Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - GRADUAÇÃO

CAMPUS DIADEMA

PROJETO DE MAPA CONCEITUAL

FISIOLOGIA DO SONO

ALEXANDRE MARTINIANO MIRANDA – RA 140640

AMANDA GOMES PUGLIESI – RA 143485

ISABELA LIGEIRO – RA 141403

RENATA MOREIRA SARACHO – RA 148550

UC ESTRUTURA E FUNÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E SISTEMAS

SÃO PAULO

2022
1. Introdução

2. Sistema Nervoso Central

3. Definição de vigília e estágios do sono

4. Mecanismos do ciclo sono-vigília:

4.1 Sistema REM-on/ REM-off

4.2 Hipotálamo anterior

4.3 Núcleo supra quiasmático

4.4 Controle homeostático

5. Privação do sono

6. Por que sentimos sonolência após o almoço?

7. Exemplo de efeitos da privação do sono no sistema reprodutor feminino

8. Referências Bibliográficas
1. Introdução

Para entender melhor como se dá os processos do ciclo sono-vigília vamos


compreender o funcionamento dos sistemas responsáveis, as vias relacionadas a
ele, os principais hormônios envolvidos, neurotransmissores, impactos causados na
privação do sono e como a falta do sono pode impactar o sistema reprodutor
feminino.

2. Sistema Nervoso Central

O sistema nervoso é subdividido em central e periférico. Para o sono, vamos


focar em regiões específicas do sistema nervoso central (SNC) que serão
responsáveis pela indução e inibição do sono. O SNC é composto por encéfalo e
medula espinhal, a qual é responsável por integrar, processar e coordenar a saída
de estímulos motores e chegada de estímulos sensitivos. O encéfalo é um dos
principais órgãos do SNC e dos demais sistemas, pois contém quase 95% do tecido
nervoso de todo o corpo. Esse órgão é composto por seis regiões principais:
cérebro, diencéfalo, mesencéfalo, ponte, cerebelo e bulbo. Para abordar a fisiologia
do sono, haverá maior enfoque em regiões localizadas no diencéfalo e córtex e suas
respectivas projeções, que se comunicam com outras áreas do encéfalo, como a
ponte e o tálamo, por exemplo.

3. Definição de vigília e estágios do sono

O sono é uma fase complementar ao estado de vigília, com isso formamos o


Ciclo Sono-Vigília. Para abordarmos esse processo, precisamos nos aprofundar em
cada um desses termos. O sono e a vigília são diferentes estados de consciência
que compõem nosso dia a dia. No entanto, estes estados inferem em diferentes
respostas fisiológicas no nosso corpo e são comandados pelo Ciclo Sono-Vigília,
um exemplo de ciclo circadiano.

A vigília é o momento em que o nosso corpo apresenta a maior atividade


fisiológica, tendo momentos de alerta e atividade maiores comparado aos estágios
NREM e REM. Esse estado é caracterizado por ondas dessincronizadas no
eletroencefalograma (EEG), e pela existência de diversos hormônios e
neurotransmissores que vão agir de forma excitatória (acetilcolina, norepinefrina,
serotonina, dopamina, histamina e glutamato). O sono NREM é definido por ondas
sincronizadas no eletroencefalograma e possui 4 estágios, sendo 3 e 4 equivalentes
ao sono de ondas lentas ou sono delta. Já os estágios 1 a 4 do sono NREM
correspondem nesta ordem para o aumento da profundidade do sono. O estágio 1 é
o estágio mais leve do sono e uma transição do estado de vigília para o sono. O
estágio 2 é um sono leve, onde ocorre a diminuição dos processos fisiológicos, o
estágio 3 corresponde ao começo do sono profundo e o 4 corresponde ao sono
profundo de fato. No sono NREM a maioria das funções fisiológicas são reduzidas.

A alternância entre NREM e REM acontece a cada 90 minutos


aproximadamente, sendo o estágio dois do sono NREM e o sono REM mais
duradouros durante a segunda parte da noite. O sono REM (Rapid eye movement) é
caracterizado por ondas dessincronizadas de baixa amplitude e pela ativação de
diferentes estruturas cerebrais, tendo níveis de atividades fisiológicas comparáveis à
vigília. No REM existe elevação nas atividades do tegmento pontino, o qual é
responsável pelo controle da transição entre os estados do sono, núcleos talâmicos,
região relacionada com o processamento cognitivo e memória (gânglios basais, por
exemplo), hipotálamo (responsável pelo controle do sistema endócrino, da fome e
sede, além de estar diretamente relacionado com o controle do sono e da vigília)
córtex pré-frontal e regiões do lobo temporal medial.

