiantasse alguma coisa.
— Muito bem, o jogo acabou empatado. Você não vai
dizer o que sabe, não é?
— Stack, não posso...
— Pois muito bem, sargento. Adeus!
— Não seja atoleimado — Sarah agora estava irritada. —
Sabemos que as coisas estão claras entre nós e não
precisamos mais fingir.
— Eu não estava fingindo nisto — disse, apontando para
as partes de seu corpo.
— Nem eu — murmurou ela docemente.
— Agora é tarde demais para se continuar. Tchau,
sargento!
— Vai embora? Vai me deixar... neste estado... de
agitação?
— Talvez outro dia, eu lhe mostre como pode controlar
essa agitação.
— Stack, não me deixe agora! Posso lhe informar que...
— Informar, agora?
— Não... Isso não posso..., mas...
— Adeus, sargento.
Jerry Stack vestiu o casaco e já estava abrindo a porta do
apartamento quando ela gritou:
— Stack! Está proibido de abandonar a cidade!
Ele nem respondeu. Estava dirigindo o velho “Dodge”
quando percebeu que estava sendo seguido. Não podia ser
um amigo de Kami porque estes sempre viviam em bando.
Parou na frente do hotel e viu quando o carro de seu
perseguidor também estacionou.
Abriu a porta, desceu do “Dogde” e tranquilamente
aproximou-se do outro carro e bateu no vidro.
— O que deseja? — perguntou o homem que estava na
direção. — Gostaria que desse um recado à sargento Bartow,
meu amigo.
O policial nem teve tempo de fingir-se surpreso porque o
punho de Stack entrou pela janela e o esmurrou no queixo.
Desmaiou e caiu no banco, mas a mão de Stack rapidamente
levantou-o e o pôs em posição ereta e o policial parecia
pronto para reiniciar a viagem.
Depois, sem pressa, entrou no hotel, pagou a conta,
apanhou a bagagem e se dirigiu para o aeroporto de Miami.
CAPÍTULO QUARTO
Visitantes inesperados

Doze horas mais tarde, Jerry Stack tomava banho de sol


na praia particular do Ocean Motel, em Miami-Beach.
Naturalmente, estava usando somente uma sunga minúscula
que deixava livre todo o corpo musculoso e bronzeado que
muitos diziam ser tão rijo quanto uma estátua de bronze.
Estava cansado. Desejava repousar até a hora do almoço,
mas percebia que isso dificilmente iria acontecer, porque a
maior parte das garotas que se divertia na praia, também
usando biquínis diminutos, não se afastava da
espreguiçadeira onde ele procurava descansar.
Já estava perdendo a paciência e resolveu desconhecê-las.
Acomodou-se confortavelmente na cadeira, fechou os olhos
e estava assim há alguns momentos, quando escutou alguém
chamar seu nome.
— Vá se divertir longe daqui, beleza! Sei que todas
podem ser um colírio para meus olhos, mas agora estou
cansado.
— Colírio para seus olhos, senhor Stack? O que está
querendo dizer?
O tom de voz parecia aborrecido. Ele abriu os olhos
lentamente e se surpreendeu ao ver uma moça morena,
bonita e muito bem vestida parada perto dele.
— Quem é você? — resmungou. — Também veio para
me chatear?
— Senhor Stack, sou funcionária da agência do senhor
Mitchell Crosby. O senhor não nos telefonou hoje de manhã,
pedindo informações sobre o proprietário do carro chapa
218653 de Miami?
— Exatamente, senhorita. Perdoe minha grosseria e
sente-se, por favor.
A moça concordou e sentou-se a seu lado, depois de
Stack também se ter sentado. Abriu a bolsa a tiracolo e
apanhou um envelope que o entregou.
— Trabalho cumprido, senhor Stack.
— Trabalharam com muita rapidez... Ainda não faz três
horas que telefonei solicitando informações a Mitchell
Crosby!
— Há trabalhos que podem ser feitos com rapidez e
outros são mais demorados. Localizar o proprietário de um
carro com chapa registrada em Miami é algo muito fácil para
Mitchell Crosby e é também um dos serviços mais baratos
entre os que prestamos, seu preço é cem dólares.
— Bem, eu não trouxe dinheiro para a praia, mas se a
senhorita for paciente, poderei apanhá-lo.
— Não, não. O senhor Mitchell me espera no carro,
precisamos atender outros clientes... Amanhã, o senhor
receberá a fatura.
— Certo. Se porventura eu tiver que abandonar o hotel,
enviarei um cheque aos senhores.
— Combinado e encantada em poder servi-lo.
— Muito obrigado.
A moça se afastou e ele a acompanhou com os olhos até
desaparecer sob o pinheiral. Era uma mulher bonita e suas
pernas eram de causar inveja a muita gente. Bem, agora só
restava saber de quem era o carro que Kami estava usando
aquela tarde.
Abriu o envelope e a informação de Mitchell Crosby não
podia ser mais sucinta.
SENHORITA NANCY HOGAN
1222, West 33rd Street — Hialeah — Miami
***
A casa era pequena, branca com janelas azuis, cercada de
jardins e situada junto a um dos canais de Hialeah. Parecia
uma moradia encantadora, com os números pintados em
branco sobre o portão azul: 1222.
Jerry Stack tinha deixado o carro que alugara em Miami
sob as árvores que margeavam a rua e se aproximou da casa.
Ficou alguns minutos observando o movimento. Tudo estava
em paz e silêncio. Chegou a pensar que não houvesse
ninguém na casa, mas o carro continuava na garagem.
A placa estava bem visível 218653, mas aquele carro não
era do mesmo modelo ou da mesma cor daquele que Kami
estivera usando aquela tarde. Conhecia os serviços da
Agência Crosby e não acreditava que a informação estivesse
errada.
Abriu o portão que estava apenas encostado, atravessou o
jardim também pequenino e tocou a campainha da porta. A
música de um carrilhão ecoou pela casa. Encantador.
Demoraram em abrir a porta. Stack já olhava a sua volta
com impaciência, pensando no que poderia fazer: Entrar na
casa, ficar esperando no jardim até que alguém chegasse ou
voltar no dia seguinte?
A moça que abriu a porta quase o deixou sem fala, pois
não esperava encontrar uma morena linda assim: era alta,
esbelta, tinha dois luzeiros escuros e aveludados que o
fitavam com curiosidade. Usava somente uma bata de seda
vermelha curtinha que fora fechada com descuido e permitia
que seus olhos vislumbrassem muitas das belezas que
deviam estar encobertas.
— O que deseja? — perguntou.
Quando ele ouviu aquela voz musical, pensou em Kami,
mas não podia ser ela. Quem dera que aquele espantalho
fosse lindo como o anjo que sorria com candidez e
curiosidade.
— Senhorita Hogan?
— Sim. Eu mesma. O senhor está vendendo alguma
coisa? Nem adianta perder tempo porque não vou comprar
nada — falou, sorrindo e reparando no estojo preto que ele
segurava na mão esquerda.
— Não estou vendendo nada — sorriu o rapaz. — Meu
nome é Jerry Stack.
— Muito bem, senhor Stack. Por favor, diga-me o que
deseja? Eu estava tomando banho de sol e desejo continuar.
— Lamento, mas preciso saber se realmente é Nancy
Hogan?
— Não, Nancy é minha irmã. Eu sou Deborah Hogan.
— E eu poderia falar com sua irmã?
— Por que está procurando, Nancy? — falou com certa
apreensão.
— Posso explicar-lhe o que houve entre mim e sua irmã.
Nós nos desentendemos quando estivemos juntos em
Washington e creio que ela gostaria de conversar comigo
para aclararmos alguns pontos... Penso fazer um pacto com
ela, um pacto que seja satisfatório para nós dois.
— Senhor Stack, já faz algum tempo que Nancy não
mora comigo e há vários meses não nos vemos. Desde que
sofreu o acidente... ela ficou diferente, mudou bastante.
— Entendo — concordou Jerry, — mas há um meio de
eu me encontrar com ela?
Deborah Hogan hesitou, depois se afastou da porta para
ele entrar. Em seguida, levou-o a uma saleta que estava com
as cortinas fechadas e envolta em penumbra.
— Que sala mais agradável! Senhorita Hogan mora
sozinha?
— Não exatamente — sorriu a moça. — Tenho quatro
machos.
Olhou para ela e viu que o fitava com naturalidade e
respondeu também com muita naturalidade:
— Então deve ser uma mulher realizada e nunca deve
sentir solidão.
— Claro que não! — riu ela. — Venha comigo, por
favor.
Saíram para o jardim que estava na parte detrás da casa,
onde havia uma piscina cujas águas pareciam tingidas de
anil. Ao lado da piscina estava uma toalha floreada, mas no
jardim havia outra coisa que atraiu a atenção de Jerry Stack:
uma gaiola grande, de metal, completamente pintada de
branco e dentro desta jaulinha, quatro pombas também
brancas.
— Pombas lindas — comentou, sorrindo. — Imagino que
são os machos.
— É um homem muito inteligente, senhor Stack — riu a
moça. — Estes são os quatro machos que vivem comigo. São
pombos correio.
— Um bom método para economizar a conta de telefone
ou os tem apenas como um capricho?
— É evidente que não. O que quer dizer a minha irmã?
— Preferia falar pessoalmente com ela.
— Isso é Nancy quem decide. Ultimamente nem comigo
quer conversar.
— Está bem, se vai mandar uma mensagem a ela, eu
mesmo poderia escrevê-la?
— Como queira. Quer papel e...?
— Obrigado. Eu o tenho. Novamente apanhou a
caderneta e arrancou uma das páginas e escreveu:
Kami, seria bom nos encontrarmos de novo
para conversarmos seriamente. Minha
organização, com sede central no Japão, está
muito interessada nos trabalhos de Teruhico
Maeda. Podemos colaborar com pessoal e
dinheiro. Saudações.
Jerry Stack

