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Louyse Jerônimo de Morais 1

Vasculites
Referência: aula da prof. Alessandra Braz

Introdução e fisiopatologia A imagem a seguir ilustra o mecanismo tipo II. O


linfócito B passa a produzir o ANCA após ser estimulado
As vasculites englobam um grande grupo de
por fatores antigênicos desconhecidos [provavelmente
doenças heterogêneas, caracterizadas por reação
exógenos]. Esse anticorpo interage com receptores [PR3 e
inflamatória localizada na parede vascular e nos tecidos
MPO] de neutrófilos e macrófagos sensibilizados. Essas
perivasculares. Dependendo do tamanho do vaso afetado,
células passam a liberar uma série de mediadores
pode ter manifestação cutânea [equimose], púrpura ou
citotóxicos que favorecerão a lesão vascular. O macrófago
até alveolite hemorrágica.
e o monócito, quando ativados, apresentam várias
Quando estudamos vasculite, temos que estar moléculas [CD] de superfície.
atentos à questão do mecanismo patogênico que envolve
as doenças. Temos uma vasculite, que é a granulomatose
eosinofílica com poliangiite, que tem como mecanismo a
degranulação mastocitária após encontro do
imunocomplexo com os anticorpos, sendo IgE o principal.
É por isso que essa doença se associa com processos
alérgicos. A manifestação mais frequente vai ser
eosinofilia no sangue periférico.

Mecanismo tipo II

Além disso, nós temos também a ativação do


sistema complemento, só que isso, nas vasculites, não é
de tão grande intensidade, como acontece no LES, em que
culmina com consumo dos fatores de complemento. Aqui,
sabemos que tem uma ativação, que pode ter um
mecanismo mediado por imunocomplexos e ativação do
sistema complemento, mas não chega a se manifestar
laboratorialmente.

Uma outra forma de mecanismo patogênico é a


tipo II, que é guiado pelo ANCA [anticorpo anti-citoplasma
de neutrófilos]. Nesse caso, o anticorpo vai reconhecer um
antígeno celular. Um exemplo seria a antiga
granulomatose de Wegener [atualmente, chama-se
granulomatose com poliangiite], a poliangiite O mecanismo tipo III é visto na vasculite de médios
microscópica e síndrome de Churg-Strauss, que agora se vasos, que acontece, principalmente, na poliarterite
chama GEPA [granulomatose eosinofílica com poliangiite]. nodosa. Esta última se caracteriza pelo aparecimento de
aneurismas, saculações e estenoses. Ocorre da seguinte
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forma: tem-se vasos intraparenquimatosos no mesentério patogênico predominante, com células


ou no parênquima renal. Essas artérias, quando se multinucleares – arterite de células gigantes e de
bifurcam, na hora que o fluxo sanguíneo vem com grande Takayasu, mais comum em mulheres acima de 55
intensidade, bate na parede do vaso, que já vai estar anos.
fragilizada pela lesão induzida pelos imunocomplexos,
No mecanismo tipo IV, o antígeno [por exemplo,
formando aneurismas.
micobactéria, fungo] é processado pela célula
apresentadora de antígenos [APC], acionando o linfócito
Th1, por meio do HLA-II. A interação dessas células
estimula a produção de citocinas, as quais atuam em
várias etapas do processo inflamatório. O macrófago é
atraído e ativado, transformando-se na célula epitelioide,
as quais se agrupam, constituindo os granulomas.

• Mecanismo tipo I: degranulação mastocitária com


presença de IgE.
• Mecanismo tipo II: o principal é o ANCA.
• Mecanismo tipo III: mecanismo de lesão
endotelial, tanto que a poliarterite nodosa tem
correlação etiológica com o vírus da hepatite B,
embora não seja obrigatório.
o Na poliarterite nodosa, o paciente entra Mecanismo tipo IV
em insuficiência renal, de repente, por
isquemia. Classificação das vasculites
• Mecanismo tipo IV: imunidade celular; vai ter Leva em consideração o tamanho dos vasos
formação de granuloma como mecanismo predominantemente afetados.
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• Critérios da Conferencia de Consenso de Chapel • Vasculite por crioglobulinas: associação com