4. Mecanismos do ciclo sono vigília

4.1. Sistema REM-on e REM-off

No ciclo NREM-REM e vigília, encontramos dois sistemas de neurônios


importantes que vão causar a dessincronização-sincronização do
eletroencefalograma da vigília para os demais estágios do sono, são eles os
sistemas aminérgico e colinérgico, que ocorrem pela atividade dos circuitos tálamo
corticais (núcleos reticulares do tálamo e córtex cerebral) . De acordo com o modelo
de interação recíproca, o sistema aminérgico está principalmente ativo durante a
vigília e com baixa atividade no estágio NREM, já o sistema colinérgico está ativo
na vigília, porém é mais predominante no estágio REM. Esse modelo propõe dois
tipos celulares: as células REM-on colinérgicas e as células REM-off
serotoninérgicas e noradrenérgicas (núcleos dorsais da rafe e locus ceruleus).

Durante a vigília o sistema amnérgico REM-off está ativado causando a


dessincronização do EEG e sua atividade inibe as células REM-on colinérgicas,
resultando na anulação do sono REM. Durante o sono REM, as células aminérgicas
liberam a inibição sobre as colinérgicas, o que permite a sua maior atividade e a
ativação do sono REM, causando a dessincronização do EEG. Projeções do
sistema dopaminérgico fazem ligações diretas com o sistema ativador ascendente
responsável pela vigília e, juntamente com o sistema histaminérgico do hipotálamo
posterior, se unem aos sistemas serotoninérgicos e noradrenérgicos na inibição das
células colinérgicas REM-on, o que induzirá a vigília. Os principais subtipos de
receptores dopaminérgicos são D1 e D2, sendo o receptor D1 principalmente
excitatório e associado ao aumento de vigília e redução do sono REM. O trato
dopaminérgico, originário nos núcleos motores do tálamo, projetam-se para o
neurônio motor inferior, relacionado com a síndrome das pernas inquietas e
síndrome de movimentos involuntários de membros inferiores (patologias que
respondem a agonistas dopaminérgicos D-2). Deficiência dopaminérgica na
síndrome de Parkinson, por exemplo, causa sonolência, síndrome das pernas
inquietas e movimentos involuntários de membros inferiores.

4.2. Hipotálamo anterior

Projeções das células gabaérgicas do núcleo pré-óptico ventro-lateral do


hipotálamo (VLPO) vão se conectar ao sistema aminérgico, colinérgico e ao sistema
de hipocretinas causando a inibição desses sistemas promotores de vigília. Desse
modo, os neurônios gabaérgicos se ativam principalmente durante o sono NREM e
REM, porém são mais associados ao sono de ondas lentas. Portanto, quando o
núcleo pré-óptico ventro-lateral está exercendo sua atividade durante o sono, ambos
os sistemas são inibidos por este. O mesmo ocorre durante o processo de vigília,
quando o circuito amnérgico-colinérgico está ativo tendo ação inibitória sobre o
VLPO.

4.3. Núcleo supraquiasmático

Os núcleos supraquiasmáticos (NSQ) são estruturas localizadas no


hipotálamo anterior e essenciais para o relógio biológico, já que geram o ritmo
endógeno próprio para a sincronização a partir de sinais endócrinos/neuronais ou do
meio ambiente (luz solar). No sono, após a sinalização do NSQ ser recebida, ela é
transmitida para a glândula pineal, responsável pela secreção de melatonina
durante o período de sono noturno. Existem dois sub-receptores específicos para
melatonina (ML-1 e ML-2) exercendo efeitos inibitórios nas células glutamatérgicas
do NSQ e nas células ganglionares retinianas.

O início do sono parece estar relacionado com o núcleo pré-óptico


ventro-lateral do hipotálamo, já que os neurônios presentes neste núcleo
apresentam elevada atividade durante o sono. Os neurônios gabaérgicos
localizados na área pré-optica ventrolateral possuem receptores responsáveis pela
recepção e conversão do estímulo luminoso transmitido pela retina até o núcleo
supraquiasmático do hipotálamo (NSQ).