Entregou o papel à Deborah. Esta leu a mensagem


rapidamente e pareceu surpresa. Olhou para Jerry e falou:
— Bem, suponho que minha irmã vá entender o que
escreveu.
Tirou uma argola de metal da caixa que estava ao lado da
gaiola e nela introduziu o papel dobrado. Apanhou um dos
pombos e colocou a argola em uma de suas patinhas. Depois
o soltou no ar. O pombo afastou-se lentamente, descreveu
um circulo e em seguida, seguiu para o Sul.
— Quantas horas teremos de esperar por uma resposta?
— Não sei, mas só a teremos dentro de três horas no
mínimo, senhor Stack.
— Três horas me parece muito tempo senhorita Hogan.
Vou dar umas voltas e voltarei mais tarde.
— Gosta de café?
— Sim, mas só tomo café quando me convidam.
— Pois se considere meu convidado! — riu ela.
Entraram novamente na casa e Deborah ofereceu-lhe uma
poltrona.
— Farei o café em segundos.
— Não quero lhe dar trabalho...
— Senhor Stack, nunca rejeito a companhia de
cavaleiros.
— A senhorita é muito amável.
A moça desapareceu. Stack olhou a sua volta. Gostava
daquele ambiente sóbrio, elegante, confortável, silencioso e
tranquilo.
Fechou os olhos, ficou imóvel e logo em seguida, foi
inundado pelo prazer calmante de um mozuko, o relaxamento
mental e físico — o tempo deixou de existir, só o silêncio
profundo e uma paz infinita existia em seu ser..
Abriu os olhos e viu Deborah fitando-o com curiosidade.
— O senhor adormeceu?
— Mais ou menos... O café está cheiroso.
— O que o senhor faz, senhor Stack?
— Sou expert em arte oriental.
— Que interessante! Agora compreendo porque sua
organização é sediada no Japão. Trabalha com alguma
empresa exportadora, talvez?
— Mais ou menos — confirmou ele. — Sua irmã também
se dedica a este ramo de negócios?
— Caramba, senhor Stack. Eu julguei que fosse mais
gentil, está aqui comigo e continua forçando uma brecha
para falar em Nancy.
— Tem razão. O que faz?
— Digamos que me dedico em pensar de que modo devo
empregar meu dinheiro para poder continuar vivendo sem
fazer nada.
— Uma resposta bastante interessante, mas que me deu a
impressão de não estar vivendo uma vida muito feliz.
— Sei aproveitar todas as oportunidades que aparecem...
— Espero que estas oportunidades sejam habituais.
— Isso depende... Eu estava pensando que ficamos duas
horas tomando café... é muito tempo perdido, não concorda?
— Sim, em três horas pode-se tomar vários cafés —
sussurrou Stack. — Até pensei que poderíamos gastá-lo com
um passatempo mais salutar.
— Qual, por exemplo?
Jerry se levantou lentamente e se aproximou da cadeira
onde ela estava sentada. Pegou suas mãos e a puxou para si.
Ela obedeceu docilmente. Ele desamarrou a faixa de seda, a
bata escorregou pelos ombros da moça e ficou enfeitando o
tapete de pele de leopardo.
— Era essa distração que estava programando para hoje?
— Sim, sim... — murmurou, procurando colar seus lábios
nos do homem que a abraçava.
***
Ambos estavam deitados na pele do leopardo. Deborah
rolou e se colocou de bruços sobre o peito de Stack; beijou-o
rapidamente na boca e perguntou, sorrindo:
— Quer mais café?
— Deve estar frio.
— Há quanto tempo estamos nesta atividade salutar?
— Se contarmos pelas viagens à lua, estamos viajando há
mais de três horas.
— Quais viagens à lua? — riu a moça.
— Os nossos encontros e desencontros... entende?
— Gostei! Viagens à lua...
— Fico satisfeito por ver você satisfeita, mas acho que já
é hora de nos vestirmos... Não gostaria que sua irmã nos
pegasse como Adão e Eva. Será que ela vem?
— Não sei dizer... Quem sabe o que Nancy pensa
atualmente e o que ela pode decidir. Mudou muito! Até
gosto porque estamos longe... as vezes, chego a ter medo
dela.
— Tem medo quando a vê sem a máscara, não é?
— Não foi somente seu rosto que sofreu certas
transformações... A mente de Nancy também ficou diferente,
minha irmã agora parece ser outra pessoa... não sei se você
entende o que quero dizer.
— Entendo, ela também mudou por dentro.
— Sim. Você está fazendo alguma coisa má, Jerry?
— Conhece um japonês chamado Nakajima?
— Não, ele trabalha com você? E a propósito, que
objetos de arte lhe interessam? Tem um modelo nesse
estojo?
— Este é o mais belo que você poderia imaginar.
— Posso vê-lo?
— Sim, mas antes vamos nos vestir. Se sua irmã
chegasse...
— Não tenho que dar satisfações a Nancy — beijou-o
mais uma vez.
Deborah levou sua batinha para o quarto e Stack se vestiu
ali mesmo. Chocante! Uma irmã desejando lhe cortar a
cabeça e a outra... durante alguns segundos recordou-se das
muitas viagens à lua que haviam realizado juntos. Apanhou o
estojo do sabre, escutando o jorro da ducha... Quando ela
entrou na sala, Jerry estava sentado numa poltrona,
folheando uma revista.
— Vamos comer alguma coisa? — propôs ela. — Talvez
Nancy nem apareça hoje por aqui.
— Esperemos um pouco mais.
Primeiro ouviram o ronco do motor e em seguida, o
barulho das portas do carro sendo fechadas. Stack levantou-
se e espiou por uma das janelas. Ficou irritado quando viu os
três homens que caminhavam para a porta da frente. Eram
altos, fortes, com tipo de espertalhões.
— Não foi sua irmã quem chegou.
Deborah pareceu preocupada. A campainha soou e ela
perguntou:
— O que faço?
Stack abriu o estojo do sabre e o deixou ao alcance das
mãos.
— Abra a porta, Deborah.
Ela caminhou para a porta, mas seus olhos continuavam
presos na arma japonesa. Stack ficou sozinho e escutou
quando a moça perguntou:
— O que desejam?
— A mensagem chegou ao destino, senhorita Hogan —
disse um dos homens. — Sua irmã enviou-nos para
acompanhar o senhor Stack. Ele continua aqui?
— Sim. Entrem, por favor.
Deborah voltou à sala com os homens que o olhavam
com curiosidade. De repente, um deles viu o estojo aberto,
sua fisionomia aparentou contrariedade e rapidamente sacou
uma pistola que apontou para Stack.
— Viemos buscá-lo com as melhores das intenções e
você não está sendo muito gentil ao receber-nos com esse
troço à vista — disse, mostrando o sabre.
Deborah parecia muito assustada. Jerry olhou para ela,
fechou o estojo e o entregou a um dos recém-chegados.
— Tenha cuidado com este estojo, é de estimação.
— Não se preocupe, senhor Stack. Já podemos ir?
— Sim.
O homem se afastou para lhe dar passagem na porta, o
rapaz aproximou-se de Deborah e beijou seus lábios.
— Obrigado por tudo. Posso voltar para tomar café?
— Sempre que quiser, Jerry... mas por quê...?
— Tranquilize-se. Não vai acontecer nada.
Beijou a moça mais uma vez e quando ia andar para a
porta olhou para o homem que estava segurando o estojo do
sabre com a mão direita e a pistola com a esquerda e depois,
para os outros dois que o vigiavam atentamente. Foi naquele
instante que captou o olhar de um dos sujeitos e sua reação
foi imediata, deu dois passos rápidos e virou-se para o tipo
que o mantinha sob a mira da arma... A coronha que ia em
direção de sua cabeça não chegou ao alvo, mas o joelho de
Stack foi dar exatamente no ventre do homem... Deborah
gritou com pavor, enquanto o visitante caía no chão,
gemendo de dor.
Jerry não teve tempo para virar-se, pois recebeu uma
coronhada no ombro que o deixou grogue. Embora aturdido
agarrou as mãos do sujeito, levantou seu corpo com
facilidade, girou-o no ar e o jogou longe. A vítima do
lenbim-nage foi cair desacordado perto da janela. Stack
virou-se quando ia ser atacado pelo terceiro indivíduo.
Rapidamente segurou a mão que ia agredi-lo com a
direita, enquanto sua esquerda rodeava o pescoço do
adversário até alcançar o olho esquerdo que apertou sem dó
nem piedade, sempre torcendo o braço que havia
imobilizado com a mão direita. O homem caiu para trás
como se fosse um fardo.
O primeiro já se sentia melhor, levantou-se com alguma
dificuldade, sempre mantendo a arma virada na direção do
rapaz.
— Embora nos tivessem ordenado que...
Não chegou a terminar a frase porque Stack levantou o pé
direito e desferiu um pontapé no pulso do indivíduo e a arma
foi lançada longe.
Em seguida, deu outro chute em seu peito, seguido de um
murro que pegou seu rosto... mais um que estava sem
condições de lutar.
E foi naquele instante que Jerry escutou uma voz rouca
falar:
— Chega! Chega! Fique onde está ou eu arrebento seus
miolos! Recebemos ordens para levá-lo vivo, mas se isso não
for possível, usaremos nossos métodos próprios!
Jerry Stack tentou defender-se, mas não pôde ver que um
dos que estavam no chão tinha recobrado os sentidos.
Aproximando-se por trás lhe deu uma coronhada na nuca.
Teve a impressão que sua cabeça ia estalar, as forças
sumiram como que por encanto e ele caiu desmaiado.