Hill – 2012: forneceu definições de doenças, mas hepatite C
não critérios de classificação. • Púrpura de Henoch-Schonlein → vasculite por
depósito de IgA: é a mais prevalente na infância.
Essas definições ganharam ampla aceitação na
• Vasculite urticariforme hipocomplementêmica
definição de vasculites por patologia, incluindo o tamanho
dos vasos afetados e os sistemas de órgãos envolvidos. A antiga good pasture pode dar glomerulonefrite,
com depósito de imunocomplexos. Muitas vezes,
acontece de um paciente internado na enfermaria de
clínica médica, com glomerulonefrite e investigação para
LES negativa, fazer biópsia renal para elucidar o caso. Se
não tiver depósito de imunocomplexos, praticamente
excluir LES, porque tem que ter “full house”, isto é, “casa
cheia” de imunocomplexos nessa patologia. Se não tiver,
pensar em vasculites ANCA associadas, porque
normalmente elas são paucimunes.

Contudo, tem a vasculite good pasture, que tem


imunocomplexos, mas geralmente é em rapazes jovens,
com FAN negativo, investigação de anticorpo anti-
membrana basal glomerular e síndrome pulmão-rim
[alveolite hemorrágica, glomerulonefrite, vidro fosco,
doença intersticial etc.].

Vasculite associada a determinados agentes


etiológicos
Normalmente, investigamos as vasculites
como de natureza idiopática. Porém, tem um grupo de
vasculites em que se pode dar um agente para isso –
sífilis, hepatite B, hepatite C, fármacos [doença do
soro, propiltiouracila, minociclina etc.].
1. Grandes vasos

• Arterite de Takayasu: continua o mesmo nome.


• Arterite temporal → arterite de células gigantes

2. Médios vasos

• Poliarterite nodosa: continua o mesmo nome.


• Doença de Kawasaki: continua o mesmo nome.

3. Pequenos vasos

3.1 Associada aos ANCA

• Poliangiite microscópica: continua o mesmo


nome.
• Granulomatose de Wegener → granulomatose
com poliangiite
• Síndrome de Churg-Strauss → granulomatose Existem vasculites que afetam os vasos
eosinofílica com poliangiite [GEPA] predominantemente, mas não exclusivamente, de grande,
médio e pequeno calibre. As ANCA associadas não pegam
3.1 Associada a imunocomplexos só capilar, vênula e arteríola, por isso que não
• Good pasture → doença da membrana basal necessariamente vai ter alveolite hemorrágica ou
glomerular. glomerulonefrite. As que tem “granuloma” no nome da
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doença, além de imunocomplexos e demais mecanismos,


geralmente também tem formação de granuloma.

Por que é tão complexo tratar vasculite? Porque


não tem apenas um mecanismo patogênico envolvido.

Manifestações cutâneas

• Púrpura palpável: nem toda púrpura palpável é


vasculite e nem toda vasculite da pele é
representada como púrpura.
o Borda elevada e não desaparece com
dermopressão.
o Pode estar presente no lúpus, na vasculite
por depósito de IgA ou qualquer outra.
Em geral, para ter púrpura, tem que ter
vaso pequeno afetado.

Livedo reticular racemoso

O livedo reticular pode aparecer na pessoa com ou


sem doença, mas o racemoso, obrigatoriamente, remete
à doença.

Vasculite de pequenos vasos

Púrpura Afeta predominantemente os pequenos vasos –


pequenas artérias intraparenquimatosas, arteríolas,
• Livedo reticular: ocorre de forma completa com capilares e vênulas. Artérias e veias médias podem ser
interligação nítida, que delimita internamente afetadas.
áreas da pele com aspecto normal, ou mesmo
pálidas. 1. Vasculites ANCA associadas [VAA]

São vasculites necrosantes, com pouco ou


nenhum depósito imune, afetando predominantemente
os pequenos vasos e associadas a anticorpos contra o
citoplasma de neutrófilos [ANCA]. É válido ressaltar que
nem todo paciente com essas doenças vai ter ANCA
positivo.

