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Do ponto de vista bioquímico, a formação

reticular não é homogênea, havendo


neurônios vários tipos de neurotransmissores,
destacando-se as monoaminas, como a
noradrenalina, a serotonina e a dopamina.

Simplificadamente, define-se substância CONEXÕES DA FORMAÇÃO RETICULAR


cinzenta como tecido nervoso constituído A formação reticular possui conexões
predominantemente de corpos celulares e amplas e variadas. Além de receber impulsos
substância branca como o tecido formado que entram pelos nervos cranianos, ela
pelos prolongamentos desses corpos. A mantém relações nos dois sentidos com o
formação reticular, uma região evolucionária cérebro, cerebelo e a medula:
muito antiga, apresenta uma estrutura • Conexões com o cérebro: a formação
intermediária entre a substância branca e a reticular projeta fibras para todo o córtex
substância cinzenta (é uma rede de cerebral, por via talâmica e extratalâmica.
neurônios). • Conexões com o cerebelo: existem
Ocupando a parte central do tronco conexões nos dois sentidos, entre o cerebelo
encefálico, a formação reticular, cuja e a formação reticular.
principal função é ativar o córtex cerebral, se • Conexões com a medula: dois grupos
projeta cranialmente um pouco para dentro principais de fibras ligam a formação reticular
do diencéfalo, e caudalmente à porção mais à medula (fibras rafe-espinhais e trato
alta da medula espinhal. retículo-espinhal).
Pesquisas cito-arquitetônicas mostram que • Conexões com núcleos dos nervos
a formação reticular não tem estrutura cranianos: os impulsos nervosos que entram
homogênea, podendo-se delimitar grupos pelos nervos cranianos sensitivos ganham a
mais ou menos bem definidos de neurônios, formação reticular através de fibras que a ela
que consistem os núcleos da formação se dirigem.
reticular. Que são: Com suas conexões com todo o SNC
 Núcleos da rafe; (córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, sistema
 Lócus ceruleus; límbico, cerebelo, nervos cranianos e medula
 Substância cinzenta periquedutal; espinhal), a formação reticular do tronco
 Área tegmentar ventral. encefálico controla a atividade elétrica
cortical (sono e vigília), a sensibilidade
(atenção seletiva), atividades motoras
somáticas complexas (que envolvem centros
reflexos como o respiratório, o vasomotor e o
locomotor), o SNA e o eixo hipotálamo-
hipófise (controlando o sistema neuro-
endócrino).
É a estrutura que explica as alterações
físicas, emocionais e mentais ocasionadas
pela estimulação de algumas áreas
periféricas (pele, músculos ou articulações).
Do ponto de vista cito-arquitetural, a
formação reticular pode ser dividida em uma
zona magnocelular, de células grandes que
ocupam seus 2/3 mediais, e uma zona  REGULAÇÃO DA VIGÍLIA, DO SONHO E
parvocelular, de células pequenas que DO SONO
ocupam o terço lateral. O Sistema Ativador Reticular Ascendente
A zona magnocelular dá origem às vias (SARA), é a estrutura da formação reticular
ascendentes e descendentes longas e pode que, presente na parte mais cranial da
ser considerada a zona efetuadora da mesma, principalmente no mesencéfalo, é
formação reticular. responsável pela ativação cortical e
consequente estado de vigília. Sinais
sensitivos externos (como um som de forte ocorrência ou não de sonhos sensuais
intensidade), ao chegar ao córtex, descem à (ereção peniana e clitoridiana).
formação reticular e sobem, fazendo Alguns grupos neuronais da formação
conexão com centros talâmicos, até chegar reticular, dos quais o locus ceruleus, situado
novamente ao córtex, trazendo-nos ao na ponte, é o mais importante, são os
estado vigil, se estivermos dormindo, ou ao responsáveis pelo desencadear do sono
estado de atenção (córtex pré-frontal) se paradoxal e foram denominados de
acordados. Esse efeito sempre é reforçado neurônios indutores do sonho. O consumo
pela parte posterior do hipotálamo, que energético cerebral é o mesmo do estado de
também se relaciona com a vigília. Além vigília e é nesse estado que ocorrem nossos
disso, o próprio córtex pode estimular o SARA, sonhos mais vívidos.
mantendo-se ativado (acordado), utilizando Já no sono profundo, o sono não-REM,
para isso o poder da vontade, de centro físico essas ondas se apresentam sincronizadas,
inexistente ou ainda desconhecido. Certas com baixa frequência (4 a 8 ciclos/s) e alta
drogas ativadoras corticais também agem amplitude, as ondas teta. Esse padrão
nesse mecanismo para manter o córtex também surge nos momentos em que surgem
“ligado”. os sonhos vívidos e pode estar relacionado
Já certas áreas da formação reticular, com a criatividade e a intuição. Um pequeno
presentes na ponte e no bulbo, “desligam” grupo de células na base do encéfalo tem
ativamente o córtex cerebral, induzindo ao sua atividade levada ao máximo durante o
sono. A partir de uma fase inicial de grande sono não-REM e foram denominadas de
relaxamento muscular, entra-se na fase de neurônios do sono.
sono propriamente dito que, do ponto de
vista eletroencefalográfico, não é Controle da atividade elétrica cortical e
homogêneo. Cabe aqui uma breve regulação do sono:
descrição dos padrões A formação reticular é capaz de ativar o
eletroencefalográficos de vigília e sono. córtex cerebral a partir do SARA, sistema
ativador reticular ascendente. A ação se faz
Durante a vigília, o eletroencefalograma
através de conexões da formação reticular
(EEG) demonstra um padrão dessincronizado, com os núcleos inespecíficos do tálamo. A
com ondas assimétricas de alta frequência formação reticular contém mecanismos
(14 a 24 ciclos/s) e baixa amplitude, as ondas capazes de regular o sono de maneira ativa.
beta. No relaxamento, no transe hipnótico e O sono, do ponto de vista
no estado de sonho surgem ondas ainda eletroencefalográfico, não é homogêneo,
dessincronizadas, semelhantes ao padrão de comportando vários estágios. Entre estes está
vigília, mas com menor frequência (8 a 13 o sono paradoxal (REM), assim denominado
ciclos/s), as ondas alfa. porque embora o indivíduo se encontre
Nessa fase de sonho, descoberto em 1.953 profundamente adormecido, seu traçado
eletroencefalográfico é dessincronizado,
pelo pioneiro na pesquisa sobre o sono
semelhante ao do indivíduo acordado.
Nathaniel Kleitman, a despeito do grande Durante o sono paradoxal há um relaxamento
relaxamento muscular, obtido por meio de muscular e os olhos se movem rapidamente e
suspensão da produção de alguns é nessa fase que ocorrem os sonhos.
neurotransmissores ativadores e produção de O sono paradoxal é ativamente
outros inibidores, observa-se um rápido desencadeado a partir de grupos neuronais
movimento dos olhos, por isso mesmo situados na formação reticular, entre os quais
conhecido como sono paradoxal ou sono o locus ceruleus.
REM (Rapid Eye Movement). Nesses períodos
que duram, em geral, entre 90 a 120 minutos  SELEÇÃO DAS INFORMAÇÕES
por noite, o ritmo respiratório e o cardíaco se SENSORIAIS
tornam irregulares, a temperatura corporal Duas outras estruturas da formação
não mais é regulada (se iguala com a do reticular (a substância cinzenta peri-
ambiente) e os corpos cavernosos, nas aquedutal e os núcleos da rafe) têm
genitálias externas em ambos os sexos, se participação ativa no mecanismo das
enchem de sangue, independentemente da sensações, como tato ou dor, causando
analgesia ou anestesia seletiva. Essa
seletividade pode ser observada no fato de neurônios do SNA, regulando suas respostas,
“esquecermos” algum sinal incômodo (como de acordo com as emoções.
uma dor), quando estamos concentrados em Essa estimulação do SNA pela formação
outra coisa. Não sentir a pressão da cadeira reticular, se faz através de sinapses com os
sobre as nádegas, enquanto concentrados neurônios pré-ganglionares do tronco
num filme é um exemplo dessa seletividade. cerebral, da medula espinhal tóraco-lombar
Os estímulos sensoriais, antes de chegar ao e sacral. Já o controle endócrino se faz
córtex, fazem conexão com a substância através de conexões da formação reticular
cinzenta peri-aquedutal do mesencéfalo, de com o hipotálamo. Dessa forma se justifica a
onde seguem aos núcleos da rafe, presentes liberação de ACTH (hormônio do estresse) e
em toda a formação reticular, na linha de hormônio antidiurético que se seguem a
mediana do tronco cerebral. Desses núcleos estímulos elétricos originados na formação
partem fibras que se conectam com reticular.
neurônios inibidores presentes na medula
espinhal e no núcleo do trato espinhal do Controle do sistema nervoso autônomo:
nervo trigêmeo (nervo sensitivo da cabeça). O sistema límbico e o hipotálamo são os dois
Essa inibição da via da dor se faz através da centros supra-segmentares mais importantes
liberação de um opióide endógeno para o controle do sistema nervoso autônomo
e têm projeções para a formação reticular, a
conhecido como encefalina.
qual, por sua vez, liga-se a neurônios pré-
Entende-se assim, como a introdução de ganglionares do sistema nervos autônomo,
uma agulha em uma parte do corpo pode estabelecendo assim o principal mecanismo
causar alívio da dor em um ponto doloroso de controle da formação reticular sobre esse
muito distante, ou diversas outras mudanças, sistema.
correlacionadas com as funções da
formação reticular.
Controle neuroendócrino:
Controle eferente da sensibilidade: Estímulos elétricos da formação reticular do
Sabe-se que até certo ponto o sistema nervoso mesencéfalo causam a liberação de ACTH e
é capaz de selecionar informações sensoriais do hormônio antidiurético.
que lhe chegam, eliminando ou diminuindo
algumas e concentrando-se em outras,  CONTROLE DA MOTRICIDADE
fenômeno chamado de atenção seletiva. Isto Estímulos em determinados centros da
se faz por um mecanismo ativo envolvendo formação reticular determinam respostas
fibras eferentes ou centrífugas capazes de motoras reflexas complicadas cuja execução
modular a passagem dos impulsos nervosos envolve áreas diversas e ocasionalmente
nas vias aferentes específicas. Esse controle
distantes do SNC. Respostas motoras como o
eferente da sensibilidade se faz principalmente
por fibras originadas na formação reticular,
do vômito (centro bulbar do vômito), da
como as fibras que inibem a penetração no deglutição (centro pontino da deglutição),
sistema nervoso central de impulsos dolorosos, do movimento ocular (núcleo pontino
caracterizando as vias de analgesia. parabducente) e a da locomoção (centro
locomotor no mesencéfalo), são de
 CONTROLE DO SISTEMA NERVOSO responsabilidade da formação reticular. Pelas
EMOCIONAL, DO SISTEMA NERVOSO suas conexões com as áreas motoras do
AUTÔNOMO E NEUROENDÓCRINO córtex e do cerebelo, atua também na
Numerosas projeções da formação contração muscular, regulando o tônus
reticular fazem sinapses com o sistema muscular, a postura e o equilíbrio.
límbico, hipotálamo e tálamo, estruturas Mas a regulação de maior importância à
relacionadas com as emoções, com uma manutenção da “vida” do corpo físico, se faz
função aparentemente reguladora. Mas não através de dois centros: o centro bulbo-
se pode descartar a possibilidade de essas pontino da respiração e o centro bulbar
fibras levarem comandos originadores do vasomotor (responsável pelo ritmo cardíaco e
fenômeno emocional. Conexões, por sua vez, controle da pressão arterial).
provenientes daquelas regiões, chegam à
formação reticular e dessa seguem aos
respiração torácica. O centro mantém os
movimentos respiratórios automáticos.
Mas esses movimentos também sofrem
Controle da motricidade somática: controle voluntário, pois fibras provenientes
A formação reticular tem influencia sobre do córtex cerebral também fazem sinapse
neurônios motores medulares, ativando-os ou nos neurônios motores dos nervos frênicos e
os inibindo através do trato córtico-espinhal. intercostais. Essa ação voluntária provém,
Aferências das áreas motoras do córtex
provavelmente, da ativação cortical pela
cerebral, através da via córtico-retículo-
espinhal, controlam a motricidade voluntária
própria formação reticular. Da mesma forma,
dos músculos axiais e apendiculares proximais. alterações emocionais, via hipotálamo, e
Aferências do cerebelo enquadram-se nas alterações na concentração de CO2 no
funções exercidas por ele, como regulação sangue, via corpo carotídeo – nervo
automática do equilíbrio, do tônus e da glossofaríngeo – trato solitário, chegam ao
postura, agindo também sobre os mesmos centro respiratório ocasionando modificação
grupos musculares. do ritmo respiratório.
Cabe aqui ressaltar duas importantes inter-
 CENTRO VASOMOTOR relações:
Desse centro saem fibras que fazem • A inter-relação existente entre
sinapse com os neurônios pré-ganglionares pensamentos e sentimentos de raiva e
do SNA de forma a ativar o simpático ou o agressividade, o hipotálamo posterior, o SARA
parassimpático, de acordo com informações (Sistema Ativador Reticular Ascendente,
acerca da pressão arterial, provenientes do responsável pela vigília) e o locus ceruleus
núcleo do trato solitário (localizado no bulbo). (responsável pelo sonhar), o SNA simpático e
Essas informações, coletadas no seio as fibras do centro respiratório que fazem
carotídeo, seguem via nervo glossofaríngeo sinapse com os neurônios motores dos nervos
até chegar ao núcleo do trato solitário e, em intercostais – respiração torácica; e
seguida, ao centro vasomotor. Assim o centro • A inter-relação existente entre
vasomotor pode aumentar o ritmo cardíaco pensamentos e sentimentos de amor e
e a pressão arterial (pela vasoconstricção compaixão, o hipotálamo anterior, áreas
arterial periférica), efeito simpático, ou pontinas e bulbares da formação reticular
diminuí-los, efeito parassimpático. responsáveis pelo relaxamento e sono, o SNA
parassimpático e as fibras do centro
Controle vasomotor: respiratório que fazem sinapse com os
Situado na formação reticular do bulbo, o
neurônios motores dos nervos frênicos –
centro vasomotor coordena os mecanismos
que regulam o calibre vascular, do qual, é
respiração abdominal.
dependente da pressão arterial, influenciando As inter-relações acima explicam como a
também o ritmo cardíaco. formação reticular modula todas essas
alterações. Usando o nosso poder da
 CENTRO RESPIRATÓRIO vontade, podemos alterar nosso padrão
O centro respiratório bulbar apresenta uma respiratório e, dessa forma, alterar nossos
porção dorsal, responsável pelo estímulo à sentimentos e estado de estresse. Mudar o
inspiração, e uma ventral, responsável pelo padrão torácico de respirar para o
estímulo à expiração. Uma outra porção, abdominal, muda a ativação do SNA do
situada no centro pneumotáxico da ponte, simpático para o parassimpático, diminui a
transmite impulsos inibitórios para a parte secreção de adrenalina e cortisol (e inúmeras
dorsal (inspiratória) do centro respiratório outras alterações hormonais descritas
bulbar (por isso é mais fácil parar de respirar no próximo capítulo), muda nosso estado
após uma expiração). Do centro respiratório mental e muscular de agitação e estresse
bulbar saem, então, fibras que se conectam para relaxamento, e, enfim, muda nossos
à medula espinhal cervical (para inervar o sentimentos inferiores em sentimentos
diafragma, via nervo frênico), gerando a altruístas. Essa inter-relação aceita múltiplas
respiração abdominal, e à medula espinhal vias e a alteração de uma delas repercute
torácica (para inervar a musculatura em todas as outras.
intercostal, via nervos intercostais), gerando a
Assim, podemos utilizar o nosso poder da
vontade para mudar, ou o padrão
respiratório ou o nosso estado mental, ou
praticar exercícios específicos que estimulem
ou inibam a secreção de alguma glândula
endócrina específica, e, dessa forma, alterar
todo esse complexo. O elo comum em todo
esse sistema de alterações é a formação
reticular.

