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Perturbações do Sono

Unidade Curricular: Modelos Comportamentais e Cognitivos. Docente: Filipa Palha

Trabalho realizado por:

Cristina Ribeiro Fernandes, 320115024


Filipa Cabral Tavares de Lima, 320115029
Maria Francisca Duarte Dias Sá Miranda, 320115053

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Índice

Introdução ......................................................................................................................................................................... 2

Análise crítica .................................................................................................................................................................... 3

Conclusão .......................................................................................................................................................................... 5

Referências bibliográficas ................................................................................................................................................. 6

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Introdução

Segundo o DSM-5 as perturbações do sono-vigília englobam 10 perturbações: perturbação da


insónia, hipersonolência, narcolepsia, perturbação do sono relacionada com a respiração, perturbações do
ritmo circadiano sono-vigília, perturbação da ativação do sono com movimentos oculares não rápidos,
perturbação de pesadelos, perturbação do comportamento do sono com movimentos oculares rápidos,
síndrome das pernas inquietas e, por fim, perturbação do sono induzida por substância/medicamentos. Os
sujeitos com estas perturbações apresentam de uma forma típica queixas de insatisfação com a qualidade,
duração e quantidade do sono. O mal-estar e os défices de funcionamento diurno daqui resultantes são
características nucleares comuns a todas estas perturbações. Normalmente, estas são acompanhadas por
depressão, ansiedade e alterações cognitivas que devem ser tidas em consideração no plano de tratamento
e na gestão de caso (APA, 2014).

Neste trabalho, vamo-nos incidir sobre a perturbação da insónia, uma vez que esta é a perturbação
do sono com maior prevalência na população. As estimativas de base populacional indicam que cerca de um
terço dos adultos refere sintomas de insónia e 6%-10% têm sintomas que preenchem os critérios para o
diagnóstico da perturbação da insónia, sendo mais prevalente em mulheres do que em homens (APA, 2014).

Neste seguimento, a característica essencial da perturbação da insónia é a insatisfação com a


qualidade ou quantidade do sono, associada a queixas de dificuldade em iniciar ou manter o sono. As queixas
do sono são acompanhadas por mal-estar clinicamente significativo ou défice no funcionamento social,
ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento. Podem ocorrer diferentes manifestações de
insónia em diferentes fases do período de sono: a insónia no início do sono (ou insónia inicial) que envolve
dificuldades em adormecer à hora de deitar e a insónia na manutenção do sono (ou insónia intermédia) que
envolve despertares frequentes ou prolongados durante a noite (APA, 2014). Pode-se falar também de
insónia primária e secundária, sendo que a primária não ocorre devido a nenhuma condição médica, mas
sim a acontecimentos de vida e dura um curto período de tempo, enquanto que a secundária é causada por
uma condição médica, consumo de medicamentos ou acontecimentos de vida e prolonga-se no tempo
(Cavadas & Ribeiro, 2011). A perturbação da insónia envolve défices diurnos, bem como dificuldades no sono
noturno, incluindo fadiga ou sonolência diurna. O défice do desempenho cognitivo pode incluir dificuldades
na atenção, concentração e memória e até mesmo em executar tarefas manuais simples. As perturbações
do humor associadas são descritas tipicamente como irritabilidade ou labilidade do humor e, menos comum,
como sintomas depressivos ou ansiedade (APA, 2014).

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De acordo com a comunidade científica, esta perturbação pode ser tratada com recurso a uma
terapia cognitivo-comportamental, sendo esta a junção do modelo cognitivo e do modelo comportamental.
Segundo Dobson (2006), a terapia cognitivo-comportamental surge como um tratamento relativamente de
curta duração, voltada para objetivos e focada em problemas que se baseiam essencialmente no modelo de
que mudar as cognições é possível e leva a uma mudança comportamental.

