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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Divisões e organização geral do
sistema nervoso............................................................... 3
3. Cérebro.........................................................................11
4. Cerebelo.......................................................................20
5. Medula espinal...........................................................25
6. Tronco encefálico......................................................29
7. Meninges.....................................................................40
8. Sistema nervoso periférico....................................43
Referências bibliográficas .........................................50
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 3

1. INTRODUÇÃO enquanto o sistema nervoso periféri-


co é formado pelos nervos cranianos
O sistema nervoso constitui o siste-
e espinhais e pelos gânglios e ter-
ma de comunicação e de controle
minações nervosas que conectam o
do organismo. Graças ao sistema
SNC aos órgãos do corpo.
nervoso podemos respirar, sentir
fome, sentir dor, nos expressar, inter- Funcionalmente, o SNP divide-se em
pretar o mundo à nossa volta, guar- sistema nervoso autônomo (simpá-
dar memórias, sentir emoções, entre tico e parassimpático) e somático. O
outras habilidades que tornam o ser sistema nervoso somático é volun-
humano um animal único. tário, participando da inervação dos
músculos esqueléticos que possuem
Morfologicamente, o sistema nervoso
controle consciente. Já o sistema ner-
é dividido em sistema nervoso cen-
voso autônomo está relacionado com
tral (SNC) e sistema nervoso peri-
o controle da maioria das funções
férico (SNP). O sistema nervoso
viscerais, como a regulação da
central é constituído pelo encé-
motilidade gastrointestinal.
falo (tronco cerebral, cerebelo SISTEMA
NERVOSO
e cérebro) e medula espinal,

CENTRAL PERIFÉRICO

AUTÔNOMO
ENCÉFALO MEDULA ESPINAL SOMÁTICO
(VISCERAL)

CÉREBRO SIMPÁTICO

TRONCO
PARASSIMPÁTICO
ENCEFÁLICO

CEREBELO 2. DIVISÕES E ORGANIZAÇÃO GERAL


DO SISTEMA NERVOSO
O SNC central fica no esqueleto axial, ou seja, crânio e ca-
nal vertebral, por onde passa a medula, enquanto o sis-
tema nervoso periférico fica fora desse esqueleto, porém,
vale ressaltar, que há gânglios localizados dentro do es-
queleto axial.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 4

O cérebro é formado pelo diencéfalo


e telencéfalo, derivados embriologi-
camente do prosencéfalo. Além do
prosencéfalo, a embriologia do siste-
ma nervoso também inclui
o mesencéfalo, que compõe
o tronco encefálico, junta-
mente com o bulbo e ponte.
O bulbo tem origem do mielencé-
falo, enquanto a ponte, bem como
o cerebelo, tem origem do metencé-
falo. O mielencéfalo e o metencéfa-
lo são derivados do rombencéfalo.
Como vimos, o SNP se divide siste-
ma somático e sistema autônomo,
que também é conhecido como vis-
ceral. O componente somático é di- Figura 1. Divisão do Sistema Nervoso. Fonte: https://
vidido em aferente e eferente, onde bit.ly/30Qi2u2

a parte aferente conduz aos centros


nervosos os impulsos gerados nos o comando dos centros nervosos, ge-
receptores periféricos, que transmi- rando os movimentos voluntários.
tem informações sobre o meio em
Axônio
que estamos. A parte eferente leva Gânglio
aos músculos estriados esqueléticos
Corpo Medula espinhal
Celular
Dendritos Neurônio sensorial

Axônio

Via aferente
Interneurônio

Receptores Sistema nervoso periférico

Via eferente

Neurônio motor

Figura 2. Via eferente e via aferente. Fonte: https://bit.


ly/3jNWSWg
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 5

Já o sistema visceral está relacionado impulsos gerados nos centros nervo-


com a inervação e controle das es- sos até as vísceras, terminando assim
truturas viscerais, sendo responsá- em glândulas, músculo liso e no mús-
vel pela integração das vísceras e culo cardíaco.
manutenção da homeostase inter- O componente eferente do sistema
na, ou seja, é o sistema que regula os visceral é dividido em sistemas sim-
movimentos peristálticos, batimentos pático e parassimpático. Porém,
cardíacos, respiração, entre outros essa divisão funcional do sistema
processos autonômicos, ou seja, não nervoso não se aplica às áreas de as-
voluntários. sociação terciárias do córtex cerebral,
Assim como o componente somático, relacionadas, por exemplo, às funções
o sistema visceral também possui cognitivas como linguagem e pensa-
divisão aferente e eferente, sen- mentos abstratos.
do a parte aferente responsável pela
condução dos impulsos gerados nos DIENCÉFALO
receptores viscerais, e a parte efe-
CÉREBRO
rente responsável pela condução dos
TELENCÉFALO

CEREBELO
ENCÉFALO
SISTEMA NERVOSO BULBO
CENTRAL
MEDULA
ESPINHAL TRONCO
PONTE
ENCEFÁLICO

DIVISÃO MESENCÉFALO
DO SISTEMA
NERVOSO
ESPINHAIS

NERVOS

CRANIANOS
SISTEMA NERVOSO
GÂNGLIOS
PERIFÉRICO

Macroscopicamente, o cérebro se or-


TERMINAÇÕES
NERVOSAS ganiza em dois hemisférios, direito
e esquerdo, os quais são separados
por uma fissura longitudinal e uni-
dos pelo corpo caloso. Além disso,
a massa cerebral é formada pelos
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 6

sulcos e giros, que ficam entre os sul- central divide os lobos frontal e parie-
cos. Esses sulcos são importantes tal, o sulco lateral divide o lobo tem-
por aumentarem significativamente o poral dos lobos frontal e parietal e o
volume cerebral. sulco parieto-occipital divide o lobo
Os sulcos e giros agrupados formam occipital dos lobos temporal e parie-
os lobos cerebrais, que também são tal. Há ainda um quinto lóbulo, que é
divididos por alguns sulcos. O sulco a ínsula, localizado internamente às
partes do sulco lateral.

Vista Lateral Vista Superior

Anterior Posterior Anterior

Lobo frontal

Lobo parietal
Hemisfério Hemisfério
Lobo occipital Esquerdo Direito
Lobo temporal
Figura 3. Lobos cerebrais. Fonte: https://bit.ly/3bLV4rv

O cérebro possui ainda cavidades, Internamente, o cérebro se divide


que são chamadas de ventrículos, em duas porções distintas, que é a
que são quatro, dois laterais e terceiro substância cinzenta e a substância
e quarto ventrículos. Esses ventrícu- branca. A substância cinzenta com-
los fornecem flutuabilidade ao cére- preende o córtex cerebral e os núcle-
bro, reduzindo seu peso, pois é por os, enquanto a substância branca fica
essas cavidades que o líquido cefa- no centro (“miolo cerebral”).
lorraquidiano (líquor) se movimenta.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 7

Figura 4. Substância cinzenta


e substância branca do cérebro.
Fonte: SILVERTHORN, Dee
Unglaub. Fisiologia humana: uma
abordagem integrada. 7. ed. Porto
Alegre. 2017

Em outras palavras, a substância os impulsos nervosos entre os neurô-


cinzenta é a parte efetivamente fun- nios em si e entre eles e a medula, por
cional do cérebro, enquanto a subs- onde são enviados os sinais para os
tância branca é composta por células membros, permitindo os movimen-
nervosas mielinizadas, que conectam tos voluntários e reflexos.
diversas áreas da substância cinzen-
ta, onde ficam os corpos celulares
dos neurônios, transportando assim
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 8

ANATOMIA
GERAL DO
SISTEMA
NERVOSO

HEMISFÉRIOS DIREITO SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA


LOBOS CEREBAIS
E ESQUERDO BRANCA CINZENTA

FISSURA TRANSAMISSÃO
LOBOS PARIETAIS SINAPSES
LONGITUDINAL DAS SINAPSES

CORPO CALOSO LOBO OCCIPITAL


eletricamente através dos fenômenos
LOBOS do potencial de ação, e a maior par-
TEMPORAIS te deles se divide em corpo celular,
dendritos e axônio.
LOBO FRONTAL O corpo celular neuronal é formado
pelo núcleo e citoplasma (pericárdio),
ÍNSULA que possui as organelas como em
qualquer outro tipo celular, sendo as-
sim o centro metabólico do neurônio e
SULCOS local de recepção dos estímulos rece-
bidos pelas sinapses. A forma e tama-
GIROS
nho do corpo celular é muito variável,
dependendo do tipo de neurônio.
Os dendritos são especializados em
VENTRÍCULOS
receber os estímulos, traduzindo-os
em alterações do potencial de repou-
O tecido nervoso é formado basica- so da membrana (potencial de ação)
mente pelos neurônios, que são as que se propagam em direção ao cor-
unidades funcionais deste tecido, e po do neurônio e daí para o cone de
pelas células gliais (neuroglia), que implantação do axônio. O axônio, en-
ocupam os espaços entre os neurô- tão, é a porção do neurônio que faz
nios e são responsáveis por sua pro- as conexões com outros neurônios
teção e suporte. Os neurônios são ou com células efetoras, como mús-
células excitáveis, que se comunica culos e glândulas.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 9

Mitocôndria

Núcleo
Corpo Bainha de
mielina
Nodo de Ranvier Células de
Dendrito Schwann

Axônio
Figura 5. Neurônio. Fonte: https://bit.ly/3c3qNV8

Os nervos são cordões que unem É importante lembrar que, a transmis-


o SNC aos órgãos periféricos, sen- são elétrica dos neurônios ocorre por
do os nervos cranianos aqueles que condução saltatória. Isso ocorre de-
fazem a conexão com o encéfalo e vido à presença da bainha de mielina
os nervos espinhais aqueles que fa- nos neurônios, que forma um isolante
zem conexão com a medula espinhal. elétrico pelo qual o potencial elétrico
Os gânglios, por sua vez, são di- não é capaz de passar. O potencial de
latações formadas por corpos de ação só ocorre nos nódulos de Ran-
neurônios relacionados com alguns vier, que são regiões entre as bainhas
nervos e raízes nervosas. de mielina, ou seja, regiões que não
possuem esse isolante elétrico, então
Funcionalmente, os gânglios se divi-
o sinal salta, entre um nódulo e ou-
dem em sensitivos e motores vis-
tro, tornando a condução muito mais
cerais, que participa do sistema ner-
rápida. A bainha de mielina é com-
voso autônomo, que é parte do SNP.
posta pela membrana das células de
Nas extremidades das fibras que for-
Schwann.
mam os nervos há as terminações
nervosas, que podem ser sensitivas
(aferentes) ou motoras (eferentes).
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 10

Figura 6. Condução saltatória. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7.
ed. Porto Alegre. 2017

SAIBA MAIS!
Uma doença desmielinizante é qualquer doença no cérebro ou na medula na qual ocorra uma
alteração do tipo inflamação na bainha de mielina dos nervos, daí o termo desmielinização.
Esta inflamação da mielina pode ser secundária a outra causa (por exemplo, uma vacina ou
uma infecção), ou primariamente autoimune, e prejudica a condução de sinais nos nervos
afetados, causando sintomas na sensação, nos movimentos, cognição e outras funções, de-
pendendo dos nervos ou áreas envolvidas. Dentre as doenças desmielinizantes, a principal e
mais conhecida é a esclerose múltipla, que acomete frequentemente adultos jovens, e atual-
mente tem o seu diagnóstico e tratamento bastante efetivos.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 11

