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Doenças causadas

por
Mycobacterium

M. Tuberculosis e
M. Leprae
Prof.a: Mayara Sabino
Mycobacterium – Características Gerais
• Bacilos aeróbicos
• Ácidoresistentes: É a capacidade de um organismo reter o corante
carbolfucsina, mesmo após o tratamento com uma mistura etanol-
ácido clorídrico 95% etanol e 3% ácido nítrico. Coloração Ziehl-
Neelsen (B.A.A.R)
• Bactérias com alto teor de ácido micólico
• Coloração diferencial para bactérias que possuem material ceroso em
sua parede celular.
• Não são gram-positivas nem gram-negativas.
Mycobacterias
M. Tuberculosis
Agente
Gêneros de etiológico:
bactérias Tuberculose

Mycobacterium M. Leprae
172 espécies e Agente
13 sub-espécies etiológico:
Hanseníase
Micobacterium

Micobactérias atípicas, como o complexo Mycobacterium


avium-intracellulare e Mycobacteirum Kansasii. Podem
causar doença similar à tuberculose, porém são menos
patógenos e menos frequentes.
Micobactérias de crescimento rápido, como a
Mycobacterium chelonei, causam doenças em pacientes
imunocomprometidos de forma ocasional ou em indivíduos
que receberam dispositivos prostéticos implantáveis
Classificação clínica das Micobactérias
Características das Micobactérias
M. Tuberculosis
História da tuberculose
• Existem evidências de que a tuberculose “ peste branca” existe desde
os tempos pré-históricos. A doença já foi encontrada em esqueletos
de múmias do antigo Egito (3000 A.C) e, mais recentemente, numa
múmia pré-colombiana no Peru
História da tuberculose
Febre, hemoptise, dispneia e suores
• Em XVIII, a tuberculose era noturnos,
considerada uma "doença A vida inteira que poderia ter sido e
romântica", idealizada nas não foi. Tosse, tosse, tosse.
obras literárias e artísticas e Mandou chamar o
identificada como uma médico. Diga trinta e
doença de poetas e três.
intelectuais Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
Respire
O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
Então doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um
tango argentino.

(Manuel Bandeira. Pneumotórax, 1966)


M. Tuberculosis – Características Gerais
• Bacilo de Koch – Descrito em 1882 por Robert Koch
• Bacilo aeróbio obrigatório: Explica sua preferência em causar doenças
em tecidos altamente oxigenados como o lobo superior dos pulmões
e rins.
• Imóveis
• Crescimento lento
• Tempo de geração: 18 h.
A maioria das bactérias são capazes de
multiplicar seu número em 1h +/-
Parede celular da M. Tuberculosis
• Composto por lipideos mais de
60%.
• Ácidos miólicos: Ácidos graxos
de cadeia longa, que contribuem
para a ácidorresistência
• Cera D: Um dos componentes
que intensifica a resposta imune
contra vários antígenos
• Fosfatídeos: São glicerídeos
complexos que desempenham
papel na necrose ( Fator corda)
Virulência M. Tuberculosis
• A parede celular é o fator de virulência mais importante nesta bactéria:
• Ácido miólico: Protege a bactéria de enzimas hidrolíticas do fagossomo
• Fator corda: Glicolipídios tóxicos para as células dos mamíferos capaz de
inibir a migração de polimorfonucleares
• Cera D: Responsável pela reação de hipersensibilidade tardia ( reação
excessiva do sistema imune) ex: a lipoarabinomanana
LAM ( composto de glicolipídios complexos + proteínas) é utilizado para
realizar o teste de tuberculina ou PPD, usado para verificar quando o
paciente tem suspeita de tuberculose ou se ele já teve contato
Transmissão M. Tuberculosis
• Transmissão interpessoal por
aerossóis respiratórios, sendo o
pulmão o principal sítio inicial de
infecção
• É parasita intracelular: Infecta células
reticuloendoteliais – macrófagos.
• Não há reservatório animal.
• Os Humanos correspondem ao
reservatório natural de M.
Tuberculosis
Transmissão
• Em países em desenvolvimento a M. Bovis também pode causar
tuberculose gastrointestinal em humanos.
• M. Bovis é encontrado em leite de vaca, o qual, exceto quando
pasteurizado, pode causar tuberculose gastrointestinal em humanos
• A tuberculose ocorre apenas em um número de indivíduos
infectados.
Mecanismo de Patogenicidade
• Não produz exotoxicinas, assim como também não tem endotoxinas
na sua parede celular.
• A infecção se inicia quando o bacilo atinge os alvéolos pulmonares
• Infecta principalmente macrófagos e outras células
reticuloendoteliais.
• Após serem fagocitadas, elas sobrevivem e se reproduzem no interior
do fagossomo
Mecanismo de patogenicidade
• A M. Tuberculosis libera proteína
quinase G ( proteína repetitiva
exportada) que bloqueia a fusão
do fagossomo com o lisossomo
Mecanismo de patogenicidade
• As lesões depende da resposta • Lesões granulomatosas: Consiste
do hospedeiro e da presença do em uma área central com células
microrganismo. Podendo ser de gigantes de Langhans contendo
2 tipos: bacilos tuberculosos, circundada
por uma zona de células
epitelióides ( macrófagos
• Lesões exsudativas: Reação modificados por ação de citocinas
inflamatória aguda no pulmão e liberadas pelo linfócito T)
linfonodos mediastinais –
Complexo de Ghon
Formação de tubérculo: Granuloma circundado de tecido fibroso que sofreu
necrose. Os tubérculos cicatrizam por fibrose e calcificação
Lesões em outros órgãos
Ocorre em maior parte em indivíduos imunocomprometidos, onde o bacilo
atinge vias linfáticas e hematogênicas, infectando qualquer órgão.
Obs: Não tem resposta humoral
Manifestações clínicas – Tuberculose
Pulmonar
• Tosse e catarro por mais de 15 dias
• Febre ( mais comumente ao entardecer) –
devido aos hormônios que regulam a
temperatura do corpo que estão + ativos.
• Calafrios
• Sudorese noturna
• Falta de apetite
• Perda de peso e emagrecimento
• Cansaço fácil
• Dificuldade na respiração
• Linfadenopatia do pescoço ( infecção nos
gânglios linfáticos)
Manifestações clínicas – Tuberculose
Pulmonar
• Eritema nodoso:
Caracterizado por nódulos
sensíveis ao longo das
superfícies extensoras da
tíbia e ulna. Observada em
pacientes que estão
controlando a infecção por
meio de uma resposta
imune mediada por células.
Tuberculose Miliar
• Caracteriza por múltiplas lesões
disseminadas, similares a grãos de
alpiste. Ex:
• Meningite tuberculosa, osteomelite
tuberculosa, osteomelite vertebral (
mal de pott)
Manifestações clínicas

