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MSc. Stefanie Ane Valério de Souza

O uso dos fitocanabinóides como o canabidiol (CBD)


no tratamento dos distúrbios do sono

O sono é um processo fisiológico vital que desempenha papel fundamental nas


funções restauradoras, essenciais para o funcionamento do nosso organismo. Ele
contribui para a homeostase corporal, modulando nossos níveis de energia, habilidade
cognitiva e outras funções-chave. O Centro Nacional de Pesquisa sobre Distúrbios do
Sono dos EUA recomenda de sete a nove horas de sono de qualidade todas as noites
para um ótimo bem-estar. Assim, a maioria das pessoas luta para descansar
minimamente o suficiente.

A saúde ideal do sono envolve vários fatores, incluindo duração, tempo para
início, eficiência e sensação de sono restaurador, que deixa o indivíduo alerta e funcional
ao longo do dia. Ter um sono disfuncional é ruim tanto para a saúde física quanto
mental, sendo parte fundamental de quase todos os transtornos psiquiátricos humanos.

A insônia é o distúrbio do sono mais comum no mundo, mas não é o único.


Aproximadamente 30-35% da população em geral relata ter o sono inadequado (Liu,
2016), o que pode ser parcialmente devido a escolhas de estilo de vida, emprego ou
outras demandas, e apenas parte deles podem ser relacionados aos distúrbios do sono
não tratados, como insônia e apneia obstrutiva do sono (AOS).

A National Sleep Foundation relata que cerca de 70 milhões de americanos lutam


com alguma forma de insônia ou distúrbio do sono, que para muitos é crônica. Como o
sono é essencial na manutenção da nossa saúde, muitas pessoas recorrem a alguma
forma de auxílio para garantir seu descanso, em especial os medicamentos indutores
do sono. No entanto, muitos desses medicamentos apresentam efeitos colaterais
consideráveis e nem sempre conseguem fornecer aos pacientes o alívio ou melhora

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esperada. Também existem os custos financeiros diretos e indiretos dos distúrbios do


sono, como os atribuíveis aos cuidados de saúde, perda de produtividade e acidentes
rodoviários, que são substanciais. Apenas os custos decorrentes do transtorno de
insônia crônica passam a casa dos bilhões anuais nos EUA, indicando uma forte
necessidade de intervenção clínica.

Um aliado que tem chamado a atenção de médicos e pesquisadores é o uso da


Cannabis no tratamento de distúrbios do sono. A planta tem sido usada para fins
médicos e adultos durante séculos, especialmente devido ao seu efeito relaxante e
sedativo. Segundo um psiquiatra especialista em tratamento do sono e dependência “a
Cannabis pode ser muito eficaz em ajudar as pessoas a dormir porque pode restaurar
seu ciclo natural de sono, arruinado por agendas agitadas e um estilo de vida moderno”
– Dr. Bhanuprakash Kolla.

De acordo com alguns estudos, o uso da planta pode reduzir o tempo que leva
para adormecer e prolongar o tempo de sono profundo - fase em que ocorre o processo
de restauração, enquanto encurta o tempo gasto no sono REM – a fase do sono na qual
ocorrem os sonhos mais vívidos. A Cannabis tem diferentes compostos químicos
naturais como os fitocanabinóides, terpenos e flavonoides que podem afetar o sono.
Assim, diferentes cepas podem ter efeitos diferentes, sendo energizantes, calmantes ou
sedativos, dependendo do equilíbrio entre os diferentes compostos de cada cepa
específica.

Por esses e outros motivos, atualmente há uma tendencia crescente do uso de


fitocanabinóides como o CBD e o THC em formulações como soníferos. Assim, é
fundamental obter uma melhor compreensão das bases neurobiológicas do sono, bem
como o papel fisiológico do sistema endocanabinóide e sua modulação com os
fitocanabinóides para o tratamento dos distúrbios relacionados ao sono.

