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“LLUVIA DE SANGRE”
Tradução de Izabel Xrisô Baroni
Ilustração de Benicio
Colaboração de
Sérgio Bellebone
® 550715
CAPÍTULO PRIMEIRO
King Wu, o universitário chinês
CAPÍTULO SEGUNDO
Cerezo Milenário
1
O protesto da Paz Celestial foi um dos episódios mais marcantes do fim da
Guerra Fria. Trata-se uma manifestação popular contra o Partido Comunista Chinês
(PCC). Os protestos aconteceram entre 15 de abril e 5 de junho de 1989, finalizados
com o massacre da Praça da Paz Celestial, no centro político de Pequim. Com a
queda da União Soviética, a China (assim como outros países socialistas) rendeu-
se ao capitalismo. A abertura econômica, entretanto, não foi acompanhada de
reformas políticas, deixando a população insatisfeita com a repressão aos direitos
individuais, à liberdade de imprensa e de expressão, e com as péssimas condições
sociais. Após os protestos, o país abrandou a linha-dura, apesar de o PCC seguir
controlando a mídia e a influência cultural externa. Após o massacre, nenhum
movimento enfrentou o partido de novo. (Nota do revisor)
um grupo grande de estudantes se reunisse para exteriorizar o
desagrado do povo ao sistema implantado há anos... Algo
devia ser feito com urgência para abafar aquele movimento de
desagravo... e para abafá-lo de nada valeriam uma queima de
balas de festim ou jatos de água fria sobre o povo revoltado.
Nem tão pouco, surtiria efeito a prisão de alguns dos rapazes
a golpes de porrete... Tudo seria um tratamento por demais
brando àqueles jovens. Precisavam agir com mais energia...
de forma mais impressionante. E foi então que decidiram
apelar para a “Equipe Ming”. Correto?
— Sim.
— A “Equipe Ming” já funcionava há vários anos e sempre
a serviço da “Cerezo Milenário”. Na realidade é uma espécie
de... filial, uma espécie de assessoria; digamos que a “Equipe
Ming” é a parte executiva da seita “Cerezo Milenário”, pois é
nela que se reúnem os planejadores e os estrategistas da seita,
aqueles que analisam as situações e decidem quais as soluções
que devem ser tomadas, como por exemplo, quando devem
ser executada uma determinada missão. Geralmente a “Equipe
Ming” não costuma tomar medidas excessivamente duras,
porém quando estourou a revolta estudantil foi esta
organização que sugeriu os castigos rigorosos a todos que
tivessem tomado parte no movimento. Talvez tivesse medo
que o mesmo se repetisse com mais intensidade meses mais
tarde. Determinou que o castigo fosse implantado com rapidez
e que este fosse um “castigo definitivo”. E quem tinha
autoridade para aplicar “castigos definitivos” ao grupo? O
exército. E foi por isso que a “Equipe Ming” aconselhou que
a “Cerezo Milenário” solicitasse a colaboração do exército e
foi exatamente o que aconteceu. A violência recrudesceu,
provocando um verdadeiro massacre de jovens que comoveu
o mundo inteiro. Não foi isso que aconteceu?
— Sim — confirmou King Wu com voz tensa.
— A “Equipe Ming” pressionou muita gente para os
estudantes serem punidos com rigor. A China é um pais
superpovoado, somos muitos chineses que se sentem
descontentes e eles tentaram abafar a revolta com rapidez. Nós
pensamos em reagir até o final, mas como podíamos enfrentar
tanques blindados? E também sabíamos que algumas milhares
de mortes só iriam assustar os duzentos milhões de chineses
que aspiravam a liberdade e por isso, paramos de lutar.
A espiã americana sacudiu a cabeça concordando.
— Porém aqueles homens prepotentes ainda não estavam
satisfeitos, King. Sindicaram, investigaram e acabaram
localizando os jovens líderes do movimento estudantil e,
agora os militares os estão executando em grupos, tão logo
sejam localizados. Para conseguirem isso, têm pedido
colaboração a diversas corporações e, agremiações, inclusive
à Lien Lo Pou. E é com a ajuda de seus membros que eles têm
conseguido capturar várias pessoas que participaram do
movimento e todas foram executadas sumariamente. O pior é
que os militares estão forçando uma indenização singular: os
parentes devem pagar os cartuchos usados no fuzilamento.
— Essa ideia amalucada surgiu entre os integrantes da
“Equipe Ming” — balbuciou King Wu.
