Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONCEITO, DIAGNÓSTICO E
TRATAMENTO
INTRODUÇÃO
O envelhecimento está associado a importantes alterações no padrão do sono.
Observam-se fragmentação do sono, despertares noturnos frequentes, redução do
sono REM, diminuição da eficiência e da qualidade do sono, além de tendência a
adiantamento de fase do sono, dormindo e acordando mais cedo do que o habitual.
Essas modificações, por vezes, vêm acompanhadas de morbidades que interferem na
quantidade e/ou na qualidade do sono, como, entre outras:
depressão;
insuficiência cardíaca congestiva;
doença pulmonar obstrutiva crônica;
obesidade;
incontinência urinária.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
ESQUEMA CONCEITUAL
SONO NORMAL
insônia;
sonolência excessiva diurna;
comportamentos anormais durante o sono.
Na prática clínica, alguns idosos não se queixam diretamente dos distúrbios do sono,
uma vez que acreditam equivocadamente ser normal dormir pouco ou mal com o
envelhecimento.
POLISSONOGRAFIA
O exame de polissonografia consiste em um método diagnóstico por meio
da monitorização do sono. Para tal registro, são utilizados:
ACTIGRAFIA
A actigrafia é baseada na premissa de que, durante o sono, ocorre pouco movimento
ou atividade, ao passo que, na vigília, observam-se alguns movimentos. Para esse
registro, o indivíduo permanece com o actígrafo no punho durante aproximadamente
uma semana, preenchendo, de modo concomitante, um diário de sono.8
A actigrafia pode ser utilizada também para realizar diagnóstico dos transtornos do
ritmo circadiano, como os transtornos de avanço ou adiantamento de fase do sono.8
sonolência diurna;
irritabilidade;
alterações de humor;
redução da concentração, da memória e da atenção.
Quadro 1
FATORES QUE PODEM DESENCADEAR DE INSÔNIA
Critério Condições
fadiga/mal-estar;
atenção, concentração ou
memória;
prejuízo social, familiar ou
profissional;
alterações do
humor/irritabilidade;
sonolência diurna;
problemas de comportamento
(por exemplo, hiperatividade,
redução de
motivação/energia/iniciativa);
propensão para erros/acidentes;
preocupações sobre ou
insatisfação com o sono.
Critério Condições
ferro e ferritina;
ureia e creatinina;
hemograma;
hormônio estimulante da tireoide (TSH);
cobalamina (vitamina B12).
Critério Condições
neurolépticos;
antidepressivos – antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação
de serotonina ([INRS] por exemplo, fluoxetina), bloqueadores de recaptação
de serotonina e noradrenalina (por exemplo, venlafaxina) e mirtazapina;
biperideno;
inibidores da enzima monoaminaoxidase (MAOs).
TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DO SONO EM IDOSOS
A seguir serão apresentados aspectos referentes ao tratamento das insônias,
do TCSREM e da SPIem idosos.
No tratamento das insônias, a higiene do sono deve ser sempre realizada. A TCC para
insônia (TCC-I), por sua vez, deve ser considerada pelos clínicos.
As medidas de higiene do sono devem ser recomendadas a todos os pacientes com
insônia, independentemente da etiologia da doença (Quadro 5).
Quadro 5
MEDIDAS COMPORTAMENTAIS RELACIONADAS
A BONS HÁBITOS DO SONO
relaxamento progressivo;
biofeedback;
restrição de sono;
intenção paradoxal;
reestruturação cognitiva.
Tratamento farmacológico
A terapêutica medicamentosa é uma alternativa para o tratamento das insônias. Essa
intervenção deve ser associada, sempre que possível, à TCC-I. Ao se recomendar as
mesmas doses de fármacos administradas no adulto jovem, deve-se levar em
consideração que os pacientes idosos são mais sensíveis e, por isso, estão suscetíveis a
outros efeitos colaterais.
