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Miocardite primária: Hipótese - infecção viral aguda quanto e resposta autoimune pós-viral.
Miocardite Primária
Historicamente, os vírus Coxsackie, de core RNA, foram mais freqüentemente identificados
como responsáveis por inflamação miocárdica ou pericárdica.
Os vírus Coxsackie são membros da família dos picornavírus, que também inclui o ecovírus e
os poliovírus.
Fisiopatologia
A infecção viral do coração segue uma progressão típica . A maioria dos patógenos virais
introduz-se no organismo através dos tratos respiratório superior ou gastrointestinal.
A infecção viral típica produz uma viremia sistêmica e uma resposta vascular associada nos
primeiros três dias. Durante esse intervalo, o vírus patogênico pode invadir o miocárdio e se
replicar no miócito, ocasionando miocitólie
Entre o quinto e o décimo dia, há uma resposta generalizada por meio dos macrófagos e dos
anticorpos IgM, associada a um infiltrado inflamatório histológico.
O pico da resposta pelo anticorpo IgG antígeno-específico ocorre no 14º dia, associado à
evidência histológica de desorganização das miofibrilas e fibrose intersticial.
A infecção nos pulmões ou intestinos inicia uma resposta pelas citocinas, que pode ativar o
processo imune cardíaco.
O patógeno viral invasor deve possuir um mecanismo pelo qual possa penetrar a célula
cardíaca.
Fator Nuclear: é um fator de transcrição intracelular que, quando ativado pelas citocinas,
vírus, oxidantes e proteína-cinase, induz a produção de citocinas, de moléculas de adesão
intracelular (ICAM) e óxido nítrico induzível, que está envolvido na reposta inflamatória à
miocardite viral.
DIAS 3 A 14.
Células dendríticas e macrófagos estão presentes no miocárdio normal e são responsáveis
pela resposta inicial, independente de antígenos, à invasão viral. Essas células de resposta
imune liberam citocinas, interleucinas, perforina, espécies reativas de oxigênio, proteases,
fator de necrose tumoral(TNF) e fatores reguladores de crescimento, tais como o fator de
crescimento transformante beta.
Esses epítopos são apresentados para as células T em colaboração com o antígeno do principal
complexo de histocompatibilidade (MHC), o ICAM-1, assim como sinais co-estimulatórios
fornecidos por diferentes moléculas, incluindo o CD40 (um membro da superfamília TNF).
Os linfócitos CD8 fixam-se aos miócitos que possuem os antígenos adequados, promovendo a
lise celular, destruindo o citoplasma e o núcleo.
Anticorpos contra o miócito intensificam a destruição pelas células T ativadas.
A maioria dos pacientes com miocardite viral elimina o vírus e as células infectadas com um
mínimo de fibrose e nenhuma deterioração funcional miocárdica.
Outros pacientes exibem uma diversidade de respostas, variando desde uma depressão
transitória da função miocárdica à lenta evolução de uma cardiomiopatia dilatada.
Nos corações insuficientes, com miocardite, a NOS induzível encontra-se aumentada nos
macrófagos.
O óxido nítrico pode realçar ou suprimir a função miocárdíca.
O vírus Coxsackie B produz uma protease que cliva a distrofina na membrana cardíaca
A distrofina é uma glicoproteína integral de membrana que, quando rompida, pode interferir
na geração de força mecânica, resultando em alteração da permeabilidade da membrana,
ambas as ações podendo contribuir para a redução da função miocárdica.
O excesso de NOS induzível, contudo, resulta em peroxinitrito, um radical livre que pode
provocar a morte celular.
O NO estimula igualmente o GMPc, que inibe os canais de cálcio sarcolêmicos tipo L, o que
reduz a resposta do filamento ao cálcio. Portanto, o excesso de NO pode deprimir a função
miocárdica.
DIA 14 E POSTERIORES.
Progressão da miocardite para cardiomiopatia dilatada: novos dados que sugerem que esta
progressão pode ser devida a persistência viral, apoptose, processo auto-imune e/ou efeitos
estruturais.
Os vírus associados à miocardite viral também podem infectar as células endoteliais (espasmo
microvascular e baixa produção de NO endotelial)
Manifestações Clínicas
Pacientes com miocardite podem desenvolver um ventrículo esquerdo mais esférico, menos
eficiente na contração miocárdica, e má coaptação dos folhetos valvares, o que promove
adicional deterioração da função míocárdíca.
Nos pacientes com miocardite viral, a enfermidade começa com a infecção viral inicial.
Os sintomas da patologia viral são devidos ao agente e ao seu portal de entrada (trato
respiratório superior ou trato gastrointestinal)
Após a doença viral, que pode ser subestimada pelo paciente, existe um retardamento de dias
ou semanas antes que os sintomas cardíacos apareçam, estes incluindo insuficiência cardíaca
congestiva, arritmias (algumas vezes acarretando morte súbita cardíaca) ou eventos
embólicos.
