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edição #4 - abril de 2018

A ESTRÉIA
DE MUNDO DO
OESTE

i a l
p e c g
e s lan d o
© SBE Editore Itália

dy entrevistamos
tiziano Sclavi
e gigi cavenago
GATILHO
CONVERSAMOS COM
PEDRO MAURO,
DESENHISTA DA HQ

E AINDA: PORQUE UMA HQ CUSTA CARO? - SÉRIES ENCERRADAS DE TEX - LE STORIE - GAMES DE FAROESTE
EDITORIAL
EXPEDIENTE O objetivo de ter criado esta revista foi justamente
dar voz aos personagens que gostamos mas que certa
forma nunca tiveram o mesmo destaque que os su-
Organizador: per-heróis estadunidenses. E então tudo foi crescen-
Thadeu Fayad do, naturalmente elevando a qualidade e também as
exigências para que isso fosse alcançado.
Colaboradores:
Joana Rosa Hoje a maior fumetti já feita está sendo lançada. Ela
Luiz Henrique Cecanecchia tem mais que o dobro de páginas da primeira edição
e aos poucos segue amadurecedendo como uma sóli-
da publicação. Como revista digital podemos sempre
Consultoria:
brincar com a quantidade de páginas sem as amarra-
José Carlos Francisco
ções financeiras que uma edição impressa ocasiona.
Ricardo Elesbão Alves
Wilson Vieira Não que o número de páginas seja o item mais im-
portante que teremos por aqui, acredito que mais re-
Diagramação: levante do que quantidade é a qualidade do que você
Thadeu Fayad vai ler em cada edição da revista. E nisso podemos ga-
rantir que nos esforçamos cada vez mais para trazer
conteúdo qualificado para todos.

Durante dois meses pesquisamos e conversamos


com pessoas ligadas ao mercado editorial para tentar
entender como funciona a formação de preço de uma
HQ vendida no Brasil e como resultado entregamos
mais um grande dossiê, que em conjunto com maté-
rias de edições anteriores, fortalece nosso compro-
misso de lutar por qualidade, quadrinhos mais aces-
síveis e derrubar mitos que as editoras nos contam
em relação a custos.

Esse mês de abril, ainda haverá outra emoção,


quando nossa primeira edição impressa será lança-
da. Programada para debutar na Feira Guia dos Qua-
drinhos é um novo desafio que conseguimos cumprir
num curto espaço de tempo. Teremos agora não só
uma como DUAS versões da fumetti, a impressa que
será bimestral e vendida no modelo de assinaturas e
a já tradicional edição digital que continua mensal e
totalmente gratuita!
fumetti. é uma publicação digital, criada
por Thadeu Fayad, com periodicidade mensal,
totalmente gratuita, distribuída exclusivamente Além disso estreamos nas redes sociais com perfis
através do site da Confraria Bonelli. no facebook e twitter, para aumentar os canais de con-
Venda proibida tato e feedback com nossos leitores, uma audiência
que mês a mês vem crescendo cada vez mais.

Junte-se a nós!

Boa leitura!
Nesta edição
04 LE STORIE

06 ONDE OS FRACOS NÃO TEM


VEZ - PARTE 2

08 OS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE
HQs NO BRASIL

11 COLUNA DO LUIZ: O TERROR NAS HQs

12 ESPECIAL DO MÊS: DYLAN DOG

20 SUPER PÔSTER: GRINGO

22 O MUNDO DO OESTE

28 ENTREVISTA PEDRO MAURO

30 DÉCIO RAMÍRES - HQ DO MÊS

32 CRÍTICA TV: GODLESS

34 GAMES DE FAROESTE
36 REVIEW: DAMPYR

/revistafumetti
IMAGEM DA CAPA GENTILMENTE
/revistafumetti
CEDIDA POR MARCO NIZZOLI
http://marconizzoli.blogspot.com.br/
SÉRIES BONELLI QUE TALVEZ NUNCA VEJAMOS

Le Storie
LANÇADA EM OUTUBRO DE 2012 ESSA QUE É PROVAVELMENTE A MELHOR REVISTA (OU
LIVRO COMO CHAMAM LÁ FORA) DA BONELLI COMPLETARÁ 75 EDIÇÕES AO FINAL DE 2018.
A SÉRIE SEGUE TODAS AS TRADIÇÕES BONELLIANAS E JÁ NASCEU SOB O SIGNO DA
AVENTURA, COM A MAIÚSCULO!

É uma série sem um protagonista fixo, mas Em “Le Storie” a narrativa é tudo, e podemos
isso não significa que seja recheada de ação, ver presente nas edições três elementos funda-
aventuras, intrigas e reviravoltas. As vezes é fácil mentais do storytelling para o sucesso da narra-
desvendar quem são os personagens principais e tiva. O primeiro elemento que vemos nas edições
os desdobramentos que virão ao se ver a capa ou é o conflito, pois cria tensão e isso mantém as
o título da aventura, outras vezes nem tanto. Mais pessoas engajadas com a história. O segundo ele-
do que a atração de um único herói, “Le Storie” é mento é a autenticidade. Mantenha-se fiel ao seu
baseado no talento dos autores que se alternarão estilo e o leitor vai responder com entusiasmo e
na realização das revistas e eles são alguns dos paixão. Isso nos leva ao terceiro e possivelmente
melhores roteiristas e desenhistas italianos, com mais importante elemento de qualquer história:
carta branca (ou seja, liberdade total). Cada edição o leitor. A série entrega o que o leitor quer, uma
conta com uma aventura completa, sempre his- ótima aventura!
tórias fechadas, em 110 páginas preto e branco.
Recentemente uma coleção especial em cores e Todos os meses um mergulho diferente, para
com 128 páginas começou a ser publicada. explorar todas as nuances, mesmo as menos ób-
vias. Viajamos no espaço e no tempo, através dos
O embrião desse trabalho surgiu lá em 1976, “cenários” oferecidos pela História e ao longo dos
quando Sergio Bonelli apresentou o “carro-chefe” caminhos da fantasia mais selvagem, nas selvas
de sua já extensa produção, naquela época sob a e desertos, mas também nos insondáveis me-
marca de Edizioni Cepim. A série “Uomo un’Av- andros da psique, entre gênio e loucura, amor e
ventura” foi exatamente o ínicio da proposta de sede de vingança...
“Le Storie”: uma seleção cuidadosa do “melhor”,
isto é, dos autores e desenhistas mais apreciados E assim por diante, ao longo de um caminho
e inventivos, das situações mais exóticas, das so- que serpenteia livremente através de todos os
luções narrativas mais imaginativas. territórios - ou “gêneros”, se você preferir - que
a imaginação do roteirista tenha sido capaz de
A semente estava firmemente plantada na ter- projetar. Criando “espaços” para viagens sem
ra das tradições bonellianas, mas o tempo que limites,
levaria para tudo gerar frutos... isso era imprevi-
sível! Desde 1976 até seu lançamento, muitas coi- A única constante? A atenção profissional e a
sas aconteceram, o mundo mudou, os gostos, as paixão criativa com que cada uma dessas peque-
“tendências”, os personagens e a forma de contar nas obras são realizadas pelos principais autores
história também. do enorme universo de quadrinhos Italianos. To-
dos comprometidos com um objetivo único, dar
“Le Storie” ao mesmo tempo em que presta vazão a arte do contador de histórias: envolvendo,
um tributo à antiga arte do Storytelling, bebe di- comovendo e entretendo seu público.
retamente desta fonte! Que nada mais é do que
a capacidade de contar histórias de maneira re-
levante, onde os recursos visuais são utilizados
juntamente com as palavras, despertando emo-
ções, compondo uma colcha de retalhos capaz de
emocionar, entreter e persuadir o leitor.

4 R E V I S T A F U M E T T I .
Capa da edição escrita
por Manfredi e desenha-
da pelo brasileiro Pedro
Mauro, que entrevistamos
para esta edição.

© SBE Editore Itália

Para nós Brasileiros, res ta a torcida para que algum


dia possamos ver essas grandes histórias em nossas
bancas ou livrarias.

R E V I S T A F U M E T T I . 5
Onde os fracos não tem vez
Parte 2
A c o n t i n u a ç ã o d a h i s t ó r i a p o r t r á s d a s e d i ç õ e s j á c a n c e l a d a s d e Te x
Por Joana Rosa Russo

Tex Grandes Clássicos


adiantar grandes histórias que demorariam muito a sair
Lançada de forma luxuosa (mesmo em formatinho), nas séries regulares, ou publicar falha de edição de edi-
pela Editora Mythos, tinha capa cartonada e envernizada toras anteriores. Então, publicou-se da seguinte maneira:
com o logo tex em metálico vermelho, belíssimo, por si-
nal. No entanto, apesar de sua beleza, a série trazia nada a. O Retorno de Mefisto e O Veneno da Cobra, publi-
mais nada menos que as histórias já publicadas anterior- cadas, respectivamente em 2004 e 2007, foram publica-
mente em outras publicações. ções especiais para adiantar histórias selecionadas que
não sairiam nas séries regulares;
O fato de trazer o arco fechado, não deu grande motiva-
ção aos colecionadores e leitores que deixaram de adqui- b. Mercadores da Morte, publicada, também, em
rir a linha “Grandes Clássicos”. Especula-se que, embora 2004, de fato foi uma história pulada pelas editoras ante-
fosse mais um repeteco, de fato a beleza desta coleção riores. Daí, visando regularizar as histórias, ela integrou
promovia sua venda, o resultou num longo tempo em ban- esse “sneak peek” seriado.
ca, de 2006 a 2010.
Ainda na mesma conversa, Julio adiantou que, por
Merece ficar consignado que a série não seguia nenhu- hora, não há nenhuma previsão de que saia outra história
ma ordem cronológica. em minissérie.

No fundo, a existência de outra linha com histórias es- A criação deste especial foi excelente, já que possibi-
peciais acabou se perdendo, já que, em termos de merca- litou o complemento de edições não previstas em outras
do, acaba brigando com a Série Tex Ouro, que já cumpria, séries (ou que não se encaixariam por seu formato), não
desde os idos de 1999 (como ainda cumpre), a proposta de deixando os leitores brasileiros desabrigados. Portanto,
trazer num arco fechado e encadernado especial as histó- temos uma “série” com fim específico que pode, eventual-
rias escolhidas a dedo para republicação. mente, caso necessário, ser “reativada”.
Tex e os Aventureiros
Tex Minisséries
Segunda tentativa vista no mercado para inserir perso-
A Editora Mythos, sem dúvida, foi a casa editorial que nagens Bonelli... Será? Quando evidenciamos a existência
mais inovou quando falamos em Bonelli Comics no Brasil. da série Tex e o Aventureiros, relembramos de algo si-
E por isso mesmo, em 2004, mais precisamente em abril, milar, ocorrido com a Editora Globo, quando da edição de
surgia a Tex Minissérie, uma pequena coleção de três edi- “Fumetti – O melhor dos quadrinhos italianos” . Publicada
ções fechadas com histórias inéditas. pela Editora Mythos durante um ano (interregno de 2005 a
2006), a publicação em formato italiano chamava atenção
Segundos esclarecimentos prestados pelo Júlio Sch- e viabilizava um desejo de muitos leitores: a publicação de
neider, a Minisséries foi publicada com fim específico: ou Tex em formato italiano.

