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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

CAMPUS CENTRO OESTE

Bases Biológicas da Prática Médica II (BBPM II)


Profa. Jaqueline Maria Siqueira Ferreira

SEMINÁRIO TUBERCULOSE E HANSENÍASE

Aleksia Esperanza Batista França


Amanda Cristina Almeida Zacarias
Camila Cristina Nascimento
Camily Vitória Orlando
Isadora Alves Fonseca
Jéssica Oliveira Moura
Natálie Lima Carvalho

Divinópolis
2024
TUBERCULOSE

1. Agente etiológico

O agente etiológico da tuberculose é a bactéria Mycobacterium (Myces= fungos e bakterion=


bastonete pequeno) tuberculosis (Tuberculum= pequeno nódulo ou tubérculo e osis= caracterizado
por). Diante disso, conclui-se que a bactéria tem o formato de pequenos bastonetes, semelhantes à
fungos e se caracteriza pela formação de tubérculos nos pulmões de pacientes infectados.

● Taxonomia:

A bactéria foi descrita por Robert Koch, bacteriologista alemão, em 1882, sendo, por isso,
também chamado de bacilo de Koch (BK), em sua homenagem.

Classificação taxonômica da M. tuberculose:


■ Reino - Monera
■ Filo - Actinobacteria
■ Classe - Actinomycetes
■ Ordem - Actinomycetales
■ Família - Mycobacteriaceae
■ Gênero - Mycobacterium
■ Espécie - Mycobacterium tuberculosis

● Morfologia:

A Mycobacterium tuberculosis mede de 1 a 10 μm de comprimento por 0,2 a 0,6 μm de


largura. É um bacilo reto ou ligeiramente curvo, não encapsulado, não esporulado e imóvel.
Além destas características, uma peculiaridade importante é o agrupamento dos bacilos em
forma de ramos alongados e tortuosos, conhecidos como cordas. A observação de cordas à
baciloscopia é uma indicação de que se trata de bactéria do complexo M. tuberculosis.
● Estrutura:

Essa bactéria é intracelular facultativa, quase estritamente aeróbica e possui um crescimento


extremamente lento, resultante da parede celular resistente que se opõe à passagem de
nutrientes para o interior da célula. A parede deste microorganismo assemelha-se a uma
parede celular gram-positiva modificada, contendo uma camada polipeptídica, o alto teor
lipídico (cerca de 60%) destas bactérias fazem delas ácido-álcool resistentes.
A parede celular é composta por três tipos de macromoléculas, sendo elas peptidoglicano,
arabinogalactano e ácidos micólicos. No exterior da membrana celular encontra-se
peptidoglicano, que estabelece ligações covalentes com o arabinogalactano linear através de
uma unidade de ligação (L-Rha-D-GlcNAc-P), o qual por sua vez está ligado também por
ligações covalentes a ácidos micólicos, os quais são orientados perpenticulamentes ao plano
da membrana e proporcionam uma barreira lipídica. Este é designado como núcleo da parede
celular. A parede também contém proteínas intercaladas, como por exemplo, o manosídeo de
fosfatidilinositol.
Os ácidos micólicos são responsáveis pela aparência cerosa e impermeabilidade da parede,
assim como pela sua patogenicidade, além disso eles formam uma barreira hidrofóbica que
confere resistência à dessecação, à coloração por álcool e ácido e a diversos agentes químicos
e antibióticos. Ademais, os ácidos micólicos causam o efeito do fator corda, em razão da
trealose 6,6-dimicolato (TDM), o que possibilita uma melhor visualização das colônias. O
TDM é um componente da parede celular das micobactérias envolvido em importantes
mecanismos imunomoduladores responsáveis pela virulência das micobactérias. Dificilmente
podem ser corados pelo teste de Gram, em razão da grande concentração de lipídios, sendo a
propriedade morfotintorial da álcool-ácido resistente (BAAR) a mais importante, quando
corado a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio com auramina, retém os corantes
após lavagens com soluções de álcool e ácido, propriedade utilizada na coloração de
Ziehl-Neelsen. Nessa técnica a amostra que será submetida ao teste será coletada do escarro
do paciente, se as bactérias dessa amostra, após o teste, ficarem com coloração vermelha, o
agente etiológico em questão é uma bactéria álcool ácido resistente.

2) Patogênese e Prevenção

Transmissão:

A transmissão se faz por via aérea/respiratória, pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala
ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea. As gotículas exaladas (gotículas
de Pflüger) rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores (<5-10 μm de
diâmetro). As ​grandes partículas são retidas nas superfícies da mucosa e removidas pela ação ciliar do
sistema respiratório. Contudo, as partículas menores (núcleos de Wells), contendo um a dois bacilos,
podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos, onde
podem se multiplicar e provocar a chamada primo-infecção. Quando estas gotículas são inaladas por
pessoas sadias, provocam a infecção tuberculosa e o risco de desenvolver a doença.