— Eu já desconfiava disso, pois tudo foi urdido dentro das
linhas mais puras do terrorismo psicológico. Onde se viu uma
mãe ou um pai indenizar alguém ou um país pela bala que foi
usada no fuzilamento de seu filho? Felizmente para o mundo,
nem todos que estão atuando no caso dos estudantes da Praça
Tiananmen se sentem satisfeitos com os rumos que os fatos
tomaram. Vários militares e outras personalidades não
concordam com a situação atual, embora se mantenham
calados e ajam como se estivessem acatando todas as
instruções que lhes são dadas. Uma das pessoas que mais
discordam com a situação atual e que de forma alguma
aceitam a repressão brutal que está sendo realizada pelo
Estado, é exatamente seu amigo Cheng Shinang, um agente
da Lien Lo Pou e embora continue executando todas as ordens
que recebe, uma ideia vem florescendo em sua mente: Por que
não eliminar a “Equipe Ming” e se possível, também a
“Cerezo Milenário”? Seu amigo é um homem inteligente e
sabe que sozinho jamais poderá levar esses planos avante, mas
tem medo de pedir ajuda a quem quer que seja. Tanto os
colaboradores da “Equipe Ming” como os da seita se mantêm
no anonimato. Todos sabem que existem, mas ninguém pode
apontar um deles. Porém, Shinang é forçado a pedir auxílio,
mas quem está em condição de ajudá-lo? No momento em que
solicitasse colaboração, poderia solicitá-la exatamente a um
dos componentes de qualquer um dos dois grupos ou a algum
colaborador simpatizante dos mesmos. Cheng Shinang deseja
exterminar, dizimar os dois grupos, mas sente que não pode
pedir ajuda a ninguém que viva na China. Tem medo de
denunciar-se e tornar seus planos conhecidos pelos
adversários incógnitos. Se isso acontecer, certamente acabará
sendo decapitado e o que menos almeja, é desaparecer do
mundo sem ter chances de auxiliar sua pátria amada, sua
China. Como deve agir? Ao se fazer essa pergunta, uma outra
ideia brotou em sua mente: Por que não solicitar auxílio à
agente Baby da CIA? Todos sabem que esta é a espiã mais
perigosa do mundo e ele conhecia muito bem algumas de suas
proezas... Coisa muito natural porque é um espião veterano.
Conhece bem uma colega principalmente quando esta é
internacionalmente famosa. Desde o início soube que seus
planos agradariam a Baby. E como está decidido a fazer o que
possa pelo bem o progresso da China, eu não poderia recusar
seu amável convite. Concorda?
— Sim.
— E agora, seu amigo está esperando que eu extermine a
“Equipe Ming”, não é?
— Pelo menos, alguns de seus membros mais importantes
e inteligentes — concordou King. — E como eu já a informei
ontem à noite, eles deverão embarcar no transatlântico “Hong
Kong Sky” que partirá para Singapura.
— E segundo seu amigo, eles vão àquela cidade
precisamente para preparar alguns novos planos que deverão
pôr em prática contra alguém.
— Pode ter certeza que se alguns da “Equipe Ming” saírem
da China, o objetivo da viagem não será o turismo. Vão a
Singapura para tramar algumas de suas sujeiras habituais.
Gostaria que você intervisse no caso, mas se se recusar,
tentarei fazer tudo sozinho. Estou decidido a matar toda a
“Equipe Ming” antes que o “Hong Kong Sky” chegue a
Singapura. Todavia, não sei ainda quem são, não conheço seus
aspectos físicos, mas poderei reconhecê-los quando todos nós
estivermos no navio. Por ora, somente sei quais são os
camarotes que os seis membros mais importantes do grupo
irão ocupar.
— Como Cheng Shinang, um agente da Lien Lo Pou pôde
reunir essas informações?
— Não sei. O importante não é a forma que usou para obtê-
la! O mais importante do caso é que as conseguiu!
— King, há algumas informações que só podem conseguir-
se quando se está dentro de uma equipe.
— O que está querendo dizer?
— Seu amigo só poderia tê-las conseguido de dois modos:
Primeiro, solicitando a colaboração de algum membro da
“Equipe Ming”, ou de acordo com minha segunda hipótese,
talvez o próprio Cheng Shinang seja um dos membros dessa
equipe ou então, alguém que colabore com ela.
— Não! Shinang jamais se reuniria a homens
inescrupulosos! — quase gritou o rapaz chinês.
