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como imunoestimulante em
cães e gatos
ROSCOE1, M. P.; ROSSI2, R.; CARRAZZA3, T. G.
1 – Médica veterinária, Msc. 2 – Médica veterinária, Msc, doutoranda em Ciência Animal pela EV-UFMG. 3 –
Médica veterinária
1. INTRODUÇÃO
1.A.SISTEMA IMUNE
Igualmente a outros sistemas do
organismo, o sistema imune é
constituído por órgãos, tecidos e
células, das linhagens mieloide e
linfoide (Fig.1), que são responsáveis
por reconhecer e eliminar os
agentes estranhos e potencialmente
perigosos ao organismo.
No sistema imune existem células apresentadoras adjuvantes nas terapias convencionais e em vacinas
de antígenos, destacando-se os macrófagos, que, (Rush e Flaminio, 2000).
após fagocitarem o agente estranho ao organismo,
Segundo Diasio e LoBuglio (1996), os três quadros clínicos
expõem partes peptídicas para os linfócitos T e B, que
nos quais os imunoestimulantes podem ser empregados,
reconhecem os fragmentos como antígenos. Após esse
são:
reconhecimento, o sistema imune elabora respostas
celulares e humorais para sua eliminação (FIG. 3). A - Distúrbios de imunodeficiência: imunodeficiências
regulação desse sistema depende de mecanismos que secundárias e doenças autoimunes;
atuam aumentando ou suprimindo sua ação. Depois
- Doenças infecciosas crônicas: virais, bacterianas e
de um período de descanso, os mesmos antígenos
parasitárias;
podem estimular o sistema imune, desencadeando as
defesas de memória criadas anteriormente. - Câncer, em especial aqueles do sistema linfático.
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Quadro 1 - Composição Infervac® apresentadoras de antígeno, como os macrófagos,
que expressam tais moléculas antigênicas em sua
superfície e produzem citocinas. Determinadas células
do sistema imune já possuem receptores para LPS
em suas membranas, uma vez que essa bactéria
faz parte da flora intestinal e está constantemente
presente no organismo. Quando tal interação ocorre,
o receptor começa um processo de ativação celular
que desencadeia o início de suas atividades de defesa,
já memorizadas anteriormente por outros episódios
1.C. MECANISMOS DE AÇÃO semelhantes, como a ativação de linfócitos T, a
proliferação de linfócitos B e a sua diferenciação em
Propionibacterium acnes plasmócitos produtores de anticorpos.
O Propionibacterium acnes (P. acnes) é uma bactéria
gram-positiva, anaeróbia, anteriormente conhecida
como Corynebacterium parvum (C. parvum), sendo 2. ESTUDOS DE USO DE P. acnes EM
reconhecida por seus efeitos antitumorais há mais de
30 anos (Halpern et al., 1966). CÃES E GATOS
A detecção do P. acnes, por parte de monócitos e
macrófagos, ativa a ação dessas células e desencadeia 2.A. CÃES
uma série de reações “em cascata”, que induzem
Na medicina canina, o P. acnes é utilizado como
secreção de citocinas, dinamizando as funções de
adjuvante à terapia convencional em situações
defesa dos fagócitos e dos linfócitos. Quando essa
de imunossupressão sistêmica ou cutânea como,
resposta inespecífica, caracterizada por sua atividade por exemplo, nas doenças de pele (demodicidose,
fagocítica e citotóxica, não é suficiente para controlar piodermite, dermatose por malassezia e dermatofitose),
determinado processo infeccioso, o P. acnes age nas doenças virais (papilomatose e parvovirose)
favorecendo a ativação de mecanismos de defesa e também nas doenças parasitárias (erliquiose e
específicos, celulares e humorais, principalmente leishmaniose), nas quais há principalmente necessidade
por aumento de linfócitos T e B. Além disso, as de estímulo da resposta imune celular (Castells, 2011).