TECIDO
NERVOSO

NEURÔNIO CONDUÇÃO SALTATÓRIA NEURÓGLIA

CORPO CELULAR NÓDULOS DE RANVIER

DENDRITOS CÉLULAS DE SCHWANN

AXÔNIO FIBRAS MIELÍNICAS BAINHA DE MIELINA

NERVO FIBRAS AMIELÍNICAS

3. CÉREBRO Diencéfalo
O cérebro se divide em dois compo- Como já mencionado, o diencéfalo é
nentes principais: diencéfalo e te- composto pelo tálamo, hipotálamo,
lencéfalo. O diencéfalo é a porção epitálamo e subtálamo, e todas essas
evolutivamente mais rudimentar partes têm relação com o III ventrícu-
do cérebro, sendo composto por lo. O III ventrículo se comunica com
núcleos de substância cinzenta, que o IV ventrículo pelo aqueduto ce-
são o tálamo, hipotálamo, epitálamo e rebral, e com os ventrículos laterais
subtálamo. pelos forames interventriculares
correspondentes.
O telencéfalo, por sua vez, é a por-
ção predominante do cérebro, a Em uma visão do plano sagital me-
qual evolutivamente diferencia o ser diano é possível observar o sulco hi-
humano de outros animais. O telen- potalâmico, uma depressão que se
céfalo é dividido em núcleos da base, estende do aqueduto cerebral até o
córtex cerebral e substância branca. forame interventricular. As paredes
superiores a essa depressão per-
tencem ao tálamo, enquanto as in-
feriores pertencem ao hipotálamo. A
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 12

cavidade ventricular é atravessada


pela aderência intertalâmica que
une os dois tálamos.
LÍQUIDO
CEFELORRAQUIDIANO
VENTRÍCULOS
LATERAIS
CÉREBRO

TERCEIRO
VENTRÍCULO CRÂNIO

QUARTO
VENTRÍCULO

Figura 7. Ventrículos cerebrais. Fonte: https://bit.ly/2ZvOcfm

No assoalho do terceiro ventrícu- Tálamo


lo dispõem-se de frente para trás, o
O tálamo são duas massas volumo-
quiasma óptico, o infundíbulo, o túber
sas de substância cinzenta, dispos-
cinéreo e os corpos mamilares per-
tas uma de cada lado na porção late-
tencentes ao hipotálamo. A parede
rodorsal do diencéfalo. A extremidade
superior desta cavidade é formada
anterior de cada um deles apresenta
pelo epitálamo, de onde saem as es-
o tubérculo anterior do tálamo, que
trias medulares do tálamo, nas quais
participa da delimitação do forame
se insere a tela coroide que forma o
interventricular. A extremidade pos-
teto do III ventrículo. A parede anterior
terior apresenta o pulvinar do tálamo,
do III ventrículo é formada pela lâmina
que se projeta sobre os corpos ge-
terminal, que une os dois hemisfé-
niculados lateral e medial. O corpo
rios cerebrais.
geniculado medial faz parte da via
auditiva e o lateral da via óptica.
A porção lateral da face superior
do tálamo faz parte do assoalho do
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 13

ventrículo lateral, sendo revestido por Esta parte do diencéfalo compreende


epitélio ependimário, e a face me- os corpos mamilares, quiasma óptico,
dial do tálamo forma a maior parte túber cinéreo e infundíbulo.
das paredes laterais do III ventrículo. O quiasma óptico recebe fibras dos
A face lateral do tálamo é separada nervos ópticos e então cruzam em
do telencéfalo pela cápsula interna, parte e continuam nos tratos ópticos,
que liga o córtex cerebral a centros que vão para os corpos geniculados
nervosos subcorticiais. A face infe- laterais. No túber cinéreo prende-se a
rior é contínua com o hipotálamo e hipófise, por meio do infundíbulo.
subtálamo.
O tálamo é responsável pela coorde-
nação das informações do corpo,
por onde passam diversas vias como
as vias sensoriais, cerebelares, vias
associadas aos núcleos da base e
vias relacionadas ao comportamento.
Com isso, o tálamo possui muitas al-
ças de comunicação com o córtex
cerebral, para onde manda
essas informações e
também de onde re-
cebe informações.

Hipotálamo
O hipotálamo fica ao
redor do terceiro
ventrículo, também
organizado em nú-
cleos. Essa porção
cerebral é responsá-
vel principalmente
pelas funções auto-
nômicas e pela re-
gulação da homeos-
tase do organismo.
Figura 8. Diencéfalo. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana:
uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 14

Epitálamo Subtálamo
O epitálamo fica numa região mais O subtálamo consiste na zona de
posterior do diencéfalo, abaixo do transição entre o diencéfalo e o teg-
corpo caloso, já na transição para o mento do mesencéfalo, localizado
mesencéfalo. Sua estrutura mais im- abaixo do tálamo. A função desta
portante é a glândula pineal, tam- porção é a mediação do movimen-
bém chamada de epífise, que é uma to, fazendo parte dos circuitos dos
glândula endócrina que produz me- núcleos da base, facilitando ou inibin-
latonina, e por isso as principais fun- do os movimentos. Com isso, lesões
ções do epitálamo são controle do nessa região geram movimentos
ciclo sono-vigília, pois a melatonina involuntários.
é um hormônio importante na modu-
lação do sono nos ciclos
circadianos e sazonais.
SENSIBILIDADE

TÁLAMO

FUNÇÃO MOTORA

EPITÁLAMO DIENCÉFALO SUBTÁLAMO

CONTROLE DO CICLO
SONO-VÍGÍLIA
HIPOTÁLAMO

MANUTENÇÃO DA
HOMEOSTASE

Telencéfalo são depressões que delimitam os


giros.
O telencéfalo compreende os dois he-
misférios cerebrais, ou seja, compõe Alguns desses sulcos são incons-
os lobos cerebrais, e a lâmina termi- tantes e não recebem nomenclatu-
nal. Esses dois hemisférios são unidos ra, enquanto outros são constantes,
pelo corpo caloso, e possui os ventrí- como aqueles que dividem os lobos,
culos cerebrais. Como já mencionado, já mencionados acima. Em cada he-
o cérebro é formado por sulcos, que misfério cerebral, os dois sulcos mais
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 15

importantes são o sulco lateral e o para o lobo parietal, separando o lobo


sulco central. temporal dos lobos frontal e parietal.
O sulco lateral separa o lobo fron- O sulco central, que separa os lobos
tal do temporal e se divide em três frontal e parietal, é ladeado por dois
ramos: ascendente, anterior e poste- giros paralelos que são o giro pré-
rior. Os ramos ascendente e anterior -central e o giro pós-central. O giro
são curtos e penetram no lobo frontal, pré-central está associado à motri-
enquanto o ramo posterior se dirige cidade, enquanto o giro pós-central
está associado com a sensibilidade.
Sulco central
Giro pré-central Giro pós-central
Sulco pré-central Sulco pós-central
Giro frontal médio
Lóbulo parietal superior
Giro frontal superior Sulco intraparietal
Sulco frontal superior Lóbulo parietal inferior

Sulco frontal inferior Giro supramarginal

Parte opercular do Giro angular


giro frontal inferior
Parte triangular do Sulco parietooccipital
giro frontal inferior
Parte orbital do giro
frontal inferior

Sulco calcarino
Polo frontal
Polo occipital

Ramo anterior Sulco semilunar (inconstante)


do sulco lateral Sulco occipital transverso
Ramo ascendente do Incisura pré-occipital
sulco lateral
Giro temporal inferior
Ramo posterior
Sulco temporal inferior
do sulco lateral
Giro temporal médio
Polo temporal Sulco temporal superior
Giro temporal superior

Figura 9. Anatomia dos giros e sulcos do telencéfalo. Fonte: Netter, Atlas De Anatomia Humana, 2019

Cada lobo possui sulco e giros mais frontal inferior. Entre os sulcos central
importantes. O lobo frontal pos- e pré-central está o giro pré-cen-
sui três sulcos principais, que são os tral, onde fica a área motora mais
sulcos pré-central, frontal superior e importante do cérebro. Acima do
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 16

sulco frontal superior fica o giro fron- somestésica, uma das áreas sensi-
tal superior, área relacionada com a tivas mais importantes do córtex.
atenção e comportamento social, por O sulco intraparietal separa os lóbu-
exemplo. los parietais superior e inferior, sendo
Entre os sulcos frontal superior e fron- que neste último estão os giros supra-
tal inferior está o giro frontal médio, e marginal, associado a propriocepção,
logo abaixo do sulco frontal inferior sensibilidades auditiva, visual e so-
está o giro frontal inferior, chamado matosensoral e o angular, relaciona-
de área de Broca, que consiste em dos com linguagem, processamento
uma das áreas de linguagem cerebral. de números, cognição espacial, res-
gate de memórias, atenção.
O lobo temporal apresenta os sulcos
temporal superior e temporal inferior. Na face medial do cérebro, os lobos
Entre os sulcos lateral e temporal su- frontal e parietal apresentam os sul-
perior está o giro temporal superior, cos do corpo caloso e do cíngulo,
relacionado com a audição primária. sendo que este último separa o cor-
Entre os sulcos temporal superior e po caloso do giro do cíngulo, relacio-
temporal inferior está o giro temporal nado com evocação de memória e
médio, associado às funções visuais aprendizagem.
secundárias (reconhecimento facial). O lobo occipital apresenta os sulcos
Abaixo do sulco temporal inferior fica calcarino e parietoccipital, entre os
o giro temporal inferior, que se limi- quais se situa o cúneus, que consis-
ta com o sulco occipito-temporal e tem em uma representação cortical
também está relacionado com fun- das emoções. Abaixo do giro occipi-
ções visuais secundárias, como iden- to-temporal medial, está o giro para-
tificação de objetos e formas. O lobo -hipocampal, já no lobo temporal, e
temporal também apresenta os giros este giro está associado às funções
temporais transversos, sendo o giro de memória.
temporal transverso anterior o mais Por fim, a ínsula apresenta os sulcos
importante, onde se localiza a área da circular e central da ínsula, e os giros
audição. curtos e giro longo da ínsula, que par-
O lobo parietal apresenta os sulcos ticipam principalmente do sistema
pós-central e intraparietal. Entre os límbico, envolvido com as emoções,
sulcos central e pós-central fica o giro além do paladar.
pós-central, onde se localiza a área
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 17

Figura 10. Sulcos e giros. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed.
Porto Alegre. 2017

O córtex cerebral apresenta ainda os Eles são formados por núcleos com
núcleos da base, também chamados diferentes estruturas e atividades,
de núcleos de Giornando ou gânglios que atuam como uma unidade fun-
da base, são um conjunto de corpos cional. Desse grupo fazem parte o
de neurônios situados em áreas corpo estriado, formado pelo núcleo
subcorticais, que participam do pla- caudado e putâmen, globo pálido, nú-
nejamento do movimento, além de cleo subtâmico e substância negra.
outros comportamentos motores e
cognitivos.