PORQUE FALAR DE SÉRIES JÁ ENCERRADAS

Porque ex is te toda uma geração de leitores que não faz


ideia do que ainda existe por aí.
A coleção, que foi composta por 5 Tex Gigante Colorido - Edição de Luxo
edições, trouxe aventuras inéditas dos
personagens Tex, Nathan Never, Mister Iniciada em Julho de 2014, a aposta da edição luxu-
No, Nick Raider, Zagor e Martin Mystère. osa da Mythos era dar um novo ar ao TEXONES aqui
Tex, como já se presume, abria a revis- publicados na série gigante. E claro, também com-
ta com uma história de 210 páginas. As plementar em sua grade a falta das primeiras edi-
outras 64 páginas eram dividas entre os ções que, querendo ou não, já haviam sido editadas
demais, isso, no número 01. As outras pela Editora Globo quando assumiu a carteira do Tex.
quatro edições mantiveram a média de Então assim foi feito: em uma linda edição maior do
250-260 páginas, exceto a última, que que a Gigante convencional, toda em capa dura e em
bateu 292 páginas de aventura. cores, as publicações seguiram de forma irregular:
algumas edições saíram seguidamente mês a mês
Duas hipóteses são cogitadas para seu outras tiveram intervalos bimestrais.
encerramento. Um é que realmente ela
tinha prazo para acabar, já que sua função era a apresen- O fato é que por conta do preço elevado (R$79,90), e baixa
tação do novo material e de outros personagens, como foi aderência de mercado, infelizmente a publicação acabou
até mesmo levantado no prefacio de Julio Schneider no por ser encerrada em 2016, sendo o número 12 da cole-
primeiro volume. Outro, que se cogita, é que na verdade a ção, de setembro de 2016, o último, pelo menos, por hora.
série acabou sendo extinta por causa da falta de manejo
e escolhas das histórias, que acabava por atingir, quase Parte se deve ao preço, outra a pilha dos leitores. Infe-
que em sua maioria, o público de Tex, que, pelo perfil con- lizmente esse, em se tratando de TEX, é o exemplo mais
servador, acabaria adquirindo pelo fato do personagem vir recente de que nem sempre se pode ouvir sua clientela.
publicado, mas sem segundas intenções. O mercado de quadrinhos no Brasil é ingrato e segue, in-
felizmente, uma tendência de queda mundial no consumo
Independente do motivo, ao que parece, a série aparenta- de mídias impressas. Mas, assim como lá fora a perda
va ter, também, início, meio e fim, já que não se tratava de estimada é previsível, no Brasil ela é consideravelmente
uma tiragem seriada com publicações contínuas. aumentada. Não só pela concorrência típica de mercado
ou o segmento publicado, mas por conta de uma ques-
tão, também e principalmente, econômica, o que de fato,
Tex Gigante (e suas reedições) culminou no seu encerramento ou suspensão indefinida.
A proposta iniciada pela Editora Globo no ano de 1988 era
publicar o conteúdo do TEXONE Especial Italiano que saiu Tex Gold
por ocasião dos 40 anos de Tex. Com formato um pouco
menor que o irmão italiano, a Globo acabou mantendo o Sim, a fase de testes da Tex Gold também
conteúdo original, inclusive com suas extensas matérias, é considerada uma série encerrada. Jus-
o que perdura até hoje, nos já editados pela Editora My- tamente por ser uma versão “beta” e, con-
thos. sequentemente, que terá um fim, recai na
categoria de série encerrada. Tanto assim
O que causou um certa “bagunça” na coleção é justamen- o é, que há diferenças nas lombadas das
te por causa do primeiro hiato que acabou acontecendo quatro versões “betas” para as oficiais.
na série. De acordo com os dados coletados no Tex Willer
Blog, as edições saíram nos seguintes anos: Lançada de forma muito tímida e quase
sem alardes em abril de 2017, deixou os
1 - Tex, O Grande! – 40 Anos (Set/88) colecionadores simplesmente surtados
2 – A Marca da Serpente (Ago/93) em busca dos tão desejados exemplares
3 - O Grande Roubo (Jul/94) da Salvat. Recebida apenas em algumas capitais e sem
4 - Arizona em Chamas (Jul/95) distribuição nacional, os exemplares acabaram virando
5 - O Vale do Terror (Out/96) itens difíceis de serem adquiridos o que levou a inflacio-
6 - Tex, O Grande! – 50 Anos (Jul/98) nar seus preços no mercado paralelo.
7 - A Marca da Serpente (Set/98)
Somente em setembro de 2017 a distribuição começou a
Ao contrário do que aconteceu na Itália, a série só vol- ser nacional e agora, já com a versão oficial, que republi-
tou a ser publicada em 1993, ou seja, cinco anos depois cou os quatro primeiros números e seguiu adiante, já es-
do lançamento em terras brasileiras do especial. Não se tando no volume 06, com muito sucesso, apesar do preço
sabe por conveniência ou clamor dos colecionadores, fato (R$39,90).
é que ela foi contínua até 1996, quando entrou novamente
em hiato... E aí uma nova confusão: pelo fato das capas Logo, a fase de teste tinha início, meio e fim.
não serem numeradas, muitos colecionadores dão como
certa a publicação de APENAS cinco números. Mas, em
verdade, o total são sete, já que “Tex, O Grande” e “A Marca
da Serpente” foram republicadas em 1998 a título de co- CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO!
memoração aos 50 anos de Tex. Logo depois, com a venda
do direitos, a Mythos reassumiu a publicação e tratou de
colocar em ordem a bagunça feita pela Editora Globo, dan-
do sequencia na série P/B e corrigindo a falta deste início
em sua carteira com a edição da Tex Gigante em Cores
(edição de luxo).
R E V I S T A F U M E T T I . 7
O custo de produção de HQs
no Brasil
FAZ ANOS QUE AS EDITORAS SOFREM COM O FORMATO DE VENDA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO
BRASIL E NO MUNDO, POR ISSO DESCOBRIR QUANTO CUSTA UMA HQ PODE SE TORNAR UM CÁLCULO BEM
COMPLICADO. FIZEMOS UM EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO BASEADO EM FATOS REAIS.

Uma característica do nosso mercado é a formação E quem é o vilão afinal?


do “mix” histórias, isto é aquela mistura de histórias que
você compraria e outras 2 ou 3 histórias que isolada- Na verdade temos 2 vilões em ação! A tiragem e o
mente você não compraria. Essa prática foi criada pela distribuidor. Enquanto outros países trabalham com ti-
Editora Abril quando ela começou a vender HQs de he- ragens médias de mais de 10.000 exemplares por edi-
róis ainda na década de 1980. ção, no Brasil esse número, em média, fica na casa dos
2.000. O mercado é pequeno, vende-se pouco, e elevar
No caso dos Universo Bonelli não aconteceu desta essa média é produzir encalhes. Supostamente a distri-
forma em praticamente nenhum de seus títulos. Duran- buição setorizada quando foi criada (também pela Edito-
te sua passagem pela Editora Globo (também na década ra Abril), era para tentar minimizar ou mitigar os custos
de 1980) houve apenas um especial publicado em for- de produção, redistribuindo o encalhe para outras pra-
mato de mix, praticamente encerrando as publicações ças. Só que, trabalhar com edições reduzidas, o custo
da editora. Na editora Record não houve tal prática e na por unidade sobe. O raciocínio é bem simples. Fora o
Mythos tivemos algumas tentativas. papel, que varia segundo a quantidade de exemplares,
toda edição tem um custo fixo, do qual não dá para fugir.
Tex e os Aventureiros era uma publicação de Mix, Composição das páginas, máquinas, revisões, tudo isso
provavelmente fazendo os personagens menos vendi- independe da tiragem. E quando se divide o custo fixo
dos pegarem carona no sucesso de Tex. Durou 6 edi- pelo número de exemplares, tem-se o custo unitário.
ções. Outra tentativa da Mythos era a revista Cassidy &
Damian, lançada como uma série em 18 edições e pa- Como o mercado brasileiro se organizou com base
rou na edição 5. Acabou prevalecendo o modelo de cada nas pequenas tiragens, o preço final de um volume é
personagem em sua própria revista. sempre alto. Mesmo os quadrinhos mainstream, que
vendem dezenas de milhares de cópias, custam caro,
Não tem sido fácil para ninguém, financeiramente já que os editores fixam o preço com base em padrões
falando. O universo Bonelli existente hoje no Brasil pra- (um certo “x” por página) estabelecidos a partir das bai-
ticamente se restringe a Tex e suas demais publicações xas tiragens. A vantagem, dos editores, é que alguns
(excluindo as séries especiais em capa dura ou Graphic títulos dão mais lucro. E quase sempre compensam o
Novels). Apesar da Mythos não informar tiragens nem prejuízo dos títulos que acabam encalhando.
volume de venda, podemos considerar que 50% do que é
levado para as bancas encalha. Tiragens mínimas projetam o custo unitário lá para
as alturas e o leitor é quem acaba pagando a conta. E
Nos Estados Unidos e na Europa, uma HQ sai bem por tabela acaba ouvindo a mesma desculpa de sempre,
mais barata que no Brasil. A capa, o tamanho, o núme- de que pedimos um título novo em bancas e acabamos
ro de páginas, os quadrinhos, tudo é idêntico. Só o que por não comprar. Normalmente o consumidor é nomea-
muda é o idioma que vem dentro dos balões. Claro: os do vilão de todo fracasso editorial, mesmo que a editora
custos da tradução não explicam o aumento. não tenha se esforçado minimamente para buscar ou-
tros recursos (como anunciantes) ou mesmo tenha se
É uma equação cada vez mais complicada, o custo empenhado em investir em divulgação adequada de seu
da impressão varia muito de acordo com o fornecedor, produto.
qualidade do papel, a previsão de encalhe e até a distri-
buição pode dobrar valor de produção. Com base em algumas pesquisas que fizemos po-
demos estimar, em porcentagens, como é composto o
preço de capa de uma HQ em banca:
Papel - Menos de 5%
Papel Às vezes é transformado no vilão da história. O custo subiu de-
5%
pois do Real, o preço da tonelada de papel aumentou cerca de 54%,
Royalties mas não significa nem 5% do preço final de uma revista.
15%
Editor - Em torno de 37%
O editor fica com algo em torno de 37% do preço de capa. Esse
Editor
37%
valor paga os custos de funcionamento da editora, a tradução, re-
visão, paginação e o lucro.
Distribuidor Gráfica - Cerca de 8%
35% O custo de impressão de uma revista, impressa em papel Pisa-
-brite 52g é da ordem de 8% do preço de capa, sem incluir o preço
Gráfica do papel.
8%
Distribuidor - Cerca de 35%
O distribuidor atacadista fica com pelo menos 35%. Esse ponto
você pode achar que ficamos loucos, mas o cálculo é feito com
base nos preços de algumas revistas que estão em pré-venda no site da Editora Mythos, com desconto justamente de 35%.
Aqui ainda não há encalhe, essa venda - onde você banca o frete - está sendo feita diretamente entre fornecedor e cliente
(chamado de B2C), evitando o intermediário que é o distribuidor. Lembrando que a Editora Abril detém o monopólio abso-
luto na distribuição de revistas no Brasil, através da empresa Total.

Royalties - 15%
A editora que é “dona” dos personagens fica com 15% do preço de capa da HQ, em média.