células responsáveis pelas respostas inespecíficas
transmitem informações para a totalidade do sistema A demodicidose canina é uma dermatose ainda
imune, garantindo um grande fluxo de informações frequente na clínica de pequenos animais, sendo
intracelulares para desencadear uma resposta de considerada um desafio quanto ao tratamento e ao
defesa eficaz contra agentes diversos. Ambos os prognóstico. Mediante protocolos de tratamento mais
modernos, consegue-se maiores taxas de sucesso e
mecanismos (resposta imune inespecífica e específica)
baixas recidivas.
impedem o estabelecimento de agentes infecciosos e
bloqueiam sua proliferação, impedindo a progressão Um ensaio clínico foi realizado com 20 cães com
de lesões patológicas. demodicidose, diagnosticada por tricograma, raspado
e observação de lesões cutâneas. Desses, 16 foram
LPS de Escherichia coli
tratados utilizando terapia convencional (banhos com
A Escherichia coli (E. coli) é uma bactéria gram- peróxido de benzoíla e amitraz a cada quatro dias)
negativa oportunista, presente na flora bacteriana de e quatro foram tratados com terapia convencional
animais, sendo constituída pelos antígenos: O do LPS, associada ao uso de P. acnes e LPS. Os resultados
K (cápsula), F (vilosidade), H (flagelo), pelo lipídeo A demonstraram que o tratamento com P. acnes diminuiu
e pelo núcleo. O antígeno O está presente na parte a sintomatologia clínica e o período de recuperação,
externa da célula e, junto com o lipídeo A, desencadeia quando comparado com grupo tratado com terapia
a resposta imune. convencional. Foi observado no grupo imunoestimulado
também a diminuição mais rápida das lesões e do
O LPS, uma vez presente na corrente sanguínea número de parasitos (larvas, ninfas, ovos e adultos)
ou em tecidos diversos, é fagocitado por células (Calier, 1999).
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Figura 2 - Ação da rede de citocinas (IL, IFN, CFS e TNF) no organismo de mamíferos
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Figura 3 - Observe dentro da ilustração abaixo. Agentes extracelulares (ex. bactérias, fungos)
antibiótico associado ao P. acnes (via intravenosa), (Tizard, 2000; Fernandes et al., 2009).
num total de 12 semanas. Foi observada 80% (12/15)
Em um estudo com 16 cães tratados com P. acnes,
de remissão completa ou melhora expressiva no grupo
sendo nove filhotes com idade entre quatro e seis
tratado com antibiótico e P. acnes, com diferença
meses e sete adultos com idade entre 18 meses e
significante em relação ao grupo convencional, de
15 anos, todos os animais apresentavam papilomas
38,5% (5/13). Os resultados indicam que P. acnes
na mucosa bucal, e, nos casos mais graves, também
é eficiente como adjuvante à antibioticoterapia no
no palato. Os animais jovens obtiveram regressão
tratamento de piodermite recorrente em cães (Becker
mais rápida das lesões, caracterizada por necrose e
et al., 1989).
desprendimento dos papilomas da segunda à quinta
A papilomatose viral canina é uma enfermidade aplicação. Nos animais adultos, as aplicações foram
tumoral benigna, caracterizada pela formação de feitas em intervalos mais curtos (três dias) e observou-
papilomas orais (lábios, faringe, língua), cutâneos se, após a terceira aplicação, coloração enegrecida
ou oculares, acometendo cães jovens ou adultos, e ressecamento das lesões, com cicatrização até a
predominantemente os imunossuprimidos ou sexta aplicação. Em geral, a papilomatose canina
debilitados. Em caso de comprometimento do estado apresenta regressão autolimitante, entre um e cinco
geral do animal, são adotados diferentes protocolos de meses após seu aparecimento, e nesse estudo foi
tratamento, incluindo ressecção cirúrgica, criocirurgia observada regressão rápida das lesões em todos os
quimioterapia sistêmica ou intralesional, drogas antivirais, animais tratados com P. acnes, entre 21 e 36 dias ou
vacinas autógenas e/ ou drogas imunomoduladoras seis aplicações (Megid et al., 2001).
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Quadro 1 - Dados clínicos-epidemiológicos e procedimentos terapêuticos em 12 cães com papilomatose viral oral canina.
