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A ESTRÉIA
DE MUNDO DO
OESTE
i a l
p e c g
e s lan d o
© SBE Editore Itália
dy entrevistamos
tiziano Sclavi
e gigi cavenago
GATILHO
CONVERSAMOS COM
PEDRO MAURO,
DESENHISTA DA HQ
E AINDA: PORQUE UMA HQ CUSTA CARO? - SÉRIES ENCERRADAS DE TEX - LE STORIE - GAMES DE FAROESTE
EDITORIAL
EXPEDIENTE O objetivo de ter criado esta revista foi justamente
dar voz aos personagens que gostamos mas que certa
forma nunca tiveram o mesmo destaque que os su-
Organizador: per-heróis estadunidenses. E então tudo foi crescen-
Thadeu Fayad do, naturalmente elevando a qualidade e também as
exigências para que isso fosse alcançado.
Colaboradores:
Joana Rosa Hoje a maior fumetti já feita está sendo lançada. Ela
Luiz Henrique Cecanecchia tem mais que o dobro de páginas da primeira edição
e aos poucos segue amadurecedendo como uma sóli-
da publicação. Como revista digital podemos sempre
Consultoria:
brincar com a quantidade de páginas sem as amarra-
José Carlos Francisco
ções financeiras que uma edição impressa ocasiona.
Ricardo Elesbão Alves
Wilson Vieira Não que o número de páginas seja o item mais im-
portante que teremos por aqui, acredito que mais re-
Diagramação: levante do que quantidade é a qualidade do que você
Thadeu Fayad vai ler em cada edição da revista. E nisso podemos ga-
rantir que nos esforçamos cada vez mais para trazer
conteúdo qualificado para todos.
Junte-se a nós!
Boa leitura!
Nesta edição
04 LE STORIE
08 OS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE
HQs NO BRASIL
22 O MUNDO DO OESTE
34 GAMES DE FAROESTE
36 REVIEW: DAMPYR
/revistafumetti
IMAGEM DA CAPA GENTILMENTE
/revistafumetti
CEDIDA POR MARCO NIZZOLI
http://marconizzoli.blogspot.com.br/
SÉRIES BONELLI QUE TALVEZ NUNCA VEJAMOS
Le Storie
LANÇADA EM OUTUBRO DE 2012 ESSA QUE É PROVAVELMENTE A MELHOR REVISTA (OU
LIVRO COMO CHAMAM LÁ FORA) DA BONELLI COMPLETARÁ 75 EDIÇÕES AO FINAL DE 2018.
A SÉRIE SEGUE TODAS AS TRADIÇÕES BONELLIANAS E JÁ NASCEU SOB O SIGNO DA
AVENTURA, COM A MAIÚSCULO!
É uma série sem um protagonista fixo, mas Em “Le Storie” a narrativa é tudo, e podemos
isso não significa que seja recheada de ação, ver presente nas edições três elementos funda-
aventuras, intrigas e reviravoltas. As vezes é fácil mentais do storytelling para o sucesso da narra-
desvendar quem são os personagens principais e tiva. O primeiro elemento que vemos nas edições
os desdobramentos que virão ao se ver a capa ou é o conflito, pois cria tensão e isso mantém as
o título da aventura, outras vezes nem tanto. Mais pessoas engajadas com a história. O segundo ele-
do que a atração de um único herói, “Le Storie” é mento é a autenticidade. Mantenha-se fiel ao seu
baseado no talento dos autores que se alternarão estilo e o leitor vai responder com entusiasmo e
na realização das revistas e eles são alguns dos paixão. Isso nos leva ao terceiro e possivelmente
melhores roteiristas e desenhistas italianos, com mais importante elemento de qualquer história:
carta branca (ou seja, liberdade total). Cada edição o leitor. A série entrega o que o leitor quer, uma
conta com uma aventura completa, sempre his- ótima aventura!
tórias fechadas, em 110 páginas preto e branco.
Recentemente uma coleção especial em cores e Todos os meses um mergulho diferente, para
com 128 páginas começou a ser publicada. explorar todas as nuances, mesmo as menos ób-
vias. Viajamos no espaço e no tempo, através dos
O embrião desse trabalho surgiu lá em 1976, “cenários” oferecidos pela História e ao longo dos
quando Sergio Bonelli apresentou o “carro-chefe” caminhos da fantasia mais selvagem, nas selvas
de sua já extensa produção, naquela época sob a e desertos, mas também nos insondáveis me-
marca de Edizioni Cepim. A série “Uomo un’Av- andros da psique, entre gênio e loucura, amor e
ventura” foi exatamente o ínicio da proposta de sede de vingança...
“Le Storie”: uma seleção cuidadosa do “melhor”,
isto é, dos autores e desenhistas mais apreciados E assim por diante, ao longo de um caminho
e inventivos, das situações mais exóticas, das so- que serpenteia livremente através de todos os
luções narrativas mais imaginativas. territórios - ou “gêneros”, se você preferir - que
a imaginação do roteirista tenha sido capaz de
A semente estava firmemente plantada na ter- projetar. Criando “espaços” para viagens sem
ra das tradições bonellianas, mas o tempo que limites,
levaria para tudo gerar frutos... isso era imprevi-
sível! Desde 1976 até seu lançamento, muitas coi- A única constante? A atenção profissional e a
sas aconteceram, o mundo mudou, os gostos, as paixão criativa com que cada uma dessas peque-
“tendências”, os personagens e a forma de contar nas obras são realizadas pelos principais autores
história também. do enorme universo de quadrinhos Italianos. To-
dos comprometidos com um objetivo único, dar
“Le Storie” ao mesmo tempo em que presta vazão a arte do contador de histórias: envolvendo,
um tributo à antiga arte do Storytelling, bebe di- comovendo e entretendo seu público.
retamente desta fonte! Que nada mais é do que
a capacidade de contar histórias de maneira re-
levante, onde os recursos visuais são utilizados
juntamente com as palavras, despertando emo-
ções, compondo uma colcha de retalhos capaz de
emocionar, entreter e persuadir o leitor.