Estes últimos não são raros nos pacientes com estados inflamatórios agudos, graças aos
efeitos procoagulantes das citocinas combinados a uma redução da função cardíaca e estase
sanguínea.
Os sintomas incluem fadiga, dispnéia, dor torácica (que pode ser pleurítica em virtude da
pericardite concomitante) e palpitações.
Os sinais podem incluir taquicardia sinusal, uma primeira bulha diminuída por causa da redução
da contração miocárdica, ritmo de galope, sopros de insuficiência mitral ou tricúspide e,
raramente, um atrito pericárdico.
Infarto do Miocárdio
Diversos autores relataram pacientes que se apresentavam com o que parecia ser um infarto
agudo do miocárdio, com elevação de segmento ST, CK e CK MB positivas, assim como
alterações segmentares da motilidade da parede ventricular (mas com coronariografia
normal) devido à miocardite, conforme demonstrado
por biópsia endomioocárdica.
Microaneurismas
A miocardite pode produzir microaneurismas solitários ou múltiplos.
Esses pacientes se caracterizam por (1) função ventricular global normal, (2) taquicardia
ventricular não sustentada e (3) biópsias do coração esquerdo demonstrando miocardite
histológica, nos quais as biópsias endomiocárdicas padronizadas do coração direito raramente
são positivas.
Taquicardia Ventricular
Foi igualmente descrito que os pacientes com miocardite desenvolvem taquicardia ventricular,
torsades de pointes ou morte súbita cardíaca.
A terapia imunossupressiva foi utilizada em alguns pacientes que apresentavam tais arritmias,
quando nenhuma outra causa pode ser identificada.
A miocardite foi descrita em alguns atletas que sucumbiram com morte súbita cardíaca.
Achados laboratoriais
Eletrocardiograma.
É quase sempre anormal nos pacientes com miocardite, podendo exibir alterações de lesão
aguda.
Além disso, os pacientes com miocardite podem exibir retardos de condução atrial,
ventricular ou intraventricular.
Raios X de Tórax
A elevação das pressões de enchimento, a despeito das dimensões cardíacas, pode resultar no
achado de insuficiência cardíaca congestiva, incluindo a cefalização do fluxo sangüíneo ou o
edema pulmonar.
Exames de Sangue.
Não existem achados característicos nos exames laboratoriais de rotina que confirmem o
diagnóstico de miocardite, conquanto a contagem leucocitária esteja, usualmente, elevada.
Biomarcadores da Mionecrose.
As enzimas miocárdicas não estão, normalmente, elevadas, a menos que o paciente se
apresente na fase aguda e manifeste uma rápida deterioração.
Auto-anticorpos.
Outros marcadores imunes foram avaliados como meios para confirmar o diagnóstico de
miocardite.
Várias citocinas foram encontradas elevadas nos pacientes com insuficiência cardíaca
progressiva, incluindo TNF, IL-6.
EXAMES NÃO-INVASIVOS
A cintilografia com gálio demonstra uma sensibilidade de apenas 36%, mas uma especificidade
de 98 %.
- Técnica de realce tardio tem maior valor diagnóstico e auxilia no direcionamento da biópsia
miocárdica (positividade de 95%)
- Disponibilidade e baixo risco têm impulsionado este método com auxiliar no diagnóstico da
miocardite.
BIOPSIA ENDOMIOCARDICA.
A melhora espontânea em alguns pacientes com critérios de Dallas negativos para miocardite,
as dificuldades observadas no estabelecimento de um diagnóstico histológico de miocardite
nos pacientes que sabidamente apresentam essa patologia e a subseqüente demonstração dos
vírus causadores pela PCR em pacientes com miocardite histologicamente negativa
confirmaram o quão rudimentar tem sido a confiança nos infiltrados inflamatórios ou na
destruição miocítica para estabelecer um diagnóstico de miocardite.
Classificação Clinicopatológica da Miocardite (1991)
Sistema de classificação para a miocardite primária (pós-viral) que incluía fulminante, aguda,
(subaguda) crônica ativa e crônica persistente, muito do que havia sido previamente aceito
para a hepatite aguda.
Os pacientes com miocardite primária foram diferenciados com base no início de suas
enfermidades, função ventricular esquerda e achados de biópsia endomiocárdica no momento
da apresentação, e resultados clínicos e histológicos.
MIOCARDITE FULMINANTE
Pacientes com miocardite fulminante exibem um início distinto da condição, usualmente no
intervalo de dias após uma enfermidade viral bem identificada.