Em outro relato de caso com 12 cães (Quadro. 1), os Em seis animais foi verificada infecção concomitante
animais apresentavam papilomas na língua, na gengiva por Ehrlichia canis, os quais apresentaram
e no palato, de odor fétido, causando inapetência. A pancitopenia (anemia, leucopenia e trombocitopenia)
predominância das lesões na cavidade oral sugere e/ou a visualização de mórulas do parasito no sangue
que a ingestão de água e alimentos contaminados, a periférico. O tratamento com P. acnes associado ao
lambedura de secreções que contêm partículas virais, LPS e/ou vacina autógena resultou em cura em oito
traumatismos e/ou pequenas soluções de continuidade animais (66,7%), e em nove animais tratados com P.
na cavidade oral representariam as principais vias de acnes foi obtida cura das lesões em seis (60%). Os
transmissão da doença. resultados reforçam o uso do P. acnes como alternativa
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eficaz no tratamento da papilomatose viral (Fernandes sintomático. Dessa forma, a imunoestimulação com
et al., 2009). a administração de P. acnes + LPS, juntamente com
o tratamento convencional, favorece a recuperação
Em um estudo duplo cego, no qual colaboraram
e diminui a mortalidade de cães acometidos por
diversas clínicas veterinárias de Barcelona, Espanha,
parvovirose (Calier, 1995).
56 cães com idade entre 2 e 7 meses, apresentando
diarreia sanguinolenta e/ou vômitos foram selecionados Camundongos da linhagem BALB/c são extremamente
após resultado positivo de ELISA para parvovírus nas susceptíveis a Leishmania major, que se multiplica
fezes. Os animais foram divididos conforme tratamento, e se dissemina rapidamente pelas vísceras e pelos
em grupo convencional, com 25 animais (fluidoterapia tecidos cutâneos desses animais. Em um estudo,
glicosada, antibioticoterapia, antiemético, vitaminas do camundongos BALB/c foram infectados com L. major,
complexo B), e em grupo imunoestimulado, com 31 juntamente com uma fração inativada de P. acnes
animais (recebendo tratamento convencional mais P. (antigo C. parvum). Após a aplicação, foi observada
acnes associado a LPS). Foi observado menor tempo rápida capacidade de bloqueio da multiplicação
para recuperação, com diminuição dos sintomas do parasito no local de inoculação e prevenção de
clínicos (diarreia sanguinolenta, desidratação e vômito) e disseminação em órgãos distantes. Além disso, os
menor mortalidade no grupo imunoestimulado, quando animais desenvolveram resistência à reinfecção. O uso
comparado ao grupo convencional. A restauração da de P. acnes reverteu a capacidade limitada do sistema
resposta imune é de extrema importância na parvovirose, imune de camundongos BALB/c, a gerar uma resposta
uma vez que não há tratamento específico, apenas protetora, ou atuou como adjuvante para prevenir a
Demodicidose
Demodicidose
Piodermite
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Quadro 3 - Protocolos de uso de P. acnes em felinos de acordo com diversos autores
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de controle da infecção. A leucemia, propriamente se tornaram soronegativos para FeLV. Em outro relato
dita, é um achado incomum em gatos com FeLV. O de caso, foram tratados 700 gatos infectados com FeLV
achado mais prevalente é a leucopenia, demonstrando utilizando P. acnes, antibióticos, fluidoterapia e outros
uma imunossupressão profunda, que se apresenta tratamentos de suportes, em que 50% dos animais
relacionada às síndromes secundárias. Apesar de obtiveram melhora clínica, apesar de a soroconversão ter
uma pequena parcela dos gatos infectados com FeLV sido rara (Lies, 1990 citado por Levy, 2002).
realmente desenvolver a doença clínica, uma vez
No quadro 3 estão compilados os protocolos de uso de P.
iniciado os sintomas, quase 70% dos casos resultam
acnes em felinos de acordo com diversos autores.
em óbito em até 8 semanas (Tizard, 1991).
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