O caso Mythos minimamente possível.

Um outro cálculo que gosto de fazer, mais como compa- Claro que a cotação do Euro, considerando que a Mythos
ração do que como ciência, é pegar o valor de capa da HQ trabalhe negociando os royalties dos títulos Bonelli nesta
e dividir pelo número de páginas que ela tem. É algo bem moeda, também afeta o preço final de uma HQ na banca de
simples para se avaliar o custo, independente da qualidade. jornal, mas nada justifica valores cada vez maiores em um

Nesta análise bem simples vemos que os títulos com mercado que só comercializa e não produz nada.
maior apelo comercial são mais baratos quando compara-
mos o valor por página. Muito provavelmente nestes casos Existe alguma alternativa?
o lucro da Mythos venha com a quantidade.
Ao se adquirir um quadrinho, seja ele qual for, logo vê
Por sua vez a editora Mythos não tem o custo de cria- que existem páginas sobrando, onde é feita alguma maté-
ção de uma HQ, não há investimento em autores nacio- ria, ou até chamada para outro título. As vezes vemos uma
nais, pesquisas ou criação de um personagem. Tudo chega capa alternativa ou um rascunho do artista, na última capa
pronto, é só traduzir e fazer letreiramento. E na era digital também. Isto evidência a falta de anunciantes.
é ainda mais fácil. Não existe nem muito trabalho artísti-
co envolvido, como redesenho, ou arremates para compor
melhor a capa. Nem informações como nomes de empre-
sas ou outros termos são traduzidos, tudo para mexer o >

R E V I S T A F U M E T T I . 9
O CUSTO DE PRODUÇÃO DE HQs NO BRASIL - CONTINUAÇÃO

A publicidade é uma parte importante para baratear bro de uma gigante procurando novos nichos de merca-
custos em qualquer segmento no Brasil e as editoras do editorial ou adotando alguns talentos nacionais para
falham vergonhosamente neste ponto. Na década de tentar licenciar e produzir material por aqui mesmo.
1980, 1990 tínhamos propagandas nas revistas, desde Nossos desenhistas nacionais que tanto reverenciamos
brinquedos, cursos por correspondência, achocolata- trabalham para as editoras lá de fora.
dos, canetas, marcas de roupas e etc. Tudo era anuncia-
do em revistas em quadrinhos. A Mythos traduz e imprime apenas, não produz
os quadrinhos que vende, então porquê preços tão
A falta de anunciantes e a provável fragilidade da altos?
área comercial de qualquer editora irá afetar direta-
mente o custo final de uma HQ.

Quadrinho digital é alternativa?


As vantagens dos quadrinhos digitais são boas em
relação ao tradicional, não há o custo da impressão, po-
de-se eliminar a empresa de distribuição e basicamen-
te precisaria apenas ser traduzido. Reduzindo drastica-
mente os encalhes, podemos até dizer que eles seriam
extintos, uma vez que é tudo feito de forma digital até
o momento de imprimir. Não haveria mais distribuição
setorizada.

O grande empecilho é que uma HQ digital não é tan-


gível, não pode ser manuseada e não pega poeira na
prateleira. E isto é realmente bem triste.

A dura realidade
Toda e qualquer empresa quer apenas uma coisa:
lucro! Adotar novos processos e tecnologias que pode-
riam baratearam os custos é algo que empresa brasi-
leira nenhuma procura, consideram gastos desneces-
sários. Costumamos buscar esses recursos só quando
se tornam obsoletos no restante do mundo e podem
ser comprados mais baratos. Só que certamente seria
vendido como novidade, repassado ao leitor que ficaria
“empolgado” com a novidade, pagando mais caro e oti-
mizando o lucro.

Não haverá debate enquanto a Mythos monopolizar


a licença de publicação Bonelli no Brasil, mas quando
outras tentaram, mostrando que a situação poderia ser
diferente, a Mythos retomou os direitos e encerrou tais
tentativas. Se houvesse uma real concorrência até os
artistas nacionais teriam uma melhor visualização de
seu trabalho e nesse ponto a internet tem ajudado bas-
tante, com campanhas de apoio para lançamentos de
suas obras independentes de forma tradicional e não
como revistas digitais.

Honestamente desde a iniciativa da Editora Abril (de


novo nas décadas de 1980 e 1990) onde criava revistas
dos mais variados personagens famosos, desde apre-
© DC comics - Alex Ross

sentadores de TV e até material autoral eu não me lem-


Terror nas HQs
Por Luiz Henrique Cecanecchia

Os quadrinhos de terror ocupam um nicho especial, ras” de Mágico Vento (Edição deluxe #1 – Ed. Mythos),
especialmente dentro do mercado brasileiro que sem- onde é explorado o ângulo
pre se mostrou aberto e lucrativo ao gênero. O retorno bestial do ser humano.
recente de obras como Mágico Vento, Dylan Dog e Martin
Mystère reforçam isso. Mas o que faz uma história que Quase terminando des-
trata justamente de elementos que nos causam Repulsa tacamos o monstro ruim por
e Pavor ser algo atraente para a maioria das pessoas? fora, bom por dentro, Franke-
nstein, onde o verdadeiro
Stephen King deliberou profundamente sobre o tema horror é a humanidade que
em seu livro” Dança Macabra”, onde relata como as persegue a criatura. Aqui o
boas histórias são aquelas que trazem a tona os medos destaque vai para a história
e traumas do cotidiano para que o leitor os vivencie de dupla “ ATAQUE ALIENÍGENA
uma distância segura, permitindo observar uma ques- / ASSASSINOS ESPACIAIS” de
tão comum de ângulos diferentes e adquirir coragem Zagor (#175 Ed Mythos) onde
para lidar com seus temores diários alienígenas vem para a terra
caçar humanos por esportes.
King divide em 4 os mode-
los usados nas histórias para Por fim temos o lugar mal-assombrado. O local/ob-
transformar o medo em entre- jeto amaldiçoado. Não é necessário ter um fantasma,
tenimento, com os bons escri- mas o local/coisa distorce a realidade, como um castelo
tores sabendo aprofunda-los e assombrado, um tesouro amaldiçoado, o ninho de uma
mescla-los. Junto de cada tra- criatura maligna. Minha indicação é da história de “ A
rei o exemplo de um fumetto Besta” de Mágico Vento (Edição deluxe #2 – Ed. Mythos),
que trate bem do tema. tratando de um campo de exploração de petróleo amal-
diçoado.
Primeiro o modelo do vam-
piro, o arquétipo do morto vivo, Reforçando que esses modelos são continuamente
seja em suas hordas sem men- aprofundados, desconstruídos e mesclados pelos bons
te ou refinados como Drácula. artistas para criar novas aventuras.
O monstro que transcende a
morte, controla sua mente e
devora um elemento específico
do seu corpo. Os mortos vivos são a base desse modelo,
com destaque para Drácula e Múmia. Minha indicação é
a história Mater Morbi de Dylan Dog (Edição #3 Ed. Lo-
rentz), onde o medo do hospital moderno é mesclado a
uma entidade demoníaca.

O próximo modelo é do lado ma-


ligno oculto, o homem bom que luta
para lutar contra seus instintos, com
destaque para o lobisomem e o Mr.
Hide, basicamente todas as histórias
de mutação, inclusive encontrando um
espelho interno muitas vezes na ado-
lescência, nossa maior fase de trans-
formação. Aconselho a leitura de “Gar-
ESPECIAL DO MÊS
© SBE Editore Itália

Dylan Dog Especial


Falamos com o criador do personagem e com seu novo desenhista, além de explicamos as
mudanças que fizeram o investigador do pesadelo voltar ao sucesso!
E até o número #336 da série regular publica-
Como tudo começou do na Itália, seus assistentes, amigos seguiram
sendo o Groucho, seu faz-tudo, um homenzinho
Dylan Dog foi criado em outubro de 1986 pelo estranho com o rosto de Groucho Marx, que abre
brilhante roteirista Tiziano Sclavi. É a primeira sé- a porta para os clientes e os entope com piadas
rie de terror de Sergio Bonelli Editore, na ocasião, sem sentido. Para alguns leitores Groucho garan-
sua criação representou uma aposta arriscada da te uma dose substancial de humor e é um aliado
editora, que ainda não se tinha aventurado nesse insubstituível para Dylan. Depois, há o comissário
tipo de narrativas; no entanto, mostrou-se tam- Bloch, chefe sênior da Scotland Yard, a um passo
bém uma iniciativa bem-sucedida alcançando o da aposentadoria; ex-superior de Dylan quando
público e a crítica de forma surpreendente, atin- este estava na ativa, gosta muito dele e mais de
gindo mais de 1 milhão de cópias por mês na épo- uma vez o tirou de encrenca e de ser preso.
ca. Garantindo-lhe um sucesso quase instantâneo
e levando-o, em pouco tempo, ao topo da lista de Dylan não tem muitos inimigos recorrentes,
mais vendidos na Itália. onde quer que haja um horror sobrenatural para
derrotar, ele estará lá, tenha certeza. Pode-se di-
Dylan foi criado graficamente pelo desenhista zer que a maioria dos inimigos em suas histórias
Angelo Stano com as características do ator inglês encontram um final violento ou inusitado ao tér-
Rupert Everett. Ele é um ex-policial e um ex-alco- mino da narrativa. Poucos são os que retornaram
ólatra, que decidiu começar seu próprio negócio e ou que mantiveram com o protagonista um emba-
investigar casos que invadam o sobrenatural e o te constante. No entanto, lembre-se, pelo menos,
horror, sendo, inclusive, conhecido como o Inves- da esquelética figura encapuzada da Morte e do
tigador do Pesadelo. Dr. Xabaras, cientista louco e que Dylan Dog des-
cobriu, na realidade, ser seu pai.
Suas histórias não se destacam apenas pelo
inusitado de suas temáticas. Pelo contrário. Mais A partir da edição #337 da série regular so-
do que o representante de um gênero, esse herói freu uma mudança de rumos, um recomeço sem
reúne uma gama de elementos bizarros que o co- grandes alterações de características. Falaremos
locam em uma posição privilegiada em relação a disso mais pra frente.
outras obras dos quadrinhos, Dylan já lutou contra
vampiros, lobisomens, fantasmas e alienígenas, Um terror do ponto de vista
mas também monstros muito mais perigosos e comercial
traiçoeiros como a violência doméstica, o racismo,
a indiferença, a sede de poder e até o tédio. Dylan está longe de ser um super-heróis. Pelo
contrário, apresenta diversas limitações bem co-
Alguns de seus episódios estão marcados na muns a todos nós: sofre de vertigem e de claus-
memória dos leitores e são mencionados entre as trofobia, não viaja de avião e só consegue acertar
melhores histórias em quadrinhos já escritas na uma bala em algum bandido se seu auxiliar lhe
Itália. Ah! Não podemos esquecer que entre seus jogar o revólver, pois ele raramente anda armado.
“poderes” está o de ser um Don Juan incorrigível.
Sob certos aspectos, é um ingênuo; sob ou-
Muito do sucesso talvez venha graças ao for- tros, um romântico, um sonhador, um idealista. E
mato característico de publicação dos quadrinhos talvez também esteja nessas características hu-
Bonelli, em que a utilização do preto e branco re- manas muito da razão de seu sucesso junto aos
força uma atmosfera soturna e um pouco opressi- leitores.
va, à qual são familiares os elementos incomuns
e finais que, propositadamente, nem sempre No Brasil, a trajetória de Dylan Dog, infeliz-
amarram todas as pontas das tramas, deixando mente, não apresenta o mesmo sucesso que faz
aos leitores a obrigação de complementá-las em na Itália. Ele surgiu no país pelas mãos da Editora
sua imaginação. Record, durante a curta passagem da editora pelo
universo das histórias em quadrinhos, acompa-
Sua base de operações e local de residência é a nhando outras personagens Bonelli Comics. No
cidade de Londres, um dos locais mais apropria- entanto, essa primeira investida brasileira de
dos para isso, pois a terra da rainha é famosa por Dylan Dog durou apenas onze números (de se-
suas lendas, seus fantasmas, crimes não desven- tembro de 1991 a agosto de 1992, trazendo as
dados e criaturas misteriosas, que se mesclam ao onze primeiras edições italianas), além do encon-
fog londrino e desaparecem nas charnecas ingle- tro com Martin Mystère em uma edição especial
sas. É principalmente nesse ambiente que Dylan (publicada em janeiro de 1992).
desenvolve suas investigações.

