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Caroline Rezende dos Santos

RA 2354888
Santo Amaro – Noturno

Defeitos na bainha de mielina e a Esclerose Múltipla (EM)

Os neurônios são células características do sistema nervoso central que possuem a


capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem estímulos advindos do
ambiente externo ou do próprio organismo.

A maior parte dos neurônios situados dentro e fora do cérebro está envolvida por
várias camadas de tecido composto por uma gordura (lipoproteína) denominada
mielina. Essas camadas formam a bainha de mielina. De forma semelhante ao
isolamento de um cabo elétrico, a bainha de mielina permite a condução dos sinais
nervosos (impulsos elétricos) ao longo do neurônio com velocidade e precisão.
Quando a bainha de mielina está danificada, os nervos não conduzem os impulsos
de forma adequada.

Quando a bainha de mielina é capaz de se reparar e regenerar por si mesma, a


função nervosa é completamente restabelecida. No entanto, quando a bainha de
mielina se lesiona gravemente, os neurônios subjacentes podem morrer. Os
neurônios do sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) não podem se
autorregenerar totalmente. Portanto, essas células nervosas são permanentemente
lesionadas.

Algumas doenças que causam a desmielinização apresentam causas


desconhecidas. Essas doenças são chamadas doenças desmielinizantes primárias.
A mais comum dessas doenças é a Esclerose Múltipla (EM), uma doença
neurológica, crônica, progressiva e autoimune. Isso significa que as células de defesa
do nosso corpo atacam nosso próprio sistema nervoso – como se ele não pertencesse
ao nosso organismo, causando lesões no cérebro e na medula.

Nos portadores de esclerose múltipla as células imunológicas invertem seu papel: ao


invés de protegerem o sistema de defesa do indivíduo, passam a agredi-lo, produzindo
inflamações. As inflamações afetam particularmente a bainha de mielina.
A desmielinização não ocorre de forma simultânea, mas sucessivamente em áreas do
sistema nervoso central. Assim o portador apresenta sintomas variados, a depender
da região afetada. Os mais comuns são fraqueza generalizada, fala com pronúncia
alterada e tontura. Também são acometidos por um alto índice de fadiga.

Na maioria das pessoas com esclerose múltipla, os períodos de saúde relativamente


bons se alternam com episódios de piora dos sintomas, mas, com o passar do
tempo, a esclerose múltipla piora gradualmente. Sabe-se que a evolução difere
de uma pessoa para outra e que é mais comum nas mulheres e nos indivíduos de
pele branca que vivem em zonas temperadas. Existem vários padrões típicos de
sintomas:

 Padrão de recaída-remissão: As recaídas (quando os sintomas


pioram) alternam com as remissões (quando os sintomas melhoram ou
não pioram). As remissões podem durar meses ou anos. As recaídas
surgem espontaneamente ou são desencadeadas por uma infecção
como a gripe.

 Padrão progressivo primário: A doença avança gradualmente sem


remissões nem recaídas óbvias, ainda que possam existir intervalos
temporários, nos quais a doença permanece estabilizada.

 Padrão progressivo secundário: Esse padrão começa com recaídas


que alternam com remissões (o padrão recaída-remissão), seguidas de
um avanço gradual da doença.

 Padrão recidivante progressivo: A doença progride gradualmente,


mas essa progressão é interrompida por recaídas súbitas. Esse padrão
é raro.

O diagnóstico é basicamente clínico, complementado por exames de imagem,


por exemplo, a ressonância magnética.

Na ressonância magnética, as lesões desmielinizantes típicas da doença tem que


preencher critérios de disseminação no tempo e no espaço: presença de uma lesão
em pelo menos 2 locais do sistema nervoso central, de quatro localizações típicas:
justacorticais/corticais; periventriculares; infratentoriais e medulares. Estas são
necessárias para cumprir o critério de disseminação no espaço. Veja nas imagens
abaixo, as áreas arredondadas na cor branca são as típicas lesões desmielinizantes
da EM, apontadas com a setas.

O exame de coleta de líquor - LCR (líquido cefalorraquidiano), material extraído por


uma punção na coluna lombar, também auxilia na confirmação do diagnóstico de EM.
A pesquisa das bandas oligoclonais (BOC) no líquor e sua interpretação é etapa
importante na investigação diagnóstica da doenças desmielinizantes.

Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento tem dois objetivos principais: abreviar
a fase aguda e tentar aumentar o intervalo entre um surto e outro. No primeiro caso,
os corticosteroides são drogas úteis para reduzir a intensidade dos surtos.
No segundo, imunossupressores e imunomoduladores ajudam a espaçar os
episódios de recorrência e o impacto negativo que provocam na vida dos portadores
de esclerose múltipla, já que é quase impossível eliminá-los com os tratamentos
atuais.

Com o tratamento correto, o paciente pode passar longos períodos sem surtos e ter
uma rotina ativa e com qualidade de vida. Para isso, é muito importante o diagnóstico
rápido, pois quanto mais cedo começar o tratamento, melhor.

Mas o tratamento da Esclerose Múltipla não deve ser feito apenas com medicamentos.
Associado ao tratamento farmacológico, deve acontecer um tratamento complementar
que abrange outras necessidades, como: fisioterapia, fonoterapia, terapia ocupacional
e principalmente apoio psicológico.
A psicóloga Ana Maria Canzoniere ministrou uma palestra na ABEM (Associação
Brasileira de Esclerose Múltipla) onde apresentou sua pesquisa sobre aspectos
psicológicos dos pacientes com EM da associação.

Foram avaliados 339 pacientes pela escala de qualidade de vida, específica para
esclerose múltipla, MSQOL -54 que avalia a percepção da saúde física e mental por
parte do paciente, demonstrando que a grande maioria ficou abaixo da média,
principalmente, no quesito saúde mental.

Os traços de personalidade também foram avaliados. Os dados significativos são as


características de rigidez e perfeccionismo que os pacientes impõem em si mesmos,
causando irritabilidade, dificuldades emocionais, ansiedade, depressão, baixa
tolerância à frustração, baixa produtividade e retraimento defensivo.

De acordo com a psicóloga esses aspectos são prejudiciais, pois “quanto maior a
rigidez, sem se permitir uma flexibilidade consigo mesmo, mais se castiga o corpo,
piorando o estado emocional e, consequentemente, a Esclerose Múltipla”.

Foi verificado também que os pacientes de EM apresentam uma alta capacidade na


recepção de estímulos, o que se considera amplitude de estímulos elevada,
significando uma facilidade desse paciente em receber muita estimulação, muita
informação e isto pode deixá-lo emocionalmente abalado, se não souber lidar com
tudo isto.

Dos pacientes avaliados, 193 apresentaram alterações cognitivas, mas a rápida


constatação auxilia no tratamento do paciente e na mudança de comportamento do
mesmo. Caso necessário, atividades para a melhora cognitiva, como exercícios de
memória, podem minimizar, prevenir ou corrigir possíveis falhas na área cognitiva.

Por isso a terapia é uma ferramenta eficaz para ajudá-los a lidar com as emoções que
surgem em todas as fases da doença, desde o diagnóstico até os estágios posteriores
à medida que a doença progride.

E além de ter um impacto sobre o indivíduo, a EM inevitavelmente afetará a vida


familiar e as amizades. Os sentimentos comuns que os familiares ou amigos podem
sentir quando um ente é diagnosticado com esclerose múltipla ou quando a doença
progride incluem tristeza, ansiedade, raiva e culpa. Com as pressões que a EM traz,
aconselhamento é uma opção útil.

As sessões de aconselhamento familiar podem fornecer um espaço seguro para que


os sentimentos e questões interpessoais sejam revelados e
resolvidos. Aconselhamento de casais também é uma ferramenta útil para trabalhar
em questões difíceis com um cônjuge ou parceiro e restaurar a comunicação e
confiança que são necessárias para uma parceria equilibrada e mutuamente
benéfica. Serviços específicos de aconselhamento estão disponíveis para crianças e
podem ser benéficos se a criança tiver dificuldades emocionais para lidar com a
doença dos pais.

A família e amigos serão uma importante fonte de apoio a longo prazo, então qualquer
atividade que possa fortalecer seus relacionamentos e evitar conflitos não resolvidos
beneficiará a todos.

Referências:

https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/esclerose-multipla/

https://www.sanofi.com.br/pt/sua-saude/esclerose-multipla/EM-diagnostico-e-
tratamento

https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-
espinal-e-dos-nervos/esclerose-m%C3%BAltipla-em-e-doen%C3%A7as-
relacionadas/esclerose-m%C3%BAltipla-em

https://www.einstein.br/doencas-sintomas/esclerose-multipla

http://abem.org.br/conhecendo-o-paciente-de-em-aspectos-psicologicos-2/

https://amigosmultiplos.org.br/tratamentos/psicologia-terapia/

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