SAIBA MAIS!
Na doença de Parkinson, o circuito dos núcleos da base está comprometido, por isso os qua-
dros de lentificação dos movimentos e tremores. Esta doença está associada com a morte
dos neurônios da substância negra, um dos núcleos do mesencéfalo, o que torna o cérebro
privado de dopamina, gerando os sintomas de Parkinson, que além da lentificação dos mo-
vimentos e tremores, também incluem alterações na fala, rigidez muscular e instabilidade
postural.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 18

Figura 11. Núcleos da base –


secções horizontais através do
cérebro.

Dessa forma, o córtex cerebral é res- ao lobo temporal, é envolvida com a


ponsável pelas funções superiores, ou linguagem.
seja, pelas funções cognitivas, que O sistema límbico esquerdo é mais
medeiam as interações entre o indiví- associado à memória verbal. Já o lobo
duo com o meio no qual está inserido. parietal no hemisfério direito está mais
Como vimos, a divisão dos hemisfé- relacionado com a atenção espacial, o
rios infere nas diferenças de funções lobo temporal direito está associado
armazenadas em cada um. O lobo ao reconhecimento de faces, a região
parietal esquerdo está associado, por perisilviana direita está relacionada
exemplo, ao planejamento de algu- à prosódia (entonação da voz) e por
mas funções motoras (praxia), como isso sua associação com a musicali-
saber andar de bicicleta ou andar. dade também e o sistema límbico di-
A região perisilviana esquerda, es- reito está envolvido com a memória
pecialmente a porção mais próxima visual, emoção, afeto e empatia.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 19

Figura 12. O sistema límbico. O sistema límbico inclui a amígdala, o


hipocampo e o giro do cíngulo. Anatomicamente, o sistema límbico é
parte da substância cinzenta do cérebro. O tálamo não é parte do sis-
tema límbico e está representado na figura com o propósito de orien-
tação. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma
abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017

GIRO OCCÍPITO-
LOBO OCCIPITAL TEMPORAL MEDIAL
GIRO PARA-HIPOCAMPAL

GIRO DO CÍNGULO
GIRO PRÉ-CENTRAL
LOBO FRONTAL GIRO FRONTAL SUPERIOR
GIRO FRONTAL MÉDIO
GIRO FRONTAL INFERIOR

GIRO TEMPORAL SUPERIOR


GIRO TEMPORAL MÉDIO
TELENCÉFALO LOBO TEMPORAL
GIRO TEMPORAL INFERIOR
GIROS TRANSVERSOS

GIRO DO CÍNGULO
GIRO PÓS-CENTRAL
LOBO PARIETAL
GIRO ANGULAR
GIRO SUPRAMARGINAL

GIROS CURTOS DA ÍNSULA


ÍNSULA
GIRO LONGO DA ÍNSULA
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 20

4. CEREBELO anterior e flóculonodular, sendo que


este último só pode ser visualizado
A anatomia do cerebelo se dá em
na visão anterior. Os lobos anterior e
foliação e em lâminas, semelhante
posterior são divididos por uma fissu-
a um tronco de árvore com ramifica-
ra primária, e o lobo posterior é dividi-
ções, cujas saídas, folhas cerebela-
do do flóculonodular por outra fissura.
res, constituem o córtex cerebelar. Ele
possui conexão com o quarto ventrí- Cada hemisfério cerebelar é dividido
culo na parte anterior/inferior, com o a por uma porção da dura-máter. A re-
cisterna magna na parte inferior, com gião do vermis cerebelar, que fica entre
o crânio (osso occipital) na parte pos- os dois hemisférios, recebe principal-
terior e com a tenda do cerebelo com mente aferentes espinocerebelares,
a parte superior. ou seja, seja, aferências da medula. Já
os hemisférios possuem conexões
Além disso, o cerebelo é dividido
com fibras mais complexas.
em três grandes lóbulos: posterior,

Lobo anterior

Incisura cerebelar Lóbulo


anterior quadrangular
Lóbulo central
do vermis Fissura primária
superior

Fissura
Cúlmen do horizontal
vermis superior

Lóbulo simples

Declive do
vermis superior Fissura
pós-semilunar
Lóbulo
semilunar rostral
Folium do nervo
superior Lóbulo
semilunar causal
Incisura cerebelar
posterior

Lobo posterior Figura 13. Cerebelo. Fonte: https://bit.


ly/2A3Gr5B
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 21

A organização histológica do cere- cognitivo não associada com o con-


belo é constituída pelo córtex, que é trole motor.
mais superficial, composto por folia, O cerebelo é o grande modulador da
e este córtex fica em torno da subs- motricidade, a qual é “originada” em
tância branca profunda, além de três outros centros cerebrais (córtex mo-
pares de núcleos profundos, em cada tor). Vale ressaltar, no entanto, que
hemisfério. além o cerebelo, outras regiões cere-
O córtex cerebelar é composto por brais também modulam a motricida-
três camadas: camada molecular ex- de, como as áreas envolvidas com a
terna, camada média das células de visão.
Purkinje e camada mais interna de O cerebelo regula a motricidade atra-
células granulares. vés da regulação do tônus muscu-
A substância branca cerebelar é lar, da postura e do equilíbrio, sendo
formada por dois neurônios dife- uma de suas principais funções a ex-
rentes: fibras trepadeiras e fibras citação automática dos músculos an-
musgosas. As fibras trepadeiras são tagonistas no final de um movimento
fibras terminais provenientes dos tra- e a inibição simultânea dos músculos
tos olivocerebelares (complexo olivar agonistas que iniciaram o movimento,
bulbar), as quais fazem inúmeras si- tornando o movimento mais refinado.
napses com célula de Purkinje. Todas as informações recebidas pelo
As fibras musgosas compreendem cerebelo vão diretamente para os três
todos os outros tratos aferentes pares de núcleos profundos, que re-
cerebelares, sendo bem difusas e cebem a informação do córtex ce-
com muitos ramos, e cada uma delas rebelar, e com isso esses núcleos
pode estimular milhares de células são a principal fonte de eferentes
de Purkinje (ou seja, é tecnicamente cerebelares.
o contrário das fibras trepadeiras). Há Todas as projeções eferentes são ex-
ainda fibras em multicamadas, que in- citatórias, exceto projeções para a oli-
cluem aferências do hipotálamo, nú- va inferior (bulbo), que são inibitórias.
cleos da rafe e locus coeruleus, e es- De medial para lateral, os núcleos
sas fibras também se projetam para são: núcleo fastigial, núcleo interpó-
o córtex e para os núcleos profundos sito, formado por parte emboliforme
do cerebelo, apresentando algumas (externa) e globosa (interna) e núcleo
funções associadas ao componente denteado.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 22

requerem maior destreza e planeja-


SE LIGA! Esses núcleos também podem mento motor, ou seja, atua na porção
ser subdivididos longitudinalmente rela- mais refinada no controle da muscu-
cionando com a divisão embriológica/
latura apendicular (mãos e pés). Le-
filogenética do cerebelo, assim, na zona
da linha média (vermal) o núcleo fasti- sões no núcleo denteado estão as-
gial se relaciona com o arquicerebelo, na sociadas a atrasos no início e término
zona intermediária (paravermal) o núcleo dos movimentos, tremor terminal e de
interpósito se associa ao paleocerebelo,
e na zona lateral (hemisfério) o núcleo
intenção, incoordenação temporal em
denteado se associa ao neocerebelo. movimentos que exigem múltiplas
articulações e anormalidades na co-
ordenação espacial dos movimentos
Assim, o núcleo fastigial auxilia da mão e dos dedos.
a postura e a marcha, controla só
O cerebelo se conecta ao tronco ce-
músculos apenas nos modos de sen-
rebral através de três pedúnculos
tar, ficar de pé e andar, e lesões nesse
cerebelares: pedúnculo cerebelar in-
núcleo pode causar abasia, que são
ferior, que o conecta ao bulbo, pedún-
distúrbios da marcha e do controle da
culo cerebelar médio, que o conecta à
postura.
ponte e pedúnculo cerebelar superior,
O núcleo interpósito auxilia os re- que o conecta ao mesencéfalo.
flexos segmentares, promoven-
do estabilidade e com isso também
participam do equilíbrio. Além disso,
este núcleo acelera o início de movi-
mentos desencadeados por estímu-
los somatossensoriais, que guiam a
resposta, interrompem movimentos
indesejáveis e promovem oscilações
desejadas e maior controle posterior.
Lesões no núcleo interpósito causam
rebote, que é um descontrole na si-
nergia entre os músculos agonistas
e antagonistas, titubeação troncular,
movimentos alternados rápidos anor-
mais, tremor de ação, oscilação das
extremidades estendidas e ataxia nas
manobras.
Por fim, o núcleo denteado está
envolvido com atividades que
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 23

CAMADA MOLECULAR
EXTERNA

CAMADA MÉDIA DE
CÉLULAS DE PURKINJE

CAMADA INTERNA DE
CÉLULAS GRANULARES

ESTRUTURA
FIBRAS MUSGOSAS CAMADAS EQUILÍBRIO
EM LÂMINAS

FIBRAS SUBSTÂNCIA REGULAÇÃO DO


MOTRICIDADE
TREPADEIRAS BRANCA TÔNUS MUSCULAR
CEREBELO
PEDÚNCULOS
TAREFAS REFINADAS N. DENTEADO TRONCO ENCEFÁLICO
CEREBELARES

N. INTERPÓSITO N. FASTIGIAL

REFLEXOS
POSTURA E MARCHA
SEGMENTARES
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 24

O equilíbrio à atenção e ao aprendizado motor,


controle de dinâmica, orientação no
O controle do equilíbrio é resultado da
espaço, além de estratégias senso-
interação de vários sistemas do orga-
riais e estratégias de movimento.
nismo, sendo o cerebelo uma delas,
porém o sistema vestibular e visual A orientação espacial, que se refe-
também estão envolvidos, além de re à capacidade de orientar as partes
outros componentes. Para entender o do corpo, depende da gravidade, da
equilíbrio é importante entender a de- superfície de suporte, da ambienta-
finição de controle postural, que não ção visual e de referências internas.
é um sistema ou conjunto de reflexos Dessa forma, a orientação espacial
de equilíbrio, e sim uma habilidade é um componente crítico no controle
motora complexa derivada de múl- postural.
tiplos processos sensório-motores, O controle dinâmico se refere ao con-
apresentando dois objetivos funcio- trole durante a marcha e mudança de
nais principais, que é a orientação posição, e com isso o complexo do
postural e o equilíbrio. movimento do centro de massa cor-
A orientação postural é um alinha- poral vai mudando, necessitando de
mento ativo do equilíbrio do corpo uma estabilidade postural para frente
e do tônus relacionado com a gravi- durante a marcha. Esse controle de-
dade, superfície de apoio, ambiente pende do membro em balanço para
visual e referências internas. Esse compensar o deslocamento do centro
processo se baseia nas informações de massa. A estabilidade lateral du-
provenientes de várias fontes senso- rante a marcha depende da combi-
riais convergentes de sistemas so- nação de controle de tronco lateral e
matossensoriais (posição dos mem- posição lateral dos pés.
bros e tronco), vestibulares (posição O controle postural também de-
da cabeça) e visuais. pende de recursos cognitivos.
Já o equilíbrio é a coordenação de Quanto mais complexa a tarefa, mais
algumas estratégias sensório-mo- processamento cognitivo é necessá-
toras, que tem o objetivo de esta- rio, sendo que o tempo de reação e
bilizar o centro de massa corporal performance caem quando a dificul-
durante qualquer perturbação na es- dade da tarefa aumenta. Quando se
tabilidade postural. Essas estratégias está realizando múltiplas tarefas, por
incluem restrições biomecânicas, pro- exemplo, o equilíbrio é diminuído.
cessamento cognitivo, relacionado
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 25

SAIBA MAIS!
A marcha dos bebês é instável não só por conta dos seus pés muito pequenos, mas também
devido a outros sistemas que ainda estão imaturos, como o controle da sinergia dos músculos
antagonistas e agonistas.