ANCA

Existe um método que faz, que é a


Livedo reticular – fechamento completo da trama imunofluorescência indireta – o mesmo utilizado para o
vascular, com centro pálido FAN. Temos a célula, o núcleo e as estruturas marcadas
pela fluoresceína, que podem ficar perto do núcleo – “p-
• Livedo reticular racemoso: quando a trama ANCA” ou “perinuclear” – ou bem distantes do núcleo,
reticulada não é constituída por linhas que perto da membrana celular – “c-ANCA” ou “ANCA
confluem e fecham. Associação importante com clássico”. Portanto, pode-se observar dois padrões
vasculite. principais associados com a presença de vasculite
clinicamente evidente:

• C-ANCA [padrão citoplasmático]: presente em


80% dos casos de granulomatose de Wegener
[granulomatose com poliangiite – GPA] e em 30%
dos casos de poliangiite microscópica [PAM].
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• P-ANCA [ANCA perinuclear]: presente em 10% das • Boca e orofaringe: gengivites, perda dos dentes,
GPA e em 60% das PAM. reabsorção do osso alveolar, retardo de
cicatrização pós-extração, estomatites,
A granulomatose eosinófilica com poliangiite
odinofagia, úlceras etc.
[GEPA] também pode ter ANCA [geralmente P-ANCA], mas
• Ouvidos: condricte, otite média serosa e
as duas que mais cursam com percentual de ocorrência de
supurativa, mastoidite.
anca são a GPA e a PAM.
• Olhos: inflamação granulomatosa, úlceras na
Existe um ANCA atípico, que pode aparecer em córnea, oclusão retiniana, neurite óptica.
hepatites, nas doenças inflamatórias intestinais, por • Pulmões [85%]: tosse, hemoptise, dispneia, dor
medicação, cirrose biliar primária etc. Então, tem que pleurítica e obstrução traqueal, adenopatia hilar,
avaliar o contexto clínico e laboratorial. Dessa forma, é consolidação pulmonar e/ou derrame pleural.
importante dosar os anticorpos específicos. o Imagem: nódulos e infiltrados unilaterais
ou bilaterais
• Antimieloperoxidase: quando P-ANCA positivo.
o Cavitação pulmonar dos dois lados =
Geralmente, é GEPA ou PAM.
pensar em GPA.
• Antiproteinase 3: quando C-ANCA positivo.
Geralmente, é Wegener.

Obs.: A pesquisa por ELISA é realizada para casos


especiais.

1.1 Poliangiite granulomatosa [GPA] ou granulomatose de


Wegener

• Vasculite necrosante grave


• Sexo: homens = mulheres [leve predomínio
masculino]
• Idade: 4ª década.
• Tríade clássica: via aérea superior, via aérea
inferior e rins.

Uma uveíte intensa, junto com perda auditiva,


tem que investigar vasculite. Outros sinais são: secreção,
otite média intensa, sinusite que não melhora com nada,
pus que não melhora com ATB, nariz em sela, erosões no
palato etc. – poucas doenças afundam o nariz. Na GPA,
uma doença granulomatosa do osso nasal é capaz de
destruir e afundar o nariz da pessoa [diagnóstico
diferencial = hanseníase].

Nariz em sela • Rins: GN e insuficiência renal


Quadro clínico • Pele [50%]: púrpura [mais comum], nódulos,
piodermite gangrenoso, livedo reticular etc.
• Via aérea superior: inflamação, tosse, crostas • Artralgias [50%]
nasais, rinorreia persistente – sanguinolenta ou • Sistema nervoso: neuropatia, convulsões,
purulenta, ulceração nasal e nariz em sela. oftalmoplegia, cerebrites e AVC.
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• Vascular: incidência elevada de TVP predominantemente os vasos pequenos e médios e está