CAPÍTULO QUINTO
O laboratório sinistro

Jerry Stack só foi recuperar os sentidos quando o carro


corria pela estrada. Os olhos estavam vendados e tinha as
mãos amarradas às costas. Estava sentado no banco de trás,
entre dois homens.
— Ele já despertou — ouviu um deles falar.
— Oxalá o entreguem a mim — disse um outro. — Estou
sentindo tanta dor no meu cotovelo que tenho até medo de
desmaiar, outra vez.
— Aguente firme — disse outra voz de homem. —
Estamos quase chegando. Inferno! Ainda não descobri por
que temos de entregar esse homem vivo ao laboratório!
— A razão eu não sei, mas desconfio que Kami não vai
permitir que ele morra.
— Talvez por isso impôs que desconhecesse onde o
laboratório fica situado — disse o outro.
— O melhor método para continuar desconhecendo o que
não sabe, seria matá-lo.
Stack os escutava, procurando desvencilhar as mãos das
cordas que as mantinham imobilizadas, mas viu que não
conseguiria. O que poderia fazer? Certamente os homens que
estavam ao seu lado empunhavam armas destravadas e se os
irritasse...
— Para onde estamos indo? — perguntou.
— Para o inferno — resmungou um deles.
— Fiquei muito tempo desacordado?
— Descubra. Tanto poderiam ser alguns minutos, como
algumas horas.
— E quanto falta para se chegar ao... inferno?
— Cale-se ou quebro todos os dentes que tem na boca! —
ameaçou o do cotovelo machucado. — Mandaram eu o
conservar vivo, mas nada falaram sobre os dentes!
Stack achou preferível manter a boca fechada c se
conservou em silêncio por mais de uma hora, segundo seus
cálculos. Não sabia quanto tempo estivera desmaiado e nem
quanto tempo já estava rodando... Passara horas ou somente
minutos inconsciente? Não saberia responder a pergunta que
se fazia com insistência.
De repente, o carro parou e o motor foi desligado.
— Saia daí!
Stack se moveu com dificuldade e a cabeça começou a
doer muito mais e não pôde impedir um gemido quando um
dos homens o empurrou.
— Caminhe!
Sentia o cano da arma encostado em seus rins, ouvia os
sussurros, mas não conseguia entendê-los e nem podia
identificar as vozes. Depois, passou a escutar somente a voz
do silêncio.
Subiu alguns degraus... Três somente em seguida, seus
passos ressoaram pelas tábuas do assoalho. Percebeu que já
estava dentro de casa.
— Parece que não foi muito bem tratado por eles, senhor
Stack.
A voz de Deborah Hogan? Não, não podia ser.
— Kami? — murmurou.
— Estou contente por revê-lo e interessada em saber qual
a proposta que pensa oferecer?
— Minha cabeça está doendo horrivelmente, parece que
vai estalar... Espere eu melhorar e então, conversaremos com
tranquilidade. Não vai soltar minhas mãos?
— Sabíamos que não deixaria pôr a venda nos olhos com
muita facilidade e foi por isso que dei algumas instruções a
meus auxiliares. Se fosse mais cordato, estaria menos
machucado... Contudo, nós lhe daremos um analgésico, e
quando este fizer efeito, nós conversaremos.
Soltaram suas mãos e retiraram o pano grosso que cobria
seus olhos. Nos primeiros momentos, a luz ofuscou-o, a luz
vermelha do sol poente. Esfregou os olhos. Suas mãos
estavam amortecidas depois de passarem tantas horas
amarradas.
Conforme a visão foi normalizando, viu os três homens
com as pistolas destravadas. Dois eram seus antigos
conhecidos, mas o do cotovelo machucado fora substituído
por um outro colega. Depois apareceu mais outro trazendo
um copo com água e os comprimidos para dor.
— Tome isso — disse este colocando o copo e o remédio
na mesa.
Jerry engoliu dois comprimidos com alguns goles da
água, espiando, o que podia, sentado perto da mesa e com a
janela um tanto afastada. Viu muita vegetação e sua
conclusão foi rápida, estava em Everglades, a zona
pantanosa da Flórida.
Sentou-se em uma cadeira, fechou os olhos e ficou
imóvel, em busca do mozuko que estava necessitando
realmente. A dor foi cedendo e em poucos minutos, a cabeça
deixou de latejar, de doer em seu interior, doendo agora
somente a pancada que tinha levado. Abriu os olhos.
— Estou me sentindo melhor — disse aos homens que o
cercavam.
Um deles moveu a pistola, mostrando a porta que ia dar
no interior da casa. Esta era grande, muito desarrumada, mas
não suja. Entrou em uma sala grande e viu Kami, com sua
máscara, sentada em uma poltrona e perto dela, também
sentado, estava um homem branco e perto deste, um japonês.
— Senhor Nakajima? — perguntou Stack, olhando para
este último.
O japonês não mexeu um músculo do rosto que parecia
petrificado.
— Terá de falar comigo, senhor Stack — disse o homem
branco. — O senhor Nakajima é um de nossos empregados e
veio a esta sala somente para dizer-nos se o reconhece, se já
o viu em algum lugar. Nakajima?
O japonês negou com a cabeça e saiu da sala. Stack
olhava para o homem que estava à sua frente. Tinha mais de
cinquenta anos, cabelos grisalhos e despenteados. Era baixo
e magro.
— Quem é você? — perguntou.
— Você já conhece Kami e pode chamar-me de Kami
Son.
— Não parece que o nome encaixe sua pessoa, senhor
Divindade.
— Sendo assim, poderá chamar-me de Smith — riu Kami
Son.
— Smith casa melhor com você.
— Uma vez que já estamos apresentados, diga-nos qual é
a organização e que tipo de oferta pensa fazer-nos, senhor
Stack.
— Dificilmente poderei apresentar uma proposta concreta
sem saber exatamente a que se dedicam.
— Como terá compreendido, somos um grupo que se
dedica a cortar cabeças. Que lhe parece?
— Pode interessar-nos se for lucrativo.
— Verdade? Pensávamos que fosse um amigo de
Teruhico Maeda e jamais poderíamos supor que nos fosse
fazer um oferecimento dessa natureza.
— Maeda era membro de nossa organização. Está claro
que, logo de início, ficamos revoltados com seu assassinato.
Como tínhamos recebido uma carta sua mencionando o
nome de Nakajima, enviaram-me para eu procurá-lo e
discutir com ele todo o assunto que propusera a Maeda.
— Não entendo como o senhor, um homem branco, pode
pertencer a uma organização japonesa?
— Nunca disse que esta fosse japonesa, mas que sua sede
central está em Tóquio. Eu resido na Califórnia, mas temos
homens espalhados por todas as partes do mundo.
— Explicação convincente, senhor Stack. Kami também
comentou sobre a perícia que tem ao manejar um sabre. O
senhor Nakajima entende um pouco sobre essa arma e
concluiu que deve ser um kendoka, um cultivador de uma
arma milenar japonesa criada por Kendo. O que me diz?
— Aprendi o Kendo quando estive no Japão e agora o
ensino em minha academia em Los Angeles. Também sou
iniciado em judô e karatê e sou Segundo Dan de Aikido.
— Fascinante, mas o que significa isso?
— Significa que sou um budoka, Smith e se você
costuma ver alguns filmes com Bruce Lee, certamente já tem
uma ideia do que são essas artes marciais seculares.
— Senhor Stack, tenta avisar-nos que é um homem
perigoso? Já sabíamos disso, mas tenho a impressão que tem
mais coisas para nos dizer.
— Nakajima poderá explicar o que é um budoka. Agora,
minha organização somente se interessa por dinheiro. Era
por isso que estávamos financiando as pesquisas em pessoal
altamente qualificado, se de fato as atividades do grupo nos
parecer interessantes.
— Quanto poderia investir em nossa organização, por
exemplo?
— Dois milhões de dólares. Três, quatro... depende.
— Dez?
— Talvez — respondeu, olhando Smith fixamente.
Kami que estivera em silêncio até então, se levantou e
conversou baixinho com Smith. Este sorriu sem dizer nada.
Depois a mascarada também olhou para ele e Stack podia ver
seus olhos brilhando nos pequenos orifícios da máscara.
— Senhor Stack, resolvemos aceitar sua oferta e também
decidimos que tem o direito de saber o que estamos fazendo
e em que pesquisas usaremos o dinheiro que nos oferece. Por
favor, quer acompanhar-nos?
Smith levantou-se. Era bem mais baixo do que Kami. A
mulher tinha um corpo lindo, pena seu rosto deformado...
Os três saíram da sala. Smith abriu a porta que ia dar no
corredor. A primeira coisa que Stack notou foram as janelas
fechadas. Entraram em uma sala mais ampla, onde estavam
vários homens trabalhando com aparelhos elétricos e
complicados. E foi aí nessa sala que viu os crânios...
Vários expostos em prateleiras. Todos descarnados e
limpos e com algumas letras feitas com tinta preta. Mas mais
curioso ficou quando viu que embaixo de cada crânio,
colocado na prateleira inferior, estava um pequeno recipiente
de vidro, semelhante a um aquário pequeno, munido de
termostato e renovamento continuo de água. Porem dentro
daqueles aquários não havia peixes.
Não, não eram peixes o que estava vendo e... tampouco
sua mente aceitava a hipótese que surgira de repente.
Smith segurou-lhe o braço e o levou para perto das
estantes e aí, já não pôde continuar ignorando a realidade.
Dentro daqueles recipientes de vidro estavam cérebros
humanos. Pertenceriam aos crânios que estavam expostos?
Seus olhos dançavam por estes e de repente, pôde ler o que
estava escrito em um deles: Teruhico Maeda. Então, seu
cérebro devia ser o que estava dentro daquele aquário
colocado bem em baixo do crânio que levava seu nome?
— Está surpreendido, senhor Stack?
O kendoka passou a língua pelos lábios que pareciam de
madeira.
— Este aqui é o cérebro de Maeda? — perguntou.
— Sim. E os outros que vê pertencem a pessoas que
“recrutamos” para nossas pesquisas.
— Recrutaram?
— Creio que é melhor se falar nestes termos. Precisamos
de cérebros para nossas experiências e os... “recrutamos”.
Estes deviam ser excepcionais... porque, por exemplo, o meu
ou o seu de nada adiantariam em nosso laboratório, pois
embora sejamos inteligentes, não somos expoentes. Eu
espero que o senhor tenha compreendido que os cérebros que
“recrutamos” pertenceram a homens que foram gênios e
tiveram um quociente de inteligência além do normal.
— Facilmente chega-se a essa conclusão recordando-se
das pessoas que foram decapitadas nestes três últimos meses,
Smith.
— Infelizmente somos obrigados... entende? E nossa
situação não é das melhores, pois a CIA e o FBI estão
investigando essas mortes. Todos estão muito preocupados,
não apenas pelas mortes em si, mas principalmente porque
todas as vítimas dos vários homicídios foram encontradas
decapitadas.
— Não sabia que a CIA também está investigando esse
caso.
— Está, sim. A CIA nunca fica alheia a tudo que
aconteça com técnicos nucleares, físicos, químicos e pessoas
do nível cultural alto. Acredito que seus agentes estão
imaginando que tudo faça parte de um complô dirigido por
uma potência estrangeira...
— Há alguma potência estrangeira intervindo nesse...
“recrutamento”?
— Claro que não, senhor Stack. Tudo é obra minha e de
companheiros cientistas que também estão investigando os
segredos do cérebro. Nakajima esteve com Maeda e
convidou-o, com certa cautela, para participar de nosso
grupo. Porém seu amigo só demonstrou desconfiança e até
certa agressividade quando criticou a proposta que Nakajima
acabava de lhe oferecer. Depois. Maeda disse que iria pensar
na mesma. Felizmente eu havia destacado um japonês para
visitar o japonês... A mim, por exemplo, Maeda teria
engabelado. O senhor sabe como os japoneses costumam
reagir e dificilmente exteriorizam o que estão pensando na
realidade. Nakajima sendo oriental compreendeu que
Teruhico Maeda estava desconfiado pela oferta que lhe fora
feita. Conversou com Kami e os dois concordaram que ele
devia ser eliminado. Teria sido muito mais útil se se juntasse
a nossa equipe, isso levando-se em conta a natureza das
pesquisas que ele já vinha realizando. Kami optou por sua
morte e... posterior aproveitamento de seu cérebro. Já que
não queria colaborar em vida, iria colaborar depois de morto.
O que Kami e nenhum de nós pôde prever, foi que ele se
comunicasse tão rapidamente com um amigo... Como
conseguiu isso?
— Smith, o que ele fez realmente, eu não sei. Suponho
que tenha escrito uma carta e que a deixou com o porteiro do
prédio para este levá-la ao correio.
— E essa carta chegou a Tóquio?
— Exatamente e eu fui designado para procurar Maeda.
— Até agora tudo ia muito bem e não se pode culpar
Kami por esse pequeno insucesso.
— Foi ela quem matou todas as pessoas cujos crânios
estão expostos nesta sala?
— Seríamos mais justos se disséssemos que ela apenas
dirigiu as operações. Kami é uma mulher muito inteligente.
Assim que a vi, pressenti que me serviria como... auxiliar.
Conhece o país, é discreta e já vinha trabalhando há algum
tempo em um laboratório de pesquisas quando lhe fiz o
convite. Imediatamente entendeu que poderia ficar rica,
pediu um tempo para pensar, mas eu tinha certeza de que iria
aceitar. Eu precisava de uma pessoa fria, controlada e que
tivesse conhecimentos da Medicina e Biologia para poder
levar avante o plano que me estava empolgando...
Apresentei-a aos homens que iriam colaborar com ela,
também conhecedores do ofício, porque deve-se ter muito
cuidado quando se corta uma cabeça, entende?
— Nunca pensei nisso — respondeu Stack com voz
rouca.
— Não se pode cortar a cabeça de qualquer modo quando
se pretende aproveitar o cérebro para pesquisas. O corte deve
ser feito em um ponto determinado, a fim de permitir a
alocação de um torniquete no extremo do pescoço; este
evitará o esvaziamento quando a cabeça for retirada do local.
É preciso evitar o escoamento do líquido... Depois a mesma
será acondicionada com muito cuidado, mas esta parte fica
sob os encargos de Kami.
— Smith, está me revelando coisas espantosas e
repugnantes.
— Bem se vê que o senhor não é um cientista, pois se o
fosse, estaria bombardeando-me com perguntas, sem se
preocupar muito com essa repugnância, senhor Stack. Foi
por isso que escolhi Kami para me assessorar. Ela é eficiente
e trabalha muito bem, embora não seja fácil passar-se mais
de oito horas por dia neste laboratório pesquisando sobre
esse assunto apaixonante. Bem, reconheço que é mais
interessante do que analisar o sangue para comprovar a
existência de bacilos ou as fezes para determinar os vermes.
Stack olhou Kami que permanecia imóvel; via o brilho de
seus olhos pelos orifícios da máscara, mas não podia dizer se
eles eram negros, verdes ou azuis, no entanto, podia ver que
aquele brilho era perverso e mau.
Desviou os olhos e perguntou a Smith:
— O que fazem com os cérebros?
— São estes que fornecem-nos o material que será
estudado visando a obtenção de dados que venham nos
ajudar na descoberta da causa que esclareça porque alguns
homens são inteligentes, verdadeiros gênios, enquanto outros
não ultrapassam o nível da mediocridade.
— E de que lhes servirá essas informações?
— Nos ensinarão como temos de manipular qualquer
cérebro para convertê-lo em gênio.
Stack ficou perplexo, tinha a impressão de não o ter
escutado bem.
— Por favor, Smith, poderia me repetir o que disse?
— Digamos que estudando esses cérebros que
pertenceram a pessoas que tinham um quociente de
inteligência altíssimo, encontremos um meio para operar os
cérebros de seres de inteligência normal, a fim de aumentar o
QI que possuem. Em outras palavras: quando conhecermos
profundamente os cérebros dos gênios, poderemos, ou
melhor, poderei ser submetido a uma intervenção cirúrgica
para me tornar um gênio. Não só eu, mas outros homens
poderiam adquirir um nível mais alto de inteligência e em
pouco tempo, poderíamos nos tornar os senhores do mundo.
— Impossível! Como poderiam operar um cérebro para
torná-lo mais inteligente!... Qual o cirurgião que poderia
realizar essa cirurgia?
— O senhor ainda não sabe, mas temos em Washington
uma clínica especializada que somente está aguardando os
resultados de nossas pesquisas para começar a trabalhar.
Primeiramente, com outras pessoas... O pessoal deverá
capacitar-se para só então me operar.
— Donde concluo que terão de “recrutar” um número
maior de gente para chegarem ao ponto desejado.
Smith riu abertamente.
— Creio que lhes faremos um favor aumentando-lhes o
nível mental e imagino que todas as pessoas operadas
saberão nos agradecer.
— Kami Son — interveio Kami. — Parece que o senhor
Stack está um pouco assustado.
— Não estou assustado! Estou aterrado! Realmente
pensam fazer o que estão planejando?
— Por que estaríamos empenhados se não fosse para
levar o projeto adiante? E agora pergunto: Acredita que o
mesmo poderá interessar a sua organização?
No mesmo instante, Jerry Stack imaginou a Kuri Arashi
participando de projetos semelhantes. Pensou no Sensei, seu
velho Mestre de Artes Marciais, o fundador da Kuro Arashi
envolvido naquele assunto. Como Sensei, o homem que
solicitara sua intervenção, pedindo-lhe que entrasse em
contato com Maeda, iria encarar uma operação como a que
estava sendo programada? Como o criador da Kuro Arashi
que pregava que todos os seus discípulos deviam lutar contra
os que atentassem contra os direitos humanos... iria encarar o
caso?
Porém, como já estava mentindo desde o início, só pôde
concordar.
— Tenho a certeza que os planos irão agradar
sobremaneira, Smith. Porém, devo deixar uma coisa bem
clara, não sou eu quem decide definitivamente. Os diretores-
gerais estão no Japão. Conversarei imediatamente com meu
superior e será este quem deverá viajar a Tóquio.
Naturalmente, como sabem, devo regressar a Los Angeles.
— Quando pensa retornar?
— Assim que eu souber de algo concreto, procurarei
Deborah Hogan... Concordam?
— Perfeitamente. Desejo-lhe uma boa viagem, senhor
Stack.
Os dois homens apertaram as mãos. Stack estava
assombrado. Realmente iam permitir que viajasse depois de
lhe terem dado informações tão minuciosas? Estariam
acreditando que a Kuro Arashi ia se interessar por aquilo?
Bem, assim que chegasse em Los Angeles procuraria
conversar com alguns budokas... Iria recrutá-los para junto
voltarem a Los Everglades. Jurava que aquele laboratório
ficaria transformado em um monturo de cinzas...
— Não pode imaginar como estou alegre, senhor Stack,
finalmente podemos ser amigos — disse Kami também
estendendo-lhe a mão. — Desejo-lhe um pronto regresso.
— Voltarei tão logo receba notícias de Tóquio.
— Perdoe-me por não acompanhá-lo à porta — disse
Smith. — Estamos com muito trabalho para ser
providenciado.
— Entendo.
Stack saiu do laboratório acompanhado pelos homens que
o tinham trazido. Chegaram ao pátio e se meteram
novamente no carro.
— Minha katana...! — exclamou Stack.
— Vai recuperá-la... — disse um dos sujeitos, mostrando-
lhe o pano preto com o qual iam vendar seus olhos. —
Espero que desta , vez o senhor não dificulte mais as coisas.
Espero que colabore conosco.
— Amarraram o lenço, mas não imobilizaram suas mãos.
Já era quase noite. Ele estava sentado no banco de trás com
um dos capangas de Kami e os outros dois iam no banco da
frente.
De repente, Stack compreendeu o que estava
acontecendo: Aqueles sujeitos iriam matá-lo.
CAPÍTULO SEXTO
A intromissão do sargento Bartow

Agora compreendia porque lhe deram tantas explicações.