Análise crítica

De forma a avaliar a eficácia da terapia cognitivo-comportamental na perturbação da insónia


secundária, focamo-nos em dois artigos: “Cognitive Behavioral Therapy for Insomnia Improves Sleep and
Decreases Pain in Older Adults with Co-Morbid Insomnia and Osteoarthritis” (Vitiello, Rybarczyk, Korff &
Stepanski, 2009) e “Randomized Study on the Efficacy of Cognitive Behavioral Therapy for Insomnia
Secondary to Breast Cancer” (Savard, Simard, Ivers & Morin, 2005).

O primeiro artigo debruça-se sobre a eficácia do tratamento cognitivo-comportamental em pacientes


com insónias e osteoartrite. O protocolo de intervenção da Terapia Cognitiva Comportamental seguiu de
perto o protocolo de tratamento da insônia de Morin, com exceção de um componente adicional de treino
de relaxamento. As sessões consistiram em 8 aulas semanais de 2 horas cada, variando entre 4 a 8
participantes. Cada sessão incluiu uma apresentação didática, um período de perguntas e respostas, uma
revisão do registo do sono de cada indivíduo e discussão em grupo para resolver os problemas encontrados
durante a implementação das técnicas. As técnicas utilizadas foram: controlo do estímulo e restrição do
sono, reestruturação cognitiva, treino de relaxamento e, por último, educação sobre higiene do sono. Os
resultados do estudo demonstraram que a terapia cognitivo-comportamental tinha a capacidade de
melhorar a qualidade do sono a curto e longo prazo. A presente investigação sugere ainda que, além de
melhorar o sono, e sem abordar diretamente o manuseamento da dor, a teoria cognitivo-comportamental
parece diminuir a dor em pacientes idosos com osteoartrite e comorbidade de insónia, tanto após o
tratamento quanto após um ano de acompanhamento (Vitiello, et al, 2009).
O segundo artigo aborda a insónia secundária em pacientes com cancro. Para conhecer a população
em questão foram aplicados vários questionários, uma entrevista clínica, questões semiestruturadas, um
diário de sono e também foi utilizado uma polissonografia. A partir dos dados obtidos, os investigadores
realizaram uma intervenção constituída por 8 sessões de aproximadamente 90 minutos em grupos de 4 a 6
elementos onde combinavam estratégias cognitivas (restruturação cognitiva), comportamentais (terapia de
controlo de estímulos e restrição de sono) e educacionais (higiene do sono, fadiga e stress). Após o
tratamento, e em comparação com o grupo de controlo, a terapia revelou-se eficaz dado que se verificou
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uma redução da medicação para dormir, diminuição da ansiedade e depressão e uma melhoria na qualidade
de vida global. A capacidade da terapia cognitivo-comportamental de produzir longos efeitos tem vindo a
ser demonstrada no contexto da insónia, sendo este o tratamento privilegiado (Savard, et al., 2005).

A partir destes dois artigos pode-se concluir que existem algumas técnicas que são adequadas para
o tratamento da insónia. A reestruturação cognitiva é utilizada para ensinar os pacientes a substituir, de
forma sistemática, os pensamentos inúteis por pensamentos mais realistas e práticos para que sejam
capazes de produzir conclusões mais equilibradas e úteis. O controlo de estímulos é baseado na premissa de
que a insónia é uma resposta condicionada aos fatores temporais (tempo despendido na cama) e ambientais
(quarto de dormir/cama) relacionados com o sono. Sendo assim, o seu principal objetivo é habilitar o
paciente a reassociar o quarto de dormir e a cama com um rápido início do sono. A restrição do sono consiste
na redução do tempo gasto na cama de modo a que este se aproxime do tempo total de sono. As
intervenções baseadas no relaxamento foram estabelecidas a partir da observação de que, frequentemente,
os pacientes com insónia relatam um alto estado de alerta (fisiológico e cognitivo), tanto durante a noite
como durante o dia. A higiene do sono é um método que visa educar os hábitos relacionados à saúde (ex:
dieta, exercício físico e uso de sustâncias) e ao comportamento (ex: luz, barulhos, temperatura e colchão)
que sejam benéficos ou prejudiciais ao sono. As recomendações da higiene do sono incluem: usar o
quarto/cama somente para dormir e praticar atividade sexual; evitar barulho, luz e temperatura excessiva
durante o período do sono; evitar, entre outras, cafeína, nicotina e bebidas alcoólicas nas últimas 4-6 horas
que antecedem o sono (Passos, Tufik, Santana, Poyares & Mello, 2007).

