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Disciplina: Biofísica

Prof.: Marcus Nery

Fenômenos elétricos nas células


As células vivas dependem de uma série de reações químicas em seu interior, que,
delicadamente articuladas entre si, em sequência ou em paralelo, operam para manter o frágil equilíbrio
dinâmico que significa “estar vivo”. Esse incessante turbilhão bioquímico libera energia quebrando
ligações químicas de nutrientes ingeridos, constrói e reconstrói biopolímeros como proteínas, ácidos
nucleicos, lipídios e glicídios, e também desfaz e descarta os restos destas substâncias, uma vez que
qualquer biomolécula é funcional apenas por um tempo limitado dentro das células.
Mas a atividade biológica não envolve apenas reações químicas, embora estas estejam sempre
na origem da captação e distribuição de energia e síntese de constituintes moleculares em qualquer
organismo vivo. Podemos encontrar também atividades biológicas derivadas: elétrica, mecânica
(movimentos, comportamentos), térmica (especialmente nos vertebrados endotérmicos) e até luminosa
(bioluminescência).
As células estão separadas do ambiente por uma estrutura fundamental, a membrana plasmática.
A membrana faz mais do que separar o conteúdo celular do meio circundante; ela é atravessada por
canais e bombas altamente seletivos, formados por moléculas protéicas, que permitem a entrada e
saída de substâncias específicas na célula. Esse fluxo iônico através das membranas é a base da
comunicação intercelular, de extrema importância nos processos fisiológicos.
A maioria das células animais apresenta diferença de potencial elétrico (voltagem), através de
suas membranas plasmáticas. O citoplasma costuma ser eletricamente negativo em relação ao líquido
extracelular. A diferença de potencial elétrico, através da membrana plasmática de células em repouso,
é denominada potencial de repouso da membrana.
O potencial de repouso da membrana desempenha papel central na excitabilidade das células
nervosas e musculares, bem como em algumas outras respostas celulares, já que a modificação desse
potencial (os chamados potenciais de ação) resulta em diversas alterações nas células vivas. Para que
haja troca de moléculas e íons entre a célula e seu meio ambiente, a membrana plasmática possui
proteínas transportadoras. Um desses recursos é a bomba de sódio e potássio.
Os fenômenos bioelétricos podem envolver tanto a geração, quanto o resultado da ação de
campos ou correntes elétricas sobre os processos biológicos. Em vertebrados como os humanos, são
particularmente notáveis em três tipos de tecidos, o neural (incluindo suas interfaces com os diferentes
órgãos sensoriais), o muscular (esquelético, liso ou cardíaco) e o endócrino (glândulas secretoras),
onde desempenham um papel central. Podem também manifestar-se potenciais elétricos em situações
excepcionais, como em tecidos lesionados. Uma categoria especial de uso da bioletricidade é
encontrada em alguns peixes, onde um músculo modificado, o órgão elétrico, pode ser utilizado como
órgão sensorial ou, por vezes, como órgão de ataque/defesa.
Uma vez que nos tecidos biológicos não há disponibilidade de elétrons livres para movimentar-se
de forma análoga à que ocorre nas bandas de valência dos metais condutores, as cargas elétricas em
questão só podem estar nos íons de compostos dissociados no meio aquoso que tudo preenche, dentro
e fora da célula. Deste modo, a causa principal do potencial de repouso seria a distribuição desigual dos
íons em solução nos dois lados da membrana, compartimentados ativa ou passivamente pelos
mecanismos seletivos de transporte iônico transmembrana.
A membrana, portanto, atua com um capacitor, armazenando energia nesta distribuição espacial
de íons eletricamente carregados; esta energia potencial elétrica está disponível para ser recuperada
rapidamente, além de estabilizar a membrana evitando que este sistema seja perturbado por qualquer
fator de menor importância.
O potencial elétrico é uma forma de energia potencial, isto é, uma forma de armazenar energia
para realizar trabalho, como, por exemplo, fazemos quando armazenamos grandes quantidades de
água no lado de cima de uma represa (potencial gravitacional), e o trabalho é recuperado na queda da
água, que, deste modo, aciona uma turbina e gera corrente elétrica. Neste exemplo, a quantidade de
trabalho obtido depende do fluxo de água que permitirmos passar, pois, como sabemos, nenhuma
turbina será acionada se apenas abrirmos uma pequena torneira. De forma análoga, a verdadeira
expressão do trabalho elétrico é o fluxo de cargas elétricas que deixamos passar, isto é, a corrente
elétrica: assim, correntes grandes, mesmo de baixa voltagem, podem ser letais (como em baterias de
automóvel), e voltagens altas, com baixas correntes, geralmente não são.

