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1
Sensei significa mestre, em japonês. O grande mestre citado por Kurita é
Takeo Inomura, que já apareceu em várias aventuras da agente “Baby”, de modo
especial em NIN-JUTSU (Perigo entre crisântemos, número 230 e 231 desta
coleção).
CAPÍTULO PRIMEIRO
O cabograma
CAPÍTULO QUARTO
O Homem de Oriente
CAPÍTULO SEXTO
O ancião esfarrapado
2
O I Ching é um livro reverenciado na China. É considerado como a obra literária
mais antiga do mundo e nele estão as respostas para todas as perguntas que um
homem possa fazer. Isto o converte, basicamente, em um livro de adivinhações.
Manejado adequadamente, tem respostas para resolver todos os problemas, todas
as indecisões de seus consulentes. Considerado como o livro do todas as épocas,
há no mundo, especialmente no Oriente, milhões de adeptos da sabedoria que
contém, e é utilizado para resolver todas as dúvidas. Muitas pessoas não fazem
nada sem consultá-lo. Dizem que as respostas do I Ching decidiram Mao Tsé
Tung em muitas de suas ações. (Nota do autor)
Lai Mi captou o olhar do guardião da porta e lhe fez um
sinal para que não interviesse. Alguns meninos, duas
mulheres e quatro homens que estavam ali, olharam o
velhote com expressão de reprovação. Este, parecendo não
perceber nada ao seu redor, começou a mordiscar o
sanduíche, enquanto consultava o livro.
Passado algum tempo o ancião segurou o pote de leite
condensado e ocupou-se em girá-lo entre as mãos. Fitou Lai
Mi, vacilou e se pôs de pé. Com o objeto na mão se dirigiu
até o estrado.
Subiu os três degraus com dificuldade e, subitamente,
postou-se atrás de Lai Mi, agarrando-a pelo pescoço com um
braço. Logo, puxou-a obrigando-a a se levantar.
Imediatamente os dois guardas do jardim entraram na
escola, levantando suas mãos às axilas, enquanto o outro
guarda-costas, da porta sacava a pistola. Uma das mulheres,
o ver a cena, soltou um grito de sobressalto.
— Quietos! — ordenou o ancião, erguendo o objeto que
tinha na mão. — Isto é uma bomba! Se alguém se acercar,
deixarei que ela caia aos meus pés!
Houve gritos e exclamações. Algumas pessoas se
puseram de pé e começaram a correr para a porta, enquanto
outras permaneceram pregadas nos assentos, sem a menor
ação. Os guarda-costas estavam lívidos como a própria Lai
Mi. Do lado de fora, ao ver a precipitação das pessoas que
saíam da escola, o chinês que aguardava no carro apareceu
com a pistola empunhada. Seu companheiro da entrada lhe
disse o que sucedia e ele ficou imóvel, de olhos cravados em
Lai Mi e no velho.
— Joguem fora todas as armas! — exigiu este. — Se não
me obedecerem imediatamente explodirei a bomba e a
senhorita e eu voaremos pelos ares. Vamos! Desfaçam-se
das armas e deixem a passagem livre!
— O que está... fazendo, senhor? — murmurou Lai Mi
assustada.
— Cale-se e caminhe até a porta! Depressa ou morrerá!
Os vigilantes haviam deixado cair as pistolas ao solo e se
afastaram para um lado. Amedrontada com a possibilidade
daquela bomba explodir, Lai Mi suplicou:
— Não façam nada, por favor...! Não intervenham!
Segurando a jovem fortemente com uma das mãos e
levando a bomba na outra, o velho alcançou a saída, sob o
olhar angustiado dos que assistiam ao sequestro.
— Para o carro! — ordenou o velhote. — Você
conduzirá. E já sabe o que sucederá se esta bomba receber o
menor golpe.
Os guarda-costas haviam recolhido suas armas e os
fitavam, impotentes, da porta da escola.
— Talvez aquilo não seja uma bomba — lembrou um
deles.
Os demais não responderam; fios de suor escorriam por
seus rostos.
O automóvel arrancou velozmente. Lai Mi ao volante e o
ancião a seu lado, indicando o caminho que deveriam
percorrer.