Tinham preferido conversar, trocar ideias e escutá-lo
fingindo muita atenção, apenas para se divertirem um
pouco... Em momento algum acreditaram na história que
inventara.
Pouco a pouco, a verdade foi penetrando em seu cérebro:
Nakajima lhe falara que não deviam confiar em budoka
algum, pois um seguidor da Kuro Arashi jamais colaboraria
numa pesquisa semelhante.
Kami, Smith e todos os outros somente tinham se
divertido um pouco, conversando com ele e agora, os
homens iriam matá-lo e depois, atirariam seu corpo em um
dos muitos pântanos que havia naquela região da Flórida.
O silêncio dentro do carro estava tétrico. Certamente
estavam procurando um local adequado, um pântano que
fosse profundo para jogarem seu corpo...
Estava cercado por três pistolas municiadas e nem a
katana lhe devolveram... Se fosse agredido, somente poderia
contar com as mãos e sua força mental de kendoka... também
poderia usar os ensinamentos ministrados pelo Sensei
Inomura, seu amado Mestre de Artes Marciais.
Sensei ensinara que as quatro regras fundamentais do
Kendo podiam ser definidas, desde que fossem comparadas
às estações do ano:
Regra um: o kendoka será livre e rápido como um dia de
primavera, mas não tomará iniciativas e se deixará levar pela
ação do adversário.
Regra dois: sua ação deverá ser ardente como o sol do
verão. Deverá queimar com toda sua fúria ao atacar o
adversário, sem lhe dar chance de tomar iniciativa.
Regra três: o ataque será realizado sem quaisquer
vacilações, em todas as direções, com a mesma sutileza
incontrolável que existe nos dias de outono.
Regra Quatro: a ação do kendoka deverá se assemelhar às
plantas que no inverno perdem seu encanto, ficam
desfolhadas esperando a chegada da primavera para reflorir
silenciosamente.
Naquele momento, Jerry Stack, Kendo Yodan1, somente
poderia agir de acordo com a regra dois.
Embora estivesse com os olhos vendados sua ação foi
rápida e direta. Com o cotovelo esquerdo bateu no homem
que estava sentado a seu lado... Calculou a posição da
cabeça, mais ou menos na altura da sua e com o cotovelo
aplicou-lhe um empi ate para cima e lateralmente. Notou que
o impacto fez estremecer o corpo do indivíduo e ouviu
quando este bateu violentamente. Arrancou a venda que
cobria os olhos e olhou para os outros dois que estavam no
banco da frente, muito assustados c pálidos como cadáveres.
Enquanto tirava a venda, sua mão direita saiu na direção
horizontal e foi direta ao queixo de um dos matadores. O
impacto foi violento e Stack que não estava acostumado a
aplicar o Shuto do Karatê sentiu uma dor horrível no punho e
mão.
Porém seus dois golpes tinham sido decisivos. O primeiro
tipo estava desmaiado e não ia recobrar os sentidos com
facilidade e o segundo, fora jogado de encontro ao para-
brisas e sofrera fratura de crânio. Sua morte foi instantânea...
O terceiro cidadão que estava ao volante, conseguiu frear o
1
Quarto Dan, neste estilo de arte marcial. (Nota do autor)
carro com alguma dificuldade, e agora, tentava apanhar a
arma de sob a axila esquerda.
Stack abriu a porta do carro e se jogou para fora,
protegendo a cabeça com os braços. Rolou pelo chão no
momento exato em que o estampido cortava o silêncio. A
bala passou zunindo por sua cabeça, enquanto ele ia
mergulhando no charco pantanoso, salpicado de vegetação.
Outra bala passou cantando perto dele, mas agora, estava
submerso até os ombros naquele lodo viscoso e fedorento. A
noite estava negra e poderia escurecer muito mais ainda, se
uma nuvem cobrisse a lua quarto-crescente que começava a
aparecer no céu.
As balas continuavam silvando na escuridão. Stack temeu
que o alcançassem e começou a afastar-se lentamente,
enquanto a silhueta de seu perseguidor continuava parada à
margem do pântano.
De repente, o lodo diminuiu, ficou somente na altura dos
joelhos e pouco depois, ele chegava à margem oposta. Era
uma estrada! Começou a correr sem saber onde estava ou
onde poderia chegar. Foi aí que escutou o ruído do motor e
em seguida, viu seus faróis. Estes estavam tão perto que o
cegaram momentaneamente. Tropeçou na raiz de uma árvore
e caiu. Levantou-se rapidamente. Os faróis continuavam
aproximando-se dele. O carro agora rodava a mais de
cinquenta milhas por hora. Via que dificilmente ia livrar-se,
pois parecia querer atropelá-lo e se isso acontecesse, se o
veículo conseguisse apanhá-lo, iria ficar triturado com seu
peso... e os faróis o estavam quase alcançando.
Foi então que Jerry Stack se virou para o carro que ia
atropelá-lo, continuou correndo e suas pernas se elevaram no
salto mais desesperado e improvisado de sua vida.
Um Kiai vigoroso brotou de dentro dele atravessando a
noite:
— Dooooooooiiiiiiiiiaaooooooo!...
O carro passou por baixo de Jerry Stack. O budoka
elevou-se do chão e praticamente voou pelos ares e ainda
continuava voando quando os freios falharam, os pneus
derraparam e os faróis passaram a iluminar só o pântano. O
motorista tentou fazer uma manobra, mas não dominou a
direção e o veículo acabou precipitando-se no lodo.
Jerry agora já estava no chão e pôde ouvir perfeitamente
o glu-glu-glu-glu que a água produzia conforme ia
inundando o carro que começou a submergir.
Em seguida, tudo ficou em calma e em silêncio.
Jerry ficou parado como que fazendo parte da escuridão.
Não tinha noção de onde poderia estar, onde ficava a casa de
Kami e nem em que direção esta se achava.
Começou a caminhar afastando-se daquele lugar, onde
seus três prováveis assassinos repousavam enterrados no
lodo com carro e tudo.
Minutos mais tarde, começou a sentir frio e principiou a
correr em marcha moderada para aquecer-se e para ganhar
tempo. Onde quer que terminasse a estrada, poderia chegar
até lá correndo e se corresse, chegaria um pouco mais
rápido... Minutos mais tarde, esta estrada desembocou em
outra mais larga e ele continuou correndo por ela.
De repente, notou a luz que se projetava a suas costas.
Parou no acostamento e acenou para o carro que se
aproximava.
O motorista parou e ficou surpreso ao vê-lo coberto de
lama.
— Sofri um acidente, seria tão amável a ponto de me
levar para Miami ou até onde: eu possa apanhar um táxi?
***
O porteiro do Ocean Motel arregalou os olhos quando ele
apareceu.
— Sofri um acidente — Jerry falou rapidamente, antes
que o outro pudesse fazer algum comentário. — Até minha
carteira de dinheiro está ensopada. Quer pagar o táxi que está
esperando aí fora? Dê mais cinquenta dólares ao motorista,
uma gratificação pelo estrago que causei ao estofado.
— Sim... sim, senhor. Está se sentindo bem? Não seria
melhor eu telefonar para o dou...
— Estou muito bem, não estou sentindo nada. Amanhã de
manhã, quero que me indique alguém para buscar meu carro.
— Sim, senhor Stack. Farei o que me for determinado.
Estendeu a chave ao rapaz e saiu rapidamente para pagar
o motorista do táxi.
Jerry Stack meteu a chave na fechadura do chalé que
havia alugado quando chegara a Flórida.
Entrou na cabana, fechou a porta, só desejando tomar
uma ducha para tirar o lodo que estava ressecado em sua
pele. Acendeu a luz e quase se assustou quando ouviu a voz:
— Stack! O que foi que aconteceu?
O kendoka se virou rapidamente, franziu a testa e
perguntou com frieza.
— Por todos os diabos! O que veio fazer aqui?
A sargento Sarah Bartow levantou-se da poltrona onde
estava sentada e se aproximou dele, sem poder esconder o
medo.
— O que foi que lhe aconteceu? — insistiu.
— Alguém deve responder as perguntas, pois se nós dois
só perguntarmos, estaremos perdendo tempo. O que veio
fazer aqui, sargento?
— Vá tomar um banho, mudar essa roupa cheia de
barro... O que foi que aconteceu com você?
Stack já estava perdendo a paciência com aquela
insistência, persistência e teimosia feminina. Passou rente a
ela, entrou no quarto è começou a despir-se rapidamente.
Sarah Bartow estava parada à porta e o contemplava, agora
mais tranquila, quase sorridente.
— Pelo menos, não o mataram.
— Já notou que estou me despindo? — resmungou Stack.
— E daí?
— Por mim tanto faz. Não tenho nada para envergonhar-
me.
Mal acabou de falar, tirou a última peça de roupa que
deixou escorregar pelas pernas, até o chão. Agora estava nu
em pelo e entrou no quarto de banho. Segundos mais tarde,
estava se deliciando sob a ducha de água quente que aos
poucos começava a limpar sua pele enegrecida pela lama.
Sarah Bartow estava encostada à porta e o observava,
sorrindo. Depois que ele fechou a torneira e a água deixou de
jorrar, ela se aproximou e lhe entregou a toalha.
— Você tem um corpo bem balanceado e musculoso —
comentou.
— Como conseguiu encontrar-me? — perguntou,
começando a se enxugar vigorosamente.
— Quando meu companheiro destacado para vigiá-lo, me
disse o que você tinha feito com ele, compreendi
imediatamente que havia decidido afastar-se, sem levar em
conta a minha proibição. E agora sua situação piorou, Stack!
Surrou um policial, mas conversarei com Steve e farei que
desista de apresentar queixa contra você — riu Sarah. —
Quer saber como eu o encontrei? Pois então, escute:
Começamos a fiscalizar as listas dos passageiros do
aeroporto e você não estava na de Miami. Pedi colaboração
aos colegas desta cidade, para se empenharem na localização
do senhor Jerry Stack. Não foi fácil... mas aqui estou eu. E
parece que todo meu trabalho compensou. Você encontrou
Kami novamente?
— Sim. Quero saber se tem uma ordem judicial para
entrar em meu domicílio?
— Não. Usei de certos meios muito usados por policiais.
— Posso denunciá-la por invasão de domicílio.
— Pare com isso, Stack e falemos sério! Steve não vai
apresentar queixa. Assunto encerrado e você também pode
esquecer-se que entrei aqui como se fosse uma ladra... Kami
é o que mais me interessa. Onde está?
— Nem faço ideia.
— Stack, estou sozinha em Miami, mas posso solicitar a
colaboração de toda a polícia local e...
— De que modo está sozinha? — perguntou Jerry.
— O caso das cabeças cortadas é só meu e desejo
resolvê-lo sozinha. Só pedirei colaboração em último caso,
mas se eu der um positivo, terei assegurado minha promoção
para tenente. Entende?
— Perfeitamente. Quer me utilizar para conseguir a
promoção que ambiciona, não é verdade?
— Sim, é o que mais desejo. Crê que estou errada?
Jerry ficou pensativo por alguns segundos e sorriu.
— Não. O pedido é razoável desde que você saiba
comportar-se.
— Não se preocupe, sou uma moça ponderada.
— É uma moça?... Pensei que fosse só um sargento —
falou com ironia.
— Começo a desconfiar que você está aborrecido
comigo, mas sou eu quem devia estar zangada com você.
Àquela noite, você nem sabe como fiquei...
— Parece que empatamos, mas é bem como eu disse:
tudo depende da gente saber se controlar e quando não se
consegue, é só tomar uma ducha fria.
— Você precisou tomar?
— Não.
— Então você devia ter passado muito mal — riu Sarah.
Ele a fitou de revés, estava linda, linda, mas naquele
momento não podia pensar em nada. A propósito Sarah o
compreendeu assim.
— Não me olhe desse modo... Vamos falar sério, tá?
— Falar, você quer que eu lhe diga tudo que sei sobre o
caso para garantir sua promoção, não é?
— Já sei quem é você, Stack — murmurou.
Ele enrolou a toalha de banho na cintura e saiu do
banheiro.
— Sim? E quem sou eu?
— Jerry Stack não é somente um expert em arte oriental,
mas é um mestre de Kendo, em Los Angeles.
— Mestre! — zombou o rapaz. — Sou um
professorzinho, só isso!...
— Bem, informaram-me que você ensina Kendo, e além
disso sabe Aikido, Karatê, técnicas marciais seculares no
Oriente... Meus colegas também esclareceram que você é
uma pessoa muito respeitada e acatada por todos.
— Isso é verdade? Juro como não sabia!
— Stack, sei que você é um homem digno e honrado.
Não é isso o que me aborrece, ao contrário, até me alegra.
Mas sejamos razoáveis, você sozinho não pode enfrentar-se
com todos que estão envolvidos no caso. Concorda comigo?
— Por que eu não posso tomar conta de tudo?
— Porque um homem por ser budoka não passa a ser
imortal.
— Evidente que não.
— Pelo menos desta vez você concordou comigo. Afinal,
você não me vai contar o que aconteceu?
— Sargento, posso vestir-me primeiro?
Sarah Bartow se aproximou dele, passou os braços por
seu pescoço e o beijou demoradamente nos lábios. Depois,
mesmo sem soltá-lo, autorizou:
— Já pode vestir-se.
— Agora que você me complicou as coisas? Não me diga
que não está notando o que este seu beijo fez em mim, de
novo!
A moça ficou vermelha como uma papoula e sorriu.
— Claro que notei, mas é assim que eu gosto...
— Não, chega! — murmurou o homem. — Não pense em
começar com a brincadeira novamente! Vá, vá, vá sentar-se
naquela poltroninha!
Não estou com vontade de divertir-me esta noite... Com
você experimentei uma vez e chega!... Não quero ficar
novamente daquele jeito!
Ela o beijou mais uma vez e o obedeceu. Sentou-se perto
da janela, mas não tirava os olhos do homem que se vestia
perto da cama. Em poucos minutos, estava impecável,
elegante como sempre se apresentava.
Sentou-se na beirada da cama e contemplou a moça que
continuava silenciosa.
— O que está acontecendo?
— Se não fosse por meu sentido de dever, as coisas não
terminariam deste modo, Stack — respondeu em sussurro.
— Mas não adianta se falar disso... Está bem... falemos de
outra coisa... Creio que é você quem deve falar.
Ele sacudiu a cabeça, concordando e começou a explicar
à sargento Bartow como as coisas aconteceram e o que
descobrira. Contou tudo, ou melhor, quase tudo porque nada
contou sobre as três horas bem agradáveis que passara na
casa de Deborah Hogan, aguardando uma resposta de Kami.
E nem tampouco disse onde a casa ficava. Porém, quando ele
se calou, Sarah acreditava estar a par de tudo.
— Stack, espero que você não esteja se divertindo.
— Por que eu iria enganá-la?
— O que você me contou é fantástico! Parece que aquela
gente está maluca!
— Exatamente. São nada mais do que assassinos,
assassinos doidos!
— Stack, agora tenho certeza de que você só me contou a
verdade.
— Sim, o que mais eu lhe poderia contar, sargento?
— Nós dois sozinhos não vamos solucionar o caso, não
é? Pedirei colaboração ao Departamento de Polícia de Miami
e nos organizaremos adequadamente para irmos à tal casa de
Los Everglades...
— Sargento, parece que você não me entendeu muito
bem: Eu não sei onde aquela casa está situada.
— Sim, mas sabe onde fica a casa da irmã de Kami, a
senhorita Deborah Hogan, não é? Iremos vê-la e ela poderá
nos dizer onde fica a casa da irmã. Ela deve saber muito bem
onde se pode encontrar Kami Hogan!
— Suponho que você tem razão — teve de admitir Jerry.
— Por muito inocente que deseje parecer, ela deve saber
onde se esconde sua irmã.
— Claro. Onde Deborah Hogan mora?
— No 88 de Franklin Avenue, em Coconut Grove.
— Muito bem, então podemos ir diretamente, para lá.
— Sargento, não gosto de grupos, não sou policial e
gosto de resolver as coisas do meu modo, e de minha
maneira, entende? Não tolero andar com tipos armados,
soltando tiros. Esse não é precisamente meu estilo de
trabalho.
— Não está pretendendo que meus colegas vão àquela
casa desarmados! — irritou-se Sarah.
— Não, não era isso o que eu estava pensando, sargento.
Acho melhor não contar comigo para elucidar o caso das
cabeças decepadas. Já sei o que eu queria saber: Maeda está
morto e o caso perdeu o interesse para mim. Se você quiser,
poderá ir com seu pessoal à casa da senhorita Hogan.
— Compreendo, você está se sentindo cansado — Sarah
sentou em seu colo e o beijou nos lábios docemente.— Está
bem, Stack, você fica, mas eu voltarei assim que ficar livre.
Ficará me esperando?...
— Para quê? — perguntou o budoka.
— Quando eu voltar, nós dois resolveremos — disse
beijando-o novamente.
Ficou sozinho, deitou-se na cama, fechou os olhos e
relaxou... Meia hora mais tarde, levantou-se quase refeito,
apagou a luz do quarto, da saleta, e saiu.
Três minutos mais tarde tomava um táxi na Collins
Avenue e mandou o motorista ir para a West 33rd-Street,
número 1100, em Hialeah.
CAPÍTULO SÉTIMO
Uma história muito interessante