Nem todas as pessoas expostas ao bacilo da tuberculose se tornam infectadas. A probabilidade que a
TB seja transmitida depende de alguns fatores: da contagiosidade do caso índice (doente bacilífero
fonte da infecção); do tipo de ambiente em que a exposição ocorreu; da duração da exposição

Fisiopatologia:

A patogenia da tuberculose em um indivíduo imunocompetente, sem exposição prévia, está centrada


no desenvolvimento da imunidade mediada por células, que confere resistência ao organismo e leva
ao desenvolvimento de hipersensibilidade a antígenos tuberculosos.
A sequência de eventos, desde a inalação do inóculo infeccioso, até a contenção do foco primário,
pode ser delineada da seguinte maneira:
1. Entrada nos macrófagos;
2. Replicação nos macrófagos (até a terceira semana): proliferação bacilar nos macrófagos
alveolares pulmonares e nos espaços aéreos, eventualmente levando a bacteremia (presença
de bactérias na corrente sanguínea) e disseminação dos organismos para múltiplos sítios;
3. Desenvolvimento de imunidade mediada por células: são geradas células T CD4+ do
subgrupo TH1, capazes de secretar IFN-γ;
4. Ativação macrofágica mediada por células T e morte de bactérias
5. Inflamação granulomatosa e lesão tecidual: além de estimular os macrófagos a eliminarem as
micobactérias, a resposta de TH1 rege a formação dos granulomas e da necrose caseosa. Os
macrófagos ativados pelo IFN-γ diferenciam-se nos “histiócitos epitelioides” que se agregam
para formar granulomas; algumas células epitelioides podem se fundir, formando células
gigantes. Em muitos indivíduos, esta resposta interrompe a infecção antes de haver destruição
tecidual significativa ou mesmo doença. Em outros indivíduos, com deficiência imunológica
devido à idade ou à imunossupressão, a doença progride e a resposta imune contínua leva à
necrose caseosa.

Em síntese, a imunidade à infecção por tuberculose é mediada, primariamente, pelas células TH1, que
estimulam os macrófagos a eliminarem as micobactérias. Esta resposta imune é amplamente efetiva,
porém tem como preço a se pagar a hipersensibilidade e a destruição tecidual que a acompanha.

Tuberculose Primária

É a forma da doença que se desenvolve em um paciente sem exposição prévia e, portanto, sem
sensibilização. Cerca de 5% dos recém-infectados adquirem doença significativa. Na grande maioria
dos indivíduos sem nenhuma outra condição, a única consequência da tuberculose primária é a
formação dos focos de cicatrização.
O nódulo tuberculoso primário (nódulo de Ghon), geralmente está localizado em área subpleural
inferior do lobo superior, ou área superior do lobo inferior. A associação do nódulo subpleural e de
linfonodos hilares é denominada de complexo de Ghon. Em pacientes com bom estado imunológico a
regressão desta lesão leva à cicatrização da área comprometida com calcificação posterior.
Tuberculose primária progressiva: estes focos podem conter bacilos viáveis, sendo, assim, ninhos para
a reativação da doença em um momento posterior, caso as defesas do hospedeiro se tornem
comprometidas (especialmente alta em pacientes HIV-positivos, com imunossupressão significativa).
Há a consolidação dos lobos inferior e médio, linfadenopatia hilar e doença não cavitária.
Tuberculose Secundária

A tuberculose secundária é o padrão de doença que surge em um indivíduo previamente sensibilizado.


Pode ocorrer pouco tempo após a tuberculose primária, no entanto o mais frequente é o surgimento a
partir da reativação de lesões primárias dormentes, muitas décadas após a infecção inicial,
especialmente quando a resistência do hospedeiro se torna enfraquecida. Também pode resultar de
reinfecção, em decorrência da queda da proteção adquirida na doença primária, ou então devido à
exposição a um grande inócuo de bacilos virulentos. Localiza-se, classicamente, no ápice de um ou
ambos os lobos pulmonares superiores.
Devido à preexistência de hipersensibilidade, os bacilos ativam uma resposta tecidual imediata e
intensa, que tende a isolar o foco. Entretanto, há pronta formação de cavitação na forma secundária,
levando à erosão para o interior das vias aéreas, e disseminação ao longo delas. Estas alterações
tornam-se uma importante fonte de infectividade, visto que o paciente agora produz escarro contendo
o bacilo.
A tuberculose pulmonar secundária localizada e apical pode cicatrizar com fibrose, espontaneamente
ou após tratamento, ou então a doença pode progredir e se estender através de muitas vias diferentes

Doença pulmonar miliar

Ocorre quando organismos alcançam a corrente sanguínea através dos vasos linfáticos, e então
retornam para o pulmão através das artérias pulmonares. As lesões aparecem como pequenos (2 mm)
focos de consolidação, de cor branco-amarelada, espalhados pelo parênquima pulmonar (o termo
miliar é derivado da semelhança destes focos com grãos de milheto)

Tuberculose Miliar Sistêmica

A tuberculose miliar sistêmica se instala quando os organismos são disseminados por via
hematogênica por todo o corpo. A tuberculose miliar sistêmica é mais evidente no fígado, na medula
óssea, no baço, nas glândulas adrenais, nas meninges, nos rins, nas tubas uterinas e no epidídimo
Manifestações Clínicas

Tuberculose Pulmonar
Sintomas mais comuns:
● Tosse persistente, seca ou com secreção (às vezes sanguinolenta);
● Febre no final da tarde;
● Fadiga;
● Perda de apetite;
● Suores noturnos;
● Perda de peso;
● Dor torácica

Prevenção:

Como forma de prevenção da tuberculose, existe a imunização com BCG (Bacilo de Calmette e
Guérin) que é uma vacina preparada com bacilos vivos atenuados e possui eficácia de cerca de 75%
contra as formas miliar e meníngea da tuberculose, em indivíduos não infectados pelo M. tuberculosis.
A vacinação ocorre em dose única de 0,05 ml ou 0,1 ml (depende do laboratório) e deve ser
administrada o mais precocemente possível, geralmente logo após o nascimento. Crianças de até 4
anos, 11 meses e 29 dias que ainda não foram vacinadas poderão receber a vacina BCG, se
assintomática e sem sinais de imunodepressão. A partir dos 5 anos, a vacina só poderá ser aplicada em
caso de contato com uma pessoa com hanseníase.
Vale ressaltar, porém, que essa proteção pode variar de acordo com os agravos e a resposta de cada
indivíduo.
Além disso, quando as pessoas infectadas pelo M. tuberculosis não apresentam tuberculose ativa, elas
são chamadas de portadores de ILTB (infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis) e devem
receber um tratamento específico para evitar o adoecimento. Esse tratamento é uma importante forma
de prevenção principalmente em casos de pessoas com maior risco de desenvolver a doença, como
contatos de tuberculose e situações de imunidade comprometida. O tratamento da ILTB vai depender
do resultado da PPD ou PT (prova tuberculínica) ou do IGRA (o teste de liberação de
interferon-gama), e de fatores como idade, probabilidade de ILTB e risco de adoecimento.
Ele reduz o risco de adoecimento por tuberculose ativa e é feito com isoniazida, podendo ser indicado
em alguns casos rifampicina ou rifapentina + isoniazida.
Um ponto muito importante a ser citado é que se houver sinais sugestivos de tuberculose ativa, não se
deve tratar a ILTB.

3) Atualidades- Epidemiologia

Tuberculose no mundo

Em 2021, aproximadamente 10,6 milhões de pessoas contraíram tuberculose, representando um


aumento de 4,5% em comparação com o ano anterior. O relatório da Organização Mundial da Saúde
(OMS) de 2022 revela que 1,6 milhão de indivíduos perderam a vida devido à tuberculose.
- Além disso, a incidência de tuberculose resistente a medicamentos aumentou 3% entre 2020 e
2021.

Tuberculose no Brasil
Notificações de pessoas com tuberculose

Entre os anos de 2015 e 2019 houve um aumento do coeficiente de incidência de pessoas


diagnosticadas com a tuberculose quando comparado com anos anteriores. Porém, durante a pandemia
de covid-19 em 2020 houve uma queda nos números, passando de 37,9 casos por 100 mil habitantes
para 33,3 casos pela mesma quantidade de habitantes.

Os anos subsequentes contaram com um novo aumento dos casos, mas não atingiu a marca obtida em
2019, ano no qual os casos atingiram o maior número de pessoas diagnosticadas.

A queda do número de casos durante 2020 reflete questões que envolvem a:

● Capacidade reduzida do sistema de saúde em oferecer os serviços;


● A diminuição da procura por atendimento devido às restrições e ao receio da
população;
● Diminuição da circulação de pessoas.

Em 2022, os estados que apresentaram populações sob maior risco de adoecimento por TB foram
Amazonas (84,1 casos por 100 mil hab.), Roraima (75,9 casos por 100 mil hab.) e Rio de Janeiro
(68,6 casos por 100 mil hab.). Um total de 13 estados registraram coeficiente de incidência superior
ao nacional (36,3 casos por 100 mil hab.).
Mortalidade por tuberculose

Durante o ano de 2021 foram registrados 5.072 óbitos de pessoas por tuberculose no Brasil. Um
registro acima de 5.000 mortes não havia sido feito desde 2002. O aumento foi de 11,9% no total de
óbitos por tuberculose de 2019 para 2021. Em 2022, o estado que mais apresentou risco de óbito na
população foi o Rio de Janeiro, registrando 5 óbitos por 100 mil habitantes.
O gráfico mostra um aumento do número de mortes de 2020 para 2021, isso sugere que a diminuição
das notificações de pessoas com tuberculose em 2020 aumentou o número de indivíduos que não
foram diagnosticados e tratados, dessa forma, esperava-se o aumento do número de óbitos no ano
seguinte, como aconteceu.

Perfil sociodemográfico das pessoas com tuberculose

Entre os anos de 2020 e 2022 cerca de 70% dos casos de tuberculose, ocorreram em pessoas do sexo
masculino. Em 2022, esse grupo apresentava maior risco de adoecimento por TB em todas as faixas
etárias, exceto na de 5 a 14 anos de idade que prevaleceu o público feminino.

Detecção Homogênea: houve uma recuperação homogênea na detecção de pessoas com TB em todas
as faixas etárias e sexos. (Os números voltaram a crescer após a pandemia)

Impacto da pandemia: a desestruturação dos serviços de saúde durante a pandemia pode ter
agravado os desafios de diagnóstico que em 2022 voltaram a aumentar.

População infantil: a população infantil também teve um aumento do número de diagnósticos a partir
de 2022, dessa forma, é importante pensar, entre outros fatores, sobre a vacinação. Durante o período
pandêmico, ocorreu uma queda na cobertura da vacina BCG o que requer um alerta diante da possível
ocorrência de casos mais graves da doença nessa população.

Questão racial

A maioria dos novos casos de tuberculose pulmonar foi registrada em pessoas que se autodeclararam
pretas e pardas. Esse percentual aumentou ao longo dos anos: de 56,6% em 2012 para 63,3% em
2022.

Por outro lado, houve uma tendência inversa na população autodeclarada branca. Para os indivíduos
amarelos e indígenas, não houve variações significativas nos percentuais de casos de TB pulmonar.
Fatores sociais e econômicos estão fortemente ligados ao cenário vigente, visto que pessoas pretas e
pardas historicamente enfrentam menor escolaridade, menor renda e acesso limitado aos serviços de
saúde. A pobreza é um forte fator de risco para a tuberculose.