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O sono é de suma importância para que o indivíduo possa restaurar suas energias
e então conseguir executar as funções normais no dia seguinte. O sono humano é
composto por diferentes fases. Uma delas é caracterizada pelo movimento rápido dos
olhos, o chamado sono REM (do inglês rapid eyes moviment) ou ainda sono paradoxal
devido ao fenótipo do EEG (ondas dessincronizadas e de baixa amplitude) semelhante
ao estado de vigília. Existe também o chamado sono de ondas lentas ou sono não REM
ou ainda NREM, que pode ser subdividido em quatro fases, de acordo com a
“profundidade” do sono em estágio 1, 2, 3 e 4. Isso permite que os investigadores
comparem o estado do cérebro e os padrões de movimento (Figura 1) que graças ao
eletroencefalograma (EEG) foram reconhecidos como característicos das diferentes
fases do sono (Aloe et al., 2005).

Figura 1. Diferença nos registros de eletroencefalograma (EEG) nas diferentes fases do sono.

Três processos básicos fundamentam a regulação do sono: (1) Um processo


homeostático que medeia o aumento da propensão ao sono durante a vigília e sua
dissipação durante o sono; (2) um processo circadiano, um mecanismo semelhante a
um relógio que é basicamente independente do sono e vigília anteriores e determina a
alternância de períodos com alta e baixa propensão ao sono; e (3) um processo
ultradiano que ocorre dentro do episódio de sono e representado pela alternância dos
dois estados básicos de sono, sono não REM e sono REM (Figura 3).

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Figura 3. Modelo de dois processos de regulação do sono. Processo Homeostático de regulação do sono
se acumulando ao longo do dia e sendo dissipado durante o sono (cinza). Sol e lua formam a curva que
representa o Processo Circadiano de regulação do sono. Em Vermelho outra curva representando a
propensão ao sono consequente da ação dos dois processos. Fonte: Borbely and Acherman, 1999.

O sistema endocanabinóide ou SEC é o principal sistema de modulação da


homeostase corporal, formado pelos receptores canabinóides CB1 e CB2, seus ligantes
endógenos (anandamida e 2-AG) e a maquinaria enzimática responsável pela síntese e
degradação destes compostos. Este sistema está presente por todo o corpo,
principalmente no SNC, por isso os endocanabinóides podem ser produzidos por quase
todos os tipos de células.

As evidências sugerem que também há atividade cronobiológica no próprio SEC,


que está envolvido na regulação do ciclo circadiano de sono-vigília (Sanford et al., 2008),
incluindo a manutenção e promoção do sono (Vaughn et al., 2010). Os
endocanabinóides mostraram flutuações circadianas nos níveis plasmáticos em
pessoas saudáveis. Os níveis mais elevados de AEA ocorreram ao acordar e os mais
baixos imediatamente antes do início do sono, padrão que é alterado pela interrupção
do sono. No entanto, nenhum efeito de interrupção do sono foi observado quando a
AEA foi medida no líquido cefalorraquidiano (LCR).

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Estudos em animais demonstraram que o LCR contém níveis flutuantes diurnos


de AEA. Da mesma forma, na ponte, uma região do tronco cerebral conhecida por estar
envolvida na regulação sono-vigília, os níveis de AEA são baixos durante a fase de luz
quando os ratos passam mais tempo dormindo, e então aumentam durante a fase
escura, correspondendo ao aumento da excitação e das atividades de vigília. Por outro
lado, a expressão da proteína do receptor canabinóide CB1 na ponte mostra variações
diurnas, com pico durante os períodos de luz. As interações entre as flutuações diurnas
nos níveis de AEA e CB1 nesta região do tronco cerebral podem contribuir para as
transições ou manutenção dos estados de sono-vigília. No hipotálamo, os níveis de AEA
são mais elevados durante a fase de luz quando os animais passam mais tempo
dormindo, sugerindo que a atividade do SEC aqui pode modular as variações diurnas em
comportamentos homeostáticos como a alimentação, associada à atividade
hipotalâmica.