>
Felizmente, essa aposta não representou o
fim da carreira do Investigador do Pesadelo. Al- Uma série de TV?
guns meses depois, a Editora Mythos, resolveu
ampliar seu portfólio de heróis Bonelli e iniciou Em 2017 circulou pela internet a notícia de uma
a publicação das histórias de Dylan Dog em uma série de TV inspirada em Dylan Dog estaria sendo
HQ mensal própria. Após alguma turbulência em produzida.
seu início, em que teve que ser publicada de for-
ma bimestral (de janeiro a julho de 2003), a revista O diretor de terror australiano Kevin Kopacka
ganhou alguma estabilidade em bancas, voltando estaria em estágios finais da produção, que se
a ser mensal. Essa foi a mais longeva publicação chamaria somente Dylan, por questões de direitos
do herói em terras brasileiras, encerrando-se na autorais, já que não seria uma produção oficial-
edição #40, de fevereiro de 2006. mente autorizada pela Sergio Bonelli Editore.

Um novo hiato, desta vez até maior do que o Kopacka diz que a ideia era misturar a atmos-
anterior, impediu novas edições do herói. Essa fera dos quadrinhos, mais os clássicos do terror
espera acabou pelas mãos da Editora Lorentz, italiano, como A Noite do Terror (1981), de Andrea
que em 2017 trouxe 3 edições para comemorar Bianchi, e Zumbi 2 – A Volta dos Mortos (1979), de
(mesmo que com atraso) os 30 anos de criação de Lucio Fulci. Tudo isso mantendo alguns elemen-
Dylan Dog. Após o encerramento da publicação, tos de comédia.
de uma forma um tanto quanto obscura, a Editora
Mythos retomou a licença sobre o personagem e E por mais improvável que fosse, um teaser
programou 4 edições (erroneamente chamando foi liberado em maio de 2017 com o que seria o
de minissérie) para este ano. primeiro episódio da série. Kevin Kopacka filmou
partir de um roteiro co-escrito com Alex Bakshaev.
A leitura das aventuras de do Investigador do O diretor também pediu ajuda aos fãs através do
Pesadelo despertam sensações bem diferentes, site oficial da produção, para que pudesse realizar
opostas ao extremo, do assombro a fascinação, a série. Porém desde o meio do ano passado o
satisfazendo os leitores mais exigentes. Dylan site não recebe atualizações ou divulga algo re-
Dog é, com certeza, um dos melhores títulos pu- lacionado.
blicado pela Bonelli. Esperemos que ele tenha
vida longa novamente. O episódio piloto pode ser assistido na íntegra,
basta clicar no link abaixo. Ah! E é legendado em
Um terror no cinema portugês!
https://youtu.be/wI94lz66Jgw
Adaptação indefensável deturpa a obra de Ti-
ziano Sclavieza, que tem material de alta quali- Dylan Mouse
dade e renderia um excelente suspense sobrena-
tural, mas os roteiristas Thomas Dean Donnelly O investigador do pesadelo também já foi ho-
e Joshua Oppenheimer (Sahara) optaram pela menageado pelos quadrinhos Disney na Itália, in-
abordagem “anos 80/90” para criar o filme. As- clusive com a edição já tendo sido publicada aqui
sim, Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog: no Brasil em 2015, na edição #835 de Mickey (Ed.
Dead of Night, 2010) ignora a base estabelecida de Abril).
fãs e recria o personagem usando apenas seus
traços mais característicos, pasteurizando sua
essência.

Se você realmente se esforçar para lembrar,-


terá uma vaga lembrança de Brandon Routh (de
Superman Returns), Como Dylan Dog. O filme ti-
nha pouco ou nenhum marketing e críticas horrí-
veis. Teve um desempenho tão ruim que enterrou
uma possível e promissora franquia, juntamente
com a carreira de Routh por algum tempo (você
pode vê-lo na série de TV da DC Comics, Legends
of Tomorrow, exibido aqui no Brasil pelo canal a
cabo Warner).

Dylan Dog e as Criaturas da Noite é indefensável.


© Ed. Abril
Entrevista: Tiziano Sclavi
Entrevista concedida ao portal Lo Spazio Bianco
e que obtivemos autorização exclusiva para publicação

Quais pontos centrais podemos destacar na cria- to restrito no início), não por acaso uma das amigo Roberto Recchioni e o fato de ter uma pe-
ção do personagem Dylan Dog? colunas foi intitulada Dylan Dog Horror Club. quena idéia (nada extraordinário ou particular-
O mais óbvio é o horror, claramente. O menos ób- Claro que não esperava os dois, três sacos de mente novo, pelo amor de Deus). Eu escrevi duas
vio e mais ambicioso era criar uma nova linguagem, correspondência por dia que viriam mais tarde histórias. Então comecei uma terceira, mas fiquei
toda minha (eu já havia feito tais experiências, em (e você sabe o quão grande pode ser uma sa- preso novamente, depois de algumas trabalhos, e
parte, em Mister No). A linguagem é tudo: para citar cola de correspondências? Muito grande!). No não escrevi mais, comecei a me aposentar. E de
apenas um exemplo “caseiro”, Gian Luigi Bonelli criou entanto, sempre li e respondi a todos. E muitas qualquer forma, as duas histórias pareciam feias,
uma inconfundível linguagem para Tex e, na minha cartas foram publicadas na página de cartas da eu as teria jogado no fogo, como tudo o que es-
opinião, foi um dos elementos por trás do seu sucesso. revista. crevi, quadrinhos ou não. Mas não podia ser feito,
já tinham saído. (depois de 9 anos Sclavi voltou a
Dylan Dog passou de quase um título de nicho Quando Dylan Dog foi lançado, os quadri- escrever uma história de Dylan Dog em 2016, no
(mesmo sendo um Bonelli) Para um fenômeno de pu- nhos ainda lutavam para serem plenamente número #363 da série italiana. Antes disso sua úl-
blicação, invadindo a imaginação popular, além dos reconhecidos no ambiente cultural italiano. tima edição havia sido a #250 de junho de 2007).
leitores de quadrinhos. O que mudou em sua abor- Acima de tudo, houve clara divisão entre o
dagem para escrever as histórias? Você sente mais quadrinho “autoral” e o “popular”. Quadrinhos Você é o pai criativo de um dos personagens
responsabilidade? como Ken Parker antes e depois Dylan Dog de quadrinhos mais importantes nascidos na Itália.
A responsabilidade aumenta certamente, mas eram importantes para questionar e quebrar O que você acha do seu filho e como você vê seu
não muito. Eu praticamente continuei a fazer o que essas crenças. Você sentiu o peso dessa dis- futuro?
fiz antes, tentando me divertir para manter os leitores tinção inútil? Já disse que adoro minha criatura. Quanto ao
entretidos. Muito, achava um absurdo. Outra ambi- futuro dele, se houver jovens autores que possam
ção minha (mas não pensei que conseguiria) reinterpretá-lo e atualizá-lo, vejo-o bem, sempre
Ainda longe das redes sociais, do contato direto foi derrubá-la para sempre. E bem, hoje não dentro dos limites de uma recessão editorial, es-
entre autores e leitores, Dylan Dog conseguiu criar existe mais. pecialmente impressa, que já dura muito tempo e
uma base de fãs graças a uma linguagem muito jovem acredito que vai durar indefinidamente.
e alegre e a inclusão de citações, referências, home- Você acredita que em algum momento algo
nagens ao cinema e literatura que serviram de cola se quebrou em seu relacionamento com Dylan Depois de todos esses anos, há algo que você
para criar um grupo, para que os leitores se sintam de Dog? Como você se coloca frente a sua criação mudaria nele?
alguma forma próximos uns dos outros. Quão impor- hoje? Nele como personagem (eu ia dizer uma pes-
tante era para você ter Nada se quebrou. Adoro meu personagem, soa) talvez não, mas na realidade a série já está
esses contatos com eu sempre o amei. Mesmo depois de trinta anos mudando! E isso graças à gestão de Roberto, com
os leitores, para ainda o amo. E eu sou grato a ele, que me deu quem eu concordo totalmente e que também agra-
senti-los muito, talvez mais do que eu lhe dei. deço publicamente toda vez que tenho a chance.
de alguma
forma pró- Quão importante foi a presença de sua es- Você sempre teve controle total e poder de
ximos? posa Cristina durante a criação de Dylan Dog e decisão sobre as histórias de Dylan Dog ou, em
F o i a seguinte transformação em um ícone que lhe alguns casos, você teve que fazer concessões?
m u i - trouxe um sucesso incrível, mas que em nível Eu tive controle total nos primeiros anos,
to bom pessoal talvez você tenha tido dificuldade em quando também era curador, e sempre fiz ou pro-
se sentir gerenciar? duzi as histórias que queria, em total liberdade, de
© SBE Editore Itália

parte de Nenhum. Simplesmente porque Cristina acordo com Sergio Bonelli e o então diretor Decio
um clube não estava lá nos primeiros anos. Eu a conheci Canzio (e desde então Estou com vontade de agra-
(mui- em 1993, em 1994 nós começamos a viver jun- decer, um grande obrigado para Bonelli, a melhor
tos e nos casamos em 1996. Então, foi bastante das editoras possíveis). Se eu retornasse hoje,
tempo após a criação que ela se tornou acho que estaria tudo bem novamente.
importante em minha vida pessoal. Na
verdade, indispensável.

O que o convenceu a voltar a escrever


Dylan Dog, depois de dizer repetidamente
que tudo o que você tinha a dizer sobre o
personagem foi dito? A Revista fumetti agradece espe-
Foi a amável insistência de meu cialmente a Ettori Gabrielli e ao site
Lo Spazio Bianco por gentilmente auto-
rizarem a publicação desta entrevista.
Dylan Dog: Um novo rumo

Alguns anos atrás os dados sobre as vendas de


Dylan Dog em bancas anunciavam uma queda acen-
tuada e mesmo que a editora não considerasse que
havia uma crise no título, mudanças seriam neces-
sárias. E a primeira delas foi a troca do editor chefe,
Giovanni Gualdoni foi substituído por Roberto Rec-
chioni, o homem em quem Bonelli acreditava ser ca-
paz de reverter toda a situação que se aproximava.
Recchioni identificou juntamente com Tiziano Sclavi
- O criador de Dylan Dog, uma série de elementos
onde eles poderiam fazer alterações que seriam fun-
damentais para revigorar o personagem e ao mesmo
© SBE Editore Itália

tempo não ferir com o que havia sido estabelecido até


então. Dylan Dog caminhava para seu aniversário de
30 anos de lançamento e o momento parecia bastante
oportuno para tal empreitada.