4.4. Controle homeostático (adenosina e cortisol)

O processo homeostático é caracterizado pelo acúmulo de substâncias


indutoras do sono, como a adenosina (produto do metabolismo energético
neuronal), que, no decorrer do dia, se dissipa enquanto dormimos. A ação inibitória
local da adenosina ocorre em receptores das células colinérgicas do prosencéfalo
basal. A redução da atividade destas células deixa de inibir as células gabaérgicas
do hipotálamo anterior ao mesmo tempo que deixam de estimular o sistema de
hipocretinas (neurotransmissor que regula a excitação, vigília e apetite), dando início
ao sono NREM no final do período de atividade ou vigília.
O cortisol é outro fator importante para a homeostase do ciclo sono-vigília.
Esse hormônio, produzido pelas glândulas suprarrenais, é responsável pelo controle
do estresse no corpo. Sua atuação ocorre de forma oposta a da adenosina, tendo
um pico ao acordar e um decaimento ao decorrer do dia, situação a qual irá induzir
ao sono no final do dia.

5. Privação do sono

O sono é um estado fundamental para muitos organismos. Sua privação,


mesmo que parcial, pode acarretar em diversas alterações metabólicas, físicas e
comportamentais que, ao persistirem, causam prejuízos na saúde do indivíduo.
De acordo com um estudo feito pela Universidade de Oklahoma, ao analisar
a privação do sono, que consistiu em monitorar um indivíduo sob estímulos
constantes durante a vigília, mostrou que o indivíduo, ao ser privado de sono por
201 horas, apresentou alucinações (relatou ver ratos, gatos e teias).
Um experimento realizado com o objetivo de avaliar o perfil imunológico dos
voluntários com a privação seletiva do REM mostrou que ao acordar os indivíduos
no momento em que a fase do sono REM se iniciava, ao longo de 48 horas de
experimento, notou-se que houve um acúmulo da demanda do organismo dos
avaliados pelo estágio REM e, além disso, ao dormir, tal estágio aparecia cada vez
mais cedo.
Outro trabalho, feito pelo departamento de psicobiologia da UNIFESP,
mostrou que animais privados do sono REM em comparação a animais não
privados obtiveram maior resposta à apomorfina, que é um agonista capaz de
promover vigília. O estudo também mostrou que a privação do sono REM era capaz
de induzir hipersensibilidade dopaminérgica.
As respostas bioquímicas durante a privação de sono ainda não estão bem
definidas, mas as evidências sugerem que ocorra um decréscimo da atividade
tireoidiana. Por outro lado, existe uma discordância quanto aos efeitos da privação
em relação aos hormônios sexuais e adrenais (cortisol, adrenalina, catecolaminas,
hematócrito, glicemia, creatinina e magnésio). Os hormônios como a noradrenalina,
a prolactina, e o GH, que possuem um comportamento circadiano em relação ao
sono, parecem também ser afetados com esse padrão de periodicidade de excreção
durante a perda de sono.

6. Por que sentimos sono após o almoço?

A indução do sono pode ser desencadeada por outros fatores que não
estejam relacionados à secreção de melatonina devido à exposição ou à falta de
luz. O melhor exemplo disso é o caso da sonolência que sentimos após uma
refeição.
O que acontece é que, com a ingestão de alimentos calóricos, nosso nível de
glicose no sangue aumenta, sendo necessária a produção de insulina, a qual irá
transformar esse açúcar todo em energia ou armazená-lo no corpo. Dessa forma,
com a diminuição da glicose, o corpo irá sofrer um efeito rebote que provoca uma
falta de energia, desencadeando no cansaço e na sensação de sonolência.
Outra hipótese do que pode resultar nessa sensação após uma refeição é
que nosso corpo entra em um estado de falsa “hibernação” devido ao aumento do
fluxo sanguíneo em direção ao sistema digestório. Desse modo, o sistema nervoso
fica menos irrigado e com menor transporte de oxigênio para ele, nos causando a tal
sonolência pós almoço.

7. Exemplo de efeitos da privação do sono no sistema reprodutor feminino

No sistema reprodutor feminino, a melatonina tem interação com hormônios


sexuais, influenciando a função ovariana, a fertilidade, modificando a sinalização
celular e a resposta no tecido alvo. Alterações nos níveis de melatonina podem
desencadear processos fisiológicos neoplásicos, que são crescimento anormal da
massa de tecido corporal, como, por exemplo, mulheres com níveis de melatonina
muito abaixo do normal, apresentam atividade neoplásica elevada. Já em pacientes
com a síndrome do ovário policístico (SOP), os níveis de melatonina são elevados.