No núcleo accumbens, córtex pré-frontal, estriado e hipocampo, estruturas


associadas às funções do sistema límbico e sensório-motor, como aprendizado,
memória e controle de ação, 2-AG e AEA mostram ritmos diurnos inversos, com o 2-AG
mais alto durante a fase diurna e a AEA mais elevada durante a fase escura, indicando
que o papel distinto que os endocanabinóides desempenham no sono-vigília é complexo
e precisa de mais elucidação. Uma possível explicação para as mudanças opostas nos
níveis dos endocanabinóides durante os períodos de claro e escuro pode ser que,
enquanto AEA pode promover o sono, o 2- AG pode promover a vigília. Assim, foi
levantada a hipótese de que o SEC serve como a ligação entre os sistemas de regulação
circadiana, ou seja, núcleo supraquiasmático (Figura 4) e os processos comportamentais
e fisiológicos que são afetados, incluindo o sono.

Figura 4. Localização do núcleo supraquiasmático (SCN) no cérebro humano. Fonte: Divisão de Medicina
do Sono da Harvard Medical School (http://healthysleep.med.harvard.edu/image/200).

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O papel do SEC nos ritmos circadianos foi reforçado por um trabalho que
demonstra que a falta de sono normal causa desregulação dentro do sistema
endocanabinóide, enquanto a elevação no nível do receptor canabinóide está envolvido
no processo homeostático recuperação do sono após sono anormal (Vaughn et al.,
2010). A flutuação diurna dos níveis de endocanabinóides em estruturas límbicas e
sensório-motoras pode refletir seu papel complexo na aprendizagem relacionada ao
comportamento acordado, por exemplo, aprendizagem associativa relacionada ao
controle de ação e aprendizagem relacionada ao sono-comportamento, por exemplo,
consolidação da memória dependente do hipocampo. A perturbação do sono também
estava entre os efeitos colaterais relatados nos ensaios clínicos do antagonista/agonista
inverso CB1 - rimonabanto, o que corrobora com as evidências supracitadas que os
canabinoides podem contribuir para a estabilidade do sono em humanos pela
modulação do SEC.

O fitocanabinóide – canabinóide originário da Cannabis sativa - responsável pelo


efeito psicoativo da planta é o delta-9-tetraidrocanabinol ou THC, que pode fazer com
que uma pessoa entre no estado de euforia e de alteração na percepção da realidade.
Mas, além disso, o THC também apresenta propriedades terapêuticas importantes,
como a ação analgésica e antiemética, além de ser conhecido por seus efeitos sedativos,
o que pode ajudar a adormecer mais rapidamente. Estudos com animais de laboratório
e em humanos indicam que o THC tem efeitos hipnogênicos, mas pouco se sabe sobre
os mecanismos celulares dessa ação. No nosso organismo, o CB1 é o principal alvo do
∆-9-THC, que atua como um agonista parcial deste receptor.

Pessoas que fazem uso regular de Cannabis apresentam distúrbios do sono,


especialmente durante a abstinência, assim, também é importante compreender os
mecanismos subjacentes aos efeitos do THC crônico e outros compostos derivados da
Cannabis, como o canabidiol (CBD). O canabidiol é conhecido por promover o
relaxamento e não apresenta psicoatividade, por isso é mais utilizado na prática clínica.
O CBD é indicado na redução da ansiedade, no alívio da dor e da inflamação e até na
concentração mental. No sono, a administração de CBD demonstrou ter efeitos
diferenciais com base na dose (Babson et al., 2017).