O táxi parou no endereço que ele deu. Stack pagou a


corrida, desceu e ficou olhando o carro que se afastava.
Depois olhou para o que havia alugado quando chegara à
Flórida. Já devia estar há quase dez horas estacionado
naquele local... Dez horas emocionantes de um dia que
parecia interminável.
Andou até o número 2222. A casa estava às escuras,
somente tinha uma das janelas do andar superior iluminada.
Atravessou o jardim e bateu à porta. Novamente o carrilhão
ressoou pela casa. Ele ficou olhando para cima e viu quando
Deborah afastou a cortina e perguntou:
— Quem está aí?
— O Viajante da Lua.
— Jerry! Você voltou? — exclamou com alegria.
Escutou seus passos descendo a escada quase correndo.
Abriu a porta e se jogou nos braços do visitante. Stack a
abraçou pela cintura, levantou-a nos braços e entrou em casa,
fechando a porta com o pé.
— Oh, Jerry! — falou Ofegante. — Não pensava que
fosse voltar tão depressa! Eu já estava dormindo, mas não
importa! É tão chato a gente ter de dormir sozinha!
— Concordo com você — sorriu o rapaz.
— Vamos para... Você viu minha irmã? Entraram em
acordo?
O kendoka sorriu, segurou sua mão e a levou para a
saleta. Chegando ali, abraçou-a com muito carinho e a fez
rodopiar à sua frente. Debbie Hogan vestia somente uma
camisolinha curtinha, transparente e estava deliciosa. Ela
sorriu maliciosamente, piscou um olho e perguntou:
— Então, está gostando da amostra?
— Você está apetitosa, pequena! Estou ficando tarado e
você sabe que gosto de conservar muito bem as coisas que
me agradam. Nem pode imaginar como eu me sentiria se
tivesse de deixar seu rostinho angelical todo deformado e
marcado como o de sua irmã, minha queridinha...
A moça arregalou os olhos. Stack se sentou em uma
poltrona e obrigou que ela se sentasse em seus joelhos,
sempre afagando-a e fazendo carinhos ousados e
prometedores. Deborah estava confiante novamente e sorriu
quando ele disse:
— Vou contar-lhe uma história, minha adorada... Era
uma vez duas irmãs, uma delas era médica, mas sofreu um
acidente e ficou muito feia. Além de ser uma pessoa muito
ambiciosa, também começou a nutrir um ódio profundo
contra o mundo. Estava revoltada com sua feiura e aceitou
trabalhar com um tipo adoidado que pesquisava cérebros
humanos. Esta moça se chamava Nancy e começou a dirigir
um grupo de homens, orientando-lhes, ensinando-lhes o
modo correto como deviam cortar as cabeças de suas
vitimas: como deviam prepará-las e como as mesmas deviam
ser transportadas. Nancy era muito má e tinha uma irmã que
se chamava Deborah. Esta garota era linda, linda mesmo e...
por isso, não odiava o mundo e nem tinha motivos para ser
má. Mas também era muito ambiciosa e desejava ganhar
muito dinheiro e por isso, associou-se à irmã. Nancy
desapareceu da casa onde moravam, mas Deborah continuou
residindo ali... somente para receber recados. E só se
comunicava com a irmã por meio de pombos correios, todos
machos... Um dia, um homem chamado Stack apareceu na
casa de Deborah, a jovem já tinha ouvido falar dele, mas lhe
disse que não o conhecia e que apenas podia avisar a irmã
Nancy para ver se poderia recebê-lo, uma vez que o
desconhecido queria fazer um acordo com ela. Então,
Deborah soltou um de seus pombos, não qualquer um, mas o
que sempre usava para se comunicar com a irmã. Nancy
recebeu a avezinha, leu a nota de Stack e mandou três
homens maus para levá-lo a Los Everglades. A casa de
Nancy ficava perto da de Deborah, mas eles ficaram
vigiando sua casa, enquanto a moça e Stack faziam repetidas
viagens à Lua. Era um modo muito interessante de passarem
o tempo e também para Deborah se certificar que Stack tinha
vindo só, sem nenhum amigo... Quando teve certeza de que
realmente ele estava sozinho, fez um sinal aos homens maus
e estes bateram a campainha da porta. Deborah abriu-a para
eles entrarem e foi então que os homens maus avisaram que
Nancy os tinha enviado. O pobrezinho de Stack foi
golpeado, perdeu os sentidos e teve os olhos vendados para
não saber onde morava Nancy. Porém Stack não era bobo e
quando chegou à casa dos pântanos já tinha descoberto
algumas coisas. Os moradores daquela casa lhe disseram que
aceitavam sua oferta, mas estavam mentindo. Mostraram-lhe
tudo que faziam no laboratório porque sabiam que os
homens maus iriam matá-lo. Como já contei, o Stack da
história não era bobo e resolveu atacar antes de ser atacado e
quando os homens iam matá-lo, agiu mais rapidamente e os
matou. Em seguida, voltou a Miami. Foi à casinha de
Deborah que o recebeu com alegria. Ele a abraçou, a beijou e
lhe disse que se não lhe dissesse onde ficava a casa de Los
Everglades, ia acabar com o rosto igual ao de sua irmã.
Deborah fingiu não entender aquela ameaça, mas Stack sabe
que ela não é nenhuma tola e por isso decidiu perguntar-lhe
diretamente: Você vai falar ou quer que eu a deixe igual à
Nancy? Jerry Stack cumpre o que promete!
— Vou lhe dizer tudo que quiser.
— Magnifico! Na realidade, eu não gostaria de fazer o
que prometi, mas agora me diga, onde está localizada aquela
casa de malucos?
— Preciso... apanhar um mapa da Flórida.
— Se não tiver um em casa, posso apanhar o meu que
está no carro.
— Não, eu tenho um aqui. Vou apanhá-lo na...
— Iremos nós dois e se você bancar a esperta, romperei
seus braços.
Deborah abriu uma gaveta da estante de livros e apanhou
um mapa do Estado da Flórida que entregou a Stack. Ambos
se encaminhavam para o sofá quando ela disse:
— Seria bom apanhar uma caneta e um livro para apoiar
o mapa.
— Muito bem.
Voltou novamente à estante, abriu outra gaveta e apanhou
a caneta, olhando para os livros que estavam arrumados nas
prateleiras. Depois apanhou um dos maiores com a mão
esquerda, enquanto introduzia a direita no espaço que ficara
aberto com a retirada do volume encadernado.
— Prepare-se porque agora você vai ver uma coisa! —
gritou.
A pistola apareceu no momento seguinte, quando Stack ia
apanhar o livro de sua mão; com ele rapidamente pressionou
o peito de Deborah e isso desviou o rumo da bala. Ela estava
vermelha de cólera, apertou o gatilho novamente, mas o
kendoka se afastou para o lado e a bala passou rente a sua
cabeça. Deborah ia disparar de novo, Stack se preparava para
novamente fugir da linha de tiro, quando...
Crack! Outro disparo, misturado com o ruído de vidraças
quebradas, que se estilhaçaram em todas as direções.
Deborah Hogan cambaleou, resvalou para trás e a
camisola começou avermelhar sobre o peito esquerdo para
cair quase em seguida de bruços, na pele de leopardo que
também começou a ficar manchada de sangue.
Stack olhou para a janela e viu a sargento Sarah Bartow
empunhando a arma ainda fumegante.
O budoka não disse uma palavra e se ajoelhou ao lado da
moça, virou-a com grande cuidado. Enquanto isso, Sarah
abriu o trinco da janela, metendo o braço pelos espaços que
estavam sem vidro e pulou em seguida.
— Está morta? — perguntou em um sussurro.
— Não, mas não creio que viva muito tempo.
— Jerry, eu não queria matá-la, mas fui forçada!
— Agora já não me chama de Stack?
— Não consegui dominar-me quando vi que ela ia
disparar contra você!
— Está bem, não adianta se continuar falando do leite
derramado... Você atirou, ela está ferida... Eu deveria ter
percebido que você continuaria jogando sujo. Pelo menos
veio sozinha?
— Sim. Eu tinha certeza de que você me mentiu. Os
colegas de Miami me emprestaram um carro do
Departamento de Polícia.
— Quem é da polícia tem muitas vantagens para chegar
ao positivo, mas agora quero ver você descobrir onde está a
casa dos assassinos.
Sarah mordeu os lábios e confessou:
— Sei que fui precipitada, mas não ia permitir que essa
mulher o matasse, Jerry.
— Estou muito agradecido a você. Agora temos de agir.
Chame uma ambulância e vê se me arranja lençóis para se
fazer um torniquete porque a hemorragia continua
aumentando.
A ambulância chegou em seguida e transportou a ferida
para um hospital. Uma turma do Departamento de
Homicídios chegou ao local e agora, o tenente Dan Sparrow,
três auxiliares, a sargento Sarah Bartow e Jerry Stack
conversavam.
Queriam organizar um plano com o qual pudessem
surpreender os “cientistas” do laboratório de Los Everglades.
— Precisamos fazer alguma coisa para desmascarar essa
gente — disse Sarah.
— Concordo. O senhor tem alguma sugestão, tenente? —
sorriu Stack.
— Creio que o senhor deve ter pelo menos uma noção de
onde esteve. A região dos pântanos não chega a ser
inteiramente povoada. Lá existem moradias esparsas que são
usadas nos fins de semana e dias de descanso. Podemos dar
uma batida e estou certo de que encontraremos a tal casa.
Organizaremos uma turma que deverá nos acompanhar
imediatamente.
— De noite, tenente? Por que não esperamos até amanhã?
Eu não tenho radar e nunca fui morcego.
— Está bem — sorriu o tenente. — Nós iremos em
grupo, mas alguns ficarão aqui; talvez a tal de Nancy mande
alguém para tratar do enterro.
— Boa ideia — concordou Jerry, levantando-se. — Já
que iremos só amanhã de manhã, irei descansar no motel.
Estou com muito sono.
— Mandarei levá-lo em um dos carros e...
— Não há necessidade, tenente. O meu está estacionado
bem perto daqui, mas muito obrigado por tudo.
— Então, você já vai? — perguntou Sarah.
— Não tolero aglomerações.
— Eu posso acompanhá-lo.
— Somente se eu quiser acabar no inferno! — retrucou
grosseiramente quando já se aproximava da porta que ia dar
no pátio dos fundos.
— O que você vai fazer? — perguntou Sarah.
— Não suporto gente curiosa. Aposto como tem pessoas
aí fora esperando para saber das novidades. Não suporto tudo
isso!
Saiu para o pátio interno e foi direto à gaiola dos pombos
correios, apanhou um deles e o escondeu dentro do paletó. A
ave se deixou apanhar sem picadas ou outras reações, nem
piados ou tentativas de voos. Pulou o muro que ia dar na rua
vizinha; não queria encontrar-se com ninguém e muito
menos com os policiais que estavam vigiando a casa.
Apanhou o carro e conduziu para o Ocean Motel com o
pombo se mantendo imóvel dentro de seu paletó, dando a
impressão de ser um bichinho empalhado.
Assim que chegou na cabana do Ocean Hotel o meteu
dentro do armário. Depois apanhou a lista de telefones,
folheou-a por alguns momentos e fez uma chamada.
Conversou durante alguns minutos e tudo ficou combinado
para as sete da manhã. Depois, desligou, despediu-se e se
deitou. Apagou a luz do abajur e dormiu como um justo.
CAPÍTULO OITAVO
Uma história muito interessante