Mudanças nos níveis de estrogênio e progesterona provocam variações nos


padrões de sono associados aos ciclos hormonais da mulher ao longo da vida,
desde a puberdade até a menopausa e períodos específicos como a gravidez e o
ciclo menstrual, sendo inclusive responsável por alguns distúrbios do sono como
hipersonia e insônia.
No ciclo-menstrual fatores hipotalâmicos regulam a participação dos
hormônios hipofisários, alguns dos quais induzem a liberação de esteróides
adrenais e de gônadas da periferia. Vários estudos relataram que a maioria dos
hormônios hipotalâmico-hipofisários exerce um efeito sobre o sono, aumentando a
quantidade de sono NREM.

Mulheres grávidas geralmente se queixam de distúrbios do sono. Estudos


sugerem que o aumento de estrogênio resulta em um encurtamento dos períodos
de sono REM, principalmente pelo aumento da renovação da noradrenalina no
tronco cerebral. Assim podemos estabelecer um parâmetro com o modelo de
interação recíproca, já que a noradrenalina faz parte do sistema amnérgico que tem
função inibitória sobre as células colinérgicas responsáveis pelo sono REM.

Assim como na puberdade, a menopausa é um período caracterizado por


drásticas mudanças hormonais e emocionais, muitas vezes resultando em
alterações do sono. Durante a menopausa, os níveis de estradiol diminuem, embora
os níveis de LH e FSH (gonadotrofinas protéicas) aumentem. A insônia é o distúrbio
do sono prevalente nesta fase da vida, embora não seja o único. A presença de
ondas de calor, distúrbios emocionais e alterações respiratórias são a principal
causa da fragmentação do sono. Uma alta porcentagem de mulheres na
menopausa com queixa de insônia também tem problemas respiratórios associados
ao sono.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alves HB, Alves HB (2019). Aspectos fisiológicos do sono e as alterações no seu


padrão regular em idosos: uma correlação com doenças cognitivas e
cardiovasculares. VI congresso internacional de envelhecimento humano.
Alóe F, de Azevedo AP, Hasan R (2005). Mecanismos do ciclo sono-vigília. Brazilian
Journal of Psychiatry. Brasil. v. 27, pp. 33-39.

Antunes, HKM. et al (2008). Privação de sono e exercício físico. Revista Brasileira


de Medicina do Esporte. v. 14, n. 1, pp. 51-56.

Andersen ML, Bittencourt LRA (2009). Fisiologia do sono, p 48-58. In: Tufik S.
Medicina e Biologia do sono. Manole. Barueri, Brasil. p 508.

Filho PAM (2018). Sono normal. Medicina do Sono.


Disponível em:
<https://www.einstein.br/especialidades/medicina-do-sono/sono-normal>. Acesso
em: 20 de Abril de 2022.

Marquioli VSF (2011). A influência do sono na memória e emoção. Universidade


Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Brasil.
Müller MR, Guimarães SS (2007). Impacto dos transtornos do sono sobre o
funcionamento diário e a qualidade de vida . Estudos de Psicologia. Campinas,
Brasil. v. 24, n. 4, p 519-528.

Poyares D, dos Santos WA, Palombini L (2022). Psicologia geral. Disponível em: <
http://www.psiquiatriageral.com.br /sono/farma_sono.htm >. Acesso em: 08 de maio
de 2022.
Toledo K (2012). Estudo mostra como a privação de sono afeta a imunidade.
Agência FAPESP. São Paulo, Brasil. Disponível em: <
https://agencia.fapesp.br/estudo-mostra-como-a-privacao-do-sono-afeta-a-imunidad
e/16303/ > Acesso em: 08 de Maio de 2022.

Vainer AM, Rocha VS, Juvenale M (2021). Melatonina e sistema imune: uma relação
com duas vias. Brazilian Journal of Health Review. Curitiba, Brasil. v.4, n.1, p
2906-2929.
Northeast CR, Vyazovskiy VV, Bechtold DA (2020). Eat, sleep, repeat: the role of the
circadian system in balancing sleep–wake control with metabolic need.Current
Opinion in Physiology, v. 15, p 183-191.

Aloé F, de Azevedo AP, Hasan F (2005). Mecanismos do ciclo sono-vigília. Rev Bras
Psiquiatr. São Paulo, SP. v. 27, p 33-9.

Ventura ALM et al (2010). Sistema colinérgico: revisitando receptores, regulação e a


relação com a doença de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo. Archives
of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]., v. 37, n. 2 , pp. 66-72.

Lima M de M S (2008). O papel do sistema dopaminérgico nigroestriatal na


neurobiologia do sono. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP.
Disponível em: <https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/9860>.

Você também pode gostar