Do ponto de vista narrativo, as intenções de Rec-


chioni eram tentar reviver Dylan primeiramente
criando histórias que o trouxessem de volta às suas
raízes, quando ele soube se impor como um ícone da
cultura pop italiana através de suas características
de herói atormentado e problemático e mudar suas
peculiaridades exageradas, que muitas vezes traziam
um Dylan nos limites do caricatural. Portanto, através
de alguns expedientes narrativos, os autores teriam
que direcionar as histórias para um desenvolvimento
desvinculado daqueles que se tornaram clichês qua-
se intransponíveis.
Graficamente, a renovação começaria ao se re- informações particulares de velhos conhecidos ou de
pensar a forma de fazer as capas e, depois, pela in- sua biblioteca e pode continuar a fazê-lo com tran-
trodução de novos artistas nos lápis para revitalizar e quilidade.
estabelecer um novo padrão visual para Dylan Dog.
O primeiro elemento em que podemos ver os resul- John Ghost, seu novo antagonista, um hype inte-
tados da mudança foi a capa. Paolo Campana traba- ressante foi criado. O novo vilão foi introduzido em
lhou para simplificar o logotipo histórico criado por um número dedicado no qual a nova continuidade é
Luigi Corteggi em 1986, mas foi acima de tudo o novo baseada. É um personagem fascinante, um clássico
conceito no design das capas para entregar um Dylan com maneiras refinadas, mas, graças ao design do
Dog nitidamente melhorado. O próprio Stano, que personagens feito por Angelo Stano, consegue pro-
também parecia mais inspirado por esse novo pro- vocar imediatamente sentimentos contrastantes de
cesso criativo, reconhece pelo menos metade da pa- atração e repulsa.
ternidade das novas capas a Recchioni, para as quais
o ponto de virada claramente deu certo. Com a aparição na edição de trinta anos, Recchioni
deu-lhe uma dimensão mais convincente, explican-
Em segundo lugar, os escritores teriam que ousar do seu envolvimento em eventos recentes e ligando-
mais com as histórias e colocar Dylan na frente de -o ao passado, bem como ao futuro de Dylan; mas,
sua notória idiossincrasia de tecnologia, de modo a por outro lado, Ghost possui modos excessivamente
trazer o “peso” protagonista para a sociedade dema- pomposos e muitas vezes didáticos, quase como se
siadamente ligada à alta tecnologia de hoje em dia. A Recchioni quisesse lembrar-se constantemente de
longo prazo, daria para as histórias uma continuida- sua natureza ruim.
de, não muito explícita, mas ainda assim perceptível.
Desta forma não iria comprometer a publicação no E por fim reorganizar, também, as diversas publicações
estilo do edição único, bem comum a tradição Bonelli, paralelas, não só em relação a periodicidade, formatos,
mas contemplando arcos narrativos inteiros, unidos estilos, direcionamentos editoriais. Uma revigorada geral
por temas particulares, de certa maneira bem pare- em todos os títulos.
cido com algumas séries de televisão ou como as pu-
blicações dos heróis estadunidenses. Então a operação de relançamento foi bem sucedida?
A resposta pode ser afirmativa em grande parte. É ver-
Quanto aos personagens, a aposentadoria de dade que muitas das inovações introduzidas não foram ex-
Bloch e sua substituição por alguém cujo Dylan não ploradas devidamente, assim como nem todas as páginas
se deu muito bem foi para tentar tornar as histórias publicadas nesta iniciativa foram qualitativamente iguais.
menos óbvias. Essa situação certamente evitou que No entanto, devemos considerar que muitas edições têm
os roteiristas recorressem ao que acabou sendo um sido uma ocasião para reflexão, sobre como foi necessário
clichê narrativo para as histórias do investigador do fazer essa renovação, e que se colocarmos na balança, os
pesadelo, permitindo que ele se envolvesse ou conti- pontos positivos superam os negativos.
nuasse investigando e explorando sua amizade com
o inspetor. De fato, o novo Bloch representa um per- Os resultados nem sempre foram positivos e, de fato, o
sonagem cheio de potencial, inserido como está nes- desafio é precisamente o de elevar e manter o padrão de
se novo formato, mas agora livre das limitações de se qualidade das histórias em comparação ao que foi feito até
trabalhar para a Scotland Yard. então, mantendo o Investigador do Pesadelo o ícone pop
que se tornou desde sua criação na década de 1980.
O mesmo potencial que, ainda que parcialmente,
podemos ver em Groucho, que antes era apenas um
alívio cômico, um personagem raso e muitas vezes
chato (outra tradição Bonelliana, os ajudantes). Mas
agora com uma personalidade mais multifacetada do
que no passado.

O relacionamento de Dylan com a tecnologia tam-


bém não foi resolvido. Dylan Dog é, em primeiro lu-
gar, um investigador, ele sempre encontrou certas

Capa da edição onde o inspetor Bloch se


aposentou , claramente inspirada no clássico
de John Romita para o Homem-aranha
Entrevista: Gigi Cavenago
Falamos exclusivamente com um dos desenhistas mais
promissores da nova geração de Dylan Dog.
Por Thadeu Fayad

Apesar da sua idade jovem, você trabalha neste tes e misteriosos, enquanto que como leitor pequenos esboços, então eu começo a configu-
ambiente como profissional há mais de 10 anos. Como prefiro ler as histórias mais irônicas, como rar a mesa e depois trabalho quadro por quadro.
você conheceu Dylan Dog, leitor ou autor? desenhista prefiro os que tem atmosfera mais A beleza do digital é que você pode cometer erros
Conheci Dylan como leitor, era 1993, eu tinha 11 rica, locais deslumbrantes e na medida do pos- umas mil vezes e o desenho só vai ganhando em
anos e um amigo meu me deu o número do mês, era sível, longe da realidade. qualidade.
a edição 82. chamado “lonano dalla luce”. Ao ler, per-
cebi que não era um quadrinho “adequado” para mi- Como você busca inspiração para dese- Aqui no Brasil, Mater Morbi é uma das histórias
nha idade, e li com todo o interesse e a emoção de ter nhar uma cena? Tem algum ritual que costuma mais reverenciadas de Dylan Dog e Mater Dolorosa
em minhas mãos algo “proibido”. Havia cenas muito fazer? é considerada sua continuação. Como nasceu esse
cruéis e assassinatos violentos, eu nunca tinha visto Eu busco muitas referências na internet. Se convite? Você esperava isso? E como foi trabalhar
nada parecido. Mas só fui ter pesadelos depois uma tiver que desenhar um conjunto de cenários, na edição?
semana, quem sabe por quê. por exemplo, em um necrotério, vejo dezenas Sim, Mater Dolorosa nasceu há alguns anos
de fotos com diferentes tipos de pessoas, da como uma sequência “simples” de Mater Morbi.
Qual história você se lembra de uma maneira es- década de 20 aos dias de hoje, tentando ar- Roberto Recchioni, me convidou depois fiz uma
pecial e por quê? mazenar o máximo de informações possível. seqüência de Orfani coloridos de forma pitoresca.
Além do n. 82, estou ligado a muitos outros livros. Para a recriação dos personagens, se não há Já vinhamos trabalhando em Orfani há um ano. O
Os que eu prefiro ler são os mais bem-humorados indicações específicas de um desenhista, eu ano seguinte começou a trabalhar nesta história de
como “Grand Guignol” ou “Tre por zero””. Eu gosto da gosto de imaginar gestos expressivos ou en- Dylan que, a principio seria apenas uma sequência
ironia que Sclavi sabe combinar com o horror, sempre quadramentos efetivos e começo a partir daí. e se tornou um número de comemoração do tri-
sai uma mistura verdadeiramente única que ninguém Às vezes peço a amigos e amigos para recriar a gésimo aniversário, onde Xabaras, Morgana, John
realmente conseguiu imitar. Há também números cena, como se estivéssemos no teatro, para ter Ghost foram inseridos no passado de Dylan Dog.
muito poéticos como “Johnny Freak” ou “o il volo dello novas idéias e evitar repetir os mesmos gestos. Tudo isso me criou uma responsabilidade ainda
struzzo” que pode trazer algumas lágrimas! maior sendo o meu número de estréia na série, um
O que significa para você desenhar Dylan número que eu tive que colorir tudo (o que eu nun-
Como definir Dylan Dog? Dog? ca tinha feito antes). Como se isso não bastasse,
Eu sempre o defini como um “despreparado”. Um grande marco. Anos atrás, pensei que ele teve que estar no estilo pitoresco e seguir os
Antes de ler Dylan, eu estava convencido de que um o ponto máxima da minha aspiração era me passos de um gigante como Massimo Carnevale ...
investigador de pesadelo tinha à sua disposição toda tornar um desenhista “regular” da série. Nunca
uma série de instrumentos, amuletos e livros ocultos imaginei me tornar o capista. 2018 é o ano da Copa do Mundo e os italianos
para enfrentar os monstros. Dylan, em vez disso, se são grandes fãs de futebol como nós brasileiros.
joga no desconhecido e horror sem a menor proteção, Para a SBE você trabalhou primeiro com Acompanha o futebol? Qual foi sua reação ao ver
a única arma que ele tem à sua disposição, o bodeo, Orfani e depois com Dylan Dog sempre em co- a Itália fora da competição? você vai torcer para
que na maioria das vezes ele esquece em casa. Quan- res. Gostaria de mais cedo ou mais tarde traba- qualquer seleção?
do eu era criança, isso era difícil de entender, mas lhar com preto e branco, talvez apenas para o [Muitos risos] Infelizmente, eu não acompanho
logo percebi que os monstros que aparecem nas his- Investigador do Pesadelo? o futebol, eu sou um dos poucos talvez, mas é as-
tórias não são reais, mas pretextos para dizer outra Sim, tenho um pouco de nostalgia por preto sim. Estou torcendo apenas para os quadrinhos!
coisa, mostrar um horror que não pode ser derrubado e branco. A cor é muito eficaz e impactante, e
por uma arma. pode dizer muito bem algumas coisas que tal- seus planos para o futuro: você pode nos re-
vez não funcionassem em preto e branco . No velar algo?
Recentemente, tivemos um filme de Dylan Dog, entanto, às vezes eu gostaria de deixar os de- Tiziano Sclavi está escrevendo uma série pa-
que apesar de ser inspirado pelo personagem estava senhos sem cores, porque eles têm um charme ralela ao Dylan Dog, será chamado de “Tales of
longe do que temos nas HQs. Você viu o filme? O que especial. Mas sempre depende da história: um Tomorrow” e eu estou trabalhando no número um.
você achou dele? volume como Mater Dolorosa seria muito dife- Será uma série muito interessante, mas ainda não
Eu o vi no cinema, mas eu já sabia o que eu ia rente se não tivesse tido todo aquele sangue consigo revelar nada sobre isso. Depois, devemos
encontrar. Um filme pobre nascido com premissas vermelho! pensar no número 400 de Dylan Dog. Roberto já
erradas. está trabalhando nela e o título provisório é “Mater
Você tem desenhado digitalmente há al- Triumphans”
Com qual personagem, assunto, atmosfera, você guns anos. Como você se prepara para um
se sente mais à vontade e gosta de desenhar? trabalho depois de ler um roteiro?
Devo dizer que fiquei imediatamente à vontade Exatamente como fazia com o papel antes
com Dylan. Gosto de desenhar ambientes interessan- de passar para o digital: faço uma série de
© SBE Editore Itália
Parte integrante da revista fumetti #5 abril 2018 - não pode ser vendido
ou repruduzido sem autorização - arte de Marcos Martins
DIRETAMENTE DAS PÁGINAS DA
EXCLUSIVIDADE NO BRASIL

Mundo do Oeste
EM MAIS UMA PARCERIA EXCLUSIVA, DESTA VEZ COM O SITE DIME WEB, UM DOS MAIS
RESPEITADOS PORTAIS SOBRE QUADRINHOS ITALIANOS DO MUNDO.