HANSENÍASE

1) Agente etiológico, morfologia, fisiologia, estrutura, classificação (taxonomia)

● Agente etiológico:

A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o


Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente, fracamente gram-positivo, que
infecta os nervos periféricos e, mais especificamente, as células de Schwann.

Guia Prático sobre a Hanseníase. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de


Vigilância e Doenças Transmissíveis, Ministério da Saúde. Brasília, 2017.
Disponível em: Mycobacterium leprae- general characteristics, habitat and virulence factors -
Online Biology Notes

● Taxonomia:

O Mycobacterium leprae foi descoberto e descrito por Gerhard H. Armauer Hansen


(1841-1912) em 1868, em Bergen, na Noruega. E assim, o M. leprae também é denominado
bacilo de Hansen (BH).

Classificação taxonômica do Bacilo de Hansen (BH):

■ Reino - Monera
■ Filo - Actinobacteria
■ Classe – Schizomycetes
■ Ordem – Actinomycetales
■ Família – Mycobacteriaceae
■ Gênero – Mycobacterium
■ Espécie – leprae

Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -


Hanseníase 1191-1226. 5ª ed Atheneu, 2015.
Microbiologia de Brock 14 ed, 2016.

● Morfologia:

A morfologia do bacilo de Hansen é a de bastonete reto ou levemente encurvado, com 1 a 8


mm de comprimento por 0,2 a 0,4 mm de diâmetro. Nas preparações para um exame
bacterioscópico ao microscópio comum, esses microrganismos podem ser vistos isolados,
agrupados ou em agrupamentos compactos, chamados globias em que os bacilos estão
fortemente unidos por material gelatinoso (geleia) e dispostos de modo semelhante a cigarros
colocados paralelamente em um maço. É a única bactéria que apresenta esse tipo de
disposição.

Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -


Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.
Kerry Evans. Labroots, 2016
Disponível em: Better Know a Microbe: M. leprae | Microbiology (labroots.com)

● Estrutura:

O M. leprae é imóvel, microaerófilo, reproduz-se pelo processo de divisão binária, não forma
esporos, não produz toxinas e não possui plasmídeos.

Diório, Suzana Madeira. In. Alves, Elioenai Dornelles; Ferreira, Telma Leonel; Ferreira,
Isaias Nery. Aspectos microbiológicos e moleculares do Mycobacterium leprae.Hanseníase
avanços e desafios. Brasilia, s.n, 2014. p.67-79.

Suzana Moreira. Aspectos microbiológicos do Mycobacterium leprae.


Disponível em:Microsoft Word - Aspectos Mycrobiológicos do Mycobacterium Leparae
(ilsl.br)
O M. Leprae é um bacilo microaerófilo, ou seja, cresce em ambientes com quantidades
pequenas de oxigênio. Sendo assim, ambientes fechados e com maior número de pessoas
aumentam as chances de transmissão da doença. Desse modo, o domicílio configura-se como
um importante espaço de transmissão da doença.

Estrutura genômica da Mycobacterium leprae


Nos últimos anos, houve considerável progresso relativo ao estudo da sequência genômica
do bacilo de Hansen, que está totalmente sequenciado e organizado; pode-se compará-lo com
o genoma do M. tuberculosis. O genoma da M. leprae é constituído por 1.605 genes com
proteínas codificadas e 50 genes para as moléculas RNA estáveis; mais da metade dos genes
funcionais do genoma do M. tuberculosis inexiste na M. leprae e foi substituída por vários
genes inativos ou pseudogenes (estruturas inativas interpretadas como partes funcionais do
bacilo da tuberculose).
A M. leprae, ao longo da evolução, parece ter dispensado os genes normalmente
necessários para a multiplicação e assumido nicho ecológico único com faixa limitada de
hospedeiro. Essa herança genética empobrecida eliminou genes reguladores e partes inteiras
do seu metabolismo; em especial, aquelas envolvidas no catabolismo; mas os genes
essenciais para a formação da parede celular foram preservados, mantendo elementos
necessários para sua sobrevivência no homem e em outros animais. E assim, os genes
funcionais viáveis da M. leprae ainda têm capacidade de adaptar essa bactéria ao parasitismo
intracelular e sobreviver por um longo tempo, o suficiente para infectar e multiplicar-se na
célula de Schwann do nervo periférico.
Muitos genes estão desligados, mas passíveis de reativação. Portanto, esse bacilo
simplificado, com intensa redução de seu genoma, tornou-se muito exigente e dependente dos
produtos metabólicos das células do hospedeiro. Essa estrutura pode explicar características
bacteriológicas únicas do BH: como o excepcional crescimento lento e sua incapacidade para
multiplicar-se nos meios de cultura ou meios sintéticos, pois ocorre uma rápida perda de ATP
não suplementável, justificando a inexistência de vacina específica para este patógeno.

Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -


Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.

Até o momento, o índice morfológico (IM) tem sido o mais utilizado para descrever o
aspecto dos bacilos em esfregaços de raspados dérmicos ou de biópsia, como não podem ser
cultivados in vitro. Por esse motivo, grande parte do conhecimento obtido acerca da
composição química e estrutural da complexa parede celular das micobactérias foi a partir da
realização de estudos bioquímicos e de manipulação genética de espécies cultiváveis como
M. tuberculosis. Como o M. leprae não se reproduz in vitro, a padronização de métodos que
permitam estudos específicos esbarra-se nesta limitação biológica. Nesse sentido, parte do
que se conhece sobre a estrutura do bacilo é baseada em estudos comparativos com espécies
cultiváveis ou de química básica.