4 R E V I S T A F U M E T T I .
Capa da edição escrita
por Manfredi e desenha-
da pelo brasileiro Pedro
Mauro, que entrevistamos
para esta edição.
R E V I S T A F U M E T T I . 5
Onde os fracos não tem vez
Parte 2
A c o n t i n u a ç ã o d a h i s t ó r i a p o r t r á s d a s e d i ç õ e s j á c a n c e l a d a s d e Te x
Por Joana Rosa Russo
No fundo, a existência de outra linha com histórias es- A criação deste especial foi excelente, já que possibi-
peciais acabou se perdendo, já que, em termos de merca- litou o complemento de edições não previstas em outras
do, acaba brigando com a Série Tex Ouro, que já cumpria, séries (ou que não se encaixariam por seu formato), não
desde os idos de 1999 (como ainda cumpre), a proposta de deixando os leitores brasileiros desabrigados. Portanto,
trazer num arco fechado e encadernado especial as histó- temos uma “série” com fim específico que pode, eventual-
rias escolhidas a dedo para republicação. mente, caso necessário, ser “reativada”.
Tex e os Aventureiros
Tex Minisséries
Segunda tentativa vista no mercado para inserir perso-
A Editora Mythos, sem dúvida, foi a casa editorial que nagens Bonelli... Será? Quando evidenciamos a existência
mais inovou quando falamos em Bonelli Comics no Brasil. da série Tex e o Aventureiros, relembramos de algo si-
E por isso mesmo, em 2004, mais precisamente em abril, milar, ocorrido com a Editora Globo, quando da edição de
surgia a Tex Minissérie, uma pequena coleção de três edi- “Fumetti – O melhor dos quadrinhos italianos” . Publicada
ções fechadas com histórias inéditas. pela Editora Mythos durante um ano (interregno de 2005 a
2006), a publicação em formato italiano chamava atenção
Segundos esclarecimentos prestados pelo Júlio Sch- e viabilizava um desejo de muitos leitores: a publicação de
neider, a Minisséries foi publicada com fim específico: ou Tex em formato italiano.
Royalties - 15%
A editora que é “dona” dos personagens fica com 15% do preço de capa da HQ, em média.
Um outro cálculo que gosto de fazer, mais como compa- Claro que a cotação do Euro, considerando que a Mythos
ração do que como ciência, é pegar o valor de capa da HQ trabalhe negociando os royalties dos títulos Bonelli nesta
e dividir pelo número de páginas que ela tem. É algo bem moeda, também afeta o preço final de uma HQ na banca de
simples para se avaliar o custo, independente da qualidade. jornal, mas nada justifica valores cada vez maiores em um
Nesta análise bem simples vemos que os títulos com mercado que só comercializa e não produz nada.
maior apelo comercial são mais baratos quando compara-
mos o valor por página. Muito provavelmente nestes casos Existe alguma alternativa?
o lucro da Mythos venha com a quantidade.
Ao se adquirir um quadrinho, seja ele qual for, logo vê
Por sua vez a editora Mythos não tem o custo de cria- que existem páginas sobrando, onde é feita alguma maté-
ção de uma HQ, não há investimento em autores nacio- ria, ou até chamada para outro título. As vezes vemos uma
nais, pesquisas ou criação de um personagem. Tudo chega capa alternativa ou um rascunho do artista, na última capa
pronto, é só traduzir e fazer letreiramento. E na era digital também. Isto evidência a falta de anunciantes.
é ainda mais fácil. Não existe nem muito trabalho artísti-
co envolvido, como redesenho, ou arremates para compor
melhor a capa. Nem informações como nomes de empre-
sas ou outros termos são traduzidos, tudo para mexer o >
R E V I S T A F U M E T T I . 9
O CUSTO DE PRODUÇÃO DE HQs NO BRASIL - CONTINUAÇÃO
A publicidade é uma parte importante para baratear bro de uma gigante procurando novos nichos de merca-
custos em qualquer segmento no Brasil e as editoras do editorial ou adotando alguns talentos nacionais para
falham vergonhosamente neste ponto. Na década de tentar licenciar e produzir material por aqui mesmo.
1980, 1990 tínhamos propagandas nas revistas, desde Nossos desenhistas nacionais que tanto reverenciamos
brinquedos, cursos por correspondência, achocolata- trabalham para as editoras lá de fora.
dos, canetas, marcas de roupas e etc. Tudo era anuncia-
do em revistas em quadrinhos. A Mythos traduz e imprime apenas, não produz
os quadrinhos que vende, então porquê preços tão
A falta de anunciantes e a provável fragilidade da altos?
área comercial de qualquer editora irá afetar direta-
mente o custo final de uma HQ.
A dura realidade
Toda e qualquer empresa quer apenas uma coisa:
lucro! Adotar novos processos e tecnologias que pode-
riam baratearam os custos é algo que empresa brasi-
leira nenhuma procura, consideram gastos desneces-
sários. Costumamos buscar esses recursos só quando
se tornam obsoletos no restante do mundo e podem
ser comprados mais baratos. Só que certamente seria
vendido como novidade, repassado ao leitor que ficaria
“empolgado” com a novidade, pagando mais caro e oti-
mizando o lucro.