EQUILÍBRIO

ESTRATÉGIAS
RESTRIÇÕES BIOMECÂNICAS CONTROLE POSTURAL
DE MOVIMENTO

CENTRO DO CONTROLE ESTRATÉGIA DO


DE MASSA CORPORAL TORNOZELO

ESTRATÉGIA DO QUADRIL

5. MEDULA ESPINAL
A medula espinal é o componente ESTRATÉGIAS SENSORIAIS

“distal” do sistema nervoso, consis-


tindo em um órgão segmentar, de
onde saem e chegam raízes nervo- Na porção cervical, a medula apre-
sas, as quais dão origem ao sistema senta uma dilatação, de onde se ori-
nervoso periférico através dos plexos ginam o plexo braquial e inerva os
nervosos. membros superiores, e há outra di-
A medula é uma massa cilindroide latação na região lombossacral, de
de tecido nervoso, situada no canal onde saem as fibras que formam o
vertebral, mas não o ocupa comple- plexo lombossacral, que inerva os
tamente. Em mulheres, este órgão membros inferiores. Assim, em um
mede aproximadamente 42 cm, e em corte torácico da medula, é observa-
homens 45 cm. Na porção caudal, a da a menor presença de corpos neu-
medula se afila formando o cone me- ronais, a substância cinzenta fica me-
dular, do qual sai o filamento terminal, nor, e isso ocorre porque as regiões
que conecta a medula à parte óssea, cervical e lombossacral precisam de
possibilitando sua fixação.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 26

mais corpo neuronal para formar os e 3 colunas de cada lado, anterior,


plexos cervical e lombossacral. posterior e lateral (apenas na coluna
torácica). Cada região da medula é
segmentada, sendo as raízes ante-
riores aferentes e as raízes anteriores
eferentes.
A organização em lâminas também
Intumescência pode ser entendida como organiza-
cervical ção em núcleos. Os núcleos do corno
anterior, a parte mais medial, percorre
toda a medula e inervam a muscula-
tura axial (tronco). Os núcleos laterais
inervam a musculatura apendicular, e
estão presentes apenas nas regiões
da intumescência cervical e lombar,
que são os locais de onde se formam
os plexos cervical e lombossacral.
Intumescência Já os núcleos do corpo posterior são
lombar a substância gelatinosa, e possuem
organização bastante complexa, re-
cebendo fibras sensitivas pela raiz
dorsal. Estes núcleos estão envolvi-
dos com a regulação da entrada de
impulsos dolorosos (portão da dor).
Há ainda o núcleo dorsal de Clarke,
relacionado com a propriocepção in-
Cauda consciente dos membros inferiores
equina (aferentes cerebelares).

Figura 14. Medula espinhal. Fonte:


https://bit.ly/3eglt28

Histologicamente, a medula se or-


ganiza em um formato de H inter-
no, formado por substância cin-
zenta, que possui um canal central
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 27

Substância
cinzenta Filamentos da raiz dorsal
Raiz dorsal do nervo espinhal
Substância
branca Gânglio espinhal
Ramo dorsal do
Filamentos da nervo espinhal
raiz ventral Ramo ventral do
nervo espinhal

Raiz ventral do
nervo espinhal

Ramos
comunicantes
Figura 15. Corte da medula espinhal. Fonte: https://bit.
ly/3ehejec cinzento e branco

A parte externa da medula é cons- A maioria das fibras das vias descen-
tituída por substância branca, a dentes se originam no córtex cere-
qual é dividida em três funículos (ou bral e outras têm origem no tron-
cordões): anterior, lateral e posterior, co encefálico, fazem sinapse com
que ficam entre as colunas ventral neurônios medulares. Algumas des-
e lateral. Na medula lombossacral e sas fibras terminam nos neurônios
torácica há apenas um fascículo que pré-ganglionares do sistema nervoso
passa pelo funículo posterior, que é o autônomo, como as vias descenden-
fascículo grácil. Na medula cervical, tes viscerais, e outras fazem sinapse
há o fascículo grácil cuneiforme, um com neurônios da coluna posterior,
em cada lado na região posterior. participando de mecanismo regulató-
rios da própria medula, como o contro-
SE LIGA! A informação chega do siste-
le de reflexos, que ficam exagerados
ma nervoso periférico pela raiz dorsal, quando essas vias são lesionadas.
faz conexão na substância cinzenta, e
daí ascende pela substância branca ao
Além disso, há vias descenden-
redor para o encéfalo ou retorna ao SNP tes que formam a conexão com os
para realizar um ato motor ou um ato re- neurônios motores somáticos, per-
flexo. Assim, a substância branca é divi- mitindo a interação com o meio ex-
dida em vias descendentes e vias ascen-
dentes, que levam e trazem informações terno, e essas vias são divididas em
para e do SNP, respectivamente.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 28

dois grupos: neurônio piramidais e podem ser monossinápticos ou polis-


extrapiramidais. sinápticos, segmentares ou interseg-
As vias ascendentes se relacionam mentares, ou podem ser reflexos de
direta ou indiretamente com fi- alça longa, que manda informações
bras que penetram pela raiz dorsal, até próximo ao tronco encefálico.
transmitindo impulsos aferentes de Além disso, esses reflexos também
várias partes do corpo. Cada filamen- envolvem circuitos que podem che-
to radicular da raiz dorsal, ao chegar gar até o córtex cerebral, mas que
ao sulco lateral posterior, divide-se permitem a modulação dos reflexos
em uma parte medial e outra lateral. espinais por mecanismos supraseg-
Os filamentos laterais são mais finos mentares. Basicamente, os reflexos
e se dirigem ao ápice da coluna poste- são respostas motoras a estímulos
rior do H interno. Daí, elas se direcio- sensoriais.
nam para o funículo lateral, levando Além disso, a medula também é res-
informações de dor e temperatura. ponsável pelo controle autonômico,
Os filamentos mediais se dirigem ou seja, controle do peristaltismo, res-
à face medial da coluna posterior, e piração, controle cardiovascular, entre
muitas dessas fibras seguem para o outras funções fisiológicas. Assim, le-
bulbo e formam os fascículos grácil sões a nível de C3 a C5 podem en-
e cuneiforme. Essas fibras levam in- volver o núcleo frênico, envolvido com
formações de propriocepção cons- a regulação do diafragma, causando
ciente e tato fino. assim transtornos respiratórios por
paralisia diafragmática, que gera limi-
Antes de penetrar a coluna posterior, tação da expansão da caixa torácica.
cada uma dessas fibras se bifurcam Lesões na medula cervical superior
em ramo ascendente, ramo descen- podem estar envolvidas com a bra-
dente e colaterais finos, sendo que to- dicardia, hipotensão (interrupção das
dos esses ramos terminam na coluna fibras simpáticas descendentes).
posterior, exceto os que seguem para
os fascículos grácil e cuneiforme, pois A medula apresenta ainda importante
isso permite uma regulação maior das função no controle das pálpebras, pu-
funções da medula espinhal. pilas, glândulas sudoríparas, função
vesical, função retal e função sexual
Assim, a medula é responsável pelos (ereção e ejaculação). Resumindo, a
reflexos do tronco e membros, que medula é um órgão do SNC central
são respostas a estímulos mediados envolvida com a motricidade, sensi-
a nível medular porque precisam ser bilidade e funções autônomas, que
uma resposta bastante rápidas, para a envolvem os reflexos.
proteção do organismo. Esses reflexos
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 29

LIGAÇÃO DO SNP
AO SNC SUPERIOR

INTUMESCÊNCIA CERVICAL REGULAÇÃO DE REFLEXOS

MEDULA
INTUMESCÊNCIA LOMBAR RAIZ VENTRAL (EFERENTE)
ESPINAL

CAUDA EQUINA RAIZ DORSAL (AFERENTE)

SUBSTÂNCIA CINZENTA SUBSTÂNCIA BRANCA

FUNÍCULOS ANTERIOR,
H INTERNO LATERAL E POSTERIOR

VIAS ASCENDENTES
E DESCENDENTES
6. TRONCO ENCEFÁLICO
FASCÍCULOS GRÁCIL
O tronco encefálico constitui a cone- E CUNEIFORME
xão do encéfalo com a face e par-
te do pescoço. O tronco encefálico,
formado pelo bulbo, ponte e mesen- fibras e corpos de neurônios no tron-
céfalo, faz parte do sistema nervoso co encefálico, que é a formação re-
segmentar do SNC, assim como a ticular, que preenche o espaço situ-
medula, porém essas estruturas pos- ado entre os núcleos e tratos mais
suem diferenças. compactos.