Na verdade, o CBD em baixa dosagem tem um efeito estimulante, enquanto em


altas doses tem um efeito sedativo. Em um estudo envolvendo indivíduos com insônia,
os resultados sugeriram que a administração de 160 mg / dia de CBD aumentou o tempo
total de sono e diminuiu a frequência de despertares durante a noite (Carlini e Cunha,
1981), enquanto o CBD de baixa dosagem foi associado ao aumento da vigília (Zuardi,
2008). Outro fitocanabinóide importante na modulação do sono é o canabinol (CBN). O
CBN é conhecido por ser analgésico e possuir propriedades anti-inflamatórias. É muito
reconhecido pelos poderosos efeitos sedativos, que em combinação com o THC parece
aumentar ainda mais esses efeitos.

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Um conjunto de experimentos que totalizaram mais de 11 mil horas de registros


de ECoG / EMG em camundongos após diferentes tratamentos direcionados ao SEC
demonstraram que o sistema desempenha um papel na modulação da estabilidade dos
estados de vigilância, ao invés de impulsionar as mudanças no sono. A estimulação do
SEC teve efeitos bifásicos, com aumento do sono na fase escura e redução do sono na
fase clara, o que corrobora com a teoria da manutenção da homeostase. Existem vários
locais, tanto na periferia e quanto no SNC, que os canabinóides podem atuar
influenciando o sono. Ainda não está claro qual endocanabinóide tem um papel mais
proeminente nos efeitos hipnóticos, tanto o 2-AG quanto a AEA podem estar envolvidos,
mas sua atuação no sono envolve o receptor CB1 (Pava et al., 2016).

Figura 5. Efeitos gerais da atividade do receptor canabinóide tipo 1 (CB1) no sono de ondas
lentas (SWS) e no sono paradoxal (PS) em roedores e humanos. As linhas superior e inferior mostram
tendências relacionadas a SWS e PS, respectivamente. O painel de roedores ilustra tendências
extrapoladas de Pava et al. (2016). As tendências humanas são ilustradas usando setas que mostram a
direção, ou seja, aumento ou diminuição geral, da mudança em SWS e PS associada ao uso inicial de
Cannabis, uso estendido e tolerância associada e cessação de uso (Kesner and Lovinger, 2020).

Estudos mostraram que o antagonismo desse receptor elimina os efeitos de


promoção do sono vistos quando há elevação aguda de endocanabinoides e agonistas
CB1. Além disso, a aplicação de agonistas inversos CB1 reduziu o sono NREM, indicando
um papel para a sinalização canabinóide mediada por CB1 na promoção do sono, mesmo
sem o aumento na sinalização endocanabinoide. É provável que o THC também produza
efeitos agudos de promoção do sono e perturbações crônicas do sono por meio de suas
ações conhecidas no receptor CB1. Os mecanismos intracelulares subjacentes à ativação
do CB1 já são conhecidos e provavelmente são os primeiros passos na promoção do
sono (Figura 6).

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Figura 6. Mecanismos moleculares da ação central dos canabinóides. Diagrama esquemático das
perturbações do sistema endocanabinóide (eCB) que foram usadas em experimentos e alteraram o sono.
Os eCBs, seja anandamida / N-araquidonoiletanolamina (AEA) ou 2-araquidonoilglicerol (2-AG), são
gerados e então liberados do neurônio pós-sináptico e tipicamente agem nos receptores pré-sinápticos
CB1 para reduzir a liberação do neurotransmissor pré-sináptico através de várias cascatas de sinalização
intracelular. AEA e 2-AG são então catabolizadas pelas enzimas amida hidrolase de ácido graxo (FAAH) e
monoacilglicerol lipase (MAGL), respectivamente. Adaptado de Kesner and Lovinger, 2020.

As adaptações na transmissão sináptica produzida pela exposição crônica ao THC


fornecem informações sobre os mecanismos que podem contribuir para a interrupção
do sono. Há evidências fisiológicas consideráveis de que a ativação do receptor CB1 e
consequente inibição da liberação de neurotransmissores é reduzida ou perdida após a
exposição crônica ao THC. Esta tolerância funcional foi observada nas sinapses
glutamatérgicas e GABAérgicas em regiões do cérebro, incluindo o estriado dorsal, o
hipocampo e o núcleo accumbens. Mas os mecanismos moleculares que ocorrem nos
terminais dos axônios que medeiam a perda da modulação sináptica ainda não são
totalmente compreendidos.