O táxi parou no endereço que ele deu. Stack pagou a


corrida, desceu e ficou olhando o carro que se afastava.
Depois olhou para o que havia alugado quando chegara à
Flórida. Já devia estar há quase dez horas estacionado
naquele local... Dez horas emocionantes de um dia que
parecia interminável.
Andou até o número 2222. A casa estava às escuras,
somente tinha uma das janelas do andar superior iluminada.
Atravessou o jardim e bateu à porta. Novamente o carrilhão
ressoou pela casa. Ele ficou olhando para cima e viu quando
Deborah afastou a cortina e perguntou:
— Quem está aí?
— O Viajante da Lua.
— Jerry! Você voltou? — exclamou com alegria.
Escutou seus passos descendo a escada quase correndo.
Abriu a porta e se jogou nos braços do visitante. Stack a
abraçou pela cintura, levantou-a nos braços e entrou em casa,
fechando a porta com o pé.
— Oh, Jerry! — falou Ofegante. — Não pensava que
fosse voltar tão depressa! Eu já estava dormindo, mas não
importa! É tão chato a gente ter de dormir sozinha!
— Concordo com você — sorriu o rapaz.
— Vamos para... Você viu minha irmã? Entraram em
acordo?
O kendoka sorriu, segurou sua mão e a levou para a
saleta. Chegando ali, abraçou-a com muito carinho e a fez
rodopiar à sua frente. Debbie Hogan vestia somente uma
camisolinha curtinha, transparente e estava deliciosa. Ela
sorriu maliciosamente, piscou um olho e perguntou:
— Então, está gostando da amostra?
— Você está apetitosa, pequena! Estou ficando tarado e
você sabe que gosto de conservar muito bem as coisas que
me agradam. Nem pode imaginar como eu me sentiria se
tivesse de deixar seu rostinho angelical todo deformado e
marcado como o de sua irmã, minha queridinha...
A moça arregalou os olhos. Stack se sentou em uma
poltrona e obrigou que ela se sentasse em seus joelhos,
sempre afagando-a e fazendo carinhos ousados e
prometedores. Deborah estava confiante novamente e sorriu
quando ele disse:
— Vou contar-lhe uma história, minha adorada... Era
uma vez duas irmãs, uma delas era médica, mas sofreu um
acidente e ficou muito feia. Além de ser uma pessoa muito
ambiciosa, também começou a nutrir um ódio profundo
contra o mundo. Estava revoltada com sua feiura e aceitou
trabalhar com um tipo adoidado que pesquisava cérebros
humanos. Esta moça se chamava Nancy e começou a dirigir
um grupo de homens, orientando-lhes, ensinando-lhes o
modo correto como deviam cortar as cabeças de suas
vitimas: como deviam prepará-las e como as mesmas deviam
ser transportadas. Nancy era muito má e tinha uma irmã que
se chamava Deborah. Esta garota era linda, linda mesmo e...
por isso, não odiava o mundo e nem tinha motivos para ser
má. Mas também era muito ambiciosa e desejava ganhar
muito dinheiro e por isso, associou-se à irmã. Nancy
desapareceu da casa onde moravam, mas Deborah continuou
residindo ali... somente para receber recados. E só se
comunicava com a irmã por meio de pombos correios, todos
machos... Um dia, um homem chamado Stack apareceu na
casa de Deborah, a jovem já tinha ouvido falar dele, mas lhe
disse que não o conhecia e que apenas podia avisar a irmã
Nancy para ver se poderia recebê-lo, uma vez que o
desconhecido queria fazer um acordo com ela. Então,
Deborah soltou um de seus pombos, não qualquer um, mas o
que sempre usava para se comunicar com a irmã. Nancy
recebeu a avezinha, leu a nota de Stack e mandou três
homens maus para levá-lo a Los Everglades. A casa de
Nancy ficava perto da de Deborah, mas eles ficaram
vigiando sua casa, enquanto a moça e Stack faziam repetidas
viagens à Lua. Era um modo muito interessante de passarem
o tempo e também para Deborah se certificar que Stack tinha
vindo só, sem nenhum amigo... Quando teve certeza de que
realmente ele estava sozinho, fez um sinal aos homens maus
e estes bateram a campainha da porta. Deborah abriu-a para
eles entrarem e foi então que os homens maus avisaram que
Nancy os tinha enviado. O pobrezinho de Stack foi
golpeado, perdeu os sentidos e teve os olhos vendados para
não saber onde morava Nancy. Porém Stack não era bobo e
quando chegou à casa dos pântanos já tinha descoberto
algumas coisas. Os moradores daquela casa lhe disseram que
aceitavam sua oferta, mas estavam mentindo. Mostraram-lhe
tudo que faziam no laboratório porque sabiam que os
homens maus iriam matá-lo. Como já contei, o Stack da
história não era bobo e resolveu atacar antes de ser atacado e
quando os homens iam matá-lo, agiu mais rapidamente e os
matou. Em seguida, voltou a Miami. Foi à casinha de
Deborah que o recebeu com alegria. Ele a abraçou, a beijou e
lhe disse que se não lhe dissesse onde ficava a casa de Los
Everglades, ia acabar com o rosto igual ao de sua irmã.
Deborah fingiu não entender aquela ameaça, mas Stack sabe
que ela não é nenhuma tola e por isso decidiu perguntar-lhe
diretamente: Você vai falar ou quer que eu a deixe igual à
Nancy? Jerry Stack cumpre o que promete!
— Vou lhe dizer tudo que quiser.
— Magnifico! Na realidade, eu não gostaria de fazer o
que prometi, mas agora me diga, onde está localizada aquela
casa de malucos?
— Preciso... apanhar um mapa da Flórida.
— Se não tiver um em casa, posso apanhar o meu que
está no carro.
— Não, eu tenho um aqui. Vou apanhá-lo na...
— Iremos nós dois e se você bancar a esperta, romperei
seus braços.
Deborah abriu uma gaveta da estante de livros e apanhou
um mapa do Estado da Flórida que entregou a Stack. Ambos
se encaminhavam para o sofá quando ela disse:
— Seria bom apanhar uma caneta e um livro para apoiar
o mapa.
— Muito bem.
Voltou novamente à estante, abriu outra gaveta e apanhou
a caneta, olhando para os livros que estavam arrumados nas
prateleiras. Depois apanhou um dos maiores com a mão
esquerda, enquanto introduzia a direita no espaço que ficara
aberto com a retirada do volume encadernado.
— Prepare-se porque agora você vai ver uma coisa! —
gritou.
A pistola apareceu no momento seguinte, quando Stack ia
apanhar o livro de sua mão; com ele rapidamente pressionou
o peito de Deborah e isso desviou o rumo da bala. Ela estava
vermelha de cólera, apertou o gatilho novamente, mas o
kendoka se afastou para o lado e a bala passou rente a sua
cabeça. Deborah ia disparar de novo, Stack se preparava para
novamente fugir da linha de tiro, quando...
Crack! Outro disparo, misturado com o ruído de vidraças
quebradas, que se estilhaçaram em todas as direções.
Deborah Hogan cambaleou, resvalou para trás e a
camisola começou avermelhar sobre o peito esquerdo para
cair quase em seguida de bruços, na pele de leopardo que
também começou a ficar manchada de sangue.
Stack olhou para a janela e viu a sargento Sarah Bartow
empunhando a arma ainda fumegante.
O budoka não disse uma palavra e se ajoelhou ao lado da
moça, virou-a com grande cuidado. Enquanto isso, Sarah
abriu o trinco da janela, metendo o braço pelos espaços que
estavam sem vidro e pulou em seguida.
— Está morta? — perguntou em um sussurro.
— Não, mas não creio que viva muito tempo.
— Jerry, eu não queria matá-la, mas fui forçada!
— Agora já não me chama de Stack?
— Não consegui dominar-me quando vi que ela ia
disparar contra você!
— Está bem, não adianta se continuar falando do leite
derramado... Você atirou, ela está ferida... Eu deveria ter
percebido que você continuaria jogando sujo. Pelo menos
veio sozinha?
— Sim. Eu tinha certeza de que você me mentiu. Os
colegas de Miami me emprestaram um carro do
Departamento de Polícia.
— Quem é da polícia tem muitas vantagens para chegar
ao positivo, mas agora quero ver você descobrir onde está a
casa dos assassinos.
Sarah mordeu os lábios e confessou:
— Sei que fui precipitada, mas não ia permitir que essa
mulher o matasse, Jerry.
— Estou muito agradecido a você. Agora temos de agir.
Chame uma ambulância e vê se me arranja lençóis para se
fazer um torniquete porque a hemorragia continua
aumentando.
A ambulância chegou em seguida e transportou a ferida
para um hospital. Uma turma do Departamento de
Homicídios chegou ao local e agora, o tenente Dan Sparrow,
três auxiliares, a sargento Sarah Bartow e Jerry Stack
conversavam.
Queriam organizar um plano com o qual pudessem
surpreender os “cientistas” do laboratório de Los Everglades.
— Precisamos fazer alguma coisa para desmascarar essa
gente — disse Sarah.
— Concordo. O senhor tem alguma sugestão, tenente? —
sorriu Stack.
— Creio que o senhor deve ter pelo menos uma noção de
onde esteve. A região dos pântanos não chega a ser
inteiramente povoada. Lá existem moradias esparsas que são
usadas nos fins de semana e dias de descanso. Podemos dar
uma batida e estou certo de que encontraremos a tal casa.
Organizaremos uma turma que deverá nos acompanhar
imediatamente.
— De noite, tenente? Por que não esperamos até amanhã?
Eu não tenho radar e nunca fui morcego.
— Está bem — sorriu o tenente. — Nós iremos em
grupo, mas alguns ficarão aqui; talvez a tal de Nancy mande
alguém para tratar do enterro.
— Boa ideia — concordou Jerry, levantando-se. — Já
que iremos só amanhã de manhã, irei descansar no motel.
Estou com muito sono.
— Mandarei levá-lo em um dos carros e...
— Não há necessidade, tenente. O meu está estacionado
bem perto daqui, mas muito obrigado por tudo.
— Então, você já vai? — perguntou Sarah.
— Não tolero aglomerações.
— Eu posso acompanhá-lo.
— Somente se eu quiser acabar no inferno! — retrucou
grosseiramente quando já se aproximava da porta que ia dar
no pátio dos fundos.
— O que você vai fazer? — perguntou Sarah.
— Não suporto gente curiosa. Aposto como tem pessoas
aí fora esperando para saber das novidades. Não suporto tudo
isso!
Saiu para o pátio interno e foi direto à gaiola dos pombos
correios, apanhou um deles e o escondeu dentro do paletó. A
ave se deixou apanhar sem picadas ou outras reações, nem
piados ou tentativas de voos. Pulou o muro que ia dar na rua
vizinha; não queria encontrar-se com ninguém e muito
menos com os policiais que estavam vigiando a casa.
Apanhou o carro e conduziu para o Ocean Motel com o
pombo se mantendo imóvel dentro de seu paletó, dando a
impressão de ser um bichinho empalhado.
Assim que chegou na cabana do Ocean Hotel o meteu
dentro do armário. Depois apanhou a lista de telefones,
folheou-a por alguns momentos e fez uma chamada.
Conversou durante alguns minutos e tudo ficou combinado
para as sete da manhã. Depois, desligou, despediu-se e se
deitou. Apagou a luz do abajur e dormiu como um justo.
CAPÍTULO NONO
O final de um serviço bem feito