Uma delas é a fragmentação longitu- Muitos dos comportamentos huma-


dinal e transversal da substância cin- nos complexos são respostas motoras
zenta no tronco encefálico, formando estereotipadas programadas no tron-
os núcleos dos nervos craniano, os co encefálico e não do prosencéfalo.
quais correspondem a áreas de subs- Essas respostas são comportamen-
tâncias cinzenta homóloga à da me- tos fixos, invariantes, como reflexos,
dula, porém outros núcleos do tron- processo que ocorre, por exemplo, na
co encefálico não têm relação com a alimentação em um recém-nascido.
substância cinzenta da medula, cons-
tituindo a substância cinzenta própria Bulbo
do tronco encefálico.
O bulbo é a porção mais caudal do
Outra diferença entre a medula e o
tronco encefálico. Sua organização
tronco encefálico é a presença de
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 30

interna nas porções caudais, ou seja, que aparecem no funículo posterior.


mais próximas à medula, é muito se- Nos níveis mais baixos do bulbo, as fi-
melhante à da medula, porém, nas bras desses núcleos são chamadas de
secções mais altas do bulbo, apare- fibras arqueadas internas, que mergu-
cem as diferenças entre essas estru- lham ventralmente, passando através
turas, sendo que até o nível da oliva da coluna posterior, o que contribui para
não mais semelhanças entre esses fragmentá-la, e cruzando o plano me-
dois órgãos do SNC. diano (decussação sensitiva), de onde
O bulbo se difere da medula devido infletem cranialmente para formar, de
a diversos fatores, como o apareci- cada lado, o lemnisco medial.
mento de novos núcleos próprios do O lemnisco medial conduz ao tálamo
bulbo, decussação das pirâmides, de- os impulsos advindos dos fascículos
cussação dos lemniscos e abertura grácil e cuneiforme da medula do lado
do IV ventrículo. Os núcleos bulbares oposto, relacionados com a proprio-
não são correspondentes na medula, cepção consciente, tato epicrítico e
sendo eles os núcleos grácil, cuneifor- sensibilidade vibratória.
me e núcleo olivar inferior.
A decussação das pirâmi-
des ou decussação motora,
é formada por fibras do trato
corticoespinhal que percor-
rem as pirâmides bulbares,
que mudam de direção, cru-
zando o plano mediano para
continuar como trato corti-
coespinhal lateral, e nesse
trajeto, as fibras atravessam
a substância cinzenta, se-
parando a cabeça da base
da coluna anterior.
A decussação dos lemnis-
cos ou decussação sensitiva
é formada pelas fibras dos
fascículos grácil e cuneifor-
me da medula que terminam
fazendo sinapse em neurô-
nios dos núcleos grácil e cuneiforme, Figura 16. Visão lateral do tronco encefálico. Fonte:
SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma
abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 31

Em níveis mais altos do bulbo, o nú- os neurônios pré-ganglionares, cujos


mero de fibras dos fascículos grácil e axônios saem pelo nervo vago. Este
cuneiforme vai diminuindo, à medida núcleo é correspondente à coluna la-
que vão terminando em seus núcle- teral da medula, e situa-se no trígono
os. Com isso, esses fascículos desa- do vago, no assoalho do IV ventrículo.
parecem, bem como seus núcleos, e Os núcleos vestibulares são núcle-
com isso abre-se o canal central que os sensitivos que recebem as fibras
forma o IV ventrículo, cujo assoalho é que penetram pela porção vestibu-
formado principalmente de substân- lar do VIII par craniano. Eles ficam na
cia cinzenta homóloga à medula, que área vestibular do assoalho do IV ven-
são os núcleos dos nervos cranianos. trículo, alcançando o bulbo apena os
A substância cinzenta do bulbo se di- núcleos vestibulares inferior e medial.
vide em substância cinzenta homóloga O núcleo do trato solitário também
à medula e substância cinzenta pró- é sensitivo, recebendo fibras aferen-
pria do bulbo. Na substância cinzenta tes viscerais gerais e especiais, que
homóloga à medula, estão presentes entram pelo VII, IX e X pares crania-
os núcleos ambíguo, hipoglosso, nú- nos. Antes de penetraram no núcleo,
cleo dorsal vago, núcleos vestibula- as fibras têm trajeto descendente no
res, núcleo do trato solitário, núcleo trato solitário. As fibras aferentes vis-
do trato espinhal do nervo trigêmeo cerais especiais deste núcleo estão
e núcleo salivatório inferior. associadas com a gustação.
O núcleo ambíguo é um núcleo mo- O núcleo do trato espinhal do nervo
tor para a musculatura estriada, de trigêmeo recebe fibras aferentes so-
onde saem as fibras aferentes visce- máticas gerais, trazendo a sensibilida-
rais especiais dos nervos IX, X e XI de de quase toda a cabeça pelos pares
pares cranianos, que inervam a larin- dos nervos V, VII, IX e X. porém, as fi-
ge e faringe. Este núcleo fica profun- bras dos nervos VII, IX e X trazem ape-
do na parte interior do bulbo. nas a sensibilidade geral do pavilhão e
O núcleo do hipoglosso também é conduto auditivo externo. Este núcleo
motor, onde se originam as fibras efe- corresponde à substância gelatinosa
rentes somáticas para a musculatura da medula, com a qual é contínua.
da língua. Situa-se no trígono do hipo- Por fim, o núcleo salivatório inferior
glosso, no assoalho do IV ventrículo, e origina fibras pré-ganglionares que
suas fibras se dirigem ventralmente, emergem pelo nervo glossofaríngeo
emergindo no sulco lateral anterior do para inervação da glândula parótida
bulbo, entre as pirâmides e a oliva. (glândula salivar).
O núcleo dorsal do vago pertence ao
parassimpático, e nele estão situados
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 32

a propriocepção consciente, tato


SE LIGA! A memorização dos núcleos epicrítico, sensibilidade vibratória e
da substância cinzenta homóloga à me- estereognosia.
dula pode ser facilitada a partir da de-
dução dos núcleos envolvidos com as O núcleo olivar inferior é uma grande
várias etapas do ato de tomar um sorve- massa de substância cinzenta que
te. Ao lamber o sorvete, age o núcleo do corresponde à oliva. As conexões oli-
hipoglosso. A identificação da tempera-
tura do sorvete (ou seja, se é realmente vocerebelares estão envolvidas na
um sorvete) é feita pelo núcleo do trato aprendizagem motora, que permite
espinhal do trigêmeo. O gosto do sor- realizar tarefas com maior velocidade
vete relaciona-se com o núcleo do tra-
e eficiência à medida que são repeti-
to solitário. Ao tomar o sorvete, a boca
“enche de água”, com isso, está agindo das várias vezes.
o núcleo salivatório inferior. O ato de en-
Os núcleos olivares acessórios medial
golir o sorvete é controlado pelo núcleo
ambíguo. Finalmente, ao chegar ao es- e dorsal têm praticamente a mesma
tômago, o sorvete sofre a ação do suco estrutura, conexão e função do núcleo
gástrico, e nesse processo está envolvi- olivar inferior, formando, junto com o
do o núcleo dorsal do vago. Os núcleos
vestibulares estão aqui envolvidos no
olivar inferior, o complexo olivar inferior.
caso do indivíduo tomar o sorvete na A substância branca do bulbo pos-
posição em pé, mantendo o equilíbrio.
sui fibras transversais e longitudi-
nais. As fibras transversais, também
A substância cinzenta própria do bul- chamadas de arqueadas, podem ser
bo possui os núcleos grácil, cunei- divididas em internas e externas. As
forme, e núcleos olivares inferior e fibras arqueadas internas formam
acessórios medial e dorsal. Os nú- dois grupos principais diferentes,
cleos grácil e cuneiforme originam as sendo algumas constituídas pelos
fibras arqueadas internas, que cru- axônios dos neurônios dos núcleos
zam o plano mediano para formar o grácil e cuneiforme no trajeto entre
lemnisco medial. esses núcleos e o lemnisco medial, e
outras constituídas pelas fibras olivo-
O fascículo cuneiforme conduz im-
cerebelares, que no complexo olivar
pulsos nervosos provenientes dos
inferior, cruzam o plano mediano, pe-
membros superiores e da metade
netrando no cerebelo do lado oposto,
superior do tronco, relacionados a
pelo pedúnculo cerebelar inferior.
propriocepção consciente, tato epicrí-
tico, sensibilidade vibratória e estere- As fibras arqueadas externas se origi-
ognosia. Já o fascículo grácil conduz nam no núcleo cuneiforme acessório,
impulsos nervosos provenientes e têm trajeto próximo à superfície do
dos membros inferiores e da meta- bulbo, penetrando no cerebelo pelo
de inferior do tronco, relacionados pedúnculo cerebelar inferior.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 33

As fibras longitudinais formam as anterior, tetoespinhal, vestibuloespi-


vias ascendentes, descendentes e de nhais e reticuloespinhais.
associação do bulbo. As vias ascen- O trato corticonuclear é composto por
dentes são constituídas pelo lemnisco fibras que vêm do córtex e terminam
medial, originado no próprio bulbo, e em núcleos motores do tronco ence-
pelos tratos e fascículos ascendentes fálico, sendo que no bulbo, essas fi-
da medula, que terminam no bulbo ou bras terminam nos núcleos ambíguo
passam por ele em direção ao tálamo e do hipoglosso, participando assim,
o cerebelo. Essas vias são os fascí- do controle voluntário dos múscu-
culos grácil e cuneiforme, o lemnisco los da faringe, laringe e língua.
medial, os tratos espinotalâmicos la-
teral e anterior, tratos espinocerebe- O trato espinhal do nervo trigêmeo é
lares anterior e posterior e pedúnculo composto por fibras sensitivas que pe-
cerebelar inferior. netram no tronco encefálico pela pon-
te através do nervo trigêmeo, direcio-
As principais vias descendentes são nando-se pelo trajeto descendente ao
os tratos do sistema lateral da medu- longo do núcleo do trato espinhal do
la, tratos do sistema medial da medu- nervo trigêmeo. Situa-se lateralmente
la, trato corticonuclear, trato espinhal a este núcleo e o número de suas fi-
do nervo trigêmeo e trato solitário. bras diminui à medida que chegam ao
Sendo assim, os tratos do sistema la- núcleo do trato espinhal, nas regiões
teral da medula são o corticoespinhal mais caudais, onde terminam.
e o trato rubroespinhal. Trato cortico- Por fim, o trato solitário é constitu-
espinhal é motor voluntário, formado ído por fibras aferentes viscerais,
por fibras advindas do córtex cerebral, que penetram no tronco encefálico
que passam no bulbo para chegar à pelos nervos VII, IX e X, tomando tra-
medula, ocupando as pirâmides bul- jeto descendente ao longo do núcleo
bares, e por isso também é chamado do trato solitário, onde terminam nas
de trato piramidal. O trato rubroespi- áreas mais caudais.
nhal também é motor voluntário e se
origina nos neurônios do núcleo rubro A formação reticular do bulbo preen-
do mesencéfalo e chega à medula sem che todo o espaço não ocupado pelos
passar pelas pirâmides bulbares. núcleos dos tratos mais compactos.
Nessa região, localiza-se o centro
Os tratos do sistema medial da me- respiratório, que regula o ritmo
dula são formados por fibras de vá- respiratório, além do centro vaso-
rias áreas do tronco encefálico, que se motor e centro do vômito.
dirigem para a medula. Deste grupo
fazem parte os tratos corticoespinhal Como o bulbo é percorrido por muitos
tratos motores e sensitivos situados
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 34

N. OLIVARES INFERIOR E
ACESSÓRIOS MEDIAL
E DORSAL N. AMBÍIGUO
N. GRÁCIL E CUNEIFORME N. VESTIBULARES
N. DO HIPOGLOSSO
C. RESPIRATÓRIO
N. DORSAL DO VAGO
C. VASOMOTOR
SUBSTÂNCIA CINZENTA N. SALIVATÓRIO INFERIOR
C. DO VÔMITO
PRÓPRIA DO BULBO N. DO TRATO SOLITÁRIO
N. DO TRATO ESPINHAL DO
NERVO TRIGÊMEO