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A pesquisa pré-clínica ofereceu uma visão geral sobre as ações centrais dos
principais fitocanabinóides - THC e CBD, na alteração dos estados de sono-vigília e sua
fisiologia. Estudos usando gravações de EEG em camundongos, ratos, coelhos, gatos e
macacos começaram no final da década de 1960 com relatos de que, em geral, extratos
de Cannabis contendo uma combinação de compostos fitocanabinoides produziram
um aumento de NREM e uma redução de REM, apresentando algumas evidências de
tolerância após regimes de tratamento crônicos. Entre esses relatórios iniciais, vários
estudos mostraram efeitos sinérgicos de um extrato de Cannabis contendo THC e CBD
com o sono causado por anestésicos e outros compostos hipnogênicos potentes.

A pesquisa clínica sobre o impacto da Cannabis no sono começou em 1970 e


incluiu uma série de estudos examinando o sono baseado em exames de polissonografia
(PSG). Isso resultou em descobertas com alguns trabalhos mostrando uma diminuição
na latência para início do sono (Cousens and DiMascio, 1973) e diminuição dos
despertares (Pivik et al., 1972), enquanto outro trabalho não replicou esses resultados
(Feinberg et al., 1975), mas, em vez disso, observou um aumento no sono de ondas
lentas (Pivik et al., 1972; Barratt et al., 1974) e uma diminuição no REM (Pivik et al.,
1972; Feinberg et al., 1975; Feinberg et al., 1976). Trabalhos adicionais desta época
também sugeriram que a Cannabis pode ter um benefício de curto prazo no sono,
particularmente em reduzindo a latência do início do sono (Chait, 1990). No entanto, o
uso crônico da planta pode estar associado à habituação de indução ao sono e aumento
no sono de ondas lentas (Pranikoff et al., 1973).

Alguns trabalhos sugeriram que o uso a longo prazo de Cannabis poderia têm
um impacto negativo no sono de duas maneiras principais. Primeiro, indivíduos podem
se encontrar em um ciclo vicioso do uso da planta para controlar o sono, habituando-se
aos efeitos e usando mais Cannabis para obter o efeito desejado, o que pode ocasionar
em padrões problemáticos de uso. Em segundo lugar, os distúrbios do sono são a marca
registrada da abstinência de Cannabis e podem servir para manter o uso dela na
intenção de prever recaídas (Babson et al., 2017).

Diminuições no tempo total de sono, eficiência do sono, sono NREM e REM


foram observadas durante a abstinência em usuários pesados de Cannabis. A latência
para o início do sono, acordar após dormir e movimentos periódicos dos membros
também estão aumentados nesses usuários abstinentes (Bolla et al., 2008, 2010;
Vandrey et al., 2011). Em um estudo transversal usando PSG, os pesquisadores
demonstraram que a interrupção abrupta do uso entre os usuários frequentes de
Cannabis foi associada a uma diminuição no total tempo de sono, eficiência do sono e
% REM. Além disso, foi observado o aumento dos despertares após o início do sono,
latência para início do sono e aumento dos movimentos periódicos dos membros (Bolla
et al., 2010).

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Outro trabalho avaliando o sono de uma amostragem de usuários de Cannabis


mostrou que a interrupção abrupta foi associada a um aumento na latência para início
do sono e % de sono REM, enquanto um declínio na eficiência do sono foi observado.
Como um todo, o sono auto-relatado e os índices objetivos de sono têm demonstrado
de forma consistente um sono de má qualidade durante a retirada de Cannabis (Vandrey
et al., 2011).