Os quadrinhos de terror ocupam um nicho especial, ras” de Mágico Vento (Edição deluxe #1 – Ed. Mythos),
especialmente dentro do mercado brasileiro que sem- onde é explorado o ângulo
pre se mostrou aberto e lucrativo ao gênero. O retorno bestial do ser humano.
recente de obras como Mágico Vento, Dylan Dog e Martin
Mystère reforçam isso. Mas o que faz uma história que Quase terminando des-
trata justamente de elementos que nos causam Repulsa tacamos o monstro ruim por
e Pavor ser algo atraente para a maioria das pessoas? fora, bom por dentro, Franke-
nstein, onde o verdadeiro
Stephen King deliberou profundamente sobre o tema horror é a humanidade que
em seu livro” Dança Macabra”, onde relata como as persegue a criatura. Aqui o
boas histórias são aquelas que trazem a tona os medos destaque vai para a história
e traumas do cotidiano para que o leitor os vivencie de dupla “ ATAQUE ALIENÍGENA
uma distância segura, permitindo observar uma ques- / ASSASSINOS ESPACIAIS” de
tão comum de ângulos diferentes e adquirir coragem Zagor (#175 Ed Mythos) onde
para lidar com seus temores diários alienígenas vem para a terra
caçar humanos por esportes.
King divide em 4 os mode-
los usados nas histórias para Por fim temos o lugar mal-assombrado. O local/ob-
transformar o medo em entre- jeto amaldiçoado. Não é necessário ter um fantasma,
tenimento, com os bons escri- mas o local/coisa distorce a realidade, como um castelo
tores sabendo aprofunda-los e assombrado, um tesouro amaldiçoado, o ninho de uma
mescla-los. Junto de cada tra- criatura maligna. Minha indicação é da história de “ A
rei o exemplo de um fumetto Besta” de Mágico Vento (Edição deluxe #2 – Ed. Mythos),
que trate bem do tema. tratando de um campo de exploração de petróleo amal-
diçoado.
Primeiro o modelo do vam-
piro, o arquétipo do morto vivo, Reforçando que esses modelos são continuamente
seja em suas hordas sem men- aprofundados, desconstruídos e mesclados pelos bons
te ou refinados como Drácula. artistas para criar novas aventuras.
O monstro que transcende a
morte, controla sua mente e
devora um elemento específico
do seu corpo. Os mortos vivos são a base desse modelo,
com destaque para Drácula e Múmia. Minha indicação é
a história Mater Morbi de Dylan Dog (Edição #3 Ed. Lo-
rentz), onde o medo do hospital moderno é mesclado a
uma entidade demoníaca.
>
Felizmente, essa aposta não representou o
fim da carreira do Investigador do Pesadelo. Al- Uma série de TV?
guns meses depois, a Editora Mythos, resolveu
ampliar seu portfólio de heróis Bonelli e iniciou Em 2017 circulou pela internet a notícia de uma
a publicação das histórias de Dylan Dog em uma série de TV inspirada em Dylan Dog estaria sendo
HQ mensal própria. Após alguma turbulência em produzida.
seu início, em que teve que ser publicada de for-
ma bimestral (de janeiro a julho de 2003), a revista O diretor de terror australiano Kevin Kopacka
ganhou alguma estabilidade em bancas, voltando estaria em estágios finais da produção, que se
a ser mensal. Essa foi a mais longeva publicação chamaria somente Dylan, por questões de direitos
do herói em terras brasileiras, encerrando-se na autorais, já que não seria uma produção oficial-
edição #40, de fevereiro de 2006. mente autorizada pela Sergio Bonelli Editore.
Um novo hiato, desta vez até maior do que o Kopacka diz que a ideia era misturar a atmos-
anterior, impediu novas edições do herói. Essa fera dos quadrinhos, mais os clássicos do terror
espera acabou pelas mãos da Editora Lorentz, italiano, como A Noite do Terror (1981), de Andrea
que em 2017 trouxe 3 edições para comemorar Bianchi, e Zumbi 2 – A Volta dos Mortos (1979), de
(mesmo que com atraso) os 30 anos de criação de Lucio Fulci. Tudo isso mantendo alguns elemen-
Dylan Dog. Após o encerramento da publicação, tos de comédia.
de uma forma um tanto quanto obscura, a Editora
Mythos retomou a licença sobre o personagem e E por mais improvável que fosse, um teaser
programou 4 edições (erroneamente chamando foi liberado em maio de 2017 com o que seria o
de minissérie) para este ano. primeiro episódio da série. Kevin Kopacka filmou
partir de um roteiro co-escrito com Alex Bakshaev.
A leitura das aventuras de do Investigador do O diretor também pediu ajuda aos fãs através do
Pesadelo despertam sensações bem diferentes, site oficial da produção, para que pudesse realizar
opostas ao extremo, do assombro a fascinação, a série. Porém desde o meio do ano passado o
satisfazendo os leitores mais exigentes. Dylan site não recebe atualizações ou divulga algo re-
Dog é, com certeza, um dos melhores títulos pu- lacionado.
blicado pela Bonelli. Esperemos que ele tenha
vida longa novamente. O episódio piloto pode ser assistido na íntegra,
basta clicar no link abaixo. Ah! E é legendado em
Um terror no cinema portugês!
https://youtu.be/wI94lz66Jgw
Adaptação indefensável deturpa a obra de Ti-
ziano Sclavieza, que tem material de alta quali- Dylan Mouse
dade e renderia um excelente suspense sobrena-
tural, mas os roteiristas Thomas Dean Donnelly O investigador do pesadelo também já foi ho-
e Joshua Oppenheimer (Sahara) optaram pela menageado pelos quadrinhos Disney na Itália, in-
abordagem “anos 80/90” para criar o filme. As- clusive com a edição já tendo sido publicada aqui
sim, Dylan Dog e as Criaturas da Noite (Dylan Dog: no Brasil em 2015, na edição #835 de Mickey (Ed.
Dead of Night, 2010) ignora a base estabelecida de Abril).
fãs e recria o personagem usando apenas seus
traços mais característicos, pasteurizando sua
essência.