Controle da respiração:
Informações sobre o grau de distensão dos
alvéolos pulmonares continuamente são
levadas ao núcleo do trato solitário pelas fibras
aferentes viscerais gerais do nervo vago. Desse
núcleo os impulsos nervosos passam ao centro
respiratório, localizado na formação reticular
do bulbo.

Consciência refere-se à percepção do eu


e da sua relação com o ambiente e consiste
em alerta e percepção. Para manter a
consciência normal, o cérebro requer um
fluxo constante de informações sensoriais e a
capacidade de processar essas informações.
Dados visuais, auditivos, olfativos, gustativos,
viscerais e somatossensoriais são sintetizados e
interpretados pelo cérebro simultaneamente.
A interrupção desse fluxo de informações ou
a incapacidade de processá-lo pode levar
ao rebaixamento do nível de consciência.
Isso pode ocorrer no nível cortical ou
subcortical, e a apresentação clínica varia
consideravelmente dependendo da
localização do insulto. A consciência
depende da função cortical intacta. O córtex
é responsável pelo conteúdo da consciência
ou percepção. Enquanto isso, o alerta é
iniciado pelas estruturas subcorticais,
incluindo os núcleos do tronco encefálico,
tálamo, prosencéfalo basal, hipotálamo e,
mais notavelmente, o sistema reticular
ativador ascendente (SRAA).
O sistema de ativação reticular
ascendente (SARA) é uma rede de neurônios
originários do tegmento da ponte superior e
do mesencéfalo, que acredita-se ser parte
integrante da indução e manutenção do
estado de alerta. Esses neurônios se projetam
para estruturas no diencéfalo, incluindo o
tálamo e o hipotálamo, e daí para o córtex
cerebral. Alterações no estado de alerta traumatizados, porém, hoje, é usada em
podem ser produzidas por lesões focais no outras situações, determinando alterações de
tronco cerebral superior, danificando nível de consciência.
diretamente o SARA.

A Escala de Coma de Glasgow (ECG) foi


publicada pela primeira vez na revista Lancet
em 1974 por Graham Teasdale e Bryan J.
Jennett, ambos do Instituto de Ciências
Neurológicas de Glasgow, na Escócia. A
escala é utilizada para se avaliar o estado
neurológico do paciente que sofreu lesão
cerebral aguda grave, medindo assim o seu
A percepção consciente do mundo estado de consciência. Além disso, a escala
exterior e de si mesmo caracteriza o estado serve como parâmetro para auxiliar na
de vigília, que é resultante da atividade de decisão de realizar ou não procedimentos
diversas áreas cerebrais coordenadas pelo médicos específicos.
sistema reticular ativador ascendente. Entre o A mesma tem três variáveis:
estado de vigília ou plena consciência e o I. Abertura ocular
estado comatoso, no qual o paciente perde II. Resposta verbal
completamente a capacidade de identificar III. Resposta motora
seu mundo interior e os acontecimentos do Graham Teasdale conduziu uma pesquisa
meio que o circunda, é possível distinguir junto a outros dois pesquisadores (Paul
diversas fases intermediárias em uma Brennan e Gordon Murray), quarenta anos
graduação, cujo principal elemento após o lançamento da ECG original,
indicativo é o nível da consciência. Pode adicionando a reatividade pupilar à
haver dificuldade para saber onde começa avaliação. Tal atualização tem como
e onde termina o estado de coma, isto é, qual objetivo obter melhores informações sobre o
é o limite entre a vigília e o início do prognóstico no TCE. Essa deve ser verificada
comprometimento da consciência e entre após a avaliação dos três outros fatores e o
este e a morte encefálica. resultado deve ser subtraído do valor obtido
A consciência pode ser perdida de modo anteriormente.
agudo e breve, como nas síncopes, As notas atribuídas à Reatividade Pupilar
convulsões e na concussão cerebral por do paciente devem de encaixar
traumatismo de crânio leve, até situações em em: (2) Inexistente = nenhuma pupila reage
que o nível de consciência está ao estímulo de luz, (1) Parcial = apenas uma
completamente reduzido, como no coma. pupila reage ao estímulo de luz
Veja na tabela abaixo dos níveis de e (0) Completa = as duas pupilas reagem ao
consciência. estímulo de luz.