Publicado no Portal Dime Web mensalmen- Além dos artigos escritos pelo Wilson, trare-
te, La Storia del West (que aqui chamaremos de mos uma rigorosa seleção de imagens Bonellia-
Mundo do Oeste) é uma série de ensaios sobre nas correlacionando nossos personagens prefe-
o velho oeste, escritos por Wilson Vieira - único ridos com o texto feita por um dos curadores do
brasileiro a desenhar Il Picollo Ranger (aqui no Dime Web, Francesco Manetti e cards exclusivos
Brasil chamado de O Pequeno Ranger), nos- irão ilustrar e completar cada tema aqui apresen-
so consultor - e que rapidamente se tornou um tados.
grande sucesso na Europa.
Um grande presente aos amantes do Velho
Traremos com exclusividade esses artigos, Oeste, aos que ainda não conhecem sobre sua
verdadeiras preciosidades que nos mostrarão realidade, seus costumes, que traremos em um
um mundo inesperado - longe da retórica pro- grande trabalho editorial, nunca antes realizado
pagandística das estrelas e faixas e falsos ecos por nenhuma publicação no Brasil.
de Hollywood - povoados por per- sonagens
surpreendentemente pró- ximos

COWBOYS
da ética e do modo samurai
no Japão antigo.

TEXTO: WILSON VIEIRA - IMAGENS: FRANCESCO MANETTI


TRADUÇÃO: THADEU FAYAD

A palavra apareceu pela primeira vez após o ano


1000 d.C., em fazendas na Irlanda e chegou em torno
de 1604 - com prisioneiros de guerra irlandeses de-
portados por Oliver Cromwell (1599 - 1658) - na Nova
Inglaterra, onde pastores vestidos de jaquetas e Ca-
sacos de couro, que levaram um rebanho de Sprin-
gfield para Boston em 1655, já eram chamados de
cowboys. A partir de 1770, esta palavra é usada para
cuidadores de rebanhos de gado na Virgínia, Caro-
lina e Geórgia. Mas somente nos anos turbulentos
que precederam a fundação e a Guerra da Inde-
pendência da República Texana (1830 - 1863) são
os pastores especializados de acordo com o mo-
delo Cowboy mexicano. Cowboy vem da pala-
vra espanhola vaca, que significa “bovino”. Foi,
no México, o antecessor e modelo do Cowboy
americano. Os primeiros Cowboys eram pe-
cuaristas indígenas das missões espanholas.

Eles seguiram a “meia-raça espanhola-


-indiana” como um cavaleiro ao serviço dos lati-
fundiários mexicanos, ou fazendero (“proprietários
de terras”), hacendados (“proprietários de gado”) e
ranchero (“criadores”).
A palavra Cowboy foi usada pela pri- dos nas ricas terras de pastagem ao redor
meira vez nos Estados Unidos para de- do rio Neuces, encontraram tanto gado
signar homens do Estado de Nova York que nem sequer se preocupam em mar-
que trocaram gado roubado durante a car os bezerros recém-nascidos. Mas, em
Revolução Americana (1775-1783). En- relação à quantidade de novilhos exis-
tão, quando o Texas se separou do Mé- tentes, a demanda era muito baixa. Um
xico, até os texanos que contrabandea- pequeno comércio de couros, sebo, cas-
vam gado de terra além do Rio Grande cos e chifres foi então formado ao longo
eram chamados de Cowboys. Mas le- da costa do Golfo; os novilhos do Texas
vou muitos anos antes que a palavra se produziram peles, velas e cola para o res-
tornasse o termo que verdadeiramente to dos Estados Unidos.
descrevia “o cavaleiro das pradarias”.
Então, enquanto os texanos procura-
Entre 1840 e 1860, milhares de va- vam desesperadamente novos mercados
gões cobertos atravessaram as Grandes Pradarias, para sua riqueza de quatro patas, a Guerra Civil Ame-
indo para o oeste. Para aqueles homens e mulheres ricana estourou (1861 - 1865). Os Cowboys se aliaram
acostumados a colinas amigáveis, árvores e prados à Confederação Sulista, e durante quatro longos anos
verdes, embarcar na aventura nas encostas ociden- lutaram uma guerra desesperada contra o Norte. Vá-
tais deve ter sido parecido com sair de um porto rias tentativas foram feitas para fornecer carne ao
abrigado para o mar aberto. A grama inundada pelo Exército dos combatentes levando os rebanhos para
sol do verão esticou-se infinitamente a cada lado da Nova Orleans e as cidades do Mississippi. Quando a
trilha do vagão estreito; não havia nada familiar na Guerra Civil explodiu, grande parte da América ficou
monotonia das pradarias ou entre os picos batidos devastada pela luta. Fazendas e ranchos foram quei-
pelos ventos. Não é de admirar que eles consideras- mados, os animais libertados, ou confiscados para
sem a terra como um deserto e estavam ansiosos alimentar os exércitos rivais.
para pegar a primeira mão amiga estendida ao longo
da trilha. Mas assim que os soldados do Norte conseguiram
abrir uma estrada ao longo do vale do rio para o mar,
Os pioneiros trouxeram cavalos e gado com eles o Texas permaneceu isolado do resto dos Estados do
para povoar as fazendas que ocupariam uma vez Sul. Os animais de chifres longos vagaram pelos va-
que cruzavam as montanhas. Mas quando os vagões les floridos e, quando os Cowboys do Texas voltaram
chegaram ao rio North Platte, os animais agora esta- da guerra para casa em uma nação arruinada, perce-
vam saturados e cansados e muitas vezes as reservas beram que havia mais de 5.000.000, todos animais
eram bem escassas. Quando a caravana parou diante saudáveis e robustos. No Norte, faltava a carne, uma
de uma posição comercial, as vacas leiteiras fracas situação que iniciou os grandes transportes de gado.
do vale do Missouri foram facilmente cedidas em O boi Texan de chifres longos era descendente direto
troca de um punhado de dólares ou alguns sacos de do animal espanhol robusto, fino e de chifres longos
farinha. originalmente criado em grandes rebanhos de mou-
ros nas planícies da Andaluzia.
Pouco a pouco, ao longo da trilha, surgiram inú- Os vastos rebanhos de longhorns selvagens fo-
meras fazendas, onde os comerciantes libertaram o ram declarados oficialmente pelo governo texano
gado pioneiros e exausto e trabalharam duro para
engordá-lo nos vales prósperos. Mais tarde, o mesmo
gado teria sido revendido, naturalmente com lucro,
para o próximo comboio de viajantes que queriam
que os animais mais vigorosos terminassem a jor-
nada. Foi assim, de uma maneira muito simples, que
os criadores desmentiram o mito do grande deserto
americano, mostrando que os rebanhos, como o bi-
sonte, poderiam prosperar nas planícies.

Enquanto isso, ocorreu uma grande mudança na


parte sudoeste do país. Os mexicanos, que coloni- como propriedade pública; no entanto, não havia
zaram com sucesso a Califórnia e a Terra dos Tejas, pessoas interessadas neles, já que a necessidade de
perderam grandes quantidades de bens em uma bre- carne era baixa. Havia apenas um pequeno mercado
ve guerra com os Estados Unidos (1846-1848). Os re- de peles, chifres, ferraduras, ossos para fazer cola e
banhos de gado, que custaram tantas dificuldades às sebo de gado para fazer velas, e também crina para
missões espanholas antes e aos ranchos mexicanos almofadas. A localização original para o comércio de
mais tarde, foram deixados livres pelo Cowboy em couro e sebo era a Califórnia; por esta razão, a pele do
retirada. gado foi chamada de “nota californiana”.

Os conquistadores agressivos do Texas, instala-

R E V I S T A F U M E T T I . 2 3
souri. Os ladrões de gado tornam impossível que os
MUNDO DO OESTE - COWBOYS cowboys busquem novas rotas e novos estabeleci-
mentos no Wyoming, Illinois e Iowa.

Abilene em Kansas é o primeiro centro de classi-


Os tempos heroi- ficação de gado organizado. Nos terminais ferroviá-
cos do Cowboy ame- rios, como Abilene, os rebanhos foram mantidos em
ricano começaram grandes gabinetes até serem carregados em trens
no final da Guerra especiais. Entre os estalar dos chicotes, os Cowboys
da Secessão, porque empurraram o gado para os carros. De 1866 a 1880,
depois das devasta- mais de 4.000.000 de cabeças fizeram viagens de
ções da guerra a ne- cerca de 300 quilômetros para chegar ao seu destino.
cessidade de carne Houve também outros problemas: as companhias
e pele cresceu enor- ferroviárias, depois de construir as linhas, exigiram
memente. Aqui, o uma taxa por cada dia em que os trens estavam ser-
Cowboy americano vindo, e não apenas quando o longo transporte che-
tornou-se a figura gava ao seu destino. E assim, para encorajar os agri-
mais emblemática cultores a construir fazendas perto de vias férreas, as
dos mitos nacionais. empresas ofereceram terras a preços muito baixos.
Em 1865 no Texas -
literalmente invadi- Logo aconteceu que, como os agricultores em tor-
do por rebanhos de no de Baxter Springs, nos primeiros dias do transpor-
gado - cada item vale te de gado, os fazendeiros de pradarias temiam que o
5 dólares, enquanto gado do Texas destruísse suas colheitas e trouxesse
nos mercados Norte a febre do Texas para a área. Na verdade, na pele dura
e Leste é pago até 50 do boi de chifres longos vivia um parasita portador
dólares. de uma doença, e embora o boi do Texas fosse imu-
ne, o parasita poderia abandonar o animal e atacar a
Assim, começa outro capítulo fascinante da his- primeira vaca que passasse por perto. Isso poderia
tória americana, o da grande migração de gado. As muito bem ser um animal das novas fazendas, não
aventuras dos Cowboys do Texas serviram para em- tão resiliente quanto a raça do Texas; por esta razão,
purrar a fronteira dos fazendeiros cada vez mais a novas leis foram passadas na quarentena que proi-
fundo nas Great Grasslands. A essa altura, ninguém biu o boi com longos chifres de entrarem nos novos
pensava na terra que se estendia entre as Monta- assentamentos. Os índios, em cujo território os re-
nhas Rochosas e o Mississipi como um “deserto”. O banhos passam, recorrem ao governo para solicitar
mito do despoblado - como o território tinha sido uma taxa de 10 centavos por cada cabeça. Isso causa
batizado pelos espanhóis - começou a desaparecer confrontos sangrentos entre cowboys e índios ten-
quando os primeiros Cowboys dirigiram a primeira tando defender o que é justo e de direito.
coluna de boi com longos chifres no mar da grama.
Diante de longas jornadas e superando as dificulda- Continua...
des de todos os tipos, os Cowboys dirigem os reba-
nhos enormes para as estações ferroviárias, de onde
o gado é direcionado para as reservas indianas e as
cidades do Oriente. A rivalidade entre as várias em-
presas ferroviárias, que competiram para ser a pri-
meira a atravessar o continente, levou cada ano mais
ao oeste a parada final. Havia uma dúzia de empre-
sas: Union Pacific, Kansas Pacific, Atchison, Topeka
e Santa Fé, Burlington, Texas Pacific e outros.