• Tuberculose do TGI • Tuberculose • Tuberculose Renal


Orofaríngea
Dor abdominal, diarreia Apresenta-se na 3° sítio mais afetado, após
acompanhada por sintomas forma de uma pulmão e linfonodo.
mais gerais de febre e ulcera indolor,
acompanhado de Paciente pode ter: Disuria,
emagrecimento. Também Hematúria, dor no flando e
pode ocorrer obstrução e adenopatia local
leucócitos na urina
hemorragia intestinal
Diagnóstico
Diagnóstico – Avaliação clínica
Diagnóstico por imagem
• Diagnóstico por RX ou TC
Teste cutâneo de tuberculina
• Mecanismo de reação de
hipersensibilidade tardia
• Resultado positivo: Nódulo
endurecido ≥ 5mm em 48 ou
72 h
• O teste cutâneo positivo indica
infecção prévia pelo organismo,
mas não necessariamente
doença ativa.
• Esse teste positiva em 4 -6
semanas após a infecção
Teste cutâneo de tuberculina
• A imunização com a vacina BCG pode provocar um teste positivo,
porém as reações apresentam 5-10mm e tendem a diminuir com o
tempo
• Indivíduos que apresentem reações de PDD > de 15 mm apesar da
vacinação é considerado positivo para M. Tuberculosis
Coloração Ziehl- Neelsen
Detecta entre 70 à 80% dos casos de
tuberculose
Indicações: Pacientes adultos com
sintomas respiratórios
Pacientes com alterações no RX do
tórax
Cultura
• O crescimento
acontece somente
após 12 a 15 dias, mas
a cultura deve se
observar por até 6 a 8
semanas.
• Meio de cultura a base
de gema ovo
• Possui corantes que
inibe proliferação de
bactérias da própria
microbiota do paciente,
presente em amostras
de escarro
• Observar o aspecto
microscópico da
colônia
• Não cresce em ágar
sangue
Diagnóstico M. Tuberculosis
Meio liquido BACTEC
• Metabólitos radioativos são incorporados e
o crescimento pode ser detectado pela
produção de dióxido de carbono radioativo
em cerca de 2 semanas.
• A M. Tuberculosis cresce mais rápido em
meio liquido.
• Havendo crescimento o microrganismo
pode ser identificado por meio de testes
bioquímicos:
• Teste de Niacina + e Teste de Catalase +
• Testes moleculares: PCR
Tratamento
• O esquema básico para o tratamento da tuberculose pulmonar em
adultos e adolescentes maiores de dez anos de idade inclui:
Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamina e Etambutol.
• Os medicamentos são ingeridos diariamente e de uma única vez e o
tratamento tem a duração de, no mínimo, seis meses.