A avaliação do nível de consciência


ocorre pelo contato com o paciente no
decorrer da interação. Uma vez que as
técnicas disponíveis não permitem analisar
diretamente a consciência do paciente é
importante reconhecer a complexidade
No entanto, atualmente tem-se evitado
desse tipo de avaliação clínica. Entre os
usar as expressões citadas anteriormente pelo
fatores neurológicos que devem ser
fato de, eventualmente, vários observadores
observados estão:
terem noções diferentes sobre cada uma
• nível de consciência;
delas. Desse modo, tem sido utilizada a
• tamanho e resposta da pupila;
escala de coma de Glasgow (ECG), que foi
• movimentação extrínseca do olho;
inicialmente utilizada para avaliação de
• padrão respiratório; pupilas não estiver reagente, subtrai-se 1
• resposta motora esquelética. ponto da escala; e se nenhuma das 2 pupilas
estiverem reagentes, subtrai-se 2 pontos da
escala. Assim, a não reação da pupila indica
uma maior gravidade e pior prognóstico.

Esquematizando: ECG-P = ECG – (no de


pupilas não reagentes)

O estímulo sensitivo deve ser feito em leito


ungueal, clavícula, músculo trapézio
 Paciente hígido = Glasgow 15
(considerar nesse caso estímulo dos dois
 Paciente com risco de vida e indicação
lados). Deve ser considerada sempre a
de assistência ventilatória com EOT (Escala
melhor resposta. A caracterização exata dos
de Glasgow menor ou igual a 8)
padrões motores é importante, sendo o
 < 8: Trauma grave
padrão flexor ou decorticação caracterizado
 9 a 13: Trauma moderado
por flexão dos membros superiores e extensão
 14 a 15: Trauma leve
dos inferiores, e o padrão extensor ou
 < 3: indica morte cerebral
descerebração caracterizado por extensão
dos membros superiores e inferiores.
A escala pode ser usada tanto para
identificar a gravidade do quadro do
paciente quanto para verificar a evolução e
resposta aos tratamentos, de forma a garantir
um melhor prognóstico devido uma conduta
mais exitosa.
Apesar de ser um método amplamente
utilizado, a Escala de Glasgow apresenta
algumas falhas, como a impossibilidade de
avaliar a resposta verbal em pessoas que
estejam intubadas ou afásicas, e exclui a
avaliação dos reflexos do tronco cerebral.
Além disso, caso a pessoa esteja sedada, a
avaliação do nível de consciência também
pode ser dificultada.

É uma escala útil na avaliação e no O exame pupilar é fundamental na


acompanhamento de rebaixamento agudo avaliação de pacientes em coma. Neste
do nível de consciência. exame, é necessário observar o diâmetro, a
simetria e o reflexo fotomotor, de forma que
CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE uma pupila sempre seja comparada com a
Primeiro faz-se a avaliação da escala outra.
normalmente, levando em conta a resposta Diâmetro pupilar: é mantido pelo sistema
de abertura ocular, de fala e de nervoso autônomo, sendo que o diâmetro da
movimentação, somando pontos de acordo pupila é o resultado da ação dilatadora do
com a resposta. Após isso, faz-se a avaliação sistema nervoso simpático e da ação
da reatividade pupilar com estímulo luminoso: constritora do sistema nervoso
se ambas as pupilas estiverem foto reagentes, parassimpático.
não se altera o somatório da escala já feito  O diâmetro normal pupilar varia de 2 a 6
pelos passos acima; se somente uma das mm.
 Pupilas menores de 2 mm são bilateral e pela encefalopatia metabólica,
consideradas mióticas ou “em miose”. ambas as pupilas tendem a apresentar miose
 Pupilas maiores de 6 mm são com reflexo fotomotor positivo.
denominadas midriátricas ou “em midríase”. • Pupila uncal ou do III nervo craniano: as
 É possível medir pupilas com o auxílio de pupilas são anisocóricas, sendo que uma das
um pupilômetro, como a espátula pupilas é midriática e apresenta reflexo
pupilômetro: fotomotor negativo. Como possíveis causas,
encontram-se a herniação do uncus do lobo
temporal e o aneurisma de artéria
comunicante posterior.

 Observar também a anisocoria:


tamanho desigual das pupilas e alterações
de forma pupilar, como a forma ovoide, que
é sinal precoce de herniação transtentorial
por hipertensão intracraniana (HIC).

Reação pupilar: está incluída na avaliação


de Glasgow. Este é um fenômeno conjugado
ao nervo óptico (II par de nervos cranianos) e
ao nervo oculomotor (III par). O nervo óptico
é, na verdade, a via aferente responsável
pela transmissão do estímulo luminoso. O sono é um processo fisiológico
caracterizado por um conjunto de alterações
comportamentais fisiológicas que ocorrem de
forma conjunta, desde fechamento dos
olhos, redução da atividade motora, postura
tipicamente relaxada e em decúbito,
atividades elétricas características e elevado
limiar para resposta a estímulos externos.
As principais funções do sono são
relacionadas ao descanso e a regeneração
Sendo assim, os diversos formatos de orgânica que são essenciais para o
pupilas e sua reatividade podem indicar e funcionamento do corpo e mente,
localizar lesões estruturais. As alterações conservação da energia diária, consolidação
pupilares em pacientes comatosos são: do aprendizado e memória, além da função
• Pupila pontina: pupilas extremamente imunológica, auxiliando processos de defesa
mióticas, com reflexo fotomotor presente do organismo frente a estímulos externos ou
bilateralmente, causada pela lesão da do próprio corpo.
ponte. Em consonância, noites mal dormidas tem
• Pupila tectal: ambas as pupilas estão efeitos adversos bem conhecidos como
dilatadas discretamente e apresentam fadiga, cansaço, indisposição, alteração de
reflexo fotomotor negativo. A pupila tectal sintomas cognitivos como atenção e
sofre alterações de diâmetro ao estímulo memória, baixo rendimento escolar e em
doloroso (hippus) e é causada por lesão na atividades de trabalho sendo um fator de
região do teto do mesencéfalo. risco importante para acidentes como os
• Pupila mesencefálica: são pupilas automobilísticos. Ainda tem relação
médias e fixas com reflexo fotomotor independente com complicações
negativo bilateralmente, que refletem lesão cardiovasculares sendo fator de risco para
da porção ventral do mesencéfalo. obesidade, diabetes, hipertensão arterial e
• Pupila diencefálica (pupila metabólica): doenças psiquiátricas.
causada pela disfunção diencefálica
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS APRESENTAM lag, que ocorre quando as pessoas mudam
RITMOS CIRCADIANOS: seus ciclos claro-escuro ao viajar para locais
Todos os organismos têm um padrão diário com fuso horário diferente, é uma
alternado de repouso e de atividade. Esses manifestação comum do efeito dos ritmos
padrões de atividade alternada, como circadianos no funcionamento diário.
muitos outros ciclos biológicos, geralmente Tratamentos com melatonina e exposição à
seguem um ciclo claro-escuro de 24 horas e luz natural no novo local são os únicos
são conhecidos como ritmos circadianos. tratamentos que mostram ter qualquer efeito
Quando um organismo é colocado em significativo sobre o jet lag
condições constantes de claro ou escuro,
essas atividades rítmicas persistem e, pelo que
parece, são determinadas por um relógio O sono e o estado de vigília ocorrem em
interno. alternância circadiana, sendo regulado nas
O “relógio” principal reside em redes de 24 horas pela interferência da luz. Esse ciclo
neurônios localizados no núcleo não é semelhante em todos os indivíduos
supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo, com porque diversos processos estão associados
relógios secundários que influenciam o como idade, sexo, características individuais
comportamento dos diferentes tecidos. Uma como estados de humor e questões culturais
interpretação bem simples para explicar o relacionadas aos horários de descanso e
funcionamento do relógio biológico é que a trabalho. É também influenciado por
sua ciclagem resulta de uma complexa alça substâncias como álcool e drogas, além de
de retroalimentação, em que genes citocinas e hormônios justificando a
específicos ativam e direcionam a síntese variedade natural pela idade e também em
proteica. As proteínas se acumulam, indivíduos que utilizam substâncias exógenas.
desativam os genes e, então, elas mesmas O sono dura em média de 7:30 horas ou 8
são degradadas. À medida que as proteínas horas e a vontade é o principal controlador
desaparecem, os genes ligam a síntese desse horário de sono. Dentre estes existem as
novamente e o ciclo reinicia. O relógio do variações consideradas dormidores curtos
NSQ tem uma atividade intrínseca que tem noites de sono menores que 6 horas
sincronizada com o meio externo, via e dormidores longos com sono ultrapassando
informação sensorial sobre os ciclos de luz 10 horas por noite.
recebida pelos olhos. A distribuição habitual do horário de dormir
Os ritmos circadianos nos seres humanos também não é um elemento fixo, mas em
podem ser observados na maioria das geral essa distribuição se dá entre o período
funções fisiológicas e, em geral, das 22h ou 23h da noite e o despertar ocorre
correspondem às fases dos nossos ciclos sono- entre as 6/7 horas da manhã.
vigília. Por exemplo, a temperatura do corpo
e a secreção de cortisol ciclam em um
padrão diário. A melatonina da glândula
pineal também está fortemente ligada à
ciclagem claro-escuro: a melatonina é, às
vezes, chamada de “hormônio do escuro”,
pois a sua secreção aumenta à noite. O
núcleo supraquiasmático tem receptores de
melatonina, apoiando a hipótese de que a
melatonina pode modular a ciclagem do
relógio. A transição da vigília para o sono tende a
A ruptura do ritmo circadiano, como produzir um comprometimento transitório de
ocorre quando há alternância de turno de memória e durante o sono ocorre inativação
trabalho ou jet lag, pode levar a prejuízos na da transferência de memória entre o
saúde física e mental. Os transtornos do sono, armazenamento de curto prazo e longo
depressão, depressão sazonal, diabetes e prazo. Vamos entender de forma prática
obesidade vêm sendo relacionados com essas relações, quantas vezes acordamos
anormalidades dos ritmos circadianos. Jet sem lembrar do início do sono?! E o
esquecimento de situações como 2 podem se alternar com a vigília antes que
telefonemas que recebemos durante a noite entre em sono profundo.
e tão pouco lembrar do toque do • Estágios 3 e 4: São os estágios de sono
despertador?! Essas são situações bastante profundo, quando começam as ondas delta
cotidianas. e o tônus muscular diminui ainda mais.
No entanto, sobre a memória de longo Praticamente não há movimentação dos
prazo o sono tem papel essencial, visto que é olhos.
no período do sono que ocorre a
consolidação da memória e aprendizado
que obtivemos durante o dia a partir da
ativação do hipocampo.
Existem dois estados distintos de sono,
tomando como base características
eletrofisiológicas do eletroencefalograma
(EEG), do eletroculograma e do
eletromiograma:
 Sono sincronizado ou sono não REM
(NREM – non-rapid-eye-movement).
 Sono dessincronizado ou sono REM (REM
significa rapid-eye-movement). O sono No sono REM ocorre total atonia com
normal é constituído pela alternância dos movimento periódico rápido dos olhos,
estágios REM e NREM. atividade intensa cerebral e EEG ativado,
dessincronizado. Os sonhos noturnos são
originados nessa fase do sono. Logo, há um
Termo REM significa movimento rápido dos cérebro ativo em corpo completamente
olhos, este que ocorre durante a fase mais paralisado.
profunda do sono. O Sono Não REM é É comum que ocorram despertares
característico pela fase inicial de sonolência, noturnos, principalmente ao fim da noite e
com diminuição progressiva do tônus, estes são pouco lembrados pela manhã. Por
cérebro em estado tranquilo e com baixa fim, entenda que o ciclo do sono não ocorre
atividade psicológica. de forma simétrica e regular, mas com
O Eletroencefalograma (EEG) é sincrônico, predominância do sono REM ou não REM em
com ondas características de complexos K, determinados momentos da noite e sempre
fusos de sono e ondas lentas de alta mesclados com períodos de despertar que
voltagem. Ele é subdivido em três fases N1, N2 também são variáveis.
e N3 ou SWS (S3 + S4).
A figura a seguir representa os estágios
desde a vigília ou estágio 0 que registra ondas
rápidas, de baixa amplitude (curtas e
pequenas), que indicam alto grau de
atividade dos neurônios corticais. Também
faz parte desse estágio o movimento
aleatório dos olhos e um acentuado tônus
muscular. De 5 a 15min na cama, o indivíduo
já atinge o primeiro estágio do sono.
• Estágio 1: É o estágio entre a vigília e o
sono, quando a melatonina (o hormônio do
sono) é liberada, induzindo-o. Há uma
redução do tônus muscular.
• Estágio 2: Ocorre a redução da
atividade dos neurônios corticais, com isso
diminuem o ritmo cardíaco e respiratório e
começa o sono leve. Relaxam-se os músculos
e a temperatura corporal cai. Os estágios 1 e
Durante o sono, o encéfalo consome tanto oxigênio
como o cérebro acordado e, por isso, o sono é um
estado metabolicamente ativo. O sono é dividido em
quatro estágios, cada um marcado por eventos
identificáveis e previsíveis associados a alterações
somáticas e padrões de EEG característicos. Nos
estados de vigília, muitos neurônios estão disparando,
mas não de uma forma coordenada. Um
eletrencefalograma, ou EEG, do estado de alerta ou
vigília (olhos abertos) mostra um padrão rápido e
irregular, sem ondas dominantes. Em estados
acordados, mas em repouso (olhos fechados), no sono
Existe a correlação direta com ou em coma, a atividade elétrica dos neurônios
neurotransmissores no processo de sono, sincroniza em ondas com padrões característicos.
durante a vigília predominam cinco Quanto mais sincrônica a atividade dos neurônios
neurotransmissores que fazem parte do corticais, maior a amplitude das ondas. Por
conseguinte, o estado acordado, mas em repouso, é
sistema reticular ativador ascendente, sendo caracterizado por ondas de baixa amplitude e alta
eles: histamina, dopamina, noradrenalina, frequência. À medida que a pessoa adormece e o
serotonina e acetilcolina. Outros estado de alerta é reduzido, a frequência das ondas
diminui. As duas principais fases do sono são: o sono de
neurotransmissores ativadores são orexina e ondas lentas e o sono do movimento rápido dos olhos.
hipocretina. Dentre os neurotransmissores O sono de ondas lentas (também chamado de sono
inativadores destacam-se o Gaba e a profundo ou sono não REM, estágio 4) é indicado no
EEG pela presença de ondas delta, de alta amplitude,
melatonina. ondas de baixa frequência e de longa duração que se
As principais regiões envolvidas na espalham pelo córtex cerebral. Durante essa fase do
transmissão de mecanismos ativadores e ciclo do sono, as pessoas ajustam a posição do corpo
inativadores estão na região do hipotálamo, sem comando consciente do encéfalo. Em
contrapartida, o sono do movimento rápido dos olhos
veja no fluxograma a seguir. (REM) (estágio 1) é marcado por um padrão de ECG
A histamina é um neurotransmissor que mais próximo ao de uma pessoa acordada, com
estimula o estado de vigília, sendo assim, anti- ondas de baixa amplitude e alta frequência. Durante
o sono REM, a atividade do encéfalo inibe os neurônios
histaminérgicos ou antialérgicos são motores que se dirigem para os músculos esqueléticos,
medicamentos que promovem sono, paralisando-os. As exceções a esse padrão são os
enquanto isso, o neurônio GABAérgico é o músculos que movimentam os olhos e os que
controlam a respiração. O controle das funções
principal estimulador do sono.
homeostáticas é deprimido durante o sono REM, e a
As regiões do hipotálamo lateral e núcleo temperatura do corpo diminui, aproximando-se da
supraquiasmático produzem substâncias temperatura ambiente. O sono REM é o período
como orexina e melatonina e regulam o durante o qual ocorre a maioria dos sonhos. Os olhos
movem-se atrás das pálpebras fechadas, como se
estado de sono-vigília, sendo a orexina acompanhassem a ação do sonho. As pessoas são
estimulando a vigília e a melatonina o sono. mais propensas a acordar espontaneamente nos
períodos de sono REM. Um típico período de oito horas
de sono consiste em ciclos repetidos. Na primeira hora,
a pessoa sai da vigília em sono profundo (estágio 4,
primeira área azul). O sujeito adormecido, então, cicla
entre o sono profundo e o sono REM (estágio 1), com
estágios 2 a 3 ocorrendo entre eles. Próximo ao período
final das oito horas de sono, a pessoa permanece a
maior parte tempo no estágio 2 e no sono REM, até
finalmente despertar.