Neste seguimento, concluiu-se que a terapia cognitivo-comportamental produz um efeito eficaz em


pacientes com insónia. A partir dos artigos analisados, pode-se identificar algumas vantagens e desvantagens
da utilização desta terapia. Em relação às vantagens, o aspeto mais realçado ao longo dos artigos foi o facto
do tratamento ter um período relativamente curto em comparação com outras terapias, condicionando
apenas algum tempo dos pacientes e reduzindo as hipóteses de estes desistirem a meio do processo. Para
além disso, esta terapia pode ser útil em casos onde a medicação por si só não tenha funcionado, sendo que
os resultados destes estudos demonstram que, ao longo do tratamento, os pacientes diminuíram as doses
de medicação. Nestes casos, a terapia foi realizada em grupo, no entanto, existem outras formas de ser
aplicada, por exemplo através de livros de autoajuda ou programas de computador, nomeadamente com
recurso à internet, que ensinam estratégias úteis e práticas, tais como as que foram referidas nos artigos,
que podem ser utilizadas durante a vida quotidiana, mesmo após a intervenção.

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Como esta terapia se concentra apenas na capacidade dos sujeitos mudarem os seus pensamentos,
sentimentos e comportamentos, torna-se um pouco limitada, uma vez que não aborda quaisquer problemas
mais amplos e do passado, como a família, que muitas vezes tem um impacto significativo sobre a saúde, ou
a história familiar que pode ser uma possível causa subjacente à condição de saúde mental. Outra
desvantagem consiste no facto do paciente ser confrontado com as suas emoções e pensamentos o que,
consequentemente, pode provocar um desconforto perante esta exposição.

Conclusão

Em suma, a terapia cognitivo-comportamental mostrou-se eficaz em ambos os estudos, apesar das


desvantagens apresentadas. O seu caráter prático revelou-se fundamental para uma melhoria na qualidade
de vida global dos pacientes, existindo a redução da medicação para dormir, diminuição da ansiedade e
depressão, diminuição da dor e melhoria da qualidade do sono a curto e a longo prazo. Deste modo, pode-
se concluir que este tratamento apresenta um enorme benefício para as pessoas que sofrem da perturbação
do sono, nomeadamente a perturbação da insónia.

1492 palavras

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Referências bibliográficas

1. American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual de diagnóstico e estatística das


perturbações mentais (5ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores.
2. Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
3. Cavadas, L., & Ribeiro, L. (2011). Abordagem da Insónia Secundária do Adultos nos Cuidados de Saúde
Primária. Acta Médica Portuguesa, 24(1), 135-144. Consultado em:
https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/334
4. Dobson, K. S. (2006). Manual de terapias cognitivo-comportamentais. Porto Alegre: Artmed.
5. Knapp, P., & Beck, A. T. (2008). Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia
cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30, 54-64. doi: 10.1590/S1516-44462008000600002.
6. Passos, G. S., Tufik, S., Santana, M. G. D., Poyares, D., & Mello, M. T. D. (2007). Tratamento não
farmacológico para a insônia crônica. Revista Brasileira de Psiquiatria, 29(3).
7. Savard, J., Simard, S., Ivers, H., & Morin, C. M. (2005). Randomized study on the efficacy of cognitive-
behavioral therapy for insomnia secondary to breast cancer, part I: sleep and psychological effects.
Journal of Clinical Oncology, 23(25), 6083-6096.
8. Vitiello, M. V., Rybarczyk, B., Von Korff, M., & Stepanski, E. J. (2009). Cognitive behavioral therapy for
insomnia improves sleep and decreases pain in older adults with co-morbid insomnia and
osteoarthritis. Journal of clinical sleep medicine: JCSM: official publication of the American Academy
of Sleep Medicine, 5(4), 355.

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