Neurônios
O sistema nervoso é responsável por identificar estímulos provenientes do meio ambiente e
produzir respostas para que o corpo se adapte aos mesmos. É um sistema altamente complexo e eficaz
e que funciona a partir de impulsos gerados e transmitidos por célula que compõem a unidade funcional
desse sistema: o neurônio. O sistema nervoso humano compreende: o encéfalo e a medula espinhal,
com os nervos cranianos, os nervos espinhais e os gânglios nervosos.
O neurônio é formado por três partes: corpo celular (núcleo), axônio e dendritos e representa a
unidade funcional principal do sistema nervoso. A perda de basófila ou tigróide (substância) chama-
se cromatólise.
Neurônios de Associação geralmente existem fazendo a conexão entre os neurônios eferentes e
aferentes.

 Aferentes ou sensitivos: conduz o impulso ao sistema nervoso central.


 Eferentes ou motores: conduzem o estímulo do sistema nervoso central aos afetores
(músculos e glândulas).

Os dendritos são estruturas ramificadas que estimulam os impulsos no corpo das células. O
conjunto de dendritos forma um nervo, e suas células se desenvolvem no sistema nervoso. O axônio é
também é ramificado, e transmite os impulsos da célula para a sinapse.

Sinapses: região de contato de dois neurônios ou células nervosas, através da qual passam os
impulsos nervosos. Através desta ocorre o transporte de estimulação nervosa, este transporte se
caracteriza somente em uma orientação, ou seja, axônio – dendrito nunca no sentido contrário.

O neurônio é cheio de substâncias químicas, ao liberar um impulso esta substância é liberada na


sináptica, ou seja, a junção de dois neurônios no quais passam sinais elétricos, e assim por
consequência emitirá outro sinal liberando novamente os impulsos.
Sinapses excitatórias e inibitórias
O sistema nervoso é responsável pelo ajustamento do organismo ao ambiente. Sua função é
perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do
próprio corpo e elaborar respostas que adaptem a essas condições.
A unidade básica do sistema nervoso é a célula nervosa, denominada neurônio, que é uma célula
extremamente estimulável; é capaz de perceber as mínimas variações que ocorrem em torno de si,
reagindo com uma alteração elétrica que percorre sua membrana. Essa alteração elétrica é o impulso
nervoso.
Os neurônios precisam continuamente coletar informações sobre o estado interno do organismo e
de seu ambiente externo, avaliar essas informações e coordenar atividades apropriadas à situação e às
necessidades atuais das pessoas. Compreendendo o processo de comunicação entre as células
nervosas entendemos de onde vêm as nossas sensações, sentimentos, pensamentos, respostas
motoras e emocionais, a aprendizagem e a memória, a ação das drogas psicoativas, as causas das
doenças mentais, e qualquer outra função ou disfunção do cérebro humano.
Uma compreensão da transmissão sináptica é a chave para a o entendimento das operações
básicas do sistema nervoso a nível celular. O sistema nervoso controla e coordena as funções corporais
e permite que o corpo responda, e atue sobre o meio ambiente. A transmissão sináptica é o processo
chave na ação interativa do sistema nervoso.
Um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses. A sinapse é uma região de
contato muito próximo entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células.
Estas células podem ser tanto outros neurônios como células sensoriais, musculares ou glandulares.
As terminações de um axônio podem estabelecer muitas sinapses simultâneas. Na maioria das
sinapses nervosas, as membranas das células que fazem sinapses estão muito próximas, mas não se
tocam. Há um pequeno espaço entre as membranas celulares (o espaço sináptico ou fenda sináptica).
Quando os impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da célula pré-sináptica, ocorre
liberação, nos espaços sinápticos, de substâncias químicas denominadas neurotransmissores ou
mediadores químicos, que tem a capacidade de se combinar com receptores presentes na membrana
das célula pós-sináptica, desencadeando o impulso nervoso. Esse tipo de sinapse, por envolver a
participação de mediadores químicos, é chamado sinapse química.
Os cientistas já identificaram mais de dez substâncias que atuam como neurotransmissores, como
a acetilcolina, a adrenalina (ou epinefrina), a noradrenalina (ou norepinefrina), a dopamina e a
serotonina. Diferentes tipos de sinapses podem ser diferenciados pelo critério de qual parte do neurônio
é pós-sináptico em relação ao axônio terminal. Se a membrana pós-sináptica está em um dendrito, a
sinapse é chamada axo-dendrítica. Se a membrana pós-sinpática está no corpo celular, a sinapse é
chamada axo-somática. Em alguns casos a membrana pós-sináptica está em outro axônio, e essas
sinapses são chamadas axo-axônicas. Em determinados neurônios especializados, os dendritos
formam, na realidade, sinapses entre si, essas são as chamadas sinapses dendro-dendríticas.