A vigília é o resultado da ação conjunta da


formação reticular ascendente (neurônios
glutamatérgicos) em associação com
núcleos aminérgicos (serotonina,
noradrenalina, histamina e dopamina) e
colinérgicos localizados na ponte, bulbo e no
prosencéfalo basal e, principalmente, dos
núcleos hipotalâmicos lateral e posterior – e o eletroencefalograma é sincronizado.
hipocretinas e histamina, respectivamente. Pouco antes do despertar, os neurônios do
Sistema Ativador Ascendente voltam a
disparar, cessa a inibição dos núcleos
talâmicos sensitivos pelo núcleo reticular e
inicia-se novo período de vigília.
O período do sono não é uniforme e 4-5
vezes por noite o eletroencefalograma
mostra um traçado de vigília, apesar de a
pessoa estar dormindo e com intenso
relaxamento muscular. Por isso, esta fase do
sono é denominada sono paradoxal. Durante
esta fase os olhos se movem rapidamente,
caracterizada pela sigla REM (rapid eye
movement). Assim, existem dois tipos de sono
que se alternam: o sono REM e o não REM ou
sono de ondas lentas, este último dividido em
fases I a IV. Durante o sono REM, o consumo
de oxigênio pelo cérebro é igual ou maior do
que em vigília, refletindo a atividade cortical.
O indivíduo sonha e seus olhos movem-se
rapidamente. No sono não REM o cérebro
repousa. Sua taxa de consumo de oxigênio
está em nível baixo e predomina o tônus
parassimpático, com redução de frequência
cardíaca e respiratória. William Dement,
pesquisador do sono, descreve o sono não
REM como um cérebro ocioso em um corpo
móvel e o sono REM, um cérebro ativo em um
corpo imóvel. O sono REM ocupa 20% a 25%
do tempo total de sono no adulto jovem.
Pesquisas sugerem que ele tem papel no
O ciclo vigília-sono é regulado por
processo de consolidação de memórias. O
neurônios hipotalâmicos pelo Sistema
conteúdo bizarro que ocorre em alguns
Ativador Ascendente. A atividade de seus
sonhos poderia ser devido à ativação
neurônios pode ser medida pela taxa de
aleatória de áreas do córtex.
·disparos dos potenciais de ação. Durante o
O sono REM é gerado por neurônios
dia (vigília) esta taxa é muito alta, indicando
colinérgicos da formação reticular da junção
que ele está ativando o córtex. Este recebe
ponte-mesencéfalo (núcleo pedúnculo-
normalmente as aferências dos núcleos
pontino), cuja destruição o abole. Durante o
talâmicos sensitivos. No final da vigília, em
sono REM, muitas áreas corticais estão tão
antecipação ao momento de dormir, um
ativas como na vigília, incluindo o córtex
grupo de neurônios do hipotálamo anterior
motor. Este só não gera movimentos em todo
(núcleo pré-óptico ventrolateral) inibe a
o corpo porque os neurônios motores estão
atividade dos neurônios monoaminérgicos do
inibidos, resultando atonia. Esta atonia é
Sistema Ativador Ascendente, desativando o
produzida por vias colinérgicas descendentes
córtex. Simultaneamente, o núcleo reticular
dos neurônios do núcleo pedúnculo-pontino.
do tálamo inibe a atividade dos núcleos
Algumas pessoas, particularmente os idosos,
talâmicos sensitivos, barrando a passagem
perdem o mecanismo inibitório que promove
para o córtex dos impulsos originados nas vias
a atonia muscular do sono REM. Esses casos
sensoriais. Inicia-se, assim, o estado de sono
são conhecidos como Transtorno
de ondas lentas, no qual a atividade elétrica
Comportamental do sono REM. Os portadores
do córtex é devida a circuitos intrínsecos sem
são vítimas de constantes ferimentos por
influência de informações sensoriais externas
vivenciar seus sonhos com movimentos.
Descreve-se o caso de um marido que temperatura do corpo, movimentos, apetite e
sonhou que estava batendo na mulher, até mesmo o sono e a sensação de cansaço.
acordou e estava batendo mesmo.
A geração do ritmo de vigília e sono
depende também do núcleo Privação de sono é um termo geral para
supraquiasmático do hipotálamo que, descrever um estado causado por
juntamente com a glândula pineal, sincroniza quantidade ou qualidade inadequada de
este ritmo com o de claro e escuro. sono, incluindo insônia voluntária ou
O sono REM é encerrado pelos neurônios involuntária e distúrbios do sono de ritmo
do locus ceruleus, que aumentam sua circadiano.
atividade na transição entre o sono O sono é tão importante para o corpo
paradoxal e a vigília, podendo ser humano quanto comida e água, mas muitos
considerados os neurônios do despertar. de nós não dormem o suficiente. Sono
insuficiente, qualidade de sono inadequada
ou perturbações do ciclo sono-vigília (como
as que ocorrem com o trabalho por turnos ou
viagens para outro fuso horário) têm
consequências no modo como funcionamos
durante o dia, causando sonolência e fadiga.
Assim, as principais funções do sono são
relacionadas ao descanso e a regeneração
orgânica que são essenciais para o
funcionamento do corpo e mente,
conservação da energia diária, consolidação
do aprendizado e memória, além da função
imunológica, auxiliando processos de defesa
do organismo frente a estímulos externos ou
do próprio corpo.
Em consonância, noites mal dormidas tem
• Somatropina (GH ou HGH): é um
efeitos adversos bem conhecidos como
hormônio altamente metabólico, que
fadiga, cansaço, indisposição, alteração de
controla o crescimento das células e a
sintomas cognitivos como atenção e
estatura dos indivíduos. Possui seus picos de
memória, baixo rendimento escolar e em
secreção durante o sono profundo, fase em
atividades de trabalho sendo um fator de
que também ocorre uma maior absorção.
risco importante para acidentes como os
• Melatonina: hormônio produzido pela
automobilísticos. Ainda tem relação
glândula pineal, influencia na regulação do
independente com complicações
sono e é produzido naturalmente quando
cardiovasculares sendo fator de risco para
anoitece (quando há ausência de luz), de
obesidade, diabetes, hipertensão arterial e
forma mecânica em resposta ao escuro da
doenças psiquiátricas.
noite.
Uma pessoa cansada e sonolenta é
• Adenosina: é um hormônio que resulta
propensa a acidentes, julgamento
da queima de energia pelo corpo durante o
prejudicado e mais propenso a cometer erros
dia. Se acumula ao longo do dia e produz a
e más decisões. Ficar acordado por 24 horas
sensação de cansaço, responsável pela
leva a uma coordenação olho-no-olho
nossa reação de entender que é hora de
reduzida que é semelhante a ter um teor de
dormir. Ao final do dia, à medida que os níveis
álcool no sangue de 0,1. É por isso que a
de melatonina sobem no organismo e se
privação de sono contribui para acidentes
combinam com a adenosina, ficamos
rodoviários e lesões de trabalho. A falta de
sonolentos até dormir.
sono também pode afetar o desempenho
• Serotonina: hormônio responsável pela
escolar de uma criança e pode estar
comunicação entre as células nervosas. Atua
associada a um maior risco de problemas
em diversas funções do corpo como
emocionais, como depressão.
As causas comuns de privação de sono
incluem: Sintomas da privação de sono em adultos
 Escolha pessoal - algumas pessoas não Os sintomas de privação de sono em
percebem que o corpo precisa de um sono adultos incluem:
adequado. Em vez de ir para a cama • Bocejar constante
regularmente em um horário razoável, eles • A tendência de cochilar quando não
preferem ficar acordados até tarde para está ativo por um tempo; por exemplo, ao
socializar, assistir televisão ou ler um bom livro. assistir televisão
 Doenças - doenças como resfriados e • Apatia/desânimo ao acordar de manhã
amigdalite podem causar ronco, engasgos e • Apatia/desânimo com sono
despertar frequente, e têm um efeito direto experimentado durante todo o dia (inércia
sobre o sono, fragmentando-o. do sono)
 Trabalho - as pessoas que trabalham por • Pouca concentração e alterações de
turnos interrompem seus ciclos de sono-vigília humor (mais irritável).
regularmente. Viajantes frequentes (por
exemplo, tripulação de linha aérea) também Sintomas de privação de sono em crianças
tendem a ter padrões de sono erráticos. A privação de sono afeta as crianças de
 Distúrbio do sono - problemas como maneiras diferentes dos adultos. Crianças
apnéia do sono, ronco e distúrbio dos com sono tendem a "acelerar" em vez de
movimentos periódicos dos membros podem desacelerar. Os sintomas incluem:
perturbar o sono da pessoa muitas vezes • Mau humor e irritabilidade
durante a noite. • Acessos de raiva
 Medicamentos - alguns medicamentos • A tendência de "explodir"
usados para tratar doenças como epilepsia emocionalmente à menor provocação
ou transtorno de déficit de atenção e • Excesso de atividade e comportamento
hiperatividade (TDAH) podem causar insônia. hiperativo
 O ambiente de sono - o sono pode ser • Cochilos diurnos
interrompido por uma série de razões • Tonturas quando acordam de manhã
ambientais; por exemplo, porque o quarto • Relutância em sair da cama pela
está muito quente ou frio ou por causa de manhã.
vizinhos barulhentos ou de um parceiro de Dentre os efeitos da perda de sono em
cama que ronca. crianças e adolescentes, tem-se uma série de
 Má higiene do sono - os hábitos de problemas de escolaridade, incluindo
algumas pessoas são perturbadores; por travessura e falta de concentração.
exemplo, beber café ou fumar perto da hora Adolescentes cronicamente privados de sono
de dormir estimula o sistema nervoso e torna têm maior probabilidade de ter problemas
o sono menos provável. Outro problema com o controle dos impulsos, o que leva a
comum é ficar deitado na cama e se comportamentos de risco, além de um risco
preocupar, em vez de relaxar. aumentado de transtornos como depressão e
 Bebês, bebês mais velhos e crianças transtorno de déficit de atenção e
pequenas - os pais quase sempre passam por hiperatividade (TDAH).
privação de sono porque seus filhos
pequenos acordam com frequência durante Consequências gerais da falta de sono
a noite para se alimentar ou se consolar. A falta de sono prejudica o desempenho.
Cumpre ressaltar também que o Quando uma pessoa que precisa de oito
desenvolvimento tecnológico contribui tanto horas de sono por noite tem apenas seis, essa
de forma positiva quanto negativa para a perda de sono de duas horas pode ter um
qualidade de vida e a qualidade do sono das grande impacto, incluindo:
pessoas. Dentre os fatores que afetam o sono • Alerta reduzido
nas sociedades modernas estão a luz artificial • Tempo de atenção reduzido
- que modificou os hábitos relacionados aos • Mais lento do que o tempo de reação
ciclos sono-vigília e claro-escuro; a rede de normal
telecomunicações, as demandas sociais e o • Julgamento pobre
estilo de vida ativo
• Reduzida consciência do meio dormir apenas cinco horas e mostrar total
ambiente e da situação disposição e bem-estar.
• Habilidades de tomada de decisão
reduzidas
• Memória fraca
• Concentração reduzida A classificação dos quadros de sono está
