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RESUMO
Objetivo: Avaliar a efetividade das orientações para higiene do sono em mulheres portadoras de fibromialgia. Materiais e
métodos: Setenta mulheres completaram o estudo. Na avaliação foram aplicados o Questionário de Impacto da Fibromialgia
(FIQ), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e um questionário geral, com dados pessoais e informações
de hábitos de vida. Todas as pacientes receberam informações quanto à doença, além de um diário do sono, e apenas
o grupo-experimental recebeu orientações para higiene do sono. Foi solicitado às pacientes que realizassem a higiene
do sono, e as mesmas foram reavaliadas após três meses. Resultados: A idade média das pacientes do grupo-controle
foi 55,2 ± 7,12 anos, e a do grupo-experimental foi 53,5 ± 8,89 anos (P = 0,392). Nessas pacientes foram observadas di-
minuições da medida de Escala Visual Analógica de dor (P = 0,028), de cansaço (P = 0,021) e do componente 1 do PSQI
(P = 0,030). O grupo que recebeu orientações para higiene do sono mostrou redução significativa na dificuldade de retorno
ao sono quando acordava de madrugada (P = 0,031). O grupo-experimental apresentou aumento na porcentagem de relatos
de “ambiente sem ruído” (variando de 42,9% para 68,6%), diminuição da porcentagem de relatos de “ambiente com pouco
ruído” (variando de 40% para 22,9%) e diminuição na porcentagem de relatos de “ambiente com muito ruído” (variando
de 17,1% para 8,6%). As alterações facilitaram o retorno ao sono quando as pacientes acordavam durante a madrugada.
Conclusão: Uma cartilha com orientações de higiene do sono permitiu a alteração do comportamento das pacientes, que
obtiveram melhora da dor e do cansaço, aumento da qualidade subjetiva do sono, além de facilitação do retorno ao sono
após despertar durante a madrugada.
Recebido em 18/07/2011. Aprovado, após revisão, em 27/06/2012. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Comitê de Ética: 13391640.
Universidade Cidade de São Paulo – Unicid.
1. Fisioterapeuta, Especialista em Reumatologia, Universidade Federal de São Paulo – Unifesp
2. Fisioterapeuta, Mestranda em Reumatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – FMUSP
3. Fisioterapeuta, Mestre em Reabilitação, Unifesp
4. Reumatologista, Pós-Doutora, Department of Physiology, Division of Neuroscience, King’s College of London
Correspondência para: Aline Cristina Orlandi. Universidade Cidade de São Paulo. Rua Cesário Galeno, 448/475 – Tatuapé. São Paulo, SP, Brasil. CEP: 03071-000.
E-mail: aline.orlandi@uol.com.br
saúde do sono.3 Contudo, na literatura não há comprovação da Após a avaliação, os grupos receberam uma cartilha com
eficácia da aplicação dessa técnica para a melhora do sono em informações básicas sobre a doença. O grupo-experimental
portadores de FM. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a recebeu também diversas orientações sobre higiene do
efetividade das orientações para higiene do sono em mulheres sono (Quadro 1). As orientações fornecidas às pacientes
portadoras de FM. do grupo-experimental foram obtidas a partir de um artigo
baseado em evidências a respeito do tratamento de distúr-
bios do sono em idosos9 e tratamento não farmacológico da
MATERIAIS E MÉTODOS
insônia crônica.3 Tais orientações também foram utilizadas
Foram incluídas 80 pacientes provenientes do Ambulató- em um estudo que aplicou a higiene do sono em pacientes
rio de Fibromialgia da Disciplina de Reumatologia da com FM.10 Além de a cartilha com as orientações de higie-
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) ne do sono ter sido entregue, cada uma das orientações foi
e da Clínica de Fisioterapia da Universidade Cidade de São lida e explicada para cada paciente do grupo-experimental,
Paulo (Unicid). As pacientes provenientes da FMUSP foram em um único encontro. Salientou-se a importância da
selecionadas enquanto aguardavam a consulta médica com aplicação diária de tais orientações por um período de três
a equipe de reumatologia. Se fosse solicitado que retornas- meses. Além disso, as participantes receberam um “diário
sem para uma consulta dentro de três meses, a reavaliação do sono” e foram orientadas a descrever, nos 15 dias finais
era coletada novamente, enquanto aguardavam a consulta. do tratamento, a noite de sono e as horas antecedentes ao
Se o tempo para uma nova consulta fosse diferente de três momento de ir dormir. Após três meses as pacientes retorna-
meses, as pacientes eram contatadas pelos autores, e um dia ram ao setor para serem reavaliadas (segundo encontro). No
diferente da consulta era marcado para a reavaliação. As decorrer dos três meses elas não foram contatadas. Ambas
pacientes provenientes da Unicid estavam em tratamento as avaliações foram realizadas em dias de consulta médica,
de reabilitação na Clínica Escola de Fisioterapia. a fim de minimizar perdas na amostra, muito comum em
Os critérios de inclusão do estudo foram mulheres entre estudos prospectivos.