Há décadas os trabalhos vêm demostrando que a exposição aguda a Cannabis,


especialmente ao fitocanabinóide THC, reduz a latência do início do sono, diminuiu os
despertares após o início do sono, além de aumentar o sono de ondas lentas e diminuir
o sono REM. Em 2017, uma pesquisa com mais de 1.500 pacientes em um dispensário
de Cannabis medicinal indicou que cerca de dois terços dos pacientes diminuíram o uso
de medicamentos farmacêuticos para dormir após o início do uso de Cannabis medicinal
(Piper et al., 2017). Embora de fato vários estudos indiquem que a exposição crônica ao
THC e outros compostos agonistas CB1 pareça produzir uma melhora do sono, a
qualidade desses dados atuais foi considerada baixa em uma metanálise baseada na
Cochrane (Mucke et al., 2018). Outra revisão crítica da literatura de ensaios clínicos
(Kuhathasan et al., 2019) enfatizou a necessidade de novos ensaios clínicos controlados
em grande escala.

Ainda assim, muitos usuários de Cannabis alegam que o principal motivador do


uso são as melhorias no sono. É evidente que a Cannabis e os fitocanabinoides têm
efeitos agudos relacionados ao sono, também está claro que a exposição repetida ao
THC produz tolerância às ações da droga, inclusive no sono. Isso pode levar à
necessidade de aumentar as dosagens para se obter a ação promotora do sono. Mas as
evidências de ação dos canabinoides em distúrbios do sono não são apenas baseadas
no autorrelato ou autopercepção dos usuários. Tanto os estudos mais antigos quanto os
mais recentes forneceram evidências polissonográficas que correspondem ao
autorrelato dos sujeitos.

Em um estudo clínico, Johnson e colaboradores testaram a segurança e


tolerabilidade em longo prazo de dois sprays de diferentes fitocanabinóides no alívio da
dor em pacientes com câncer avançado. Um total de 43 pacientes continuaram de um
ensaio clínico randomizado anterior com três braços, envolvendo uma administração
aberta de um spray com THC / CBD (n = 39) ou um spray apenas de THC (n = 4). Embora
os resultados tenham revelado uma redução consistente na percepção da dor, os
participantes também relataram uma diminuição na insônia, o que também refletiu em
menos fadiga. Os canabinóides podem ter um efeito duplo de diminuir a dor - o que
torna mais fácil dormir, além de seus próprios efeitos ansiolíticos e soníferos diretos
serem mediados em parte pela atividade serotonérgica (Johnson et al., 2013).

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O CBD isolado também pode ser benéfico nos distúrbios do sono. Um estudo de
caso detalhado na literatura sobre uma menina de 10 anos com trauma de primeira
infância (Shannon and Opila- Lehman, 2016). A tentativa de tratamento com óleo de
CBD oral (25 mg) resultou na diminuição na ansiedade da paciente e melhora na
qualidade e quantidade de seu sono. Uma série de casos retrospectivos mais
substanciais de 72 adultos que receberam CBD para ansiedade e queixas de sono em
uma clínica psiquiátrica (como um complemento ao tratamento usual) avaliou os dados
dos pacientes mensalmente durante 12 semanas (Shannon et al., 2019). Os escores de
ansiedade na Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton (HAMA) diminuíram no
primeiro mês em 79% da amostra e permaneceram baixos durante a duração do estudo.
A pontuação do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh também melhorou no
primeiro mês em 67% da amostra, mas flutuou com o tempo. Deve-se notar que os
dados não foram analisados quanto à significância estatística, e parecia que a
subamostra que se apresentava principalmente para tratamento da ansiedade não se
saiu tão bem quanto a coorte que se apresentou principalmente com problemas de
sono.