• Maior probabilidade de "protelar" disposta em algumas metodologias como:
mentalmente ou se fixar em um pensamento Classificação Internacional de Doenças
• Maior probabilidade de mau humor (CID10), manual diagnóstico e estatístico de
• Eficiência de trabalho reduzida transtornos mentais (DSM) V e International
• Perda de motivação Classification of Sleep Disorders (ICSD) 3,
• Erros de omissão - cometer um erro ao sendo esta é a classificação mais completa e
esquecer de fazer algo largamente utilizada.
• Erros de comissão - cometer um erro ao No ICS 3 existem classificações como:
fazer algo, mas escolher a opção errada  Insônia: trata-se de transtorno de insônia
• Microssono - breves períodos de sono crônica, transtorno de insônia de curto prazo
involuntário que variam de alguns segundos a e outros transtornos de insônia. É importante
alguns minutos de duração. salientar que sintomas isolados e variantes da
Quando se questiona sobre o quanto de normalidade são avaliados isoladamente
sono é o suficiente para uma pessoa, verifica- como, por exemplo, estar em tempo
se que as necessidades de sono variam de excessivo na cama ou tempo de dormir curto.
pessoa para pessoa, dependendo da idade,  Transtorno de hipersonolência:
níveis de atividade física, saúde geral e outros narcolepsia tipo 1, narcolepsia tipo 2,
fatores individuais. Em geral: hipersonia idiopática, síndrome de Kleine-
Crianças da escola primária - precisam de Levin; hipersonia devido ao uso de drogas e
cerca de 9 a 10 horas. Estudos mostram que substâncias, hipersonia associada a
aumentar o sono de crianças em apenas transtornos mentais e síndrome do sono
meia hora pode melhorar drasticamente o insuficiente. A variante da normalidade é o
desempenho escolar. dormidor longo, aquele que dorme mais de
Adolescentes - também precisam de 10 horas ao dia.
cerca de 9 a 10 horas, possuindo uma maior  Transtornos respiratórios relacionados ao
necessidade de sono no momento em que os sono: a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do
compromissos sociais e a pressão dos colegas Sono (SAOS) é a principal síndrome, além do
causam uma redução no tempo de sono. transtorno de hipoventilação relacionado ao
Fatores de estilo de vida, como horários de sono e hipoxemia relacionada ao sono.
início precoce da escola, os privam do sono Também há variação com relação a roncos
até tarde necessário. Há evidências de que, eventuais e catatrenia, estas que podem ser
próximo à adolescência, há uma mudança normais ou patológicas.
no ciclo sono-vigília para ficar com sono mais  Transtorno do ritmo circadiano de sono-
tarde, com preferência por acordar mais vigília: envolve alterações de ciclo
tarde. circadiano como ruptura do ciclo tanto por
Adultos - precisam de cerca de oito horas, questões endógenas quando por associação
dependendo de fatores individuais, tendo a endógena e exógena. Em média há uma
tendência de precisar de menos horas de distribuição normal de início de sono em torno
sono à medida que se envelhece. Porém, das 22h e despertar em torno das 6h da
sabe-se que a necessidade diária de sono manhã. Quando há um hábito de dormir
depende das características e muito cedo existe a denominação de
funcionamento diário de cada organismo, avanço de fase e quando ocorre mais tarde
bem como da presença de déficits atribuídos é um atraso de fase. Este fato pode ser uma
ao número de horas de sono. Um indivíduo variação da normalidade, contudo, neste
pode dormir oito horas por noite e mostrar caso, estamos falando de cronótipos
indisposição, falhas de memória e extremos que podem gerar alterações no
hipersonolência diurna, enquanto outro pode ciclo de vida. Outras alterações são tipo de
sono-vigília irregular que engloba os
pacientes que não tem horários fixos para Sonambulismo faz parte da classe de distúrbios
dormir ou acordar, tipo de sono-vigília de livre que provocam comportamentos
curso engloba pacientes que não tem inadequados durante o sono, chamadas de
contato com a luz, especialmente pacientes parassonias, em que há uma alteração do
padrão do sono devido à ativação de áreas
cegos, transtornos dos trabalhadores em
do cérebro em momentos inapropriados. É
turnos que são aqueles que tem plantões mais frequente em crianças, apesar de poder
noturnos semanais e o Jet-Lag que é a existir em qualquer idade. A pessoa com
alteração quando há mudança de fuso por sonambulismo manifesta atividades motoras
viagens. Os tratamentos para essas complexas, como caminhar ou conversar,
condições são relacionados a higiene do podendo em seguida despertar ou voltar a
sono, fototerapia e uso de melatonina dormir normalmente. Geralmente, há pouca
 Parassonias: Parassonias de Sono Não ou nenhuma recordação do ocorrido.
REM – Despertar confusional, sonambolismo e
terror noturno como transtornos do despertar,  Transtornos do movimento relacionados
transtorno alimentar relacionado ao sono e ao sono: as principais síndromes associadas
parassonias do sono REM que envolve são síndrome de pernas inquietas, síndrome
transtorno comportamental, paralisia do sono dos movimentos periódicos dos membros,
isolada recorrente e transtornos de pesadelos. câimbras nas pernas relacionadas ao sono,
Parassonias do Sono REM – transtornos do bruxismo relacionado ao sono, transtorno do
despertar envolvem despertar incompleto do movimento rítmico relacionado ao sono e
sono, normalmente ocorre no SW3, este que é mioclonia benigna do sino na infância.
mais abundante na primeira metade do sono,
não respondem a estímulos externos, são Síndrome das pernas inquietas: atentar a esta
autolimitados e sem associação com sonhos patologia pela sua incidência
consideravelmente elevada, em torno de 5% a
ou imagens mentais, há amnésia do fato
10% dos casos de distúrbios do sono. Há queixa
ocorrido, mais comum em crianças e de sensação estranha em membros inferiores
adolescentes e tem curso clínico benigno, que, em geral, tem alívio após movimentação
com duração de poucos minutos e cessação e surge mais comumente ao fim do dia. Não
espontânea. Eles são: 1. Despertar confunda com a inquietação em quadros de
confusional; 2. Sonambulismo e 3. Terror ansiedade, neste caso é uma síndrome
noturno. Os transtornos comportamentais do específica relacionada ao sono. Uma
sono REM são relacionados e perda de atonia característica marcante é que como melhora
típica do sono REM, vocalizações e ao movimento dificulta o padrão habitual de
comportamentos motores complexos com sono do paciente. A fisiopatologia dessa
patologia é ainda desconhecida, mas há
memória parcial dos mesmos, ocorrem mais
correlação com mecanismos genéticos e da
comumente na segunda metade da noite, dopamina. A investigação envolve exames
mais comum em idosos e adultos e pode ter laboratoriais para afastar alterações de
relação com doenças como as coagulação, deficiência de ferro e outras que
neurodegenerativas. O tratamento das podem gerar esse reflexo de sensação
parassonias varia de acordo com o padrão inespecífica nos membros. O tratamento
de sono REM ou não REM, no primeiro caso envolve higiene do sono, compressas mornas
após diagnóstico confirmado com a nos membros, agentes dopaminérgicos como
polissonografia pode instituir terapia com Pramipexol, Cabergolina e Levodopa,
benzodiazepínicos e melatonina, enquanto Gabapentina e Pregabalina, sempre em doses
individualizadas.
no sono não REM o tratamento primordial é a
retirada de fatores desencadeantes,
realização de higiene do sono, programar o
horário de despertar e, se necessário,
Clonazepam e melatonina.
interagem na maioria das insônias primárias,
e, dependendo do paciente, seus
componentes fisiopatológicos estão
presentes com intensidade diferente. Da
mesma forma, os termos insônias associadas,
secundárias e comórbidas, por sua vez,
também se confundem, pois os agentes
etiopatogênicos envolvidos são complexos e
multifatoriais.
• Insônia aguda, insônia transitória ou
insônia de ajustamento: São insônias
decorrentes de um fator precipitante causal,
claramente identificável em uma pessoa com
sono previamente normal sem queixas
É um transtorno caracterizado pela anteriores, devendo durar alguns dias ou, no
dificuldade de iniciar ou manter o sono, ou máximo, 1 mês. O fator estressante
ainda insatisfação com a qualidade do sono, precipitante pode ser psicológico ou físico,
resultando em sintomas diurnos, físicos e como, por exemplo, demissão, prova,
emocionais, com impacto no desempenho viagem, diagnóstico de uma condição
das funções sociais e cognitivas. A insônia, médica, hospitalização ou um ambiente de
independente de sua etiologia, está sono desconfortável. A insônia aguda
associada a uma gama de sintomas caracteristicamente se resolve com a
adversos, como distúrbios físicos, mentais e suspensão do fator estressor precipitante.
emocionais, como alterações do humor, • Insônias primárias: As insônias primárias
ansiedade, irritabilidade, dificuldade de têm duração mínima de 1 mês, não são
concentração e memorização. causadas por outro transtorno mental,
A insônia pode ser inicial, de manutenção neurológico, clínico, por outro transtorno do
ou terminal. Na insônia inicial, o paciente sono, pelo uso de medicações, pelo abuso de
apresenta dificuldade para iniciar o sono, substâncias ou por higiene do sono
com duração superior a 30 minutos. A insônia inadequada, facilmente identificável. Ela
de manutenção é caracterizada por apresenta, principalmente, sintomas de
despertares durante a noite, que podem ser dificuldade de conciliar e/ou manter o sono,
de curta ou de longa duração. A insônia com despertares noturnos de longa duração,
terminal tem como principal sintoma o sono de má qualidade e sintomas diurnos,
despertar precoce. Comumente, essas três como fadiga e irritabilidade. Alguns pacientes
formas de insônia estão presentes em um apresentam paradoxalmente uma facilidade
mesmo paciente. para adormecer em locais distintos do
A insônia pode ser classificada em aguda ambiente habitual de sono, como em hotéis,
ou crônica. A aguda dura menos de 4 no laboratório de sono ou em situações
semanas e, geralmente, surge como resposta monótonas não intencionais, como assistindo
a fatores estressores. de natureza televisão na sala. Embora sejam definidos três
psicogênica, médica ou ambiental. As tipos de insônias primárias, como
insônias crônicas frequentemente levam o psicofisiológica, idiopática e paradoxal, os
paciente a procurar o médico, uma vez que fatores envolvidos nas insônias crônicas são
tendem a se desenvolver durante meses, multifatoriais. A insônia psicofisiológica é
anos ou por toda uma vida. denominada de insônia aprendida, cursando
De acordo com os fatores com um estado de hiperalerta cognitivo
etiopatogênicos, as insônias podem ser caracterizado por ansiedade relacionada