— Por que não? Talvez se fizesse isso poderia obter
algumas informações que viriam facilitar- lhe a destruição da
odiosa “Equipe Ming” — refutou Baby, muito suavemente.
O jovem chinês ficou sem saber o que lhe responder.
Lembrou que o amigo no final das contas era um espião e que,
todo espião é um profissional da mentira e um amante dos
riscos. Por que não admitir a ideia exposta por Baby, e por que
não pensar que Shinang seria capaz de fazer muitas coisas
outras para conseguir uma informação positiva sobre a
“Equipe Ming”?
— Seja como for — murmurou — nós facilmente
saberemos quem são os membros máximos da equipe e não
encontraremos dificuldades para eliminá-los.
— Realmente acredita que tudo vá ser tão fácil? — sorriu
a espiã americana. — Pois vou dizer-lhe uma coisa: Se eu
fizesse parte da “Equipe Ming” e se tivesse que viajar de
Pequim à Singapura, de forma alguma iria de navio.
Certamente, iria escolher o avião e se fosse possível, ia dar
preferência a um avião particular. Não acredito que essa
escolha fosse prejudicar os senhores importantes que estão
ligados à presidência da equipe. Uma viagem de navio
significaria quase trinta horas em contato com a massa. Eu me
sentiria como que encurralada se tivesse de viajar com tanta
gente a minha volta. Você entende que as pessoas especiais
sempre procuram distanciar-se das aglomerações, das pessoas
que não têm os mesmos atributos que elas dispõem... mas
voltando ao nosso assunto, por que viajar de navio, uma ilha
flutuante da qual dificilmente se pode escapar em um
momento de apuro ou de qualquer imprevisto? Por que viajar
de navio quando poderiam fazê-lo em um jato particular? Eu
se fosse membro de uma equipe igual ou semelhante a
“Equipe Ming” jamais viajaria de navio.
— Eu não sei o que faria... E qual é sua opinião sobre o
caso?
— Penso que talvez essa tal de “Equipe Ming” seja um
grupo de assassinos que têm a missão de assassinar a agente
Baby durante a viagem Hong Kong-Singapura. Não precisa
ficar tão espantado, sei que você nem de longe iria imaginar
que isso pudesse acontecer, mas seu amigo Cheng talvez tenha
planejado tudo isso e outras coisas mais elaboradas. Durante
minha vida já tenho passado por momentos bem difíceis,
muitas vezes me têm estendido armadilhas, mas sempre me
safei muito bem de todas. Elas já nem me impressionam
mais...
— Isso não é verdade — murmurou o rapaz. — Não pode
ser verdade! Cheng não ia preparar nada contra você, se o que
mais deseja, é eliminar a “Equipe Ming”! Ele procura
interromper alguns planos que podem produzir uma chuva de
sangue sobre Singapura, uma chuva semelhante àquela que
caiu sobre Pequim! Ele quer eliminar os canalhas e se você
não quer me ajudar farei tudo sozinho!
— Eu o aconselho não ficar tão agressivo — sorriu Baby.
— Um de meus companheiros poderia não entender bem sua
intemperança e lhe meter uma bala em seu crânio, antes que
tivesse tempo para reagir. Você sabe que ninguém pode gritar
com Baby, por isso, procure dominar esse seu mau gênio!
King a olhou com surpresa e depois para os três agentes da
CIA que estavam distribuídos em torno da sala, todos
acompanhando seus movimentos com muita atenção. Um
deles até segurava a pistola com a mão direita e a arma estava
apontada para sua cabeça.
— Juro pela China como disse somente a verdade —
murmurou, finalmente.
— Sei que você está falando a verdade — sussurrou Baby
—, mas por que devo acreditar em Cheng Shinang se nem
sequer o conheço? King, você poderia estar sendo um
instrumento em suas mãos.
— Talvez você tenha razão, mas raciocine, se o pessoal vai
viajar por mar deve ter seus próprios motivos, não é?
— Concordo. As pessoas que como nós, vivem arriscando
suas vidas, nunca agem impulsivamente, sempre procuram
calcular, pensar e programar todos seus passos. Você disse
que o navio zarpará amanhã de manhã, às onze horas?
— Sim e já estou com duas passagens no bolso. A minha
e a sua.