— Vamos para Glendale — ordenou. — Ali há um bonito
chalé, onde nos instalaremos por enquanto.
O veículo corria e o ancião suspirou satisfeito ao perceber
que os guarda-costas da moça não vinham em sua
perseguição.
— Quem é você? E o que quer de mim? — indagou a
jovem.
— Meu nome é Ah Kung — retrucou ele, retirando a
peruca postiça, a barba e os óculos, que atirou no assento
traseiro. — Não deve temer nada de mim, Lai Mi. Fui
obrigado a sequestrá-la em vista da teimosia de seu pai. Ele e
o seu sócio expulsaram-me esta manhã do escritório onde
trabalham.
— Não compreendo...
— Siga conduzindo. Eu lhe explicarei a situação
enquanto nos dirigimos ao chalé. E não precisa sentir medo
do que tenho na mão. Não é uma bomba e sim um pote de
leite condensado.
O carro se deteve diante do chalezinho, onde Ah Kun
estivera com Dorothy no dia de sua chegada a Los Angeles.
Os dois jovens saltaram do veículo e entraram na vivenda.
— Sente-se — pediu Kung. — É hora do almoço. Vou
ver se tem algo na geladeira.
— Não tenho fome.
— Tranquilize-se. O que lhe contei é verdade. Só preciso
que você permaneça fora de circulação enquanto eu preparo
a farsa do assassinato de seu pai. Se ele aceitar agora minhas
instruções tudo sairá bem. Terei apenas de assassiná-lo de
modo... espetacular, exemplar. Tratarei de fazê-lo diante de
muitas testemunhas. Logo, o cadáver de seu pai será
recolhido por seus homens, levado à sua casa e lá
permanecerá, naturalmente vivo, enquanto eu conquisto a
confiança do Homem de Oriente. Só necessito saber onde
fica o seu esconderijo. Nesse momento, reunirei um grupo de
budokas que pulverizarão tudo o que estiver relacionado com
a Pequena Ásia.
— Como conseguirá isto? — interessou-se Lai Mi.
Enquanto falava, Ah Kung ia retirando os andrajos de
sobre a roupa que usava. Lai Mi contemplava, boquiaberta, o
atraente chinês que tinha agora, diante dos olhos.
— Realmente não tem apetite? — perguntou ele, depois
de se livrar completamente do disfarce.
— Não... Obrigada... Não tenho fome.
— Mesmo assim irei à cozinha ver o que posso arranjar
para nós dois. Vamos... Não fique tensa... Relaxe e,
sobretudo, confie em mim. Só espero que não cometa a
tolice de tentar escapar, enquanto eu vou até a despensa.
Lai Mi assentiu e Ah Kung deixou o salãozinho. Pouco
depois regressava com uma bandeja, trazendo alguns
alimentos preparados, cerveja e frutas, dizendo:
— Chamarei seu pai em segui...
Não disse mais nada. Ficou imóvel e somente seus olhos
giraram de um lado a outro, fitando um a um, os três homens
chineses que empunhavam pistolas. Sentada na poltrona, Lai
Mi perdera completamente o bonito rosado do rosto.
Um dos sujeitos adiantou-se até o jovem sorrindo, e
baixando a pistola inquiriu:
— Tudo bem, Meing?
— Tudo em ordem — respondeu secamente o rapaz,
pensando como aqueles tipos haviam entrado no chalé. Sem
dúvida não eram alheios à retirada dos três cadáveres no dia
anterior. — Mas gostaria de saber quem são vocês e o que
fazem aqui?
— Somos seus colaboradores, homem — riu o outro.
— Não necessito de colaboradores de espécie alguma.
— Orientman não pensa assim. Por isso, desde que
deixou seu apartamento esta manhã, nós o seguimos e
descobrimos que visitou Liung Tse.
— Cada qual tem seu sistema de trabalho — disse Kung,
seco.
— De acordo. O que foi fazer no escritório de Tse?
— Fui estudar o terreno. Apresentei-me como Ah Kung,
agente principal de uma empresa de exportação de Hong
Kong, que tem interesse em fazer negócio com ele.