Eles se apresentam com uma disfunção ventricular esquerda grave, muitas vezes com choque
cardiogênico, requerendo agentes pressóricos ou suporte mecânico artíficial.
O ventrículo esquerdo não está, usualmente, dilatado, mas, ao contrário, com paredes
espessadas, provavelmente uma manifestação do edema intersticial.
MIOCARDITE SUBAGUDA
Os pacientes com miocardite subaguda apresentam um início distinto da doença, sem nenhuma
patologia viral inicial claramente definida.
Eles se apresentam com disfunção ventricular moderada a grave, mas, geralmente, dilatação
discreta.
Suas biópsias revelam miocardite ativa ou limítrofe, sendo muitas vezes difícil encontrar
evidências de inflamação.
Ao longo do curso da doença desses pacientes (geralmente dois a três anos), esse padrão de
inflamação e cicatrização persiste, até que, finalmente, o paciente desenvolve uma
cardiomiopatia restritiva não dilatada, com evidências de formação de células gigantes.
Eles não apresentam início distinto de sua doença e, normalmente, exibem uma história de
muitos meses ou anos de queixas cardíacas.
Sua história clínica é de uma sintomatologia mantida, com função ventricular esquerda
persistentemente normal, a despeito da inflamação contínua.
PROGNÓSTICO
Um estudo de acompanhamento de pacientes com miocardite fulminante revelou que, uma vez
ultrapassada a apresentação inicial, esses pacientes se encontram bem, praticamente não
apresentando morbidade ou mortalidade relacionadas com o coração.
TRATAMENTO
O tratamento da miocardite é controverso, e nenhum regime terapêutico específico foi
estabelecido.
Todos os pacientes com miocardite deveriam limitar suas atividades físicas, receber terapia
padronizada para a insuficiência cardíaca, ter suas arritmias suprimidas (se indicado) e evitar
o espasmo vascular.
Não foram feitos estudos comparando o exercício ao repouso no manejo dos pacientes com
miocardite.
Já se supôs, com base em modelos animais, que os bloqueadores dos canais do cálcio são
benéficos, por meio de prevenção do espasmo microvascular ou da inibição da produção de
óxido nítrico, reduzindo a replicação viral, a ativação das células T e diminuindo a produção de
interleucina; contudo, não existem estudos adequados que possam fundamentar essas
recomendações.
Os betabloqueadores podem estabilizar as membranas miocárdicas e prevenir as arritrnias,
prover antioxidantes, ou estimular as interleucinas.
Terapia Imunossupressora
A terapia imunossupressora foi proposta para tratar a miocardite e a cardiomiopatia de início
recente, tanto em crianças quanto em adultos.
Como teorizado em modelos animais, a imunoglobulina pode fornecer um anticorpo para o vírus
específico, responsável pela enfermidade, ou provocar uma resposta imune não específica,
com inibição (downregulation) das citocinas.
A terapia com imunoglobulina intravenosa não parece ser benéfica para os pacientes adultos
com cardiomiopatia de diagnóstico recente e miocardite presumida.
Parece pouco benéfico tratar os pacientes com cardiomiopatia estabelecida com terapia
imunossupressora.
Achados resumidamente indicam que os pacientes com miocardite fulminante não deveriam
ser tratados com terapia imunossupressora, na medida em que seu curso clínico é,
normalmente, o de uma recuperação espontânea.
Existe, inquestionavelmente, um grupo com inflamação miocárdica crônica que responde à essa
forma de terapia. Os dados atuais sugerem que estes pacientes exibem um processo imune
ativo e não manifestam persistência viral.
Hoje em dia, a terapia imunossupressora não pode ser recomendada para os pacientes que não
tenham uma confirmação histológica de miocardite; conseqüentemente, só está indicada
naqueles que não melhoraram com o tratamento-padrão da insuficiência cardíaca.
Em resumo, a miocardite permanece uma importante entidade, podendo ser precursora de
uma cardiomiopatia dilatada em um número desconhecido de pacientes.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS.
Pacientes afetados apresentam uma média de idade de 43 anos, mas crianças de até seis
semanas e adultos com 88 anos foram afetados pela doença.
Diagnóstico
Os pacientes são diagnosticados por biópsia endomiocárdica.
PROGNÓSTICO.
A sobrevida dos pacientes com miocardite de células gigantes é acentuadamente limitada
(média de 5 meses)
A história natural de doença de Chagas é caracterizada por três fases: aguda, latente e
crônica.
O inseto então, freqüentemente, pica a pessoa em torno dos olhos, e a infecção do hospedeiro
humano ocorre quando os tripanossomas das fezes do animal ingressam pela pele irritada, ou
pelas conjuntívas.
Em menos de 10% dos casos ocorre uma doença aguda; esta é fatal em cerca de 10% dos
pacíentes.