Diagnóstico Microbiológico - Coloração Ziel-Neelsen

A propriedade tintorial é denominada acidorresistência (BAAR). Essa propriedade


deve-se à presença de lipídeos singulares na superfície da célula, denominados ácidos
micólicos, encontrados somente no gênero Mycobacterium na parede celular. Os ácidos
micólicos são um grupo complexo de lipídios hidroxilados de cadeia ramificada, ligados
covalentemente ao peptideoglicano da parede celular; este complexo dá à superfície celular
uma consistência cerosa, hidrofóbica.

Devido a essa superfície cerosa, as micobactérias não se coram adequadamente pela


técnica de Gram. Uma mistura do corante vermelho básico fucsina com fenol é usada na
coloração de álcool ácido resistentes (Ziehl-Neelsen). O corante é introduzido nas células
por meio de aquecimento lento, e o fenol tem como função aumentar a penetração da fucsina
nos lipídeos. Após ser lavada em água destilada, a preparação é descorada com solução de
álcool-ácido e uma contracoloração (coloração de contraste) com azul de metileno é feita. As
células de organismos ácido resistentes coram-se em vermelho, enquanto o fundo e os
organismos não ácido resistentes coram-se em azul.

Coloração para ácidos resistentes. Estrutura de (a) ácido micólico e (b) fucsina básica,
o corante empregado na coloração de ácido resistente. A fucsina combina-se com o ácido
micólico na parede celular por intermédio de ligações iônicas .

As células de M. leprae isoladas das lesões coram-se em vermelho-escuro pela fucsina


carbólica, permitindo uma comprovação rápida e definitiva da infecção ativa.

Microbiologia de Broks, 14 ed, 2016


Pelo método de Ziehl-Neelsen, os bacilos viáveis são vistos como forma de
bastonetes, sólidos ou íntegros, que se coram uniformemente em vermelho. As falhas de
coloração no corpo bacilar identificam bacilos mortos.

Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -


Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.

A coloração irregular está associada à morte do organismo, uma vez que alterações na
membrana citoplasmática podem levar à perda parcial e gradativa de conteúdo celular. Por
outro lado, a integridade da coloração na morfologia do bacilo está associada à sua
viabilidade, ou seja, acredita-se que apenas as células viáveis apresentem uma coloração
intensa e sólida.

Tratado de Infectologia - Hanseníase, 2015.


Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -
Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.

Sua parede celular é rica em lipídeos e possui cerca de 20 nm de espessura. À


microscopia eletrônica, verifica-se que sua parede possui duas camadas, uma interna
eletrodensa e outra externa eletrotransparente, abaixo dela está a membrana plasmática. A
cápsula desta bactéria que corresponde, em parte, à camada eletrotransparente, é constituída
de dois lipídeos, o dimicocerosato de ftiocerol e o glicolipídeo fenólico (PGL-1), único do M.
leprae, o que explica o fato de o bh ser a única bactéria neurotrópica.

O glicolipídeo fenólico (PGL-1) do M. leprae é a chave para entrar na célula de


Schwann, unindo-se ao receptor alfa distroglicana e laminina α-2 da membrana basal.
Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -
Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.

Virulência
O M. Leprae, assim como M. tuberculosis, sobrevive e se multiplica dentro de macrógafos. O
glicolipídeo-fenólico-1 (PGL-1) também pode reagir com compostos de radicais livres,
sugerindo que esse lipídeo capsular possa proteger o bacilo dos efeitos tóxicos de enzimas
lisossomais e metabólitos oxidativos produzidos pelos macrófagos durante a infecção. A
ativação dos macrofágos é mediada por citocinas ativadas pelas células TCD4+. O M. leprae
possui a capacidade de suprimir a quantidade de células T produzidas pelo hospedeiro, em
casos de imunidade debilitada.

2)Patogênese
Mycobacterium leprae

A Moléstia de Hansen (MH), hansenose ou hanseníase é infectocontagiosa, causada pelo


Mycobacterium leprae ou Bacilo de Hansen, uma micobactéria que acomete, inicialmente, o
sistema nervoso periférico (SNP), sendo a única micobactéria capaz de invadi-lo; para depois,
atingir a pele; e, na maioria dos doentes brasileiros, também acomete os outros órgãos e
sistemas, exceto o sistema nervoso central.

Cabe destacar que essa micobactéria é capaz de infectar grande número de pessoas, contudo,
não necessariamente todos irão adoecer; isso irá depender, principalmente, do próprio sistema
imunológico do hospedeiro.

O Mycobacterium leprae é transmitido através de gotículas de saliva liberadas durante a fala,


tosse e espirro, especialmente em situações de contato próximo e frequente com pacientes
que ainda não iniciaram o tratamento e estão em estágios avançados da doença. Por esse
motivo, é essencial que todas as pessoas que convivem ou conviveram com o paciente sejam
submetidas a exames médicos.

(Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5ª edição. Brasília, 2022.)