[desconhecido, embora anticorpos anti- associada com asma e eosinofilia. ANCA é mais frequente
plasminogênio tenham sido demonstrados em quando há glomerulonefrite.
pacientes com VAA e TVP].
Essa doença tem dois principais mecanismos de
Exames complementares ação, um com formação de granuloma e presença de
eosinófilos, outro com associação ao ANCA. Então, o ANCA
• VHS e proteína C reativa: elevadas. é que vai provocar alteração dos rins, com
• Anemia + leucocitose glomerulonefrite. Os nódulos pulmonares,
• C-ANCA: 90% - formas completas ativas / 50% comprometimento cardíaco e a maioria das outras
limitadas e 35% remissão. alterações estão relacionadas com granuloma.
o O ANCA ajuda no diagnóstico e na
monitoração da resposta terapêutica. • Rara: menos frequente das VAA
• Histopatologia: necrose fibrinoide + granulomas. • Mais comum em mulheres: apenas um pouco.
Melhores resultados com biópsia a céu aberto de • Faixa etária: > 40 anos
rins ou pulmões, pois dá mais fidedignidade no • História de alergias, rinite, dermatite atópica e
material colhido. asma
• Eosinofilia periférica: passa de 10%.
• Biópsia: granulomas com eosinófilos, não nos
pulmões; diferentemente da granulomatose de
Wegener.
o Não faz biópsia em pulmão, porque os
nódulos são migratórios, então não faz
cavitação.

Três fases [simultânea em 20%]