O dia começava a clarear quando o budoka se levantou,


vestiu-se rapidamente e em seguida, abriu o armário. Sorriu
ao ver o pombinho.
— Bom-dia, amiguinho. Desconfio que vamos dar um
passeio, topa?
Saiu do chalé, apanhou o carro que estava no
estacionamento e saiu. O dia prometia ser ensolarado e ele
dirigia, olhando para os lados. Sorriu ao ver o carro parado,
aparentemente vazio.
Stack freou o seu e foi ao outro veículo. Abriu a porta de
trás rapidamente e viu Sarah deitada no banco e espionando
o que acontecia a sua volta.
— Nunca vi outra pessoa tão persistente e tão teimosa —
foi o bom-dia que lhe deu. — Como passou a noite?
— Não foi das piores — respondeu, bocejando. — Valeu
porque não quero que lhe aconteça alguma coisa, Jerry.
— Fantástico! Nunca pensei que fosse arranjei uma babá.
— Longe de mim querer humilhá-lo — enrubesceu a
moça. — Não me conformo por você nunca usar uma arma
de fogo.
— Estas não são tão necessárias. Sargento, poderia
pilotar um helicóptero?
— Claro.
— Pois então venha comigo — falou, puxando-a pela
mão. — Eu tinha certeza que você andaria por perto. Aluguei
o aparelho, mas não contratei piloto... Vamos dar um passeio
de helicóptero. Aposto que nunca vimos nada parecido ao
amanhecer de hoje. Venha, vamos no meu carro.
— Você é muito romântico — riu Sarah, espreguiçando-
se e roçando os seios, propositalmente no tórax do homem.
— Só quero ver como ficarei quando minha babá resolver
abandonar-me — sussurrou o budoka.
Ela se apertou mais e ele, beijou-a e murmurou:
— As boas amas jamais abandonam seus pimpolhos.
— Tomara que dê certo — disse ao abrir a porta do
quarto para ela entrar.
Sarah viu o pombo e o segurou nas mãos.
— Que lindinho! — exclamou.
— Não confie muito porque é um traidor — disse,
ligando o motor do carro.
— Como sabe que ele é um traidor, Jerry?
— Espere para ver como vai delatar seus donos...
Chegaram ao heliporto às sete da manhã e um helicóptero
já o estava aguardando, pronto para ser pilotado, conforme
havia determinado por telefone na noite anterior.
Sarah Bartow tomou conta do volante e Stack sentou-se a
seu lado, mantendo o pombinho entre as mãos.
— Eu não disse que iríamos ver um panorama
lindíssimo? — sorriu ele apontando para a cidade que
sobrevoavam.
— É linda, mas por que trouxe o pombo? Vai mandar
assá-lo para o almoço?
— Eu jamais mandaria matar um animalzinho indefeso
para saciar minha fome. O que acha se lhe déssemos
liberdade?
— Fico até sensibilizada diante de tanta generosidade,
Jerry.
Ele segurou o pombo somente com uma das mãos, depois
pôs esta para fora da janela e soltou a ave. De imediato,
houve uma queda brusca do animal, mas logo em seguida,
ele abriu as asas e começou a subir a evolucionar nós céus,
enquanto o helicóptero se afastava. Stack acompanhava seus
movimentos com muita atenção e viu quando ele apanhou a
direção Sul.
— Procure segui-lo, sargento.
— Farei o possível — respondeu Sarah, manobrando o
aparelho para também seguir aquela direção.
***
Ouviram o ruído do helicóptero e ficaram em silêncio por
alguns segundos. Em seguida, Smith, ou melhor, Kami Son
olhou para Kami que estava deitada a seu lado,
completamente despida e sem a máscara.
— Prosseguiu o voo, certamente só sobrevoa esta região.
— Querido, eu me fico perguntando com insistência sem
encontrar uma resposta: Como você pode suportar uma
mulher tão horrenda como eu?
— Eu me apaixonei por você quando era bonita e não se
esqueça que também estou apaixonado por seu cérebro e que
neste caso, o rosto ou o corpo pouco pesam.
— Eu não diria que você desenha meu corpo, maldito! —
riu ela.
— Você é uma tola e nem pode imaginar como seu corpo
é sedutor, e nem pode imaginar como eu me perco em seus
braços.
— Entendo, não gosta de meu rosto, mas adora todos
meus encantos. Quer ver se realmente são naturais?
— Não... Agora, não. O dia já está claro e os homens já
devem estar à minha espera. Se os outros não retornarem até
meio-dia e se não tivermos notícias de Stack, acho bom a
gente abandonar este lugar. Não entendo esse silêncio
prolongado, porque se tivessem sofrido um acidente, já
saberíamos... Talvez até estejam presos e se forem
submetidos a “certos tratamentos”, acabarão declarando tudo
que sabem. E Stack também pode pressionar Deborah e sua
irmã poderá falar mais do que deve!
— Kami Son, devíamos ter matado Stack aqui mesmo.
— Pensei que fosse melhor fazer-se isso perto do
pântano, mas agora de nada adianta a gente ficar
lamentando. Vou ver se todos já estão preparados para sair
— disse, levantando-se e se vestindo.
Ele saiu do quarto, Nancy Hogan continuou deitada, e
perdeu alguns minutos admirando-se. Seu corpo era lindo,
suave, bem contornado. Tinha raiva por ter ficado com o
rosto deformado e odiava a humanidade inteira. A todos,
principalmente o idiota de Kami Son, mas algum dia, as
coisas ficariam diferentes.
— Preciso ter muita paciência — murmurou.
— Continuarei aceitando seu contato sexual até que tudo
esteja pronto... Quando soubermos o que se deve fazer... eu o
matarei e serei a única responsável pelo estudo e
aproveitamento de cérebros humanos. Concentrarei em
minhas mãos o poder máximo e depois arranjarei uma cara
nova! Farei operar meu cérebro e serei a pessoa mais
inteligente do mundo..
Ouviu o barulho dos carros afastando-se. Os homens
saíam em busca dos companheiros que não retornaram na
véspera, depois de terem acabado com Stack.
Afugentou os pensamentos, pulou da cama, vestiu-se e
saiu do quarto. Passou pela copa e disse a Kami Son:
— Prepare o desjejum enquanto eu alimento os três.
— Querida, é bom ir acostumando-se à ideia de afastar-se
deles. Se abandonarmos esta casa e nosso laboratório,
também teremos de deixá-los aqui.
— Pensarei nisso somente na hora da despedida.
Nancy Hogan foi a um pequeno quarto de madeira que
havia no pátio, abriu a porta e entrou. Lá, entre aquelas
quatro paredes estavam seus três melhores amigos...
Antigamente eram quatro, mas um havia morrido e Deborah
lhe tinha pedido a pele para fazer um tapete... Antigamente
as duas até eram amigas, mas agora sentia ódio dela...
Deborah tão bonita, com uma pele acetinada e linda... muitos
diziam que sua irmã tinha aspecto de anjo.
Acariciou as cabeças dos dois leopardos enormes que
roçavam em suas pernas como se fossem dois gatinhos.
— Bom-dia, meus queridos! Estão com fome? Só vim
para dar comidinha a meus amiguinhos. Quero que “Satka”,
“Onik” e “Kita” fiquem bem alimentados.
Kami acariciava os três enquanto falava. Depois abriu
uma geladeira que estava repleta de carne que comprava
semanalmente em vários lugares, a fim de suprir o apetite
dos leopardos.
Naquela manhã, os animais pareciam estar nervosos e
Kami não podia entender o motivo daquela inquietação
coletiva.
***
O helicóptero estava escondido em local mais afastado.
Jerry e Sarah observavam a casa que parecia estar deserta,
depois dos carros terem saído.
— Jerry, está planejando uma loucura. Como poderá
fazer o que planejou sem levar uma arma?
— Chega de conversa. Você me espera aqui e só intervirá
se for estritamente necessário.
— Por que não aguardamos a chegada dos?...
— Já sabe que não gosto de aglomerações! E quem são
esses todos?
— Eu sabia! É tão convencido que se julga o único
inteligente da terra. O tenente Sparrow e eu vimos os
pombos na gaiola e tiramos nossas próprias conclusões,
principalmente porque você já tinha falado em pombos-
correios que eram usados por Deborah Hogan. Por que pensa
que passei a noite inteira dentro de um carro vigiando o
chalé? Eu sabia que você ia fazer o que fez, aliás, é o que
também será feito por Sparrow que deverá soltar os outros
pombos. Eles não devem tardar e...
— Vejo que os policiais trabalham bem. Mas este caso é
meu e você agirá como minha subordinada. Compreendeu?
— Jerry, entenda, eu sou uma policial e...
— Nada de discussões. Já que é uma policial, pode ficar
esperando os colegas.
Não deu tempo para ela responder. Saiu debaixo dos
arbustos, correndo na direção da casa. Ia de corpo encurvado
e foi assim que chegou à porta que estava aberta. Não viu
ninguém e nem ouviu qualquer barulho.
Entrou com muito cuidado, cautela e a primeira coisa que
viu, foi o estojo da katana encostado à parede. Abriu-o e
sorriu ao ver sua arma preferida e da maior estimação.
Apanhou-a e se sentiu mais confiante.
Penetrou no corredor e sentiu o cheiro de toucinho ao ser
frito. Empurrou a porta do laboratório e novamente sentiu
uma coisa esquisita ao ver os crânios e os respectivos
cérebros boiando dentro do líquido, tudo relacionado a uma
pesquisa feita por assassinos. De repente, escutou uma voz,
caminhou em sua direção e escutou mais outras. Abriu a
porta de mansinho e entrou em um dormitório coletivo, onde
cinco amigos de Kami Son conversavam, enquanto se
vestiam.
Os cinco ficaram surpresos ao vê-lo com a katana na mão
esquerda.
— Cavalheiros, bom-dia — cumprimentou-os. — Tenho
provas que não são homens de ação, que são mais fracos do
que eu, portanto, não me obriguem ser duro com vocês.
Tratem de apanhar algumas gravatas e que cada um vá se
amarrando ao companheiro.
Todos pareciam petrificados.
— Por favor — insistiu. — Não desejo fazer dano a
nenhum. Ajam como cavalheiros e tudo acabará bem.
Quantos homens mais estão na casa?
— Não sabemos — disse um dos “cientistas”.
— Pois então tratem de irem se imobilizando.
Houve uma troca de olhar entre os homens, um deles deu
alguns passos na direção do armário como se fosse apanhar
as gravatas, mas de repente se jogou contra o budoka, seus
companheiros o imitaram, mas Stack Kendo Yo Dan não
demonstrou maior preocupação. O sabre silvou no ar,
descrevendo um círculo e foi cair na cabeça de um deles.
O taisaki teve efeito imediato e este caiu desmaiado.
Os outros também atacaram o judoka, mas a katana
continuou agindo como que eletrificada e quatro “cientistas”
caíram com a maior facilidade. O último que permanecia
ainda de pé, estava aterrado, levantou os braços para
proteger a cabeça, mas o sabre o golpeou nas cadeiras. Ele
abaixou os braços e foi naquele instante, que recebeu um
tremendo taisabaki e caiu sem sentidos aos pés do kendoka.
Ia sair calmamente daquele dormitório quando Kami Son
apareceu na porta do alojamento, empunhando uma pistola.
Quando viu Stack, levantou a arma para atirar, mas o sabre
foi lançado com mais rapidez e se enterrou no peito do
“cientista” que somente pôde dar um gemido curto e
doloroso antes de cair morto no chão.
Stack aproximou-se dele, arrancou a katana que estava
entranhada em suas carnes e limpou a arma nos lençóis de
uma das camas... Agora, a casa rescendia a toucinho
queimado.
Em seguida, abriu outra porta onde havia cinco camas,
mas não havia ninguém lá dentro. Certamente neste quarto
dormiam os homens que estavam mortos e os dois que
saíram para procurá-los.
Onde estaria Kami?...
Encaminhou-se para o fundo da casa e viu o quarto de
madeira. Caminhou diretamente para este, com muito
cuidado. Procurava manter-se em defensiva, mas preparado
para atacar se isso fosse necessário.
Primeiramente, viu Kami e chegou a estremecer, pois a
mulher estava sem máscara, mas em seguida se esqueceu
dela ao ver o leopardo. Sua mente se transportou para a casa
de Deborah, para o tapete que estava na sala... Os
pensamentos foram cortados quando mais duas feras
apareceram.
O rapaz permanecia parado ou melhor paralisado,
enquanto sentia o sangue palpitar nas veias, provocando
ondas de frio mescladas com outras mais quentes.
— Que surpresa, senhor Stack! — sorriu Kami. —
Conseguiu voltar e eu estou satisfeita que isso tenha
acontecido. Conhece meus amigos? São “Onik”. “Satka” e
“Kita”. Não são lindos?
Ele continuou calado e Kami continuou:
— O senhor é um homem valoroso, senhor Stack! Veio
sozinho? Percebo que voltou para recuperar seu sabre. Se
Nakajima estivesse aqui, os dois poderiam enfrentar-se, mas
ele saiu com os outros para ver se descobriam o que havia
acontecido. O que aconteceu afinal, senhor Stack?
O budoka continuava silencioso, olhando para os
leopardos que pareciam muito inquietos.
— Onde está sua loquacidade? Também de nada adianta
falar para dizer mentiras... Prefiro estes meus amiguinhos
que não mentem nunca. Eu os criei desde pequeninos...
Adoram-me e nem percebem que me tomei um monstro! Às
vezes, eu os deixo soltos nos pântanos... Gostaria que o
senhor os visse caçando... Poucas pessoas podem saber qual
é a velocidade que estes animais têm. Podem correr mais de
cem quilômetros por hora quando a velocidade máxima do
homem dificilmente pode alcançar quarenta quilômetros, e
isso só com muito treino, pois já é uma marca olímpica.
Quantos quilômetros o senhor poderia render em uma hora?
Stack continuava calado e Kami riu.
— Parece que o senhor perdeu o dom da fala, senhor
Stack? Não quer facilitar-me algumas informações? Sendo
assim, vou ter que obtê-las por mim mesma. Pode começar a
correr e não se preocupe se pensa que está correndo demais,
porque meus gatos de estimação o acabarão estraçalhando...
KAK! — gritou, repentinamente:
Evidentemente a palavra KAK tinha um significado para
os leopardos porque assim que a ouviram correram para o
homem que estava apavorado, porém no momento em que os
animais iam lançar-se no momento exato quando os dois
primeiros passavam por cima de sua cabeça. A katana
rebrilhou no ar e foi enterrar-se na barriga do terceiro e no
mesmo instante, o kiai ressoou pelo ar:
— Doooooiiiiaaaaiiiioooooo!...
O corpo do felino caiu a seus pés e Kami gritou como se
fosse ela quem estivesse sendo maltratada.
— Kak! — açulou. — Kak, kak, kak!
Os dois leopardos voltaram excitados pela ordem ou
talvez pelo kiai prolongado em seus ouvidos apurados e
sensíveis.
— Doooooiiiiaaaaiiiioooooo!... — Stack soltou outro
kiai.
E agora, os leopardos pareciam estátuas cravadas no solo.
— Kak, kak, ka!k! — incitou-os novamente Kami.
As duas feras saíram em disparada contra Jerry e no
momento em que saltavam, ele agachou-se ligeiramente. O
primeiro animal foi bater longe e quando o segundo
atravessava ó espaço, ele se levantou e perfurou o pescoço
da fera com a ponta do sabre. O animal rugiu e caiu sobre
Stack. O primeiro parecia vir em socorro do companheiro, o
homem rolou rapidamente no chão e para ter os movimentos
mais livres soltou a katana. Precisava afastar-se das patadas
do animal que estava em plena agonia. O outro leopardo
regressava. De repente, firmou as patas traseiras no solo e
pulou na direção de Stack.
Crack! O animal rugiu, caiu, levantou-se e reiniciou sua
carreira,
Crack! Dessa vez, o tiro o apanhou em cheio e o leopardo
caiu, mas ainda conseguiu levantar e, prosseguir a carreira.
Rapidamente, Stack correu até onde estava o corpo do outro
leopardo, arrancou o sabre que estava entranhado em suas
carnes e lançou o Kiai.
— Doooooiiiiaaaaiiiioooooo!...
A lâmina da arma japonesa brandiu no ar e se enterrou no
pescoço da fera que caiu patejando e rugindo, mas em
poucos segundos, silenciou para sempre.
Quando Stack deixou de olhar o animal, viu Sarah
Bartow com a arma fumegante nas mãos e tão pálida como
uma estátua de cera.
***
— Acho que hoje você admite que as pistolas são úteis..
Jerry beijou-a, sem responder.
— Faço questão que me dê uma resposta.
— Se você não tivesse vindo em minha ajuda, eu os teria
matado — Jerry fez uma pausa prolongada. Beijou-a num
dos seios que estavam deliciosamente descobertos, enquanto
sussurrava displicentemente: — Houve muitos em sua vida?
— Muitos... Ei, espere, o que você está pensando?
— Muitos, muitos assim como estamos agora?
Sarah beijou-o com paixão e se aconchegou mais a ele.
Alguns raios de sol penetravam pelas persianas meio abertas
do chalé do Ocean Motel e alguns desses raios chegavam até
os corpos nus, satisfeitos que estavam abraçados na cama.
— Stack, creio que terminamos nosso trabalho muito
bem, você não concorda? Dan Sparrow e seus homens
conseguiram caçar Nakajima e os dois companheiros que
colaboravam com ele. Não tivemos trabalho com os mortos
da quadrilha porque o Departamento de Polícia de Miami já
estava notificado e tomou conta de tudo. Nancy Hogan e sua
irmã Deborah responderão judicialmente por todos os crimes
e mortes cometidos. A polícia também procura prender os
outros que estão envolvidos no caso das cabeças decepadas
ou que por acaso, estejam cooperando com o mesmo, em
outros Estados. Eu certamente serei promovida e você só
poderá receber a aprovação de seu Sensei...
— Realmente, até que o caso foi mais fácil do que
parecia logo de início.
— E você pensa que este é o momento certo para
perguntar-me se conheci outros homens?
— Bem, na vida...
— Você é ciumento?
— Eu ciumento? Claro que não! Por que eu seria?
— Então, vamos deixar essas tolices de lado e pensarmos
em coisas mais sérias. Eu só tenho dois dias de licença... Por
que continuarmos falando de tolices?
— Também concordo. O melhor que podemos fazer é
descansar e... também podemos fazer outras coisas — sorriu
Jerry. — Toparia uns mergulhos na praia, ela deve estar
linda a esta hora e nós...
— Nada disso, não, senhor! — se indignou Sarah. —
Nada de praia! Pensa que hoje de manhã, não vi como as
garotas o engoliam com os olhos? Não quero ir à praia!
— Caramba! — sorriu Jerry. — Começo a perceber que a
ciumenta é você... Posso ter um pouquinho de ciúme, mas
este some diante do seu, não tenho razão?
— Jerry, você sabe que...
— Não sei de nada e quero saber se realmente você é
uma mulher ciumenta.
— Está bem, não adianta eu querer enganá-lo porque
mais cedo ou mais tarde, vai acabar descobrindo como sou.
Sou ciumenta e tenho motivos para continuar sendo! As
mulheres são assanhadas e você é um aproveitador. Se eu me
descuidar um bocadinho, outra virá ocupar o lugar que
ganhei em sua cama! Você é um mulherengo!
— Demônios! Não há necessidade de ficar tão ofensiva,
sargento!
— Sou assim e você terá de me aceitar como sou! —
murmurou Sarah, passando o dedo indicador entre os pelos
de seu peito. — Você sabe por que sou tão ciumenta?
Ficou olhando para ele como esperando uma resposta que
não veio.
— Puxa! Pensei que você tivesse percebido o quanto
estou apaixonada por você. O quanto eu o amo com loucura,
Jerry!
Ele a apertou mais, de encontro a seu corpo e balbuciou
em seu ouvido:
— Acho que chegou a hora de me mostrar o quanto me
ama, sargento... Espero que seja o suficiente para retribuir o
que sinto por você!