SUBSTÂNCIA CINZENTA
FORMAÇÃO RETICULAR BULBO
HOMÓLOGA À MEDULA

SUBSTÂNCIA BRANCA

FIBRAS TRANSVERSAIS FIBRAS LONGITUDINAIS

FIBRAS ARQUEADAS
INTERNAS E EXTERNAS VIAS ASCENDENTES VIAS DESCENDENTES

nas proximidades de impor- T. RUBROESPINHAL


tantes núcleos de nervos cra- F. GRÁCIL E CUNEIFORME T. CORTICOESPINHAL
L. MEDIAL T. CORTICONUCLEAR
nianos, lesões neste órgão T. ESPINOTALÂMICOS T. TETOESPINHAL
geram sinais e sintomas va- LATERAL E ANTERIOR T. VESTIBULOESPINHAL
T. ESPINOCEREBELARES BULBAR
riados, que caracterizam as ANTERIOR E POSTERIOR T. RETICUESPINHAIS
diversas síndromes bulbares. P. CEREBELAR INFERIOR T. ESPINHAL DO TRIGÊMEO
T. SOLITÁRIO

SE LIGA! Os sintomas mais característicos das lesões bulba-


res são a disfagia e alterações da fonação por lesão do nú-
cleo ambíguo, bem como alterações do movimento da língua
por lesão do núcleo do hipoglosso. Esses quadros podem ser
acompanhados ainda de paralisias e perdas de sensibilidade
no tronco e membros por lesões das vias descendentes ou
ascendentes que passam pelo bulbo. Lembrando, as vias as-
cendentes são aquelas que levam informações advindas da
medula para o sistema nervoso superior, enquanto as vias
descendentes são aquelas que levam as respostas do centro
superior para a medula.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 35

Ponte saem de várias áreas do córtex cere-


bral e terminam fazendo sinapses com
A ponte é formada por uma parte
os neurônios dos núcleos pontinhos.
ventral (base da ponte) e uma parte
dorsal (tegmento da ponte). O teg- Os núcleos pontinhos estão disper-
mento da ponte possui estrutura se- sos em toda a base da ponte. Os axô-
melhante ao bulbo e ao tegmento do nios dos neurônios desses núcleos
mesencéfalo base possui, enquanto a constituem as fibras transversais da
base apresenta estrutura muito dife- ponte, também chamadas de fibras
rente das outras áreas do tronco en- pontinhas ou pontocerebelares, pois
cefálico. Entre essas duas partes da essas fibras cruzam o plano mediano
ponte há um conjunto de fibras mie- e penetram no cerebelo pelo pedún-
línicas de direção transversal, chama- culo cerebelar médio.
do de corpo trapezoide. A parte dorsal ou tegmento da ponte,
A base da ponte é uma área própria da como já mencionado, tem estrutura
ponte, não possuindo correspondente semelhante ao tegmento do mesen-
em outros níveis do tronco encefálico, céfalo, com o qual é contínuo. Essa
e apresenta conexões com o neocere- parte da ponte possui fibras ascen-
belo e neocórtex. Essa porção da pon- dentes, descendentes e transversais,
te possui fibras longitudinais, fibras substância cinzenta homóloga à me-
transversais e núcleos pontinos. dula, que são os núcleos dos pares
cranianos III, V, VI, VII e VIII, além da
As fibras longitudinais que passam
substância cinzenta própria da ponte
pela ponte são os tratos corticoespi-
e formação reticular.
nhal, corticonuclear e corticopontino.
O trato corticoespinhal é formado As fibras sensitivas das partes cocle-
por fibras que saem das áreas mo- ar e vestibular do nervo vestibuloco-
toras do córtex cerebral e se dirigem clear terminam, respectivamente, nos
aos neurônios motores da medula. Na núcleos cocleares e vestibulares da
base da ponte, esse trato forma vá- ponte. Os núcleos cocleares são dois,
rios feixes dissociados. o dorsal e o ventral, nos quais termi-
nam as fibras que formam a parte
O trato corticonuclear é formado
coclear do nervo vestibulococlear e
por fibras que também saem das áre-
são os prolongamentos centrais dos
as motoras do córtex e vão para os
neurônios sensitivos do gânglio espi-
neurônios motores que ficam acima
ral situado na cóclea.
dos núcleos motores de nervos cra-
nianos (núcleos do facial, trigêmeo A maioria das fibras dos núcleos cocle-
e abducente). Por fim, o trato corti- ares cruza para o lado oposto, formando
copontino é formado por fibras que o corpo trapezoide, e então essas fibras
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 36

contornam o núcleo olivar superior e in-


fletem-se cranialmente compondo o SE LIGA! Os sinais e sintomas carac-
lemnisco medial, terminando no colícu- terísticos das lesões na ponte ocorrem
com o comprometimento dos núcleos
lo inferior, de onde os impulsos seguem
dos nervos cranianos V, VI, VII e VIII,
para o corpo geniculado medial. gerando alterações da sensibilidade
Na formação reticular da ponte fica o da face (V), motricidade da musculatu-
ra mastigadora (V) ou mímica (VII), do
locus coeruleus, que possui neurônios músculo reto lateral (VI), além de tontu-
ricos em noradrenalina, e os núcleos ras e alterações de equilíbrio (VIII).
da rafe, que possuem neurônios ri-
cos em serotonina. Esses
N. DO TRATO MESENCEFÁLICO
núcleos estão envolvidos N. SENSITIVO PRINCIPAL
com a modulação da ativi- N. MOTOR
N. DO TRATO ESPINHAL
dade do córtex cerebral. N. COCLEARES DORSAL E
VENTRAL
N. VESTIBULARES

N. PONTINOS SUBSTÂNCIA CINZENTA


N. OLIVAR SUPERIOR HOMÓLOGA À MEDULA LOCUS CERULEUS
N. DO CORPO TRAPEZOIDE NÚCLEOS DA RAFE
N. DO LEMNISCO MEDIAL

SUBSTÂNCIA CINZENTA
PONTE FORMAÇÃO RETICULAR
PRÓPRIA DO BULBO

FIBRAS TRANSVERSAIS SUBSTÂNCIA BRANCA

F. PONTINAS E P.
CEREBELAR MÉDIO
F. DO CORPO TRAPEZOIDE
DECUSSAÇÃO DOS
PEDÚNCULOS CEREBELARES
SUPERIOES FIBRAS LONGITUDINAIS

VIAS DESCENDENTES VIA DE ASSOCIAÇÃO VIAS ASCENDENTES

T. RUBROESPINHAL
T. CORTICOPONTINO
LEMNISCOS MEDIAL,
T. CORTICOESPINHAL
LATERAL, TRIGEMINAL
T. CORTICONUCLEAR F. LONGITUDINAL MEDIAL
E ESPINHAL
T. TETOESPINHAL
P. CEREBELAR SUPERIOR
T. VESTIBULOESPINHAL
T. ESPINHAL DO TRIGÊMEO
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 37

Mesencéfalo assim, ele apresenta a formação reticu-


lar e as substâncias cinzenta homólo-
O mesencéfalo é composto por uma
ga à da medula e própria do mesencé-
parte dorsal, que é o teto do mesen-
falo e substância branca. A substância
céfalo, e outra ventral, que são os pe-
cinzenta homóloga à da medula é for-
dúnculos cerebrais, os quais são se-
mada pelos núcleos dos pares crania-
parados pelo aqueduto cerebral. Este
nos III, IV e V, sendo que deste último
aqueduto é circundado pela substân-
há apenas o núcleo do trato mesence-
cia cinzenta central, também chama-
fálico, que continua da ponte e recebe
da de periaquedutal, importante na
as informações proprioceptivas que
regulação da dor.
entram pelo nervo trigêmeo.
Cada pedúnculo é dividido por uma
O núcleo do nervo troclear possui fi-
parte ventral, que é a base do pedún-
bras que contornam a substância
culo, formada por fibras longitudinais,
cinzenta central, cruzam para o lado
e uma parte dorsal, que o tegmento
oposto e emergem do véu medular
do mesencéfalo, que tem estrutura si-
superior. Este nervo apresenta duas
milar ao tegmento da ponte. Entre o
peculiaridades: suas fibras são as úni-
tegmento e a base do mesencéfalo há
cas que saem da face dorsal do encé-
a substância negra, que é uma lâmina
falo e é o único cujas fibras decussam
de substância cinzenta pigmentada.
antes de emergir do SNC. Lembrando
O teto do mesencéfalo é muito impor- que o nervo troclear inerva o múscu-
tante por ser relacionado com a inte- lo oblíquo superior.
gração de várias funções sensoriais e
O núcleo do nervo oculomotor está
motoras. Ele é formado por quatro emi-
intimamente relacionado com o fas-
nências: os colículos superiores, rela-
cículo longitudinal medial, sendo for-
cionados com a via visual, os colículos
mado por várias partes, e por isso é
inferiores, relacionados com a via audi-
chamado de complexo oculomotor. O
tiva, e a área pré-tetal, também chama-
complexo oculomotor pode ser fun-
da de núcleo pré-tetal, relacionada com
cionalmente dividido em uma par-
o controle dos reflexos das pupilas.
te somática e outra visceral. A parte
A base do pedúnculo cerebral é for- somática possui os neurônios moto-
mada por fibras descendentes dos res responsáveis pela inervação dos
tratos corticoespinhal, corticonuclear músculos reto superior, reto inferior,
e corticopontino. Lesões nesse com- reto medial e levantador da pálpebra.
pacto causam paralisias que se ma- As fibras que compõe esta parte for-
nifestam do lado oposto da lesão. mam o nervo oculomotor.
O tegmento do mesencéfalo é uma A parte visceral é o núcleo de Edinger-
continuação do tegmento da ponte, -Westphal, que contém os neurônios
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 38

pré-ganglionares, cujas fibras fazem negra utilizam a dopamina como neu-


conexão com no gânglio ciliar e estão rotransmissor, ou seja, são neurônios
relacionadas com a inervação dos dopaminérgicos. As conexões mais im-
músculos ciliar e esfíncter da pupi- portantes deste núcleo são com o corpo
la. Essas fibras fazem parte do siste- estriado, e elas ocorrem por dois senti-
ma parassimpático e são importantes dos, através das fibras nigro-estriatais
para o controle reflexo do diâmetro (dopaminérgicas) e estriato-nigrais.
da pupila em resposta a diferentes in- Diminuições dos neurônios dopami-
tensidades de luz. nérgicos da substância negra causam
A substância cinzenta própria do me- diminuição de dopamina no corpo es-
sencéfalo possui dois principais nú- triado, provocando as alterações mo-
cleos, que são o núcleo rubro e a toras características da doença de
substância negra, ambos relaciona- Parkinson.
dos com a atividade motora somática. A substância branca do mesencéfa-
O núcleo rubro, ou núcleo vermelho, lo, assim como na ponte, possui uma
recebe em suas extremidades caudais maioria de feixes que não passam pelo
fibras do pedúnculo cerebelar superior tegmento, mas pela base do pedún-
que o envolve, e a maioria delas ter- culo cerebral. Já as fibras ascendentes
mina no tálamo. Este núcleo participa percorrem o tegmento e representam
do controle da motricidade somáti- a continuação dos segmentos que so-
ca, recebendo fibras do cerebelo e das bem a ponte: os quatro lemniscos e o
áreas motoras do córtex cerebral, e dá pedúnculo cerebelar superior, que ao
origem ao trato rubroespinhal, que ter- nível do colículo inferior, cruza para o
mina nos neurônios motores da me- lado oposto na decussação do pedún-
dula e são responsáveis pela motrici- culo cerebelar superior e sobe envol-
dade voluntária da musculatura distal vendo o núcleo rubro.
dos membros. O núcleo rubro se liga Em resumo, atravessam o mesencé-
ao complexo olivar inferior pelas fibras falo todas as vias ascendentes que
rubro-olivares, que integram o circuito vão ao diencéfalo e cinco tratos des-
rubro-olivo-cerebelar, importante na cendentes relacionados com a motri-
aprendizagem motora. cidade. As lesões dessas vias geram
A substância negra é um núcleo com- perda de sensibilidade ou paralisias
pacto formado por neurônios que apre- associadas a lesões do nervo oculo-
sentam a peculiaridade de conter in- motor. Além disso, processos patoló-
clusões de melanina (o que lhe confere gicos que comprimem o mesencéfalo,
coloração escura nas preparações his- como tumores nessa região, lesam a
tológicas e por isso essa nomenclatura). formação reticular e podem levar ao
A maioria dos neurônios da substância coma (perda da consciência).
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 39