Quais pontos centrais podemos destacar na cria- to restrito no início), não por acaso uma das amigo Roberto Recchioni e o fato de ter uma pe-
ção do personagem Dylan Dog? colunas foi intitulada Dylan Dog Horror Club. quena idéia (nada extraordinário ou particular-
O mais óbvio é o horror, claramente. O menos ób- Claro que não esperava os dois, três sacos de mente novo, pelo amor de Deus). Eu escrevi duas
vio e mais ambicioso era criar uma nova linguagem, correspondência por dia que viriam mais tarde histórias. Então comecei uma terceira, mas fiquei
toda minha (eu já havia feito tais experiências, em (e você sabe o quão grande pode ser uma sa- preso novamente, depois de algumas trabalhos, e
parte, em Mister No). A linguagem é tudo: para citar cola de correspondências? Muito grande!). No não escrevi mais, comecei a me aposentar. E de
apenas um exemplo “caseiro”, Gian Luigi Bonelli criou entanto, sempre li e respondi a todos. E muitas qualquer forma, as duas histórias pareciam feias,
uma inconfundível linguagem para Tex e, na minha cartas foram publicadas na página de cartas da eu as teria jogado no fogo, como tudo o que es-
opinião, foi um dos elementos por trás do seu sucesso. revista. crevi, quadrinhos ou não. Mas não podia ser feito,
já tinham saído. (depois de 9 anos Sclavi voltou a
Dylan Dog passou de quase um título de nicho Quando Dylan Dog foi lançado, os quadri- escrever uma história de Dylan Dog em 2016, no
(mesmo sendo um Bonelli) Para um fenômeno de pu- nhos ainda lutavam para serem plenamente número #363 da série italiana. Antes disso sua úl-
blicação, invadindo a imaginação popular, além dos reconhecidos no ambiente cultural italiano. tima edição havia sido a #250 de junho de 2007).
leitores de quadrinhos. O que mudou em sua abor- Acima de tudo, houve clara divisão entre o
dagem para escrever as histórias? Você sente mais quadrinho “autoral” e o “popular”. Quadrinhos Você é o pai criativo de um dos personagens
responsabilidade? como Ken Parker antes e depois Dylan Dog de quadrinhos mais importantes nascidos na Itália.
A responsabilidade aumenta certamente, mas eram importantes para questionar e quebrar O que você acha do seu filho e como você vê seu
não muito. Eu praticamente continuei a fazer o que essas crenças. Você sentiu o peso dessa dis- futuro?
fiz antes, tentando me divertir para manter os leitores tinção inútil? Já disse que adoro minha criatura. Quanto ao
entretidos. Muito, achava um absurdo. Outra ambi- futuro dele, se houver jovens autores que possam
ção minha (mas não pensei que conseguiria) reinterpretá-lo e atualizá-lo, vejo-o bem, sempre
Ainda longe das redes sociais, do contato direto foi derrubá-la para sempre. E bem, hoje não dentro dos limites de uma recessão editorial, es-
entre autores e leitores, Dylan Dog conseguiu criar existe mais. pecialmente impressa, que já dura muito tempo e
uma base de fãs graças a uma linguagem muito jovem acredito que vai durar indefinidamente.
e alegre e a inclusão de citações, referências, home- Você acredita que em algum momento algo
nagens ao cinema e literatura que serviram de cola se quebrou em seu relacionamento com Dylan Depois de todos esses anos, há algo que você
para criar um grupo, para que os leitores se sintam de Dog? Como você se coloca frente a sua criação mudaria nele?
alguma forma próximos uns dos outros. Quão impor- hoje? Nele como personagem (eu ia dizer uma pes-
tante era para você ter Nada se quebrou. Adoro meu personagem, soa) talvez não, mas na realidade a série já está
esses contatos com eu sempre o amei. Mesmo depois de trinta anos mudando! E isso graças à gestão de Roberto, com
os leitores, para ainda o amo. E eu sou grato a ele, que me deu quem eu concordo totalmente e que também agra-
senti-los muito, talvez mais do que eu lhe dei. deço publicamente toda vez que tenho a chance.
de alguma
forma pró- Quão importante foi a presença de sua es- Você sempre teve controle total e poder de
ximos? posa Cristina durante a criação de Dylan Dog e decisão sobre as histórias de Dylan Dog ou, em
F o i a seguinte transformação em um ícone que lhe alguns casos, você teve que fazer concessões?
m u i - trouxe um sucesso incrível, mas que em nível Eu tive controle total nos primeiros anos,
to bom pessoal talvez você tenha tido dificuldade em quando também era curador, e sempre fiz ou pro-
se sentir gerenciar? duzi as histórias que queria, em total liberdade, de
© SBE Editore Itália
parte de Nenhum. Simplesmente porque Cristina acordo com Sergio Bonelli e o então diretor Decio
um clube não estava lá nos primeiros anos. Eu a conheci Canzio (e desde então Estou com vontade de agra-
(mui- em 1993, em 1994 nós começamos a viver jun- decer, um grande obrigado para Bonelli, a melhor
tos e nos casamos em 1996. Então, foi bastante das editoras possíveis). Se eu retornasse hoje,
tempo após a criação que ela se tornou acho que estaria tudo bem novamente.
importante em minha vida pessoal. Na
verdade, indispensável.