• Em pacientes imunocomprometidos que apresentam doença


disseminada, e que provavelmente tem resistência a Isoniazida. O
etambutol é inserido. Período mais prolongado.
Tratamento
• O escarro do paciente se torna não infeccioso a partir da 2-3 semanas
• Linhagens de M. Tuberculosis resistente a Isoniazida tem sido um
problema mundial.
• A resistência é atribuída a mutações cromossomais
• Uma dessas mutações ocorre em um gene envolvido na síntese de
ácido miólico e outra ocorre no gene de catalase-peroxidase, enzima
necessária para ativação da Iosinazida no interior da bactéria
Prevenção

• Depende, em grande parte, da rápida identificação do


paciente e tratamento adequado.

1. Uso de máscaras e outros procedimentos de


isolamento respiratório
2. A identificação de indivíduos expostos a pacientes
com doença pulmonar ativa
3.Aplicação do teste de PPD
4. VACINA BCG
Prevenção
• A vacina BCG pode ser utilizada para induzir resistência parcial à
tuberculose
• A vacina não deve ser administrada em indivíduos
imunocomprometidos.
• A pasteurização do leite e eliminação do gado bovino infectado são
importantes para a prevenção da tuberculose intestinal
M. Leprae
Histórico do M. Leprae
• No século 6 a.C., já existia a doença por ele causada: a
hanseníase. Acredita-se que a doença tenha surgido no
Oriente e se espalhado pelo mundo por tribos nômades
ou por navegadores.

• Também conhecida como lepra ou mal de Lázaro,


antigamente a enfermidade era associada ao pecado, à
impureza, à desonra.

• Eram os sacerdotes, e não os médicos, que davam o


diagnóstico.
Histórico M. Leprae
• Somente em 1873,foi isolado e
identificado pelo norueguês Armauer
Hansen, e as crenças de que a doença
era hereditária, fruto do pecado ou
castigo divino foram afastadas.

• Ou bacilo de Hansen, cuja presença


identificou a partir de material obtido
de lesões cutâneas de indivíduos
acometidos pela doença.
Os humanos são hospedeiros naturais, embora
o tatu possa corresponder a um reservatório
para a infecção humana;
A doença ocorre em nível mundial, sendo a
maioria dos casos na Ásia e África.
Epidemiologia
Entre 2014 e 2018 foram notificados 140.578
casos no Brasil, onde 55,2% era no sexo
masculino.
Maior número foi identificado nos indivíduos
entre 50 a 59 anos
M. Leprae
• Bacilo aeróbio
•Álcool-ácido resistente e parasita intracelular obrigatório (
Células de Schwann –SNP e células epiteliais )
• Não são cultivadas em meio bacteriológico artificiais;
• Não são cultivados em cultura de células;
• Pode ser cultivadas em patas de camundongos ou em
tatus;
• Reprodução lenta (12 a 14 dias)
• A temperatura ótima de crescimento é 30°C, crescendo
preferencialmente na pele e em nervos superficiais
Aspectos Gerais da doença
• Afeta principalmente a pele e os nervos,
mas pode atingir outros órgãos
• Tecidos mais frios como pele, nervos
superficiais, nariz, faringe, laringe, olhos e
testículos
• Lesões cutâneas na forma de máculas
pálidas e anestésicas, nódulos eritematosos
ou infiltração cutânea difusa.
• Distúrbios: anestesia, neurite, reabsorção
óssea e encurtamento dos ossos.
Transmissão
• Pessoa doente eliminando bacilo
para meio das vias áreas superiores
• Necessário contato direto
• Pacientes com hanseníase
lepromatosa expelem grande
quantidade de M. Leprae nas
secreções nasais e a partir de
lesões cutâneas
Tipos de Hanseniase
• A M. Leprae é o agente etiológico da Hanseníase que se apresenta
sob duas formas distintas:

• Tuberculóide ( Neural) e Lepromatosa ( progressiva)


Patogênese
• Hanseníase Tuberculóide: Curso benigno e não progressivo com
máculas cutâneas (perda de sensibilidade e alopécia). Ausência ou
pequena quantidade de bacilos nas lesões (não bacilífera)
Patogenicidade (Classificação de Ridley e Jopling)