Ao encontrar um organismo propício, o M. leprae atinge o Sistema Nervoso Periférico
(SNP), já que apresenta tropismo (predileção) pelas células de Schwann. O tropismo é
explicado pelo fato da temperatura ótima dessa bactéria ser de 30ºC, ou seja, levemente
menor que a temperatura normal corpórea (36ºC), que é encontrada justamente nos terminais
periféricos do corpo. Ademais, as células de Schwann: faz com que o bacilo permaneça
protegido dos mecanismos de defesa do hospedeiro; não possuem enzimas lisossomais
capazes de digerir os bacilos; e ainda, a barreira sanguínea do nervo limita o acesso de vários
medicamentos na célula de Schwann, habilitando-a, irrestritamente, para a multiplicação BH.
Essas “vantagens” tornam a célula de Schwann a hospedeira ideal, na qual o bacilo pode
persistir no SNP e desencadear a lesão neurológica.
Após a invasão ocorre a desmielinização desse tipo celular, o que provoca a lesão neural
local, a secreção de citocinas e quimiocinas (sinalizadores) e a ativação de um quadro
inflamatório local.
Durante uma infecção, o M. leprae preferencialmente se reproduz dentro das células de
Schwann, antes mesmo do processo de ativação do sistema imune do hospedeiro. Entretanto,
pouco se sabe ainda sobre como o bacilo estabelece a infecção no SNP e quais
estratégias ele utiliza. O que se sabe é: o bacilo deve atravessar a lâmina basal que envolve
toda a célula de Schwann para de fato conseguir invadir, isso irá ocorrer por meio de uma
interação entre um dos componentes da lâmina basal. Esse componente é a laminina-2,
glicoproteína composta de 3 cadeias polipeptídicas (alfa, beta e gama), que é um componente
estrutural e funcional importante para o processo de ancoramento e interação da célula. O M.
leprae consegue interagir, por meio do glicolipídeo fenólico (PGL-1) o qual existe
unicamente no M. leprae (motivo pelo qual o BH é a única micobactéria neurotrópica), com
uma dessas subunidades. Ao interagir ele parece desregular a delicada comunicação
célula-axônio de Schwann, levando à ruptura da bainha de mielina e provocando
consequências neurais, que determinam perda sensitiva e, mais tarde, lesões motoras,
responsáveis pelas deformidades e incapacidades da moléstia. Além disso, a bactéria
parece imitar os eventos posteriores a uma lesão tecidual, provocando o aumento da divisão
celular. Essas novas células produzidas são facilmente infectadas pela M. leprae, desligando
os genes associados à expressão da bainha de mielina.
Outro processo causado pelo bacilo é a reprogramação (secreção de citocinas e quimiocinas
que recrutam macrófagos que ativam, ainda que de forma incompetente, a inflamação local)
das células de Schwann infectadas, o que facilita a transferência da infecção para outras
células, por exemplo, para os fibroblastos, os quais permitem a disseminação da infecção para
vários tecidos.
(Guanabara Koogan. 2ª ed, 1996. -SILVERTHORN, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem
Integrada, 7ª Edição, Artmed,. 2017.)

Ademais, as células T auxiliares, conhecidas como células Th (T helper), desempenham um


papel crucial na resposta imune à hanseníase, influenciando a natureza da resposta imune e a
progressão da doença. As células Th podem ser divididas em subtipos principais, com
destaque para Th1 e Th2, cada uma desencadeando respostas específicas.

Células Th1 na Hanseníase:

Atividade Principal: As células Th1 são associadas a respostas imunes celulares,


especificamente ativam os macrófagos para destruir microrganismos intracelulares.
Papel na Hanseníase: Nas fases iniciais da hanseníase, a resposta Th1 é essencial para
controlar a replicação do Mycobacterium leprae. As células Th1 liberam citocinas, como
interferon-gama (IFN-γ), que ativam macrófagos para fagocitar e destruir as bactérias.
Inflamação Controlada: A resposta Th1 ajuda a controlar a infecção, limitando a
disseminação do M. leprae nos tecidos.

Células Th2 na Hanseníase:

Atividade Principal: As células Th2 estão associadas a respostas imunes humoral,


estimulando a produção de anticorpos por células B.
Papel na Hanseníase: Em casos mais avançados ou formas mais crônicas da hanseníase, pode
ocorrer uma mudança para uma resposta Th2. Isso pode contribuir para a progressão da
doença, com aumento da produção de anticorpos e inflamação.
Danos aos Tecidos: A resposta Th2, se excessiva, pode estar relacionada à patologia tecidual
e danos causados pela inflamação.
Desequilíbrio e Manifestações Clínicas: O equilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 é crucial.
Um desequilíbrio pode levar à persistência da infecção (dominância Th2) ou à inflamação
excessiva (dominância Th1), contribuindo para complicações da hanseníase.
Formas Clínicas Diferenciadas: Formas polarizadas da hanseníase, como a tuberculoide
(resposta Th1 dominante) e a lepromatosa (resposta Th2 dominante), são exemplos de como a
resposta imune influencia a apresentação clínica da doença.

(Mendonça VA, Costa RD, Melo GEBA de, Antunes CM, Teixeira AL. Imunologia da
hanseníase. An Bras Dermatol [Internet]. 2008Jul;83(4):343–50. Disponvel em: :
https://doi.org/10.1590/S0365-05962008000400010)

Manifestações clínicas

O período de incubação da M. leprae dura em média de dois a sete anos, embora haja
referências a períodos inferiores a dois e superiores a dez anos.
A doença costuma se manifestar por meio de sinais e sintomas dermatológicos como lesões
na pele e nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés, além das vias aéreas
superiores, apresentando sinais e sintomas como manchas claras, avermelhadas ou
amarronzadas com diminuição da sensibilidade, apresentação de dormência e dores nas
articulações.