SINAPSES NEUROMUSCULARES
A ligação entre as terminações axônicas e as células musculares é chamada sinapse
neuromuscular e nela ocorre liberação da substância neurotransmissora acetilcolina que estimula a
contração muscular.

SINAPSES ELÉTRICAS
Em alguns tipos de neurônios, o potencial de ação se propaga diretamente do neurônio pré-
sináptico para o pós-sináptico, sem intermediação de neurotransmissores. As sinapses elétricas
ocorrem no sistema nervoso central, atuando na sincronização de certos movimentos rápidos. Neste
tipo de sinapse as células possuem um intimo contato através junções abertas ou do tipo gap que
permite o livre transito de íons de uma membrana a outra, desta maneira o potencial de ação passa de
uma célula para outra muito mais rápido que na sinapse química não podendo ser bloqueado. Ocorre
em músculo liso e cardíaco, onde a contração ocorre por um todo em todos os sentidos.

SINAPSES QUÍMICAS
Acontece quando o potencial de ação, ou seja, impulso é transmitido através mensageiro químico,
ou seja, neurotransmissores, que se liga a um receptor (proteína), na membrana pós-sináptica, o
impulso é transmitido em uma única direção, podendo ser bloqueado e em comparação com sinapse
elétricas a sinapse química é muito mais lenta. Quase todas as sinapses do SNC são químicas.
Exemplo de neurotransmissores liberados nas sinapses químicas:
 Histamina
 Acetilcolina

Na sinapse química o potencial de ação que está se movendo em ambos os lados na membrana
quando chega na região adjacente a fenda sináptica, onde se encontram muitos canais de cálcio que
através da despolarização da membrana se abrem liberando cálcio para dentro da célula. Este influxo
de cálcio nas imediações da membrana pré-sináptica, causará por atração iônica o movimento das
vesículas com neurotransmissores na direção da membrana pré-sináptica onde os neurotransmissores
serão liberados na fenda sináptica por exocitose. Na membrana pós-sináptica existe um grande número
de proteínas receptoras de neurotransmissores, estes receptores são canais iônicos permeáveis ao
sódio (impulso excitatório) e cloreto (impulso inibitório).
Se os neurotransmissores ligarem-se aos canais iônicos permeáveis ao sódio, causará o influxo
de sódio para dentro da célula o que consequentemente desencadeara um potencial de ação nesta
célula. Se o neurotransmissor se liga a canais iônicos permeáveis ao cloreto, o que causa o influxo de
cloreto para dentro da célula, o cloreto sendo um ânion, não deixará que a célula gere um potencial de
ação, ou seja, impulso inibitório.