É essencial atentar para os medicamentos que podem interferir no sono, evitando-os,
quando possível:15
O zolpidem possui apresentações de 10mg, via oral (VO), de liberação imediata, com
meia-vida curta de 2 horas e 30min; 6,25mg e 12,5mg, VO, de liberação prolongada,
cujos comprimidos são compostos por uma parte de liberação imediata e outra de
liberação controlada, mantendo a concentração plasmática sustentada por um período
de 3 a 6 horas; 5mg, sublingual, de liberação rápida.
O zopiclone, por sua vez, tem apresentação de 7,5mg, com uso VO e meia-vida em
torno de 7 horas.2
O Quadro 6 apresenta os benefícios e os efeitos adversos do zolpidem e do zopiclone.
Quadro 6
PRINCIPAIS BENEFÍCIOS E EFEITOS ADVERSOS
DO ZOLPIDEM E DO ZOPICLONE PARA O
TRATAMENTO DE INSÔNIAS
Antidepressivos sedativos
Os antidepressivos sedativos são utilizados na insônia, principalmente quando está
associada à depressão. As baixas dosagens, inferiores àquelas recomendadas para o
tratamento da depressão, são as mais utilizadas, provocando redução na latência do
sono e nos despertares noturnos. Apresentam a vantagem de pequeno poder para
dependência e abuso.
Trazodona
A trazodona é inibidor da recaptação de serotonina e antagonista alfa-2. O efeito
sedativo está relacionado principalmente à ação antagonista do subtipo de receptor
serotoninérgico 5-HT2. Possui apresentações de 50mg de liberação imediata e 150mg
de liberação prolongada. Os principais efeitos colaterais apresentados são:17
hipotensão ortostática;
desequilíbrio;
boca seca;
sedação;
náuseas;
risco de priapismo.
Mirtazapina
A mirtazapina é classificada como um antidepressivo atípico, com efeito
noradrenérgico e serotoninérgico e efeito sedativo relacionado à ação farmacológica
antagonista histaminérgica.
ganho de peso;
sedação;
hipotensão ortostática;
boca seca.
Agomelatina
A agomelatina é um agonista de receptor melatoninérgico (MT1/MT2) e antagonista
do receptor 5-HT2C. Esse fármaco possui poucos efeitos adversos – os mais comuns
são náuseas e tonturas.3
Antipsicóticos atípicos
Os antipsicóticos atípicos, particularmente olanzapina e quetiapina, são utilizados para
o manejo da insônia associada a quadros com indicação primária para tratamento com
antipsicóticos, como transtorno bipolar, psicoses e depressão refratária ao tratamento.
Os efeitos adversos dos antipsicóticos atípicos são frequentes. São relatados com uso
da quetiapina:3
ganho de peso;
síndrome metabólica;
sintomas extrapiramidais;
sedação;
aumento do número de movimentos periódicos de membros inferiores.
Melatonina
Embora utilizada empiricamente no manejo da insônia, a melatonina não apresenta
evidências consistentes de sua eficácia hipnótica, tanto em insones quanto nos
pacientes com distúrbio do ciclo vigília-sono. Seus efeitos em reduzir a latência do
sono e os despertares noturnos são discretos.18
Anticonvulsivantes
Muitos anticonvulsivantes, entre eles a gabapentina e a pregabalina, aumentam a
função gabaérgica e, por isso, estão relacionados à melhora da qualidade do sono em
insones, epilépticos, portadores de dor crônica e de ansiedade. Ambas reduzem a
latência do sono e aumentam o sono de ondas lentas em pacientes com epilepsia e
insônia. Os efeitos colaterais incluem sedação diurna e tonteira.19
Anti-histamínicos
Os anti-histamínicos, entre eles prometazina, hidroxizina e difenidramina, apresentam
efeitos sedativos e são utilizados aleatoriamente para a insônia, porém poucas são as
evidências dos efeitos no sono.
Além da tolerância, os efeitos adversos diurnos, especialmente sedação, prejuízo da
função cognitiva, tonteira e ganho de peso, desencorajam a recomendação da classe
de fármacos anti-histamínicos para o tratamento da insônia.3
Valeriana
Os mecanismos da valeriana não são totalmente compreendidos, porém o
medicamento apresenta atividade similar aos agonistas gabaérgicos, com efeito
sedativo, ansiolítico e miorrelaxante. Também existem evidências de seu efeito
serotoninérgico.