• Período prodrômico: perda de peso, febre,


1.2 Poliangiite microscópica [PAM]
linfonodopatia, rinite alérgica, polipose nasal,
Diferentemente da GPA, não tem granuloma, não asma.
forma nódulo pulmonar e não afeta os seios da fase com • Segunda fase – eosinofílica: eosinofilia periférica e
erosão, porque quem faz isso é granuloma. Portanto, tecidual.
trata-se de uma vasculite ANCA associada não • Terceira fase - vasculítica: vasculite sistêmica.
granulomatosa.
Pode não ter toda a história de alergia, mas de
• Menor envolvimento de vias aéreas superiores e repente aparece.
menor envolvimento ocular.
Quadro clínico
• Menos recidivas
• Maior frequência: glomerulonefrite > 90% dos • Sintomas gerais: febre, perda de peso, fraqueza,
casos, hemorragia alveolar, vasculite intestinal, poliartralgias, artrite, ICC, úlceras de córnea,
fibrose pulmonar. convulsões.
o É a principal causa de síndrome pulmão- • Envolvimento pulmonar: infiltrado pneumônico,
rim. doença intersticial, nódulos infiltrativos bilaterais
sem cavitação; menos comum ter hemorragia
Exames complementares
alveolar. Asma costuma melhorar com o
• P-ANCA positivo: reage nas substâncias chamadas aparecimento da vasculite sistêmica.
mieloperoxidase. • Envolvimento cutâneo: púrpuras, petéquias,
ulcerações, nódulos.
1.3 Síndrome de Churg-Strauss ou granulomatose
• Envolvimento neurológico: mononeurite múltipla
eosinofílica com poliangiite [GEPA]
[MNM] – manifestação neurológica mais comum
É uma vasculite granulomatosa rica em eosinófilos na GEPA.
e necrotizante, frequentemente envolvendo o trato • Envolvimento cardiovascular: 16 a 50% dos
respiratório – quer seja superior quer seja inferior. Afeta paciente; perimiocardite, vasculite
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subendocárdica difusa, miocardiopatia dilatada • Dor abdominal: 85%, intensa, tipo cólica e, às
[miocardite com redução da fração de ejeção], vezes, com sangramento digestivo. Pode simular
trombo intracavitário. Em um número quadro de apendicite.
considerável de pacientes, o acometimento • Artrite: 60 a 80%; autolimitada; edema
cardíaco pode ser silencioso. periarticular e assimétrico nos MMII com púrpura
• Envolvimento renal: glomerulonefrite, síndrome palpável = muito indicativo de VIgA.
nefrótica, insuficiência renal. • Nefrite: hematúria e proteinúria; de leve a
• Trato genitourinário: granulomas em próstata e insuficiência renal. Não é tão comum.
região testicular. • Recidivas: 6 meses a 2 anos, em geral são leves.
• Eosinofilia: > 1500/mm³ ou > 10%.
O quadro clínico principal é a tríade formada por púrpura
Exames complementares palpável que não ulcera + dor abdominal + artrite.
Acometimento de pele é obrigatório, podendo acontecer
• VHS e PCR: aumentados
quadro abdominal e/ou de articulações.
• IgE aumentada em 75% dos casos
• Hemograma: anemia + eosinofilia; eosinofilia > Diagnóstico
1500 ou acima de 10% do total de leucócitos
• Clínico
• P-ANCA: 70%, sobretudo nos casos com doença
• IgA sérica aumentada e redução de C3 ou C4
cutânea.
• Biópsia cutânea: vasculite, leucocitoclástica,
• Biópsia dos tecidos envolvidos: angiite e
depósitos de IgA e C3.
microgranulomas necrosantes extramurais, com
• Biópsia renal: GNFS.
presença de eosinófilos.
É muito raro fazer biópsia de rim, porque é uma
O exame mais preditivo para dar diagnóstico não
vasculite benigna, na maioria das vezes. Se manifestar no
é o ANCA, mas a hemograma com eosinofilia.
rim, geralmente é tardiamente.
2. Vasculites associadas a imunocomplexos
2.2 Crioglobulinemia
2.1 Vasculites por depósito de IgA [púrpura de Henoch-
• Conceito: crioglobulinas são imunoglobulinas que
Schonlein]
se precipitam em temperaturas abaixo de 37°C e
Afeta predominantemente pequenos vasos, não é solubilizam após reaquecerem. Vão agredir a
granulomatosa e é mais comum em indivíduos de até 20 parede do vaso.
anos. • Vasculite em pequenos vasos; afeta geralmente
adultos [45 a 65 anos] e mais frequente nas
• Autolimitada: leucocitoclástica [leucócito sofre
mulheres.
ruptura e a extrusão de seu conteúdo aparece no
• Imunocomplexos: IgG policlonal e IgM
histopatológico] ou necrosante.
monoclonal – depósitos em locais de baixa
• Mais frequente em crianças e jovens [90% < 10
temperatura → pele e rins.
anos]; forma mais comum de vasculite sistêmica
na infância. Não tem granuloma, não tem ANCA, não é em criança e
• Deposição de imunocomplexos com IgA1 e IgG abre ferida.
[pele, TGI e rins]
Essas vasculites são decorrentes de
• Leve predomínio masculino
imunocomplexos, que podem afetar prioritariamente a
• Primavera e inverno
pele e os rins.
• Associação com: IVAS [estreptococcia prévia],
penicilinas, alergia alimentar, picadas de insetos. Quadro clínico

Quadro clínico • Pele: púrpura palpável [70 a 90%] em MMII e


glúteos, úlceras digitais, necrose e fenômeno de
• Rash purpúrico palpável: 100% dos casos,
Raynaud.
principalmente em nádegas e MMII. Às vezes,
o Pode confundir com pioderma
coalescem, formando mácula, mas tem uma
gangrenoso, só que este último apresenta
característica de não ulcerar. Se abrir ferida,
áreas de pele íntegra entre as lesões.
pensa em outra doença, pois é difícil necrosar.
• Artralgias: muito comuns
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• Sistema nervoso: polineuropatia sensitivo-motora médias e pequenas. As artérias coronárias estão


mais comum; MNM pode ocorrer. frequentemente envolvidas e a aorta e grandes artérias
• Rins: glomerulonefrite, síndrome nefrótica ou podem estar envolvidas.
insuficiência renal.
Geralmente ocorre em bebês e crianças pequenas
Exames complementares [até 4/5 anos], os quais ficam com as mãos edemaciadas e
língua em framboesa, em decorrência do edema extenso,
• VHS: alterado ou normal. que descama. Além disso, faz febre, linfonodomegalia e se
• Hipergamaglobulinemia, hipocomplementemia manifesta como uma doença exantemática mesmo.
• Fator reumatoide positivo Algumas vezes, tem arterite coronária, a qual é perigosa,
• Sumário de urina: todo paciente com suspeita de porque pode dar aneurisma e ruptura das artérias
vasculite, se fizer púrpura, pede sumário. coronárias, fazendo com que o bebê morra.
• Evidência sorológica de vírus de hepatite: HCV.
o Hepatite C: relação com crioglobulinemia. Se desconfiar, já faz AAS e imunoglobulina, porque
o Hepatite B: relação com poliarterite as artérias coronárias estão envolvidas. Precisamos prever
nodosa. o dano e evitar a morte.