18 e 65 anos, com diagnóstico de FM segundo os critérios do Para a análise estatística utilizou-se o teste t de Student,11
American College of Rheumatology (ACR, 1990).4 Mulheres para a comparação dos dados iniciais da idade das par-
nessas condições que realizassem suas funções em turnos da ticipantes. As medidas do questionário PSQI e FIQ e os
madrugada foram excluídas da pesquisa (critério de exclusão). dados do diário do sono foram descritas segundo grupos
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da e momentos, com uso de medidas-resumo, e comparadas
Unicid (protocolo nº 13391640). entre os grupos antes e após o tratamento com uso do tes-
As pacientes passaram por uma avaliação geral, que te Mann-Whitney,11 e antes e após o tratamento em cada
contava com dados pessoais, anamnese e relato dos hábitos grupo com uso do teste Wilcoxon11 pareado. As medidas
pessoais. A seguir, aplicou-se um questionário específico que de hábitos e características do ambiente do sono foram
avalia a qualidade do sono, o PSQI – Índice de Qualidade do descritas segundo grupos com uso de frequências absolutas
Sono de Pittsburgh,5 validado para o Brasil,6 que qualifica o e relativas, e foi verificada a existência de associação com
sono do paciente durante o mês antecedente à realização da uso do teste qui-quadrado ou teste exato de Fisher ou teste
avaliação. Aplicou-se também um questionário específico da Razão de Verossimilhanças11 (os dois últimos utilizados
do impacto da FM na capacidade funcional da paciente, o quando a amostra foi insuficiente para a realização do teste
FIQ – Questionário de Impacto da Fibromialgia,7 também qui-quadrado). A alteração entre os momentos para cada
validado para o Brasil.8 Depois da avaliação as pacientes hábito e característica do ambiente foi descrita em cada
foram divididas, ao acaso, em dois grupos (controle e ex- grupo e comparada antes e após o tratamento com uso do
perimental), selecionando-se por meio de envelope pardo teste McNemar.12 Foi calculada a correlação de Spearman13
contendo o nome de um dos dois grupos a cada 10 pacientes. entre a variação do questionário FIQ e dos componentes do
No grupo-controle havia 41 pacientes, e no grupo-experi- questionário PSQI para verificar a existência de correlação
mental foram incluídas 39 pacientes. As participantes de entre eles.
ambos os grupos assinaram o termo de consentimento livre Todos os dados foram analisados com o programa SPSS
e esclarecido antes da randomização, após verificação dos para Windows versão 15.0, aceitando 5% como nível de sig-
critérios de inclusão e exclusão. nificância, ilustrados com uso de tabelas e gráficos de barras.
Evite “brigar” com a cama. Durma somente o tempo suficiente para se Sono 6 Controle 0,51 1,92
0,636
sentir bem. Não fique na cama mais tempo que o necessário. (Atividades físicas) Estudo 0,26 1,12
Quando se sentir sem sono, levante e faça algo cansativo ou repetitivo Sono 7 Controle 4,63 6,70
0,317
como, por exemplo, ler um livro de um assunto desinteressante. (Tomou remédios) Estudo 6,00 6,90
Diga não aos remédios! Você deve tomar remédio para dormir apenas se Sono 8 Controle 7,14 5,41
0,763
forem tomados com orientação médica! (Sono não reparador) Estudo 7,51 5,17
Média dia Controle 2,14 0,82
0,273
(Cansaço 0-4) Estudo 2,31 0,92
Média noite Controle 2,71 0,78
0,804
RESULTADOS (Cansaço 0-4) Estudo 2,70 0,84
Média “fui dormir” Controle 23,56 1,17
Foram avaliadas e incluídas 80 pacientes. Dessas, apenas (Hora que foi dormir) Estudo 23,51 1,35
0,760
70 concluíram o estudo e foram incluídas na análise. Das 10 Média “acordei” Controle 6,90 1,24
0,828
pacientes que não participaram da análise estatística, seis de- (Hora que acordou) Estudo 6,90 1,51
cidiram não retornar à reavaliação e quatro não completaram Resultados do teste de Mann-Whitney. Significância P < 0,05.