A perda de cálcio ósseo leva a uma diminuição lenta dos dedos e a sua transição para formas
parecidas com garras em uma fase final da doença .
(Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -
Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.)

A OMS propôs uma classificação para fins operacionais objetivando a utilização dos
esquemas multiterápicos no tratamento. Nessa classificação, os doentes são divididos em
paucibacilares (PB, nos quais estão incluídos aqueles com baciloscopia negativa abrangendo,
assim, todos os tuberculoides e indeterminados; e os multibacilares, MB, com baciloscopia
positiva, dos quais fazem parte todos os virchowianos e dimorfos.) Portanto, há dois grupos
de doentes segundo a classificação da OMS:
■ Grupo paucibacilar: doentes não contagiantes, com poucos bacilos e acometimento neural e
cutâneo (paucibacilares).
Formas: inicial indeterminada e tardia tuberculoide.
■ Grupo multibacilar: doentes contagiantes – com muitos bacilos em todos os tecidos
acometidos (exceto no SNC) e, portanto, também muitas lesões cutâneas. Formas: dimorfa
(borderline) e virchowiana (lepromatosa).

(Veronesi, Focaccia. Leontina da Conceição, Evandro Rivitti. Tratado de Infectologia -


Hanseníase 1191-1226.5ª ed Atheneu, 2015.)

Hanseníase Paucibacilar

Indeterminada
É a primeira manifestação da doença e caracteriza-se pelo aparecimento de máculas
ou áreas circunscritas com distúrbios da sensibilidade, sudorese e vasomotores.

Hanseníase Multibacilar

Lepromatosa ou Virchowiana

Trata-se de uma infecção progressiva e agressiva, é a forma mais grave e contagiosa da


hanseníase. Os macrófagos não conseguem fagocitar, e o bacilo se multiplica dentro da
célula, que passa a apresentar vacúolos e um aspecto espumoso. Caracterizada por lesões
rugosas e nodulares em todo o corpo, especialmente nas porções mais frias do corpo, como
face e extremidades. Essas lesões são decorrentes do crescimento de células de M. leprae
na pele e contêm um grande número de células bacterianas.

Tuberculoide

Macrófagos sequestram os bacilos formando granulomas: a infecção é benigna e não


progressiva, com lesões cutâneas maculares, únicas e bem delimitadas, indolores, com início
súbito de grave acometimento assimétrico dos nervos com poucos bacilos presentes nas
lesões (JAWETZ et al., 2014). Ao contrário da hanseníase lepromatosa, a resposta imune à
forma tuberculoide está íntegra e há a exacerbação da ação do sistema imunológico. Nesse
caso, há um prognóstico favorável, com a possibilidade de recuperação espontânea.

Dimorfa
É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). Ocorre,
normalmente, após um longo período de incubação (cerca de 10 anos ou mais), devido à lenta
multiplicação do bacilo (que ocorre a cada 14 dias, em média).

Hanseníase dimorfa: múltiplas placas, com a borda mais espessada, eritematoacastanhadas,


dispostas simetricamente.

Tratamento
O tratamento medicamentoso é realizado com a associação de três antimicrobianos -
rifampicina, dapsona e clofazimina – a qual denominamos de Poliquimioterapia Única
(PQT-U). Essa associação diminui a resistência medicamentosa do bacilo, que ocorre com
frequên­cia quando se utiliza apenas um medicamento, o que acaba impossibilitando a cura da
doença.
A duração do tratamento varia de acordo com a forma clínica da doença. Para pacientes com
hanseníase paucibacilar (PB) a duração é de seis meses e para pacientes com hanseníase
multibacilar (MB) a duração é de doze meses.
Os medicamentos são seguros e eficazes. Ainda no início do tratamento, a doença deixa de
ser transmitida. Familiares, colegas de trabalho e amigos, além de apoiar o tratamento,
também devem ser examinados.

3) Prevenção

A principal forma de prevenção e controle da hanseníase é detectar e tratar os casos


de forma precoce. Para isso, a busca por casos da doença deve ocorrer principalmente nas
unidades básicas de saúde, já que a hanseníase é, em muitas vezes, uma doença silenciosa e
que evolui lentamente.
Nesse sentido, algumas ações são de suma importância como: o exame das pessoas
que chegam por demanda espontânea, educação em saúde para a comunidade bem como a
divulgação de informações sobre a doença em meios que alcancem o maior número de
pessoas e também uma atenção especial aos indivíduos que possuem maior dificuldade em
acessar os serviços de saúde. Além disso, é fundamental a investigação epidemiológica de
contatos, principalmente dos familiares consanguíneos pois apresentam maior risco de
adoecimento. Todos os contatos devem passar por uma anamnese e exame físico direcionados
aos sinais e sintomas da hanseníase. Aqueles que não apresentarem sinais e sintomas da
doença durante a avaliação, dependendo da história vacinal, deverão receber a vacina BCG.
É importante ressaltar que os contatos de hanseníase que no passado já foram casos e
tratados para essa doença não necessitam de imunoprofilaxia com a vacina BCG e aqueles
contatos que estejam em tratamento para tuberculose e/ou que já tenham sido tratados para
essa doença não necessitam de imunoprofilaxia com a vacina BCG.
Os contatos com menos de 1 ano de idade não precisam receber outra dose da vacina.