classificadas como primárias, associadas, com o ato de dormir. A insônia idiopática
secundárias e comórbidas. As primárias inicia-se na infância, persistindo durante a
podem ser divididas em psicofisiológica, vida adulta, e há geralmente história familiar
idiopática e paradoxal. Como será de insônia, o que sugere um forte fator
observado, esses três tipos de insônia se constitucional e, talvez, genético. Já a insônia
paradoxal tem como ponto essencial a
presença de queixas subjetivas de sono de médica, uso de substâncias ou medicação,
má qualidade e presença de sintomas transtornos mentais, transtornos do humor,
diurnos de leve intensidade na ausência de transtorno de ansiedade, fibromialgia,
alterações objetivas de sono no exame de transtornos do ritmo circadiano, síndrome das
polissonografia (PSG). A insônia paradoxal pernas inquietas.
está relacionada com percepção
inadequada do sono. Como será observado,
o universo dos insones tem fatores que se
interagem, como: componente SAOS é uma doença respiratória do sono
constitucional, substrato neurobiológico caracterizada por obstrução total ou parcial
(hiperalerta), componentes ansiosos, além de da via aérea superior durante o sono, sendo
fatores comportamentais e cognitivos marcada por episódios de apneia e
(percepção inadequada do tempo total de hipopneia. No primeiro caso há obstrução de
sono). 90% ou mais das vias aéreas superiores por 10
• Insônias associadas ou comórbidas e segundos ou mais, associada a dessaturação
secundárias: Definem-se insônias associadas e/ou despertar. Já na hipopneia ocorre
quando predomina o sintoma insônia e obstrução de 30% ou mais, por 10 segundos,
ocorrem, paralelamente, outros fatores associada a dessaturação (3% ou mais) e/ou
associados, os quais têm participação despertar.
importante na manutenção da insônia. As Esses episódios causam diminuição da
insônias podem estar associadas a oxigenação orgânica e consequente
depressão, ansiedade generalizada, higiene fragmentação do sono, cursado com
do sono inadequada, condição médica, uso sintomas adversos como sonolência diurna,
de substâncias e medicamentos. Outros alterações cognitivas e comportamentais,
transtornos do sono podem estar associados queda do rendimento e fadiga diária,
às insônias, tornando-se um fator alterações metabólicas e possíveis acidentes
complicador, não só no diagnóstico como no como automobilísticos relacionados a
planejamento terapêutico desses casos. Tem- sonolência e cansaço.
se como exemplo a apneia obstrutiva do Classificação da apneia:
sono, a fibromialgia e os transtornos do ritmo • A apneia pode ser central ou periférica:
vigília-sono. O termo insônia comórbida se a apneia periférica ocorre por alteração na
confunde com insônia associada. Quando o via aérea superior, principalmente por
agente causal é o principal fator responsável características estruturais/anatômicas e a
pela insônia, podemos dizer que se trata de central por origem neurológica, uso de
uma insônia secundária. A característica medicações e insuficiência cardíaca. A
principal da insônia secundária é a relação diferenciação básica dessas apneias é na
causal direta e temporal com o fator polissonografia, sendo que na central é
responsável por ela, que uma vez eliminado, evidente a dessaturação sem esforço
ocorre, concomitantemente, o respiratório. Existem também apneias mistas
desaparecimento da insônia. Diversos fatores que envolvem as características periféricas e
se interagem e participam nessas formas de centrais.
insônia sem que se atenha a separar em A SAOS é mais comum em indivíduos
insônia associada, comórbida e secundária: adultos e idosos, entre 35 a 60 anos, mas pode
higiene do sono inadequada (prática de ocorrer em outras faixas etárias, em geral, ao
hábitos que não são adequados para uma acometer crianças está mais relacionada a
boa qualidade de sono. Entre as práticas de alterações anatômicas. Tem maior
má higiene de sono estão consumo de prevalência em homens, em torno de 3 a 7%
cafeína, nicotina e álcool no mínimo 6 horas e em mulheres entre 2 e 5%.
antes de dormir, refeições pesadas à noite, Sobre a etiologia, existem fatores
atividade física vigorosa até 4 horas antes de modificáveis ou adquiridos ao longo da vida
dormir, atividade psicologicamente e fatores não modificáveis associados a esta
estressante à noite, horários inconstantes para patologia. Dentre os fatores modificáveis
dormir e acordar, cochilos longos ou próximos destacam-se o estilo de vida com obesidade,
do horário do sono da noite) – condição
consumo excessivo de álcool e sedentarismo necessitam de um tempo maior de sono,
e os não modificáveis com idade, sexo e entre 10 ou mais horas por noite, mas não há
anatomia das vias aéreas. A maior parte das correlação com anormalidades durante o
apneias periféricas ocorrem na região de sono;
faringe, especialmente em hipofaringe, pois • Síndrome do sono insuficiente: a privação
são regiões de partes moles que permite de sono é a principal causa de sonolência
colabamento de regiões. É incomum a excessiva diurna, caracterizada após o
correlação com traqueia e nariz. período de 3 meses de privação para
Em relação aos fatores de perviedade das constituir um problema crônico. Essa privação
vias aéreas, a estrutura craniofacial com de sono é fator de risco para diversas
tamanho e posição da mandíbula, variações condições como acidentes, cansaço
do osso hioide e tamanho do palato (quanto excessivo, desatenção e outros. O melhor
maior, mais fácil a interrupção da via aérea) tratamento é o sono! Sim, é essencial garantir
influenciam na perviedade. Atividade a quantidade necessária de sono noturna
neuromuscular e tecidos ao redor, para garantir os processos fisiológicos
respetivamente com tônus muscular, corporais.
aferências nervosas e reflexos e obesidade • Hipersonia associada a transtornos
que são fatores de risco já mencionados. Por mentais: este é um dos diagnósticos
fim, destacam-se as propriedades diferenciais essenciais na abordagem a
intrínscecas como maior propensão a sonolência, sendo responsáveis por cerca de
formação de edemas durante a noite, 5 a 7% dos casos de hipersonia. É mais comum
perfusão vascular e propriedades intrínsecas em mulheres e pode ocorrer em quadros de
da A correlação dos fatores supracitados somatização e conversão, mas o mais
com o sono ocorre, pois, durante o sono, há comum é nos quadros de humor como
um relaxamento natural da musculatura e depressão e mania.
redistribuição de líquidos corporais e • Doenças causadoras de hipersonia:
alterações em qualquer parte, seja na inúmeras doenças entram como
drenagem ou composição muscular podem possibilidade de sonolência excessiva diurna
favorecer o colabamento parcial ou total das tanto por aspectos intrínsecos quanto
vias aéreas e causar a apneia. interações medicamentosas. Dentre elas
destacam-se: Doença de Parkinson, Doenças
endócrinas: hipotireoidismo, hipersonia pós-
traumática, doenças metabólicas, como
encefalopatia hepática, doença renal
crônica e insuficiência adrenal, doenças
genéticas associadas ao controle central do
sono e hipersonia residual em pacientes
tratados para SAOS.
As causas primárias são menos comuns,
mas necessitam de reconhecimento clínico
para tratamento e seguimento adequado.
Veja abaixo as quatro principais.
• Hipersonia idiopática: em geral cursa
com muitas horas de sono por dia,
normalmente entre 12 e 14 horas, excedendo
A sonolência excessiva diurna (SED) é o normal para um dormidor longo. Não há
definida como a necessidade de dormir achados habituais em pacientes com
durante o dia ou em horários inapropriados. narcolepsia como cataplexia, paralisias do
Não necessariamente está relacionada ao sono ou alucinações hipnagóticas e é
sono, mas a incapacidade de se manter essencial excluir outras causas como sono
alerta, por desatenção, cansaço e insuficiente. A polissonografia pode ser
lentificação. solicitada para avaliar e excluir outras causas,
• Dormidor longo: este é um variante da sendo que, em geral, não serão encontrados
normalidade incluindo indivíduos que dados específicos de anormalidade. O
tratamento é essencialmente com higiene do
sono e tentativa de regular o período do ciclo Existem 2 tipos de narcolepsia, tipo 1 e tipo
circadiano. 2. A do tipo 1 é marcada por cataplexia, teste
• Síndrome de Kleine-Levin: ocorrem das latências múltiplas de sono alterado e
ataques prolongados e inexplicáveis de sono, dosagem diminuída de hipocretina no liquor.
entre 2 dias a 5 semanas, sendo esta uma Enquanto a tipo 2 não tem outros
condição rara e sem etiologia conhecida. Há comemorativos, além de teste das latências
associação de sintomas como agressividade, múltiplas de sono alterado.
desinibição, hiperfagia e sintomas cognitivos.
Esses pacientes normalmente são Transtornos do sono são relativamente
assintomáticos entre os ataques de sono comuns, o que pode ser deduzido pela
prolongado. variedade de agentes indutores do sono
disponíveis nas farmácias. Entre os transtornos
do sono mais comuns estão a insônia
(dificuldade de iniciar o sono ou permanecer
adormecido o suficiente para descansar), a
apneia do sono e o sonambulismo. A apneia
do sono é uma condição na qual o sujeito
acorda quando a respiração é interrompida,
quer seja por falta de estímulo do sistema
nervoso central ou pela obstrução das vias
aéreas. O sonambulismo é um distúrbio de
comportamento do sono que, por muitos anos,
pensou-se representar a ação dos sonhos.
Entretanto, a maioria dos sonhos ocorre
durante o sono REM (estágio 1), ao passo que
o sonambulismo ocorre durante o sono
profundo (estágio 4). Durante os episódios de
É uma doença primária do sono sonambulismo, que podem durar de 30
caracterizada por: sonolência excessiva segundos a 30 minutos, os olhos do sujeito
estão abertos, registrando o ambiente. Ele tem
diurna, episódios de cataplexia, alucinações
a habilidade para desviar de objetos, pode
hipnagógicas, paralisia do sono e subir escadas e, em alguns casos, há relatos de
fragmentação do sono. Essa é uma condição que ele executa tarefas como preparar
rara, atingindo em torno de 0,02% da comida ou vestir roupas. A pessoa, em geral,
população e tem interações entre fatores tem pouca ou nenhuma lembrança
ambientais, genéticos e imunológicos. A consciente do episódio de sonambulismo
cataplexia é caracterizada por episódios de quando acorda. O sonambulismo é mais
atonia muscular sem perda de consciência, comum em crianças, e a frequência dos
ou seja, ele se mantém vígil e orientado. episódios diminui com a idade. Existe também
Alucinações hipnagógicas são alucinações um componente genético quando a
tendência ao sonambulismo ocorre em
normais em início do sono, contudo, em
famílias.
paciente com narcolepsia é algo muito
frequente e o conteúdo da alucinação pode
ser diverso, relacionado a alimentação,