Valor mediano
acordaram em horários semelhantes. 7,4
Tabela 2
Descrição das medidas de qualidade do sono e fibromialgia e avaliação do paciente segundo grupos, antes e após o tratamento,
e resultado das comparações
Grupo Inicial 3 meses
Variável P
(n = 35) Média DP Mediana Média DP Mediana
Controle 5,45 4,72 5,0 5,47 4,72 5,0 0,317
Tempo de doença (anos)
Estudo 5,80 4,32 5,0 5,75 4,33 5,0 0,317
Controle 7,11 2,63 8 6,09 3,53 8 0,131
EVA (dor)
Estudo 7,66 1,95 8 6,49 2,75 7 0,028
Controle 2,86 1,22 3 2,71 1,23 3 0,369
Cansaço no momento (0:4)
Estudo 3,11 0,87 3 2,63 1,09 3 0,021
Controle 3,03 1,82 4 3,23 1,72 4 0,456
Satisfação do sono (0–5)
Estudo 3,43 1,70 4 3,06 1,43 3 0,162
Componente 1 Controle 1,54 0,74 2 1,66 0,76 2 0,499
(Qualidade subjetiva do sono) Estudo 1,86 0,81 2 1,51 0,89 1 0,030
Componente 2 Controle 1,89 1,13 2 1,83 1,36 3 0,908
(Latência do sono) Estudo 2,06 1,06 2 1,91 1,25 3 0,429
Componente 3 Controle 1,11 0,90 1 1,03 1,04 1 0,700
(Duração do sono) Estudo 1,20 1,11 1 0,94 1,19 0 0,271
Componente 4 Controle 0,17 0,57 0 0,20 0,63 0 0,915
(Eficiência do sono) Estudo 0,23 0,55 0 0,20 0,47 0 0,792
Componente 5 Controle 2,17 0,57 2 1,94 0,59 2 0,074
(Distúrbios do sono) Estudo 2,20 0,53 2 2,09 0,51 2 0,285
Componente 6 Controle 0,94 1,35 0 1,23 1,46 0 0,164
(Uso de medicações para dormir) Estudo 1,54 1,48 2 1,60 1,46 2 0,928
Componente 7 Controle 2,14 1,00 2 1,86 1,00 2 0,147
(Disfunções diárias – sono) Estudo 1,89 1,02 2 1,74 0,85 2 0,525
Controle 9,97 3,04 10 10,97 3,52 11 0,664
PSQI
Estudo 9,74 3,09 10 10,00 3,96 10 0,065
Controle 54,59 16,77 55,8 52,75 18,75 56,7 0,768
FIQ (escore global)
Estudo 59,53 17,98 63,7 54,26 17,86 56,7 0,149
EVA = Escala Visual Analógica; PSQI = Pittsburg Sleep Quality Index; FIQ = Fibromyalgia Impact Questionnaire.
Tabela 3
2,5
Resultado da correlação de Spearman entre as alterações
no FIQ (final–inicial) e as alterações nos componentes
2,0
do PSQI (final–inicial)
Valor mediano
Componente 2
0,5
0,311 0,009
(Latência do sono)
Componente 3
0,104 0,391
(Duração do sono)
0,0
Inicial 3 meses
Componente 4
Momento 0,188 0,119
(Eficiência do sono)
Figura 2 Componente 6
0,071 0,561
Valores medianos do componente 1 do PSQI segundo grupos, (Uso de medicações para dormir)
EVA e do cansaço nesse grupo. Em outro estudo, pacientes estudos devem ser realizados, controlando de forma mais eficaz
que receberam orientações de higiene do sono apresentaram, as alterações nos hábitos de vida das pacientes que realizam
também, resultados favoráveis em relação à dor e ao bem-estar, a higiene do sono.
quando comparados a um grupo-controle.10 Esses achados vão As orientações de higiene do sono entregues às pacientes
ao encontro de um estudo recente15 que sugere a diminuição da do grupo-experimental foram obtidas por meio de artigos para
dor de portadores de FM pela melhora da qualidade do sono, tratamento não medicamentoso da insônia crônica e tratamento
conforme o presente estudo. de distúrbios do sono em pessoas idosas. Há poucos estudos
Outros achados neste estudo correlacionaram o PSQI e que utilizaram essas orientações para grupos de FM. Por isso,
o FIQ: quanto maior a alteração do componente 2 do PSQI, não há consenso na literatura sobre as orientações com base em
maior a alteração do FIQ. Isso significa que quando o esco- evidência e mais indicadas para esse tipo de paciente, limitando
re do componente 2 do PSQI, referente à latência do sono, os resultados e as conclusões.
aumenta, o escore total do FIQ também sofre aumento. Tal Não foram controlados os medicamentos que as pacientes
dado confirma a importância da avaliação da qualidade do utilizavam ao início do estudo nem as alterações medicamen-
sono, por meio do PSQI, quando o impacto da doença na tosas solicitadas pelos médicos no decorrer dos três meses, o
qualidade de vida dos portadores é alto. Além disso, esse que limita os resultados e a conclusão. Não houve controle
achado traduz a importância da avaliação global, associada a também das características basais em relação ao sedentarismo
um tratamento envolvendo os mais diversos fatores afetados e ao índice de massa corporal. O estudo não apresentou ava-
na vida desses pacientes. liador cego, o que também limita os resultados e a conclusão.
Estudos aplicam a terapia cognitivo-comportamental
(TCC) em relação ao sono10 e à dor16,17 em portadores de FM.
REFERENCES
No estudo de Edinger et al.10 concluiu-se que a aplicação da REFERÊNCIAS
TCC, relacionada ao sono, é mais eficaz quando comparada à 1. Ware MA, Fitzcharles MA, Joseph L, Shir Y. The effects of nabilone
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