Telencéfalo
Prosencéfalo

Mesencéfalo
Encéfalo Ponte
Romboencéfalo Cerebelo
Bulbo
Medula espinhal

Figura 17. Anatomia do tronco encefálico. Fonte: https://bit.ly/36qCW5k

PARTE SOMÁTICA E VISCERAL


DOS NÚCLEOS III E IV
N. DO TRATO
MESENCEFÁLICO DO V PAR
N. RUBRO
N. DO CÓLICO INFERIOR
S. NEGRA SUBSTÂNCIA CINZENTA ÁREA TEGMENTAR VENTRAL
S. CINZENTA PERIAQUEDUTAL HOMÓLOGA À MEDULA NÚCLEOS DA RAFE
CÓLICO SUPERIOR
ÁREA PRÉ-TETAL

SUBSTÂNCIA CINZENTA
MESENCÉFALO FORMAÇÃO RETICULAR
PRÓPRIA DO BULBO

FIBRAS TRANSVERSAIS SUBSTÂNCIA BRANCA

DECUSSAÇÃO DO
PEDÚNCULO CEREBELAR
SUPERIOR
COMISSURA DO FIBRAS LONGITUDINAIS
COLÍCULO INFERIOR

VIAS DESCENDENTES VIAS ASCENDENTES VIA DE ASSOCIAÇÃO

T. RUBROESPINHAL LEMNISCOS MEDIAL, LATERAL,


T. CORTICOPONTINO TRIGEMINAL E ESPINHAL
T. CORTICOESPINHAL P. CEREBELAR SUPERIOR F. LONGITUDINAL MEDIAL
T. CORTICONUCLEAR BRAÇOS DO COLÍCULO SUPERIOR
T. TETOESPINHAL E INFERIOR
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 40

7. MENINGES a medula espinhal das vértebras da


coluna, protegendo essas estrutu-
As meninges formam um envoltó-
ras. São três meninges, organizadas
rio do sistema nervoso central,
de exterior para interior: dura-máter,
que o separa o encéfalo do crânio e
aracnoide e pia-máter.

Pele Aponeurose

Periósteo
Osso

Meninges
Dura-máter
Aracnoide
Pia-máter

Figura 18. Camadas da cabeça demonstrando as meninges. Fonte: https://bit.ly/2zZZYUl

A dura-máter, meninge mais exter- Além disso, a dura-máter tem uma


na, é composta por tecido conjuntivo parte craniana, que é contínua com o
denso, é formada por duas partes, um periósteo cranianos, e uma parte es-
folheto que fica em contato com a ca- pinal, sendo que a parte em contato
lota craniana e um folheto que fica em com a aracnoide é separada do peri-
contato com a aracnoide, o qual pos- ósteo das vértebras, formando entre
sui algumas clivagens, que formam os dois (dura-máter e canal vertebral)
as estruturas como foice do cérebro, o espaço peridural, no qual há veias
tenda do cerebelo e seio cavernoso, delgadas, tecido conjuntivo frouxo e
ou seja, nessas regiões os dois folhe- tecido conjuntivo adiposo.
tos da dura-máter se separam para Entre a dura-máter e a aracnoide há o
formar essas invaginações. espaço subdural, porém este espaço
é virtual, não existindo em condições
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 41

normais, apenas quando há o hema- saliências em seios venosos e nas vi-


toma subdural, por exemplo. Além losidades ou granulações da aracnoi-
disso, a superfície interna da dura- de, que são dilatações fechadas, cuja
-máter (externa do canal vertebral) função é transferir líquor para o san-
é formada por epitélio simples pavi- gue no processo de reabsorção des-
mentoso de origem mesenquimatosa. te líquido que está sendo produzido
constantemente pelo plexo coroide.
SE LIGA! Hematoma subdural consis-
O líquor atravessa a parede da vilosi-
te na acumulação de sangue no espaço dade e seio venoso, entrando para a
subdural, o que após trauma cranioen- circulação sanguínea.
cefálico. É uma complicação grave, que
cursa com cefaleia, confusão mental, A pia-máter é a aderida ao sistema
síncope/pré-síncope, náuseas e vômitos. nervoso (encéfalo e medula), e sua
principal característica é o fato de ser
extremamente vascularizada. Porém,
A aracnoide também é dividida em esta meninge não entra em contato
duas partes, uma parte que fica em com células ou fibras nervosas, ha-
contato com a dura-máter, em forma vendo entre essas estruturas prolon-
de membrana, e uma parte formada gamentos de astrócitos, que separam
por trabéculas que a ligam à pia-má- a pia-máter dos elementos nervosos.
ter. Basicamente esta meninge é for-
mada por tecido conjuntivo sem va- Lembrando que os astrócitos são
sos sanguíneos revestido por epitélio células da neuroglia, que são res-
simples pavimentoso. ponsáveis pelo suporte e nutrição
dos neurônios. A superfície externa
Entre a aracnoide e a pia-máter há as da pia-máter é formada por células
trabéculas aracnoides e essa região é achatadas do mesênquima embrio-
chamada de espaço subaracnoide, nário, a superfície interna possui os
o qual é preenchido por um líquido vasos sanguíneos, que penetram o
chamado de líquido cefalorraqui- tecido nervoso por túneis revestidos
diado (LCR) ou líquor. Essa porção por pia-máter (espaços perivascula-
tem contato íntimo com os ventrícu- res), ou seja, a pia-máter envolve o
los cerebrais, que são as cavidades vaso até o momento em que ele se
por onde o líquor circular. Este líquor é torna capilar (espaços perivasculares
importante porque funciona como um somem), protegendo o tecido nervo-
colchão hidráulico, protegendo o SNC so do contato com o vaso sanguíneo,
de traumas e confere a característica e isso auxilia na formação da barreira
de flutuabilidade do sistema nervoso. hematoencefálica. Os capilares tam-
A aracnoide possui ainda expansões bém são envolvidos pelos astrócitos.
que perfuram a dura-máter, como nas
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 42

SE LIGA! A barreira hematoencefálica SE LIGA! A quantidade estimada de


é uma barreira funcional, ou seja, não líquor no adulto é cerca de 140 a 160
é uma barreira anatômica, que confe- mL, sendo produzido continuamen-
re menor permeabilidade dos capilares te nos plexos coroides 500mL por dia,
sanguíneos no tecido nervoso, dificul- sendo renovado (produzido e reabsorvi-
tando a passagem de substâncias do do) a cada 7 horas, ou seja, todo o líquor
sangue para o tecido nervoso, prote- é trocada cerca de 4 vezes ao dia. Este
gendo o sistema nervoso de alguns an- líquido possui extrema baixa densidade,
tibióticos, toxinas e agentes químicos, e é límpido e incolor, possuindo algumas
por exemplo, pois ou neurônios são mui- células (poucos), como linfócitos (2 a 5/
to sensíveis. Os principais componentes mL) e células descamadas. Em resumo,
dessa barreira são o capilar, pois o en- o LCR tem a função de proteção mecâ-
dotélio do capilar nervoso é totalmente nica, pois forma um tampão fluido, que
ocluído (junções oclusivas), além dos absorve impactos no SNC. Além disso,
prolongamentos dos astrócitos. fornece a flutuabilidade, que diminui o
peso do cérebro, sendo que o peso mé-
dio do cérebro é de 1,4 a 1,5 kg, enquan-
O plexo coroide é formado por do- to o peso em suspensão é de 25 a 50g,
e isso evita a ocorrência de isquemias,
bras da pia-máter, ricas em capilares pois melhora a perfusão, visto que a cir-
fenestrados e dilatados, que provo- culação cerebral começa de baixo para
cam uma saliência para o interior dos cima (diferente do restante do corpo), ou
seja, um peso maior sobre esses vasos
ventrículos, localizados assim no teto
causaria oclusão e isquemia. O líquor
do III e IV ventrículos e em parte dos também fornece suprimento nutricional
ventrículos laterais. É nessa região e homeostase, permitindo a distribuição
que o líquor é produzido e secre- de substâncias, e permitindo o ajuste
da pressão intracraniana (PIC) para se
tado, que além de proteger contra adaptar a estados alterados, como um
traumas no SNC, é importante para o tumor cerebral. Também há fatores neu-
metabolismo do SNC. O plexo coroi- roendócrinos associados ao LCR e per-
de então, é formado por tecido con- mite a limpeza de metabólitos, através
da retirada de produtos do metabolismo
juntivo frouxo da pia-máter, células cerebral com a reabsorção.
transportadoras de íons, para permitir
a produção do LCR, e revestimento
de epitélio simples cúbico ou colunar
baixo.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 43

MENINGES

DURA-MÁTER ARACNOIDE PIA-MÁTER

ÍNTIMA AO CRÂNIO VASCULARIZADA

ÍNTIMA AO TECIDO
TENDA DO CEREBELO
NERVOSO

BARREIRA
FOICE DO CÉREBRO
HEMOENCEFÁLICA

SEIO CAVERNOSO ESPAÇO SUBARACNÓIDEO

ESPAÇO SUBDURAL LÍQUOR

PLEXO COROIDE

SAIBA MAIS!
A hidrocefalia é uma patologia caracterizada pelo acúmulo do líquido cefalorraquidiano nos
ventrículos cerebrais, gerando sua expansão e consequente aumento da pressão intracra-
niana, pois o crânio não expande, então a presença do líquido comprime as estruturas inter-
nas, ou seja, o encéfalo. Isso pode causar deficiência mental e convulsões, além de outras
complicações.