— Esplêndido — sorriu a espiã mais linda do mundo. —
Porém não chegaremos juntos ao navio. É preferível que
ninguém suspeite de nós. Portanto, preste atenção e veja o que
vamos fazer: Agora, aproveitaremos esse sol magnífico e esse
mar esplendoroso; depois tomaremos o desjejum a
acertaremos alguns detalhes que devem ser seguidos e quando
tudo estiver bem entendido e analisado, dois companheiros o
levarão a Kowloon, perto de seu hotel. A partir de então, salvo
que eu o requeira para alguma coisa, você deve agir como se
estivesse sozinho no assunto. Amanhã de manhã, você
embarca no “Hong Kong Sky” e simplesmente, ficará
aguardando minhas instruções. Entendido?
— Sim... Sim.
— King, não sou uma... espiã comum que anda roubando
microfilmes, a fim de obedecer as ordens recebidas.
Absolutamente. Não tolero que alguém me dê ordens. Sou eu
quem as dá, quem determina o que deve ou não deve ser feito.
Se você não me obedecer, eu o soltarei no navio. Entendido?
— Cheng já me tinha falado nisso e disse que eu devia
seguir todas suas instruções — sorriu King Wu,
evidentemente satisfeito. — Então, você resolveu intervir
neste caso?
A espiã também sorriu um sorriso frio e o jovem chinês
sentiu um friozinho correr-lhe pela espinha dorsal.
— Amiguinho, ninguém me fará fugir como uma
pombinha assustada — falou Baby, suavemente. — Que
ninguém pense que pode assustar-me somente porque
planejou preparar-me uma emboscada... E uma coisa é
evidente, quem a preparou, terá de sofrer as consequências
que certamente surgirão.
***
O chefe da CIA em Hong Kong que até então se mantivera
afastado do caso, foi chamado pelo rádio e momentos mais
tarde, entrou no carro que estava estacionado em uma rua
afastada da ilha.
Quando olhou para a mulher lindíssima que tinha olhos
verdes, luminosos, murmurou:
— Por Deus! Você não devia ter vindo pessoalmente.
— Conseguiram as fotos?
— Lógico! Mas é bem como eu digo...
— Simon, entregue-me as fotografias, por favor.
Simon-Hong Kong apanhou um envelope do bolso e o
estendeu à loura. Em seguida, pegou o lenço e enxugou a testa
perlada de suor. Estava suando mais de angústia do que
propriamente de calor.
Enquanto isso, a loura ia passando as fotografias, todas
elas instantâneas. Uma coletânea de rostos de homens
chineses. Havia no total dezessete fotos, mas estas eram
somente de seis sujeitos apanhados dentro do navio.
Essa parte da operação fora realizada com facilidade.
Vários agentes subalternos, chineses, se distribuíram em
vários locais do “Hong Kong Sky” horas antes do barco zarpar
à Singapura em uma viagem sem escalas. Esses agentes da
CIA tinham recebido informações e sabiam quais os
camarotes que os seis membros da “Equipe Ming” ocupariam
e, a medida que estes iam aparecendo nos corredores para se
instalarem em seus respectivos camarotes, iam sendo
fotografados com pequenas e sofisticadas câmaras que
podiam ser manejadas com facilidade.
O resultado dessa tarefa estava nas mãos da loura de olhes
verdes: dezessete fotografias coloridas que retratavam seis
homens chineses: a presidência da “Equipe Ming”. Pelo
menos, agora, ela já conhecia os membros da equipe que iam
viajar à Singapura... porém, ainda precisava descobrir o que
iam fazer naquela cidade... Depois do extermínio maciço da
Praça Tiananmen quando os estudantes foram massacrados
com violência, talvez aquelas pessoas se tivessem tornado os
criminosos mais maquiavélicos da época moderna.
— Perfeito, Simon — murmurou a moça com um sorriso.
— Agradeço pela colaboração que me estão dando.
— Cuidado, esse navio está transformado em um ninho de
víboras.
Baby sorriu, olhou para os retratos e zombou:
— Olhe para esses homens, Simon. São um bocado
simpáticos e mal parecem ser empresários prósperos.
— Estou falando sério!
— Eu sei, Simon — concordou, colocando sua mão sobre
a do rapaz. — Desista, porque nada que me diga, fará mudar
minha decisão: Vou a Singapura, haja o que houver. Você viu
King Wu?
— Claro. Aquele maldito vai fazer com que alguns idiotas
a assassinem!