Conversamos e tomei nota dos seus dispositivos de
segurança. Depois saí'. Isso é tudo. Mas como me pareceu
que Liung Tse era muito difícil de alcançar, decidi tentar o
êxito através de sua filha.
— Boa ideia — aprovou outro chinês. — O que pensa
fazer com a filha de Liung Tse?
Ah Kung sorriu de um jeito canalha.
— Bem... Além de gozar do corpo escultural que possui,
servirá ainda para meter Liung Tse em uma armadilha. Estou
certo de que ele fará tudo quanto eu ordenar assim que
souber que tenho sua filha em meu poder.
— Qual é o plano? — quis saber o outro dos três
indivíduos.
— Vou arranjar as coisas de modo que ele aceite todas as
minhas condições para uma entrevista, da qual não sairá com
vida. Tudo ocorrerá de forma a que ninguém duvide de que a
Pequena Ásia tem recursos de toda sorte para qualquer
situação.
— Explique-se melhor...
— Ainda não tenho tudo planejado, mas espero consegui-
lo em menos de vinte e quatro horas. Enquanto isso, tratarei
de obrigá-la a chamar o pai para dizer-lhe que está em poder
da Pequena Ásia e que deve esperar instruções referentes ao
seu possível resgate.
— Ótimo — aprovou o terceiro, que ainda não falara.
Fitou Lai Mi e apontou o telefone, dizendo:
— Chame seu pai e informe-o de sua situação.
A jovem olhou para Kung angustiada. Já não entendia
mais nada e sentiu-se pior, quando ele mesmo pegou-a pelo
braço rudemente para pô-la de pé.
— Vamos! Não escutou? — grunhiu. — Telefone a seu
pai!
— Espere! — ordenou outro dos chineses. Acercou-se do
que parecia chefiá-los e cochichou uns segundos com ele. O
tipo assentiu e disse, fitando Lai Mi e Ah Kung:
— Wang acaba de ter uma ideia colossal! Nós vamos
levar a garota conosco, para um lugar verdadeiramente
seguro. Dali telefonará para seu pai.
— Eu prefiro... — iniciou Kung.
— Está decidido — declarou o mesmo sujeito. — Será
melhor assim. Ninguém a encontrará nesse lugar para o qual
a levaremos. E se o descobrirem, rastreando o automóvel que
usaram, será mais fácil para você fugir sozinho.
— Tem razão... Mas se ela...
— Não se preocupe — riu o chamado Wang. — Nós a
conservaremos virgem para você. E agora, vamos deixá-lo.
Trate de terminar o plano. De quando em quando entraremos
em contato com você para o caso de necessitar de algo.
— Seria melhor que eu os chamasse... Onde posso
encontrá-los?
— Entre em contato com Dorothy e a pequena
solucionará tudo... Bem, Meing... Até a vista! Ah! Avise-nos
quando decidir matar Liung Tse. Não queremos perder esse
espetáculo!
Retrocederam até a saída, levando a moça. Ah Kung
permaneceu imóvel, derrotado. Talvez confiassem nele e
talvez não. Com o rosto coberto de suor, só se moveu ao
escutar a porta do chalé bater ao ser fechada. Então correu
até uma janela e viu os três chineses levando Lai Mi para um
carro, que se achava a uns setenta metros de distância. Por
um momento limpou o rosto molhado e pensou no que podia
fazer de imediato para salvar a formosa filha de Liung Tse.
Nessa hora lembrou-se de Makio Ueno, seu companheiro
budoka. Precisava descobrir a que endereço correspondia o
telefone 555-3972. Voltou ao salão e discou para o amigo,
inutilmente. Angustiado, culpando-se por ter entregado Lai
Mi nas mãos da Pequena Ásia, saiu do chalé e entrou no
carro, seguindo até o apartamento de Dorothy.
Ao chegar ali tocou a campainha da porta, sem sucesso.
Intrigado, desceu o elevador e perguntou ao porteiro pela
senhorita Barrows.
— A senhorita recebeu um chamado de fora da cidade.
Parece que um parente seu está doente. Arrumou as malas e
se foi, mas, infelizmente, não deixou sua direção.