Em um estudo cruzado randomizado, os pesquisadores avaliaram as


concentrações séricas de AEA ao longo de um período de 24 horas em quatorze jovens
adultos. Antes da coleta de sangue de 24 horas, cada participante foi exposto a duas
noites de sono normal (8,5 h) ou restrito (4,5 h). As duas condições de sono foram
separadas por pelo menos um mês. Os autores concluíram que o ritmo de 24 horas do
AEA é marcadamente diferente do 2-AG, sendo de menor amplitude e bifásico, em vez
de monofásico. Estas observações sugerem vias regulatórias distintas dos dois
endocanabinóides e indicam que a hora do dia precisa ser cuidadosamente controlada
em estudos que tentam delinear seus papéis relativos. Além disso, ao contrário do 2-
AG, a AEA não é alterada pela restrição do sono, sugerindo que perturbações fisiológicas
podem afetar AEA e 2-AG de formas diferentes. Perfis semelhantes de 24 horas foram
observados para outros canabinóides endógenos como OEA e PEA após sono normal e
sono restrito, corroborando ainda mais a validade da forma de onda e a falta de resposta
à perda de sono oobservada no perfil AEA. Assim, as abordagens terapêuticas
envolvendo a modulação da sinalização canabinóide periférica precisam ser adaptadas
de acordo com a hora do dia (Hanlon, 2020).

A maioria das pesquisas sobre os efeitos dos canabinóides no sono, e em geral,


enfocou os efeitos do THC purificado, ou preparações de Cannabis com níveis
relativamente altos de THC em comparação com outros fitocanabinóides. No entanto,
o interesse recente nas aplicações terapêuticas para o CBD deu início a novos estudos
com foco neste fitocanabinóide, incluindo seus efeitos no sono. Em um estudo, os
efeitos de THC e CBD combinados foram relatados, com o THC geralmente aumentando
a sedação e o CBD tendo efeitos opostos de intensificação da vigília (Nicholson et al.,
2004).

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Um estudo de longo prazo avaliou a qualidade do sono e a ação do CBD usando


autorrelato dos pacientes e encontrou melhora modesta no sono e mais pacientes com
sono melhor em comparação com sono pior (Shannon et al., 2019). Outro estudo
usando a formulação de extrato de Sativex (contendo doses aproximadamente iguais de
∼2 mg de THC e CBD) foi realizado para examinar indivíduos com distúrbios do sono
relacionados à dor relatou sono melhorado sem evidência de tolerância à ação da droga
ou adição (Russo et al., 2007).

Outro ensaio clínico recente que avaliou os efeitos agudos de 100 mg de CBD
versus uma preparação de Cannabis dominante em CBD descobriu que a inalação de
vapor da planta rica em CBD aumentou a sonolência subjetiva. Os pesquisadores
observaram que o CBD sozinho não teve efeitos significativos na sonolência, então,
possivelmente, os efeitos da planta dominante em CBD foram devido às quantidades
pequenas (3,7 mg) de THC em sua preparação (Spindle et al., 2020). Essa concentração
é semelhante como encontrado em muitos produtos comerciais de CBD chamados
espectro total ou '' full spectrum '' (<0,3% THC) (Corroon e Kight, 2018), outro indício de
que mais pesquisas controladas sobre os efeitos desses produtos são necessárias. Ainda
não está totalmente esclarecido se a administração aguda desta dose relativamente
baixa de THC sozinha é suficiente para produzir sonolência, ou se tem efeitos sinérgicos
com CBD e outros fitocanabinóides na cepa de Cannabis dominante em CBD usada neste
estudo pelo conhecido efeito comitiva ou “entourage”.

A administração de canabidiol demonstrou ter efeitos diferenciais no sono com


base na dose (Babson et al., 2017). Em baixa dosagem, o CBD tem um efeito estimulante,
enquanto em altas doses tem um efeito sedativo. Em um estudo envolvendo indivíduos
com insônia, os resultados sugeriram que a administração de 160 mg / dia de CBD
aumentou o tempo total de sono e diminuiu a frequência de despertares durante a noite
(Carlini e Cunha, 1981), enquanto o CBD de baixa dosagem foi associado ao aumento da
vigília (Zuardi, 2008).