• Hanseníase Lepromatosa (Hanseniase Virchowiana): Progressiva e


maligna, com lesões cutâneas e formas nodulares que desfiguram o
corpo. Grande quantidade de bacilos nas lesões contendo secreções
serosanguinolentas) (Altamente contagiosa (109 bac/grama de
tecido; 105 bac/mL sangue)
Patogênese
Patogênese

Hanseníase Tuberculoide ou
Paucibacilares
• Ele sobrevive à fagocitose por • A resposta imune limita o crescimento da
macrófagos e finalmente invade as bactéria. São observados pouquíssimos
células da bainha de mielina do (SNP) bacilos acidorresistentes, e formam-se
Células de Schwann. granulomas contendo células gigantes.
• Causa danos aos nervos a partir da • A resposta imune parece ser regulada
resposta imune celular, como pela subpopulação celular com padrão
Th1 que libera as citocinas IL2, IL12, IL15,
também nas células epiteliais IL18 e IFN α , que promovem ativação dos
macrófagos, resultando em uma resposta
vigorosa contra os bacilos e desencadeia
a resposta celular

(< 5 lesões) abrigam pequeno número bacilo não infectam


outras pessoas cura espontânea
Patogênese - Tuberculoide
• O resultado do teste cutâneo da lepromina ( Mitsuda) é positivo
• É similar ao teste da tuberculina
• Um extrato de M. Leprae é injetado intradermicamente, sendo
observada a lesão endurecida a partir de 48 h naqueles indivíduos em
que a resposta imune mediada por células contra o organismo
encontra-se presente.
Patogênese - Tuberculóide
• São observadas lesões despigmentadas assimétricas na pele
circundadas por uma borda de pequenos nódulos e diminuição da
sensibilidade significativa no local das lesões
• É estável e benigna com bom prognóstico
• A recuperação algumas vezes ocorre de forma espontânea
Patogênese - Lepromatosa
Multibacilares/ (> 5 lesões)
Lepromatosa ( Progressiva)
• Células da pele são infectadas, e nódulos desfigurantes se formam por
todo corpo.
• Pacientes com esse tipo de hanseníase tem o mínimo de resposta
imunológica eficaz.
• Apresenta o padrão Th2 que promove a liberação de IL4, IL10 e IL13,
responsáveis pela desativação dos macrófagos, aumentando a
proliferação bacilar.
• Conseguem produzir anticorpos, mas não são protetores
• Nas lesões é observado histiócitos esponjosos, ao invés de granuloma
• Teste cutâneo de lepromina é negativo
• Período de incubação perdura por vários anos e a manifestação da
doença é gradual
Patogênese - Lepromatosa
• São observadas múltiplas lesões cutâneas nodulares, resultando na
típica face leonina;
• Após o inicio da terapia, o paciente frequentemente desenvolve
eritema nodoso leprótico (ENL), interpretado como sinal de
restabelecimento da imunidade mediada por células.
• O ENL caracteriza-se por nódulos dolorosos, especialmente ao longo
das superfícies extensoras da tíbia e ulna, neurite e uveíte ( região dos
olhos).
Patogênese - Lepromatosa

Aspecto desfigurante da doença resulta de vários fatores:


• A anestesia cutânea resulta em queimaduras e outros traumas, que
frequentemente se tornam infectados;
• A reabsorção óssea leva à perda de características como do nariz e
extremidades dos dedos;
• E a infiltração da pele e dos nervos leva o espessamento e
pregueamento da pele
Diagnóstico laboratorial
• Coloração de Ziehl-Neelsen

Hanseniase lepromatosa: Encontra-se a presença de bacilos e


macrófagos repletos de lipídeos “ células esponjosas” contendo vários
bacilos. Oriundos das lesões da pele ou raspados nasais;

Hanseniase Tuberculoide – São observados poucos organismos e o


aparecimento de granulomas típicos é suficiente para o diagnóstico

• As culturas são negativas, uma vez que o organismo não cresce em


meios artificiais.

• Nenhum teste imunológico é útil


Tratamento
• Rifampicina, dapsona e clofazimina. O
esquema terapêutico deve ser usado
por um período que pode durar até
12 meses
• o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas (PCDT) da Hanseníase
ainda inclui um teste para detecção
de resistência a antimicrobianos . Se
for confirmada para medicamentos de
primeira linha, outras opções
terapêuticas estão disponíveis, como
minociclina, ofloxacino e, mais
recentemente incorporada, a
claritromicina .
Prevenção
• Isolamento de todos os pacientes acometidos por hanseníase
lepromatosa;
• Crianças quando expostas é necessário à quimioprofilaxia a dapsona;
• Vacina BCG

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