Completamente arrasado, Ah Kung agradeceu e saiu do
edifício. Enquanto caminhava, pensava que Orientman se
aproveitara dele, sabendo todo o tempo que era um impostor.
A prova era que quase fora morto pelos homens enviados ao
chalé para onde Dorothy o levara. O Homem de Oriente rira
dele! E, em-troca, ele pusera Lai Mi em suas mãos!
CAPÍTULO SÉTIMO
O recado de Orientman
CAPÍTULO DÉCIMO
A máscara de Orientman
ESTE É O FINAL
Quando Sensei Kurita terminou o relato referente ao
Homem de Oriente, a senhorita Montfort estava fumando,
fitando-o com a maior atenção. Não o tinha interrompido
uma única vez e, embora em certas ocasiões houvesse
parecido que nem sequer o escutava, Kurita sabia que não
era assim, que ela estava lhe dedicando a máxima atenção.
Por fim, após mais de um minuto de silêncio, Brigitte
perguntou:
— O que espera de mim, Sensei?
— Ah Kung chega hoje com sua linda esposa, Lai Mi. É
um homem muito capacitado para as artes marciais.
Podemos dizer que é mesmo fora de série, pois com os anos
de prática constante, amadureceu e aprendeu muitas coisas.
— Compreendo... — sorriu Brigitte.
— Bem... Ele vem recomendado pelo O Sensei Inomura,
mas não nos disse o que espera que façamos por Ah Kung,
agora que decidiu vir passar algum tempo na América.
Cheguei a pensar em aceitar Ah Kung em meu dojo, como
ajudante. Todavia, creio que ele merece algo melhor, algo
mais apropriado.
— Entendo. Você quer dizer que Ah Kung poderia ter sua
própria sala de artes marciais em Nova Iorque, se tivesse o
dinheiro suficiente para montá-la, não é assim?
— Essa poderia ser uma das soluções — indicou Kurita,
com o rosto inexpressivo.
— Hum... E o dinheiro para montar sua própria academia
ficaria ao meu critério, suponho.
— Sabemos perfeitamente que você não está obrigada a
nada.
Brigitte começou a rir.
— Vocês, os japoneses, nunca deixarão de surpreender-
me! Faz muitos anos que o conheço e a outros japoneses.
Estudei sua história com interesse até algo do seu idioma.
Conheço-os bastante para saber que são muito sutis. Mas
mestre, não acha que nesta ocasião você e o Sensei deveriam
ser mais sinceros comigo?
— Sempre fomos sinceros com você — sorriu Kurita.
— Sinceros, mas demasiado... misteriosos. Sei muito bem
o que o Sensei quer realmente de mim. Já compreendi.
— Verdade?
— O Sensei não enviaria a Nova Iorque um dos seus
melhores homens para dar aulas de qualquer arte marcial a
alguns norte-americanos barrigudos. Nem, tampouco,
enviaria Ah Kung para aprender artes marciais, pois
ninguém pode ensiná-las melhor do que ele mesmo. Não
obstante, a astúcia de o Sensei é ilimitada e uma vez mais se
põe manifesta...
— Francamente, não a entendo...
— Vejamos: o que pode haver no mundo que eu saiba
melhor do que o Sensei? Talvez algumas pequenas coisas,
mas, sobretudo, espionagem. O Sensei sabe disto e sabe
também que eu tenho aqui nos Estados Unidos, uma
organização particular de espionagem chamada Love
Organization Unite, em cuja direção Número Um me ajuda.
Assim, Sensei, que, como Número Um e eu, leva muitos
anos lutando contra o mal, decidiu montar sua própria escola
de espionagem no Oriente, à qual enviará os melhores
discípulos. É claro que para montar essa escola necessitará
de que um dos seus discípulos mais aptos nesse terreno
receba uma instrução técnica esmerada de tudo relacionado
com a espionagem. Então, Sensei decidiu que sua amiga
“Baby” o ajude nisto. Acertei?
— Você vai se negar? — murmurou Kurita.
— Não há muitos homens como Ah Kung... De modo
que vou com você ao aeroporto para dar-lhe pessoalmente
meus votos de boas-vindas. Sobretudo estou curiosa para
conhecer o homem que derrotou Orientman!