A crioglobulinemia tem dois chamas laboratoriais, 2. Poliarterite nodosa [PAN]


um é a hepatite C e o outro é o fator reumatoide. Deve-se Não é granulomatosa e não tem ANCA, então ela
lembrar que as crioglobulinas podem ter ação de fator nem tem glomerulonefrite nem forma nódulo no pulmão.
reumatoide. É uma vasculite de médios vasos, cujo mecanismo
Caso clínico: paciente feminina, 45 anos, deu patogênico é o III, envolvendo turbulência nos vasos em
entrada na enfermaria de clínica médica, referindo febre, suas bifurcações, formando aneurismas e saculações. Essa
perda ponderal e manchas nos MMII. Ao exame clínico, doença tem a característica típica do livedo, o qual é
percebe-se úlcera de área extensa, associada a lesões de extremamente prevalente [assim como na GEPA].
processo inflamatório locorregional. Nos exames Costuma acometer homens mais velhos, entre 40
laboratoriais, provas de atividade inflamatória alteradas, e 60 anos. É a doença dos aneurismas.
fator reumatoide positivo. Não é artrite reumatoide,
porque não tem artrite, nesse caso, é vasculite – Quadro clínico
crioglobulinemia. É assim que cai nas provas de residência.
• Sintomas gerais: febre, emagrecimento [> 4 kg],
Método de coleta mialgia, dor testicular [10%].
• Pele: livedo reticular, nódulos subcutâneos,
Como é crioglobulina, se estiver no inverno ou se púrpura, isquemia, infartos, úlceras e necrose de
coletar em ambiente de ar condicionado, vai estragar a polpas digitais.
coleta – tem que colocar aquecido. O plasma vai gerar um
• TGI: dor abdominal [trombose mesentérica e/ou
crioprecipitado, que são as imunoglobulinas –
peritonite]; diarreia, hematoquezia, enterorragia,
crioaglutinina. Sempre coletar dessa forma quando o
angina e perfuração, além de pancreatite.
paciente tiver púrpura e úlcera extensa.
• Sistema nervoso: 50 a 75% dos casos [neuropatia
• Material pré-aquecido para coleta e centrifugação periférica] – mono e polineuropatia – pé caído ou
• Incubar a 4° por 5 a 7 dias: crioprecipitado mão caída].
[nefelometria ou espectofotometria] • Rins: falência renal [infarto renal ou
microaneurismas, oligúria e anúria até
Vasculite de médios vasos insuficiência]. Alteração da função renal e
Acomete principalmente as artérias médias – hipertensão. Não há glomerulite.
principais artérias viscerais e seus ramos, mas qualquer • Envolvimento ocular e cardíaco é raro.
tamanho de artéria pode ser afetado. Aneurismas Exames complementares
inflamatórios e estenoses são comuns.
• VHS / HBsAg positivo
1. Doença de Kawasaki
• Arteriografia renal ou mesentérica: aneurismas
Arterite associada à síndrome do linfonodo nas bifurcações dos vasos intraparenquimatosos,
mucocutâneo, afetando predominantemente as artérias estenoses e irregularidades na luz dos vasos
[artérias hepáticas e/ou mesentéricas].
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• Biópsia: necrose fibrinoide com infiltrado • Arterite de Takayasu: carótida e principais ramos
inflamatório transmural de granulócitos, com provenientes da aorta, quer seja do arco aórtico,
rotura de lâminas elásticas interna e externa. da aorta torácica ou da aorta abdominal.
• Biópsia do nervo sural
1. Arterite de Takayasu

É uma doença de mulher jovem, abaixo de 40


anos, predominando nas asiáticas.