4) Atualidades- epidemiologia

1. Hanseníase no mundo

● Em 2021, 106 países reportaram à Organização Mundial da Saúde (OMS)


140.594 casos novos da doença no mundo. A taxa de detecção de casos novos
aumentou 10,2% em comparação com 2020. A Índia é o país que mais
reportou casos novos em 2021, cerca de 53,6% do total global.

2. Hanseníase no Brasil

● Nos últimos cinco anos (2017 a 2021), foram diagnosticados no Brasil


119.698 casos novos de hanseníase.
● O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior número de casos no
mundo, seguido da Indonésia.

● Dados preliminares de 2022 demonstraram que o Brasil diagnosticou 14.962


casos novos de hanseníase.

● A pandemia de covid-19 criou dificuldades para novos diagnósticos e para o


tratamento de pacientes com hanseníase, contribuindo para a subnotificação e
o pior prognóstico dos casos (MENDONÇA et al., 2022; DOS REIS et al.,
2022).

→ Proporção de casos novos de hanseníase segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2017 a
2021

No total de 119.698 novos casos entre 2017 e 2021, 66.613 casos ocorreram no sexo
masculino. Essa predominância foi observada na maioria das faixas etárias e anos de
avaliação, com maior frequência nos indivíduos entre 50 a 59 anos. Vale ressaltar uma
diferença maior, de aproximadamente 20%, na proporção entre os sexos após 60 anos. Outra
justificativa para a maior predominância de homens é de fatores como o homem ter que sair
mais de casa para trabalhar e sua maior exposição em aglomerações, o que facilita contágio
desta doença.

→ Proporção de casos novos de hanseníase segundo escolaridade e região de residência.


Brasil, 2017 a 2021
Na variável escolaridade, no Brasil, houve predomínio dos casos novos de hanseníase
em indivíduos com ensino fundamental incompleto.

→ Proporção de casos novos de hanseníase segundo raça/cor e região de residência.


Brasil, 2017 a 2021.

A maior frequência foi observada entre os pardos, com mais de 50%. Observa-se que as
regiões Sul e Sudeste apresentaram maiores proporções de casos novos na população branca
quando comparadas às outras regiões, que tiveram as maiores proporções na população parda.

→ Proporção de casos novos de hanseníase segundo modo de detecção. Brasil, 2017 a


2021
No que se refere ao modo de detecção dos casos novos, durante os anos de 2017 a
2021, observou-se um incremento de 4,0% na proporção do modo encaminhamento e uma
redução de 2,7% na demanda espontânea. Esses modos de detecção são os mais frequentes,
em todos os anos analisados, e evidenciam uma vigilância passiva da doença no país. O
Sudeste foi a região com o maior percentual de casos novos detectados por encaminhamento,
com 60,0%.

→ Taxa de detecção geral de casos novos de hanseníase por 100 mil habitantes segundo
Unidade da Federação e capital de residência. Brasil, 2021

Em 2021, Mato Grosso foi a UF que apresentou a maior taxa de detecção geral, 58,76
casos novos por 100 mil habitantes. O Tocantins ocupou a segunda posição entre as UF, com
47,97 casos novos por 100 mil habitantes. O Rio Grande do Sul, assim como sua capital,
apresentou taxa de detecção baixa.

É bom ressaltar, que de acordo com pesquisas, a hanseníase é muito influenciada pelo
contexto social em que o paciente está inserido. As chances de exposição ao adoecimento são
moldadas por uma série de fatores individuais e coletivos. A falta de saneamento básico,
condições de moradia, baixa escolaridade e baixa renda estão entre os elementos que exercem
influência direta nesse quadro. Portanto, é essencial intensificar os investimentos em políticas
sociais e promover a capacitação contínua dos profissionais de saúde. Somente assim
poderemos garantir serviços de saúde de qualidade que possam atuar como agentes de
redução das disparidades sociais.(LEANO, 2019)

5) Estigmas associados à hanseníase

Uma doença que teve dois nomes pode sim ter diferentes pesos e significados. A
sinonímia da hanseníase é extensa.A lepra é, historicamente, uma doença relacionada com as
manifestações de estigma. Na definição do termo, o ser envolvido no processo demonstra o
embotamento das relações sociais no que se refere à doença. (NEIVA; GRISOTTI, 2019)

● COLÔNIA SANTA ISABEL

A criação da Colônia Santa Isabel na região de Betim, MG, na década de 1920, foi
uma expressão clara do preconceito e da falta de conhecimento sobre a hanseníase. A doença,
que na época era mal compreendida e estigmatizada, levou à criação dessa colônia como uma
medida de isolamento e controle da disseminação da doença. Pessoas afetadas pela
hanseníase, vindas de várias partes do Brasil, foram enviadas para lá, incluindo muitas de
Minas Gerais. Essa medida reflete a maneira como a sociedade tratava os doentes na época,
relegando-os à margem e isolando-os em colônias como se fossem uma ameaça pública.
Foto: Divulgação Portal da antiga colônia Santa Izabel marca história da saúde mineira

Link documentário completo feito pela TV Incas para uma maior abordagem no assunto.
https://www.youtube.com/watch?v=s4dykVAGgpc&ab_channel=INCASTV

REFERÊNCIAS

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https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_5ed_rev_atual.pdf
8. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Boletim
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em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiolo
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s%20n%C3%BAmeros%20s%C3%A3o%20informados%20pelo,hormonal%20que%2
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-de-historias-resistencia-e-luta-pela-vida-1_2753439

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