audição e outros. A paralisia do sono é o A propedêutica do sono envolve uma
momento de despertar sem perda de atonia abordagem complexa, multifatorial, com
do sono REM. anamnese ampliada objetivando conhecer o
paciente e seus hábitos, pois vários fatores,
como já citados, podem interferir no ciclo
É um transtorno crônico do sono caracterizada sono-vigília. Pontos essenciais na investigação
por ataques repentinos de sono, em que a são:
pessoa pode dormir em qualquer lugar, a  Hábitos noturnos como horários de
qualquer hora do dia, dificultando as deitar e levantar, latência do sono, noctúria e
atividades do dia a dia. Os ataques podem despertares noturnos;
surgir poucas ou várias vezes ao dia, e o sono
costuma durar alguns minutos.
 Hábitos diurnos como sonolência,
fadiga, horários de exercícios físicos e
refeições;
 Condições ambientais;
 Sintomas ansiosos, quadros psiquiátricos
e transtornos diversos;
 Uso de medicação, drogas psicoativas e
outras doenças;
 Histórico familiar de distúrbios do sono.
Ao exame físico deve-se atentar para peso
e altura, sobretudo calculando o IMC, pois a
obesidade pode interferir como causa de
transtornos como apneia do sono, ângulo da
mandíbula e circunferência do pescoço e
sempre associe essas informações com
relatos de algum companheiro, se for
presente. As principais queixas de sono Na avaliação do laudo são vários os
incluem: aspectos citados para corroborar com o
→ Insônia diagnóstico clínico como tempo total de sono
→ Sonolência excessiva (SED) e tempo total acordado após início do sono,
→ Incapacidade de dormir ou acordar na arquitetura do sono que são as porcentagens
hora desejada e distribuição do sono durante a noite,
→ Eventos e comportamentos anormais latência do sono incluindo sono REM,
eficiência do sono, questões respiratórias
dentre roncos, diminuição da saturação e
As principais escalas e índices são: Escala índice de apneia e hipopneia e índice de
de sonolência de Epworth. Índice de movimentos periódicos de pernas.
qualidade de sono de Pittsburgh (PSQI), Esse exame não é solicitado de rotina em
Índice de gravidade de insônia e Diário de qualquer queixa ou suspeita clínica, mas
sono. especialmente em situações descritas na
Os exames complementares de destaque tabela 1.
são a polissonografia, teste das latências
múltiplas do sono (TLMS), também conhecido
como Teste Múltiplo de Latência do Sono,
teste de manutenção da vigília e Actigrafia.
Vamos entender um pouco melhor da
polissonografia, visto que este é o exame
padrão ouro para diversos quadros que
envolvem o sono. Ocorre então o
monitoramento do sono durante a noite que
pode ser feito em ambiente hospitalar ou
doméstico e pode também ser filmada (a
videopolissonografia). Existem duas variações da polissonografia
Dentre os parâmetros avaliados e para isso para avaliar a sonolência diurna, sendo que,
ocorre a montagem de eletroencefalograma normalmente, são precedidos de uma
(EEG), Eletrooculograma (EOG), polissonografia noturna.
Eletromiograma (EMG) de mento e membros, • Teste das latências múltiplas do sono: 5
Medidas de fluxo oronasal, Medida de cochilos durante o dia deitado em ambiente
movimento toracoabdominal, adequado a cada 2 horas – Orientado a não
eletrocardiograma, oximetria de pulso, se opor ao sono, avaliar latência do sono e
microfone para ronco. latência do sono REM e a principal avaliação
é o tempo que o paciente leva para dormir e
para entrar no sono REM. Tem como principais
indicações a Hipersonia e Narcolepsia.
• Teste da manutenção da vigília: recomenda sua indicação quando o
indicação de avaliar a capacidade do paciente está utilizando drogas que
paciente em ficar acordado, logo, ele deve suprimam o sono REM (p. ex.: antidepressivos,
se opor ao sono. Há 5 oportunidades de ansiolíticos, hipnóticos), assim como em
cochilo diurno em ambiente adequado a pacientes que apresentam dificuldade para
cada duas horas. adormecer, despertar precoce, sono curto e
A actigrafia é mais uma opção de quadros ansiosos e depressivos.
acompanhar o sono, sendo ele um aparelho No laboratório de sono, pode ser feita a
móvel, normalmente em pulso como relógio e vídeo-PSG, também chamada de
mede o nível de atividade motora. Aparelhos polissonografia com EEG. Nessa modalidade
atuais determinam também a frequência de exame, são colocados os eletrodos
cardíaca e temperatura. A grande vantagem comumente realizados na
é que pode ser utilizada por vários dias eletrencefalografia, além dos parâmetros
permitindo um relato do diário por mais rotineiramente avaliados na PSG de rotina. O
tempo, além do conforto ao paciente. paciente é obrigatoriamente filmado durante
a noite. Pode ser indicado para diagnóstico
diferencial de comportamentos anormais
O instrumento para a avaliação objetiva durante o sono (parassonias e crises
do sono e de seus transtornos é a epilépticas durante o sono).
polissonografia (PSG), que consiste no registro Com o advento dos aparelhos
simultâneo de algumas variáveis fisiológicas computadorizados, tornou-se possível a
durante o período principal de sono. realização da PSG completa (parâmetros
O tipo de registro classificado como Nível 1 neurofisiológicos e cardiorrespiratórios) na
é considerado o padrão-ouro da PSG. residência do paciente. É o chamado Nível 2,
Consiste no exame de noite inteira, realizado mas ainda não há evidências de que
em um laboratório especializado, sob apresente vantagens sobre o padrão-ouro.
supervisão contínua de um técnico habilitado O exame do Nível 3 consiste em uma
em PSG, com registro simultâneo e contínuo monitoração cardiorrespiratória, com
de diversos parâmetros neurofisiológicos, avaliação de alguns parâmetros (fluxo aéreo,
cardiorrespiratórios e outros. Os parâmetros movimentos torácico e abdominal,
avaliados incluem EEG, eletrooculograma, eletrocardiograma, oximetria), sem
eletromiograma, eletrocardiograma, fluxo possibilidade de analisar o padrão de sono.
aéreo (nasal e oral), transdutor de pressão Pode ser feito no laboratório de sono ou no
nasal, esforço respiratório (torácico e domicílio do paciente. Esse tipo de
abdominal), saturação arterial de oxigênio, abordagem deve ser indicado em casos bem
ronco e posição corporal. selecionados de transtornos respiratórios,
Quando o objetivo do exame é quando há forte suspeita de AOS. Não é
diagnóstico, é chamado de exame basal e, indicado para ajuste de pressão de PAP. Esse
quando tem a finalidade de regular pressão exame deve ser indicado com cautela, pois
aérea positiva (PAP), pode ser denominado não é possível avaliar o padrão de sono nem
de PSG para titulação de CPAP, devendo ser diagnosticar outros transtornos do sono; se
realizado após ter sido feito o diagnóstico de tiver um resultado negativo (não faz o
um quadro de apneia obstrutiva do sono diagnóstico de AOS), o paciente deverá ser
(AOS) em uma PSG basal. submetido à PSG padrão.
Outro tipo de exame é a PSG do tipo split- Na PSG, é possível avaliar diversos
night, que consiste, em uma mesma noite, na parâmetros objetivos, os quais devem ser
avaliação diagnóstica de quadro de AOS na correlacionados com a história clínica. Esses
primeira metade do registro, seguida de parâmetros incluem tempo total de registro e
regulação de PAP. Pode ser uma alternativa de sono, eficiência de sono, latência de sono
para quadros graves de AOS, mas sua não REM e REM, porcentagem e distribuição
indicação deve ser criteriosa, pois esse tipo das fases de sono, número e duração de
de exame pode acarretar erros diagnósticos despertares longos (>15 segundos) e breves
e/ou ajustes inadequados do nível da PAP (<15 segundos), índices (eventos respiratórios
adequada para o tratamento. Não se
e motores), arritmias cardíacas, alteração de A PSG pode ser indicada em diversas
gases sanguíneos etc. condições médicas. É o exame de rotina para
• Tempo total de registro: é o intervalo investigação dos transtornos respiratórios do
entre o apagar (“boa noite”) e o acender sono e para titulação da PAP e, ainda, para
(“bom dia”) das luzes. avaliação da resposta terapêutica de
• Tempo total de sono: é o tempo cirurgias, aparelhos intraorais e perda de
efetivamente dormindo, e não o tempo total peso. Quando houver suspeita de
em que o indivíduo permanece na cama; é o narcolepsia, a PSG deverá ser seguida pelo
tempo de registro menos o tempo em vigília. teste das latências múltiplas de sono.
• Eficiência do sono: representa a razão Nos casos das insônias, há controvérsias
entre a quantidade do tempo total de sono e quanto à utilidade da PSG como
o tempo total de registro; o valor normal é investigação de rotina. Ela pode ser indicada
≥85% no adulto jovem. para complementação diagnóstica ou para
• Latência do sono NREM: é o tempo que avaliação subjetiva do padrão de sono. Ela é
leva desde o apagar das luzes até o início do necessária quando há suspeita de
sono, (geralmente estágio N1). O valor normal movimentos periódicos durante o sono, mas
para adultos jovens é de até 30 minutos. não é indicada para o diagnóstico de
• Latência do sono REM: é o tempo entre o síndrome das pernas inquietas.
início do N2 e o início do primeiro episódio de Em casos de comportamentos anormais
sono REM. O valor normal no adulto jovem é durante o sono, a vídeo-PSG pode ser
de 70-120 minutos. importante, principalmente para diagnóstico
• Porcentagem e distribuição das fases de diferencial entre os diferentes tipos de
sono: os estágios do sono se alternam durante parassonias e com crises epilépticas.
a noite e, em um adulto saudável, a Alguns cuidados são essenciais para a
porcentagem normal é de até 8% de estágio realização desse exame. A PSG não deverá
N1, 50%-55% de estágio N2, 15%-25% de sono ser realizada quando o paciente não estiver
de ondas lentas e 20%-25% de sono REM. em seu estado habitual (após privação prévia
• Índice: define o número de um de sono ou após regimes irregulares de sono,
determinado evento por hora de sono: com quadro gripal ou febril, em mudança de
- Microdespertares: duração de 3 a 15 fuso horário etc.), pois esses fatores vão
segundos, e o índice normal é considerado interferir nos resultados. Medicações como
entre 10-15/hora. antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos,
- Índice de apneias-hipopneias: é o número estimulantes do sistema nervoso central (SNC)
de pausas respiratórias dividido pelo número e antipsicóticos podem alterar a arquitetura
de horas de sono: de sono; se o paciente estiver fazendo uso de
alguma dessas drogas, não se recomenda a
sua suspensão para a realização da PSG.
Caso haja indicação clínica para se retirar a
medicação, é fundamental que o exame
seja realizado após um período equivalente a
- Índice de movimento periódicos de
cinco vezes a duração da meia-vida da
membros:
droga (geralmente 14 dias sem a
medicação).