Apesar da sua idade jovem, você trabalha neste tes e misteriosos, enquanto que como leitor pequenos esboços, então eu começo a configu-
ambiente como profissional há mais de 10 anos. Como prefiro ler as histórias mais irônicas, como rar a mesa e depois trabalho quadro por quadro.
você conheceu Dylan Dog, leitor ou autor? desenhista prefiro os que tem atmosfera mais A beleza do digital é que você pode cometer erros
Conheci Dylan como leitor, era 1993, eu tinha 11 rica, locais deslumbrantes e na medida do pos- umas mil vezes e o desenho só vai ganhando em
anos e um amigo meu me deu o número do mês, era sível, longe da realidade. qualidade.
a edição 82. chamado “lonano dalla luce”. Ao ler, per-
cebi que não era um quadrinho “adequado” para mi- Como você busca inspiração para dese- Aqui no Brasil, Mater Morbi é uma das histórias
nha idade, e li com todo o interesse e a emoção de ter nhar uma cena? Tem algum ritual que costuma mais reverenciadas de Dylan Dog e Mater Dolorosa
em minhas mãos algo “proibido”. Havia cenas muito fazer? é considerada sua continuação. Como nasceu esse
cruéis e assassinatos violentos, eu nunca tinha visto Eu busco muitas referências na internet. Se convite? Você esperava isso? E como foi trabalhar
nada parecido. Mas só fui ter pesadelos depois uma tiver que desenhar um conjunto de cenários, na edição?
semana, quem sabe por quê. por exemplo, em um necrotério, vejo dezenas Sim, Mater Dolorosa nasceu há alguns anos
de fotos com diferentes tipos de pessoas, da como uma sequência “simples” de Mater Morbi.
Qual história você se lembra de uma maneira es- década de 20 aos dias de hoje, tentando ar- Roberto Recchioni, me convidou depois fiz uma
pecial e por quê? mazenar o máximo de informações possível. seqüência de Orfani coloridos de forma pitoresca.
Além do n. 82, estou ligado a muitos outros livros. Para a recriação dos personagens, se não há Já vinhamos trabalhando em Orfani há um ano. O
Os que eu prefiro ler são os mais bem-humorados indicações específicas de um desenhista, eu ano seguinte começou a trabalhar nesta história de
como “Grand Guignol” ou “Tre por zero””. Eu gosto da gosto de imaginar gestos expressivos ou en- Dylan que, a principio seria apenas uma sequência
ironia que Sclavi sabe combinar com o horror, sempre quadramentos efetivos e começo a partir daí. e se tornou um número de comemoração do tri-
sai uma mistura verdadeiramente única que ninguém Às vezes peço a amigos e amigos para recriar a gésimo aniversário, onde Xabaras, Morgana, John
realmente conseguiu imitar. Há também números cena, como se estivéssemos no teatro, para ter Ghost foram inseridos no passado de Dylan Dog.
muito poéticos como “Johnny Freak” ou “o il volo dello novas idéias e evitar repetir os mesmos gestos. Tudo isso me criou uma responsabilidade ainda
struzzo” que pode trazer algumas lágrimas! maior sendo o meu número de estréia na série, um
O que significa para você desenhar Dylan número que eu tive que colorir tudo (o que eu nun-
Como definir Dylan Dog? Dog? ca tinha feito antes). Como se isso não bastasse,
Eu sempre o defini como um “despreparado”. Um grande marco. Anos atrás, pensei que ele teve que estar no estilo pitoresco e seguir os
Antes de ler Dylan, eu estava convencido de que um o ponto máxima da minha aspiração era me passos de um gigante como Massimo Carnevale ...
investigador de pesadelo tinha à sua disposição toda tornar um desenhista “regular” da série. Nunca
uma série de instrumentos, amuletos e livros ocultos imaginei me tornar o capista. 2018 é o ano da Copa do Mundo e os italianos
para enfrentar os monstros. Dylan, em vez disso, se são grandes fãs de futebol como nós brasileiros.
joga no desconhecido e horror sem a menor proteção, Para a SBE você trabalhou primeiro com Acompanha o futebol? Qual foi sua reação ao ver
a única arma que ele tem à sua disposição, o bodeo, Orfani e depois com Dylan Dog sempre em co- a Itália fora da competição? você vai torcer para
que na maioria das vezes ele esquece em casa. Quan- res. Gostaria de mais cedo ou mais tarde traba- qualquer seleção?
do eu era criança, isso era difícil de entender, mas lhar com preto e branco, talvez apenas para o [Muitos risos] Infelizmente, eu não acompanho
logo percebi que os monstros que aparecem nas his- Investigador do Pesadelo? o futebol, eu sou um dos poucos talvez, mas é as-
tórias não são reais, mas pretextos para dizer outra Sim, tenho um pouco de nostalgia por preto sim. Estou torcendo apenas para os quadrinhos!
coisa, mostrar um horror que não pode ser derrubado e branco. A cor é muito eficaz e impactante, e
por uma arma. pode dizer muito bem algumas coisas que tal- seus planos para o futuro: você pode nos re-
vez não funcionassem em preto e branco . No velar algo?
Recentemente, tivemos um filme de Dylan Dog, entanto, às vezes eu gostaria de deixar os de- Tiziano Sclavi está escrevendo uma série pa-
que apesar de ser inspirado pelo personagem estava senhos sem cores, porque eles têm um charme ralela ao Dylan Dog, será chamado de “Tales of
longe do que temos nas HQs. Você viu o filme? O que especial. Mas sempre depende da história: um Tomorrow” e eu estou trabalhando no número um.
você achou dele? volume como Mater Dolorosa seria muito dife- Será uma série muito interessante, mas ainda não
Eu o vi no cinema, mas eu já sabia o que eu ia rente se não tivesse tido todo aquele sangue consigo revelar nada sobre isso. Depois, devemos
encontrar. Um filme pobre nascido com premissas vermelho! pensar no número 400 de Dylan Dog. Roberto já
erradas. está trabalhando nela e o título provisório é “Mater
Você tem desenhado digitalmente há al- Triumphans”
Com qual personagem, assunto, atmosfera, você guns anos. Como você se prepara para um
se sente mais à vontade e gosta de desenhar? trabalho depois de ler um roteiro?