Em uma revisão sistemática recente, Suraev e colaboradores analizaram 14


estudos pré-clínicos e 12 estudos clínicos relacionados ao tratamento de distúrbios do
sono com canabinoides. O resultado indicou que ainda existem evidências insuficientes
para apoiar o uso clínico rotineiro dos canabinoides, mas que os dados preliminares são
promissores, provendo um ótimo racional para os futuros ensaios clínicos randomizados
(Suraev et al., 2020).

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Conclusões

Neste artigo está resumido o estado atual de conhecimento sobre a função


endocanabinóide relacionada ao sono, derivado de pesquisas em humanos e modelos
animais. Além disso, é descrito o mecanismo de ação proposto para a atividade
farmacológica de canabinóides como o canabidiol no tratamento dos distúrbios do sono.
Conforme vimos, as evidências clínicas atualmente disponíveis para essa indicação são
fracas já que até o momento nenhum ensaio clínico randomizado controlado foi
localizado na literatura avaliando especificamente canabinoides isolados ou fórmulas de
plantas inteiras.

De maneira geral, as pesquisas sugerem que o uso da planta Cannabis a curto


prazo pode ter um impacto terapêutico no sono, especificamente relacionado ao tempo
para o início do sono e ao sono de ondas lentas. No entanto, o uso crônico de longo
prazo está associado à habituação aos benefícios para aumentar o sono e a um risco
aumentado de dependência da Cannabis. No caso de medicamentos a base de
fitocanabinóides como o CBD, esse risco não ocorre. Estudos observacionais e pré-
clinicos com canabidiol para distúrbios do sono indicam que os fitocanabinóides podem
ser um grande aliado na melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Atualmente, existe pelo menos um estudo clínico controlado em larga escala


para avaliar os efeitos do THC e CBD no sono em pacientes com insônia diagnosticada.
Dessaforma, os ensaios clínicos com canabinoides na apneia obstrutiva do sono e
insônia que estão em andamento são mais um passo rumo a uma melhor compreensão
do papel dessa terapia no tratamento dos distúrbios do sono. Mesmo assim, ainda são
necessários mais estudos clínicos controlados para avançar nossa compreensão dos
efeitos do canabinóides no sono e suas implicações clínicas.

Pesquisas sobre o papel da Cannabis na insônia sugerem que o canabidiol (CBD)


pode ter potencial terapêutico para seu tratamento. O tetrahidrocanabinol (THC) pode
diminuir a latência do sono, mas pode prejudicar a qualidade do sono a longo prazo.
Assim, o CBD e formulações holísticas ricas em CBD podem ser uma promessa para o
transtorno de comportamento do sono REM e sonolência diurna excessiva, reduzir os
pesadelos associados ao TEPT e melhorar a qualidade do sono de diversos pacientes.

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Highlights

1) Indivíduos que usam Cannabis medicinal geralmente o fazem para tratar ou


controlar distúrbios do sono, como insônia, com muitos autorrelatos que são altamente
eficazes no controle de seus sintomas.

2) Uma revisão sistemática considerou as evidências clínicas e pré-clínicas


disponíveis como tendo um risco moderado a alto de viés, limitando quaisquer
conclusões definitivas sobre a eficácia terapêutica dos canabinoides nos distúrbios do
sono.

3) Provas preliminares promissoras de estudos pré-clínicos e clínicos fornecem o


racional e a justificativa para futuros ensaios clínicos randomizados e controlados de
terapias com canabinoides em indivíduos com apnéia do sono, insônia, pesadelos
relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de
comportamento do sono REM, síndrome das pernas inquietas e narcolepsia.

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Material Complementar

Tabela 1. Estudos pré-clínicos investigando o efeito da terapia com canabinóides no


tratamento das desordens do sono

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Tabela 2. Estudos clínicos investigando o efeito da terapia com canabinóides no


tratamento das desordens do sono

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Referências Bibliográficas

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