8. SISTEMA NERVOSO e experiências sensoriais em im-


PERIFÉRICO pulsos nervosos e encaminhamen-
to para o sistema nervoso central,
O sistema nervoso periférico é o com-
para processamentos e mediação
ponente do sistema nervoso que per-
de reflexos, e que também permite o
mite a transformação do estímulos
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 44

retorno dessa informação processada efetor do movimento, que pode ser


para a função motora. um músculo estriado esquelético ou
O SNP é composto pela raiz nervosa, músculo liso de uma glândula.
plexo nervoso e nervo, que formam As raízes, plexos e nervos que for-
assim o feixe nervoso (fibra nervosa), mam as fibras nervosas, são cons-
ou seja, conjuntos de axônios que se tituídos basicamente por axônios e
juntam para levar e trazer informa- algumas bainhas envoltórias. Esses
ções. As raízes nervosas podem ser axônios podem ser envolvidos por
simplesmente motoras ou simples- dobras únicas ou múltiplas da célu-
mente sensitivas, sendo a única parte la envoltória, derivada da membrana
do SNP que existe essa divisão. plasmática das células de Schwann,
Além disso, o SNP também conta que faz com que o axônio seja mieli-
com a placa motora, músculos, re- nizado ou não.
ceptores sensoriais e gânglios. O co- Os axônios de pequeno diâmetro ge-
nhecimento desses componentes é ralmente são envolvidos por uma úni-
importante para identificar a origem ca dobra da célula envoltória, forman-
de um distúrbio do sistema nervoso do as fibras nervosas amielínicas, e
periférico, com o paciente apresenta por não possuir mielina, esses axônios
alguma anormalidade. As células que apresentam uma velocidade menor
compõe esse sistema são os neurô- de condução nervosa, e essas fibras
nios, células de suporte, sendo a prin- comumente transportam informação
cipal delas a célula de Schwann, que de dor. Já os axônios mais calibrosos
forma a bainha de mielina. possuem vários revestimentos, for-
A informação é colhida pelos recepto- mados por uma dobra enrolada em
res sensoriais, presente nos ouvidos, espiral em torno deles, assim, quanto
olhos, pele, entre outros, percorrendo mais calibrosos, mais camadas da cé-
então todo o nervo, passando pelo lula de revestimento.
plexo nervoso, chegando até a raiz É esse conjunto de envoltórios con-
nervosa, onde há o gânglio sensorial, cêntricos que é chamado de bainha
entrando assim no sistema nervoso de mielina (membrana plasmática
central (medula). Daí, a essa informa- da célula de Schwann enrolada, fun-
ção gera uma resposta ao sistema pe- dindo-se), que forma assim as fibras
riférico, que é recebida pela raiz ven- mielínicas, nas quais a condução ner-
tral, fazendo o caminho inverso (raiz, vosa é extremamente mais rápida,
plexo, nervo), chegando ao músculo como as fibras motoras.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 45

SAIBA MAIS!
A mielina é assim, um complexo lipoproteico, com maior proporção de lipídios do que as
membranas celulares em geral, sendo que na maioria das técnicas histológicas são perdidos.
Vale ressaltar que a mielina do sistema nervoso central é diferente da mielina do sistema
nervoso periférico, pois quem produz mielina no SNC são os oligodendrócitos e não a célu-
la de Schwann, por isso há doenças que acometem a substância branca só do SNC, como
a esclerose múltipla, e doenças que afetam apenas as fibras do SNP, como a síndrome de
Guillan-Barret.

Entre as regiões onde há a bainha tecido de suporte em um tronco defi-


de mielina, há os nódulos de Ranvier, nido, e esses axônios podem ser mo-
onde efetivamente ocorre a transmis- tores ou sensoriais, mielinizados ou
são dos impulsos, e por isso a con- não-mielinizados.
dução nervosa é saltatória, visto que A composição do nervo periférico, en-
nas regiões onde há a bainha de mieli- tão, é o feixe de axônios associados ao
na não passam os impulsos, pois este tecido de suporte, o qual, por sua vez,
envoltório funciona como um isolante consiste em células de Schwann, fi-
elétrico. O intervalo entre dois nódulos broblastos fusiformes e vasos sanguí-
de Ranvier é chamado de internódulo. neos. Este nervo também tem tipos de
O nervo periférico, assim como o tecido de suporte diferentes, que são
plexo nervoso e a raiz nervosa pos- o epineuro, endoneuro e perineuro.
sui as mesmas composições histo-
lógicas, ocorrendo apenas
uma redistribuição das fi-
bras. A raiz nervosa segue
o seguimento da medula,
existindo uma raiz moto-
ra e outra sensorial. Essas
duas raízes formam o nervo
espinhal, que se une com
outros formando um plexo
nervoso, onde as fibras se
reorganizam e do qual se
origina o nervo periférico.
Todos os nervos possuem a
mesma estrutura, que basi- Figura 19. Composição do nervo. Fonte: https://bit.
camente é uma coleção de axônios e ly/3fcrmxm
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 46

O endoneuro é o mais interno, com- Os gânglios são agrupamentos de


posto por fibras nervosas mieliniza- corpos celulares de neurônios do
das (tamanho grande ou intermediá- SNP, associados às células de supor-
rio) e fibras nervosas não mielinizadas te, que as células satélites e células de
(pequenas), envolve cada axônio e Schwann. Além disso, pelos gânglios
suas células de Schwann associadas. também passam alguns axônios e há
O endoneuro é envolvido pelos fibro- o tecido de suporte fibrocolagenoso
blastos, que produzem as fibras cola- frouxo. São divididos em três tipos:
genosas, as quais dão resistência ao gânglios da raiz dorsal dos nervos es-
nervo, e material da matriz extracelu- pinhais, gânglio dos nervos cranianos
lar, que é rico em GAGs e que envolve e gânglios autonômico (simpáticos e
os capilares. parassimpáticos).
O perineuro envolve grupos de A importância dos gânglios é que
axônios e o endoneuro, formando eles constituem acúmulos de corpos
feixes, compondo os fascículos dos de neurônios fora do SNC, sendo a
nervosos. Essa formação dos fascí- maioria órgãos esféricos, protegidos
culos é feita a partir de um revesti- por cápsulas conjuntivas e associa-
mento fibroso em torno de um grupo dos a nervos. Os gânglios sensoriais
de fibras ou axônios, que tem sete a da raiz dorsal recebem fibras afe-
oito camadas concêntricas de célu- rentes, que mandam impulso para o
las achatadas semelhante a epitélio, SNC, podendo ser cranianos ou espi-
separadas por camadas de colágeno. nhais, como já mencionado, os quais
Essas células são unidas por com- geralmente são unipolares.
plexos juncionais e cada camada de Já os gânglios autonômicos são for-
células é envolvida por uma lâmina mações bulbosas dos nervosos do
externa. SNA, localizados no interior de deter-
O epineuro é a camada mais ex- minados órgãos, como na parede do
terna, que os fascículos nervosos tubo digestivo. Não apresentam cáp-
do perineuro em um tronco nervoso, sula conjuntiva e seu estroma é a con-
e confere, através de bainha externa tinuação do próprio estroma do órgão
de tecido fibrocolagenoso mais solto, em que estão situados. Geralmen-
maior proteção ao nervo. Esse teci- te esses neurônios são multipolares,
do é composto por tecido conjuntivo aparecendo com aspecto estrelado
e costuma apresentar vasos sanguí- nos cortes histológicos, com camada
neos de tamanho médio, podendo in- incompleta de células satélites envol-
cluir tecido adiposo ou incluir a artéria vendo o neurônio.
muscular principal que irriga o tronco
nervoso.
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 47

O último componente da porção so- proteínas contráteis, como actina e os


mática do SNP é o músculo esque- filamentos de miosina. O endomísio
lético, o qual é composto por fascícu- fica entre cada fibra muscular, o pe-
los compactos de fibras musculares, rimísio envolve grupos de fibras mus-
revestidas por tecido conjuntivo, for- culares formando um fascículo, e o
mado por endomísio, perimísio e epi- epimísio envolve grupos de fascículos.
mísio, organização semelhante à es- Há dois tipos de fibras musculares,
trutura do nervo. Cada músculo é tipo I, de fibras lentas, e tipo II, de fi-
poligonal ou de forma hexagonal. bras rápidas. A contração das fibras
A membrana celular externa é o sar- lentas dura mais tempo do que a con-
colema, enquanto o citoplasma in- tração das fibras rápidas. Nas prepa-
terno é o sarcoplasma. O núcleo fica rações histoquímicas, as fibras tipo I
próximo à membrana celular, dispos- aparecem mais avermelhadas e as do
tos na periferia, e apresenta ainda as tipo II mais rosadas.

Parassimpático Simpático

Contrai a pupila Dilata a pupila

Estimula a salivação Inibe a salivação

Reduz os batimentos cardíacos


Relaxa os brônquios

Contrai os brônquios Acelera os batimentos cardíacos

Estimula a atividade do Inibe a atividade do estômago e pâncreas


estômago e pâncreas
Estimula a liberação de glicose pelo fígado
Estimula vesícula biliar
Estimula a produção de adrenalina e
noradrenalina
Contrai a bexiga Relaxa a bexiga

Promove ereção Promove ejaculação

Figura 20. Funções do sistema nervoso periférico simpático e parassimpático. Fonte: https://bit.ly/2WG17cU

Os receptores sensoriais são respon- órgão mais somestésico do corpo,


sáveis pela transdução das experiên- que identifica as sensações de dor,
cias sensoriais, estando presentes em pressão, toque e temperatura. Esses
todos os órgãos do corpo. A pele é o receptores são estruturas histológicas
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 48

especializadas, detectando diferen- periféricos, até penetrar no SNC atra-


tes estímulos que incidem sobre o or- vés das raízes dorsais da medula es-
ganismo, por dentro e por fora. Eles pinhal ou através de nervos cranianos
são compostos por uma extremidade diretamente no encéfalo. Os impulsos
de fibra nervosa, que pode estar livre desses receptores também passam
ou associada a células não neurais, pelos corpos celulares, que dão ori-
formando um miniórgão. Essas fibras gem a essas fibras, pelos gânglios
podem ser mielinizadas ou não, e se espinhais ou gânglio trigêmeo.
juntam em filetes nervosos e nervos

MÚSCULOS RECEPTORES SENSORIAIS

PLACA MOTORA GÂNGLIOS

SISTEMA
SISTEMA AUTÔNOMO
NERVOSO SISTEMA SOMÁTICO
(VISCERAL)
PERIFÉRICO

SIMPÁTICO REFLEXOS MOTORES

PARASSIMÁTICO FIBRA NERVOSA

RAIZ NERVOSA PLEXO NERVOSO NERVO

FIBRAS MIELÍNICAS
E AMIELÍNICAS
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 49

DIENCÉFALO

CÉREBRO

TELENCÉFALO

CEREBELO

MESENCÉFALO

TRONCO
PONTE
ENCEFÁLICO

MEDULA ESPINAL BULBO


SISTEMA
NERVOSO
DURA-MÁTER

MENINGES ARACNOIDE LÍQUOR

PIA-MÁTER

SOMÁTICO
SISTEMA NERVOSO
PARASSIMPÁTICO
PERIFÉRICO
AUTÔNOMO

SIMPÁTICO
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 50

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
HALL, Jhon E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 12ªed. Rio de Janeiro. Elsevier.
2011.
MACHADO, Angelo, HAERTEL, Lucia M. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo.
Atheneu, 2013.
NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 6ed. Porto Alegre: Artmed (2015)
SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto
Alegre. 2017
SWARTZ, MARK H. Tratado de Semiologia Medica -. 7ª Edição (2015)
ÓRGÃOS DO SISTEMA NERVOSO E FUNÇÕES 51

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