A patogênese das lesões miocárdicas da doença de Chagas aguda parece estar relacionada, em
grande parte, com a lise imunológica pelos anticorpos e imunidade celular, dirigida contra os
antígenos liberados pelas células infectadas pelo T. cruzi, que se tornam adsorvidas sobre a
superfície das células infectadas e não-infectadas do hospedeíro.
O crescimento do parasita T. cruzi pode ser regulado pela ativação do NOS induzido e pela
produção de citocinas.
Manifestações Clínicas.
As manifestações clínicas incluem febre, dores musculares, sudorese, hepatesplenomegalia,
miocardite com insuficiência cardíaca congestiva, derrame pleural e, ocasionalmente,
meningoencefalite.
A maioria dos pacientes se recupera, e seus sintomas se resolvem ao longo de alguns meses.
As crianças pequenas mais comumente desenvolvem doença clínica aguda e, geralmente, ficam
mais gravemente doentes do que os adultos.
Em uma média de 20 anos após a infestação inicial (em geral não reconhecida),
aproximadamente 30% dos indivíduos infectados desenvolverão sintomas da doença de
Chagas crônica, cujas manifestações abrangem um amplo espectro que varia desde os
soropositivos assintomáticos, passando por aqueles com anomalias ao ECG, aos que apresentam
doença avançada, caracterizada por cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva,
arritmias, fenômenos tromboembólicos, dor torácica atípica, bloqueio de ramo direito e morte
súbita.
PATOLOGIA
Os nervos e os gãnglios autonômicos estão, freqüentemente, anormais.
As lesões dos nervos cardíacos são rotineiramente encontradas nos pacientes com doença de
Chagas crônica, com evidência de desenervação parassimpatica.
Em mais da metade dos pacientes, o ápice ventricular esquerdo (e, ocasionalmente, o direito)
encontra-se adelgaçado e protuberante, se assemelhando a um aneurisma (Fig. abaixo)
É freqüente a formação de trombas que podem preencher boa parte do ápice; o átrio
direito comumente também os contêm.
Foi sugerido que esses aneurismas apicais característicos são o resultado de agregação
plaquetária intravascular, ocasionando necrose miocárdica focal.
Os achados microscópicos são principalmente aqueles de uma fibrose extensa,
particularmente do ventrículo esquerdo.
Manifestações clínicas.
As manifestações clínicas incluem dor torácica anginosa, doença sintomática do sistema de
condução e morte súbita; a insuficiência cardíaca progressiva crônica, freqüentemente com
predominância do lado direito, é a regra nos casos avançados.
A regurgitação tricúspide muitas vezes está presente, particularmente nos pacientes com
insuficiência cardíaca direita grave, conquanto a regurgitação mitral também esteja
freqüentemente presente.
A disfunção autonômica é comum, com anomalias marcantes das respostas reflexas esperadas
sobre a freqüência cardíaca, produzidas por diversas manobras.
Achados laboratoriais.
A radiografia de tórax muitas vezes exibe uma cardiomegalia grave, com ou sem hipertensão
venosa pulmonar.
ARRITMIAS VENTRICULARES
Constituem uma característica proeminente da doença de Chagas.
A taquicardia ventricular, induzida por estudo eletrofisiológico, é mais comum nos pacientes
com evidência de anomalias da condução ao ECG, baixa fração de ejeção e aneurismas
ventriculares apicais esquerdos, podendo predizer morte súbíta.
A síncope e a morte súbita, devida à fibrilação ventricular, são ameaças constantes que
podem se desenvolver mesmo antes da cardiomegalia ou da insuficiência cardíaca.
A bradicardia sinusal também pode ser vista, mesmo nos pacientes com insuficiência cardíaca
grave, quando a taquicardia deveria ser esperada, presumivelmente relacionada com a
disfunção autonômica cardíaca.
Imagens Não-invasivas.
Nos casos avançados, os achados ecocardiográficos são os de urna cardiomiopatia dilatada
com volumes telediastólico e teles sistólico aumentados, assim como redução da fração de
ejeção, freqüentemente com aumento do átrio esquerdo e do ventrículo direito.
Sorodiagnóstico.
O teste de fixação do complemento (teste de Machado-Guerreiro) é útil no diagnóstico;
possui alta sensibilidade e especificidade para a identificação da doença de Chagas
crônica.
TRATAMENTO.
Os pacientes com doença de Chagas' podem responder ao bloqueio beta, e há algumas
evidências de que o captopril, precocemente no curso da doença, pode aliviá-la em
modelos animais.
Eles podem prevenir não apenas a infecção inicial, mas também a reinfecção que pode
desempenhar um papel na determinação da gravidade da cardiomiopatia resultante.