• Grandes vasos
• 80 a 90% são mulheres, entre 10 a 40 anos, e
asiáticas
• 150 novos casos/ano
• Aorta, grandes ramos e artéria pulmonar: sempre
pedir ecocardiograma nesses pacientes por conta
disso.
• Início na subclávia esquerda.

Essa vasculite é mediada pelo mecanismo de


hipersensibilidade tipo IV, o qual gera granuloma nas
camadas média e adventícia, hiperplasia da camada íntima
e fibrose e estenose da luz dos vasos. Nesses pacientes,
ocorre parada ou redução do fluxo sanguíneo para o lugar
que tem que ir. Então, para de ir sangue para as pernas e
dá claudicação vascular, paciente tem dificuldade de ficar
com o braço levantado etc.

Quadro clínico

• Sinais e sintomas [doença inicial]: febre, perda de


peso, artralgia e fraqueza.
o Pode ser insidiosa.
o Queixa de dormência: sempre palpar os
pulsos.
• HAS: acometimento das artérias renais ocorre em
70% dos casos, ocasionando HAS de difícil
Livedo racemoso característico da poliarterite nodosa controle; estenose da artéria renal, obstrução
Vasculites de grandes vasos arterial periférica, rigidez vascular.
• Sopros: carótidas, subclávias ou grandes vasos.
Acomete grandes artérias [aorta e seus ramos • Angina pectoris, claudicação, isquemia
principais] com mais frequência do que outras vasculites, abdominal, cefaleia, convulsões, parestesias,
embora qualquer tamanho possa ser afetado. hemiparesia, plegia, amaurose ou diplopia.
Um exemplo seria uma mulher de 24 anos que O envolvimento da artéria subclávia gera
internou no trauma por um AVE, com VHS alta. Pensa em insuficiência vascular, cursando com redução da
SAF, LES e Takayasu. A pessoa fica com visão dupla, temperatura em uma ou mais extremidades, redução ou
cefaleia, hipertensão etc. Outra situação seria um idoso assimetria de pulsos, claudicação em braços e pernas e
com perda súbita de visão, uma semana antes com febre diferença de 10 mmHg entre a PA dos MMSS.
e mal-estar, mas do nada acorda cego. Esse paciente vai
para o oftalmologista, que muitas vezes não pensa em • Envolvimento carotídeo: tontura, síncope.
arterite de células gigantes. • Envolvimento aórtico: insuficiência aórtica.
• Acometimento de artérias mesentéricas: angina
• Arterite de células gigantes: artéria temporal, mesentérica – dor abdominal após alimentação.
oftálmica e subclávia são as mais importantes. • Envolvimento ileofemoral: claudicação de MMII
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Exames complementares Quadro clínico

• Velocidade de hemossedimentação e/ou PCR • Sintomas constitucionais: febre, mialgia, mal-