As cidades da pradaria apareceram; os índios se


retiraram, os bisões foram mortos e todo o país se
transformou. Então a primeira onda de excitação
para o dinheiro acabou e o Texas começou a se re-
cuperar dos efeitos da Guerra Civil. Aqui está o nú-
mero de gado em 1860 nos vários estados: Kansas,
93.455; Nebraska, 37,197; zero em Colorado, Wyo-
ming, Montana e Dakota. Em 1880, os números são
enormemente maiores: Kansas, 1.533.133; Nebraska,
1113.247; Colorado, 791,492); Wyoming, 521,213;
Montana, 428.279; Dakota, 140.815. Em 1866, 260
mil chefes passam pelo Rio Vermelho e, através do
Arkansas e do sul do Kansas, chegam a Sedalia, Mis-
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Entrevista: Pedro Mauro
Falamos exclusivamente com o desenhista e co-autor da HQ Gatilho,
um grande sucesso nacional dos quadrinhos de faroeste
Por thadeu Fayad

“Um caçador de recompensas chega numa ci- bem elaborada, contando com um final bem cria-
dade abandonada em busca de justiça. Mas, para tivo para a história. Pedro Mauro já é um nome
conseguir o que quer, ele precisará enfrentar consagrado, e em 2014 passou a trabalhar para a
muito mais do que o homem que procura… Terá Sergio Bonelli Editore, trabalhando em edições de
que exorcizar fantasmas do passado.” Le Storie e também do tradicional Ranger e carro
chefe da editora, Tex. As artes de Gatilho são um
A sinopse de Gatilho pode nos dar a impressão espetáculo de luzes e sombras.
de que já vivenciamos uma situação assim porém
é uma visão diferente do que vemos em histórias Muito fiel às HQs tradicionais do gênero, Pe-
de faroeste. a HQ se destaca, também, pela forte dro usa e abusa dos alto contrastes, criando um
inspiração nas obras do cineasta italiano Sergio desenho “sujo” mas que funciona perfeitamente
Leone. O grande responsável por tornar conheci- para a trama. A diagramação das páginas valoriza
do mundialmente o género do western spaghetti ainda mais a arte com quadros grandes e páginas
nos cinemas. Leone foi o autor de filmes consa- duplas.
grados como Era uma vez no oeste e Três homens
em conflito. Com suas duas tiragens esgotadas, tanto na
plataforma de financiamento coletivo, quanto na
Gatilho tem um roteiro não linear que aos loja virtual, Gatilho é uma obra significativa entre
poucos vai ligando os acontecimentos do passa- os quadrinhos de faroeste, não deixando nada a
do com os do presente, ambos sempre envoltos dever para outros trabalhos e possivelmente figu-
numa atmosfera de suspense e muita tensão. O rando entre os melhores quadrinhos já feitos no
emocional do personagem, explora suas angús- Brasil!
tias e medos, ainda dá um tom psicológico à tra-
ma.

Carlos Estefan, roteirista da Mauricio de Sousa


Produções, desenvolve uma história consistente e
Como surgiu a oportunidade para trabalhar com
a SBE? Quais trabalhos já fez por lá? E como surgiu
a chance de trabalhar numa história de Gianfranco
Manfredi?
Na minha volta para os quadrinhos, eu estava fo-
cando o mercado americano, e a oportunidade com a
SBE veio pelo Facebook.

Eu pensava em voltar para os quadrinhos, então


comecei a desenhar paginas e ilustrações voltadas
para esse mercado, e publicar na minha pagina do
Facebook e Instagram. Um dia recebi uma mensagem
inbox de Gianfranco me convidando para desenhar
Adam Wild. Eu ja era fã de Magico Vento, e conhecia
o trabalho dele, então topei na hora.

Meus trabalhos para a Bonelli foram dois episó-


dios para Adam Wild, um álbum para LeStorie Mugiko,
Acima à esquerda a capa
da HQ Gatilho, acima um
todos com Gianfranco, e estou agora trabalhando em
dos trabalhos de Pedro uma nova serie ainda inédita, também com ele.
Mauro a SBE, com Adam
Wild e abaixo outra pági- E como é o processo para fazer uma história deles
Pedro, não tem como fugir da tradicional pergunta na da HQ Gatilho. (deles SBE)? Como funciona essa escalação.
inicial, conta para a gente como tudo isso começou?
Seu primeiro contato com os quadrinhos e um pouco O processo de trabalho e muito bom, primeiro
da sua trajetória. Sei que trabalhou com publicidade, porque eles planejam muito bem os prazos e lança-
isto foi antes, ou durante os trabalhos com as HQs? mentos. Cada álbum de 110 paginas eu tinha uma ano
Eu comecei desenhar ajudando o quadrinista Ig- de prazo pra entregar finalizado, agora a escalação
nacio Justo, quem também foi meu mestre, nas suas depende do roteirista e editor. O Gianfranco indica o
estórias de Combate. Isso foi em 1969, e em 1970 eu desenhista para os editores. Não sei dizer sobre outros
desenhei minha primeira estória solo de Western para autores, porque ate agora eu so tenho trabalhado com
a extinta Editora Taika, em Sao Paulo. Desenhei uma ele.
revista por mes, durante dois anos. Depois disso, eu
entrei em publicidade desenhando storyboards para Você tem material guardado e que nunca publi-
comerciais e também ilustrações para revistas como cou? Você pensa em publicá-los? E por que você opta
Quatro Rodas e Playboy. por histórias mais de época e não atuais?
Não, não tenho material inédito guardado. Eu
Qual o seu trabalho de estreia? Seu primeiro tra- sempre gostei de filmes e historias de época, e aven-
balho já foi na Itália ou França? tura. Acho que me sinto realizado de ter desenhado ate
Em quadrinhos no Brasil, foi o Western Pancho, agora o que mais gostava quando moleque...western,
em 1970. Na volta, em 2014 para as HQs, foi para a aventura, espionagem e piratas.
SBE. Em 2015 fiz um álbum sobre piratas para Glenat,
So falta uma de ficção pra completar.
Cores incríveis, visuais
fantásticos e aventuras
que irão te conquistar!

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disponíveis, também, em formato digital


Ao lado um esboço de uma das páginas de
Mugiko, publicada pela SBE em Le Storie e
mais abaixo um sketch da capa de Gatilho.
O enredo das histórias de faroeste e o esti-
lo do desenho não apresentaram grandes mu-
danças ao longo dos anos. Como é possível se
reinventar, mantendo um padrão e ao mesmo
tempo não sendo igual aos outros?
Eu tentei, agora voltar com um estilo que Conversando com meu amigo roteirista Carlos
mais retratasse os empoeirados e sujos fa- Estefan, que também adora o tema, ele me propôs
roestes italianos, mudei um pouco meu estilo escrever o roteiro.
atual para fazer Gatilho. Mas eu acho que o Quando ele me falou sobre a ideia da historia,
roteirista, Carlos, se reinventou com o roteiro eu ja tive vontade de desenhar. O roteiro foi aber-
que escreveu para o projeto. A maneira que to, sem pagina por pagina, quadro por quadro, foi
ele contou a historia, me pegou de surpresa, nascendo nas conversas, nos sketches, nos cafés.
sinceramente.

Na hora de desenhar os quadrinhos, é mais Gatilho não apresenta um herói como sendo o
importante retratar a fidelidade histórica ou se legítimo “mocinho”, o que exatamente o perfil de
preocupar com o entretenimento? Tex, e sim um caçador de recompensas que preci-
sa, antes de sua vingança, se livrar de fantasmas
Pra mim, as duas coisas são importantes. do passado. O público atual prefere esse tipo de
Voce tem prender o leitor com a narrativa e enredo ao invés do clássico herói moralmente im-
também entregar para ele detalhes de época, placável?
armas, indumentárias, etc...o mais próximo
possível da realidade. Eu pesquiso muito esse Eu sempre acho uma historia legal quando tem
aspecto. um final feliz, tipo, o mocinho vencer o bandido, e
o bem sempre prevalecer e o herói cavalgar para
Gatilho presta homenagem aos filmes e o horizonte na ultima cena. Em gatilho, mostramos
quadrinhos de faroeste das décadas de 1960 e algo mais próximo do que era a realidade na épo-
1970, como surgiu esse projeto? ca, rude, crua e violenta, e os personagens lidan-
do com escolhas que poderiam mudar suas vidas
Me bateu aquela nostalgia de desenhar um para sempre.
faroeste e voltar nos meus anos 70.
São maneiras diferentes de retratar um tema,
Mas queria um roteiro com uma pegada e acho que Gatilho entrou nesse vácuo que existe
diferente, mas uma homenagem ao faroeste nas historias de faroeste, e pegou um publico que
italiano de Sergio Leoni e os de Clint Eastwood. gosta tanto de Tex como do Pistoleiro sem nome.

R E V I S T A F U M E T T I . 2 9
HQ INDEPENDENTE DO MÊS
AUTOR: DÉCIO RAMÍREZ - HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/DECIORAMIRES
PRA ASSISTIR SEM PARAR
Godless
UMA DAS MELHORES PRODUÇÕES TELEVISIVAS DO ANO, A SÉRIE APOSTA EM UMA MUDANÇA TOTAL NO
GÊNERO DO FAROESTE. A SÉRIE DA NETFLIX, LANÇADA EM NOVEMBRO DE 2017, É UM FILMAÇO DE 7 HORAS E MEIA,
COM GRANDES ATUAÇÕES E UMA HISTÓRIA MATADORA.