Sinapse Excitatória
Sinapse excitatórias são aquelas onde a membrana pós-sináptica é despolarizada, como por
exemplo, as sinapses entre neurônios motores e músculos esqueléticos, (EPSP). Isso acontece quando
o efeito líquido da liberação do transmissor é para despolarizar a membrana, levando-o a um valor mais
próximo do limiar elétrico para disparar um potencial de ação. Esse efeito é tipicamente mediado pela
abertura dos canais da membrana (tipos de poros que atravessam as membranas celulares para os
íons cálcio e potássio). Se houver em qualquer momento, um grau mais elevado de excitação do que de
inibição do neurônio, então se diz que há um estado excitatório.
Há três diferentes tipos de neurônios aos níveis variáveis do estado excitatório; neurônio 1 tem
baixo limiar de excitação, enquanto o neurônio 3 tem nível alto, enquanto o neurônio 2 observa-se que
tem um nível de frequência máxima de carga enquanto o neurônio 3 tem a frequência máxima mais alta.
Tem diferentes respostas de limiar de excitação com descarga altas amplas e diferentes pode-se
facilmente compreende a importância da existência dos neurônios de características de respostas para
desempenha funções extremamente variáveis do sistema nervoso.
Sinapse inibitória
O PPSI é frequentemente determinado por um aumento localizado da permeabilidade da
membrana ao Cl. Quando um botão sináptico inibitório é ativado, o transmissor liberado na fenda ativa a
abertura de canais de cloro na área da membrana pós-sináptica próxima ao botão. A carga negativa é
transferida para dentro de célula e o potencial de membrana aumenta. Este fenômeno é bastante rápido
e o retorno à condição de base é rapidamente restaurado. A diminuição da excitabilidade do neurônio
durante o PPSI faz com que uma quantidade maior de PPSEs seja necessária para causar
despolarização. PPSIs também podem ser obtidos por abertura dos canais de K na célula pós-sináptica,
bem como através do fechamento de canais iônicos de Na e Ca.
Estímulo de certas fibras sensoriais pode produzir PPSEs em alguns neurônios e PPSIs em
outros. Em vias inibitórias, um único neurônio está inserido entre a raiz aferente dorsal e o neurônio
eferente ventral. Este neurônio especial, chamado neurônio de Golgi, é curto e possui um axônio
grosso. Seu transmissor sináptico é a glicina e, quando este aminoácido é secretado do botão sináptico
para os dendritos proximais do neurônio pós-sináptico, um PPSI é produzido. Assim, o impulso aferente
excitatório é transformado em inibitório pelo inerneurônio. Além de PPSE e PPSE descritos, potenciais
lentos excitatórios e inibitórios tem sido descritos nos gânglios autonômicos, músculo cardíaco e
músculo liso, e neurônios corticais. Estes potenciais lentos tem uma latência de 100-500ms e duram
vários segundos. Estes potenciais excitatórios lentos são devidos à uma diminuição da condutância de
K, enquanto os inibitórios se devem a um aumento na condutância de K.

Soma de estímulos
Cada neurônio "decide" se irá ou não gerar um potencial de ação após somar todos os estímulos
que recebe (excitatórios e inibitórios), e é este o mecanismo que permite a integração de informação
que apenas o tecido nervoso consegue obter. Cada neurônio pode receber até 1000 estímulos
sinápticos, mas apenas produz uma resposta, um potencial de ação formado no seu axónio.
Na maioria dos neurônios, a região de "tomada de decisão" está localizada no corpo celular, junto à
base do axónio, local não isolado por células da Glia e extremamente rica em canais iónicos
controlados eletricamente. Assim, se a soma de todos os estímulos sinápticos recebidos pela célula
atingirem este local e causarem uma diferença de potencial suficiente para causar a despolarização da
membrana, o axónio dispara um potencial de ação.

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