— É possível que isso aconteça — admitiu ela. — Bem,
obrigada por tudo. Espero que nenhum dos rapazes que me
ajudaram em terra tenha subido a bordo porque King Wu os
conhece e se realmente nos está mentindo...
— Ele também conhece você!
— Bem, eu tenho uma coleção de recursos, sabe? São
especiais... — falou com malícia. — Eu insisto, Simon, não
quero que nenhum dos rapazes que me ajudaram em terra,
viajem conosco. Creio que não preciso dar maiores
explicações, não é?
— Sim.
— Ótimo! E por favor agradeça a todos por mim e lhes
diga que mando um beijo a todos meus amados.
O agente que estava ao volante a fitava como que
hipnotizado.
— Baby, estou pertinho e não preciso receber recados do
chefe... Por que não me dá o beijo logo de uma vez?
— Creio que não se deve perder momentos valiosos — riu
Baby, beijando-o nas faces e em seguida, beijou Simon-Hong
Kong.
Desceu do carro e apanhou a maleta vermelha estampada
de flores azuis e a mala de viagem também vermelha.
Rapidamente se encaminhou ao navio que estava ancorado...,
quando punha os pés na coberta, soou o primeiro apito
avisando que os visitantes deviam desembarcar.
Um camareiro chinês fardado de branco a acompanhou ao
camarote que lhe estava reservado na coberta de botes, classe
de luxo.
Baby notou que havia muitos chineses em todas as partes
do navio, coisa natural, mas na classe de luxo a maioria dos
passageiros era da raça branca.
Um passageiro alto, elegante, forte, de cabelos castanhos
que estava debruçado no tombadilho quase comeu a loura
sensacional com os olhos, mas esta nem olhou para ele.
Entrou no camarote que o camareiro lhe indicara, deu-lhe
uma gorjeta e o chinês fechou a porta. Naquele instante, soou
o segundo apito anunciando que dentro de minutos o “Hong
Kong Sky” estaria zarpando rumo a Singapura.
A senhorita Lili Connors tirou a peruca loura e as lentes de
contato verdes e as guardou no fundo falso da maleta de mão.
Em seguida, despiu-se completamente e colocou uma
camiseta larga e longa que cobria até suas virilhas. Não ia ser
nada agradável usar aquela peça horrenda, mas seria sua
proteção em caso de alguém disparar uma arma de fogo ou
tentar esfaqueá-la.
Olhou-se no espelho. A imagem refletida não tinha muita
elegância, mas embora parecesse uma ironia, aquele corpete à
prova de bala lhe caía muito bem, estava certíssimo em seu
corpo. Despiu-o e entrou no quarto de banho. Fez uma trança
dos cabelos negros naturais. Foi então que soou o terceiro
apito, avisando que todos os visitantes deviam abandonar o
navio.
Quando terminou de fazer a trança, o navio começava
afastar-se do píer... Enrolou a trança à nuca, formando um
lindo coque. Escolheu lentes de contato negras que escondiam
perfeitamente o azul de seus olhos.
E finalmente, o “toque especial”: com um aparelho que
parecia ser um diminuto lápis depilador elétrico, deu um
rápido toque nos cantos exteriores dos olhos, formando uma
ruga diminuta. A aparência mudou completamente, seus olhos
ficaram amendoados, totalmente orientais.
Depois vestiu rapidamente uma saia e uma blusa comum e
saiu do camarote, levando consigo somente a maleta que
jamais abandonava e dentro desta, além do corpete à prova de
bala, muitas coisas interessantes e... úteis.
O transatlântico havia zarpado há uns quinze minutos e a
senhorita Connors, a loura sensual que possuía olhos verdes e
sonhadores continuava desaparecida. No entanto, uma
passageira que ninguém tinha visto na hora do embarque e que
agora procurava o camarote que lhe estava reservado na
Classe de Turismo.
Apareceu no tombadilho e se dirigiu diretamente ao
corredor.
Era uma mulher bonita de tipo excêntrico, uma mistura das
raças chinesa e branca e em seus documentos estavam em
nome de Margaret Lipiang.
O camareiro que dirigia os passageiros a seus respectivos
camarotes, olhou-a com surpresa quando ela se aproximou
dele.
— Por favor, poderia indicar-me qual é o camarote 145, da
Classe de Turismo? Acabo de visitar alguns amigos que
viajam no 145 da Classe de Luxo. Muito engraçado a
coincidência de números, não é?