• Hemograma: anemia, trombocitose estar, fadiga e perda de peso
• USG com doppler: estreitamento e oclusão, • Dois fenótipos principais
circulação colateral + aneurisma sacular e o Fenótipo craniano: cefaleia latejante,
fusiforme. Pode ser usado para hemicraniana, dolorimento no couro
acompanhamento. cabeludo, claudicação da mandíbula e
o Se suspeitar de Takayasu, pedir de alterações neuro-oftalmológicas
subclávia esquerda. [amaurose súbita decorrente de
• Angiotomografia/RNM: espessamento da parede alteração da artéria oftálmica].
dos vasos e redução da luz. o Fenótipo de envolvimento de artéria de
• Arteriografia: estreitamento da luz, oclusões ou grande calibre: aneurismas, estenoses,
aneurismas; útil nos > 50 anos e desobstrução ectasia, alteração na aferição de pulsos de
cirúrgica. PA.
• PET: excelente para avaliar doença ativa, mas • Claudicação de mandíbula
muito caro e pouco disponível. • Manifestações neurológicas: pode começar com
• Histopatológico: pan-arterite-infiltrado AVE.
inflamatório mononuclear e células gigantes; • Envolvimento ocular
endotélio proliferado e fibrótico. o Pode ser transitório e monocular, súbita e
indolor, pode ser parcial ou completa, uni
O exame mais básico é uma USG com doppler de ou bilateral
artéria subclávia e carótida. Se suspeitar de Takayasu, o Pode ser súbita e irreversível
pede de subclávia esquerda. Após internar, pede angio-TC o Causa mais comum da perda de visão:
ou angio-RNM de tórax e abdome em TODO PACIENTE. Se neurite óptica anterior isquêmica. Se não
tiver diplopia, tontura, cefaleia ou suspeita de qualquer intervir com corticoide em alta dose nas
alteração do SNC, faz angio-RNM do encéfalo. primeiras 48h, o paciente perde a visão.
Se o paciente tiver > 50 anos, pede arteriografia, Cerca de 1/3 dos pacientes ficam cegos.
mas hoje em dia não usamos tanto, porque ela mostra se Lembrar de vermifugar antes de iniciar CE.
está entupido ou não. Os outros mostram se tem edema e o Espessamento, dolorimento ou
demais alterações. nodulação dos vasos envolvidos, como a
artéria temporal.
As principais causas de morte são ICC e ruptura vascular.

2. Arterite de células gigantes

Trata-se de uma vasculite granulomatosa crônica,


que afeta artérias de grande e médio calibres – principais
ramos aórticos de 2ª a 5ª ordem e artérias extracraniais da
cabeça [80 a 90% artéria temporal superficial].

• Epidemiologia: > 50 anos; incidência maior com a


idade e latitude norte – destaque para mulheres e Arterite temporal – artéria fica tortuosa, elevada e
brancos escandinavos. dolorida. A pessoa pode ficar cega.
• Clínica: cefaleia [dor como se fosse queimação no Exames complementares
couro cabeludo, dificultando para mastigar],
claudicação de mandíbula [fluxo sanguíneo do • VHS [> 50 mm/1ª hora], PCR e IL-6.
masseter é comprometido], polimialgia reumática o Cálculo do VHS: [idade + 10] / 2. Como a
e sintomas visuais dominam o quadro. doença acomete pessoas mais velhas, é
• Inflamação: envolve linfócitos T e macrófagos difícil que o VHS seja menor que 50.
ocupando todas as camadas da parede arterial. • Hemograma: anemia
Forma-se um granuloma com histiócitos ou • Angio-ressonância: espessamento na parede
células gigantes multinucleadas. vascular e edema perivascular.
Louyse Jerônimo de Morais 11

• Dopplerfluxo transcranial/USG com doppler: pode Topografia das vasculites de grandes vasos
mostrar alterações inflamatórias e anatômicas Artéria temporal axilar: arterite de células
dos vasos temporais. gigantes
• Biópsia da artéria temporal: é o mais sensível e Artéria vertebral e aorta: arterite de Takayasu
mais específico para diagnóstico. Artérias carótida e subclávia: as duas acima.
Paciente que perde visão de forma súbita, com VHS Devemos avaliar a carótida e a subclávia de
elevado = pedir USG da artéria temporal bilateral, para todo paciente com suspeita de arterite de grandes
investigar se tem inflamação, a qual aparece através do vasos.
sinal do halo [representa edema].
• USG de grandes vasos: temporal, carótida e
subclávia.
• RNM
• AngioTC
• PET: abordagem padrão para rastreamento de
vasculite de grandes vasos. Útil na identificação de
doença inflamatória potencial na aorta e seus
ramos.
• Angiografia renal / mesentérica

Ultrassonografia Doppler da artéria temporal superficial. Vai cair em prova: patogênese, vasculites de pequenos
Sinal do halo em paciente com arterite de células vasos [granulomatosas e não granulomatosas], médios
gigantes que apresentava cefaleia temporal. vasos [PAN] e grandes vasos [células gigantes e
Takayasu].

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