A valeriana – classificada como sedativo e hipnótico leve – é bem tolerada e seus
efeitos colaterais são pouco relevantes, inclusive em causar sonolência diurna. Esse
fármaco, quando utilizado em adultos saudáveis e em insones, mostra redução na
latência do sono, porém os estudos são inconsistentes em provar a efetividade da
planta na manutenção do sono em comparação ao placebo.3
Benzodiazepínicos
O uso crônico de benzodiazepínicos não é recomendado no tratamento da insônia em
idosos, pois, além da baixa eficácia com o tratamento continuado, eles podem causar
dependência, tolerância, abstinência, maior risco de acidentes que levam a quedas e
fraturas, prejuízo da cognição e do estado funcional, bem como risco de intoxicação
fatal.
Apesar de os benzodiazepínicos ainda serem bastante utilizados em idosos, novas
formas de tratamento – como a TCC-I e, em alguns casos, o uso de outras classes de
medicamentos – têm levado a uma queda progressiva na prescrição desses
fármacos.20
TRATAMENTO DO TRANSTORNO COMPORTAMENTAL DO SONO REM
A seguir, serão apresentadas considerações sobre o tratamento não farmacológico e
farmacológico do TCSREM.
Tratamento farmacológico
Os fármacos clonazepam e melatonina podem ser utilizados como primeira escolha no
tratamento do TCSREM. A melatonina é o único medicamento que possui estudo
duplo-cego randomizado e que reduz a perda de atonia no sono REM.
avaliar as morbidades que podem estar associadas ao uso dos fármacos, como
deficiência de ferro;
checar a ferritina sérica antes de se iniciar o tratamento.
CONCLUSÃO
Os distúrbios do sono, cujas causas são multifatoriais, têm sua prevalência aumentada
com o envelhecimento. É essencial que essas condições sejam reconhecidas e tratadas
adequadamente, pois trazem consigo riscos, entre eles o aumento da incapacidade na
população idosa.
Insônia, SPI e TCSREM são os principais distúrbios do sono em idosos, assim como
a SAOS– já abordada no PROGER. O diagnóstico deve ser realizado por meio de
anamnese benfeita, em que se procura detectar os fatores associados. Em alguns
casos, deve-se aplicar também a polissonografia.
REFERÊNCIAS
1. Moraes WAS, Poyares D. Sono e envelhecimento. In: Tufik S, editor. Medicina e
biologia do sono. Barueri: Manole; 2008. 429-39.
2. Minhoto G, F H, de Bruim VM, Moraes WAS. Insônia: do diagnóstico ao
tratamento. In: Bacelar A, Pinto Júnior LR, editores. III Consenso Brasileiro de
Insônia. São Paulo: Omnifarma; 2013. p. 35-40.
3. Pradella-Hallinan M, Moreira GA. Sono normal e distúrbios do sono na criança e
adolescente. In: Tufik S, editor. Medicina e biologia do sono. Barueri: Manole; 2008.
p. 147-60.
4. Hipólide D. Bases neurais do ciclo vigília e sono. In: Tufik S, editor. Medicina e
biologia do sono. Barueri: Manole; 2008. p. 34-47.
5. Shelgikar AV, Chervin R. Approach to and evaluation of sleep disorders. continuum
(Minneap Minn). 2013 Feb;19(1):32-49.
6. Park M, Buchman AS, Lim AS, Leurgans SE, Bennett DA. Sleep complaints and
incident disability in a community-based cohort study of older persons. Am J Geriatr
Psychiatry. 2014 Feb;22(7):718-26.
7. Sateia MJ. International classification of sleep disorders-third edition: highlights
and modifications. Chest. 2014 Nov;146(5):1387-94.