CAPÍTULO TERCEIRO
Viagem a Singapura
CAPÍTULO QUARTO
Madame Wai Li
CAPÍTULO QUINTO
O jogo pode continuar
CAPÍTULO SÉTIMO
O plano diabólico
ESTE É O FINAL
A bela senhorita Connors estava no gabinete do capitão do
“Hong Kong Sky”.
O oficial a escutava com muita atenção e respeito. E aos
poucos, a espiã mais famosa do mundo foi tendo certeza de
que o capitão Ying não tinha qualquer ligação com os
membros da “Equipe Ming” que estavam viajando no navio.
— Enfim, senhorita, qual é o plano do grupo? —
perguntou, de repente.
— Talvez o senhor não vá acreditar, mas acontece que os
assassinos estão pensando em envenenar todas as pessoas que
fazem esta viagem.
Os olhos do capitão Ying desorbitaram. O oficial parecia
perplexo com aquela revelação despropositada.
De fato, não entendera porque aquela turista linda de
morrer aproximou-se dele quando estava no salão e pediu para
terem uma conversa em local mais reservado. Trouxera-a a
seu gabinete particular, sentindo muita curiosidade, mas
jamais poderia pensar que fosse ouvir aquelas palavras.
— Como eles estão pensando envenenar os passageiros?
— Vários tripulantes e empregados da companhia de
navegação estão colaborando com eles. O plano foi
arquitetado com muito cuidado e meticulosidade. Talvez seja
iniciado ainda esta noite porque a madame Wai Li tem muita
pressa em executá-lo.
— Mas se eles fizerem isso, será horrível.
— Exatamente por causa disso, solicitei esta entrevista
com o senhor. Terá de expedir ordens e avisos comunicando
que ninguém dentro do “Hong Kong Sky” poderá ingerir
qualquer alimento, bebida e nem mesmo água até o final da
viagem. Entendo que o resto da travessia não será muito
agradável ou divertida... imagine só, nós todos fazendo jejum
forçado e passando fome até atracarmos em Singapura. Eu
pessoalmente prefiro passar fome do que morrer. E o senhor?
Ying Punang passou o lenço pela calva, pensando no que
poderia ser feito naquela situação.
— Passarei um telex a Singapura e a polícia deterá todos
os tripulantes na hora do atracamento.
— Creio que esta ordem poderá ficar em segundo lugar —
disse a senhorita Connors com um de seus mais radiosos
sorrisos. — Acho que a primeira coisa que o senhor deve
fazer, é comunicar-se com todos os camarotes e avisar todos
os passageiros do que poderá acontecer dentro das próximas
horas.
O capitão assentiu, apanhou o telefone e começou a se
comunicar com todos os que estavam no barco.
Dentro de poucos minutos, o “Hong Kong Sky” parecia
um vulcão flutuante pronto a entrar em erupção.
Vinte minutos mais tarde, o imediato entrou no gabinete e
informou que a situação já começava a se normalizar e que a
primeira reação de pânico já estava sob controle, que o
problema estava praticamente resolvido.
— Bem, se os passageiros já estão calmos e se
prontificaram a atender o pedido do capitão Ying — a
senhorita Connors levantou se com a agilidade que lhe era
peculiar —, terão de perdoar-me porque preciso ver um amigo
que não estava passando muito bem.
O capitão e o imediato a fitavam pasmos por vê-la tão
tranquila e sorridente.
Assim que Lili Connors pôs os pés fora do gabinete viu um
empregado que usava o uniforme usual: calça preta e jaqueta
branca.
Este era um tipo baixinho e ela notou que assim que a viu
virou-se de costas, abaixou-se como que procurando alguma
coisa que tivesse caído no chão.
Lili Connors sorriu, fingiu nada ter notado e lhe deu as
costas completamente, enquanto abria a bolsa e apanhava a
pistola enfeitada com madrepérola.
Continuou caminhando na direção da proa e quando estava
a poucos metros do empregado, viu quando este sacou uma
arma do cós da calça, e a apontou em sua direção.
Apontou a pistola, mas não teve oportunidade de usá-la
porque a espiã acionou a sua com mais rapidez.
Plof.
A madame Wai Li recebeu o tiro no rosto e rolou pelo
convés.
Lili olhou para seu cadáver e disse com voz gelada:
— Eu sabia, queridinha! Você não ia perder a
oportunidade única de fisgar uma presa apetitosa como eu,
mas esqueceu-se de uma coisa: Poucas pessoas estão
capacitadas para lutar contra a agente Baby da CIA.