Antes de contarmos a história da série é preciso pon- bebês, sem exceções – simplesmente por terem dado
tuar que a fórmula do faroeste que vemos no cinema (e uma noite de pouso ou uma refeição a Roy. E acontece
também na TV) é um clássico relativamente imutável, de Roy encontrar refúgio exatamente na aparentemente
o gênero explora sempre o século 19, envolvendo na- indefesa La Belle.
tivos americanos e os imigrantes europeus através de
conflitos diversos e duelos por terras, respeito, dinhei- Godless ousa ao introduzir uma dúzia de fortes per-
ro, entre outros bens. Por mais que já tenham tentado sonagens femininas como a ex-prostituta que virou
mudar esse cenário, os produtores dificilmente mudam professora Callie Dunn, a dona do próprio rancho Alice
a fórmula. E é aqui que a nova série da Netflix faz di- Fletcher, até a sensacional viúva do prefeito que passa
ferença, ela mexe em um dos principais pontos do fa- a tomar conta ela mesma da cidade. Cada uma das mu-
roeste tradicional, a grande maioria, pra não dizer sua lheres de La Belle toma para si os trabalhos que eram
totalidade, são protagonizada por homens, deixando de seus maridos e mantém todas as responsabilidades
sempre as mulheres como donzelas em perigo ou de que já tinham. Ainda assim, para todos que olham de
pouca moralidade. fora, a cidade está despreparada e desprotegida para
receber e enfrentar alguém como Frank Griffin e sua
Godless nos leva para um Velho Oeste de paisagens gangue. Tudo parece conspirar contra essas mulheres.
áridas, dos saloons e das diligências. A produção mer-
gulha em todos os chavões do bangue-bangue. Mas, ao O visual também é algo que a série leva muito a sério.
mesmo tempo, nos apresenta a um ambiente de fábu- Com uma fotografia apurada, criando um belo contraste
la, inventado. Naquele mundo de bravos, fica La Belle, de cores para separar presente, passado ou lembrança.
uma cidade cuja população é basicamente de mulheres. Abusando tons amarelados do deserto de Santa Fé nas
Praticamente todos os mora- cenas do presente, tirando quase
dores homens morreram em toda a cor quando viaja ao passado
uma explosão na mina local, em um flashback, é um ponto mais
sobrando, além das mulheres do que positivo do diretor da série.
já citadas, crianças e idosos. As belas cenas em P&B explicam
Homens, em La Belle, há o até pouco da história de alguns
xerife cada vez mais míope e personagens, mas dão o contexto
desacreditado e seu assisten- necessário para entendermos bem
te, um garoto magrinho aves- quem são aquelas pessoas.
so ao banho e que adora rodar
os revólveres nos dedos. E consolidando ainda mais a
fotografia temos que destacar não
Por mais que esse seja só a trilha sonora como a escolha
um fato bem peculiar sobre das locações no Novo México, um
a série, não é o foco principal embasbacante cenário às vezes de
da produção. Godless acom- deserto e mesas rochosas escul-
panha, assim como a maio- pidas pela erosão, outras vezes de
ria dos faroestes, o embate pradarias e montanhas nevadas,
entre dois homens: o crimi- que não é só um simples cenário
noso Frank Griffin e o compa- mas um complemento indispensá-
nheiro que o traiu Roy Goode. vel do que está sendo contado.
O imoral e vingativo Griffin,
um psicopata com estranhos Com personagens bem cons-
pensamentos religiosos que truídos e carismáticos, uma trama
lidera um bando de crimino- bem amarrada e um visual de ti-
sos (todos da pior espécie). rar o fôlego, Godless é uma série
Frank considera Roy seu fi- que atualiza o faroeste sem mexer
lho, junto a seu bando vêm nos elementos indissolúveis do
cavalgando pelo território à bangue-bangue e caminha para se
sua procura de um foragifo Roy como uma praga bíbli- tornar um clássico do gênero!
ca, assassinando cidades inteiras – mulheres, crianças,
SESSÃO GAME OVER

Seja um cowboy
Todo mundo sabe que o faroeste é um fenôme- plos inimigos.
no marcante, do cinema aos quadrinhos e a maio-
ria dos amantes do gênero já quis ser um cowboy, A trama de Red Dead Redemption conta que o
pistoleiro, ranger ou xerife de alguma cidadezi- governo sequestra a esposa e filho do pistoleiro,
nha do Velho Oeste. Existem algumas formas a fim de suborná-lo para aceitar a missão de ca-
para satisfazer o desejo de encarnarmos nossos çar seus antigos companheiros de crime e entre-
personagens preferidos, uma delas é o cosplay, gá-los à polícia. Sua trajetória para cumprir com
mas não é possível sair atirando nos vilões como esse trabalho forçado é longa, mas em momento
seu herói... algum traz a sensação de tédio, revelando inclusi-
ve momentos muito comoventes. Disponível para
Outra alternativa para solucionar essa desejo PlayStation 3, Xbox One (através da retrocompati-
politicamente incorreto são os videogames, e para bilidade) e Xbox 360.
ajudar mostramos quatro exemplos de jogos que
todo fã de faroeste deveria conhecer. Lembrando E está chegando sua aguardada continuação...
que a ordem em que foram listados é aleatória e
não representa melhor ou pior jogo. Então, prepa- Call of Juarez
re suas esporas, pendure a corda na cintura e não
esqueça do revólver, porque vamos partir para o Mudando um pouco o ângulo em que enxerga-
mundo do ‘bangue-bangue’. mos o Velho Oeste, a série Call Of Juarez mostra o
deserto das fronteiras com o México na perspec-
Red Dead Redemption tiva FPS. As mecânicas são bem simplistas, o que
é ótimo para quem não gosta de perder tempo
A história do ex-integrante de uma gangue de com jogos difíceis de dominar. É possível contro-
bandidos do Velho Oeste, John Marston, é lar dois protagonistas: Billy “Candle” ou Reveren-
contada em formato mundo aberto e com do Ray McCall, sendo o primeiro focado em com-
combates à base de tiro em terceira bates stealth e o segundo um atirador que encara
pessoa. Sua habilidade específi- o inimigo de frente. O restante das ações vão en-
ca é chamada “Dead-Eye” e se volver tudo que é esperado no gênero: assaltos,
caracteriza por uma redução passeios à cavalo, índios e duelos de pistoleiros.
na velocidade do tempo, Outros títulos Call Of Juarez foram lançados pos-
o que permite que teriormente, no entanto, apenas Bound in Blood
Marston acerte os tem alguma relação com o enredo do jogo inicial,
alvos com pre- funcionando como uma prequel.
cisão, inclu-
sive em Quem gostar da sensação de viver a cultura do
múlti- faroeste no formato de tiro em primeira pessoa,
vai conseguir aproveitar os jogos subsequentes
como uma extensão da experiência. Mas é im-
portante destacar que The Cartel e Gunslinger, o
terceiro e quarto lançamentos da franquia, não
são sequências e ainda possuem histórias
totalmente diferentes. Nenhum dos títulos
Call Of Juarez tem protagonistas repe-
tidos. A série pode ser jogada em PC,
Xbox 360 e Playstation 3, exceto o game
de estreia, que não está disponível no
console da Sony.
Sunset Riders
Apesar de ter versões para Mega Drive e Super Nintendo, Sunset Riders se destacou mesmo foi dentro
das plataformas Arcade, onde contava com cinemáticas melhores e gráficos mais coloridos. Com direito a
multiplayer para 4 pessoas, os jogadores assumem o papel de xerifes que vasculham o Velho Oeste a fim de
caçar bandidos. Além do estilo próprio de cada cowboy, basicamente é só o tipo de arma/pistola que diferen-
cia os personagens.

A jogabilidade é simples, basicamente “beat ‘em up” em formato de plataforma. Por isso, também cabe
a você e os outros jogadores evitar armadilhas e não ficar no alcance dos tiros disparados por multidões de
capangas. Cada fase habilita a possibilidade de entrar em casas que oferecem mais pontuação aos perso-
nagens e poderes extras, como o de usar duas armas ao mesmo tempo. Ao fim de cada fase, um chefão é
enfrentado e representa, justamente, o objetivo principal de Sunset Riders: a captura de um criminoso cuja
cabeça vale muitas peças de ouro.

Desperados: Wanted Dead Or Alive


Ao contrário dos jogos em que sair atirando em tudo que se vê pela frente é a principal ação, Despera-
dos: Wanted Dead Or Alive requer que os jogadores pensem bem antes de disparar a primeira bala. Aqui,
a característica fundamental é cumprir as missões definidas para o protagonista principal, o caçador de
recompensas John Cooper. Com isso, é fundamental levar em consideração todo o cenário ao redor, o que
cada ação sua poderá acarretar e, com isso, planejar a melhor estratégia para cumprir as etapsa que levarão
a desvendar o objetivo central do game: quem é a gangue que vem atacando as linhas férreas para assaltar
trens recheados de ouro.

Ao longo da história, você poderá controlar um total de 6 personagens, cada um com habilidades parti-
culares, que de acordo com suas capacidade de pensar em combinações, podem ficar cada vez mais úteis
para solucionar os desafios apresentados ao longo do jogo. O gráfico apresenta perspectiva isométrica e com
visual até que bem bonito para época em que foi lançado, em 2001. Está disponível unicamente para PC e, até
os dias de hoje, pode ser adquirido através da Steam.

R E V I S T A F U M E T T I . 3 5
REVIEW - DAMPYR

Dampyr #4 - Editora 85
Depois de um longo hiato (13 anos de sua última publicação),
Harlan Draka retorna em edição caprichada pela Editora 85

Em formato italiano (16 x 21 cm), papel offset,


384 páginas, capa cartonada por R$ 39,90), com
histórias escritas por Mauro Boselli e desenhadas
por Stefano Andreucci, Stefano Casini e Maurizio
Dotti marca a volta do herói, depois de um longo
hiato (13 anos de sua última publicação). A última
vez havia sido pela Mythos Editora entre 2004 e
2005 (foram 12 edições).

Dampyr é uma série que mistura horror, sus-


pense e aventura policial. A trama explora o mun-
do dos Mestres da Noite, superpredadores que
se alimentam de seres humanos. Porém, o nas-
cimento de Harlan Draka, filho de uma humana
com uma dessas criaturas, gera o único inimigo
natural de tais ameaças: um Dampyr.

A edição foi viabilizada numa campanha de fi-


nanciamento coletivo pelo Catarse, e agora está
à venda, também, pela Amazon Brasil - Só clicar
nesse link (ou copiar e colar no seu navegador):
https://goo.gl/q76dgz

Cabe um esclarecimento sobre a série, ela co- É uma atitude de muita coragem uma editora
meça no número 4 porque a Editora 85 pretende que não possui o tamanho das tradicionais fa-
relançar as edições que já foram publicadas pela zer uma aposta como essa e para nós leitores é
Mythos em outros 3 volumes compilando, assim, importante prestigiar e comprar, garantindo que
as 12 edições que já saíram no Brasil. Logo de- mais e mais atitudes como essa sejam realizadas.
pois dar seguimento com outros volumes, trazen- É impressionante como o preço é acessível, são
do novas e inéditas aventuras. Vale ressaltar que quase 400 páginas de histórias de alto nível por
mesmo quem não conhece o personagem pode R$ 39,90. Tem muita edição com tiragem 5 ou 6
adquirir a revista e ler as histórias sem nenhum vezes maiores, com menos quantidade de pági-
problema. nas, com qualidade inferior (tanto na seleção de
histórias quanto na parte impressa) e com preços
A edição é muito bem produzida, conta com bem superiores.
um texto de Júlio Schneider, tradutor e grande
articulista do universo Bonelli no Brasil. O papel Se você não conhece o personagem é uma
escolhido é o offset, mas em nada diminuiria o chance de ouro e se já conhece e curte os heróis
trabalho se o papel fosse o pisa-brite caso isso Bonelli, não pode deixar de ter e principalmente
pudesse favorecer um preço menor, a impres- de prestigiar a atitude da Editora 85!
são é de ótima qualidade e a ausência de uma
capa dura para engrandecer o produto é o único Vida longa a Dampyr!
ponto negativo, mas que novamente, não diminui
em nada o trabalho realizado.

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