8. Morgenthaler T, Alessi C, Friedman L, Owens J, Kapur V, Boehlecke B, et al.
Practice parameters for the use of actigraphy in the assessment of sleep and sleep
disorders: an update for 2007. Sleep. 2007 Apr;30(4):519-29.
9. Rodriguez JC, Dzierzewski JM, Alessi CA. Sleep problems in the elderly. Med Clin
North Am. 2015 Mar;99(2):431-9.
10. American Academy of Sleep Medicine. American International classification of
sleep disorders. 3rd ed. Darien: American Academy of Sleep Medicine; 2014.
11. Pinto Júnior LR, Alves RC, Caixeta E, Fontenelle JA, Bacellar A, Poyares D, et al.
New guidelines for diagnosis and treatment of insomnia. Arquivos de Neuro-
Psiquiatria. 2010 Aug;68(4):666-75.
12. Eckeli AL, Gitai LL, Dach F, Ceretta H, Sander HH, Passos AD, et al. Prevalence of
restless legs syndrome in the rural town of Cassia dos Coqueiros in Brazil. Sleep Med.
2011 Sep;12(8):762-7.
13. Iranzo A, Santamaria J, Tolosa E. The clinical and pathophysiological relevance of
REM sleep behavior disorder in neurodegenerative diseases. Sleep Med Rev. 2009
Dec;13(6):385-401.
14. Morin CM, Vallieres A, Guay B, Ivers H, Savard J, Merette C, et al. Cognitive
behavioral therapy, singly and combined with medication, for persistent insomnia: a
randomized controlled trial. JAMA. 2009 May;301(19):2005-15.
15. Huedo-Medina TB, Kirsch I, Middlemass J, Klonizakis M, Siriwardena AN.
Effectiveness of non-benzodiazepine hypnotics in treatment of adult insomnia:
meta-analysis of data submitted to the Food and Drug Administration. BMJ. 2012
Dec;345:e8343.
16. Wiegand MH. Antidepressants for the treatment of insomnia: a suitable
approach? Drugs. 2008;68(17):2411-7.
17. Mittur A. Trazodone: properties and utility in multiple disorders. Expert review of
clinical pharmacology. 2011 Mar;4(2):181-96.
18. Ferracioli-Oda E, Qawasmi A, Bloch MH. Meta-analysis: melatonin for the
treatment of primary sleep disorders. PloS one. 2013 May;8(5):e63773.
19. Cho YW, Song ML. Effects of pregabalin in patients with hypnotic-dependent
insomnia. J Clin Sleep Med. 2014 May;10(5):545-50.
20. Bierman EJ, Comijs HC, Gundy CM, Sonnenberg C, Jonker C, Beekman AT. The
effect of chronic benzodiazepine use on cognitive functioning in older persons: good,
bad or indifferent? Int J Geriatr Psychiatry. 2007 Dec;22(12):1194-200.
21. Trotti LM. REM sleep behaviour disorder in older individuals: epidemiology,
pathophysiology and management. Drugs Aging. 2010 Jun;27(6):457-70.
22. Trenkwalder C, Winkelmann J, Inoue Y, Paulus W. Restless legs syndrome-current
therapies and management of augmentation. Nat Rev Neurol. 2015 Aug;11(8):434-
45.
REFERÊNCIA RECOMENDADA
Satomi E. Síndrome da apneia obstrutiva do sono em idosos. In: Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia; Kitner D, Jaluul O, organizadores. PROGER Programa de
Atualização em Geriatria e Gerontologia: Ciclo 1. Porto Alegre: Artmed
Panamericana; 2015. p. 95-124 . (Sistema de Educação Continuada a Distância, v.1).
Como citar a versão impressa deste documento
Cavalcanti AA, Braga ILS, Abreu CFSN, Braga Neto P, Sobreira Neto MA. Distúrbios do
sono em idosos: conceito, diagnóstico e tratamento. In: Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia; Kitner D, Jaluul O, organizadores. PROGER Programa de
Atualização em Geriatria e Gerontologia: Ciclo 2. Porto Alegre: Artmed Panamericana;
2016. p. 69-98. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1).