Devo dizer que fiquei imediatamente à vontade Exatamente como fazia com o papel antes
com Dylan. Gosto de desenhar ambientes interessan- de passar para o digital: faço uma série de
© SBE Editore Itália
Parte integrante da revista fumetti #5 abril 2018 - não pode ser vendido
ou repruduzido sem autorização - arte de Marcos Martins
DIRETAMENTE DAS PÁGINAS DA
EXCLUSIVIDADE NO BRASIL
Mundo do Oeste
EM MAIS UMA PARCERIA EXCLUSIVA, DESTA VEZ COM O SITE DIME WEB, UM DOS MAIS
RESPEITADOS PORTAIS SOBRE QUADRINHOS ITALIANOS DO MUNDO.
Publicado no Portal Dime Web mensalmen- Além dos artigos escritos pelo Wilson, trare-
te, La Storia del West (que aqui chamaremos de mos uma rigorosa seleção de imagens Bonellia-
Mundo do Oeste) é uma série de ensaios sobre nas correlacionando nossos personagens prefe-
o velho oeste, escritos por Wilson Vieira - único ridos com o texto feita por um dos curadores do
brasileiro a desenhar Il Picollo Ranger (aqui no Dime Web, Francesco Manetti e cards exclusivos
Brasil chamado de O Pequeno Ranger), nos- irão ilustrar e completar cada tema aqui apresen-
so consultor - e que rapidamente se tornou um tados.
grande sucesso na Europa.
Um grande presente aos amantes do Velho
Traremos com exclusividade esses artigos, Oeste, aos que ainda não conhecem sobre sua
verdadeiras preciosidades que nos mostrarão realidade, seus costumes, que traremos em um
um mundo inesperado - longe da retórica pro- grande trabalho editorial, nunca antes realizado
pagandística das estrelas e faixas e falsos ecos por nenhuma publicação no Brasil.
de Hollywood - povoados por per- sonagens
surpreendentemente pró- ximos
COWBOYS
da ética e do modo samurai
no Japão antigo.
R E V I S T A F U M E T T I . 2 3
souri. Os ladrões de gado tornam impossível que os
MUNDO DO OESTE - COWBOYS cowboys busquem novas rotas e novos estabeleci-
mentos no Wyoming, Illinois e Iowa.
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confrariabonelli.org
“Um caçador de recompensas chega numa ci- bem elaborada, contando com um final bem cria-
dade abandonada em busca de justiça. Mas, para tivo para a história. Pedro Mauro já é um nome
conseguir o que quer, ele precisará enfrentar consagrado, e em 2014 passou a trabalhar para a
muito mais do que o homem que procura… Terá Sergio Bonelli Editore, trabalhando em edições de
que exorcizar fantasmas do passado.” Le Storie e também do tradicional Ranger e carro
chefe da editora, Tex. As artes de Gatilho são um
A sinopse de Gatilho pode nos dar a impressão espetáculo de luzes e sombras.
de que já vivenciamos uma situação assim porém
é uma visão diferente do que vemos em histórias Muito fiel às HQs tradicionais do gênero, Pe-
de faroeste. a HQ se destaca, também, pela forte dro usa e abusa dos alto contrastes, criando um
inspiração nas obras do cineasta italiano Sergio desenho “sujo” mas que funciona perfeitamente
Leone. O grande responsável por tornar conheci- para a trama. A diagramação das páginas valoriza
do mundialmente o género do western spaghetti ainda mais a arte com quadros grandes e páginas
nos cinemas. Leone foi o autor de filmes consa- duplas.
grados como Era uma vez no oeste e Três homens
em conflito. Com suas duas tiragens esgotadas, tanto na
plataforma de financiamento coletivo, quanto na
Gatilho tem um roteiro não linear que aos loja virtual, Gatilho é uma obra significativa entre
poucos vai ligando os acontecimentos do passa- os quadrinhos de faroeste, não deixando nada a
do com os do presente, ambos sempre envoltos dever para outros trabalhos e possivelmente figu-
numa atmosfera de suspense e muita tensão. O rando entre os melhores quadrinhos já feitos no
emocional do personagem, explora suas angús- Brasil!
tias e medos, ainda dá um tom psicológico à tra-
ma.
www.reddragonpublisher.com
Na hora de desenhar os quadrinhos, é mais Gatilho não apresenta um herói como sendo o
importante retratar a fidelidade histórica ou se legítimo “mocinho”, o que exatamente o perfil de
preocupar com o entretenimento? Tex, e sim um caçador de recompensas que preci-
sa, antes de sua vingança, se livrar de fantasmas
Pra mim, as duas coisas são importantes. do passado. O público atual prefere esse tipo de
Voce tem prender o leitor com a narrativa e enredo ao invés do clássico herói moralmente im-
também entregar para ele detalhes de época, placável?
armas, indumentárias, etc...o mais próximo
possível da realidade. Eu pesquiso muito esse Eu sempre acho uma historia legal quando tem
aspecto. um final feliz, tipo, o mocinho vencer o bandido, e
o bem sempre prevalecer e o herói cavalgar para
Gatilho presta homenagem aos filmes e o horizonte na ultima cena. Em gatilho, mostramos
quadrinhos de faroeste das décadas de 1960 e algo mais próximo do que era a realidade na épo-
1970, como surgiu esse projeto? ca, rude, crua e violenta, e os personagens lidan-
do com escolhas que poderiam mudar suas vidas
Me bateu aquela nostalgia de desenhar um para sempre.
faroeste e voltar nos meus anos 70.