ESTE É O FINAL
De repente, sentiu que uma mão delicada pousava em
seus ombros, rapidamente reagiu e abandonou as
recordações que evocava.
— O senhor está bem? — perguntou a senhorita
Montfort.
Jerry Stack olhou para ela com surpresa e depois para a
sala já quase vazia. O leilão já havia terminado, mas a
senhorita Montfort estava de pé à sua frente, olhando para
ele com um sorriso encantador. Levantou-se agilmente e
murmurou:
— Perdoe-me... Encontro-me perfeitamente, apenas
estava distraído.
— Aposto como sonhava que era um grande samurai que
percorria as montanhas do Japão brandindo sua katana
invencível, ajudando os necessitados e lutando pela justiça.
— Não, não era bem isso o que estava acontecendo —
Jerry não pôde evitar um sorriso. — Queria felicitá-la por ter
conseguido a katana, senhorita Montfort.
— Não chega a ser um objeto de muita importância. Fiz
questão de arrematá-la para presenteá-la a um colega.
— Outro jornalista?
— Percebo que me conhece bem.
— Todo o mundo a conhece, senhorita Montfort.
— O que às vezes chega até ser cansativo. Porém,
aprendi que devo ser paciente e aturar os inconvenientes de
ser famosa. Agora mesmo, por exemplo, tenho alguns
colegas que juram estar loucos por mim; todos eles querem
convidar-me para jantar, desejam mostrar-me alguns
recantos agradáveis de Hong Kong, todos querem... tudo
quanto podem querer.
— Há pessoas que sabem se fazer queridas sem grandes
esforços e evidentemente a senhorita é uma destas. Seus
amigos são afortunados. Só espero que aquele que vai
receber essa katana de cinquenta mil dólares saiba usá-la
com inteligência.
— Não tenho dúvidas que saberá. Só espero que não
decida ir por aí decapitando as pessoas malvadas! Os tempos
mudaram e agora um samurai deve comportar-se de modo
diferente, não concorda comigo?
— Depende — murmurou Jerry.
— O que quer dizer?
— Que há muita gente que merece ser decapitada.
— Caramba, quase que me assusta e francamente não sei
se farei o melhor presenteando-lhe esta katana.
— Por que a mim? — Jerry parecia pasmo. — Perdoe-
me, mas... nunca fui seu colega e a senhorita nem sequer me
conhece. Por que está procurando divertir-se senhorita
Montfort?
— Sabe por que me esforcei em fazer tantos lances para
adquirir a katana? Somente porque pressenti que o japonês
tinha mais poder aquisitivo que o senhor e ia acabar
arrematando a arma secular e eu fazia questão que ela fosse
sua.
— Por quê... — o assombro prosseguia. — Por quê. se
nem sequer sabe sou ou a que me dedico?
— O senhor é Jerry Stack, um discípulo de meu mestre
Inomura e um dos kendoka de grandes aptidões, além de ser
praticante de outras modalidades de arte marcial. Está casado
com a ex-sargento Sarah Barrow e têm um garotinho lindo.
— Como sabe tudo isso a meu respeito? — perguntou
surpreendido.
A senhorita Montfort sorriu e lhe entregou a katana.
— Se me convidar para o jantar, podemos conversar
sobre vários assuntos e para começar, o senhor tem visto o
nosso Sensei?

A SEGUIR:
Brigitte Montfort, a deliciosa agente Baby da CIA
é contatada por um amigo Natan, um de seus
particulares e seletos amigos, também presidente da
pequena e fictícia republiqueta centro americana San
Nataniel. Ele pede que ela investigue uma
propagação de ideais libertários, dirigidos por alguém
que se intitula Novo Libertador.

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