Também devem ser descritas as arritmias


cardíacas e as alterações de gases
sanguíneos, sendo que o parâmetro mais O teste das latências múltiplas do sono
utilizado é a saturação arterial da (TLMS) é um exame utilizado para a
oxiemoglobina obtida pela oximetria digital. quantificação objetiva de sonolência diurna
A “arquitetura do sono” refere-se à e, especialmente, para o diagnóstico
sucessão dos estágios do sono e de vigília ao laboratorial da narcolepsia.
longo da noite, e o hipnograma é a sua Ele é geralmente realizado após uma PSG
representação gráfica. noturna e consiste em quatro a cinco registros
poligráficos feitos durante o dia, obtidos em
intervalos de 2 horas, com duração de 20
minutos para cada registro. O paciente é
instruído a “não resistir ao sono” e, em cada
registro, mede-se o tempo que o paciente
demora a dormir; depois, é calculada a
latência média de sono, e um valor inferior a
5 minutos é considerado anormal. O TLMS
também visa detectar a presença de sono
REM precoce (SOREMPs; sleep-onset REM
period) nos registros diurnos, sendo que o
diagnóstico de narcolepsia requer a
presença de SOREMPs em pelo menos dois
registros.
O TLMS é indicado como parte da
avaliação laboratorial nos pacientes com
suspeita de narcolepsia, principalmente na
ausência de cataplexia. Quando o paciente
apresenta cataplexia, que é patognomônica
de narcolepsia e confirma o diagnóstico
clínico, o TLMS pode ou não ser realizado,
passando a ser uma recomendação, e não
uma exigência. Pacientes com suspeita de
hipersonia idiopática devem ser submetidos à
PSG e ao TLMS para o diagnóstico diferencial
com narcolepsia. Alguns cuidados são
indispensáveis para que o TLMS tenha um
resultado válido e confiável. Medicações que
alteram o sono REM (por exemplo,
antidepressivos, estimulantes, sedativos,
hipnóticos, anti-histamínicos) podem causar
falsos negativos ou falsos positivos e devem
ser suspensos por um período de 14 dias ou o
equivalente a cinco vezes a duração da
meia-vida da droga (no caso de fluoxetina, 6
semanas) antes da realização do exame. É
essencial que o paciente mantenha um
regime regular de sono nas duas semanas
que antecedem o exame e deve evitar
privação de sono. Além disso, deve haver
redução ou suspensão do uso de substâncias
estimulantes (cafeína, chocolate, nicotina,
refrigerantes tipo cola) na semana anterior ao
exame.
Por vezes, o TLMS pode ser inconclusivo,
aconselhando-se sua repetição,
principalmente quando o paciente tem a
suspeita clínica de narcolepsia, mas não
houve o registro de pelo menos dois SOREMPs.

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