São maneiras diferentes de retratar um tema,
Mas queria um roteiro com uma pegada e acho que Gatilho entrou nesse vácuo que existe
diferente, mas uma homenagem ao faroeste nas historias de faroeste, e pegou um publico que
italiano de Sergio Leoni e os de Clint Eastwood. gosta tanto de Tex como do Pistoleiro sem nome.
R E V I S T A F U M E T T I . 2 9
HQ INDEPENDENTE DO MÊS
AUTOR: DÉCIO RAMÍREZ - HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/DECIORAMIRES
PRA ASSISTIR SEM PARAR
Godless
UMA DAS MELHORES PRODUÇÕES TELEVISIVAS DO ANO, A SÉRIE APOSTA EM UMA MUDANÇA TOTAL NO
GÊNERO DO FAROESTE. A SÉRIE DA NETFLIX, LANÇADA EM NOVEMBRO DE 2017, É UM FILMAÇO DE 7 HORAS E MEIA,
COM GRANDES ATUAÇÕES E UMA HISTÓRIA MATADORA.
Antes de contarmos a história da série é preciso pon- bebês, sem exceções – simplesmente por terem dado
tuar que a fórmula do faroeste que vemos no cinema (e uma noite de pouso ou uma refeição a Roy. E acontece
também na TV) é um clássico relativamente imutável, de Roy encontrar refúgio exatamente na aparentemente
o gênero explora sempre o século 19, envolvendo na- indefesa La Belle.
tivos americanos e os imigrantes europeus através de
conflitos diversos e duelos por terras, respeito, dinhei- Godless ousa ao introduzir uma dúzia de fortes per-
ro, entre outros bens. Por mais que já tenham tentado sonagens femininas como a ex-prostituta que virou
mudar esse cenário, os produtores dificilmente mudam professora Callie Dunn, a dona do próprio rancho Alice
a fórmula. E é aqui que a nova série da Netflix faz di- Fletcher, até a sensacional viúva do prefeito que passa
ferença, ela mexe em um dos principais pontos do fa- a tomar conta ela mesma da cidade. Cada uma das mu-
roeste tradicional, a grande maioria, pra não dizer sua lheres de La Belle toma para si os trabalhos que eram
totalidade, são protagonizada por homens, deixando de seus maridos e mantém todas as responsabilidades
sempre as mulheres como donzelas em perigo ou de que já tinham. Ainda assim, para todos que olham de
pouca moralidade. fora, a cidade está despreparada e desprotegida para
receber e enfrentar alguém como Frank Griffin e sua
Godless nos leva para um Velho Oeste de paisagens gangue. Tudo parece conspirar contra essas mulheres.
áridas, dos saloons e das diligências. A produção mer-
gulha em todos os chavões do bangue-bangue. Mas, ao O visual também é algo que a série leva muito a sério.
mesmo tempo, nos apresenta a um ambiente de fábu- Com uma fotografia apurada, criando um belo contraste
la, inventado. Naquele mundo de bravos, fica La Belle, de cores para separar presente, passado ou lembrança.
uma cidade cuja população é basicamente de mulheres. Abusando tons amarelados do deserto de Santa Fé nas
Praticamente todos os mora- cenas do presente, tirando quase
dores homens morreram em toda a cor quando viaja ao passado
uma explosão na mina local, em um flashback, é um ponto mais
sobrando, além das mulheres do que positivo do diretor da série.
já citadas, crianças e idosos. As belas cenas em P&B explicam
Homens, em La Belle, há o até pouco da história de alguns
xerife cada vez mais míope e personagens, mas dão o contexto
desacreditado e seu assisten- necessário para entendermos bem
te, um garoto magrinho aves- quem são aquelas pessoas.
so ao banho e que adora rodar
os revólveres nos dedos. E consolidando ainda mais a
fotografia temos que destacar não
Por mais que esse seja só a trilha sonora como a escolha
um fato bem peculiar sobre das locações no Novo México, um
a série, não é o foco principal embasbacante cenário às vezes de
da produção. Godless acom- deserto e mesas rochosas escul-
panha, assim como a maio- pidas pela erosão, outras vezes de
ria dos faroestes, o embate pradarias e montanhas nevadas,
entre dois homens: o crimi- que não é só um simples cenário
noso Frank Griffin e o compa- mas um complemento indispensá-
nheiro que o traiu Roy Goode. vel do que está sendo contado.
O imoral e vingativo Griffin,
um psicopata com estranhos Com personagens bem cons-
pensamentos religiosos que truídos e carismáticos, uma trama
lidera um bando de crimino- bem amarrada e um visual de ti-
sos (todos da pior espécie). rar o fôlego, Godless é uma série
Frank considera Roy seu fi- que atualiza o faroeste sem mexer
lho, junto a seu bando vêm nos elementos indissolúveis do
cavalgando pelo território à bangue-bangue e caminha para se
sua procura de um foragifo Roy como uma praga bíbli- tornar um clássico do gênero!
ca, assassinando cidades inteiras – mulheres, crianças,
SESSÃO GAME OVER
Seja um cowboy
Todo mundo sabe que o faroeste é um fenôme- plos inimigos.
no marcante, do cinema aos quadrinhos e a maio-
ria dos amantes do gênero já quis ser um cowboy, A trama de Red Dead Redemption conta que o
pistoleiro, ranger ou xerife de alguma cidadezi- governo sequestra a esposa e filho do pistoleiro,
nha do Velho Oeste. Existem algumas formas a fim de suborná-lo para aceitar a missão de ca-
para satisfazer o desejo de encarnarmos nossos çar seus antigos companheiros de crime e entre-
personagens preferidos, uma delas é o cosplay, gá-los à polícia. Sua trajetória para cumprir com
mas não é possível sair atirando nos vilões como esse trabalho forçado é longa, mas em momento
seu herói... algum traz a sensação de tédio, revelando inclusi-
ve momentos muito comoventes. Disponível para
Outra alternativa para solucionar essa desejo PlayStation 3, Xbox One (através da retrocompati-
politicamente incorreto são os videogames, e para bilidade) e Xbox 360.
ajudar mostramos quatro exemplos de jogos que
todo fã de faroeste deveria conhecer. Lembrando E está chegando sua aguardada continuação...
que a ordem em que foram listados é aleatória e
não representa melhor ou pior jogo. Então, prepa- Call of Juarez
re suas esporas, pendure a corda na cintura e não
esqueça do revólver, porque vamos partir para o Mudando um pouco o ângulo em que enxerga-
mundo do ‘bangue-bangue’. mos o Velho Oeste, a série Call Of Juarez mostra o
deserto das fronteiras com o México na perspec-
Red Dead Redemption tiva FPS. As mecânicas são bem simplistas, o que
é ótimo para quem não gosta de perder tempo
A história do ex-integrante de uma gangue de com jogos difíceis de dominar. É possível contro-
bandidos do Velho Oeste, John Marston, é lar dois protagonistas: Billy “Candle” ou Reveren-
contada em formato mundo aberto e com do Ray McCall, sendo o primeiro focado em com-
combates à base de tiro em terceira bates stealth e o segundo um atirador que encara
pessoa. Sua habilidade específi- o inimigo de frente. O restante das ações vão en-
ca é chamada “Dead-Eye” e se volver tudo que é esperado no gênero: assaltos,
caracteriza por uma redução passeios à cavalo, índios e duelos de pistoleiros.
na velocidade do tempo, Outros títulos Call Of Juarez foram lançados pos-
o que permite que teriormente, no entanto, apenas Bound in Blood
Marston acerte os tem alguma relação com o enredo do jogo inicial,
alvos com pre- funcionando como uma prequel.
cisão, inclu-
sive em Quem gostar da sensação de viver a cultura do
múlti- faroeste no formato de tiro em primeira pessoa,
vai conseguir aproveitar os jogos subsequentes
como uma extensão da experiência. Mas é im-
portante destacar que The Cartel e Gunslinger, o
terceiro e quarto lançamentos da franquia, não
são sequências e ainda possuem histórias
totalmente diferentes. Nenhum dos títulos
Call Of Juarez tem protagonistas repe-
tidos. A série pode ser jogada em PC,
Xbox 360 e Playstation 3, exceto o game
de estreia, que não está disponível no
console da Sony.
Sunset Riders
Apesar de ter versões para Mega Drive e Super Nintendo, Sunset Riders se destacou mesmo foi dentro
das plataformas Arcade, onde contava com cinemáticas melhores e gráficos mais coloridos. Com direito a
multiplayer para 4 pessoas, os jogadores assumem o papel de xerifes que vasculham o Velho Oeste a fim de
caçar bandidos. Além do estilo próprio de cada cowboy, basicamente é só o tipo de arma/pistola que diferen-
cia os personagens.
A jogabilidade é simples, basicamente “beat ‘em up” em formato de plataforma. Por isso, também cabe
a você e os outros jogadores evitar armadilhas e não ficar no alcance dos tiros disparados por multidões de
capangas. Cada fase habilita a possibilidade de entrar em casas que oferecem mais pontuação aos perso-
nagens e poderes extras, como o de usar duas armas ao mesmo tempo. Ao fim de cada fase, um chefão é
enfrentado e representa, justamente, o objetivo principal de Sunset Riders: a captura de um criminoso cuja
cabeça vale muitas peças de ouro.
Ao longo da história, você poderá controlar um total de 6 personagens, cada um com habilidades parti-
culares, que de acordo com suas capacidade de pensar em combinações, podem ficar cada vez mais úteis
para solucionar os desafios apresentados ao longo do jogo. O gráfico apresenta perspectiva isométrica e com
visual até que bem bonito para época em que foi lançado, em 2001. Está disponível unicamente para PC e, até
os dias de hoje, pode ser adquirido através da Steam.
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REVIEW - DAMPYR
Dampyr #4 - Editora 85
Depois de um longo hiato (13 anos de sua última publicação),
Harlan Draka retorna em edição caprichada pela Editora 85
Cabe um esclarecimento sobre a série, ela co- É uma atitude de muita coragem uma editora
meça no número 4 porque a Editora 85 pretende que não possui o tamanho das tradicionais fa-
relançar as edições que já foram publicadas pela zer uma aposta como essa e para nós leitores é
Mythos em outros 3 volumes compilando, assim, importante prestigiar e comprar, garantindo que
as 12 edições que já saíram no Brasil. Logo de- mais e mais atitudes como essa sejam realizadas.
pois dar seguimento com outros volumes, trazen- É impressionante como o preço é acessível, são
do novas e inéditas aventuras. Vale ressaltar que quase 400 páginas de histórias de alto nível por
mesmo quem não conhece o personagem pode R$ 39,90. Tem muita edição com tiragem 5 ou 6
adquirir a revista e ler as histórias sem nenhum vezes maiores, com menos quantidade de pági-
problema. nas, com qualidade inferior (tanto na seleção de
histórias quanto na parte impressa) e com preços
A edição é muito bem produzida, conta com bem superiores.
um texto de Júlio Schneider, tradutor e grande
articulista do universo Bonelli no Brasil. O papel Se você não conhece o personagem é uma
escolhido é o offset, mas em nada diminuiria o chance de ouro e se já conhece e curte os heróis
trabalho se o papel fosse o pisa-brite caso isso Bonelli, não pode deixar de ter e principalmente
pudesse favorecer um preço menor, a impres- de prestigiar a atitude da Editora 85!
são é de ótima qualidade e a ausência de uma
capa dura para engrandecer o produto é o único Vida longa a Dampyr!
ponto negativo, mas que novamente, não diminui
em nada o trabalho realizado.